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Afp CR Microbiotae Obesidade
Afp CR Microbiotae Obesidade
MICROBIOTA
E OBESIDADE
A
microbiota intestinal é o Estas interações complexas, sobretudo
conjunto de microrganismos as que existem com as células do
que habitam no organismo sistema imunitário, têm uma grande
e que convivem com o animal durante influência no equilíbrio entre a saúde
toda a sua vida. Dos 110.000 milhões e a doença.
de células do organismo, aproximada- Recentemente considera-se que
mente 90% correspondem a bactérias, as mudanças na alimentação são as
a maioria delas alojadas no sistema causas da maior parte das mudanças
digestivo. da microbiota.
As novas tecnologias baseadas na Também existe uma relação entre a di-
sequenciação massiva de ADN permiti- versidade da microbiota e a composição
ram estudar mais aprofundadamente química do cérebro. Um stress maior
a biodiversidade elevada deste repercute numa menor diversidade
ecossistema complexo e as suas bacteriana intestinal e com as mudan-
funções dentro do organismo que ças na alimentação observa-se uma
habitam. Embora intervenha em melhoria no sistema nervoso.
muitos aspetos fundamentais na saúde
dos animais, o papel mais relevante da
microbiota é o seu metabolismo, que
é considerado muito superior ao
humano por possuir até 150 vezes mais
genes do que o homem.
A microbiota começa a ser conside-
rada como mais um órgão do corpo,
composta por uma comunidade rica
e diversificada de bactérias que não só
interagem entre si, mas também com
as células do hospedeiro.
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Recentemente foi descrita uma grande Figura 1. Registo taxonómico do catálogo de genes.
semelhança na estrutura e função da
microbiota do cão e humana, o que
significa que os estudos em humanos CÃO
deram resultados preditivos nos cães
e vice-versa. As espécies coincidentes
entre o microbioma do cão e do homem HUMANO
representam 63%, mas apenas 32,9%
no porco e 19,9% em ratos (Figura 1).
Os primeiros indícios desta relação
surgiram a partir de estudos realizados RATO
em ratos, nos quais se comprovou
como um transplante da microbiota de
animais obesos para animais sem PORCO
microbiota (criados em condições
estéreis) lhes induzia uma acumulação
de gordura e ao fim de pouco tempo
Firmicutes Bacteroidetes Proteobactéria Actinobactéria
herdavam o fenótipo obeso dos Fusobactéria Outros Não registado
doadores (Turnbaugh et al.; 2009)
(Figura 2). Adaptado de Coelho et al.; 2018
A microbiota tem Figura 2. Os animais isentos de microrganismos adotam o fenótipo do doador de microbiota.
um papel fundamental
no equilíbrio entre
a saúde e a doença
e começa a ser
considerada como
PESO DO DOADOR
mais um órgão Normal Obeso Pouco peso
do corpo.
TRANSFERÊNCIA DE MICROBIOTA
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A dieta é um dos fatores chave que As enzimas próprias do animal não
modulam a microbiota intestinal, para são capazes de digerir a fibra da dieta.
além do meio ambiente, da genética No entanto, as bactérias intestinais
e dos fármacos. A gordura induz Com a obesidade, possuem a maquinaria enzimática
mudanças importantes na composição necessária para desfazer hidratos de
da microbiota devido à secreção de a microbiota sofre carbono complexos, que através de
ácidos biliares, que nas suas formas
conjugadas têm propriedades anti-
alterações, é menos um processo de fermentação serão
capazes de produzir metabólitos
bacterianas. Desta forma, de forma diversificada (ácidos gordos voláteis), que por sua
indireta, as dietas com alto teor de vez induzem a saciedade, entre muitas
gordura promovem uma microbiota e rica, o que pode outras funções benéficas para o intesti-
alterada ou disbiose intestinal,
favorecendo a proliferação de géneros
implicar desajustes no (Pinna et al., 2016).
De facto, observou-se que os
que aumentam a extração energética significativos. animais que se alimentam com dietas
da dieta, aumentando a permeabilidade de alto conteúdo em fibras possuem
intestinal, reduzindo a saciedade e ati- uma microbiota mais diversificada
vando o metabolismo que implica uma (Herstad et al.; 2017) (Beloshapka et al.;
deposição de gordura. Assim, a longo 2013), com a presença de bactérias
prazo estas dietas promovem um menos eficazes na extração de energia,
aumento de peso, inflamação crónica ao mesmo tempo que promovem uma
generalizada do organismo e, portanto, menor permeabilidade intestinal
excesso de peso ou obesidade. (Parnell et al.; 2012).
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ESTUDO 1.
MUDANÇAS NA MICROBIOTA APÓS
UM PROGRAMA DE PERDA DE PESO
NOS CÃES BEAGLES.
A. Salas, I. Jeusette, I. Castillo, N. Iraculis, N. Sanchez, S. Fernandez, Ll. Vilaseca, C. Torre
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a comunidade Tabela 1. Distribuição de géneros e filos bacterianos identificados através de
sequenciação de RNAr 16S nas fezes às 0 e 17 semanas do programa de perda de peso.
científica evidenciou a estreita relação
São mostrados os valores em média ±SEM. *P < 0,05.
entre a obesidade e a microbiota
intestinal. Desde há algum tempo que
se fala que a obesidade não é apenas Filo Género T0, % T17, %
um problema de equilíbrio energético, Actinobactéria Unclassified Actinobacteria 4,48 ± 1,58 3,33 ± 0,73
mas também implica outros fatores Bacteroidetes Unclassified Bacteroidales 3,24 ± 1,80 7,96 ± 3,45
relacionados com a genética do animal Bacteroides 5,39 ± 3,01 5,47 ± 2,03
e a interação da microbiota intestinal Prevotella 3,93 ± 3,40 3,12 ± 1,43
com o hospedeiro. Noutras espécies, Firmicutes Unclassified Bacilli 1,46 ± 0,75 1,87 ± 0,93
a microbiota intestinal ficou alterada Lactobacillus 5,96 ± 2,68 0,33 ± 2,00*
em pacientes obesos. Descreveu-se que Clostridium 22,07 ± 4,80 10,44 ± 3,42*
uma microbiota obesogénica reper- Unclassified Lachnospiraceae 5,55 ± 0,87 3,95 ± 0,99
cute na adiposidade e aumento de Blautia 15,14 ± 2,40 9,37 ± 3,91
peso, embora nos cães ainda não exista Dorea 5,89 ± 1,44 2,29 ± 0,56*
muita informação sobre isso. Unclassified Peptostreptococcaceae 1,76 ± 0,65 1,12 ± 0,40
Esta investigação teve como objeti- Faecalibacterium 5,80 ± 1,96 2,97 ± 1,24
vo estudar a eficácia de um programa Unclassified Erysipelotrichaceae 1,44 ± 0,54 1,22 ± 0,25
de perda de peso com AVD Weight Allobaculum 4,53 ± 2,01 30,13 ± 1,10*
Balance sobre a composição corporal Fusobactéria Cetobacterium 0,00 ± 0,00 1,52 ± 1,47
e ao mesmo tempo ver como pode Fusobacterium 7,30 ± 1,80 8,47 ± 2,28
afetar a microbiota fecal canina na sua Proteobactéria Sutterella 0,48 ± 0,27 1,08 ± 0,36
composição e funcionalidade.
Gráfico 1. Evolução do peso corporal durante a perda de peso com ADV Weight Balance.
100%
95%
Peso corporal (% vs. T0)
90%
85%
80%
12 semanas 17 semanas
75% −14% peso corporal −18% peso corporal
−44% gordura corporal −56% gordura corporal
70%
0 5 10 15 20
Tempo (semanas)
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MATERIAIS E MÉTODOS cada cão (0, 17 semanas). A composi- sensibilidade à glucose (−20% insulina,
Seis cães obesos adultos da raça Beagle ção da microbiota fecal foi estudada −8% frutosamina). A perda de peso
(BCS 7,5-8/9) foram incluídos num através de sequenciação massiva de média semanal foi de 1,18 ± 0,05% do
programa de perda de peso corporal RNA ribossómico 16 S (Ilumina MiSeq) peso corporal inicial.
com AVD Weight Balance, durante das amostras fecais recolhidas. Às 17 semanas o peso corporal
17 semanas. A dose diária inicial foi tinha diminuído 18 ± 0,5% e a gordura
estimada em 70% das necessidades RESULTADOS corporal chegou a 56% da inicial
calóricas para a manutenção de peso A evolução do peso corporal durante (Tabela 2, Gráfico 2). Não se voltaram
e semanalmente era ajustada para o programa de perda de peso é mos- a registar mudanças nos níveis de
manter uma perda de peso entre 1 - 2%/ trada no Gráfico 1. Às 12 semanas massa óssea nem muscular. Mantive-
semana. A composição corporal foi o peso corporal diminuiu −14 ± 0,6% ram-se as alterações bioquímicas ob-
estabelecida através de densitometria e a gordura corporal diminuiu servadas às 12 semanas com uma maior
de energia dupla (DEXA), antes e após −43,7 ± 3,2%, ao mesmo tempo que redução dos níveis de insulina (−30%).
a perda de peso (às 12 e às 17 semanas) se manteve a massa muscular e a A perda de peso média semanal foi de
(Figura 1). Foram realizados controlos massa óssea. Observou-se igualmente 1,07 ± 0,03% do peso corporal inicial.
bioquímicos (0, 12 e 17 semanas) uma redução do colesterol plasmático As linhagens filogenéticas mais
e foram recolhidas amostras fecais de (−18%), juntamente com o aumento da abundantes nos cães eram Firmicutes,
Bacteroidetes, Fusobactéria, Actinobac-
téria e Proteobactéria (Tabela 1).
Gráfico 2. Distribuição da composição corporal no início (T0) e no fim da perda Às 17 semanas de estudo obser-
de peso (T17) vou-se uma redução significativa
da abundância relativa dos géneros
18 7,023 Dorea (p=0,028), Lactobacillus
16
3,069 (p=0,028) e Clostridium (p=0,028),
14
12
ao mesmo tempo que aumentou
Peso (kg)
Tabela 2. Mudança na composição corporal às 17 semanas de perda de peso com ADV Weight Balance. São mostrados os valores em
média ± SEM
T0 T17 semanas Diferença p- value
Média SEM Média SEM Média SEM
Peso corporal kg 16,34 1,52 13,39 3,3 −2,95 0,15 < 0,001
Gordura corporal kg 7,023 0,755 3,069 0,372 −3,954 0,5 0,002
Massa muscular kg 8,888 0,8 9,592 0,98 0,7 0,39 NS
Massa óssea kg 0,559 0,063 0,46 0,04 −0,098 0,032 NS
5
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7000
a microbiota intestinal.
6000
T0 T17
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ESTUDO 2.
ESTUDO CLÍNICO MULTICÊNTRICO EM
CÃES COM EXCESSO DE PESO E OBESIDADE:
EFICÁCIA DA PERDA DE PESO IN-HOME
E MANUTENÇÃO
A. Salas, I. Jeusette, N. Sánchez, J.J. Cerón, Ll. Vilaseca, C. Torre.
1,01
% peso em relação ao inicial
0,99
0,97
0,95
0,93
0,91
0,89
0,87
0,85
0 5 10 15 20
semanas
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mantiveram-no pelo menos durante Gráfico 2. Resultados dos questionários de satisfação realizados durante os controlos
veterinários de 3 meses, em relação à procura de comida.
8 semanas depois (20 semanas).
Perda de peso: A perda de peso 10 p < 0,003
semanal durante os primeiros 2 meses 7,6
foi de 0,92%/semanal do peso corporal 6,5
inicial e diminuiu para 0,88%/semanal Avaliação (1 - 10)
no fim do estudo (Gráfico 1). A dose
5
média consumida durante a fase de
perda de peso foi de 68 kcal x (kg Peso
Ideal)0,75.
Durante a fase de manutenção de
peso, a dose de alimento foi sendo 0
ajustada para manter o peso corporal. T0 T3
A média consumida foi de 77 kcal x (kg
Peso Ideal)0,75, 13% acima da dose média
de perda de peso. Passados 2 meses,
o peso corporal conseguiu manter-se Gráfico 3. Circunferência pélvica medida pelo veterinário no início (T0) e passados
estável (99,24 ± 0,3% em relação ao 3 meses desde o emagrecimento.
peso no início desta fase).
A atividade física percecionada pelos
Circunferência pélvica (cm)
80 p < 0,003
donos aumentou, a circunferência 60,2
pélvica diminuiu 4 centímetros nas 60
56,1
12 semanas e os cães pediam menos
comida do que antes do início do 40
estudo (Gráficos 2 e 3).
A satisfação geral com o produto 20
e com o programa de emagrecimento
é mostrada no Gráfico 4. 0
T0 T3
Balance é eficaz na
perda de peso e na
sua manutenção após
a respetiva perda, em
cães cuidados em casa.
Os donos observaram
a perda de peso
e terminaram o estudo
com uma satisfação
Satisfação Melhoria Aumento da Melhoria Perda
geral excelente. programa bem-estar vitalidade qualidade de peso
de vida subjetiva
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ESTUDO 3.
ESTUDO EM CÃES MINIS DA EFICÁCIA
DA PERDA DE PESO
A. Salas, I. Jeusette, Ll. Vilaseca, C. Torre.
Gráfico 1. Redução da massa corporal total após 2 e 3 meses de emagrecimento em cães minis.
2 meses 3 meses
0%
−5%
% redução peso
−10%
−15%
−12%
−20%
−18%
−25%
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Figura 1. Imagem da composição corporal com DEXA (T0) e após (3 meses) da perda
de peso.
T0 3 meses
Gráfico 2. Redução da massa de gordura após 2 e 3 meses Gráfico 3. Distribuição da composição corporal no início e
de emagrecimento em cães mini. passados 2 e 3 meses da perda de peso em cães mini.
6
2 meses 3 meses 1976
0%
5 1417
1040
−10% 4
% redução gordura
Peso (kg)
2
−30%
1
−40% 116 109 106
−30% 0
T0 2 meses 3 meses
−50%
−44%
Massa óssea Massa muscular Massa de gordura
»
CONCLUSÕES
A dieta ADV Weight Balance Mini é uma
ferramenta eficaz para a perda de peso
em cães mini, provocando uma perda
seletiva da massa de gordura, ao mesmo
tempo que mantém a massa muscular.
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MUITO MAGRO
Costelas > Muito evidentes
Apófises vertebrais > Facilmente palpáveis
Pélvis – Abdómen > Ossos muito destacados
e com pouca massa muscular
Dobra abdominal > Muito marcada
MAGRO
Costelas > Evidentes à apalpação
Apófises vertebrais > Ligeiramente cobertas de gordura
Pélvis – Abdómen > Ossos visíveis e cintura marcada
Dobra abdominal > Claramente visível
IDEAL
Costelas > Palpáveis sem demasiada gordura
Apófises vertebrais > Pouco visíveis
Pélvis – Abdómen > Ossos pouco visíveis
e cintura ainda evidente
Dobra abdominal > Visível
EXCESSO DE PESO
Costelas > Palpáveis com dificuldade
Apófises vertebrais > Não palpáveis, totalmente
rodeadas de gordura
Pélvis – Abdómen > Ossos não visíveis
com cintura arredondada
Dobra abdominal > Não visível
OBESIDADE
Costelas > Não palpáveis
Apófises vertebrais > Com cobertura de gordura,
dificilmente palpáveis
Pélvis – Abdómen > Ossos cobertos de músculo
e gordura, com cintura arredondada saliente
Dobra abdominal > não existente e abdómen laxo
por acumulação de gordura
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Plaça Europa, 54
08902 – L’hospitalet De Llobregat