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CRÍTICA TEXTUAL E

TIPOS DE EDIÇÃO
Estagiárias:
Maria Rosane Desidério (CAPES/CNPq/UEFS)
Pâmella Cintra (CAPES/CNPq/UEFS)
Orientadora de estágio: Profa. Liliane Barreiros
CRÍTICA TEXTUAL

Suas origens remontam para mais de dois mil anos atrás. Foi
exercida historicamente sobre fontes de natureza distinta:

 textos pagãos (gregos e latinos);


 textos religiosos ( Novo Testamento);

 textos em vernáculo (línguas não-clássicas).


No que se refere à expressão crítica textual, costuma-se
emprega-lo em língua portuguesa como designadora do campo
do reconhecimento que trata basicamente da restituição da
forma genuína dos textos, de sua fixação ou estabelecimento.
(CAMBRAIA, 2005, p. 13).
Séc. XIX - Karl Lachmann (1793-1851)
 A Crítica Textual, como disciplina científica,
nasceu no século XIX com o método
lachmanniano, criado pelo alemão Karl Lachmann
(1793-1851);

 Lachmman revelou-se um marco decisivo na


constituição da crítica textual, dando-lhe base e
princípios científicos ao censurar o sistema vigente
de edição de textos de sua época, instaurando com
as suas edições um sistema de crítica objetiva,
absolutamente científica (SPINA, 1977).
O grande mérito do método lachmanniano consistiu não só
na refutação dos hábitos editoriais anteriores, na
sistematização das normas fundamentais da crítica textual,
mas sobretudo na distinção entre os procedimentos da
recensio e os da emendatio.
Séc. XX - Joseph Bédier (1864-1938)
 O filólogo frânces refutou o método
lachmanniano por acreditar que o texto
crítico, híbrido dos testemunhos
existentes, é um texto que nunca existiu.

 Propôs um novo modelo de edição


pautado na escolha de um único
manuscrito – o texto “optimun” –
considerado o bon manuscrit.
O que fundava os argumentos de Bédier era uma espécie de
desespero científico – plenamente motivado pelo abuso na
restituição em edições críticas -, o sentimento de que era
impossível descobrir ou reconstituir o Original autêntico (ou
ao menos um texto mais antigo do que os testemunhos
existentes). (DEMBOWSKY, 1981 apud MOREIRA, 2011, p. 120).
“[...] o lachmanniano e o bédierista têm em comum uma característica
fundamental, que subjaz a todas as suas distinções: são filólogos do
manuscrito ausente. De modo diverso, ambos se esforçam por
estudar textos cujo original se perdeu e de que não esperam senão
captar reflexos na sua edição, que situam a montante da cadeia da
transmissão apógrafa, que ambos recenseiam e colacionam de igual
modo. A essa filologia se contrapõe, e cada vez se torna mais visível,
nas poucas décadas que leva de teoria e método, uma filologia do
manuscrito presente, cujo objecto é o manuscrito autógrafo, que não
carece de ser reconstruído ou intuído, e que é plenamente autorizado,
no sentido de todas as suas marcas merecerem ser reproduzidas na
edição (CASTRO, Ivo – O retorno a Filologia).
MÉTODO LACHMMANIANO
FASES DO MÉTODO CIENTÍFICO DE EDIÇÃO

1. RECENSIO: levantamento do conjunto dos testemunhos de


uma obra. Distingue-se em tradição direta e tradição indireta.

Tradição direta: os manuscritos podem ser do próprio autor,


denominados “autógrafos” ou de copistas, chamados “apógrafos”.

Tradição indireta: constituída por versões, comentários, citações,


alusões, glosas, paráfrases, e imitações.
2. EXAMINATIO: exame de cada testemunho com a finalidade
de avaliar a sua autenticidade, e a eventualidade dele constituir
um possível original.

3. COLLATIO: exame comparativo de todos os testemunhos e


classificação dos manuscritos.

4. ESTEMA: representação gráfica das relações existentes


entre os vários testemunhos da tradição manuscrita. Trata-se das
relações de parentesco (espécie de árvore genealógica).
5. ELIMINATIO: eliminação do códice, testemunho
manuscrito copiado de outro, ou seja, a cópia da cópia
(reprodução de um manuscrito com erros).

6. EMENDATIO: é o nome dado ao conjunto das operações


que visam à correção do texto e seleção das variantes existentes
nos testemunhos.

7. CONSTITUTIO TEXTUS: estabelecimento do texto crítico.


Fase final de uma edição crítica. Mostra os testemunhos mais
próximos do original e, portanto, os mais fidedignos.
8. APARATO CRÍTICO: permite o confronto entre a “lição
escolhida”, o manuscrito considerado o mais próximo do
original perdido, com a tradição manuscrita, isto é, com os
demais testemunhos.
OUTROS PROCEDIMENTOS

AUTENTICIDADE
Diz respeito à autoria do texto, que se
dirá autêntico se realmente for do autor ao qual se atribui.

DATAÇÃO
Determinar a data, o ano ou pelo menos a época em que o
documento foi escrito pode ser muito útil para a compreensão de
seus conteúdos, de sua forma, finalmente e outros aspectos, já
que um escrito de forma ou de outra, é um reflexo de sua época.
FONTES
Neste tópico, pesquisam-se as citações diretas e as indiretas, as
alusões, os possíveis plágios, as imitações, em resumo toda e
qualquer influência de outros autores sobre o texto.

CIRCUNSTÂNCIAS
São todas as variáveis que “estão ao redor” de algo. Situar um
documento em seu contexto histórico, cultural, social e político
pode facilitar a compreensão de sua mensagem, esclarecer
tópicos e alusões, além de alinhar autor e obra segundo as
diversas correntes filosóficas, literárias, políticas etc.
AVALIAÇÃO CRÍTICA
Como último passo desta etapa, o filólogo fará uma avaliação
critica final da obra sob dois aspectos: seu valor
documental, e seu valor literário.
MODALIDADES DA CRÍTICA TEXTUAL

1. Crítica Textual Tradicional: aplicada a textos com original


ausente, propõe-se “à restituição de um texto que se aproxime o
mais possível do original”, (MAAS, 1927, p.1, apud DUARTE,
1997, p.34).

2. Crítica Textual Moderna: aplicada a textos com original


disponível, com objetivo de editá-lo, estabelecendo um texto que
“represente aproximadamente as intenções originais (ou finais) do
autor”, (McGANN, 1983, p.15, apud DUARTE, 1997, p.35).
3. Crítica Textual Genética: estuda a história do nascimento
e do tornar-se escrita de uma obra, desde as suas marcas
escritas primitivas até a sua última forma atestada
(GRÈSILLON, 1994:244).

Do exercício destas modalidades de Crítica Textual, teremos


como resultado edições diferentes, conforme materiais
disponíveis para estudo (BORGES).
TIPOS DE EDIÇÃO
Edições monotestemunhais

Podem ser divididas essencialmente em quatro tipos, diferenciados


com base no grau de mediação realizada pelo crítico textual na
fixação da forma do texto, são elas:

• fac-similar;
• diplomática;
• paleográfica;
• interpretativa;
• modernizada.
Edições politestemunhais

Podem ser divididas em dois tipos:

• crítica;
• genética.
EDIÇÃO FAC-SIMILAR

Também conhecida como mecânica, baseia-se no grau zero de


mediação, uma vez que nesse tipo de edição, apenas se reproduz a
imagem de um testemunho através de meios mecânicos.
EDIÇÃO DIPLOMÁTICA

Consiste em uma transcrição rigorosamente conservadora de todos


os elementos presentes no modelo, com grau baixo de mediação
por parte do crítico textual.
Fi~ lO - Edição dipl~.ric:a

fTól. 11v}
nho ql.le lh~ qui.Je:re:m. dar• plogo lhes noJJo S 9 • deu
b oos corpos p bOO$ Rostl:'Os coxna:aboos horriees • p ele
qoe n 9 ,p ~quy trouue c::reo que nom Coy ]em. cauf:a
pp 0 tanto voj a alt:e=. pois ~nú.o de}ej~ a.cxeçentar
5 n:a f am:a fe ca'olica • deue ern.cend er em Jua ] alua
ç:un r->p1:22era a<h que com. pou co t:rab:alh.o lera afy /
e les n:j5 l aur.a m ne.rn. criam nem ha :aquy boy nen
vaca ne:rn .c abra nem ovelha .nen11. g nem out" nhiiã
alhn:llreã que cufturna~ Jej4. aov1nue::r dos home-e.s
10 n l!'" ·com.:!!" (e· .n:rs' defe jnhatne que aquy ha nl!l.l!jto p
de]a ] emente P.frui~ que a t·= a pas aruores de ]y
la.n·ç ar:n • r->corn j[eo .andam 1:aaesr->t:am Rij10$P ta
nedeo.s • queo .n«:;: fo·monos t::l.mto co.tn 9ua.n.to• ·t.tjg.o•
r->legumes comemos • / em quanto aly e}lie dia am
1 5 dar;un Jenpre ao Joo dhu.u tanbocy nofJo dança.n
P.bai]har'ã as 0$ noJos. Ji -e- manein. que !ee.s het'Ae'"
ft)Eie s Efloli/efR eeHHJ.jàiw ]arn. muito mais no]O<S a.:ud
g.os que nos Jeus • /}e lbes b.ome- aceoaua ] e queljíll"
vijr aas na.aos ta:z.ianle logo pce} tes .,l?a j §Jo e tal
20 maneira que }eos hon'l.~ ·todos. qujp a comujcbr ·,. /
todos vl.enrn • porem. no ·ttouu·e .rnos e:fta noute
aas naaos Je n5 iiirj oo b • J• oc~pier m.oor dous
r->)imã de •nü:anda hüü que ~iaja p o pa.je
P.aires gom·e z out"" a}y paje • / os queo capit=n
25 tiOuue e:ra huu deles hu.u dos Jcus ofpedes que
aa p 'meir:a quando aquy chegamO$ Jbe ttouuera •
o qual vco ojc aquy ve/tido na fua ca.mj]a• p cr>
e le huu ]eu j n:naaõ os <JUaaes forn" e}ta noute
muy bem .aga}:albados ::ljy devia.n<b como dec:ll
30 ma de colchr>oe:s ("' ]e.n çooes pol os :mais amanJa.r •
Eoje que hc Jefta feira p'mc:il"O dia de m.ayo poJa
manh:ãã }ayrnos em u:-~ c<S"}a :no}Ja. bandeío:a
p f"o~ dej enbar c ar a.c jma do R.io cont(õl. ·o]ul
EDIÇÃO PALEOGRÁFICA

Também chamada de semidiplomática, paradiplomática ou


diplomático-interpretativa. Há nesse tipo de edição um grau
médio de mediação, que consiste na transcrição da fonte ou
modelo com pequenas intervenções.
ff.6L 11'-')
nho que lhes. quiserem dar • e log.o lhes nosso Se.tthor deu.
boos oo:rpo~os R..o5tro!'l cor.n.aaboos. homecs • e ele
ql!le n o.:s p~ u.u·e croo qoc nom. foy sem c ausa
e po:r tanTo VQSa alcez:a pois ra.nTo deseja 3c.-eçent:l:r
5 na santa fe ca·tolioe;:a. • dcuc cnl.'ten.dcr •em. sua salua
çarn e pra:ze~ ad.e.w,: que com pouco "tG~balho serra asy /
eles nõ Jauram nem criam nem ha aquy boy nen
vac,a nem cab-ra nem ovelha nem vlit~ha nem. ouua nhü ã
ahmarea que custumada s~a aoviue~: dos. ho·mei!s.
1 O ne come se nõ de: se j.nh::un.e q ue aquy ha rr.u.yto e
desa se:rn.ente e fruito.s que :ttcl"a e as :n:uorc:s de sy
lançam • e oo:m. jsuo andam taaes e ·t:::atn. Rijos e c:ã
nedcos • quco nõ somooos t~c:o com q uan to t:::Ijgo
e legumes co.mern.os• / em quOLnto :aly este d!ia arn.
15 daram senpr e ao sõõ dhüU ta.m bory noss_-o ::...;d;;oa
;o·...,.~-~-
e : ;::?§~~ os uS"E! e maneira que seos hoan.ê
Ci"ôfôS ;~s=~ ..co.ffiüjd~ s~m ~ui~ majs n
v!
a:nJ
~ ·~-- - - - v -
5

- !"1'h'.;s home acen.:.ua se quefj:~~


'VJ.}"r aas =.aos fazianse Jogo prest:es pera jsso ê t::al
20 .rnaneir.a que seos hoiTlê ·todos quise-ra comujda!r • /
todos vier::u:n • porer.n. nõ trouue!TI.OS esta noute
OLas. n.õJ.aOS se nõ iiij ou b ·• scilia:"t:• ocapi tã rnoor d o us.
e sion:ã de rrrira.nda büü q uc tl"a.ZoÍ.a ja por paje
~ ;a.ires go:rnez outro :ISY paje • / os. que o capitarr~.
25 ttouu e e ra huü. deles. huü. d os :seus ospedes que
~ primeira ·q uando .aquy chega.m .os. lhe trouu ed•
oqual veo oje .a quy vestido na sua <::unjs:J~ • e cõ
ele buii se u jrmããõ o s quaaes fori es1:1. r.toute
muy bem agasalhados as.y devian.d .a como deca
:30 m.a d e col chõõcs e iençooes polo.s lll:l.CÚs amansar •
Eoje que he sesEa :feira prirn.eiro dia de m:a.yo pob
manh.'i:;ii ~ymos em t.err.1. c:õ{ {sa}} noss.:J. bandeira
e :fomos desenbarcar acjm.a do R io contr;jl 05ul
EDIÇÃO INTERPRETATIVA

É o tipo mais elaborado de uma edição monotestemunhal,


atingindo o grau máximo de mediação admissível, seja com o
desenvolvimento de abreviaturas, com a atualização ortográfica,
com notas filológicas, linguísticas, históricas e outras que se
tornarem convenientes, dependendo do público a que se destine
a edição.
ffõJ. :Z :lv-T / - n h o q u e l hes qui :s~m d.ar e logo Jhes .N"o.sso Se-
r.Lbor deu boo.s c:o.rpos. e boos ros.c:ros c:<>:r.n.a :a boos
hom.een.s-; e E l e-. q~..:&e nos p ~urve. creo q1.1e n o m
fc:Mi se:n:11. cau.sa. e... por~t:a:n.co . V ~ Alrt:ez:a. pois -can.to de-
5 .seja ac-xescen.<t:a.:t.:- na sa.n.t:a :f'é: c:alt.6lica. deve cn.tc"J1de~r cxn.
.sua s;:J-] v;aç:a~ c- p!l:'aZe'rá :a Deus que c o m pc>Lt.oe> c:raba.-
l h o ser:á as.si ..
El.'es na.m lavram nen-11 criam .n.e;m há aqu.i boi.. n.er=.
v-ac:a. nem cabra • .nem. ovell1a • .n e!l1rl. g;al inh:a. ~em ou.-
10 c:r.a n lhü.ã alimárea. q 1.1e CUcSit.U:r::n:o:a.da :s.c::tia :ao v.iv-er dos
h~e.n.s ; n.e.m. c o·r'rélen-. sen.om desse inh=rn.e q;ue aqui há
mu.i.'t.O e dessa seme:ru::e e l!i-1uoriJt:os que a terr:a e :as á.:r.VC>T>es
·de si J :a..ru~am. c c o m i.s ~o a.%1<iam ~es e lta:.:r.L rij<:)(S: e c:u:n.
nedeos qu.e o r1c<>m s.c:»'n:<>"n.6s ~~;ar.Lt<> com qua a ll!:o crilgo e-
15 leg.,;ame.s com-emos.
Enqu::a.OJCO :a.l i es.-oc- dia lha:m.~ cl:arár.n ser.n.pre ao s õ o m
dü.um t:am.bori. :n.osso,. da:n~ c. b ailha.rã:n:.-., oon:L os :nos-
sos; em m:11.ne.i ra qu.c s=m lTIIUit:o r.nai:s n.os:sos a:n:1L!ig~ ·q ue
.nós. s-eus. Se Jhes bome.m acen:a:va se quena:rn. viinr :a:as
n.aos. fà:z:.io:au::n.-.se J ogo p.resl:es pe.ra .i:sso. er.n tal .rn.a:n.·e ir.a.
q-u.e-. s-e -ocs h o m e m ll!:odos qui.se:Z:..a con'V"idar. t<l~<>'S -vie-
.r.::a.:r:n .. Por é m n o m ltXou:veTY.J~os esc::a o.ouce aas. .nao:s .senom.
:ü.ia. ou v • .sciliau.. C> c::.api~am-m<>o.r. dous.; e s~ d.e .lv.l.i-
25 tear1da. u u m que ~a. j á por ,PQ.j e; e A:ire:s Go:r:n.e2:. 01.11:r0
assi rpaje .. C>.s que o ca.piCOLm. I:TC>uve. e ca U.l..:lZril. del.es :uJUm
dos seu.s hóspedes q'U.e a.a pr.i.TT'-e) ra. q-uaodo aq:ui c h e -
g;u:n .o.s. Jhe t::J[OUV'e:ram. o q u.al vco h oje aqui V-estido na

:30 e sc:a. nouc.e m _;:J ! ,.,-,.


s1... a c::;u!TÜs.a . e. c o m eJ.e., 11.1:u:r:n. seu irr.nãõ, os qru.aes. furam.

de c:ann.a. dle ~.11~..5§;:>


:a~ .ass.i de 'Vianda. e<>.n"ll<>
e.nç6 ,ol o.s m.:ais :a..m~ ,s
E hoje. q u e c sesr:.a- ei_c a. p~):meiro di.a de ·
pol.a m:::~.r.Lh;5i :s:a:ír.no.s enn. rt:e~ra cc:>m .n.os.s:a b:a.n.dle:iJC"a. e :o-
m .o .s des.embarc:11r aci:n:a.a d,.o. rio conll:.r.3. o sw.
EDIÇÃO MODERNIZADA

É um tipo de edição sem valor científico. Serve para divulgar


documentos importantes sem a rigorosa preocupação com a
fidelidade formal ao texto, mas a seu conteúdo semântico; é
aquela em que o editor substitui formas linguísticas da fonte por
formas atuais, interferindo no léxico e na gramática do texto.
[fd.l. 11'iV}l -nho que .lhes. qu.iserem dar e.. en.rtão. Nosso S enhor
lhes deu. bons C>Drpos e bons. :IX)Sto5 oomo a b ons. homens~ e Ele.
que nos n·o.-uxc: par.:t ci, cll:'e.io que não C:oil seJjJ1I ~:"azãio : pO<rt:aoto.
• Vossa -!\].tez.a. po.:que lta:n.t:o deseja acorescent3r à S31nt::a. te cat 6li-
ca. deve · cuiid::::~.r da sal.....-ação deles e:.: .:~~gradará a Deus. que. com
pouco 't :raib3íllio.,. será ass in,_
Eles nã:o 1.avram nern. cll:'!i.a:r;n,: não há aqui bo'i. vaca. cabr.a.
o-velha.. g.alinha nem .nenhum ouuo a.Jri~~:n.a~l que eslt'eja ac:osb.JI-
mado a con:v-iV'eir' com os bo..nen's; não c:o:r.r;uem senão desse inha-
-me de que hâ muit:o :aqui e dessa s~en~~:e e desses :frutos. que a
tlen:'a e as ~:tl"es larnça!lnl de si, e. poc- iS't.O andam. de t:aJ. ror;r.na
tão ~rij os e l!:âo vii:s-tosos. que .nem mesmo- nós. não o somos ltan-
t:o .c;om. a quan.tida.d e de nigo e de Je:gum.e:.s que comemos_
En.quanto fu~: dia ali. permanecerão :sempre ao s.<>m de um
tamborim .noss.o, dançarão e lba.:iilarr.ão com os nossos.; de t:a]
ma.n e:iirc~. q-ue são muito .m.ais. noossos ::u::Jf.l.'ig>O que nós: se u s - Se al-
guém lhes acc:n:a:va s.e que:.:Tian1 vir às .n:~~us. :apronlt':a:v~m-se log-o
pa:r.~~ isso ·. de t:al "IX1lta-neir a que. :s.e se quisesse convidá-]os a todos
t o-dos. vir.ia.~ Por. iss.o" não n-ou.xemos nesta oojjoe às na,us se;não
quaero· ou cinco. a s.aber~ o .:=:apiltiio--molt', do~.s; Simão de Mi-
-,:anda. "LUn que já t razia. por pajem; e Aii·re:s Gomes. outro
igu:alr.n.ence ·pajem_ Dos que o capi-lt.:'io ~ltOu.x:e., um deles. era um
dos :seus h óspedes que n.o j:rúciio, q ua.ndo c hegamos. :aqu.i.. lhe
crou.:x:erram. o qu:al vcio boj e :aqui ··o,resm:id o com s.u.a c:am.isa. e.
com ele. um i !r mão seu.. os q u .ais for:am .muic:o bem aco.lhldos.
IU!:S~ noit:Je t:a:ntO• de comida c:orn.o de c:am:a. de c.olchõc:s e d e
~çóis p-ar.~. a;[I'l;ansá-]o.s ll:'l'l.lais..
E hoj e. que é s.e.x-1:::3>-Eei:a:-a, prir.n.e:i1:0 dia d.e .m.:ai o. peJa rtl;;'l!l'llhSi
saíím.os em t er-ta com noSS31 b :a:nd.eill:'a e f'o-r:nos dcs.emb::u::car aci-
m.:::ll do rio co:nt:ra o s.u.L
EDIÇÃO CRÍTICA

Esse tipo de edição se se caracteriza pelo confronto de mais de


um testemunho no processo de estabelecimento do texto,
podendo ser autógrafos ou apógrafos, cujo objetivo é reconstruir
a última forma que seu autor lhe havia dado. Todas as
intervenções do editor devem ser registradas no aparato crítico.
Procura estabelecer o texto perfeito confrontando
manuscritos ou edições antigas.
MEA CULPA... MCM <DÔR SECRETA.> [“Mea Culpa”]

Fim... Não me foi surpresa... Era esperado... MCM surpresa. Era esperado.
Tinha de vir, definitivamente... MCM definitivamente.
Pobre e louco romance malogrado,
5 que me fez pecador impenitente... MCM impenitente!

De todas as loucuras fui culpado! MCM culpado.


Foi minha a culpa, minha unicamente MCM culpa. Minha unicamente.
Quando a beijei com ânsias de pecado, MCD MCM. ancia
Você tinha pureza, era inocente... MCM inocente.

10 Despertei-lhe o demônio dos desejos! MCD demônio MCM desejos.


Matei uma inocência... Fui cruel! MCD inocencia... MCM inocência. Fui cruel.
Mas tudo passa, enfim... Foram-se os beijos...

Restou apenas, em você e em mim,


Esta amargura... este sabor de fel... MCM fel (s.r.)
15 que só com a morte poderá ter fim...

Eulálio Motta MCM (934)


“Maio, 1986.”
Análise dos textos que integram os livros didáticos
de Língua Portuguesa
Transcrição do poema “Trem de ferro” de Manuel Bandeira.

 Verso 4 - “Virge Maria que foi isso maquinista?” a forma


popular “Virge”, usada pelo poeta, foi corrigida para Virgem
em dois livros;

 Criou-se um novo verso para o poema: “Piuí... Piuí... Piuí”,


que, por sinal, aparece duas vezes, a segunda finalizando a
poesia.
 Em vez de “Que eu preciso”, lê-se ‘Que é preciso”;
“ingazeira” passa a “ingazeiro”; os versos “Passa
poste/Passa pasto” são: “Passa poste/Passa poste”.

 E há ainda a omissão da 5ª estrofe do poema, que se


compõe de 16 versos [...] (MENDES, 1986, p. 167).
TREM DE FERRO
Café com pão Oô...
Café com pão Oô... Quando me prendero
Foge, bicho No canaviá Vou depressa
Café com pão
Virge Maria que foi isso Foge, povo Cada pé de cana Vou correndo
maquinista? Passa ponte Era um oficiá Vou na toda
Passa poste Que só levo
Agora sim Pouca gente
Café com pão Passa pasto Oô...
Passa boi Menina bonita Pouca gente
Agora sim
Voa, fumaça Passa boiada Do vestido verde Pouca gente...
Corre, cerca Passa galho Me dá tua boca (trem de ferro,
Ai seu foguista Da ingazeira Pra matar minha sede trem de ferro)
Bota fogo
Na fornalha
Debruçada
Que eu preciso No riacho Oô...
Muita força Que vontade Vou mimbora vou mimbora
Muita força De cantar! Não gosto daqui
Muita força Oô... Nasci no sertão
(trem de ferro, trem de ferro) Manuel Bandeira
(café com pão é muito bom) Sou de Ouricuri
EDIÇÃO GENÉTICA

Compara-se os testemunhos, mas somente os autógrafos e/ou


idiógrafos, para registrar a evolução teórica e/ou estilística do
autor no seu processo criativo, de modo que a edição genética
deve apresentar a forma final do texto acompanhada do registro
das informações relativas à sua gênese, obtidas nas fontes.
EDIÇÃO DO POEMA TERRA DE PROMISSÃO

O poema dispõe de dois testemunhos: um manuscrito no CLC (f.


32r-33r) e outro manuscrito no MA.

DESCRIÇÃO FÍSICA DOS TESTEMUNHOS

TPM 1
Manuscrito em tinta azul, 35 linhas. Título sublinhado à l. 1.À L.
15 consta uma rasura. À l. 34 consta a rubrica “Liota”, logo
abaixo o local e data “Novembro, 963”. Documento em bom
estado de conservação.
TPM2
Texto em tinta azul. Folha 32r: a mancha escrita ocupa todas as 23
linhas que compõem o papel, título na l. 1 em caixa alta, com
exceção da preposição “de”, escrito em tinta azul e sublinhado por
pontilhados. Na extremidade superior direita consta o número do
papel e logo abaixo há sinalizações em forma de “V” em tinta
vermelha e à lápis, o que mostra que esse texto foi revisto, corrigido
pelo autor. À esquerda dos cinco primeiros versos há uma mancha
ocasionada por algum tipo de líquido, provavelmente água, no
entanto, não interfere na leitura do texto. Folha 33r: a mancha escrita
ocupa 12 linhas das 23 pautas que compõem o papel. À esquerda dos
cinco primeiros versos encontra-se a mancha já descrita
anteriormente. À l. 12 consta a data “1963”.
Fig. 1 – Manuscrito do
poema "Terra de
Promissão". Fonte: Fac-
símile do CLC (f. 32v).
Fig. 2 - Cont. do manuscrito
do poema "Terra de
Promissão". Fonte: Fac-símile
do CLC (f. 33r).
ANÁLISE DAS VARIANTES

Na análise dos testemunhos foram verificadas variações a partir do


título. Constatou-se acréscimos de versos e preferência pelo uso da
reticência. Verificou-se que o escritor fez várias alterações na palavra
século, já que em cada testemunho fez uso de uma palavra diferente.
Sobre os versos que não integram o testemunho TPM1, percebeu-se
que são importantes para a compreensão do empecilho que o eu-
lírico enxerga para a concretude de um romance, pois evidenciam
uma possível diferença de idade entre ambas as partes.
No testemunho de base, a grafia da palavra sonho com a letra
inicial maiúscula difere da grafia do manuscrito TPM1, assim
como o seu sentido. No primeiro, a palavra sonho significa nome
de lugar e não o ato de sonhar presente no segundo. Além disso,
foi notada a quebra de versos no testemunho TPM1, e uma outra
variação encontrada diz respeito à assinatura do poema, no qual
aparece o nome de um dos pseudônimos de Eulálio Motta.
Texto crítico com aparato TPM2
TERRA de PROMISSÃO TPM1 Terra de permissão,,, TPM2 {PROMIÇÃO}/ PROMISSÃO\

Pensando em você,
no seu corpo bonito,
em sua vida,
5 Tenho viva impressão
de que me vejo diante TPM1 de me encontrar diante
de uma terra de promissão
inatingida!

Pensar num romance com você, TPM1 Pensar em viver um romance


TPM1 com você,
10 a esta altura,
com esta enorme distância do tempo TPM1 (v. i.)
entre nós dois, TPM1 (v. i.)
seria uma loucura. TPM1 seria loucura,
Deixo, todavia,
15 Sôlta a fantasia TPM1 {que} a fantasia
fazendo misérias TPM1 fazer misérias na imaginação!
na imaginação.

Necessidade de fugir... TPM1 fugir!


De fugir deste século maluco, TPM1 Fugir deste século medíocre
20 deste mundo atormentado TPM1 atormentado!
em que vivemos... TPM1 (v. i.)
Necessidade de fugir TPM1 necessidade departir
para a ilha dos Sonhos... TPM1 sonhos...
e aí viver exilado... TPM1 exilado,
25 voluntariamente... TPM1 voluntariamente,
concientemente... TPM1 conscientemente
Exilado com você...
na imaginação...
Doce exílio!
30 As mentiras mais lindas deste mundo! TPM1 As mentiras mais lindas / deste mundo
A minha Terra de Promissão! TPM1 terra de promissão!
TPM1 [Liota]
1963. TPM1 Novembro 963.
HIPEREDIÇÃO
Uma hiperedição é uma hipermídia que geralmente apresenta
mais de um tipo de edição convencional – crítica, facsimilada,
diplomática etc., de modo integrado e dinâmico, documentos
paratextuais diversos – textos, imagens, vídeos, sons e
animações, organizados conforme critérios estabelecidos pelo
editor (BARREIROS, 2015, p. 182).
O Pasquineiro da Roça: 2 • Quadro ele A.'Ylsos
EDtc;·A.o DOS PA.N:.""LETOS DE EULÁ..LIO ~IOTTA.

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o Pasqt.tineiro (}a Roça:
10
1 o importa
O livro impresso O pasquineiro da
Roça e o site supracitado são frutos da
edição digital dos panfletos de Eulálio
Motta.

Este trabalho foi realizado pelo


professor Dr. Patrício Barreiros em sua
tese de doutorado.
NORMAS DE EDIÇÃO

PRINCÍPIOS NORTEADORES
É preciso que as normas sejam sempre:
a) apropriadas ao tipo de edição;
b) internamente coerentes;
c) explícitas;
d) rigorosamente aplicadas.
CRITÉRIOS DE EDIÇÃO
CRITÉRIOS ADOTADOS NAS EDIÇÕES SEMIDIPLOMÁTICAS

• No caso de manuscritos encadernados, indica-se o fólio, à


margem direita, exemplo: (f. 1r ou f.1v);
• No caso de folhas avulsas (manuscritas, datiloscritas ou
impressas), indica-se o código catalográfico, à margem direita,
exemplo: (EH1.800.CL.03.004);
• No caso de impressos ou datiloscritos encadernados, indica-se
o número da página à margem direita, exemplo: (p. 10);
• As linhas são numeradas de 5 em 5 à margem esquerda;
• Os textos são transcritos em fonte Times New
Roman padrão Word; de tamanho 11, justificados à margem
esquerda;
• Transcreve-se o título como se encontra no original;
• A rubrica do autor indica-se entre colchetes;
• São mantidos as interpolações, os lapsos do autor, a
ortografia, a acentuação, o uso de maiúsculas, a pontuação e
registraram-se todas as correções, emendas, rasuras e
acréscimos, através da utilização de símbolos.
• A edição corresponde a uma transcrição
linearizada acomodando as rasuras, substituições, correções e
acréscimos na sequência lógica do texto (não obedecendo a
topografia do original);
• Serão utilizadas notas de pé de página para indicar
informações complementares tais como: alternância da cor da
tinta, rasgões, furos, manchas, colagens etc.
OS SÍMBOLOS UTILIZADOS NAS EDIÇÕES
SEMIDIPLOMÁTICAS

{ } seguimento riscado, cancelado;


{†} seguimento ilegível;
{†} / \ segmento ilegível substituído por outro legível na relação
{ilegível} /legível\;
{ } / \ substituição por sobreposição, na relação {substituído}
/substituto\;
{ } [↑] riscado e substituído por outro na entrelinha superior;
{ } [↓] riscado e substituído por outro na entrelinha inferior;
{ } [→] riscado e substituído por outro na margem direita;
{ } [←] riscado e substituído por outro na margem esquerda;
[↑] acréscimo na entrelinha superior;
[↓] acréscimo na entrelinha inferior;
[→] acréscimo na margem direita;
[←] acréscimo na margem esquerda;
[↑{ }] acréscimo na entrelinha superior riscado;
REFERÊNCIAS
BARREIROS, Patrício Nunes. Sonetos de Eulálio Motta. Feira de Santana: UEFS, 2012.
CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à Crítica Textual. São Paulo: Martins Fontes,
2005.
CARVALHO, Rosa Borges dos Santos. A Filologia e seu objeto: diferentes perspectivas
de estudo.
CINTRA, Pâmella Araujo da Silva; BARREIROS, Patrício Nunes. Edição crítico-
genética do poema “Terra de Promissão”, de Eulálio Motta. Cadernos do
CNFL (CiFEFil), v. 21, p. 628-648, 2017.
SANTIAGO-ALMEIDA, Manoel Mourivaldo. Para que Filologia/ Crítica
Textual? Revista Acta, Assis, v. 1, 2011, p. 1-12.
SPINA, Segismundo. Introdução à Edótica. São Paulo: Ars Poetica/ EDUSP, 1974.
TELLES, Cália Marques. Que textos são oferecidos aos estudantes? Gelne, v. 5, n. 2. p
21-28. Salvador, 2003.
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