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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE
TELECOMUNICAÇÕES
CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

MARLON KRASCHINSKI

ESTUDO DE CASO DOS EFEITOS DE HARMÔNICAS EM TRANSFORMADORES

ALIMENTANDO RETIFICADORES

BLUMENAU

2015
MARLON KRASCHINSKI

ESTUDO DE CASO DOS EFEITOS DE HARMÔNICAS EM TRANSFORMADORES

ALIMENTANDO RETIFICADORES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do
Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade
Regional de Blumenau, como requisito parcial para
a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

Prof. Dr. Adriano Péres – Orientador

BLUMENAU

2015
Para meus pais:

Marcelo Kraschinski e Terezinha Grohs Kraschinski


AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a força universal que nos mantém vivos e com algum propósito,
força esta que tem vários nomes diferentes e uma delas e a mais conhecida é Deus. Agradeço a
minha esposa Tatiana de Borba Quaresma, que em momentos difíceis me incentivou e ajudou
para a continuidade dos meus estudos e trabalhos. Agradeço ao Prof. Adriano Péres, por toda a
sua orientação e dedicação, ajuda e parceria prestadas durante toda a minha carreira acadêmica
principalmente nesta etapa e também, pela grande amizade cultivada ao longo dos anos.
Agradeço a todos os professores do departamento de engenharia elétrica pelos
ensinamentos e conselhos por eles repassados.
As minhas filhas, Giulia e Gabriele pela alegria e motivação que trouxeram em minha
vida e carreira profissional.
“A persistência é o menor caminho do êxito”.

Charles Chaplin
RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo de caso da instalação de um conjunto de transformadores


utilizados para alimentarem retificadores trifásicos em ponte mista semicontrolados. Graves
problemas foram encontrados em função da escolha inadequada dos projetistas pela topologia
retificadora inapropriada para a instalação. São apresentados os diagramas dos circuitos da
instalação, os espectros harmônicos de tensões e correntes e as respectivas potências dos
transformadores. Foi feito o estudo analítico das harmônicas geradas por um retificador trifásico
em ponte mista semicontrolado para confrontar com resultados de simulação numérica e com os
dados experimentais. Após as simulações feitas, os valores foram comparados com os medidos
em campo e os resultados ficaram bem próximos da situação real. Em seguida, baseado no
conhecimento teórico, usou-se a topologia de retificador trifásico totalmente controlado por
tiristores e comprovou-se por simulações que esta substituiria, com grande vantagem, a topologia
de retificador trifásico em ponte mista semicontrolada utilizada pela empresa.

Palavras-Chave: Componentes Harmônicas Pares, Estudo de Caso, Ponte Mista

Semicontrolada, Retificador Trifásico, Transformador.


ABSTRACT

This work presents a case study of a set of transformers used for feeding three-phase rectifiers in
mixed semi-controlled bridge installation. Serious problems were found in the inappropriate
rectifier topology designer’s improper choice for the installation. There are presented the
installation diagrams, the voltages and currents harmonic spectra and the transformers rating
power used in the case study. It was made the analytical study of harmonics generated by a three-
phase mixed semi-controlled rectifier bridge to compare with results of numerical simulation and
experimental data. The simulation results were compared with the experimental ones and the
results were very close to the real situation. Then, based on theoretical knowledge it was used the
three-phase totally controlled thyristors bridge to prove, by simulation, that this topology could
replace, with great advantage, the topology of the three-phase mixed semi-controlled rectifier
bridge used by the company.

Keywords: Even Harmonic, Case Study, Rectifier Mixed Bridge, Three-phase Rectifier,

Transformer.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Retificador trifásico de ponto médio controlado................................................... 17


Figura 2.a – Tensão de carga para α = 0º, para retificador de ponto médio controlado ........ 18
Figura 2.b – Tensão de carga para α = 30º, para retificador de ponto médio controlado ...... 18
Figura 2.c – Tensão de carga para α = 60º, para retificador de ponto médio controlado ...... 19
Figura 3 – Tensão média em função de α para carga resistiva .............................................. 20
Figura 4 – Tensão média de carga para o retificador de ponto médio ................................... 21
Figura 5.a – VLmed > 0 ............................................................................................................ 21
Figura 5.b – VLmed < 0 ............................................................................................................ 21
Figura 6 – Corrente nos enrolamentos secundários do transformador ................................... 22
Figura 7 – Componentes contínuas das correntes secundárias do transformador .................. 23
Figura 8 – Retificador associado a um transformador ∆-Υ .................................................... 23
Figura 9 – Correntes para a estrutura na Figura 8 .................................................................. 24
Figura 10 – Corrente de fase em um enrolamento primário do transformador ...................... 25
Figura 11 – Ponte de GRAETZ controlado ............................................................................ 27
Figura 12 – Tensão média de carga para carga resistiva ........................................................ 28
Figura 13 – Tensões na carga para a Ponte de GRAETZ ....................................................... 29
Figura 14-a – Tensões de carga; Ponte de Graetz para carga indutiva .................................. 30
Figura 14-b – Tensões de carga; Ponte de Graetz para carga indutiva .................................. 30
Figura 15 – Ponte de GRAETZ associada a um transformador ............................................. 31
Figura 16 – Correntes nos enrolamentos do transformador ................................................... 31
Figura 17 – Ponte trifásica mista semi controlada.................................................................. 34
Figura 18 – Decomposição da ponte trifásica mista semi controlada .................................... 35
Figura 19 – Forma de onda da tensão para condução contínua .............................................. 35
Figura 20 – Formas de onda de tensão e corrente na carga em condução contínua ............... 36
Figura 21 – Termografia da bobina do transformador ........................................................... 43
Figura 22 – Aquecimento na bobina central do transformador .............................................. 44
Figura 23 – Diagrama elétrico de um dos secundários do transformador .............................. 44
Figura 24 – Tensões e corrente de interesse para ∝= 30 ..................................................... 46
Figura 25 – Tensões e corrente de interesse para ∝= 60 ..................................................... 47
Figura 26 – Tensões e corrente de interesse para ∝= 0 ....................................................... 48
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Componentes harmônicas calculadas para ∝= 0 ............................................... 38


Tabela 2 – Componentes harmônicas calculadas para ∝= 30 ............................................. 38
Tabela 3 – Componentes harmônicas calculadas para ∝= 60 ............................................. 39
Tabela 4 – Componentes harmônicas da instalação ............................................................... 45
Tabela 5 – Componentes harmônicas obtidas por simulação para ∝= 30 ........................... 47
Tabela 6 – Componentes harmônicas obtidas por simulação para ∝= 60 ........................... 48
Tabela 7 – Componentes harmônicas obtidas por simulação para ∝= 0 ............................. 49
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 14
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................................. 14

1.2 QUESTÃO DE PESQUISA .................................................................................................... 14

1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 15

1.3.1 Geral .............................................................................................................................. 15

1.3.2 Específicos ..................................................................................................................... 15

1.4 PRESSUPOSTOS.................................................................................................................... 15

1.5 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA .................................................................... 16

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................................ 16

2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 17


2.1 RETIFICADOR TRIFÁSICO COM PONTO MÉDIO CONTROLADO POR TIRISTOR. . 17

2.1.1 Estudo da estrutura em geral ......................................................................................... 17

2.1.2 Funcionamento para carga resistiva .............................................................................. 18

2.1.3 Funcionamento para carga indutiva............................................................................... 20

2.1.4 Estudo do Comportamento do Transformador .............................................................. 22

2.2 RETIFICADOR TRIFÁSICO DE ONDA COMPLETA CONTROLADO (PONTE DE

GRAETZ). ............................................................................................................................... 26

2.2.1 Estudo da estrutura em geral ......................................................................................... 26

2.2.2 Funcionamento para carga resistiva .............................................................................. 27

2.2.3 Funcionamento para carga indutiva............................................................................... 28

2.2.4 Estudo do Comportamento do Transformador .............................................................. 31

3 RETIFICADOR TRIFÁSICO EM PONTE MISTA SEMI CONTROLADO ................ 34


3.1 ESTUDO DA ESTRUTURA EM GERAL ............................................................................. 34

3.2 ANÁLISE HARMÔNICA DA CORRENTE DE ENTRADA ............................................... 36

3.2.1 Distorção Harmônica Total ........................................................................................... 37

3.2.2 Cálculo da corrente média no secundário do transformador ......................................... 39

3.3 CÁLCULO DO FATOR DE POTÊNCIA .............................................................................. 40

4 ESTUDO DE CASO .............................................................................................................. 42


5 CONCLUSÃO........................................................................................................................ 50
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 51
APÊNDICE A – DIAGRAMA UNIFILAR E FORMAS DE ONDAS EXPERIMENTAIS 52
14

1 INTRODUÇÃO

Na maioria das aplicações que envolvem a eletrônica de potência a entrada de energia


tem a forma de uma tensão senoidal em 50 ou 60 Hz, proveniente da rede, que é convertida em
tensão contínua para ser aplicada à carga. Isto é realizado utilizando conversores CA-CC,
também chamados de retificadores. Dependendo do semicondutor utilizado, tiristor ou diodo, os
retificadores podem ser controlados, semicontrolados ou não controlados.

Os retificadores que utilizam diodos são encontrados em muitas aplicações, em geral


como estágio de entrada de fontes de potência, acionamento de máquinas, carregadores de bateria
e outros. Neste caso a tensão de saída do retificador não pode ser controlada.

Em outras aplicações, tais como acionamentos de máquinas CC, alguns acionamentos de


máquinas CA, controle de temperatura e sistemas de transmissão em corrente contínua, o controle
da tensão de saída é necessário. Para essas aplicações são utilizados retificadores controlados.

Este trabalho será focado somente no estudo de retificadores trifásicos, de potência para
uso industrial. Em seguida, serão apresentadas as características e topologias dos retificadores
trifásicos controlados e não controlados, respectivamente. A apresentação teórica do tema foi
extraida em grande parte de [1].

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

A utilização de retificadores trifásicos em ponte mista semicontrolados geram


harmônicas de ordem par, as quais são componentes de sequência negativa que geram fluxos
magnéticos em oposição aos de sequência positiva. As componentes de ordem par não são
toleradas em instalações elétricas, pois são de difícil filtragem ou eliminação e causam
aquecimento excessivo em motores e transformadores, entre outros malefícios.

1.2 QUESTÃO DE PESQUISA

As questões de pesquisa que norteiam este estudo são as seguintes:

a) o que levaria um técnico ou engenheiro a utilizar um retificador trifásico em ponte


mista semicontrolado que sabidamente gera harmônicas de ordem par?
15

b) existe outros retificadores que poderiam substituir o retificador trifásico em ponte


mista semicontrolado?

c) quais harmônicas são geradas pelo retificador trifásico em ponte mista


semicontrolado?

1.3 OBJETIVOS

A seguir enunciam-se os objetivos gerais e específicos da pesquisa.

1.3.1 Geral

Calcular as harmônicas geradas pelo retificador trifásico em ponte mista semicontrolado


e o fator de potência da estrutura.

1.3.2 Específicos

a) comprovar de forma analítica, por simulação e experimentação que o retificador


trifásico em ponte mista semicontrolado gera harmônicas de ordem par;

b) comprovar analiticamente que o transformador ao alimentar um retificador trifásico


em ponte mista semicontrolado é submetido a esforços excessivos de potência;

c) calcular o fator de potência do retificador trifásico em ponte mista semicontrolado;

d) sugerir topologia que possa substituir o retificador trifásico em ponte mista


semicontrolado.

1.4 PRESSUPOSTOS

Com base na revisão da literatura e estudos analíticos, um dos pressupostos é de que


harmônicas pares estejam influenciando no aquecimento excessivo do transformador. Acredita-se
que o uso do retificador trifásico em ponte mista semicontrolado seja inadequada para a aplicação
e que o uso de um retificador trifásico em ponte completa totalmente controlado resolveria o
problema.
16

1.5 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA

O uso de retificadores no meio industrial é cada vez maior, dessa forma, o conhecimento
das implicações causadas por cada estrutura possível de se utilizar é primordial para o adequado
funcionamento das instalações elétricas. O estudo de caso deste TCC se justifica em virtude de
pressupostos de que a escolha do retificador trifásico em ponte mista semicontrolado seja
inadequada para o uso industrial, assim, é necessário o estudo analítico, por simulação e com
comprovação experimental de que esta topologia gera harmônicas indesejaveis e causadoras de:
autos valores de distorção harmônica total, baixos valores de fator de potência e aquecimento
excessivo nos transformadores.

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente trabalho está organizado em cinco capítulos envolvendo, fundamentação


teórica, experimentos do retificador trifásico em ponte mista semicontrolado, simulações e
conclusões.

O Capítulo 2 fornece uma revisão nos conceitos básicos sobre retificadores que são
relevantes para o estudo proposto e o Capítulo 3 faz uma abordagem sobre os conceitos teóricos
do retificador trifásico em ponte mista semicontrolado, assim como, estudos analíticos da
estrutura em geral.

O Capítulo 4 apresenta um estudo de caso de uma instalação industrial, motivo pelo qual
originou o tema: estudo de caso dos efeitos de harmônicas em transformadores alimentando
retificadores. Este capítulo relata os problemas encontrados na instalação devido à escolha
inadequada da topologia de retificadores trifásicos.

Finalmente, no Capítulo 5 são apresentadas as conclusões gerais sobre o trabalho e na


sequência as referências bibliográficas e um apêndice com dados complementares da instalação.
17

2 REVISÃO DE LITERATURA

Neste item apresenta-se o princípio de funcionamento dos retificadores controlados a


tiristores. Utiliza-se como base a referência [1].

2.1 RETIFICADOR TRIFÁSICO COM PONTO MÉDIO CONTROLADO POR TIRISTOR.

2.1.1 Estudo da estrutura em geral

A estrutura do retificador trifásico com ponto médio controlado por tiristor está
apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Retificador trifásico de ponto médio controlado.

v1(ωt)
T1

v2(ωt)
T2

+
v3(ωt) iL R vL
T3
-

Fonte: [1]

As tensões de alimentação são representadas pelas expressões:

v1 ( ωt ) = Vo sen ( ωt ) (1)

v 2 (ωt ) = Vo sen (ωt − 120o ) (2)

v 3 (ωt ) = Vo sen (ωt + 120o ) (3)


18

2.1.2 Funcionamento para carga resistiva

Seja a Figura 2, na qual é representada a tensão de carga. Observar que para a


estrutura trifásica, o ângulo de disparo é nulo quando duas ondas de tensão se interceptam e não
quando a tensão passa por zero, como é o caso das estruturas monofásicas.

Figura 2.a – Tensão de carga para α = 0º, para retificador de ponto médio controlado
v1 v2 v3

Fonte: [1]

Figura 2.b – Tensão de carga para α = 30º, para retificador de ponto médio controlado.
v1 v2 v3

α=30ο

Fonte: [1]
19

Figura 2.c – Tensão de carga para α = 60º, para retificador de ponto médio controlado.
v1 v2 v3

α=60 ο

Fonte: [1]

π
Quando α = 0º tem-se ωt = = 30 o .
6

Observar que para 0 < α < π/6, a condução é contínua. Para α > π/6, a condução se
torna descontínua, quando a carga é resistiva.

- Tensão média na carga

1º) 0 < α < π/6 ⇒ condução contínua.



6
3
VLmed =
2π π
∫ 2Vo sen(ωωtd(ω(ω (4)

6

Assim: V Lmed = 1,17Vo cos α (5)

2º) π/6 < α < 5π/6 ⇒ descondução contínua

π
3
VLmed =

π
∫ 2 Vo sen (ωt ) d(ωt )

6 (6)

 π 
Assim: VLmed = 0,675Vo 1 + cos + α  (7)
 6 
20

Observações:

a) Quando α = 0º, obtem-se o retificador a diodo, onde VLmed = 1,17 Vo, que é o
valor máximo da tensão média na carga.

b) Quando α = 150º, tem-se VLmed = 0.

O valor médio da tensão de carga em função de α para as cargas resistivas está


representado na Figura 3. O seu valor é sempre positivo.

Figura 3 – Tensão média em função de α para carga resistiva.

1,2
VLmed
Vo 1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0 π 2π 3π 4π 5π
6 6 6 6 α 6

Fonte: [1]

2.1.3 Funcionamento para carga indutiva

É considerado o caso em que a condução é contínua. Assim:

VLmed = 1,17Vo cos α (8)

A Figura 4 representa a tensão média em função de α.


21

Figura 4 – Tensão média de carga para o retificador de ponto médio.


1,17

VLmed
Vo

0 π π
2 α

1,17
VLmed > 0 VLmed < 0
Retificador Inversor

Fonte: [1]

A estrutura em questão pode funcionar em dois quadrantes, ou seja, como


retificador ou como inversor.

Na Figura 5 estão representados dois casos particulares para a tensão de carga para a
condução contínua.

Figura 5: a) VLmed > 0 e b) VLmed < 0.

A1
(a)
A2

A1

(b)

A2

Fonte: [1]
22

2.1.4 Estudo do Comportamento do Transformador

Para o estudo do comportamento do transformador que alimenta o retificador


trifásico de ponto médio controlado serão admitidas as seguintes simplificações:

- O transformador será considerado ideal com relação de transformação igual a um;


- A corrente da carga é isenta de harmônicas.
- O ângulo de disparo α é considerado igual a 0º.

As correntes dos enrolamentos secundários estão representadas na Figura 6. Em


cada enrolamento a corrente é composta de pulsos de corrente com duração de 120º, sendo,
portanto unidirecional. A corrente de cada enrolamento pode ser então decomposta numa corrente
alternada com valor médio nulo e numa componente constante.

Figura 6 – Corrente nos enrolamentos secundários do transformador

i S1
I Lmed
2 I Lmed
3 1 ILmed
3
ωt
0 2π 2π
3
i S2

ωt

3
i S3

ωt

Fonte: [1]

Corrente real idealizado no enrolamento.


Componente alternada.
Componente contínua.
23

Como as componentes contínuas das correntes secundárias não são refletidas no


primário do transformador, o circuito para as componentes contínuas, por consequência, necessita
para a sua representação, somente dos enrolamentos secundários, representados na Figura 7.

Figura 7 – Componentes contínuas das correntes secundárias do transformador

As componentes contínuas das correntes secundárias produzem os fluxos φ1, φ2 e


φ3, representadas na Figura 7. Como eles são iguais em valores e sentido, o transformador não se
torna saturado.

A Figura 8 está representando a estrutura completa do retificador alimentado por


um transformador, cujo seu enrolamento primário está ligado em triângulo (∆).

Figura 8 – Retificador associado a um transformador ∆-Υ.

As correntes dos enrolamentos primários do transformador estão representadas na


Figura 9. Há uma defasagem de trinta graus entre a componente fundamental da corrente de linha
iA (ωt) e a tensão do enrolmento primário vp1(ωt).

De acordo com a expressão (9) a corrente eficaz num enrolamento secundário, que
é igual a eficaz num diodo, é dada pela expressão (10).
24

O valor eficaz da corrente em cada diodo será:

2π 3
1
I Def = ∫ (I Lmed )2 d (ωt ) (9)
2π 0

I
I Def = Lmed
Assim: 3 (10)

A corrente eficaz no secundário do transformador é dado pela expressão (11).

I
Isef = Lmed
3 (11)

Figura 9 – Correntes para a estrutura na Figura 8.


i sl
I Lmed
vsl
ωt

i pl
2 I Lmed
3 vpl
ωt
-1 I Lmed
3

i p3

2 I Lmed
3 ωt
-1 I Lmed
3

i
I Lmed A
iA1
ωt

-I Lmed

Fonte: [1]

Assim a potência aparente secundária por fase será:

S 2f = Vo I sef (12)
25

V
Vo = Lmed
Como 117
, (13)

VLmed I Lmed
S2f = = 0,493 VLmed I Lmed
Assim: 117
, 3 (14)

A potência aparente secundária total será:

S 2 = 3S 2f (15)

Ou por: S 2 = 1,48 VLmed I Lmed (16)

Como: PL = VLmed I Lmed (17)

Obtém-se: S 2 = 1,48 PL (18)

Para o cálculo do fluxo de potência aparente no primário do transformador, deve-


se da mesma forma determinar o valor eficaz da corrente primária por fase.

A forma da corrente primária por fase é representada na Figura 10.

Figura 10 – Corrente de fase em um enrolamento primário do transformador.

i pl
2 I Lmed
3 2π
3 ωt
0 2π
-1 I Lmed
3

Fonte: [1]

O valor eficaz da corrente num enrolamento primário é expresso por:

1  
2π 3 2 2π 2
 2 I Lmed  −I 
I Lef = 
2π  ∫
0

 3 
 d(ω(ω+ ∫  Lmed  d(ω(ω
2π 3 
3  
(19)

Efetuando a integração, tem-se:

2 I Lmed
I Lef =
3 (20)
26

Assim, a potência primária por fase é:

VLmed 2 I Lmed
S1f = Vo I Lef =
117
, 3 (21)

Ou: S1f = 0,402 VLmed I Lmed (22)

Ou: S1 = 1,21 PL (23)

O fluxo de potência aparente no secundário é maior que o fluxo de potência


aparente no primário porque no secundário circulam, além das componentes alternadas,
componentes contínuas de corrente.

Desta forma, o fator de potência que a estrutura apresenta para a rede é definido
pela expressão:

P
FP = L
S1 (24)

Assim: FP = 0,83 (25)

Usualmente topologias em meia ponte não são aplicadas. A principal razão é que,
nesta conexão, a corrente média da entrada apresenta um nivel médio diferente de zero. Tal nível
contínuo pode levar elementos magnéticos presentes no sistema (transformadores e indutores) à
saturação, o que é prejudicial ao sistema. Topologias em ponte completa ao contrário, absorvem
uma corrente média nula da rede, não afetando, assim, os elementos magnéticos, por isso, são as
preferidas.

2.2 RETIFICADOR TRIFÁSICO DE ONDA COMPLETA CONTROLADO (PONTE DE


GRAETZ).

2.2.1 Estudo da estrutura em geral

O retificador trifásico de onda completa controlado, denominado ponte de


GRAETZ controlada, é também uma das estruturas mais utilizadas nas indústrias, e sua topologia
está representada na Figura 11.
27

Figura 11 – Ponte de GRAETZ controlado

T1 T2 T3
v1(ωt)

v2(ωt) +
iL R vL
-
v3(ωt)

T4 T5 T6

Fonte: [1]

2.2.2 Funcionamento para carga resistiva

Observações:

a) Quando α = 0º, obtem-se o VLmed = 2,34 Vo, pois a estrutura torna-se igual ao
retificador trifásico não controlado.

b) Para 0 < α < π/3, a condução é contínua. A tensão média na carga é calculada da
seguinte forma:


3
6 (26)
V Lmed =
2π π
∫ 2 3Vo sen(ωt ) d (ωt )

3

Assim: V Lmed = 2,34Vo cosα (27)

c) Para π/3 < α < 2π/3, a condução é descontínua. A tensão média é calculada da
seguinte forma:

π
6
V Lmed =
2π π
∫ 2 3Vosen(ωt ) d (ωt ) (28)

3
28

 π 
VLmed = 4,05Vo 1 + cos + α  (29)
 3 

O valor médio da tensão de carga está representado graficamente pela Figura 12.

Na Figura 13 estão representadas as formas de onda da tensão de carga para três


ângulos de disparos diferentes.

Figura 12 – Tensão média de carga para carga resistiva.

1,4
VLmed
Vo 1,2
1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0 π π
π 2π
6 3 2 α 3

Fonte: [1]

Observações: Tomando como referência vab(ωt):

π
α = 0 ⇒ ωt = = 60o
a) 3

π 2π
α= ⇒ ωt = = 120 o
b) 3 3

2.2.3 Funcionamento para carga indutiva

É considerado o caso em que a condução é contínua. As formas de onda da tensão


de saída para vários ângulos de disparo estão representadas na Figura 14.

A tensão média na carga pode ser expressa por (30) e (31).


29

Figura 13 – Tensões na carga para a Ponte de GRAETZ.

(a) Tensões de linha da rede; (b) α = 0; (c) α = π/3 e (d) α > π/3

vab -vca vbc -vab vca -vbc vab -vca


(a)
ωt

0 α π 2π 3π
III I II III I
V VI IV V VI

(b)
vLmed

ωt
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α1 α2 α3

(c)

vLmed
ωt
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α1 α2
III I II III I
IV V VI IV V

(d)

vLmed
ωt
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α1

Fonte: [1]


3
3
VLmed =
π π
∫ 2 3Vo sen(ωt ) d (ωt ) (30)

3

Obtém-se: VLmed = 2,34 Vo cosα (31)

Observações:

π
a) 0 ≤ α < ⇒ VLmed > 0 ⇒ Operação como retificador
2

π
b) < α ≤ π ⇒ VLmed < 0 ⇒ Operação como inversor não autônomo.
2

π
c) α = ⇒VLmed = 0
2
30

Figura 14.a – Tensões de carga; Ponte de Graetz para carga indutiva.


vab

α=60 ο

Fonte: [1]

Figura 14.b – Tensões de carga; Ponte de Graetz para carga indutiva.


vab

α=90 ο

Fonte: [1]

O fator de potência para esta topologia é expresso em (32) [1].

FP = 0,95 * COSα (32)


31

2.2.4 Estudo do Comportamento do Transformador

A apresentação da estrutura completa incluindo o transformador é mostrada na


Figura 15.

A conexão mais comum do transformador, representada na Figura 15, é aquela em


que o primário do transformador é ligado em triângulo e o secundário ligado em estrela.

Figura 15 – Ponte de GRAETZ associada a um transformador

Figura 16 – Correntes nos enrolamentos do transformador.


vL
D1 D1 D1 D1
D4 D 4 D4 D 4 ωt
i D1
I Lmed
ωt
i D4
I Lmed
ωt
i s1
I Lmed
ωt

i p1
I Lmed
ωt

i p3
ILmed
ωt

i1 2I Lmed
I Lmed
ωt

Fonte: [1]
32

Para efeito de análise, o transformador é considerado ideal. A relação de


transformação entre fases é considerada unitária. e o ângulo de disparo α é igual a 0º

Para os ciclos positivos da tensão vs1(ωt), a corrente no enrolamento secundário é


igual a corrente no diodo D1. Para os ciclos negativos da tensão vs1(ωt), a corrente é igual a do
diodo D4.

As correntes de fase primárias são iguais às respectivas correntes secundárias por


fase. A corrente de linha primária i1(ωt) é dada pela expressão (33).

i1 ( ωt ) = i p1 ( ωt ) − i p3 ( ωt )
(33)

As demais correntes de linha são iguais a i1(ωt), na forma e no valor, defasadas de


120º e 240º em relação e esta, respectivamente.

A corrente eficaz no enrolamento secundário do transformador é calculada a


seguir:

1  2π 3 2
5π 3
2 
I sef =  ∫ (I Lmed ) d (ωt ) + ∫ (I Lmed ) d (ωt )  (34)
2π  0 π 

2π 3 
1  2
I sef = 2 ⋅
2π  ∫ I
( Lmed ) d ( ωt ) 

Ou:  0  (35)

2
Isef = I
Assim: 3 Lmed (36)

O valor eficaz da tensão de fase secundária é obtido em função do valor médio da


tensão de carga, pela expressão:

V
Vsef = Vo = Lmed
2,34 (37)

A potência aparente que circula nos enrolamentos secundários do transformador


será:

S 2 = 3 Vo I sef (38)
33

3 VLmed 2
S2 = ⋅ I Lmed
Assim: 2,34 3 (39)

Ou ainda: S2 = 1,05 PL (40)

De acordo com a expressão (40), o retificador trifásico de seis pulsos ou a ponte de


GRAETZ é uma estrutura retificadora que propicia melhor aproveitamento do transformador, em
relação à estrutura em Ponto Médio.

Como as correntes primária e secundária são iguais, a potência aparente que a rede
entrega ao transformador será a mesma entregue em S2.

Assim:

S1 = S2 (41)

Desse modo, o fator de potência teórico que a estrutura apresenta à rede é dado
pela expressão (42).

P 1
FP = L = ≅ 0,95
S1 1,05 (42)
34

3 RETIFICADOR TRIFÁSICO EM PONTE MISTA SEMI CONTROLADO

Nas aplicações onde não se quer operação em dois quadrantes, é recomendável o


emprego da ponte mista, representada na Figura 17, em substituição à ponte completa [1].

Em relação a ponte totalmente controlada o custo da estrutura se reduz devido:

(a) circuitos de comandos mais simples;

(b) emprego de apenas três tiristores.

Entretanto, o uso da ponte mista gera harmônicas de ordem par, ocasionando


problemas graves em transformadores e em outros componentes da instalação.

Figura 17 – Ponte trifásica mista semi controlada

T1 T2 T3
v1(ωt)

v2(ωt) +
iL R vL
-
v3(ωt)

D1 D2 D3

Fonte: [1]

3.1 ESTUDO DA ESTRUTURA EM GERAL

Para efeito de análise, a ponte trifásica mista pode ser representada por dois
retificadores de ponto médio, um controlado e um não controlado, associados em série, como
estão representados na Figura 18. É feita a análise apenas para condução contínua, quando
< 60°.
35

Figura 18 – Decomposição da ponte trifásica mista semi controlada.

v1(ωt)
T1

T2 A
v2(ωt)
+
T3
v AN
N -
v3(ωt) -
D1
v BN
D2 +
B
D3

Fonte: [1]

Na Figura 19 são apresentadas as formas de onda das tensões VAN, VBN e da tensão
na carga. Percebe-se que apenas a parte controlada do retificador distorce a onda de tensão em
virtude da aplicação do ângulo α. A parte não controlada não produz distorção. Esta característica
afeta a corrente na carga, deixando-a assimétrica em relação ao eixo vertical, conforme
representado na Figura 20. Esta assimetria é a responsável pelo surgimento das harmônicas de
ordem par.

Figura 19 – Forma de onda da tensão para condução contínua.


vAN
v1 v2 v3

ωt
α

vBN
vAB

ωt
T1 T2 T3
D1 D2 D3

Fonte: [1]
36

As formas de onda de tensão na carga, tensões de linha, tensão na fase 1 e corrente


na fase 1 para condução contínua são apresentadas na Figura 20. Percebe-se a assimetria entre os
semiciclos positivo e negativo da corrente I1 caracterizada pela diferença entre o semiciclo

positivo que se inicia em e o semiciclo negativo que se inicia em + . Nota-se que

> . Esta assimetria é a responsável pela geração de harmônicas pares.

Figura 20 – Formas de onda de tensão e corrente na carga em condução contínua.

VLmed
v(ωt), i(ωt)

I1
V12
V1 V13

ωt

0 π/6 5π/6 π π+α 2π

A tensão média na carga é dada pela expressão (43) para α < 60o.

VLmed = 117
, Vo (1 + cos α ) (43)

A tensão média na carga é dada pela expressão (44) para α > 60º.

 π 
, Vo 1 + cos  + α 
VLmed = 117
 3 
(44)

3.2 ANÁLISE HARMÔNICA DA CORRENTE DE ENTRADA

Baseado no gráfico das formas de onda de tensão e corrente obtidas na Figura 20,
são calculados as harmônicas da corrente de entrada pelos coeficientes An e Bn através das
expressões (47) e (50).
T
2
T ∫0
An = iL(ωt ) ∗ sen(nωt )dωt (47)
37

5π 5π

6 3
2
Como: An =
2π ∫ i ∗ sen(nωt )dωt − π ∫αi ∗ sen(nωt )dωt
π +
(48)
6

Assim: ILmed   n5π   nπ    5π  


An = − cos  + cos  + cos n + α   − cos(n(π + α )) (49)
nπ   6   6    3  

T
2
T ∫0
Bn = iL(ωt ) ∗ cos(nωt )dωt (50)

5π 5π

6 3
2
Sendo: Bn =
2π ∫ i ∗ cos(nωt )dωt − π ∫αi ∗ cos(nωt )dωt
π +
(51)
6

ILmed   n5π   nπ    5π  
Então: Bn = sen  − sen  − sen n + α   + sen(n(π + α )) (52)
nπ   6   6    3  

Através dos resultados obtidos pelas expressões (49) e (52), os coeficientes Cn


podem ser calculados pela expressão (53). Estes coeficientes determinam as componentes
harmônicas da corrente.

Cn = An² + Bn² (53)

3.2.1 Distorção Harmônica Total

A distorção harmônica total (THD) pode ser obtida pela expressão (54).

2
 In  ∞
THD = ∑   ∗ 100 (54)
n =2  I 1 

Após os cálculos das componentes harmônicas foram determinados os valores de


THD para três ângulos de disparos dos tiristores: α= 0, α= e α= , cujos resultados são

apresentados na sequência:

19 2
 In 
a) THDα = 0 = ∑   ∗ 100 = 29,4%
n =2  I1 
(55)

As harmônicas para α= 0 são apresentadas na Tabela 1.


38

Tabela 1 – Componentes harmônicas calculadas para α=0º

19 2
 In 
b) THD
α=
π = ∑   ∗ 100 = 39,5%
n =2  I1 
(56)
6

As harmônicas para α= são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 – Componentes harmônicas calculadas para α=30º


39

19 2
 In 
c) THD
α=
π = ∑   ∗ 100 = 65,4%
n =2  I1 
(57)
3

As harmônicas para α= são apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3 – Componentes harmônicas calculadas para α=60º

Pelos resultados apresentados acima, percebe-se que quanto maior o ângulo α


maior a assimetria na forma de onda da corrente de entrada e, consequentemente, maior será a
distorção harmônica.

3.2.2 Cálculo da corrente média no secundário do transformador

Analisando a forma de onda da corrente na fase 1 da Figura 20, percebe-se que


apesar das distorções harmônicas de ordem par deixarem o forma de onda assimétrica no eixo
vertical, ela continua simétrica no eixo horizontal, concluindo que mesmo com a presença de
harmônicas na instalação, o valor médio da corrente é nulo. Este valor é calculado e comprovado
pela expressão (58).

1
A0 =
2π ∫ i(ωt )dωt
0
(58)
40

5π 5π

6 3
Como: 1 (59)
A0 =
2π ∫ ILmed(dωt ) − π ∫αILmed(dωt )
π +
6

Assim: ILmed  5π π  5π   (60)


A0 =  − − + α  − (π + α )
2π  6 6  3  

Então: ILmed  4π 4π  (61)


A0 = − =0
2π  6 6 

Através do resultado teórico da expressão (61), comparando com as simulações da


Figura 20, está comprovado que o valor médio da corrente no secundário do transformador é
nulo.

3.3 CÁLCULO DO FATOR DE POTÊNCIA

Não há necessidade de se fazer o estudo completo do transformador para esta estrutura,


pois vale o estudo feito na seção 2.2.4. O valor da corrente eficaz no secundário do transformador
Isef é feito considerando-se a Figura 20.

 5π 5π
+α 
Como: 16 2
3
(I ) d (ωt ) + ∫ (− I Lmed ) d (ωt )
2 (62)
T  π∫ Lmed
I sef =
 6 π +α 

1  2  5π π  2  5π  (63)
I sef = I L med * − + I L med * + α − π − α 
2π   6 6  3 
Temos:

1  2  2π 2π  (64)
I sef = I L med * + 
2π   3 3 

2 (65)
I sef =
3 IL med

Assim:

Desta forma a corrente eficaz no secundário possui o mesmo valor calculado para a
topologia em ponte completa.

O fator de potência do retificador trifásico em ponte mista semi controlado pode ser
determinado pela expressão (66) e o ângulo de defasagem entre a fundamental de corrente e a
tensão de entrada 1 pelas expressões (67) e (68).
41

cos (ϕ1)
FP = (66)
1 +THD 2

Bn
ϕ1 = arctg (67)
An

α
ϕ1 =
Ou seja: 2 (68)

A seguir é determinado o fator de potência para os ângulos: α= 0, α= e α= .

a) cos (0 º ) (69)
FP (α = 0 º ) = = 0,959
1 + 0, 294 2

b) cos (15 º ) (70)


FP (α = 30 º ) = = 0,898
1 + 0,395 2

c) cos (30 º ) (71)


FP (α = 60 º ) = = 0,725
1 + 0,654 2
42

4 ESTUDO DE CASO

O estudo de caso é feito analisando-se a instalação de uma empresa que contratou


a fabricação de transformadores para alimentação de retificadores. Apesar de insistentes
solicitações, a contratante não informou adequadamente qual retificador seria alimentado. A
contratada fez um projeto padrão baseado apenas nos dados de tensões e corrente informado pela
contratante, imaginando que os transformadores alimentariam retificadores trifásicos controlados.

Para o cálculo dos transformadores, as únicas informações que foram passadas a


contratada, foram:

- Tensão do primário: 380V

- Número de secundários: 9

- Tensão dos secundários: 300V

- Corrente nos secundários: 82A (rms)

- Corrente na carga: 100Acc

- Tensão de carga: 288V

- Número de transformadores: 18pçs

Os dimensionamentos dos transformadores foram feitos pela expressão (72)

S = V sec ef * I sec ef * 3 * 9 (72)

A carga é formada por um conjunto de 20 baterias conectadas em série.

Na realidade a instalação foi baseada em um projeto cuja origem é desconhecida,


mas sabe-se que o projeto original estava sendo aplicado em uma máquina importada. Com a
intenção de nacionalizar o projeto e sua instalação, a contratante fez algumas adequações no
projeto, dimensionando apenas os componentes em função da potência da carga a ser alimentada,
sem se preocupar com a topologia do retificador.

A contratante fez outras aquisições de transformadores com a mesma contratada,


porém, com potências menores usando a mesma topologia. É bem provável que a potência
absorvida pela carga em outras ocasiões não estava em condições nominais de trabalho, fazendo
com que o transformador fornecesse potência sem sobreaquecer. No momento em que solicitou a
43

potência nominal do transformador, devido à topologia utilizada na instalação, observou-se que o


núcleo e as bobinas do enrolamento secundário apresentaram sobreaquecimentos, conforme
Figuras 21 e 22.

Pelo fato dos transformadores fornecidos pela contratada terem sido construídos
com os enrolamentos primário e secundário cujo material é alumínio, visando o melhor custo
benefício ao contratante, o mesmo alegou que os problemas de aquecimentos demonstrados nas
Figuras 21 e 22 eram devido ao material dos enrolamentos, visto que para outros fornecimentos
anteriores, os transformadores foram fabricados com enrolamentos em cobre. Entretanto, não se
pode associar este aquecimento ao uso de outro material, já que sua utilização é corriqueira pela
contratada e todos os cuidados nos dimensionamentos foram levados em considração. Assim, a
contratada atribuiu o sobreaquecimento ao uso da topologia de retificador 3φ em ponte mista
semicontrolada, a qual gera harmônicas de ordem par. Este fenômeno foi demonstado no
Capítulo 3 deste trabalho.

A contratante, pressionada pela empresa na qual os transformadores estavam


instalados, solicitou uma visita técnica para detectar os motivos pelos quais os transformadores
estavam apresentando problemas e, assim, foram obtidos os resultados apresentados neste
capítulo.

Figura 21 – Termografia da bobina do transformador


44

Figura 22 – Aquecimento na bobina central do transformador

Figura 23 – Diagrama elétrico de um dos secundários do transformador


45

Após ter em mãos o diagrama elétrico da instalação conforme a Figura 23,


verificou-se que o elevado aquecimento nas bobinas secundárias do transformador era em função
da topologia utilizada pela contratante, o que vai-se demonstrar na sequência.

Como a contratante tinha adquirido vários transformadores de potências diferentes


para determinadas cargas e para que a empresa onde os transformadores foram instalados não
paracem a produção, alguns transformadores foram ligados em paralelo.

Pelo fato da contratante não querer mudar sua topologia de instalação, foi
instalado um analisador de potência na entrada do transformador. O espectro harmônico de
corrente medido na instalação é mostrado na Tabela 4. Analisando esta tabela, percebe-se o rico
conteúdo harmônico da corrente, comprovando a análise feita no Capítulo 3, principalmente no
que tange às componentes harmônicas de ordem par. Este resultado derruba a tese da contratante
de que o transformador aquecia devido ao uso do alumínio como condutor no transformador e
fortalece as indicações das análises deste TCC de que o problema está na escolha inadequada da
topologia de retificador trifásico em ponte mista semicontrolada.

Tabela 4 – Componentes harmônicas da instalação

Como a empresa contratante não aceitou as explicações de que o problema estava na


escolha da topologia foi utilizada a expressão (73), a qual determina o fator K para a escolha de
uma nova potência de transformador, a fim de compensar o efeito das harmônicas. Foram
fabricados novos transformadores com potências maiores para suprir as cargas.
46

A expressão que determina o fator K de acordo com a recomendação ANSI C57.110 é


dada por (73).

∑ I ²h * h²
K= h =1

(73)
∑ I ²h
h=1

O fator K é uma classificação atribuida a um transformador como sendo um índice de sua


habilidade de suportar um determinado índice harmônico em sua corrente de carga,
permanecendo dentro dos limites de temperatura de operação. Uma classificação específica do
fator K indica que um transformador pode fornecer além da saída nominal de carga em kVA,
outra carga de uma quantidade específica de índice harmônico, cujos valores são retirados através
de espectro hârmonico da instalação no qual o transformador será instalado.

Na Figura 24 são apresentadas as tensões média na carga, de linha V12 e V13, de fase V1 e
a corrente da fase 1 para uma simulação feita com ângulo α=30º. Percebe-se a nítida assimetria
da forma de onda da corrente entre os semiciclos positivo e negativo em torno do eixo vertical.
As harmônicas são apresentadas na Tabela 5 e a THD obtida pela simulação foi de 39,6%.

Figura 24 – Tensões e corrente de interesse para α=30º


800

VLmed
600
V13
V12
400
V1
I1*10
200

-200

-400

-600

-800
264ms 265ms 266ms 267ms 268ms 269ms 270ms 271ms 272ms 273ms 274ms 275ms 276ms 277ms 278ms 279ms 280ms 281ms 282ms 283ms 284ms 285ms 286ms 287ms
I(R1)*10 V(V1:+) V(R5:1,R6:2) V(I1:+,I1:-) V(R5:1,D5:2)
Time
47

Tabela 5 – Componentes harmônicas obtidas por simulação para α=30º

Na Figura 25 são apresentadas as tensões média na carga, de linha V12 e V13, de


fase V1 e a corrente da fase 1 para uma simulação feita com ângulo. α=60º Percebe-se uma maior
assimetria da forma de onda da corrente entre os semiciclos positivo e negativo em torno do eixo
vertical. As harmônicas são apresentadas na Tabela 6 e a THD obtida pela simulação foi de
77,8%.

Figura 25 – Tensões e corrente de interesse para α=60º


800
VLmed
V13
V12
600

400
V1
I1*10
200

-200

-400

-600

-800
264ms 265ms 266ms 267ms 268ms 269ms 270ms 271ms 272ms 273ms 274ms 275ms 276ms 277ms 278ms 279ms 280ms 281ms 282ms 283ms 284ms 285ms 286ms 287ms
I(R1)*10 V(V1:+) V(D1:1,R6:2) V(I1:+,I1:-) V(D1:1,R6:1)
Time
48

Tabela 6 – Componentes harmônicas obtidas por simulação para α=60º

Na Figura 26 são apresentadas as tensões média na carga, de linha V12 e V13, de


fase V1 e a corrente da fase 1 para uma simulação feita com ângulo α=0º, ou seja, o retificador
opera como uma ponte de Graetz a diodos. Percebe-se que agora há simetria na forma de onda da
corrente entre os semiciclos positivo e negativo em torno do eixo vertical. As harmônicas são
apresentadas na Tabela 7 e a THD obtida pela simulação foi de 28,2%.

Figura 26 – Tensões e corrente de interesse para α=0º


800
VLmed

600

V12 V13

400
V1
I1*10
200

-200

-400

-600

-800
264ms 265ms 266ms 267ms 268ms 269ms 270ms 271ms 272ms 273ms 274ms 275ms 276ms 277ms 278ms 279ms 280ms 281ms 282ms 283ms 284ms 285ms 286ms 287ms
I(R1)*10 V(V1:+) V(D1:1,R6:2) V(I1:+,I1:-) V(D1:1,R6:1)
Time
49

Tabela 7 – Componentes harmônicas obtidas por simulação para α=0º

A distorção harmônica total (THD) não é um parâmetro único a ser investigado em


uma instalação, já que representa uma ponderação para o conteúdo total. Há que se atentar para
as harmônicas individualmente, já que harmônicas de menor ordem possuem maior amplitude e,
assim, causarão maior impacto e são de mais difícil filtragem.

A utilização do retificador trifásico em ponte mista é desaconselhada, pois se


comprovou ser vilão da instalação em estudo. Melhor seria a empresa ter instalado uma ponte
trifásica totalmente controlada. Ainda que o fator de potência desta estrutura seja variável e se
degrade com o aumento do ângulo ∝, a distorção harmônica não é dependente de ∝, mantendo a
THD constante, já que a forma de onda da corrente na fase não se altera apenas se defasa.
50

5 CONCLUSÃO

Foi feito um estudo teórico das harmônicas para o retificador trifásico de ponte
mista e através de simulações e cálculos foram encontrados harmônicos de ordem par. Estas são
as causadoras de sobreaquecimentos em motores e transformadores.

O retificador trifásico de ponte mista provoca assimetria da forma de onda da


corrente na fase do transformador, originando harmônicas de ordem par, e por consequência não
é uma opção adequada para aplicação, motivo pelo qual este estudo foi feito.

Dados de simulação e experimentais ficaram de acordo com as análises teóricas,


comprovando que a aplicação inadequada da topologia da instalação estava prejudicando o
funcionamento do transformador e por consequência, comprometendo a produção pela qual a
maquina estava instalada.

As componentes harmônicas de ordem par são componentes simétricas de


sequência negativa, fazendo com que o fluxo magnético gerado em motores e transformadores se
oponha ao fluxo produzido pela sequência positiva e produzem o desequilíbrio magnético do
motor. Outro efeito importante é o fato das impedâncias de sequência negativa possuir valores
muito pequenos, resultando em um desequilíbrio de corrente bastante elevado.
Consequentemente, a elevação de temperatura de motores e transformadores operando com uma
determinada carga e sob determinado desequilíbrio será maior que o mesmo operando sob as
mesmas condições e com tensões equilibradas. Isso causa o sobreaquecimento do transformador e
a diminuição da sua vida útil.
51

REFERÊNCIAS

[1] BARBI, Ivo. Eletrônica de Potência. Florianópolis: Edição do Autor, 7.ed. 2014.

[2] ERICKSON, Robert Warren; MAKSIMOVIC, Dragan. Fundamentals of power eletronics. 2nd
ed. Norwell: KAP, 2001. xxi, 883p, il.

[3] PÉRES, Adriano. Fundamentos de Harmônicas. Blumenau: Publicação Interna, 2014. Apostila
de curso.
52

APÊNDICE A – DIAGRAMA UNIFILAR E FORMAS DE ONDAS EXPERIMENTAIS

O diagrama unifilar da instalação dos transformadores é apresentado na Figura A1.


Trata-se de nove transformadores com conexão ΔY e nove com conexão YY.

Figura A1 – Diagrama unifilar da instalação.


53

As formas de ondas experimentais são apresentadas na Figura A2.

Figura A2 – Formas de ondas experimentais

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