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A CONCEPÇÃO SOBRE A FAMÍLIA

NA GERIATRIA E NA
GERONTOLOGIA BRASILEIRAS:
ecos dos dilemas da
multidisciplinaridade *

Simoni Lahud Guedes

É que a medicina oferece ao homem moderno a construção de saberes que são legitimados, muitas
face obstinada e tranqüilizante de sua finitude; vezes exclusivamente, como uma resposta aos
nela, a morte é reafirmada, mas, ao mesmo
problemas decorrentes do prolongamento da vida
tempo, conjurada; e se ela anuncia sem trégua
ao homem o limite que ele traz em si, fala-lhe das populações de diversos países. Resposta, pri-
também deste mundo técnico, que é a forma meiro, aos problemas orgânicos, constituindo-se
armada, positiva e plena de sua finitude. Os os saberes englobados na disciplina médica Geria-
gestos, as palavras, os olhares médicos tomaram, tria, e, logo após, uma resposta que se pretende
a partir deste momento, uma densidade mais totalizante, com a criação de um campo
filosófica comparável talvez a que tivera antes o
multidisciplinar, a Gerontologia.
pensamento matemático. A importância de
Bichat, de Jackson e de Freud na cultura A exibição da “nova realidade” do fenômeno
européia não prova que eles eram tanto filósofos do prolongamento da vida em estatísticas incontes-
quanto médicos, mas que nesta cultura o táveis é o ponto de partida implícito ou explícito
pensamento médico implica de pleno direito o que estabelece como resultado a constituição
estatuto filosófico do homem.
destes campos de saber, além de estabelecer, de
(Foucault, 1977a, p. 228)
imediato, a relevância científica do recorte opera-

A constatação de que, nas últimas décadas,


* Este artigo é um dos produtos da pesquisa “Saberes
nas sociedades ocidentais modernas, a velhice foi
coletivos e categorias etárias entre trabalhadores urba-
colocada em foco — sendo designada, rotulada, nos”, que venho desenvolvendo no Programa de Pós-
examinada, classificada, dividida, subvidividida, Graduação em Antropologia e Ciência Política e no
negada, afirmada, recomposta, reinventada — e Departamento de Antropologia da Universidade Federal
Fluminense, apoiada pelo CNPq. O trabalho foi original-
transformada em um problema social recortou, mente apresentado no GT Pessoa, Corpo e Doença, no
também, no mesmo movimento, os contornos XXIII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, outu-
imprecisos de sua entrada múltipla no mundo bro de 1999. Agradeço os comentários dos participantes
do GT, em especial das coordenadoras Jane Russo e
acadêmico, como temática de diversas disciplinas. Ondina F. Leal e dos debatedores Madel T. Luz e Luiz
A autonomização da velhice como objeto preside a Fernando Dias Duarte.

RBCS Vol. 15 no 43 junho/2000


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do ou assumido. Esta postura, obscurecendo o fato revestem e pelas formas através das quais se
de que este é um recorte socialmente produzido, realizam, inclusive gerenciando, direta e indireta-
como o têm revelado os cientistas sociais, particu- mente, distintos recursos estatais. Isto permite su-
larmente os antropólogos,1 obscurece também o por que as concepções que as presidem, expressas
fato de que o surgimento dos saberes e de seu nas suas realizações institucionais, disponham da
objeto é simultâneo. Mais precisamente, obscurece virtualidade de sobrepor-se a outras ou, ao menos,
o processo dialético de produção de sujeitos espe- de conter espaço simbólico significante bastante
cíficos que é empreendido neste movimento e, no para incorporar e processar parcialmente significa-
interior deste processo, o lugar instituinte ocupado dos mais específicos que se produzem na socieda-
pela partição e recomposição científica dos sabe- de. Não é irrelevante o fato de os projetos de
res. 2 atuação da Geriatria e da Gerontologia serem de
O objetivo deste artigo é realizar um mapea- abrangência universal (por mais que sejam infleti-
mento preliminar de alguns pressupostos orienta- dos pelas condições socioculturais específicas em
dores do discurso e da prática de geriatras e que se realizem) e, por isso, produzirem discursos
gerontólogos brasileiros que se evidenciam na e práticas que visam atingir a todos os segmentos
análise do material empírico produzido no interior sociais. Muito mais do que todas as ordenações
de um projeto mais amplo sobre categorias etárias, simbólicas que, pelas virtudes da naturalização,
particularmente sobre a temática recorrente da explicam e interpretam o mundo mas não buscam,
“família”. A partir das questões estabelecidas por necessariamente, romper as fronteiras do seu
Guita Debert (em especial, 1998a) em sua reflexão mundo, tais projetos caracterizam-se pela insepa-
pioneira sobre a velhice no Brasil de uma perspec- rabilidade entre a produção de sentido e a inter-
tiva antropológica, pretendo delinear alguns dos venção, numa espécie de proselitismo moderno,
contornos não explicitados de um modelo de fundamental, como se verá, na concepção tanto da
velhice que vem sendo construído nestas discipli- Geriatria quanto da Gerontologia.
nas, no qual se encontra embutido o projeto de Tais características trazem ao escopo deste
construção de determinados sujeitos. trabalho algumas das questões incluídas no amplo
Não se trata, aqui, de examinar a eficácia conjunto de problemáticas relativas à natureza das
deste empreendimento ou a relação substantiva sociedades complexas modernas que, na Antropo-
deste modelo de velhice com outros existentes na logia brasileira, vem sendo examinado por Gilber-
sociedade (ou com a sua ausência como marca to Velho em diversos trabalhos (em especial, 1981
relevante nas trajetórias de vida), mas de buscar e 1994). Sob tal perspectiva, o material empírico
uma primeira interpretação das microagências es- aqui apresentado sumariamente, dados os limites
pecializadas ligadas à Geriatria e à Gerontologia deste trabalho, permitirá fornecer alguns subsídios
que produzem e transmitem sentidos acerca da para a compreensão de instituições que encam-
velhice (Berger e Luckmann, 1997, p. 99). Isto pam um projeto de abranger toda a sociedade
impõe algumas considerações sobre o lugar destas (bem-sucedido ou não). Visando produzir signifi-
agências nas sociedades modernas. cados compartilhados, é possível pensá-las como
ocupando espaços simbolicamente intersticiais,
nos poros entre as fronteiras sempre abertas da
Um moderno proselitismo: agências
pluralidade de configurações de idéias e valores
especializadas e projetos de
referenciais, desde que estas não sejam pensadas
intervenção universalizantes
como simples justaposições mas articuladas de um
As agências especializadas ligadas à Geriatria modo mais complexo em “distintos planos e níveis
e à Gerontologia têm grande potencial de legitima- de realidade socialmente construídos” (Velho,
ção3 das idéias que abraçam, propiciado, difusa- 1994, p. 29). A possibilidade de passar de um nível
mente, por sua origem acadêmica, de validação ou plano a outro, rompendo fronteiras cotidiana-
transnacional, pela chancela de “ciência” de que se mente, é apreendida por Gilberto Velho como o
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potencial de metamorfose que compõe diversa- está centralizada em dois pontos inter-relaciona-
mente a experiência dos atores sociais, colocando dos, elaborados a partir da análise preliminar do
também em foco a importância da mediação e das material empírico construído na pesquisa, a saber:
instituições mediadoras (Velho e Kuschnir, 1996). 1) a construção dos sujeitos que são objeto da
Compreender as agências da Geriatria como “insti- Geriatria e da Gerontologia efetiva-se segundo um
tuições secundárias”, no sentido proposto por modelo cujos princípios são fortemente infletidos
Berger e Luckmann (1997)4 em suas reflexões pela hegemonia do olhar médico na concepção
sobre o pluralismo nas sociedades modernas, na multidisciplinar;
mesma linha teórica explorada por Velho, possibi- 2) concepções relativamente uniformes e
litará o desdobramento, a partir do meu material simplificadas sobre a sociedade moderna e a famí-
empírico, de algumas questões. lia penetram difusamente neste modelo, transfor-
Assim, busca-se também compreender se a mando-se, nas instituições produzidas pela Geron-
Geriatria e a Gerontologia, consideradas como tologia, em julgamentos morais. Neste processo,
matrizes de instituições produtoras de sentido com tais instituições situam-se a meio caminho entre o
tal intenção e potencial de abrangência, realizam campo acadêmico e o campo da caridade (Neves,
mediações entre concepções diversas, produzin- 1997), legitimando-se o papel de “instituição medi-
do, desse modo, uma série de “instituições inter- adora” da Geriatria e da Gerontologia.
mediárias” no sentido estabelecido por Berger e
Luckmann (1997),5 mediadoras entre a experiên-
A Geriatria funda a Gerontologia: da
cia coletiva e a individual, ou se geram instituições
doença orgânica à doença social
que tratam o indivíduo como “objeto mais ou
menos passivo de seus serviços simbólicos” (Ber- A partir de material empírico construído de
ger e Luckmann, 1997, p. 101), podendo, neste modo assistemático ao longo da segunda metade
caso, ser compreendidas como dispositivos da da década de 90 e controlado por pesquisa realiza-
“sociedade programada” (Touraine, 1994) — cen- da nos últimos dois anos,6 pude constituir um
tralizada na produção e difusão maciça de bens corpus etnográfico acerca das concepções e práti-
culturais e no “governo dos homens” —, numa cas da Geriatria e Gerontologia. Tendo em vista os
perspectiva analítica que é, sob tal ponto de vista, objetivos deste trabalho, estes amplos campos
aproximada da “sociedade disciplinar” de Foucault disciplinares podem ser apreendidos aqui através
(1977b). das seguintes definições “nativas”, que expressam
Estas são questões que, evidentemente, não concepções mais ou menos consensuais destina-
cabem no escopo limitado deste texto, mas que das a um público leigo:
podem ser colocadas em debate, através do mate-
rial empírico aqui apresentado, permitindo, em Geriatria é a especialidade médica que trata de
conclusão, uma melhor elaboração das perguntas doenças de idosos ou de doentes idosos, mas
antes que de suas respostas. Nesse sentido, é também se preocupa em prolongar a vida com
interesante também considerar em que medida os saúde. Deve-se aproveitar a ciência geriátrica an-
conceitos referidos, elaborados, basicamente, com tes de ficarmos velhos ou antes de estarmos
material proveniente de sociedades modernas, doentes, realizando um “check-up geriátrico” pre-
onde o indivíduo é um valor mais difundido ventivo a partir dos 35 anos de idade.
(Dumont, 1985), podem nos ajudar a compreender Devemos procurar prevenir antes que remediar.
uma sociedade como a brasileira, onde são tão Gerontologia é a ciência que estuda o processo do
multiplicadas as instituições que realizam as medi- envelhecimento. Cuida da personalidade e da
ações entre a ordem social mais ampla e os indiví- conduta do idoso, levando em conta todos os
duos (Da Matta, 1985). aspectos ambientais e culturais do envelhecer. É
A argumentação que se desenvolverá em uma ciência médico-social; inclui problemas com-
seguida visando colocar em debate estas questões plexos de Medicina e de Sociologia. A Gerontolo-
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gia trata do processo biológico do envelhecimen- Universidade Federal Fluminense (UFF) e, por essa
to, enquanto a Geriatria se limita ao estudo das via, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Geronto-
doenças da velhice e de seu tratamento.7 logia (SBGG), certamente a mais importante asso-
ciação brasileira nesta especialidade. Desde 1971,
a SBGG foi autorizada pela Associação Médica
Esta concepção é mais ou menos cristalizada, Brasileira a conceder os títulos de Especialista em
repetindo-se, com pequenas variações, nos depo- Geriatria e em Gerontologia, após avaliação dos
imentos dos profissionais entrevistados, como, por candidatos (Gomes, 1994),8 sendo o título de
exemplo, nesta definição da profissão enunciada geriatra facultado exclusivamente a médicos e o de
por uma gerontóloga (psicóloga): gerontólogo, aberto a todos os demais profissio-
nais graduados. A ordem temporal do aparecimen-
A Gerontologia envolve todo o estudo do envelhe- to das especialidades evidencia-se na própria gê-
cimento humano, em todas as áreas do desenvol- nese da associação: em 1961 é fundada a Socieda-
vimento bio-psico-social, abrangendo áreas como de Brasileira de Geriatria, no Rio de Janeiro, e em
Psicogeriatria, Nutrição, Fisioterapia, Terapia Edu- 1969 acrescenta-se “e Gerontologia” (Gomes,
cacional, Educação Física e outras especialidades 1994). Observe-se que não se trata da junção de
[...] A Sociologia, a Antropologia e a Psicologia são associações preexistentes: a Gerontologia aparece,
disciplinas importantes na Gerontologia. O geron- aqui, a partir da Geriatria, posterior a ela, chamada
tólogo trabalha na busca de melhor qualidade de por ela e, de certa forma, como acessória a ela. É a
vida [...] Preocupa-se com o envelhecer saudável e reflexão originada no interior da clínica geriátrica
com patologias [...] que se busca ampliar, atingindo novas dimensões
e, de fato, instituindo um olhar totalizante sobre o
A Gerontologia é referida eventualmente, em objeto, uma perspectiva holista. A precedência
entrevistas ou textos, como uma “filosofia do enve- temporal não é casual: é um dos índices que
lhecimento”. A utilização desta expressão nos lem- expressa a maior legitimidade e o maior poder de
bra que, sendo definida como o “estudo do proces- englobamento do modelo biológico (em particu-
so de envelhecimento”, ou seja, logos antes que lar, o biomédico), em relação às outras formas de
praxis, a Gerontologia não conteria, por definição, construção social da realidade, e, sobretudo, o
a dimensão de intervenção no objeto, ao contrário lugar, do ponto de vista da lógica simbólica, de
da Geriatria, um dos ramos da prática médica. Isto onde é construída a Gerontologia.
gera a possibilidade de sua adjetivação, em alguns Entretanto, a consideração da abrangência de
discursos, mais raros, como “Gerontologia de inter- uma e de outra apontaria no sentido contrário.
venção”, visando à otimização, prevenção, reabili- Sendo a Gerontologia definida como campo mul-
tação e gerenciamento de situações irreversíveis tidisciplinar de domínios abertos, com capacidade
dos idosos (Pacheco, 1997). Contudo, embora a de englobar quaisquer disciplinas e práticas acadê-
expressão “Gerontologia de intervenção” seja pou- micas que possam acrescentar perspectivas ao
cas vezes encontrada, as idéias que ela recobre são estudo do processo de envelhecimento — a par de
uma constante, autorizando a interpretação de que propor relações mais próximas entre a Medicina e
a dimensão da intervenção é uma extensão natura- a Sociologia, como na definição precedente —, ela
lizada de sua definição. Na visão de Jeanete Mar- é apresentada como contendo a Geriatria. Nas
tins de Sá (1999, p. 225), “[...] a teleologia da palavras de uma médica geriatra ocupando posi-
Gerontologia e da Geriatria encaminha-se para ções de grande poder e prestígio neste campo:
uma posição de intervenção no objeto e não
apenas de estudo, conforme apontam alguns con- Esse médico que se propõe a tratar com o idoso,
ceitos.” ele tem que saber Gerontologia, ele tem que
A Geriatria e a Gerontologia são considera- compreender esse envelhecimento, ele tem que
das, aqui, a partir das atuações dos especialistas da ter a visão bio-psico-social que a Gerontologia dá.
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Então, não é fácil essa área, porque só como A obtenção de qualidade de vida, categoria
médico ele não consegue, ele tem que estar central do discurso dos geriatras e gerontólogos,
voltado para os problemas sociais, psicológicos, transforma-se no objetivo a ser atingido. Categoria
econômicos, biológicos do idoso. É isso que igualmente totalizante, quase nunca definida, é
diferencia o clínico geral do geriatra. O geriatra tema constante de congressos,9 conferências, aulas,
gerencia a vida do idoso. livros e artigos. Repete-se nos discursos ouvidos
informalmente em todos estes contextos. A busca
Este fragmento de entrevista, reproduzindo da qualidade de vida é um dos ícones, talvez o
uma versão consagrada, encontrada repetidas ve- maior, da Geriatria e da Gerontologia, constituindo-
zes, demonstra, de modo exemplar, que se a se num valor dogmaticamente estabelecido, logo
Geriatria supõe a Gerontologia (e, por isso, supõe inquestionável. Considerada como auto-explicati-
utilizar na intervenção saberes não-médicos), é va, prescindindo de explicitação, constitui-se, por
apenas no geriatra que tais saberes podem se esta razão, em uma das mais importantes vias
concentrar, pois há também o suposto, não expli- através das quais são introduzidos nos discursos e
citado, de uma severa interdição à utilização de nas práticas pressupostos não explicitados. Obser-
saberes médicos pelos não-médicos (inclusive os ve-se que nas raras vezes em que a categoria
da área médica, como os enfermeiros; ver Daher, qualidade de vida encontra alguma explicitação, as
1995). Por isso o geriatra gerencia a vida do idoso. verbalizações apóiam-se, quase exclusivamente, em
Ou seja, a composição multidisciplinar concebida parâmetros associados às capacidades e funções
para a Gerontologia, responsável por sua maior corporais (principalmente ausência ou controle de
abrangência, contendo a proposição explícita da doenças e autonomia físico-cognitiva). Esta cate-
equivalência dos saberes disciplinares, realiza-se goria sintetiza e concentra a forma específica assu-
estabelecendo uma diferenciação implícita, numa mida aqui pela hegemonia do modelo biológico,
hierarquização em que dois níveis, pelo menos, construído na perspectiva da clínica médica.
podem ser imediatamente identificados. Neste Há inúmeros indicadores dessa hegemonia
movimento, a Geriatria situa-se num nível de mais- que só será possível apontar aqui: a constituição
valor em relação às outras disciplinas, tornando-se, das equipes denominadas multidisciplinares em
de fato, a disciplina englobante (e não a mais torno dos médicos; a predominância das temáticas
“limitada”). biomédicas nas publicações, encontros, congres-
Uma análise mais detida certamente identifi- sos e cursos (para especialistas ou leigos); a marca
cará outros níveis, sendo interessante, por exem- médica de muitas instituições que abrigam as
plo, investigar o estatuto da Psicologia, muitas agências criadas pela Gerontologia. Todos estes
vezes compreendida a meio caminho entre as indicadores são passíveis de quantificação ou de
práticas médicas e não-médicas. Por ora, basta apreensão qualitativa. Se considerarmos a forma-
observar que se estabelece, desse modo, um ponto ção prévia dos especialistas (médicos, especialistas
de vista de múltiplas conseqüências. A mais impor- não-médicos mas da área biomédica — enfermei-
tante delas é que é a partir da busca da intervenção ros, fisioterapeutas etc. — e outros profissionais
nas doenças dos idosos ou nos doentes idosos, não ligados à área, como assistentes sociais, soció-
objeto precípuo da Geriatria, que os outros saberes logos etc.), será possível, com certeza, afirmar a
são agregados. O modelo de velhice começa a se supremacia médica (muito provavelmente dos
desenhar como uma espécie de “biologização” da próprios médicos, excluídos os outros profissio-
vida (e não de uma sociologização do corpo), uma nais da área biomédica) por meio de indicadores
hegemonia do “monismo fisicalista”, como bem mais complexos como, por exemplo, a distribuição
expressam Russo e Henning (no prelo) em traba- das posições de poder e prestígio no campo da
lho sobre a Psiquiatria, na medida em que o que se Geriatria e da Gerontologia, nos termos de Bour-
propõe é uma apreensão totalizante do objeto mas dieu (1982). Deste amplo conjunto de indicadores,
a partir do corpo e para gerenciar o corpo. que apontam na mesma direção, escolhi apresen-
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tar a forma como os médicos recompõem a trajetó- uma urgência que não admite contemporizações,
ria que os conduz à Geriatria e à Gerontologia, por como bem expressa Bourdieu (1980). A multidisci-
ser bastante expressiva e condensar os aspectos plinaridade funciona, assim, ao modo de um feixe
que se busca destacar neste artigo. Um trecho do de linhas separadas, ligadas apenas a um centro: a
depoimento de um médico publicado no Boletim Geriatria.
da SBGG (n. 11, 1996, p. 16) poderá exemplificar Confrontados em sua prática profissional co-
esta formulação: tidiana com a doença, o envelhecimento e a morte,
as ameaças mais regulares ao mundo socialmente
Na busca exclusiva das causas e efeitos das doen- construído (Berger, 1985), os signos mais constan-
ças dos idosos priorizam-se testes, visores, tubos, tes da miséria humana, os médicos, tendo sido
fitas e outros valiosos recursos complementares, armados para enfrentá-los com saberes técnicos
em detrimento da presença do médico e de sua cada vez mais especializados, buscam resgatar essa
aguçada sensibilidade, ouvindo, tocando e orien- “densidade filosófica” do seu olhar de que nos fala
tando o paciente. Nesse contexto inicia-se meu Foucault na citação em epígrafe neste artigo. O
contato com o atendimento ao idoso [...] Fui movimento que vai da clínica à Geriatria e da
percebendo que meus pacientes da terceira idade Geriatria à Gerontologia deve ser, assim, situado
necessitavam de um atendimento de forma mais entre os grandes movimentos da Medicina que
integral, que levasse em conta, além de suas oscilam da partição microscópica dos corpos vivos
queixas imediatas, também fatos e situações soci- e mortos ao estatuto do homem no universo. Neste
ais, econômicas, familiares e emocionais que não caso específico, a versão consagrada pelos médi-
se encaixavam no estrito espaço/tempo da consul- cos para retratar sua trajetória em direção à Geron-
ta médica “permitida” em ambulatórios e consultó- tologia demonstra, simultaneamente, seu lugar de
rios. A partir daí, junto com outros médicos, agregador e congregador10 de diversos saberes e
buscamos a participação de profissionais de outras práticas que convivem na sociedade moderna, em
áreas, tais como psicólogos, assistentes sociais, especial os que têm legitimidade acadêmica,11
nutricionistas, e ainda a ajuda da família do paci- possibilitando, por essa via, a recuperação de um
ente idoso. [...] Tivemos oportunidade, assim, de olhar totalizante e exaustivo e a construção de um
prestar orientações e esclarecimentos sobre dieta, modelo de velhice, resultante deste movimento.
sexo, trabalho, lazer, tabagismo, uso de medica- Atingidos pela extrema divisão de trabalho das
mentos, enfim, sobre situações que poderiam sociedades modernas — divisão duplicada interna-
interferir na prevenção de doenças. mente na Medicina — e pelas críticas a seu traba-
lho, estes médicos retotalizam seu olhar, criando
Esta visão dos questionamentos que condu- novos objetos e, portanto, novos sujeitos. Recriam-
zem à busca de explicações mais amplas é absolu- se como agentes civilizatórios12 modernos, recu-
tamente recorrente, estando apenas aqui numa perando o estatuto filosófico da profissão.
formulação mais acabada. Esta leitura de suas O objeto desta filosofia monista, assim recri-
próprias trajetórias profissionais acentua que é a ado, é o homem tout court. O envelhecimento,
partir da prática médica, da busca da compreensão concebido como etapa inexorável da trajetória
e intervenção nas doenças dos idosos que a recom- humana, fenômeno bio-psico-social empiricamen-
posição bio-psico-social do sujeito é empreendida. te observável, tem naturalizado um princípio de
A dificuldade, de ordem epistemológica, neste interpretação generalizante, um substrato episte-
processo é ultrapassar a simples agregação de mológico associado a uma versão da “natureza
outras perspectivas e práticas a um olhar médico já humana”. É esta passagem crucial que transporta a
fortemente constituído e empreender a construção lógica que governa a Geriatria, como disciplina
deste sujeito a partir de múltiplos olhares. Se tal médica, para todas as versões disciplinares reco-
dificuldade é algumas vezes reconhecida no plano bertas pelo termo Gerontologia, por mais distintas
teórico (cf, por exemplo, Sá, 1999), a prática tem e irreconciliáveis que sejam em sua apresentação
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interna. A generalidade dos fenômenos humanos gerenciamento pelo Estado brasileiro — neste caso,
(no sentido de sua universalidade na espécie) e a particularmente nas instituições sanitárias —, seja
possibilidade de alcançá-los em seus mecanismos nas análises dos cientistas sociais, seja nos meios de
pelo estudo científico13 são firmemente estabeleci- comunicação de massa, funcionam como confirma-
dos como pressupostos da intervenção gerontoló- ções empíricas destas certezas. Tais programas
gica, independentemente de quaisquer debates recortam-se, assim, contra o pano de fundo de uma
internos ao campo. Não é de somenos importância sociedade de mercado em que a velhice é conside-
a chancela de ciência que recobre, assim, o discur- rada improdutiva e, por isso, excluída. Contra o
so e as práticas gerontológicas, legimitidade na pano de fundo de uma velhice desassistida, aban-
verdade duplicada, pois diretamente transferida donada ou maltratada pela família, considerada,
das instituições médicas que as produziram e da idealmente, o locus da pessoa idosa.14
universidade que as abriga. O pressuposto de que a família é o grupo
fundamental responsável pelas pessoas idosas difi-
Finalmente, destacamos o efeito ideológico das cilmente é questionado. Por isso o termo aparece
instituições médicas. Elas têm o papel de estrutu- com extrema freqüência nos discursos. Mas é
rar e definir, através de agências, como a Univer- preciso ainda ressaltar que a concepção de família
sidade, ou de agentes, como os médicos, o que prevalecente é a da família nuclear, “adoecida”, de
constitui a “Ciência Médica”, isto é, para todas as certo modo, em conseqüência de sua luta pela
classes, o verdadeiro saber em relação à saúde. sobrevivência em uma sociedade de mercado. Esta
Elas desempenham também o papel de estrutura- concepção aparece de várias formas e em diversos
ção simbólica, para toda a sociedade, das repre- contextos. Sua formulação mais erudita pode ser
sentações de saúde e doença. (Luz, 1979, p. 53; apreendida no trabalho de Magalhães (1989), soci-
grifos da autora) ólogo que ocupa posições importantes no campo
da Gerontologia no Brasil. Apesar da preocupação
Por tais deslocamentos, a Gerontologia tam- em complexificar a apreensão dos dados relativos
bém se legitima como “saber médico”. Por essa via, à família, tematizando-a de modo muito mais
o princípio de interpretação médico é transposto elaborado e apresentando uma série de reflexões
para os aspectos sociais do envelhecimento, con- sobre as diferentes formas que ela pode assumir,
duzindo à divulgação e aceitação de algumas este autor e importante agente do campo da
generalizações sobre a família, como fórmulas Gerontologia conclui que o processo de nucleari-
incontestáveis, em concepções também naturaliza- zação da família que atinge todas as camadas
das. A par das grandes dificuldades conceituais e, sociais é conseqüência do modelo socioeconômi-
principalmente, metodológicas que um campo que co e constitui-se no problema fundamental enfren-
se define como multidisciplinar enfrenta, há uma tado pelos idosos.
apropriação naturalizada dos “aspectos sociais”
nas práticas, centrada, em especial, nas asserções Nas classes médias de menor renda e de renda
de que “a pessoa idosa é socialmente excluída na média a perda de autoridade na família coincide
sociedade atual, voltada para a produção, porque com o período de aposentadoria no trabalho e de
é considerada improdutiva” e de que “a família redução da renda. Perda de participação produti-
nuclear, o padrão nesta sociedade, reproduz esta va, do poder aquisitivo e da função sociofamiliar.
exclusão em sua organização interna”. O que significa exclusão e isolamento social,
Sustentados por estas certezas, todos os proje- mesmo que em regime de tolerância na solidão da
tos definem-se como uma luta contra a inatividade família nuclear. Família de pais e filhos, sobretudo
e a exclusão dos idosos, no pólo negativo do eixo menores.
simbólico que os orienta, visando integrá-los à A família nuclear, sendo principalmente um meio
sociedade e à família. A exposição contínua da social de reprodução da força de trabalho e de
pobreza, da miséria e da incapacidade de seu consumo para os que estão produzindo ou irão
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produzir, terá lugar para o idoso? Certamente que A paixão pelo trabalho com os idosos, o amor
não, exceto se auxiliada pelo apoio institucional à aos velhinhos, o prazer de trabalhar com o idoso, o
velhice, cujo movimento, originariamente de clas- carinho com os velhos são, todas, expressões fre-
se média, passou a ser um movimento nacional de qüentes que se contrapõem ao descaso e abando-
protesto e indignação. no da sociedade e da família. Da mesma maneira,
[...] Nas elites políticas, intelectuais, culturais e a utilização constante do termo velhinhos no
artísticas [...], a herança e a sucessão lhes dão discurso menos controlado do cotidiano dos pro-
maior conteúdo de respeitabilidade. Mas a família gramas de intervenção e da clínica geriátrica —
nuclear também os atinge intensamente e a convi- muitas vezes meus velhinhos — denuncia a dimen-
vência intergeracional se torna igualmente difícil, são da “compaixão” que, de um modo ou outro,
pois seus filhos constituirão os futuros núcleos envolve todas estas intervenções.15 Sob tal pers-
familiares. Mesmo os mais célebres tendem a ser pectiva, a prática geriátrica e gerontológica realiza-
pessoas solitárias. se como um misto complexo de diversas práticas
No contexto de nossa urbanização patológica e da profissionais e voluntarismo altruísta.
nuclearização familiar, será correto considerar este Por essa via penetram no discurso e na prática
tipo de família propício e meio exclusivo de da Geriatria e da Gerontologia muitos dos elemen-
integração social e de desenvolvimento integral tos que, em princípio, seriam do campo da caridade
do ser idoso? (Magalhães, 1989, pp. 116-117; grifo (Neves, 1997 e 1999) e não do campo acadêmico.
meu) Assim, o trabalho voluntário — tal como a “inter-
venção-denúncia” (Neves, 1999) —, característico
Independentemente do nível de elaboração dos projetos filantrópicos, é a base dos projetos
do discurso, o postulado da nuclearização da observados, incluindo-se nesta categoria o trabalho
família e de sua incapacidade para integrar o idoso de um número indeterminado de alunos que con-
constitui-se num pressuposto da Gerontologia, cluíram cursos de extensão e especialização nessas
fundamentando os discursos genéricos sobre a especialidades, entre médicos e não-médicos, to-
velhice. É daí também que decolam a indignação dos movidos, segundo afirmam, pelo prazer de
e a compaixão que vão pautar as intervenções dos trabalhar com o idoso e pelo desejo de ajudar.
geriatras e gerontólogos, em contraste com o des- A “intervenção-denúncia” exerce-se com re-
caso das famílias: lação à sociedade como um todo, sob várias formas
— em particular, nos debates sobre os direitos
Temos uma paciente que está há 110 dias no CTI sociais dos idosos —, mas seu terreno privilegiado
e o filho único que ela tem não visita! (Médico, de atuação é a família. A generalização da concep-
cursando especialização em Geriatria) ção de que as famílias, em função de sua nucleari-
zação na busca da sobrevivência, não têm lugar
A família pobre privilegia as crianças. Se tem uma para seus membros idosos as transforma no objeto
fruta, alguma coisa, vai pra criança, o velhinho não empírico privilegiado dos projetos gerontológicos.
tem direito [...] (Psicóloga, especialista em Geron- Atente-se, contudo, que não se trata, absolutamen-
tologia) te, de isolar os idosos de suas famílias, considera-
das seu lugar por excelência. Trata-se, ao contrário,
Suportados por tais generalizações e buscan- de incluí-las no olhar gerontológico e de gerenciar
do alterar seus efeitos, introduz-se nos projetos de suas relações, buscando, se possível, educar o
intervenção, sub-repticiamente, uma outra dimen- núcleo familiar no qual vive o idoso. Nas palavras
são que, apoiada difusamente numa condenação de uma geriatra e gerontóloga: “[é] fundamental
moral da sociedade e da família “doentes”, os que a família venha junto para que seja possível
transforma em cruzadas morais de resgate da melhorar essa relação”.
humanidade dos idosos: uma versão do proselitis- Há, assim, nos programas, referências recor-
mo moderno. rentes à temática da família, sob várias perspectivas
ACONCEPÇÃOSOBREAFAMÍLIANAGERIATRIAENAGERONTOLOGIABRASILEIRAS 77

disciplinares. E registra-se, igualmente, uma série das características mais importantes deste modelo
de preceitos que não provêm de nenhuma discipli- de velhice bem-sucedida, pois, como parte de um
na acadêmica específica. Os idosos são, por exem- projeto universalizante, dirigido a qualquer e a
plo, recomendados a ter paciência com os jovens e todos os segmentos sociais, ele tem de ser capaz de
a não tomar decisões sérias sem consultar os filhos. defrontar-se com determinados limites, condição
Ao mesmo tempo, abrem-se constantemente espa- de sua viabilidade.
ços para que as relações familiares sejam repensa- O primeiro destes limites é, propriamente,
das.16 Este é, sem dúvida, um dos aspectos centrais biológico e é identificado nas moléstias incapaci-
trabalhados nos projetos de intervenção, segundo tantes física e cognitivamente que impedem a
um modelo que vem produzindo novos sujeitos construção deste novo velho. Lugar precípuo do
para os quais são criados determinados espaços saber médico, apanágio da Geriatria, tais limites
sociais. são reconhecidos e, não raro, alterados pela minu-
ciosa dissecação de todos os aspectos de um
número limitado de doenças associadas ao enve-
A construção de novos velhos
lhecimento. A vulgarização e difusão destes sabe-
e a educação da família: a velhice
res ocupa um lugar simbólico importante na manu-
bem-sucedida e os cuidadores
tenção do “cientificismo” de todo o campo, produ-
Ao se propor como objetivo a qualidade de zindo seus efeitos mais diretos na construção dos
vida dos idosos, numa velhice autonomizada cuidadores. Definidos como pessoas que se ocu-
como objeto, desenha-se o modelo que pode ser pam de idosos com incapacidades funcionais e
sintetizado na categoria “nativa” velhice bem-suce- sérias perdas de autonomia, os cuidadores são, em
dida. Na expressão concisa de um dos mais atuan- geral, no caso brasileiro, familiares, sendo então
tes membros da Sala de Espera, 17 um senhor de 77 definidos como cuidadores informais. Os cuida-
anos, torneiro mecânico aposentado: dores formais são os próprios familiares ou profis-
sionais especialmente treinados pelos geriatras e
Há dois tipos de envelhecimento: o de caráter gerontólogos numa série de cursos fornecidos por
biológico e o essencialmente social. No biológico, diversas agências gerontológicas. A maioria dos
quero que Deus me dê saúde e, para ter saúde, cursos destina-se a mulheres que lidam com fami-
tenho que seguir as orientações médicas e ter uma liares idosos dependentes, representando uma das
vida normal, dentro dos meus limites. No social, facetas do sucesso do saber médico na sociedade
fazer o possível para estar sempre atualizado. Ter como um todo. Nestes cursos, os saberes da Geria-
contato com os colegas de grupo, estar bem com tria e das diversas disciplinas gerontológicas são
a minha família e com jovens, até chegar o meu filtrados e transformados numa série de preceitos
dia. (Sala de Espera, n. 3, 1999) práticos que visam facilitar a administração da
situação de incapacidade no contexto familiar. Os
Estes objetivos são consensuais entre os par- cuidadores transformam-se, por essa via, em mul-
ticipantes das agências especializadas (equipes tiplicadores de uma parte do conjunto de saberes
gerontológicas e idosos), todos centrados no eixo que compõem a Geriatria e a Gerontologia.
simbólico atividade/inatividade, que pode ser O segundo limite envolve questões de outra
lido também como inclusão/exclusão. Demarcam, ordem e sua consideração requer retornar às ques-
evidentemente, com o estabelecimento dos pa- tões estabelecidas no início deste artigo, buscando
drões da velhice bem-sucedida, os padrões da repensá-las. Refere-se às possibilidades de realiza-
velhice malsucedida. Todavia, apesar deste con- ção deste modelo amplo de velhice bem-sucedida,
senso e de uma clareza relativa nos enunciados, podendo também ser compreendido como o limite
tais objetivos são suficientemente amplos (ter saú- da normalização.
de, ter uma vida normal, estar bem com a famí- Por um lado, os preceitos contidos em tal
lia...) para conter realizações diversas. Esta é uma modelo não parecem deixar dúvidas de que ele
78 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 43

pode ser compreendido no interior do processo indicações de que eles reinterpretam ou se apro-
mais amplo de medicalização das relações sociais, priam diferentemente do modelo proposto. Além
fortemente infletido que é, como procurei argu- de uma presença flutuante nas diversas atividades
mentar, pelos princípios médicos, via Geriatria, propostas pela equipe profissional, índice impor-
disciplinando a percepção que os idosos fazem de tante das formas de engajamento, é necessário
si e das relações sociais mediante a produção de também perguntar o que trazem para tais progra-
novos sentidos para uma etapa recortada das mas. Sob tal ponto de vista, a Geriatria e a Geron-
trajetórias de vida. Todavia, não haverá espaço tologia poderiam então ser definidas como produ-
nele também para sua própria contestação, tendo toras de “instituições intermediárias” (Berger e
em vista o sentido excedente que, sem dúvida, Luckmann, 1997), na medida em que criariam
comportará? Isto porque é produtor de uma espaços para o “processamento do acervo social” e
pletora de sentido, tanto no campo interno à estariam sujeitas, elas próprias, às redefinições que
Gerontologia, na sua divisão e recomposição de os movimentos que geram produzem. Sendo as-
saberes acadêmicos, quanto na inclusão de seus sim, “a reserva de sentido não aparece como algo
sujeitos-objetos, cujas experiências diversificadas, imposto ou prescrito, mas como um repertório de
mesmo repensadas a partir do modelo, não po- possibilidades que foi definido por cada um dos
dem, em princípio, ser facilmente homogeneiza- membros da sociedade e que é suscetível de
das. mudanças futuras” (Berger e Luckmann, 1997, pp.
Ressalte-se, sob tal ponto de vista, que o 101-102). Constituídas a partir da sociedade disci-
consenso básico dentro do campo da Gerontologia plinar, a Geriatria e a Gerontologia não mais
é sustentado em torno da hegemonia do modelo poderiam se realizar internalizando nos sujeitos
médico — concentrando-se, em particular, no seu saber-poder como princípios unificados de
valor dogmático qualidade de vida — mas man- construção de sentido, pois contêm na proposição
tém-se em tensão permanente pela postulação da da construção de sujeitos ativos e participantes,
equivalência de saberes. Incorporando disciplinas que estou denominando os novos velhos, um ex-
acadêmicas com tradições também complexas e cesso de significantes que abre espaços para signi-
muito diversas, com formas específicas de constru- ficados variados.18
ção do objeto, o campo da Gerontologia registra Esta questão exigiria a análise meticulosa dos
algumas dissensões de ordem teórico-metodológi- novos espaços sociais criados pelas agências ge-
ca mas, também — aspecto mais importante para rontológicas, que serão apenas indicados aqui. Os
as questões que me interessam aqui —, algumas grupos de convivência produzidos pela Geriatria e
vezes, fortes desacordos quanto às formas assumi- pela Gerontologia observados nesta pesquisa, par-
das pela intervenção. Mesmo que tais desacordos te de uma miríade crescente e variada, e os que se
pressuponham acordos básicos, ou seja, mesmo efetivam nos encontros, congressos e seminários
que estejam referidos às mesmas “problemáticas peculiares produzidos dentro deste campo, sem-
obrigatórias” (Bourdieu, 1982), não devem ser pre reunindo pessoas idosas de ambos os sexos
desprezados como possibilidades de introdução (apesar do predomínio feminino) e profissionais
de ênfases diversas no modelo básico. Assim é diversos, colocam em ação um conjunto complexo
que, por exemplo, os trabalhos fortemente críticos de atores que constroem o seu discurso e a sua
com relação aos formatos assumidos pelos progra- prática orientados pelo modelo referido, buscando
mas de intervenção de Haddad (1986) e Paz a construção de idosos ativos e participantes. A
(1999), embora diferentes entre si em suas argu- valorização da atividade e da participação resulta
mentações e propostas, denunciam o processo de numa contínua invenção de formatos para sua
normalização empreendido segundo a orientação realização. Aulas, palestras, seminários, encena-
do modelo básico. ções teatrais, corais, bailes, oficinas de memórias,
Com relação à clientela destes programas, ou exercícios físicos e várias outras formas engendra-
seja, os idosos e suas famílias, há uma série de das conjuntamente por participantes e profissio-
ACONCEPÇÃOSOBREAFAMÍLIANAGERIATRIAENAGERONTOLOGIABRASILEIRAS 79

nais nestas agências especializadas criam espaços te, só poderá ser respondida com novas pesquisas.
sociais distintos para a existência destes novos Deve-se ressaltar, entretanto, que a aproximação
velhos. Nestes espaços, observa-se um intenso comparativa deste modelo com outros implemen-
trabalho dos idosos na produção de si e na revisão tados em projetos diversos de intervenção apoia-
de suas relações sociais. As verbalizações dos dos nos mesmos postulados, embora dirigidos a
idosos engajados nestes diversos projetos soem segmentos diversos, permitirá compreender al-
delimitar um novo marco em suas vidas, um antes guns de seus impasses.
e um depois separados pela inclusão no programa Esta inquirição, que o surgimento dos novos
e o redimensionamento de suas concepções sobre velhos nos impõe, sugere também que, neste
suas vidas. O grupo de convivência transforma-se processo complexo, estamos possivelmente assis-
numa referência fundamental, sendo, inclusive, tindo, ao mesmo tempo, à produção de novos
freqüentemente referido como uma família.19 Es- geriatras e gerontólogos, criados pelo seu próprio
tabelece-se como um novo espaço social dentro do proselitismo. A conversão que buscam empreen-
qual são coletivamente filtradas e repensadas todas der parece ter um enorme potencial de agregação
as experiências anteriormente vividas em todos os e processamento de sentido e, pode-se supor, isto
outros espaços sociais, em particular a família, nem sempre ocorrerá nas direções previstas. O
oferecendo-se também novo padrão e novo senti- intenso processo de releitura das diversificadas
do para as experiências atuais. experiências vividas, operado continuamente sob
Alguns temas são especialmente propícios a formatos vários em cada uma destas microagênci-
este redimensionamento. Temas, por exemplo, as, desborda dos parâmetros normalizadores con-
como a depressão no idoso, freqüente em aulas, tidos nos pressupostos da Gerontologia, provocan-
seminários e encontros, fornecem novos sentidos e do sua interação simbólica com referenciais muito
nova linguagem para as experiências vivenciadas. distintos. Ao autonomizar o objeto velhice e traba-
Sob tal perspectiva, impõe-se a questão levantada lhar no sentido da produção de velhos ativos e
por Gilberto Velho: em que plano de construção independentes, a Gerontologia confronta-se, tam-
social da realidade situam-se tais grupos de convi- bém, com a possibilidade de reinvenção e reinter-
vência ? De que modos se articulam com os outros pretação de suas propostas pelo seu processamen-
“mundos”, com os outros domínios sociais nos to no interior de configurações de idéias e valores
quais se passa a vida destas pessoas? De que modo distintas das que lhe dão origem. Num contexto
este gerenciamento da vida dos idosos e do projeto simbólico de legitimações concorrentes, as genera-
de sua construção como sujeitos ativos e partici- lizações sobre a família estarão, certamente, entre
pantes é processado, particularmente em suas as que mais imediatamente serão reinterpretadas.
relações familiares e de parentesco? Por outro lado,
de que modos estes diferentes “mundos” e estas
NOTAS
diferentes concepções trazidas por uma clientela
distinta penetram no modelo e são processados
internamente às agências gerontológicas? Se com- 1 No caso brasileiro, a correlação imediata entre “envelhe-
prendidas como “instituições intermediárias”, estas cimento demográfico” e recorte acadêmico da velhice
como objeto — tendo como corolários a autonomização
agências realizariam, de fato, a mediação entre da “velhice”, a indistinção entre problema social e
indivíduos determinados e a sociedade, ou entre problemática sociológica e a reificação do “problema
famílias e sociedade? Neste caso, de que famílias social” — vem sendo criticada principalmente pelos
antropólogos, que enfatizam o processo de construção/
estamos falando? descontrução social da velhice. Esta é a tônica de duas
A questão, enfim, é saber até que ponto, coletâneas recentes (Debert, 1998a, e Barros, 1998) que,
nestes projetos, abrem-se efetivamente espaços de certo modo, introduzem a reflexão antropológica
mais sistemática sobre o envelhecimento no Brasil.
para que as experiências diferenciadas sejam pro-
2 Há muitos trabalhos nessa direção. Acentuo, particular-
cessadas, tornando seu desenvolvimento e sua
mente, a reflexão de Foucault (1977a) acerca da atuação
direção imprevisíveis. Questão que, evidentemen-
80 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 43

da Medicina na produção dos sujeitos nas sociedades Esta é, de qualquer modo, uma prática que já tem sido
ocidentais modernas. relativamente legitimada em algumas instituições médi-
3 Compreende-se, aqui, legitimação como instância do cas.
processo de construção social da realidade, no sentido 12 Para uma outra dimensão deste processo ver Mouzinho
proposto por Berger e Luckmann (1973), processo que (1999), que discute o papel pedagógico dos médicos de
compõe as objetivações sociais, em que vários níveis família no programa municipal implementado em Nite-
podem ser distinguidos, parte fundamental dos meca- rói.
nismos conceituais de manutenção do universo simbó- 13 Um aspecto revelador do processo de formação dos
lico. Uma definição concisa do processo é a que segue: médicos é observado por Pinto (1997) ao etnografar as
“Por legitimação se entende o ‘saber’ socialmente obje- aulas no curso de Medicina da UFRJ: trata-se da recor-
tivado que serve para explicar e justificar a ordem rência da utilização pedagógica de recursos visuais,
social.” (Berger, 1985, p. 42). como transparências e slides, muitas vezes considerados
4 Ver também Berger, Berger e Kellner (1974). como “imagem real”. Diz ele: “Este componente visual
5 Conceito desenvolvido no contexto de uma discussão das aulas expositivas do curso de Medicina cria e
acerca do pluralismo e da “crise de sentido” nas socie- sustenta a ilusão pedagógica de que elas não passam de
dades modernas. uma demonstração, reforçando a ênfase na empiria
exigida na identidade médica e fazendo crer que os
6 Os dados aqui utilizados são parte de um corpus comentários do professor decorrem de uma ‘realidade’
etnográfico mais amplo que venho construindo há visível e, logo, óbvia.” (Pinto, 1997, p. 45).
alguns anos por meio de minha participação observante
em congressos, seminários, comissões, bancas etc., bem 14 Embora não se trate aqui de uma discussão substantiva,
como pela acumulação das publicações das associa- mas da apresentação de como determinadas interpreta-
ções. Nos dois últimos anos, este trabalho assistemático ções podem funcionar como pressupostos, é interessan-
foi controlado por etnografias parciais e entrevistas te registrar a observação de Debert (1999, pp. 50-51)
realizadas por estudantes da UFF, bolsistas de Iniciação acentuando que trabalhos realizados internacionalmen-
Científica do CNPq, sob minha orientação. Agradeço a te vêm apontando na direção contrária: “As pesquisas
Sandra de Araújo Gonçalves, Rosângela dos Santos sobre os idosos e seus familiares desenvolvidas no final
Bauer e Felipe Domingues dos Santos que, em diferen- dos anos 60 mostram que os estereótipos de isolamento
tes momentos e em diferentes contextos, produziram e abandono não expressam a condição da totalidade
dados sobre a Geriatria e a Gerontologia. dos idosos, nem mesmo nos países de capitalismo
avançado.”
7 Tais definições estão no site do Hospital Virtual e
contêm as delimitações essenciais que podem ser en- 15 Comparando os termos utilizados nos movimentos de
contradas nas entrevistas feitas com geriatras e gerontó- construção social da velhice no Brasil e na França,
logos, nas aulas, nas palestras, nas publicações. Esta Peixoto (1998) demonstra a dimensão da compaixão
formulação foi preferida por sua concisão e por contem- associada à categoria velhinho.
plar a intenção “difusora” das disciplinas. 16 Nessas ocasiões, há possibilidades de verbalizações
8 Existem outras associações como a Associação Nacional que, em outros contextos, seriam consideradas inusita-
de Gerontologia (ANG), fundada em 1985 a partir de um das. Por exemplo, mais uma de vez registrou-se a
fórum de Gerontologia Social em Fortaleza, mas não se expressão pública de mulheres viúvas de “terem dado
trata, absolutamente, de entidade que esteja em compe- graças a Deus pela morte do marido” porque as libertou
tição com a SBGG, que é mais englobante no Brasil. É de uma vida vista agora como de opressão.
interessante que a ANG seja, no momento, presidida por 17 Um dos programas de atendimento ao idoso etnografa-
uma médica de enorme prestígio nas duas especialida- dos na pesquisa, inicialmente situado no Hospital Uni-
des. A seção regional do Rio de Janeiro é presidida por versitário Antonio Pedro, da UFF. Iniciado como um
um sociólogo. trabalho de psicólogos com os pacientes da Geriatria
9 Por exemplo, um simpósio realizado em outubro de aguardando atendimento ambulatorial, transformou-se
1999, em Niterói, inteiramente dedicado à questão tem num amplo programa que envolve diversas especialida-
a denominação seguinte: “Qualidade de vida do idoso: des e realiza uma série de atividades.
uma visão holística”. 18 Sem nenhuma dúvida são também importantes aqui as
10 Um estudante de Geriatria assim expressou a maneira questões levantadas por Touraine com relação ao surgi-
como entende seu lugar na equipe multidisciplinar: “[...] mento do que ele denomina a “sociedade programada”,
dou liberdade para a fisioterapeuta atuar, para a psicó- na qual “o poder de gestão consiste em prever e
loga atuar, tenho que confiar na formação delas, eu não modificar opiniões, atitudes, comportamentos, em mo-
posso atuar como psicólogo do meu velhinho [...]”. delar a personalidade e a cultura, portanto em entrar
diretamente no mundo dos ‘valores’ em vez de se limitar
11 Mas não exclusivamente acadêmicos. Há várias indica- ao campo da utilidade” (Touraine, 1994, p. 259), mas
ções de incorporações mais amplas que devem ser que também produz um novo sujeito. “Na sociedade
analisadas de modo cuidadoso. O próprio depoimento programada o indivíduo, reduzido a não ser nada mais
citado acima refere-se à incorporação da acupuntura. que um consumidor, um recurso humano ou um alvo,
ACONCEPÇÃOSOBREAFAMÍLIANAGERIATRIAENAGERONTOLOGIABRASILEIRAS 81

opõe-se à lógica dominante do sistema afirmando-se __________. (1998b), “A Antropologia e o estudo dos
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cantis.” (idem, p. 265). estudos antropológicos sobre identidade, me-
19 Um dos problemas mais freqüentes na reflexão de mória e política, Rio de Janeiro, Ed. da Funda-
gerontólogos e idosos nestes grupos é a possibilidade ção Getúlio Vargas.
de sua “guetização”, propiciada pela intensificação dos
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