Você está na página 1de 5

Era o ano de 1940, um inverno, eu me lembro muito bem, tinha seis anos de idade,

éramos uma família pequena de quatro pessoas, e naquela tarde fria minha mãe com
seus olhos arregalados apertava minhas mãos forte em um quarto da casa, ela estava
suando frio, meu pai me retirava do quarto, e eu chorava muito por não poder ficar ali
com ela, e não poder estar ao lado dela quando ela mais precisava, meu pai me senta em
cima de um banco de madeira que ficava na área de casa e me repreende.

- Não entre mais dentro desse quarto sem minha autorização!! exclama ele gritando
comigo.

A segunda guerra mundial já havia estourado, era fácil notar a movimentação de gente
saindo de suas casas e indo se alistar na cidade grande, meu amigo Eduardo me vendo
sentada ali me chama para brincar:

Eduardo:

-Ganda vamos brincar aqui em frente? Eu trouxe alguns brinquedos.

Eu desço a escada de madeira que tem em frente à minha casa, chego perto dele, e ouço
meu pai chorando sentado no mesmo banco que eu havia me levantado, eu me viro e
deixo Eduardo e corro para meu pai e pergunto, que aconteceu, meu pai era um homem
que tinha bigode grosso, nunca tinha o visto demonstrar sentimentos, foi a primeira vez
que o vi desmoronar em lagrimas, nem mesmo quando ficou doente, ou quando perdeu
seu pai vi ele chorar, ele me olha com seus olhos cobertos de lagrimas:

-Filha!! Sua mãe!! Acaba de falecer!! Sei que você é muito nova para entender, mas eu
nem sei como falar!!

Aquele dia ficou em minha mente, fiquei o resto da tarde abraçada ao meu pai, que não
parava de chorar, no dia seguinte meu pai apanha minha mãe em seus braços e a enterra
em um terreno que o meu tio limpou, nós morávamos em uma vila pequena com poucos
moradores, os mesmos apareceram do tipo que estão curiosos para saber o que estava
acontecendo, era possível ver vizinhos sussurrarem dizendo que ela havia morrido
porque era pecadora, ô meu Deus, como ele vai criar essas duas crianças. Foi quando
um homem bem vestido, de chapéu e montado em seu cavalo fala a meu pai:

-Sylas agora que ocê, perdeu sua mulher, não queria ser inconveniente, mas quero saber
se vai vender sua casa, afinal ficar aí com todas essas lembranças não vai te fazer bem,
tenho uma proposta boa a ocê.

Eles conversam, e meu pai aceita a proposta de trocar nossa casa, era velha, de madeira,
mas eu gostava demais de cada amigo, ou cantinho daquele barraco, e passando- se
alguns dias apôs a morte de minha mãe, meu irmão começa a chorar no quarto:

Eu corro e dou leite a ele, e meu pai se acabando em cigarros e bebida na porta, me
chama gritando:

-Ganda!!! Ganda!! Dê comida a seu irmão e venha aqui sua menina atrevida!!
Eu corro até ele, e ele me olha, com um cheiro forte de álcool exalando de suas roupas
velhas e surradas.

- Ganda, você vai cuidar de seu irmão, e será a mulher da casa, não quero te ver
brincando lá fora!!! A parti de hoje você fica em casa e nada de sair pra brincar na rua!!
Vai cuidar de seu irmão, e trate de cuidar do Pedro. ele fala tudo isso, e logo em seguida
se vira pega outro cigarro e traga, a fumaça sai de sua boca subindo em seu rosto e fala
novamente, como se houvesse outra pessoa ali, era um tom mais calmo e consciente:

- Filha, vou vender essa casa, ela me traz lembranças ruins, e não quero ficar
assombrado pelo espirito de sua mãe, o coronel senhor Simão foi bondoso e me
ofereceu uma fazenda longe daqui, eu e você precisamos de ar fresco, um pouco de
sossego, vai ser puxado no início, mas eu já decidi que vai ser assim.

Eu apenas olho e concordo, ele na manhã seguinte me acorda dizendo:

- Ganda, levante -se e pegue suas coisas e vamos, eu pego algumas roupas, me lembro
de pegar algumas sacolas daquelas que tem apenas seis mudas de roupa, subo na
charrete, o homem que está à frente dela fuma um cigarro enquanto meu pai coloca o
restante das coisas ao meu lado, era poucas coisas, enquanto isso cai um sereno que
molha a todos ali, e as roupas colocadas atrás por meu pai, meu pai sobe e fala:

- Vamos logo, que dessa vila não quero mais saber de nada, vamos para os campos, um
lugar sossegado que pretendo começar do zero!! 

Vamos em direção a florestas, passamos por matos, montanhas grandes e várias


planícies, outrora subindo, outrora descendo, e várias horas se passam até chegarmos
em uma casa velha, era grande, do tipo que se nota de longe, ouço o senhor da charrete
dizer com tom de sarcasmo e rindo:

-Sylas, aqui é meio longe em, se você precisar de algo manda o leiteiro me falar, estou
sempre a disposição.

Sylas:

-Pode ficar tranquilo que daqui em diante eu dou conta de tudo, vamos descer logo as
coisas Ganda!!

Descemos tudo da charrete, ao entrar na casa, ando por ela, e escolho o meu quarto, a
casa é grande, tem cômodos, e mais cômodos, ao entrar no corredor um pouco distante
do meu pai, vejo alguma coisa correr, eu vou em sua direção:

-Mas o que corre aqui? Essa casa não era pra ter ninguém, me pergunto enquanto corro,
e algo entra em uma porta e a fecha muito rápido:

-Não abre, eu tento puxar, algo está lá dentro, eu me viro e olho lentamente pelo buraco
da fechadura, não vejo nada além de escuridão do outro lado, quando de repente algo
pega em meu ombro, eu me viro, e é meu pai com cara de bravo:
Capitulo 2

-Ganda pare de correr pela casa, e vá cuidar de seu irmão, ele está chorando, eu estou
arrumando as coisas e você não está fazendo nada, vá logo!

Eu então saio e vou ficar ao lado de meu irmão.

O tempo passa, e três dias depois um homem de carro aparece em casa, chama por meu
pai batendo palmas, eu corro até meu pai, ele que está acendendo o fogo no fogão a
lenha:

Meu pai me vê chegando correndo e fala:

-O que você faz aqui? Eu não falei para você ficar ao lado de seu irmão?

Ganda:

-Tem gente o chamando, tem um homem lá fora, ele olha para mim desconfiado, afinal
quem viria até aqui, meu pai ao sair pela porta o homem do carro fala:

-Senhor é o Sylas Montessol de Carvalho?

Sylas:

-Sou eu sim, responde meu pai desconfiado e longe do homem que o perguntava.

O homem desconfiado fala com uma voz mais firme:

-Me chamo Saulo!! sou terceiro sargento do exército!! Vim aqui com essa carta para o
senhor, é uma convocação obrigatória para se apresentar na cidade grande, senhor tem
dois dias para se apresentar lá.

Sylas:

-Não tenho condições de ir, tenho dois filhos pequenos em casa.

Saulo:

-Então aconselho que você vá mesmo assim, nosso país precisa de sua ajuda, ou é isso
ou a deserção!! no caso de deserção você será condenado a morte.

Sylas:

-Tudo bem, eu irei a cidade grande explicar minha situação.

Saulo:

-Tudo bem! Mas não deixe de ir, peço que assine aqui comprovando que eu lhe passei
todas as informações.
Meu pai pega o papel em suas mãos, e vejo suas mãos trêmulas, ele diz então:

-Eu não sei ler, e nem escrever sargento, não sei como faço para assinar.

Saulo:

-Pegue seu dedo e coloque aqui, vou te dar essa tinta.

Meu pai coloca seu dedo e molha na tinta, e logo em seguida põem em um ponto da
folha, e aperta, e então entrega a folha a Saulo que a pega.

Saulo:

-O país agradece o senhor Sylas, eu o vejo logo mais, vamos matar aqueles malditos
alemães!!

Sylas:

-Vou fazer de tudo para não ir.

Saulo:

-Faça isso, mas não deixe de ir, conselho de um amigo! Até logo mais!

Sylas:

-Tenha um bom dia sargento.

Meu pai sai de lá com uma expressão grande de tristeza, o dia então se passa e no final
da noite em uma fogueira que fizemos no quintal, meu pai conta como conheceu minha
mãe:

-Era tarde, praticamente noite, eu vi sua mãe vindo em minha direção, ela pediu ajuda, o
cavalo dela que estava amarrado havia desfeito o nó que ela havia feito, e possivelmente
o cavalo havia ido sem ela para casa, e ela estava sem ter como ir para casa, atrasada e
sem ter como ela ir, eu peguei meu cavalo que tinha e a levei até sua casa. Chegando lá
ela se despediu, e fiquei completamente apaixonado, bom esta tarde já, assim que
resolver esse problema eu termino de contar essa história, vamos dormi!!

Ganda:

-A nãooo, paiiii!! Conta maiss!!

Sylas:

-Não!!! Está na hora de dormi, afirma meu pai com a cara fechada, indicando que
tínhamos que ir.
O dia seguinte chega, e o sol radiante bate na janela de meu quarto, meu pai arruma
algumas coisas para irmos a cidade grande, da pra escutar barulho de meu pai andando
pela casa.

Você também pode gostar