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PAULA. Andréa Maria Narciso Rocha de. do sertão, viver nele: as migrações
Sair do sertão, viver nele: as migrações sertanejas”, de Andréa Maria Narciso Rocha
sertanejas. Travessia: revista do migrante,
n.72, jan-jun, p. 55-72, 2013. de Paula.
O título do artigo, assim como a
migratórios apontam que as migrações devem referência a obra de João Guimarães Rosa,
ser entendidas como um fenômeno complexo, “Grande sertão: veredas”. Em sua tese de
Hallewell (2004), entre outros. Não se pode pela densa descrição geográfica das cenas,
questões político-econômicas, mesmo que desenvolvida por Guimarães, que gera uma
(SAYAD, 1998), que modifica as pessoas e os Antropologia Rural, tendo como principais
identificar a complexidade dessas teias, suas A autora possui uma extensa e consistente
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O artigo publicado na Revista Travessia século XXI, as migrações intrarregionais no
em 2013, destinado a pesquisadores dos norte mineiro.
processos migratórios, em especial aos Ademais, uma das características
interessados nas migrações do e no “Nordeste distintivas do artigo é a escolha da autora em
expandido ” (considerando também o norte de
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caracterizar as implicações do período de
Minas Gerais) para o Sudeste, é um recorte de trânsito dos migrantes, ou seja, o artigo além
sua tese de doutorado da autora, publicada em de abordar os impactos do processo
2009, intitulada: “Travessias: movimentos migratório nos locais de origem e destino,
migratórios em comunidades rurais no Sertão dedica-se a entender e detalhar as
do Norte de Minas Gerais”. A tese parte do transformações que o fluxo migratório
objetivo de analisar e compreender, por meio ocasionou nas cidades que os migrantes
do processo migratório, a formação da passaram rumo ao Sudeste. Para isso, a autora
identidade rural e as estratégias de reprodução aborda os meios de transportes utilizados,
camponesa dos migrantes que retornaram, bem como sua modificação ao longo dos anos,
mas também dos que ficaram em seu local de as condições da viagem, as etapas até a
origem (PAULA, 2009). chegada a São Paulo, a triagem, as migrações
Em oposição a esses objetivos centrais, de retorno e as alterações na paisagem das
o artigo traz ao leitor cronologicamente as cidades da rota da migração, em especial
características, o contexto, desafios, Pirapora e Montes Claros, em Minas Gerais.
subjetividades e transformações das Mesmo sem divisões claras, é possível
migrações do e no norte de Minas Gerais. observar que o artigo se divide em duas partes.
Traçando um panorama histórico desde as Na primeira, a narrativa propicia o
últimas décadas do século XIX à primeira entendimento dos caminhos trilhados pelos
década do século XXI, a autora, por meio do migrantes até a chegada ao Sudeste - e suas
uso de relatos orais, fonte documental, adversidades-, a formação das cidades e os
estatística e bibliográfica, favorece o motivos de migrar. Já na segunda parte, a
entendimento dos fatores que induziram a narrativa preocupa-se em evidenciar as
migração para a região Sudeste, mencionando migrações na primeira década do século XXI,
a seca, a concentração de terras, o incentivo as migrações interestaduais e o fortalecimento
do Estado e também o entendimento de como das migrações intrarregionais, além de
se caracterizavam, na primeira década do
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a quantidade de migrantes que o norte de aplicando-as em outros grupos de migrantes,
Minas Gerais exportou a São Paulo, considerando diversos períodos de tempo e
porcentagem do fluxo de migrantes na estrada também o contexto atual. Por isso, o artigo é
Rio-Bahia e na estrada líquida, além de outros relevante para compreender as travessias, suas
indicadores que permitem a leitura desse implicações, transformações e as migrações
fenômeno pela ótica do fato social total. no e do norte de Minas Gerais até a primeira
O artigo aborda de forma sucinta o década do século XXI.
panorama do migrante já no destino, em São
Paulo, mesmo que discorra sobre a REFERÊNCIAS
marginalização dessa mão de obra nos últimos
MAGALHÃES, V. B. Nordestinos na Zona
anos do século XX. Contudo, ao tratar das Leste de São Paulo: subjetividade e redes de
migrações nas travessias, a autora evidencia a migrantes. Travessia: revista do migrante, n.
76, jan-jun, p.99-112, 2015.
relevância do artigo para o entendimento do
MENEZES, M. A. de. Família, juventude e
processo migratório fenômeno complexo,
migrações. Revista Anthropológicas, ano 16,
multidimensional e multifacetado, neste caso v. 23, n.1, p. 114-136, 2012.
abordando o período de trânsito e as novas MENEZES, M. A. de; HALLEWELL, L.
formas e destinos de migrar, já no início do Migration patterns of Paraiba peasants. Latin
American Perspectives, v. 31, n. 2, p. 112-
século XXI, mas sem se esquecer os agentes 134, mar, 2004.
responsáveis e implicantes nesse processo. PAULA. A. M. N. R. de. Sair do sertão, viver
Além dessas relevantes contribuições, o nele: as migrações sertanejas. Travessia:
revista do migrante, n.72, jan-jun, p. 55-72,
artigo também contribui para o entendimento
2013.
do perfil do migrante em 2003, que gostaria
PAULA. A. M. N. R. de. Travessias:
de retornar ao campo. Tal perspectiva, movimentos migratórios em comunidades
adicionada as migrações intrarregionais, a rurais no Sertão do Norte de Minas Gerais.
2009. 350 f. Tese (Doutorado em Geografia),
caracterização do migrante e as Instituto de Geografia, Universidade Federal
transformações dos territórios pelas de Uberlândia, Uberlândia, 2009.
migrações, destoa do adensado contingente de SAYAD, A. A imigração ou os paradoxos
da alteridade. São Paulo: Edusp, 1998.
pesquisas sobre migrações que somente se
debruçam nos temas Nordeste e Sudeste.
Sendo o artigo de Andréa um recorte de
sua pesquisa em 2013, entende-se que estudos
futuros poderiam se basear em sua
metodologia e análises, aprimorando e