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DIREITO AMBIENTAL
(Prof. Dr. José Roberto Marques)
FRANCA
2020
PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
§1º, ART. 14, DA LEI 6.938/81 (disciplina sobre a política nacional de meio
ambiente): Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, (1) independentemente da existência de culpa, a (2) indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente.
Observa-se neste dispositivo a consagração da responsabilidade objetiva; ou
seja, a responsabilidade sem culpa (não é necessário demonstrar a culpa para se exigir
a responsabilização civil). Necessita-se, no entanto, demonstrar o nexo causal (ou seja,
demonstrar que determinada ação gerou determinado resultado, o qual deve estar
vinculado a uma situação anterior).
REPARAÇÃO DO DANO: é sempre uma tentativa de reparar o dano, pois não se sabe qual
foi a extensão dele (é uma incerteza). Ou seja, na realidade o que se busca é uma
tentativa da reparação do dano, pois nunca poderá saber, ao certo, sua extensão.
Degradação tem caráter transfronteiriço, ou seja, ela ultrapassa o limite que ocorreu.
Não se pode dimensionar a extensão completa do dano.
INDENIZAÇÃO DO DANO: apenas quando for isolada (ou seja, quando for impossível a
reparação, e não difícil reparação) ou cumulativamente (é possível uma condenação de
obrigação de fazer – ex.: reparação específica do dano –, e/ou de obrigação de não fazer
– ex.: proibição da continuidade daquela atividade – e/ou uma indenização). Ex.:
reflorestamento.
NATUREZA DA OBRIGAÇÃO: propter rem (acompanha a coisa).
(não é admitida) TEORIA DO FATO CONSUMADO: o STJ possui entendimento de que essa
teoria não é admitida no Direito Ambiental, pois se trata de interesses indisponíveis,
interesses e bens da coletividade, e não do particular (ex.: construção em APP). REsp nº
1.638.798 (Min. Francisco Falcão).
DIREITO ADQUIRIDO DE POLUIR: não há. Não é porque o cidadão conseguiu uma licença
que ele poderá poluir ilimitadamente; se a administração verificar que aquela atividade
gera um tipo de degradação antes não prevista, o cidadão não poderá alegar o direito
adquirido de poluir (REsp nº 948.921, Min. Herman Benjamin).
SOLIDARIEDADE ENTRE OS DEGRADADORES: existe; inclusive, com relação ao Poder
Público (quando a omissão no dever de fiscalizar for determinante para a concretização
ou agravamento do dano). Pode haver solidariedade entre o particular e o Poder
Público? Sim, (1) quando os dois conjuntamente causarem o dano ou (2) quando o
particular causou o dano e houve uma omissão do Poder Público, sendo que essa
omissão seria determinante para a concretização ou agravamento do dano ambiental.
Na fase de execução no processo, permanece a solidariedade entre ambos; no
entanto, a responsabilidade do Poder Público na fase de execução é subsidiária (ou seja,
esgota-se primeiro o patrimônio do particular, o que faltar, poderá ser cobrado do
patrimônio do Poder Público).
REPARAÇÃO/INDENIZAÇÃO DO DANO AMBIENTAL: imprescritibilidade, pois se trata de
interesses indisponíveis. Ou seja, no que se refere a dano ambiental, é imprescritível.
Exceção: reparação/indenização do dano do patrimônio de terceiros, decorrente de
dano ambiental.
REPARAÇÃO/INDENIZAÇÃO DO DANO DO PATRIMÔNIO DE TERCEIROS, DECORRENTE DE
DANO AMBIENTAL: prescritibilidade, pois se trata de direitos disponíveis. A prescrição,
então, corre nos termos do Direito Civil. Apenas é possível quando se refere ao dano do
patrimônio do particular quando esse dano decorreu de um dano ao meio ambiente em
outro imóvel (v.g.), se ocorreu no seu imóvel não será possível; se for no do vizinho,
poderá ser cobrado.
≠ Princípio do Usuário Pagador: pessoa que utiliza um bem em suas atividades e em seu
benefício deve pagar por esse uso (é lícito).
RESUMO:
PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO, DA PRECAUÇÃO E DO POLUIDOR PAGADOR:
Qual o marco divisor entre os três princípios? O dano.
Nos princípios da prevenção e da precaução, aplica-se antes de ocorrer o dano,
justamente para que ele não ocorra. Ocorreu o dano, aplica-se o princípio do poluidor
pagador, buscando-se a reparação.
Em suma: os princípios da prevenção e precaução se referem à possibilidade de
ocorrer o dano e a busca de comportamentos de condutas e atividades para evitar que
esse dano ocorra.
POLUIÇÃO
Art. 3º (Lei nº 6.938/81) - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa (desfavorável) das
características do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que
direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
I – POLUIÇÃO SONORA
Ecologicamente, a poluição sonora é conceituada como a adulteração do meio
ambiente, causada por ruídos (diferenciam-se dos sons por serem intensivos e nocivos),
que podem ocasionar neuroses, além de uma progressiva diminuição da capacidade
auditiva.
Se o ruído ultrapassar o limite estabelecido na alínea “e”, do art. 3º, configura-
se poluição. Se não ultrapassou o padrão estabelecido, ainda sim pode ser que configure
poluição, desde que consiga se enquadrar essa hipótese em uma daquelas previstas nas
alíneas “a” a “d”, do inciso III, do art. 3º.
EFEITOS:
- nível tolerado pelo ser humano: 50 a 55 decibéis.
- declínio auditivo que se iniciava a partir dos 60 anos, hoje já se observa aos 50.
- ruídos produzidos (em decibéis): avião (140); bateria musical (120); danceteria
(120); metrô (105); tráfego intenso (100); centrífuga (89); secador de cabelo (85);
liquidificador (85); aspirador de pó (80) e máquina de lavar roupa (70).
- nem sempre são imediatos, exceto o incômodo. Gera perda gradativa da
audição.
- pode causar alterações: físicas, mentais e emocionais, como alteração do
humor; no rendimento de trabalho (execução de tarefas); na interferência na
comunicação entre as pessoas; na fauna (muito ruído: acentuada presença de ratos e
baratas) e na flora (redução do crescimento).
c) perda auditiva
Resultante do ambiente de trabalho – consequência: responsabilidade civil do
empregador;
f) desvalorização imobiliária.
Um imóvel não tem o mesmo valor situado ao seu lado um bar que produz ruídos
ou que tem uma movimentação grande de pessoas.
30.06.2020 - 2º BIM
Deste modo, no momento em que o FHC vetou o art. 59, ele afastou o crime de
poluição sonora, remanescendo o art. 42, da LCP.
Portanto, hoje: se puder se enquadrar a poluição sonora no art. 42, será punida;
se não puder se enquadrar, não existirá punição criminal.
- art. 59: específico para poluição sonora
- art. 54: para poluição em geral (ou seja, trata de todos os tipos de poluição, exceto a
sonora, que se encontra no art. 59)
- art. 42: como o FHC vetou o art. 59, sobra o art. 42 para se enquadrar a poluição sonora,
desde que preenchidos algum dos incisos.
II – POLUIÇÃO VISUAL
É a ultrapassagem do limite da visão para reconhecimento das características
naturais do meio, a partir da inserção de novas imagens ou deterioração da paisagem já
existente.
CARACTERÍSTICAS:
- Típica do meio ambiente urbano. Entretanto, a poluição visual não se restringe
a ele.
- Imagens dominam o cenário urbano, ocultando o remanescente de flora e as
construções, muitas delas que integram o patrimônio cultural.
- Disputa pelo espaço que está no campo visual das pessoas (consumo, marcas,
publicidade).
- Efeito quebra-cabeça (peças misturadas).
- Não envolve energia.
14.07.2020
ENQUADRAMENTO LEGAL:
Prejudica o bem-estar (conforto ambiental) e afeta as condições estéticas do
meio ambiente.
JULGADO:
“O Ministério Público tem legitimidade para pleitear remoção de anúncios em
painéis, instalados de maneira irregular e que implicam em dano estético ao ambiente
onde se encontram instalados a propaganda ou o anúncio, sem autorização prévia para
tanto”.
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL:
Decreto-lei nº 25/1937 (organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico
nacional).
Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe
impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser
mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de
cinquenta por cento do valor do mesmo objeto.
Legislação municipal.
CÓDIGO ELEITORAL:
Art. 243. Não será tolerada propaganda:
VIII. que prejudique a higiene e estética urbana ou contravenha a posturas
municipais ou a outra qualquer restrição de direito.
21.07.2020
Art. 65, §2º: Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de
valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que
consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem
privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a
observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos
governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico
e artístico nacional (incluído pela Lei nº 12.408/11).
28.07.2020
III – POLUIÇÃO ELETROMAGNÉTICA
É o excesso de ondas eletromagnéticas emitidas por equipamentos elétricos e
eletrônicos (radiação não-ionizante: que não forma átomos eletricamente carregados),
capaz de influenciar o comportamento celular do organismo humano, danificar
aparelhos elétricos e até desorientar o voo de algumas aves (atravessa qualquer tipo de
matéria viva ou inorgânica).
CARACTERÍSTICAS:
- imperceptível
- silenciosa
- invisível
- inodora
EFEITOS:
Efeito térmico do excesso de radiação: queimaduras e parada cardíaca.
Corpo humano também irradia ondas eletromagnéticas em frequências muito
baixas de infravermelho, que são produzidas pelo calor do próprio corpo. É a vibração
dessas células que permite a realização de exames, como a tomografia.
PAISAGEM:
Telefonia móvel: alterou sensivelmente as paisagens rural e urbana dos
municípios.
Torres: danos à paisagem.
DECISÃO DA UE (abril/2009):
“O parlamento europeu votou em massa a favor de uma lei que criará distâncias
mínimas entre antenas de celular e núcleos populacionais. [...] As autoridades europeias
argumentam que enquanto não houver consenso sobre a segurança ou não da radiação
emitida por essas estações, elas devem ficar longe de habitações humanas”.
Na opinião do Doutor, neste caso seria a aplicação do princípio da precaução.
Exige-se uma demonstração científica de que aquela atividade não causará problema
algum ao meio ambiente ou à saúde humana.
ENQUADRAMENTO LEGAL:
Se prejudica a saúde, a segurança e o bem-estar da população, afeta
desfavoravelmente a fauna ou se há lançamento de energia em desacordo com os
padrões ambientais estabelecidos, é POLUIÇÃO (art. 3º., III, a, c, e, da Lei nº 6.938/81).
04.08.2020
IV – POLUIÇÃO LUMINOSA
CONCEITO:
“É qualquer efeito adverso causado ao meio ambiente pela luz artificial excessiva
ou mal direcionada” (Roberto F. Silvestre, astrônomo).
Luiz intrusa: “quando ultrapassa os limites da área a ser iluminada”.
ENQUANDRAMENTO LEGAL:
Prejudica a saúde e o bem-estar da população, afetando desfavoravelmente a
fauna.
Portanto, é poluição (cf. art. 3º, III, a, c, Lei nº 6.938/81).
RESPONSABILIDADE PENAL:
Art. 54, Lei nº 9.605/98: Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: (...).
Dificilmente este dispositivo é aplicado. Quando o é, na maioria das vezes se
trata das tartarugas marinhas.
Art. 183, CF: Aquele que possuir como sua área urbana de até 250m², por 5 anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.
Art. 200, CF: Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições,
nos termos da lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho.
Meio ambiente é tudo o que nos cerca. Entretanto, as coisas que refletem na
qualidade de vida, proporcionando uma sadia qualidade de vida, nos termos do caput
do art. 225, CF, é que são protegidas pelas leis ambientais.
Quando a Lei nº 6.938/81 conceituou o meio ambiente, ela tratou desses 4
aspectos (meio ambiente natural, urbano, cultural e do trabalho)?
Art. 3º, Lei nº 6.938/81: Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: (...)
Art. 2º: (...) preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida.
Art. 225, CF: meio ambiente ecologicamente equilibrado (...) essencial à sadia
qualidade de vida.
Ou seja, os fins que estão previstos em lei são a preservação, a melhoria e a
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida (art. 2º, Lei nº 6.938/81), bem como
aquilo que é essencial à sadia qualidade de vida (art. 225, CF).
Art. 3º, Lei nº 6.938/81: Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis (da natureza), influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas.
Art. 186, CF: A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA:
Criação de área de preservação ambiental que impossibilite a exploração
econômica lícita: indenização devida (STJ).
Quando o poder público cria uma área de preservação ambiental, não é mais
possível utilizar aquela área economicamente de forma lícita. Tal impossibilidade é
chamada de desapropriação indireta. Nesse caso, o STJ tem o entendimento de que cabe
indenização por desapropriação indireta.
§2º, art. 182, CF: A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
A CF remete o atendimento da função social da propriedade ao plano diretor.
Quando a CF trata da propriedade urbana, não especifica quais são os requisitos, ela
apenas prevê que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências do plano diretor, que é uma lei municipal.
PROPRIEDADE PRIVADA:
Exercício de direito de propriedade: respeito aos direitos da coletividade (que
são indisponíveis).
Entre os direitos da coletividade, está aquele relativo ao meio ambiente, que
decorre do texto do art. 225, CF.
Art. 225, CF: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
Art. 5º, CF: direito à vida. Interpretação conjunta do texto do art. 225, CF.
Dr. entende que é princípio do direito civil, mas não do direito ambiental.
Embora seja um princípio e relevante para o meio ambiente, pois vincula a
função social da propriedade à necessidade e respeito ao meio ambiente, não é
específico do direito ambiental.