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Documento: 2053442 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 20/05/2021 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.913.043 - RJ (2020/0162719-0)
RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
RECORRENTE : BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS
ADVOGADOS : CAIRO ROBERTO BITTAR HAMÚ SILVA JÚNIOR - DF017042
BENICIO PINTO PESSANHA JÚNIOR - RJ114885
DANIEL DE SOUZA VELLAME - RJ166863
RECORRIDO : PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL
S.A
ADVOGADO : ALEXANDRE FIDALGO - SP172650
RELATÓRIO
Em suas razões (fls. 788-831 e-STJ), o recorrente aponta violação dos arts. 7º,
369, 370, 373, 374, 435, 489, 493 e 1.022 do Código de Processo Civil de 2015; 87 da Lei nº
9.615/1998 (Lei Pelé); 132, IV, 209 e 210 da Lei nº 9.279/1996 (Lei da Propriedade Industrial);
2º do Decreto-Lei nº 4.567/1942 e 52, 187, 335, 927 e 953 do Código Civil de 2002.
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Superior Tribunal de Justiça
Sustenta a nulidade do acórdão proferido nos declaratórios, pois os vícios
indicados não foram sanados pela Corte local, acarretando a negativa de prestação
jurisdicional.
Assevera que a utilização de marca por terceiros não é aceita sem autorização de
seu titular, ofendendo inclusive norma de natureza constitucional.
Destaca que
"(...)
O art. 87 da Lei 9.615/38 (Lei Pelé), 'in verbis', ao estabelecer que
o símbolo e a denominação da entidade de prática desportiva são de
PROPRIEDADE EXCLUSIVA do Clube, permitindo o seu uso comercial,
DERROGOU o art. 132 da LPI no que tange a possibilidade de dispensa de
autorização para uso da marca, em se tratando de agremiações desportivas" (fl.
806 e-STJ).
É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.913.043 - RJ (2020/0162719-0)
EMENTA
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
Patrocínio no portal humorístico Porta dos Fundos.
1. Do histórico da demanda
“(...)
Em relação à preliminar de nulidade pelo cerceamento de defesa
ao indeferir a produção de prova documental e pericial, ressalta-se que a
flexibilidade hoje existente com relação à produção das provas nos processos em
geral decorre do entendimento dominante tanto na doutrina, como na
jurisprudência, de que o destinatário imediato da prova é o juiz, a quem compete
apreciar a conveniência e necessidade da realização de perícia, a juntada de
novos documentos, a tomada de depoimentos e outros meios probatórios. O juiz é
o verdadeiro receptor das provas, cabendo a ele rejeitar, de forma fundamentada,
a produção probatória inútil, protelatória ou desnecessária ao deslinde do feito.
Outra não é a dicção do art. 370 do CPC: caberá ao juiz, de ofício ou a
requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do
mérito. Parágrafo único: O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as
diligências inúteis ou meramente protelatórias.
No que se refere a alegação de nulidade por omissão, sanável em
sede recursal, na forma do artigo 1013, parágrafo 3º, III, da lei processual, cabe
ressaltar o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça ao interpretar o
inciso IV, do § 1º, do art. 489 do CPC, no sentido de que o julgador não está
obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já
tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição trazida
pelo art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a jurisprudência já sedimentada pelo
Colendo Superior Tribunal de Justiça, sendo dever do julgador apenas enfrentar
as questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão recorrida. (STJ,
EDcl no MS 21315 / DF, S1 – DJe 15/06/2016).
O mérito versa sobre dois valores constitucionais: a proteção à
honra objetiva de pessoas jurídica, no caso, entidade de prática desportiva, e a
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liberdade de expressão e de comunicação. Neste ponto, o artigo 220, § 1°, da
Constituição Federal, corroborando a garantia constitucional prevista no artigo 5º,
IV, dispõe que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição. Esta garantia não é absoluta
e deve se compatibilizar com outros direitos individuais, o que submete o material
de cunho humorístico a limites que impedem a violação da honra e da imagem de
terceiros. Para resolver colisões entre direitos fundamentais é preciso determinar
qual dos interesses conflitantes tem maior peso social em cada caso concreto,
aplicando a técnica da ponderação de interesses de modo a harmonizar os
direitos constitucionalmente em conflito.
Não é fácil delimitar as fronteiras entre o humor, ainda que
sarcástico, e o dano moral, cumprindo lembrar que o humor tem inegável
relevância coletiva na crítica política e nos costumes, dimensão que não pode ser
aqui desprezada. O vídeo denominado Patrocínio ironiza a quantidade de
anúncios de empresas de menor porte e menor visibilidade comercial
estampados na camisa do time de futebol do apelante, todavia, não se extrai
da peça humorística qualquer intenção de macular a sua reputação e, por
conseguinte, a sua marca, nem se pode atribuir-lhe a força de impedir um
patrocínio master.
A veiculação da imagem não possui conteúdo ofensivo direto ao
clube, daí porque dela não resulta 'in re ipsa' o dano que pretende ver
configurado o autor. No tocante à alegação de utilização indevida e não
autorizada da marca do apelante, impõe-se afirmar que, em que pese o artigo 87
da Lei 9615/1998 conceder propriedade exclusiva dos símbolos e da
denominação: a denominação e os símbolos de entidade de administração do
desporto ou prática desportiva, bem como o nome ou apelido desportivo do atleta
profissional, são de propriedade exclusiva dos mesmos, contando com a proteção
legal, válida para todo o território nacional, por tempo indeterminado, sem
necessidade de registro ou averbação no órgão competente, a menção em
programas televisivos e outras mídias é plenamente aceita, desde que a
reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique
a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos
legítimos interesses dos autores” (fls. 694-695 e-STJ).
No tocante à alegada violação dos arts. 489, § 1º, IV, 493 e 1.022 do CPC/2015,
agiu corretamente o Tribunal de origem ao rejeitar os embargos de declaração diante da
inexistência de omissão, obscuridade, contradição ou erro material, ficando patente, em
verdade, o intuito infringente da irresignação, que objetivava a reforma do julgado por via
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inadequada. Ademais, não significa omissão o fato de o aresto impugnado adotar fundamento
diverso daquele suscitado pelas partes.
Nesse sentido:
De acordo com o art. 370 do CPC/2015, cabe ao juiz decidir acerca dos
elementos necessários à formação de seu entendimento, pois, como destinatário final das
provas, é livre para determinar as necessárias ou indeferir as inúteis ou as protelatórias.
“(...)
Em relação a pretensa contradição paradoxal as provas
documentais devem ser juntadas pelo autor no momento da petição inicial,
na forma do artigo 434 do Código de Processo Civil, não tendo o demandante
justificado a juntada superveniente, artigo 435 do CPC, ou demonstrado sua
relação com fatos constitutivos dos interesses postulados. Da mesma forma, o
pleito de prova pericial não demonstra relevância em razão da premissa
controvertida, fazendo com que estes requerimentos fossem indeferidos,
lembrando que o destinatário imediato da prova é o juiz, a quem compete apreciar
a conveniência e necessidade da realização de perícia, juntada de novos
documentos, tomada de depoimentos e outros meios probatórios, conforme o art.
370 do CPC: caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as
provas necessárias ao julgamento do mérito. Parágrafo único: O juiz indeferirá,
em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
Ademais, a pleiteada prova pericial desejava quantificar o dano
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decorrente da alegação violação da marca cuja existência foi negada em
primeiro grau, tornando-a, assim, desnecessária. Cumpre, ainda, destacar, que
o próprio embargante afirma na petição recursal em análise que após alguns
meses após o ajuizamento da demanda o BOTAFOGO firmou contrato de
patrocínio master com a Caixa Econômica Federal (CEF), que também patrocina
o Clube de Regatas Flamengo, não se constatando qualquer abalo à marca.
A decisão embargada ponderou valores constitucionais de proteção
à honra objetiva de pessoas jurídica e entidades de prática desportiva e da
liberdade de expressão e de comunicação, realizando juízo de proporcionalidade
e de razoabilidade, concluindo que o vídeo denominado Patrocínio ironiza a
quantidade de anúncios de empresas de menor porte estampados na camisa do
time de futebol do apelante, o que não é exclusividade do recorrente, já que boa
parte dos times de futebol ostentam patrocínios na parte frontal, nas mangas e
nas costas da camisa, bem como no short, nos quais a parte abdominal da
camisa expõe o patrocínio master de maior expressão econômica e outros que
pagam cotas menores, não tendo o vídeo qualquer finalidade de crítica ou de
exposição degradante da marca BOTAFOGO, não ensejando, por consequência,
qualquer violação à Lei 9615/1998” (fl. 748 e-STJ – grifou-se).
Por sua vez, o recorrente alega que houve cerceamento de defesa em razão do
indeferimento de provas essenciais ao deslinde da controvérsia, especialmente no que se
refere à demonstração dos lucros auferidos pela recorrida e dos prejuízos causados pelo vídeo.
A propósito:
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crítica dos acontecimentos do mundo e do comportamento humano por meio do
humor, das charges, das paródias e das piadas, inclusive com a utilização de figuras de
linguagem para entreter o público e muitas vezes provocar risadas e ironias.
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publicidade estampada em camisa de times de futebol, principalmente de empresas e/ou
profissionais de menor expressão comercial e de pouca visibilidade no mercado nacional. Por
veicular mídia de conhecimento público e que continua disponível na internet, cabe transcrever
trechos do diálogo travado entre os atores representativos do Clube de Regatas do Flamengo e
do Botafogo de Futebol e Regatas:
“(...)
- Esse catálogo tá atualizado?
- Tá atualizado, cara!
- É liquidificador, 3 velocidades, R$ 79,90?
- É, liquidação louca da Casa & Vídeo, cara.
(...)
- Agora, se levar a camisa até uma loja, eles também estão
cobrindo o valor.
- Qual camisa? Essa?
- Essa mesma camisa.
- Pô, então troca comigo depois?
- Formou?
- Fechou! Fechou! Fechou!
(...)
- Você gosta de música, essas coisas?
- De violação, guitarra, essas coisas?
- Gosto!
- Aqui, Gilsinho da Guitarra”
(...)
- Vem cá, eu tô com um Opala 77, único dono. É só revisar o motor
que já tá funcionando.
- Quer vender?
- Quero.
- Eu queria... Tem como anunciar aqui, não?
- Fala com o Meireles, o nosso massagista” (disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=oz_aAlwfc1U&t=14s - Acesso em 5/2/2021 às
11h49).
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Botafogo, abrange a generalidade dos clubes brasileiros que utilizam essa forma de
captação de recursos financeiros por meio da divulgação de marcas, sem que se possa
falar em abalo moral aos times de futebol, tampouco ao recorrente.
Por outro lado, as razões recursais também invocam a ofensa ao art. 87 da Lei nº
9.615/1998 – denominada de Lei Pelé -, segundo o qual “A denominação e os símbolos de
entidade de administração do desporto ou prática desportiva, bem como o nome ou apelido
desportivo do atleta profissional, são de propriedade exclusiva dos mesmos, contando com a
proteção legal, válida para todo o território nacional (...)”.
5. Do dispositivo
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do advogado da parte recorrida, nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, observado o
benefício da gratuidade da justiça, se for o caso.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROGÉRIO DE PAIVA NAVARRO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS
ADVOGADOS : CAIRO ROBERTO BITTAR HAMÚ SILVA JÚNIOR - DF017042
BENICIO PINTO PESSANHA JÚNIOR - RJ114885
DANIEL DE SOUZA VELLAME - RJ166863
RODRIGO AGUIAR WANDERLEY - DF063050
RECORRIDO : PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL
S.A
ADVOGADO : ALEXANDRE FIDALGO - SP172650
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Moral - Direito de Imagem
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr. RODRIGO AGUIAR WANDERLEY, pela parte RECORRENTE: BOTAFOGO DE FUTEBOL
E REGATAS
Dr. ALEXANDRE FIDALGO, pela parte RECORRIDA: PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E
DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL S.A
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos
do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a).
Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Paulo de
Tarso Sanseverino (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.
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