Você está na página 1de 71

1

2
“Não importa o que aconteça,
continua a nadar”
(À Procura de Nemo, 2003)
Agradecimentos Criar este ebook À CIG, Comissão para a Cidadania
foi tão desafiante quanto gratificante. e a Igualdade de Género.
Envolveu muitas horas de dedicação, Sem o apoio que nos concederam,
de investimento, de procura de soluções este trabalho não seria possível.
e recursos. Alguns momentos de Contamos com esta aliança para
incerteza, em que foi preciso continuar muitos trabalhos futuros, garantindo
a nadar com toda a força. que Tudo Vai Melhorar!
A nossa mensagem de esperança que
gostamos de passar a todas/os as/os Ao Gabinete da Juventude da
jovens LGBTI+, acompanha-nos Câmara Municipal do Porto, pela
em todas as jornadas e é com ela que disponibilidade, apoio e pelo espaço
começamos e terminamos mais esta. público que permitem à nossa luta.
Tudo melhora na página seguinte, Que a cidade seja cada vez mais 3
no próximo capítulo, do prefácio palco da defesa daqueles que são
à conclusão. Mas não era possível Direitos Humanos!
melhorar sem a colaboração de outras
pessoas, entidades e apoios. À Casa das Associações, o nosso
Vamos, assim, dedicar-lhes algumas ninho, parte da nossa identidade que
linhas (que nunca serão suficientes!). tem sempre a sua porta aberta e o
seu conforto ao nosso dispor.
À It Gets Better Internacional, por ser Por cá, “continuaremos a nadar,
uma fonte inesgotável de inspiração não importa o que aconteça”, para
para nós. contribuir para que o mundo seja mais
seguro, livre e justo para todas as
Ao Sérgio Magalhães e à Bruna Martins, pessoas, independentemente da sua
a nossa incrível e incansável equipa de orientação sexual, identidade de género,
design e produção de vídeo que deu expressão de género e características
mais cor a este projeto. O produto final sexuais.
também é vosso!
Convidamo-las/os assim, a
A todas/os as/os afiliadas/os que prosseguirem connosco para as
acreditam no nosso projeto, no nosso próximas páginas de dicas práticas
trabalho e levantam connosco a sobre tornar a vossa escola numa 4
bandeira arco-íris. verdadeira Rainbow School*.
E, claro, a todas as pessoas que
usarão este ebook para serem elas * #wehavecookiesigb
mesmas uma fonte de apoio, suporte
e esperança para tantas/os jovens
LGBTI+.
Prefácio

5
O Come to the Rainbow School - Guia para Professor@s Inclusiv@s nasceu da
ideia de promovermos a escola como espaço seguro, integrador e feliz para
todas as pessoas. Sabendo a importância das/os professoras/es na vida das/os
alunas/os, achamos que podia ser uma ferramenta importante para
o bem-estar de todas/os as/os jovens que frequentam o ensino.
Aqui, nasceu a metáfora da cookie: uma bolacha tão irregular, tão fora da norma,
mas que toda a gente conhece e acha deliciosa. Não há duas cookies iguais
- tal como não há duas pessoas iguais - e ainda bem! Por isso são tão saborosas
e nos fazem felizes a partilhar qualquer momento!
Peguem na vossa cookie,
vamos conversar!
6
6
O convite está feito. Come to the
rainbow school because we have
cookies e muitas outras coisas para
oferecer como: apoio, esperança,
positividade, segurança e alegria.
Tod@s são bem-vind@s e podem fazer
a diferença.
Este ebook foi contruído
de forma dinâmica e
com diversos vídeos
77
interativos.
O botão de “play” dá
acesso a esses vídeos.
Há vários espalhados
por aí!
Introdução

8
A adolescência é, por si só, uma (Web-serie Já Melhorou
- Participantes LGBTQI+
transição desafiante: para
relatam a sua superação
os adolescentes e para todas as de obstáculos e “saída
pessoas que fazem parte da sua vida. do armário” ao mesmo
Naturalmente, é uma fase marcada tempo que colocam as
pela exploração, reflexão suas lutas e sucessos
e questionamento. Mas, tal não num contexto histórico.)

significa que estas/es jovens não


saibam quem são.
Significa sim,
que precisam de
redes de suporte
consistentes e disponíveis
para contribuírem positivamente
para o seu desenvolvimento.

9
E quem
somos nós?
10
Somos um projeto da Associação Tudo Vai Melhorar
e queremos ajudar a garantir às/aos jovens LGBTI+
os níveis de felicidade, potencial e positivismo
que as suas vidas podem alcançar!
Por isso, queremos comunicar com jovens gays, lésbicas,
bissexuais, trans, queer e intersexo de todo o mundo com
objetivo de lhes transmitir esperança e criar as mudanças
necessárias para tornar as suas vidas melhores.
Queremos relembrar
que as/os jovens LGBTI+
não estão sozinhas/os e que
TUDO VAI MELHORAR
12
É para isso que criamos este guia: para
ficarmos próximas/os de pessoas que
podem ser aliadas/os e tornar a escola e,
consequentemente, toda a vida destas/es
jovens, muito mais feliz e confortável!
cias apoio prevenção inclusão
ng abandono vergonha segurança
io isolamento medo aceitação
nceito assédio denúncias apoio
nção inclusão bullying segurança
io isolamento
A Escola medo aceitação
nceito assédio denúncias apoio
nção inclusão bullying abandono 1313

nha segurança armário isolamento


O local onde as/os adolescentes passam grande parte do
seu tempo e onde se vai muito para além do que é ensinado
Clica aqui consultar os
resultados gerais deste

aceitação preconceito assédio


estudo.
em sala de aula. É um lugar de crescimento, de trocas, de
relações, mas infelizmente, também de sofrimento, vergonha

cias apoio prevenção inclusão


e agressão.

ng abandono vergonha segurança


O Estudo Nacional sobre o Ambiente Escolar (ENAE) da
ILGA-Portugal, conduzido em 2017, elucidou as experiências

io isolamento medo aceitação


de pessoas LGBTI entre os 14 e os 20 anos, no sistema
escolar Português.

nceito assédio denúncias apoio


É impossível ficar indiferente a todos discriminação e do bullying sofrido
estes testemunhos: há um caminho pelas/os jovens que se identificam ou
a percorrer no sistema escolar são percecionadas/os como sendo
português para que, todas as pessoas LGBTI+.
se sintam incluídas, seguras e
compreendidas, independentemente Porque dizemos
da sua orientação sexual, identidade e “são percecionadas/os”?
expressão de género e características Porque, erradamente, são associadas
14
sexuais. E, por isso, é tão importante que características de expressão de
professoras/es e outras/os género com a orientação sexual.
adultas/os significativas/os possam Não perceberam?
fazer parte deste caminho!
Nós explicamos!
Também vários estudos científicos, Por exemplo, quando um rapaz parece
que recorrem a diferentes ter interesses mais, socialmente,
metodologias e amostras, têm associados ao género feminino
estudado os efeitos e a influência da (por exemplo, brincar com bonecas),
costuma ser associado a uma Mas, antes de
orientação sexual homossexual. avançarmos com mais
Obviamente, isto não corresponde conceitos e palavras
à verdade dos factos – contudo, complicadas, é mais
parece haver uma tendência para fácil se fizermos
um esquema:
acreditar que todas as pessoas
gays e lésbicas têm características
associadas ao género oposto ou que,
todas as pessoas com expressões de 15
género não-normativas, não podem
ser heterossexuais. Deste modo, há
uma clara confusão de todos estes
conceitos que leva a julgamentos
errados, atitudes negativas, preconceito,
discriminação, sofrimento e, até,
rejeição da própria identidade sexual e
de género por parte destas pessoas que
não se identificam com as categorias
normativas socialmente atribuídas.
Identidade Podem ainda consultar, mais
de género pormenorizadamente, os
conceitos que aqui falamos no
Orientação nosso Glossário.
Sexual
Sexo Se, ainda assim as dúvidas
persistirem, por favor,
Expressão
encaminhem as vossas
de género
questões para:
geral@tudovaimelhorar.org

Acompanhem
a explicação do
esquema através do 16
vídeo:

Agora que já estamos Há muitas/os jovens a passarem
todas/os na mesma momentos muito desafiantes na escola,
página, vamos explorar em casa e em muitos outros contextos.
algumas das questões, Sabemos que, por isso, todas as
pelas quais, avançamos ferramentas são poucas.
com este guia.

17


Há também muitas/os aliadas/os:
professoras/es, funcionárias/os,
outras/os alunas/os, psicólogas/os, que
não sabem como podem contribuir
para que a vida das pessoas LGBTI+ seja
mais agradável. Sobretudo na escola,
um contexto onde jovens passam
grande parte do seu tempo e enfrentam
muitos dos desafios relacionados com o
seu desenvolvimento psicossocial.

Não existem muitos recursos para
estas/es aliadas/os e, os que existem,
nem sempre são de fácil acesso
e divulgação.

18


Sabemos que as pessoas LGBTI+ se
deparam, sobretudo, com aquilo que
chamamos os 3 “is” da discriminação:
insulto; invisibilidade; isolamento
Fufas, paneleiros, bichas, camioneiras Se alguém que se identifica como
e outros insultos que nos tomariam, LGBTI+ não sabe de mais ninguém
infelizmente, páginas completas LGBTI+ à sua volta, possivelmente
para descrever. São uma forma de pode sentir que algo de errado se
violência direta e generalizada sobre passa consigo, que é a/o única/o.
pessoas LGBTI+. Ao mesmo tempo, Isto é a invisibilidade, uma forma de
a invisibilidade: a proibição ou a opressão social muito prevalente.
repressão de demonstração de afeto Por último, mas não menos importante
público, de revelação da sua própria ou intenso, o isolamento. Adolescentes 19
orientação sexual, o tratamento por e crianças que são excluídas/os
um nome com o qual a pessoa não se e/ou recebem um trato pejorativo por
identifica… Tudo isto, obriga as se identificarem como LGBTI+. A este
pessoas LGBTI+ a manterem-se numa propósito deixamos o link para um
penumbra que as esconde. Se nunca artigo da nossa afiliada Daniela Leal,
se fala sobre um assunto, pode dar publicado na secção “Megafone”
a ideia errada de que o mesmo não do P3, sobre os 3 is da discriminação).
existe naquele espaço.
acesso ao
artigo do
jornal
Com todos estes fatores e pela crença
do sucesso de um trabalho em rede, nos Assim sendo,
próximos capítulos iremos:
Sintetizar informação que consideramos
passam
pertinente para que as/os professoras/es
possam então ficar a par de estratégias
connosco
e metodologias que auxiliem a inclusão
das/os jovens LGBTI+. aos próximos 20
Contextualizar os desafios do
desenvolvimento psicossocial em cada
capítulos?
faixa etária;
Sugerir materiais e dinâmicas a serem
utilizadas na escola que permitam
a todas/os as/os jovens LGBTI+
sentirem-se mais incluídas/os
e seguras/os neste contexto;
Capítulo I
O que diz respeito
a todas/os
21
Antes de falarmos sobre os desafios de O primeiro passo
cada faixa etária, gostaríamos de deixar Pense em si mesmo, nas suas crenças
algumas orientações gerais que serão e preconceitos.
transversais durante a sua atividade
como docente.
Os preconceitos e crenças contra as pessoas LGBTI+
estão em toda a parte. Já todas/os, em algum momento,
tivemos comportamentos misóginos, homofóbicos,
transfóbicos e heterossexistas. O seu trabalho, enquanto 22
aliada/o das/os alunas/os LGBTI+ implica, primariamente,
o reconhecimento e confrontação com o seu próprio
preconceito sobre esta temática.
Questione-se Se alguém lhe contasse que era LGBTI+, o que pensaria em
com cada uma primeiro lugar?
das seguintes
Alguma vez esteve num evento social, marcha ou grupo de
perguntas, com
trabalho LGBTI+? Porque não, ou porque sim?
sinceridade, e
considere como Pode pensar em três figuras históricas/famosas que se
estes temas identifiquem como LGBTI+?
podem afetar o
seu trabalho Alguma vez se riu ou fez piadas sobre uma pessoa que ache 23
como docente: ser LGBTI+?

Algumas vez defendeu ou apoiou diretamente uma pessoa


LGBTI+ que estivesse a ser maltratada?
Se sim ou não, porquê?

No caso de não se identificar como LGBTI+, como se sentiria se


as pessoas pensassem que você é LGBTI+?
Reconhecer os seus próprios preconceitos
é um primeiro passo muito importante para poder apoiar
as/os suas/seus alunas/os LGBTI+.

Pensando nas suas respostas a estas perguntas:


O mais comum é ter os seus próprios preconceitos
e crenças e eles têm impacto na sua conduta. É importante
que consiga garantir que esses preconceitos e crenças
não são um obstáculo aos seus esforços para apoiar as/os 24
suas/seus alunas/os LGBTI+.

Posto isto, seria importante discutirmos alguns aspetos.

Após termos introduzido o ginderbreadperson foi possível


perceber que cada pessoa não tem que se identificar
necessariamente com alguma categoria.

Assim, boas práticas a serem adotadas:


Linguagem inclusiva;

Não pressupor a orientação sexual


e/ou a identidade de género das outras pessoas;

Ser uma fonte de suporte e mobilizar recursos quando


uma/um aluna/o lhe revela que se identifica como LGBTI+;

Estar atenta/o, sinalizar e apoiar


alunas/os vítimas de bullying; 25
Dar atenção e sinalizar todos os casos de alerta de ideação
suicida (afastamento das/os amigas/os, familiares; perda de
interesse pelas atividades que fazia antes, autoflagelação,
desesperança, impossibilidade de se projetar no futuro…)
e sinaliza-los aos serviços competentes;
Procurar mobilizar o maior número de aliadas/os
possível na escola: integrar sempre temáticas relacionadas
com a população LGBTI+, nas sessões de Educação Sexual;
procurar colegas que estejam interessadas/os em formar
alianças e grupos de apoio (podem ver um ótimo exemplo
destas iniciativas no site add.ilga-portugal.pt).

Para ser mais fácil, vamos deixar um apêndice a este 26


capítulo com iniciativas possíveis para qualquer pessoa,
em qualquer estabelecimento de ensino, demonstrar
o seu apoio.
Apêndice Capítulo I Procurar articular um trabalho em
Possíveis estratégias para demonstrar rede com a/o psicóloga/o da escola,
apoio e suporte à comunidade LGBTI+ outras/os professoras/es, assistentes
operacionais e outros membros
Colocar uma bandeira arco-íris na significativos da comunidade escolar;
escola; Promover a visualização de filmes e a
Afixar panfletos de apoio à comunidade; leitura de livros sobre a comunidade
Guardar uma secção da página da e, porque não, adquirir alguns para a
escola sobre recursos e apoios para a biblioteca da escola?
população LGBTI+; Fazer um levantamento das
Celebrar datas importantes para principais dúvidas da comunidade
o movimento (por exemplo, o Dia escolar e, quiçá, pedir a colaboração
Internacional contra a Homofobia, de grupos e associações como 27
Bifobia e Transfobia); a It Gets Better Portugal, a rede
Questionar as/os alunas/os sobre ex-aequo www.rea.pt, a Ilga-Portugal
qual o nome pelo qual se sentem mais ilga-portugal.pt e outras que
confortáveis em serem tratadas/os, e desenvolvem sessões neste âmbito.
respeitar o nome escolhido;
Criar uma caixa de dúvidas e sugestões
para que as/os alunas/os possam expor
temas que gostariam de ver tratados
nas aulas;
E, claro: Consultar e partilhar este
manual e entrar em contacto connosco
sempre que surja qualquer dúvida!

Em vários países (podes ver aqui:


gsanetwork.org) estas atividades estão
presentes e são habituais no contexto
escolar, representando um apoio sólido
para estas/es jovens. De facto, vários
estudos científicos (link de exemplo)
têm demonstrado que as redes de
apoio escolar para a comunidade
LGBTQI+ promovem o seu bem-estar 28

Fiquem
psicológico, reduzem o absentismo
escolar e sentimentos negativos (e.g.,

desse lado!
insegurança, tristeza, rejeição).

Nas próximas páginas irão encontrar


informações direcionadas a cada faixa Seis famílias anónimas contam
as suas histórias e as suas
etária, um glossário e vários recursos
expectativas para um futuro mais
que podem ser trabalhados em inclusivo e diverso, em conversas
contexto sala de aula ou à distância. informais e descontraídas.
Anexo Algumas datas importantes NOTA: É importante referir
que todas as datas que
para o movimento LGBTI+
se relacionem com a
visibilidade de algum grupo
30 de Janeiro - Dia Internacional da Não Violência e da Paz minoritário são importantes
nas Escolas para o movimento LGBTI+.
14 de fevereiro: Dia dos namorados e das namoradas Isto porque, as lutas de
1 de março - Dia da discriminação zero direitos humanos devem
ser interseccionais, ou seja,
31 de março - Dia Internacional da Visibilidade Trans
sensíveis e direcionadas
17 de abril - Dia do Silêncio Contra o Bullying Homo/Bi/
para a sobreposição ou
Transfóbico intersecção de diferentes
26 de abril - Dia da Visibilidade Lésbica categorias e sistemas de
17 de maio - Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, opressão, dominação ou
Bifobia e Transfobia discriminação. O objetivo é 29
sempre a inclusão de todas
28 de junho - Dia Internacional do Orgulho LGBT
as pessoas, o que não é
14 de julho - Dia Internacional das Pessoas não-binárias
possível se não tivermos
23 de setembro - Dia Internacional da Celebração da um olhar completo e
Bissexualidade complexo sobre a sua
11 de outubro - Dia Nacional do Coming-out identidade!
26 de outubro - Dia da Visibilidade Intersexo
20 de novembro - Dia Internacional da Memória Trans
Capítulo II
2º ciclo do Ensino Básico
- Este capítulo é para
vocês! 30
Geralmente, é por volta desta idade
a entrada na puberdade. Esta fase Como facilitar
marcada por muitas mudanças e
incertezas no corpo (algumas visíveis) então essa
comunicação?
tem, obviamente, um grande peso em
termos psicossociais. É o conjunto de
incertezas vividas nesta transição que,
Vejamos alguns
muitas vezes, leva a que as/os jovens
aspetos: 31
tenham dificuldade em conversar com
pessoas adultas e até com os pares.
I - Evitar termos ou expressões que Encontrar um equilíbrio no discurso
possam provocar vergonha ou nojo pode ser difícil no trabalho com
quando se fala de sexualidade. estas idades: as/os alunas/os não
É importante que seja sempre utilizada terão todas/os o mesmo nível de
uma linguagem direta e positiva. conhecimento prévio, nem sequer
O uso de calão, gíria, ou de um tom estarão na mesma fase
de voz repressivo, pode incutir a ideia de desenvolvimento sexual.
que a sexualidade é algo errado, Por isso, vamos deixar um apêndice
tabu ou que gera repulsa. Devem ser a este Capítulo II, com estratégias 32
usados os termos científicos e deve e dinâmicas que podem utilizar
adotar-se uma postura de diálogo para facilitar esta comunicação
e disponibilidade. Aqui, é muito e interação.
importante ressalvar que, apesar dos
marcos desenvolvimentais estudados,
há sempre um ritmo próprio a que
cada pessoa e o seu respetivo corpo
se desenvolvem.
II - Não tornar os momentos em que se Comunicar é sempre a melhor
fala sobre sexualidade “na conversa”. solução!
Ao longo do tempo, foi-se criando o
mito sobre “A conversa” que se deve ter III - Questionar as/os alunas/os sobre
com as/os jovens sobre sexualidade. temas que sejam importantes, para
Adotar este tipo de formalismo inibe, cada uma/um, debater. Uma boa
não só a pessoa adulta que quer estratégia pode ser criar uma caixa
abordar o assunto, como as/os ou até um endereço de e-mail, onde
próprias/os jovens. Para além disso, as/os alunos possam deixar questões 33
atribui um cunho de tabu ao assunto: que achem pertinentes e queiram
como se fosse algo que não se pode ver respondidas.
falar naturalmente e em qualquer
momento. Não conversar sobre um
assunto levanta dúvidas e, quando há
dificuldade em expor essas dúvidas,
a tendência é a cometer erros que
poderiam ter sido evitados.
V - Não duvidar e/ou troçar de algum tranquilidade e normalidade, para
coming-out feito por alguma/algum que a/o jovem não sinta que está
aluna/o. Muitas vezes, é na escola a ser questionada/o por aquilo que
e nas/os professoras/es, que sente, ou por não saber quem é.
as/os alunas/os encontram segurança Não há nada errado em identificar-se
para falar, abertamente, sobre quem como LGBTI+!
são e o que sentem. Por isso, se em
algum momento uma/um aluna/o se
34
afirmar como LGBTI+, garanta que não
reage com dúvida a essa divulgação.
Lembre-se que não perguntaria
“Tens a certeza?” a alguém que lhe
dissesse que é heterossexual e/
ou cisgénero. Para além disso, evite
expressões como “ela/ele diz que é
lésbica/gay/trans”. Se alguém diz
ser, é importante aceitar isso com
VI - Prevenir a linguagem insultuosa no meio escolar.
Basta passar uns minutos num corredor de uma escola para
se ouvirem insultos entre as/os jovens. Estes insultos, além do
sofrimento psicológico causado a quem se dirigem, tornam
outras pessoas receosas e reticentes de viverem
a sua sexualidade e se expressarem da forma que se sentem
felizes e identificadas/os. Um bom ambiente escolar pode ser
promovido ao conscientizar-se para o peso destas palavras.
No apêndice, deixaremos algumas dinâmicas e estratégias 35
para promover um ambiente escolar mais inclusivo
a este nível. Deixamos ainda, o link para uma campanha
“Homofobia com amor se paga”, onde abordamos
a necessidade de se promoverem redes de apoio social
consistentes para a população LGBTI+
VII - Não infantilizar as escolhas e os
sentimentos nesta faixa etária. Claro
que tal não significa, considerar que
as/os adolescentes já têm, nesta
fase, discernimento suficiente para
viver a sua vida de forma autónoma
e independente. Mas, quer dizer que
devem ser ouvidas/os e, mais do que
isso, sentir que as suas figuras de 36
referência adultas as/os querem ouvir.
Promover momentos de diálogo, debate
e cooperação, são cruciais para criar
nas/os adolescentes um sentimento
de crescente autonomia. No apêndice
vamos deixar algumas dinâmicas
e estratégias que promovem estes
momentos.
Apêndice Capítulo II com a experiência;
Dinâmica sobre a imagem pessoal Explicar a quem não tenha
participado que, no fundo da caixa,
Material: estava um espelho e não fotografias;
1 caixa com tampa Promover a reflexão:
1 espelho no fundo da caixa Como é falar de nós próprias/os?
Somos justas/os quando falamos de
Instruções: nós mesmas/os?
Distribuir o grupo em roda ou em U e O que mais valorizamos em nós?
a/o dinamizadora/dinamizador pede Temos mais facilidade em falar sobre
voluntárias/os para iniciarem nós de forma negativa ou positiva?
a dinâmica. A instrução dada é a Como é ouvir as outras pessoas
seguinte “Dentro dessa caixa estão a falar de si próprias? 37
fotografias de uma pessoa famosa. Tem O que podemos retirar
de falar sobre essa pessoa sem nunca desta dinâmica?
revelar quem ela é”. Enquanto houver
voluntárias/os, explora-se a dinâmica
até ao momento de reflexão.

Reflexão:
Questionar se todas/os que
participaram se sentiram confortáveis
Dinâmica sobre empatia e coesão Reflexão:
Foi difícil encontrar uma resolução?
Material: Porquê?
Um chupa-chupa para cada aluno. De que forma isto se aplica ao nosso
dia a dia? E a vocês enquanto colegas
Instruções: e amigas/os?
Distribuir os chupa-chupas por todas/os
as/os alunas/os, individualmente;
Dar a seguinte instrução
“Cada uma/um de vocês tem Dinâmica sobre a valorização dos
um chupa-chupa. Peço que os contributos pessoais
desembrulhem. Depois disso,
todas/os vocês têm de comer um Material: 38
chupa-chupa. Contudo, têm de o Uma caixa vazia colocada uma
fazer com o braço esticado. Ninguém semana antes do dia da realização
pode dobraro cotovelo para comer um da dinâmica;
chupa-chupa. Só terminamos quando Colocar na caixa a seguinte instrução
toda a gente estiver a comer um “Tudo o que tens a dizer é bem-vindo”
chupa-chupa. Mãos à obra!
NOTA: a solução é cada pessoa oferecer o seu Instrução:
chupa-chupa, com o braço esticado, para outro/a Lançar o desafio de colocar uma
colega poder comer! dúvida, questão e/ou sugestão
relacionada com sexualidade na caixa; Reflexão:
No próprio dia verificar se há papéis Esclarecer em que pontos da
dentro da caixa. Se não houver, pedir dinâmica se sentiram mais ou menos
para cada pessoa, colocar alguma confortáveis e porquê;
coisa na caixa, sempre com a premissa Questionar a turma sobre
de que todas as contribuições são a importância da dinâmica;
necessárias e importantes; Pensar noutras temáticas para as
Distribuir de forma aleatória os papéis quais possa ser utilizada esta técnica.
que se encontram na caixa por toda
a turma; Estas são algumas dinâmicas
Cada aluna/o lê a questão que lhe e estratégias relativamente simples
calhou; que podem ser postas em prática.
A /o dinamizadora/dinamizador vai Contudo, muitas outras sugestões 39
tentando orientar a conversa, não serão deixadas ao longo dos próximos
só esclarecendo as perguntas como capítulos que, apesar
questionando o que o grupo pensa de serem direcionadas para
sobre as mesmas; alunas/os mais velhas/os, podem ser
Pode ser sugerido a construção de adaptadas a outras/os mais novas/os.
algum post num eventual blog ou Assim sendo, fiquem desse lado
página da turma, com as perguntas e sigam estas páginas connosco!
e respostas colocadas e debatidas.
Capítulo III
3º ciclo - Mudanças
e afirmações:
Como gerir? 40
Como qualquer processo, a adolescência é também
marcada por um crescente desejo de autonomia
e independência por parte de quem a vivência.
Assim, há um desafio ainda maior para as/os educadoras/es: 41
permitir, gradualmente, maior independência
e autonomia, mas, em paralelo, manter uma estrutura sólida
que proteja, eduque e responsabilize a/o adolescente.
No que concerne às questões da sexualidade é importante
também trabalhar estes eixos: desde questões como
a contracepção à gestão de afetos.
Algumas Nesta fase os pares ganham maior destaque na vida das/os
dicas: adolescentes, comparativamente às pessoas adultas.
Tenha isso em mente e respeite essa escolha,
mostrando-se sempre disponível para quando precisarem
das figuras adultas;

Ouça o que as/os adolescentes querem dizer e perguntar.


Não mostre julgamento, pelo contrário, assuma uma postura
empática: “Compreendo que te sintas assim”; 42
“É válido estares assim”;

Seja rigorosa/o na informação que passa às/aos


adolescentes: se não souber a resposta a alguma dúvida,
admita-o e pesquise para mais tarde dar uma resposta
apropriada. Esta sinceridade e rigor são muito importantes
para uma relação de confiança;
Não segmentar as respostas: se uma/um adolescente
questiona sobre métodos contracetivos, pode ser um mote
importante para falar de afetos e de orientação sexual,
por exemplo. Aqui, é importante que não assuma, à priori, que
a/o adolescente tem uma orientação sexual heterossexual,
para não perpetuar situações de invisibilidade e opressão;

Como abordar as questões da sexualidade numa idade em


que muitas coisas são faladas em forma de “piada”? 43
Talvez aproveitar o humor seja, de facto, uma das soluções
mais fáceis e eficazes!

Reforçar a ideia de respeito mútuo e amor.


É muito importante que as/os adolescentes saibam que estão
num espaço seguro, sobretudo para viverem a sua identidade
de forma plena.
44

Como concretizar
estes objetivos?AI
MELHORAR
No Apêndice do Capítulo III vamos deixar algumas
dinâmicas, atividades e recursos que poderão ser úteis!
Apêndice Capítulo III O que é
Na Biblioteca da It Gets Better Portugal “ser homem”?
há uma vasta panóplia de vídeos que
podem passar às/aos alunas/os com O que é
mensagens positivas e de esperança; “ser mulher”?

Dinâmica da tertúlia sobre Quais as consequências pessoais e


masculinidade e feminilidade sociais da “masculinidade tóxica”?
Trabalhar a empatia com jovens
é um exercício fulcral, sobretudo, Criar uma lista com exemplos de
quando queremos promover um medidas para combater
ambiente seguro e inclusivo. a masculinidade tóxica e afixar na
escola para alertar para a temática. 45
Material:
Para isso, a publicidade da conhecida
marca Gilette, pode ser interessante Publicidade da
marca Gilette
para criar uma tertúlia na turma, sobre
o significado de masculinidade e
feminilidade na sociedade atual.
Possíveis questões que podem ser
desenvolvidas neste exercício:
Dinâmica de Brainstorming sobre os Se fossem dirigidas a si, o que sentiria?
próprios preconceitos O que sentirá quem ouve estas
Promover a reflexão e o insight sobre palavras?
os próprios preconceitos e estereótipos. Porque alguém usa estas palavras para
se dirigir a outra pessoa?
Material:
1 quadro e 1 ferramenta de escrita

Instrução: Dinâmica do segredo


Deve ser pedido a todas/os as/os Promover a reflexão sobre
alunas/os que pensem sobre a importância de respeitar o espaço
as palavras que associam quando e as escolhas de outra pessoa.
alguém fala sobre ser LGBTI+. Compreender que a identidade 46
46
individual deve ser partilhada apenas
Reflexão: pela própria pessoa, quando e onde
Naturalmente, irão surgir palavras se sente segura para isso. Procurar
positivas e outras nem tanto. evitar situações de outing.
Contudo, o importante é que a/o
dinamizadora/dinamizador consiga Material:
pedir às/aos alunas/os para, ao serem Um pequeno papel e uma caneta para
confrontadas/os com todo este rol de cada participante.
palavras, reflitam sobre elas:
Instrução: risos e comentários nervosos.
É pedido a cada participante que A/o dinamizadora/dinamizador nada
escreva no papel um segredo deve dizer. Após esse tempo, deve pedir
profundo, que nunca tenha partilhado às/aos participantes que voltem aos
com ninguém. Dá-se ainda a instrução seus sítios iniciais.
de dobrar o papel “em quatro” no
final e, de seguida, sentar-se em Reflexão:
cima do mesmo. A/o dinamizadora/ Como se sentiram a escrever algo tão
dinamizador deve garantir às/aos privado?
participantes que, em circunstância Como é saber que outra pessoa está
alguma, o segredo será lido por outra tão perto de algo privado e nosso?
pessoa. Depois destas etapas estarem Como se sentiram ao estar tão perto do
concluídas, deve indicar-se às/aos segredo de outra pessoa? 47
47
participantes que troquem de lugar Em algum momento tiveram medo
(ficando sentadas/os em cima do que alguém pudesse ler o que tinham
segredo de outras pessoas). Após escrito?
toda a gente ter trocado de lugar, Que reflexão podemos levar desta
a/o dinamizadora/dinamizador deve dinâmica para o nosso dia a dia?
deixar as/os participantes
à espera, sem proferir qualquer
instrução durante, aproximadamente,
um minuto. Durante este espaço de
tempo é comum começarem a surgir
Estas são algumas das sugestões
que deixamos para o 3º ciclo. Fiquem
No próximo capítulo, acrescentaremos
algumas sugestões e estratégias para connosco para
que tudo possa
o ensino secundário. Mas continuem
desse lado: teremos ainda um glossário

melhorar!
para esclarecer vários conceitos
e uma pequena conclusão para fechar
a nossa contribuição. 48
Capítulo IV
Ensino Secundário
- Crescimento,
Partilha e Decisões: 49

Vamos falar
sobre isso?
Nesta faixa etária é comum as/os jovens terem dificuldades
acrescidas em gerir limites e fronteiras, uma vez que,
sentem-se demasiado velhas/os para determinadas
questões associadas à adolescência mas, ao mesmo tempo,
demasiado imaturos para assumirem responsabilidades
inerentes à adultez.

A vivência da sexualidade está, muitas vezes, numa


polaridade semelhante e nem sempre é fácil para as/os 50
jovens gerirem a sua vida afetiva e sexual.
Idealmente, iriam recorrer a pessoas adultas significativas
e aos serviços e entidades disponíveis, para esclarecer
as suas dúvidas e partilhar os seus receios, mas, pelas mais
variadas razões, isto nem sempre acontece.
Assim sendo, que tópicos
podem e devem ser
abordados com
as/os jovens? 51
Consentimento. É importante esclarecer E para adolescentes,
às/aos jovens o que é o consentimento o seguinte:
e como devem interpretar a fronteira
entre o que é consentido e o que
é abusivo. No youtube, podemos
encontrar dois exemplos de materiais
que podem ajudar a introduzir esta
questão.
52
Para jovens
recomendamos
este vídeo:
É importante que a visualização deste
vídeo tenha de seguida uma reflexão
guiada e uma partilha de impressões
sobre o mesmo.
Contextualizar o enquadramento legal
também será uma mais-valia, no
sentido de tornar clara a legislação
existente no país relativamente
a crimes sexuais. 53
Contracepção. Apesar de parecer se destaca a importância do trabalho
um tema já suficientemente abordado, em rede, onde referenciamos
o facto é que imensas/os jovens, o trabalho da Abraço como uma
incluindo LGBTI+, têm muitas dúvidas associação especializada em ISTs.
sobre o tema. Não é suficiente enumerar Para além disso, recordamos
diferentes métodos: a importância do Programa
é importante ser clara/o em relação Nacional de Saúde Reprodutiva e
às respetivas vantagens/desvantagens, da necessidade de todas/os as/os
usos, locais de aquisição, formas jovens deverem estar informadas/os 54
de utilização e, para além disso, dar sobre o mesmo.
exemplos inclusivos. Outro dos pontos
mais importantes quando se fala
de contracepção é salientar, não só
a importância de evitar gravidezes
indesejadas mas, sobretudo, de evitar
a transmissão de Infeções Sexualmente
Transmissíveis (ISTs). Mais uma vez,
Conceptualizar a sexualidade no para autoestima e autoconceito
âmbito dos afetos. É importante que das/os jovens, mas também para
seja claro para as/os jovens que a a vivência da sua sexualidade.
sexualidade não se limita à prática
do coito. Educar para os afetos e para Assim, vamos deixar mais sugestões
as relações de intimidade torna as/os de dinâmicas e atividades que,
jovens mais sensíveis e seguras/os na complementadas com as já
vivência da sexualidade. Não aborde mencionadas em secções anteriores,
as questões como independentes. poderão ajudar a introduzir e explorar 55
todas estas questões e temáticas.
Falar sobre imagem corporal.
Todos os corpos são diferentes e deve
ser normalizada essa diversidade.
Aqui, deve ser debatido o respeito pelo
próprio corpo e pelo corpo das outras
pessoas. Trabalhar a aceitação do
próprio corpo é também crucial não só
Apêndice Capítulo IV Há diversidade? Sentem-se
Dinâmica do corpo e a sua representadas/os naquelas imagens?
representação Discute-se a diferença entre a forma
como vemos o nosso corpo e como
Material: as outras pessoas o vêem.
Várias revistas aleatórias, tesouras,
cola e folhas de papel brancas.

Instruções: Dinâmica “Mito ou verdade?”


A/o dinamizadora/dinamizador pede Instruções
que se juntem em pequenos grupos.
A cada grupo é pedido que encontrem A/o dinamizadora/dinamizador pede
imagens que representem corpos para, numa parede, colocarem duas 56
56
humanos. No final, é suposto que criem folhas, uma de cada lado a dizer
um quadro nas folhas brancas com “Verdade”e “Mito”. Devem ser lidas
essas mesmas imagens. algumas frases, e as/os jovens
vão-se posicionando na medida em
No fim, depois de todas as pessoas que consideram que a afirmação
terem terminado, é promovida possa ser verdade ou mito.
a reflexão: Algumas das afirmações que
Quais os critérios de escolha? podem ser usadas:
Como são os produtos finais?
O preservativo é desnecessário na No fim, a/o dinamizadora/
prática de sexo anal e de sexo oral; dinamizador deve debater com
A pílula é o único método as/os participantes cada uma
contraceptivo totalmente eficaz; das afirmações e esclarecer
Só existe violência sexual dos homens mitos e erros que possam ter sido
para as mulheres; identificados com esta dinâmica.
A maternidade adolescente tem
estado a diminuir em Portugal;
É possível ter consultas gratuitas e
aconselhamento sobre planeamento Dinâmica de visualização de filmes
familiar no Sistema Nacional de Saúde; adequados às temáticas
As pessoas que têm relacionamentos Alguns exemplos:
homossexuais não precisam 57
57
de se preocupar com métodos - Sex Education
contraceptivos; - Love, Simon
Não há cura para o HIV; - Moonlight (M/16)
O preservativo é o único método - As vantagens de ser invisível
contraceptivo que impede - A todos os rapazes que amei
a transmissão de ISTs. - Call me by your name
(...) - A rapariga dinamarquesa
- Hoje eu quero voltar sozinho
É importante que haja sempre E esta luta é tão mais consistente
um debate sobre cada filme. e eficaz, quanto mais pessoas se
Criar nuvens de palavras com as juntarem a ela.
principais conclusões sobre os filmes Por isso: quantas pessoas vão juntar
também pode ser interessante para na vossa escola?
reflexão. Ouvir as possíveis sugestões
das/os jovens também será Deixamos o desafio!
uma mais-valia.

Mais uma vez, reforçamos que este


manual deve ser lido e encarado como
um todo… Cada sugestão deixada
num capítulo, pode ser adaptada à 58
58
população-alvo de outro. O importante
é, sempre, garantir que as/os jovens,
especialmente LGBTI+, pela sua
vulnerabilidade social, se sentem
ouvidas/os e seguras/os.
Lembrem-se que, juntas/os, temos de
combater os 3 is da discriminação:
o insulto, a invisibilidade e o isolamento.
Concluindo
(sem nunca concluir!)
AI MELHORAR
Não é possível concluir um trabalho que
teria sempre mais páginas para encher. 59
Preferimos então dizer que, por agora,
terminamos aqui as nossas sugestões.
Mas a nossa disponibilidade quer
presencial, quer por meios remotos está
assegurada. Sempre que acharem que
a nossa presença pode ser importante
numa aula, num debate, numa tertúlia,
contactem-nos e encontraremos uma
forma de dar o nosso contributo!
E, agora que fizemos, juntas/os, como o insucesso e o absentismo
a viagem por estas páginas pedimos, escolar possam diminuir com este
novamente, que pare e pense: e muitos outros apoios que vão
surgindo.
Que coisas aprendi com este manual?
Qual a mais profunda reflexão que fiz? Quanto a nós, ficamos deste lado.
Há alguma mudança significativa na Obrigada por terem ficado desse!
minha vida?
Como será o meu trabalho, enquanto Não se esqueçam de partilhar 60
professora/professor, daqui para os nossos materiais e este manual
a frente? nas vossas redes sociais com a
hashtag #wehavecookiesigb.
Que estas reflexões possam fazer
a diferença na segurança que as/ Nem menos, nem mais: Direitos
os alunas/os LGBTI+ sentem no Iguais!
meio escolar. Que o seu bem-estar
psicológico melhore e que questões
It Gets Better Portugal 2020
Glossário

61
A B
Aliados/as Binarismo de Género
Pessoas que, ainda que não se Visão de uma única possibilidade
identifiquem como LGBTI+, defendem (binária) de ser/estar no mundo. Ou se
a/s causa/s associada/s à comunidade é do género masculino ou do feminino.
LGBTI+.

Assexual Bissexual
Pessoa que não sente atração sexual, Uma categoria de autoidentificação
que não apresenta nenhuma ou baixa sexual atribuída a pessoas que se
resposta fisiológica a estímulos sexuais. sentem sexual e/ou romanticamente
As pessoas assexuais podem ser por pessoas do género masculino 62
românticas ou não romanticas caso e do género feminino: homens
concedam ou não a afetividade nas e mulheres.
relações interpessoais.

Agénero ou Genderqueer ou pessoa


não-binária
Pessoa que não se identifica nem como
pertencente ao género masculino nem
ao feminino.
C D
Cis/Cisgénero Drag
Pessoa cuja a identidade de género Tratam-se de personagens criadas por
está em concordância com o sexo artistas de forma cómica ou exagerada
atribuído à nascença. com o intuito habitualmente profissional
e artístico. Chama-se drag queen a
Comunidade LGBTQI+ uma pessoa que se veste com roupas
Definição atribuída a pessoas que exageradas femininas e drag king a
se identificam como lésbicas, gay, pessoa que se veste como homem.
bissexuais, trans, queer, intersexo e/ou
outra categoria sexual e identitária que
não a heterossexual e cisgénero.
63
As/os aliadas/os também fazem parte
desta categoria.
E F
Estereótipos de Género Feminismo
Conjunto de crenças construídas Movimento social e político iniciado
socialmente para explicar aquilo que no final do século XVIII que defende
é esperado de homens e mulheres pela a igualdade de género, ou seja, que
sociedade. Entre os estereótipos de as mulheres devem ter os mesmo
género masculinos encontram-se, direitos dos homens.
entre muitos outros, a força, a segurança,
a incapacidade emocional
e a agressividade. Nos femininos
podemos encontrar a doçura,
a submissão, a delicadeza 64
e a emotividade.

Expressão de género
É a manifestação pública da forma como
a pessoa se identifica em termos de
género. A expressão de género passa
pela forma como a pessoa se veste,
corta o cabelo, fala e interage. Não tem
de corresponder ao sexo biológico e tem
uma influência cultural forte.
G H
Gay Heteronormatividade
Uma categoria de autoidentificação Visão que normaliza
sexual atribuída a homens que se a heterossexualidade e os
sentem sexual e/ou romanticamente comportamentos tradicionalmente
atraídos por outros homens. ligados a ela, mostrando-os como
única opção válida, excluindo
Género qualquer forma de relação fora dos
Construção sociocultural que atribui “padrões” heterossexuais.
determinadas características em
termos de papéis, expressão e outros Homossexual
comportamentos, independentes Pessoa que sente atração física e afetiva 65
do sexo biológico. Durante muito tempo por pessoa do mesmo sexo ou género.
assistiu-se a uma perspetiva binária
de género, contudo, hoje sabe-se que Homofobia
muitas pessoas não se enquadram Aversão, ódio, atitudes e
nesta redutora classificação. entimentos negativos relativamene
a pessoas homossexuais.
I
Identidade de género genital e/ou combinações de fatores
É uma experiência interna e individual, genéticos e aparência.
em que cada pessoa se identifica
como sendo de determinado género. Interseccionalidade
Como vimos anteriormente, pode Conceito que nos alerta para
assumir diferentes categorias ou não a existência de diferentes categorias de
pertencer a nenhuma. Para além disso, pertença, de privilégio e de opressão
é independente do sexo biológico e da (exemplos: pertença cultural/étnica,
orientação sexual. Note-se que é uma orientação sexual e identidade
experiência pessoal e interna, logo, deve de género, habilitações literárias,
ser respeitada e tratada como tal. idade, estatuto socioeconómico ou 66
nacionalidade), e como estas não
Intersexo podem ser examinadas de forma
Pessoa que possui variação de separada, pois as suas interações
caracteres sexuais como os podem potenciar a discriminação
cromossomas, hormonas, gónadas e a desigualdade.
e/ou órgãos genitais e cariótipo,
e que dificultam sua identificação como
totalmente feminino ou masculino. Essa
variação pode envolver ambiguidade
L O
Lésbica Orientação Sexual
Uma categoria de autoidentificação Diz respeito à atração pelo tipo
sexual atribuída a mulheres que se de pessoas (geralmente com base
sentem sexual e/ou romanticamente no género) pelas quais nos sentimos
atraídas por outras mulheres. atraídas/os. A atração pode ser
emocional, sexual, fisíca e/ou espiritual.

Outing
Quando alguém revela a
orientação sexual de outra pessoa
sem o seu consentimento. 67
P
Papel de género Pessoa não binária
Tipos de comportamentos em diferentes Pessoa cuja identidade de género
situações, que a sociedade espera que não cabe nem como homem nem como
aconteça e que ensina desde mulher ou ainda que está entre um
o nascimento, mediante o sexo género e outro (masculino ou feminino)
atribuído à nascença. podendo também ser uma combinação
dos dois.
Pansexual
Uma orientação sexual que se 68
caracteriza por poder desenvolver
atração sexual e/ou romântica
por alguém, independente de sua
identidade de género ou sexo biológico.
Assim, a pansexualidade rejeita,
especificamente, a perspetiva binária
de género e de orientação sexual.
S T
Sexo biológico Trans
Conjunto de características biológicas Pessoa cuja a sua identidade de
(por exemplo, a genitália género não é concordante com o
e a composição hormonal). sexo que lhe foi atribuído à nascença.
Conhecem-se em termos de categorias Algumas pessoas trans optam por fazer
de sexo biológico, o masculino, feminino terapia hormonal e/ou cirurgias de
e intersexo. Em função do sexo biológico redesignação sexual.
atribuído à nascença há a tendência
de se esperar determinada identidade
de género e, com ele, determinada
expressão de género.
69
Ficha Técnica

Texto
Daniela Leal
Tiago Castro

Design
Bruna Martins 70
Sérgio Magalhães

Financiamento
CIG - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género

Apoios
Federação das Associações Juvenis do distrito do Porto
It Gets Better Internacional
71

Você também pode gostar