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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.913.043 - RJ (2020/0162719-0)

RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


RECORRENTE : BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS
ADVOGADOS : CAIRO ROBERTO BITTAR HAMÚ SILVA JÚNIOR - DF017042
BENICIO PINTO PESSANHA JÚNIOR - RJ114885
DANIEL DE SOUZA VELLAME - RJ166863
RODRIGO AGUIAR WANDERLEY - DF063050
RECORRIDO : PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL
S.A
ADVOGADO : ALEXANDRE FIDALGO - SP172650
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DE IMAGEM. VÍDEO DE HUMOR.
PUBLICIDADE. CAMISA. TIME DE FUTEBOL. ART. 1.022 DO CPC/2015.
VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código
de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia a definir se houve (i) negativa de prestação
jurisdicional, (ii) cerceamento de defesa e (iii) existência de lesão moral e material
ao Botafogo de Futebol e Regatas decorrente da publicação do vídeo
denominado Patrocínio no portal humorístico Porta dos Fundos.
3. Não viola o art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015 o acórdão que
motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a
aplicação do direito que entendeu cabível à hipótese.
4. Inexiste cerceamento de defesa quando o julgador indefere pedido de
produção ou complementação de prova ao constatar haver nos autos elementos
suficientes ao seu convencimento. A reversão do entendimento adotado pelo
acórdão recorrido encontra óbice na Súmula nº 7/STJ.
5. A crítica humorística realizada sem excessos, com o intuito de trazer a lume
fatos a respeito da generalidade dos times de futebol, normalmente não provoca
a ofensa à imagem ou à reputação.
6. Na hipótese, a produção audiovisual objeto da demanda não teve o intuito de
vilipendiar a imagem, a reputação ou o símbolo do recorrente - Botafogo Futebol
e Regatas -, mas apenas de trazer, em tom humorístico, crítica e reflexão quanto
ao excesso de publicidade contida na totalidade (ou quase totalidade) das
camisas de times de futebol.
7. Recurso especial não provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a
Terceira Turma, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro,
Nancy Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 11 de maio de 2021(Data do Julgamento)

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


Relator

Documento: 2053442 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 20/05/2021 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.913.043 - RJ (2020/0162719-0)
RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
RECORRENTE : BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS
ADVOGADOS : CAIRO ROBERTO BITTAR HAMÚ SILVA JÚNIOR - DF017042
BENICIO PINTO PESSANHA JÚNIOR - RJ114885
DANIEL DE SOUZA VELLAME - RJ166863
RECORRIDO : PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL
S.A
ADVOGADO : ALEXANDRE FIDALGO - SP172650

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator): Trata-se


de recurso especial interposto por BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, fundamentado no
art. 105, III, "a", da Constituição Federal, contra o acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro assim ementado:

"APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E CONSTITUCIONAL. ALEGAÇÃO DE


VIOLAÇÃO À IMAGEM E MARCA DO APELADO COM PLEITO DE
INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. As
provas são direcionadas à formação do convencimento do juiz, na forma do artigo
370, do CPC. Peça de humor veiculada em mídia social que não causa mácula à
imagem da entidade desportiva apelante. O apelante não comprovou qualquer
prejuízo à marca e aos seus símbolos, não se desincumbindo do ônus probatório
previsto no artigo 373, I, do Código de Processo Civil. Precedentes deste
Tribunal. CONHECIMENTO e DESPROVIMENTO do recurso" (fl. 691 e-STJ).

Os embargos de declaração opostos pelo ora recorrente foram rejeitados e os da


ora recorrida foram acolhidos, nos termos da seguinte ementa:

"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL. ALEGAÇÃO DE


VIOLAÇÃO À IMAGEM E MARCA DO APELADO COM PLEITO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. RATIFICAÇÃO DA SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. Esquete de humor veiculado em mídia social que não causa
qualquer mácula à imagem da entidade desportiva embargante. Omissões e
contradições alegadas inexistentes, não ensejando qualquer reparo posto que o
embargante não comprovou a violação à marca e aos símbolos do apelante, que
podem ser veiculados em matérias jornalísticas e artísticas desde que não sejam
o objeto principal da peça e não causem qualquer prejuízo à imagem. Honorários
recursais que devem ser estipulados. CONHECIMENTO dos recursos, com
DESPROVIMENTO do BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS e PROVIMENTO
do recurso interposto por PORTA DOS FUNDOSPRODUTORA E
DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL LTDA" (fl. 745 e-STJ).

Em suas razões (fls. 788-831 e-STJ), o recorrente aponta violação dos arts. 7º,
369, 370, 373, 374, 435, 489, 493 e 1.022 do Código de Processo Civil de 2015; 87 da Lei nº
9.615/1998 (Lei Pelé); 132, IV, 209 e 210 da Lei nº 9.279/1996 (Lei da Propriedade Industrial);
2º do Decreto-Lei nº 4.567/1942 e 52, 187, 335, 927 e 953 do Código Civil de 2002.
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Sustenta a nulidade do acórdão proferido nos declaratórios, pois os vícios
indicados não foram sanados pela Corte local, acarretando a negativa de prestação
jurisdicional.

Defende a ocorrência de cerceamento de defesa devido ao indeferimento de


provas essenciais ao deslinde da controvérsia, especialmente no que se refere à demonstração
dos lucros auferidos pelo agravado e dos prejuízos suportados pelo agravante com o vídeo
objeto da lide.

Assevera que a utilização de marca por terceiros não é aceita sem autorização de
seu titular, ofendendo inclusive norma de natureza constitucional.

Acrescenta que a possibilidade de citar marca em obra intelectual não


compreende a faculdade de utilizar, mas apenas de fazer mera referência. Nesse aspecto,
pondera que "o Porta dos Fundos serviu-se da marca, estampada no uniforme oficial do
Botafogo, na produção de sua obra audiovisual, com nítido intuito comercial, o que não está
autorizado na regra do art. 132, IV, da LPI" (fl 803 e-STJ).

Destaca que

"(...)
O art. 87 da Lei 9.615/38 (Lei Pelé), 'in verbis', ao estabelecer que
o símbolo e a denominação da entidade de prática desportiva são de
PROPRIEDADE EXCLUSIVA do Clube, permitindo o seu uso comercial,
DERROGOU o art. 132 da LPI no que tange a possibilidade de dispensa de
autorização para uso da marca, em se tratando de agremiações desportivas" (fl.
806 e-STJ).

Argui a caracterização de danos morais diante do abusivo direito à liberdade de


expressão ao argumento de que, "da simples observância do vídeo lançado pelo Porta dos
Fundos, nota-se que ao Botafogo foi atribuída a condição de clube de somenos importância,
vulgarizando o seu uniforme como se um catálogo de preços fosse" (fl. 814 e-STJ).

Após a apresentação das contrarrazões (fls. 898-945 e-STJ), o apelo foi


inadmitido na origem, sobrevindo daí o agravo (fls. 1.031-1.083 e-STJ), o qual foi provido para
melhor exame da controvérsia.

É o relatório.

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EMENTA

RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DE IMAGEM. VÍDEO DE HUMOR.


PUBLICIDADE. CAMISA. TIME DE FUTEBOL. ART. 1.022 DO CPC/2015.
VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código
de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia a definir se houve (i) negativa de prestação
jurisdicional, (ii) cerceamento de defesa e (iii) existência de lesão moral e material
ao Botafogo de Futebol e Regatas decorrente da publicação do vídeo
denominado Patrocínio no portal humorístico Porta dos Fundos.
3. Não viola o art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015 o acórdão que
motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a
aplicação do direito que entendeu cabível à hipótese.
4. Inexiste cerceamento de defesa quando o julgador indefere pedido de
produção ou complementação de prova ao constatar haver nos autos elementos
suficientes ao seu convencimento. A reversão do entendimento adotado pelo
acórdão recorrido encontra óbice na Súmula nº 7/STJ.
5. A crítica humorística realizada sem excessos, com o intuito de trazer a lume
fatos a respeito da generalidade dos times de futebol, normalmente não provoca
a ofensa à imagem ou à reputação.
6. Na hipótese, a produção audiovisual objeto da demanda não teve o intuito de
vilipendiar a imagem, a reputação ou o símbolo do recorrente - Botafogo Futebol
e Regatas -, mas apenas de trazer, em tom humorístico, crítica e reflexão quanto
ao excesso de publicidade contida na totalidade (ou quase totalidade) das
camisas de times de futebol.
7. Recurso especial não provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator): O acórdão


impugnado pelo recurso especial foi publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015
(Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

A irresignação não merece prosperar.

Cinge-se a controvérsia a definir se houve (i) negativa de prestação


jurisdicional, (ii) cerceamento de defesa e (iii) existência de lesão moral e material ao
Botafogo de Futebol e Regatas decorrente da publicação do vídeo denominado

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Patrocínio no portal humorístico Porta dos Fundos.

1. Do histórico da demanda

Na origem, Botafogo de Futebol e Regatas (ora recorrente) ajuizou ação


indenizatória contra Porta dos Fundos Produtora e Distribuidora Audiovisual S.A. (ora recorrida)
postulando o ressarcimento por danos morais em valor a ser arbitrado pelo Juízo e o
pagamento de lucros cessantes devido à utilização não autorizada da marca Botafogo e à
violação do direito de exclusividade no uso dos elementos identificativos do clube (fls. 4-22
e-STJ).

O magistrado de piso julgou improcedentes os pedidos formulados por entender


que os “vídeos de humor em questão tem o objetivo de crítica e reflexão acerca dos
mecanismos de marketing desenvolvido pelos times de futebol, não tendo sido demonstrado o
objetivo de publicidade direcionada ao time” (fls. 593-596 e-STJ).

Interposta apelação (fls. 608-635 e-STJ), o Tribunal de origem negou provimento


ao recurso com base nos seguintes fundamentos:

“(...)
Em relação à preliminar de nulidade pelo cerceamento de defesa
ao indeferir a produção de prova documental e pericial, ressalta-se que a
flexibilidade hoje existente com relação à produção das provas nos processos em
geral decorre do entendimento dominante tanto na doutrina, como na
jurisprudência, de que o destinatário imediato da prova é o juiz, a quem compete
apreciar a conveniência e necessidade da realização de perícia, a juntada de
novos documentos, a tomada de depoimentos e outros meios probatórios. O juiz é
o verdadeiro receptor das provas, cabendo a ele rejeitar, de forma fundamentada,
a produção probatória inútil, protelatória ou desnecessária ao deslinde do feito.
Outra não é a dicção do art. 370 do CPC: caberá ao juiz, de ofício ou a
requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do
mérito. Parágrafo único: O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as
diligências inúteis ou meramente protelatórias.
No que se refere a alegação de nulidade por omissão, sanável em
sede recursal, na forma do artigo 1013, parágrafo 3º, III, da lei processual, cabe
ressaltar o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça ao interpretar o
inciso IV, do § 1º, do art. 489 do CPC, no sentido de que o julgador não está
obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já
tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição trazida
pelo art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a jurisprudência já sedimentada pelo
Colendo Superior Tribunal de Justiça, sendo dever do julgador apenas enfrentar
as questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão recorrida. (STJ,
EDcl no MS 21315 / DF, S1 – DJe 15/06/2016).
O mérito versa sobre dois valores constitucionais: a proteção à
honra objetiva de pessoas jurídica, no caso, entidade de prática desportiva, e a
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liberdade de expressão e de comunicação. Neste ponto, o artigo 220, § 1°, da
Constituição Federal, corroborando a garantia constitucional prevista no artigo 5º,
IV, dispõe que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição. Esta garantia não é absoluta
e deve se compatibilizar com outros direitos individuais, o que submete o material
de cunho humorístico a limites que impedem a violação da honra e da imagem de
terceiros. Para resolver colisões entre direitos fundamentais é preciso determinar
qual dos interesses conflitantes tem maior peso social em cada caso concreto,
aplicando a técnica da ponderação de interesses de modo a harmonizar os
direitos constitucionalmente em conflito.
Não é fácil delimitar as fronteiras entre o humor, ainda que
sarcástico, e o dano moral, cumprindo lembrar que o humor tem inegável
relevância coletiva na crítica política e nos costumes, dimensão que não pode ser
aqui desprezada. O vídeo denominado Patrocínio ironiza a quantidade de
anúncios de empresas de menor porte e menor visibilidade comercial
estampados na camisa do time de futebol do apelante, todavia, não se extrai
da peça humorística qualquer intenção de macular a sua reputação e, por
conseguinte, a sua marca, nem se pode atribuir-lhe a força de impedir um
patrocínio master.
A veiculação da imagem não possui conteúdo ofensivo direto ao
clube, daí porque dela não resulta 'in re ipsa' o dano que pretende ver
configurado o autor. No tocante à alegação de utilização indevida e não
autorizada da marca do apelante, impõe-se afirmar que, em que pese o artigo 87
da Lei 9615/1998 conceder propriedade exclusiva dos símbolos e da
denominação: a denominação e os símbolos de entidade de administração do
desporto ou prática desportiva, bem como o nome ou apelido desportivo do atleta
profissional, são de propriedade exclusiva dos mesmos, contando com a proteção
legal, válida para todo o território nacional, por tempo indeterminado, sem
necessidade de registro ou averbação no órgão competente, a menção em
programas televisivos e outras mídias é plenamente aceita, desde que a
reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique
a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos
legítimos interesses dos autores” (fls. 694-695 e-STJ).

Os embargos de declaração opostos (fls. 708-719 e-STJ) foram rejeitados (fls.


745-749 e-STJ).

Feitos esses esclarecimentos, passa-se à análise do recurso especial.

2. Da inexistência de negativa de prestação jurisdicional

No tocante à alegada violação dos arts. 489, § 1º, IV, 493 e 1.022 do CPC/2015,
agiu corretamente o Tribunal de origem ao rejeitar os embargos de declaração diante da
inexistência de omissão, obscuridade, contradição ou erro material, ficando patente, em
verdade, o intuito infringente da irresignação, que objetivava a reforma do julgado por via

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inadequada. Ademais, não significa omissão o fato de o aresto impugnado adotar fundamento
diverso daquele suscitado pelas partes.

No caso, o aresto recorrido destacou os motivos suficientes para manter a


sentença de improcedência dos pedidos e, por conseguinte, concluiu pela inexistência de
violação do símbolo do Botafogo em decorrência da divulgação de peça de humor veiculada em
mídia social. Dessa forma, não há falar em negativa de prestação jurisdicional.

Nesse sentido:

"PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. PRECATÓRIO. ACORDO HOMOLOGADO


PELO JUIZ DA CENTRAL DE CONCILIAÇÃO (CEPREC). INTERPRETAÇÃO
RESTRITIVA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC/73. NÃO OCORRÊNCIA.
REVISÃO DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
I - Não havendo, no acórdão recorrido, omissão, obscuridade ou contradição, não
fica caracterizada ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil de 1973. (...)
III - Agravo interno improvido."
(AgInt no REsp 1.659.253/MG, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 21/11/2017, DJe 27/11/2017)

3. Da ausência de cerceamento de defesa

De acordo com o art. 370 do CPC/2015, cabe ao juiz decidir acerca dos
elementos necessários à formação de seu entendimento, pois, como destinatário final das
provas, é livre para determinar as necessárias ou indeferir as inúteis ou as protelatórias.

Com efeito, inexiste cerceamento de defesa quando o julgador indefere pedido de


produção ou complementação de prova ao constatar haver nos autos a elementos suficientes
para seu convencimento.

No caso, o acórdão recorrido assim dispôs:

“(...)
Em relação a pretensa contradição paradoxal as provas
documentais devem ser juntadas pelo autor no momento da petição inicial,
na forma do artigo 434 do Código de Processo Civil, não tendo o demandante
justificado a juntada superveniente, artigo 435 do CPC, ou demonstrado sua
relação com fatos constitutivos dos interesses postulados. Da mesma forma, o
pleito de prova pericial não demonstra relevância em razão da premissa
controvertida, fazendo com que estes requerimentos fossem indeferidos,
lembrando que o destinatário imediato da prova é o juiz, a quem compete apreciar
a conveniência e necessidade da realização de perícia, juntada de novos
documentos, tomada de depoimentos e outros meios probatórios, conforme o art.
370 do CPC: caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as
provas necessárias ao julgamento do mérito. Parágrafo único: O juiz indeferirá,
em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
Ademais, a pleiteada prova pericial desejava quantificar o dano
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decorrente da alegação violação da marca cuja existência foi negada em
primeiro grau, tornando-a, assim, desnecessária. Cumpre, ainda, destacar, que
o próprio embargante afirma na petição recursal em análise que após alguns
meses após o ajuizamento da demanda o BOTAFOGO firmou contrato de
patrocínio master com a Caixa Econômica Federal (CEF), que também patrocina
o Clube de Regatas Flamengo, não se constatando qualquer abalo à marca.
A decisão embargada ponderou valores constitucionais de proteção
à honra objetiva de pessoas jurídica e entidades de prática desportiva e da
liberdade de expressão e de comunicação, realizando juízo de proporcionalidade
e de razoabilidade, concluindo que o vídeo denominado Patrocínio ironiza a
quantidade de anúncios de empresas de menor porte estampados na camisa do
time de futebol do apelante, o que não é exclusividade do recorrente, já que boa
parte dos times de futebol ostentam patrocínios na parte frontal, nas mangas e
nas costas da camisa, bem como no short, nos quais a parte abdominal da
camisa expõe o patrocínio master de maior expressão econômica e outros que
pagam cotas menores, não tendo o vídeo qualquer finalidade de crítica ou de
exposição degradante da marca BOTAFOGO, não ensejando, por consequência,
qualquer violação à Lei 9615/1998” (fl. 748 e-STJ – grifou-se).

Conforme se observa do trecho supratranscrito, o Tribunal local assentou a


desnecessidade da prova pericial porque visava quantificar o dano que sequer
existiu, bem como pelo fato de não ter sido demonstrada a relação dos documentos,
inclusive juntados tardiamente, com os fatos constitutivos dos interesses postulados.
Assentou, ainda, que o pleito da prova técnica não apresenta relevância no tocante à
premissa controvertida.

Por sua vez, o recorrente alega que houve cerceamento de defesa em razão do
indeferimento de provas essenciais ao deslinde da controvérsia, especialmente no que se
refere à demonstração dos lucros auferidos pela recorrida e dos prejuízos causados pelo vídeo.

Nesse contexto, a conclusão da Corte local decorreu inquestionavelmente da


análise do conjunto fático-probatório carreado aos autos. Portanto, o acolhimento da pretensão
recursal, nos termos em que posta, demandaria o reexame de matéria fática e das demais
provas constantes dos autos, procedimento inviável em recurso especial, consoante óbice da
Súmula nº 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial".

A propósito:

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO


CONDENATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO
RECLAMO. INSURGÊNCIA DO AUTOR.
1. O Tribunal a quo, com base no conjunto fático e probatório carreado aos
autos, afastou a alegação de cerceamento de defesa, por considerar suficientes
as provas acostadas aos autos, bem como entendeu que o episódio narrado nos
autos causou incômodos, mas não gerou dano de natureza moral.
2. A alteração de tais conclusões demanda a incursão nas questões de fato e de
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prova dos autos, inadmissível por esta via especial, ante o óbice da Súmula 7 do
STJ.
3. Agravo interno desprovido”.
(AgInt no AREsp 1.718.510/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA,
julgado em 15/12/2020, DJe 18/12/2020)

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE


TELEFONIA MÓVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSENTE.
NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ.
1. 'No que se refere à aplicação do disposto no art. 1.042, § 5º, do CPC/2015,
não merece acolhimento, tendo em vista que os arts. 932, IV e V, do CPC/2015;
255, § 4º, do RISTJ; e enunciado n. 568 da Súmula do STJ permitem ao relator
decidir monocraticamente o recurso, quando amparado em jurisprudência
dominante ou Súmula de Tribunal Superior, como no caso dos autos.' (AgInt no
AREsp 1435896/PE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 25/11/2019, DJe 29/11/2019).
2. Não há negativa de prestação jurisdicional quando as questões fundamentais
ao deslinde da controvérsia foram apreciadas de forma coerente e fundamentada
pelo Tribunal estadual, não consubstanciando qualquer eiva ao art. 1.022 do CPC
a tomada de posição contrária ao interesse da parte.
3. Conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não há
cerceamento de defesa quando o julgador considera desnecessária a produção
de prova ou suficientes as já produzidas.
4. A Corte local concluiu que o julgamento antecipado não caracterizou
cerceamento de defesa, uma vez que a prova colacionada aos autos era
suficiente para a convicção do magistrado sentenciante. A alteração da conclusão
do acórdão recorrido encontra óbice na Súmula 7 do STJ.
5. Agravo interno não provido”.
(AgInt no AREsp 1.283.345/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 15/12/2020, DJe 18/12/2020)

4. Da ausência de lesão ao Botafogo de Futebol e Regatas

O recorrente alega a impossibilidade de utilização de marca por terceiros sem


autorização de seu titular e a ocorrência de abalo moral e material diante do abusivo direito à
liberdade de expressão ao argumento de que, "da simples observância do vídeo lançado pelo
Porta dos Fundos, nota-se que ao Botafogo foi atribuída a condição de clube de somenos
importância, vulgarizando o seu uniforme como se um catálogo de preços fosse" (fl. 814 e-STJ).

A controvérsia envolve o aparente conflito entre a liberdade de expressão,


prevista nos arts. 5º, IV, IX e XIV, e 220 da Constituição Federal, e o direito de proteção à
imagem e à marca (art. 5º, X, e XXI, da CF/1988). Todavia, como nenhum direito fundamental é
absoluto, a eventual antinomia deve ser resolvida à luz do juízo de ponderação entre os
interesses em conflito.

A liberdade de manifestação do pensamento também engloba a reflexão

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crítica dos acontecimentos do mundo e do comportamento humano por meio do
humor, das charges, das paródias e das piadas, inclusive com a utilização de figuras de
linguagem para entreter o público e muitas vezes provocar risadas e ironias.

Nessa linha de intelecção, o Supremo Tribunal Federal concluiu que o direito


fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões
supostamente verdadeiras, mas igualmente aquelas que são duvidosas, exageradas,
condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pela maioria das
pessoas. Eis, por oportuno, a ementa do referido julgado:

"LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO DE IDEIAS. VALORES


ESTRUTURANTES DO SISTEMA DEMOCRÁTICO. INCONSTITUCIONALIDADE
DE DISPOSITIVOS NORMATIVOS QUE ESTABELECEM PREVIA INGERÊNCIA
ESTATAL NO DIREITO DE CRITICAR DURANTE O PROCESSO ELEITORAL.
PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AS MANIFESTAÇÕES DE OPINIÕES DOS
MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A LIBERDADE DE CRIAÇÃO HUMORISTICA.
1. A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a
liberdade de expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao
pluralismo de ideias, que por sua vez é um valor estruturante para o salutar
funcionamento do sistema democrático.
2. A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão
interligados com a liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a
proteção de pensamentos e ideias, mas também opiniões, crenças, realização de
juízo de valor e críticas a agentes públicos, no sentido de garantir a real
participação dos cidadãos na vida coletiva.
3. São inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de
controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao
regime democrático. Impossibilidade de restrição, subordinação ou forçosa
adequação programática da liberdade de expressão a mandamentos normativos
cerceadores durante o período eleitoral.
4. Tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma
Democracia representativa somente se fortalecem em um ambiente de total
visibilidade e possibilidade de exposição crítica das mais variadas opiniões sobre
os governantes.
5. O direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente
a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou
convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas,
condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pelas
maiorias. Ressalte-se que, mesmo as declarações errôneas, estão sob a
guarda dessa garantia constitucional.
6. Ação procedente para declarar a inconstitucionalidade dos incisos II e III (na
parte impugnada) do artigo 45 da Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento,
dos parágrafos 4º e 5º do referido artigo".
(ADI 4451, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
21/6/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-044 DIVULG 1º-3-2019 PUBLIC
6-3-2019 - grifou-se)

Na hipótese, o vídeo em discussão denominado Patrocínio critica a quantidade de

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publicidade estampada em camisa de times de futebol, principalmente de empresas e/ou
profissionais de menor expressão comercial e de pouca visibilidade no mercado nacional. Por
veicular mídia de conhecimento público e que continua disponível na internet, cabe transcrever
trechos do diálogo travado entre os atores representativos do Clube de Regatas do Flamengo e
do Botafogo de Futebol e Regatas:

“(...)
- Esse catálogo tá atualizado?
- Tá atualizado, cara!
- É liquidificador, 3 velocidades, R$ 79,90?
- É, liquidação louca da Casa & Vídeo, cara.
(...)
- Agora, se levar a camisa até uma loja, eles também estão
cobrindo o valor.
- Qual camisa? Essa?
- Essa mesma camisa.
- Pô, então troca comigo depois?
- Formou?
- Fechou! Fechou! Fechou!
(...)
- Você gosta de música, essas coisas?
- De violação, guitarra, essas coisas?
- Gosto!
- Aqui, Gilsinho da Guitarra”
(...)
- Vem cá, eu tô com um Opala 77, único dono. É só revisar o motor
que já tá funcionando.
- Quer vender?
- Quero.
- Eu queria... Tem como anunciar aqui, não?
- Fala com o Meireles, o nosso massagista” (disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=oz_aAlwfc1U&t=14s - Acesso em 5/2/2021 às
11h49).

Com efeito, a expressão “esse catálogo está atualizado” denota especificamente


o número de anúncios em camisas de time de futebol, enquanto a promoção comercial de
“Gilsinho da Guitarra” e de “aluga-se imóvel” reforçam a propaganda de empresas ou de
profissionais de pouca expressão empresarial. Ademais, no desenrolar da conversa, o jogador
do Flamengo pergunta quanto à possibilidade de anunciar um veículo Opala 77, de um único
dono, na camisa do Botafogo, novamente fazendo referência à publicidade de menor valor
comercial.

É comum, no futebol brasileiro e internacional, não só a publicidade em camisas


de times, mas igualmente em shorts e meias, inclusive com patrocínios em maior destaque que
outros. Assim, a crítica engendrada em tom de humor, apesar de fazer referência ao

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Botafogo, abrange a generalidade dos clubes brasileiros que utilizam essa forma de
captação de recursos financeiros por meio da divulgação de marcas, sem que se possa
falar em abalo moral aos times de futebol, tampouco ao recorrente.

De fato, a referida produção audiovisual não teve o intuito de vilipendiar a


imagem, a reputação ou o símbolo do Botafogo, mas apenas de trazer, em tom
humorístico, crítica e reflexão quanto ao excesso de publicidade contida nas camisas
de times de futebol. Ou seja, inexistiram os alegados danos de ordem moral ao ora recorrente
e, nessa escala de ponderação de interesses – liberdade de expressão e de propriedade
exclusiva de símbolos desportivos -, não há falar em prevalência de um sobre o outro, mas da
própria inexistência de conflito.

Em caso análogo, a Terceira Turma desta Corte Superior considerou não


haver danos morais no caso em que a crítica foi realizada de forma genérica por
revista humorística, ou seja, a publicação objeto do litígio não teve a intenção de atingir
especificamente um pessoa. Eis, por oportuno, a ementa do julgado:

"Civil. Ação de compensação por danos morais. Revista humorística. Matéria


satírica que teria maculado a honra de antepassado das recorrentes. Crítica
social que transcende a memória do suposto ofendido para analisar, por meio da
comparação jocosa, tendência cultural de grande repercussão no país.
- Dentro do que se entende por exercício da atividade humorística, a matéria não
teve por objetivo a crítica pessoal ao antepassado das recorrentes, mas a sátira
de certos costumes modernos que ganharam relevância e que são veiculados,
hodiernamente, por mais de uma publicação nacional de grande circulação.
- O 'mote' supostamente lesivo, ademais, foi atribuído ao domínio público.
- A conduta praticada não carrega a necessária potencialidade lesiva, seja
porque carecedora da menor seriedade a suposta ofensa praticada, seja
porque nada houve para além de uma crítica genérica de tendências
culturais, esta usando a suposta injúria como mera alegoria.
- Não cabe aos Tribunais dizer se o humor praticado é 'popular' ou 'inteligente',
porquanto à crítica artística não se destina o exercício da atividade jurisdicional.
Recurso especial não conhecido".
(REsp 736.015/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 16/6/2005, DJ 1º/7/2005 - grifou-se)

Ainda que o vídeo se destinasse a criticar exclusivamente a camisa do


Botafogo, a apresentação humorística não contém elementos capazes de provocar
descrédito ao clube simplesmente pela satirização decorrente do número de patrocinadores
em sua camisa. Além disso, conforme assentado na sentença e no acórdão, não ficou
"demonstrado o objetivo de publicidade negativa direcionada ao clube" (fl. 595 e-STJ) e "a
veiculação da imagem não possui conteúdo ofensivo direto ao clube, daí porque não dela não
resulta 'in re ipsa' o dano que pretender ver configurado o autor" (fl. 695 e-STJ).
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Isso porque a conduta da recorrida - Porta dos Fundos - não teve o
condão de realizar propaganda negativa do Botafogo, nem a intenção de prejudicar a
realização de futuros contratos com eventuais patrocinadores, mas apenas, repita-se,
de mostrar em tom satírico e de humor a quantidade de propagandas em camisas de
time de futebol. É o que se verifica das provas coligidas aos autos e das conclusões das
instâncias ordinárias acerca da inexistência de prejuízo de ordem material e moral.

Por outro lado, as razões recursais também invocam a ofensa ao art. 87 da Lei nº
9.615/1998 – denominada de Lei Pelé -, segundo o qual “A denominação e os símbolos de
entidade de administração do desporto ou prática desportiva, bem como o nome ou apelido
desportivo do atleta profissional, são de propriedade exclusiva dos mesmos, contando com a
proteção legal, válida para todo o território nacional (...)”.

Aduzem, ainda, interpretação equivocada do art. 132, IV, da Lei nº 9.279/1996,


que dispõe acerca da impossibilidade do titular da marca de “impedir a citação da marca em
discurso, obra científica ou literária ou qualquer outra publicação, desde que sem conotação
comercial e sem prejuízo para seu caráter distintivo”.

A par da propriedade exclusiva da denominação e dos símbolos de


entidade de administração de prática desportiva, nada impede, em tese, a sua
veiculação em programas televisivos e em mídias sociais, desde que não fique
caracterizado o efetivo prejuízo moral ou material. Com isso, é válido ressaltar que, ao
contrário da alegação do recorrente, o art. 132, IV, da LPI não derrogou o art. 87 da Lei Pelé,
sendo normas que se complementam no sistema de proteção aos símbolos de times de futebol.

Nesse contexto, o acórdão recorrido assentou a inexistência de prejuízo material


à recorrente nos seguintes termos: “(...) o próprio embargante afirma (...) que após alguns
meses após o ajuizamento da demanda o BOTAFOGO firmou contrato de patrocínio master
com a Caixa Econômica Federal, que também patrocina o Clube de Regatas Flamengo, não
se constatando qualquer abalo à marca” (fl. 748 e-STJ).

5. Do dispositivo

Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.

Na origem, os honorários sucumbenciais foram fixados em 12% (doze por cento)


sobre o valor da causa, os quais devem ser majorados para 14% (quatorze por cento) em favor

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do advogado da parte recorrida, nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, observado o
benefício da gratuidade da justiça, se for o caso.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2020/0162719-0 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.913.043 / RJ

Números Origem: 0418610-21.2015.8.19.0001 04186102120158190001 201924511599 4186102120158190001

PAUTA: 11/05/2021 JULGADO: 11/05/2021

Relator
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROGÉRIO DE PAIVA NAVARRO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS
ADVOGADOS : CAIRO ROBERTO BITTAR HAMÚ SILVA JÚNIOR - DF017042
BENICIO PINTO PESSANHA JÚNIOR - RJ114885
DANIEL DE SOUZA VELLAME - RJ166863
RODRIGO AGUIAR WANDERLEY - DF063050
RECORRIDO : PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL
S.A
ADVOGADO : ALEXANDRE FIDALGO - SP172650

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Moral - Direito de Imagem

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr. RODRIGO AGUIAR WANDERLEY, pela parte RECORRENTE: BOTAFOGO DE FUTEBOL
E REGATAS
Dr. ALEXANDRE FIDALGO, pela parte RECORRIDA: PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E
DISTRIBUIDORA AUDIOVISUAL S.A

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos
do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a).
Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Paulo de
Tarso Sanseverino (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.

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