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RESUMO
A presente pesquisa se concentra na reflexão sobre a cena performativa, tendo como ponto
de partida o estudo de caso de algumas premissas detectadas na encenação Império Virtual
(2018) que foi inspirada livremente no universo da Deepweb. Nosso intuito é refletir como
algumas delas são relevantes para pensar em estratégias metodológicas e potencialidades
que contribuem para a experimentação da cena performativa.
ABSTRACT
The present research focuses on the reflection on the performative scene, starting from the
case study of some premises detected in the virtual Empire staging (2018) that was freely
inspired in the universe of Deepweb. Our intention is to reflect how some of them are
relevant to think of methodological strategies and potentialities that contribute to the
experimentation of the performative scene.
1. O TEATRO PERFORMATIVO
O estudo de caso aqui proposto foi construído com base na experiência empírica
vivenciada na encenação Império Virtual1 (2018), a partir disso, foram construídas algumas
premissas identificadas da cena performativa, são elas: estado de experiência do real,
múltiplas possibilidades de espaços cênicos, aprofundamento dos limites do corpo, da
investigação da presença, da recepção, da emancipação do/a espectador/a, da situação de
risco, da não-atuação.
Essas caraterísticas são constantemente subvertidas e reinventadas nas práticas e nas
poéticas de artistas por todo o mundo, ampliar e redimensionar algumas dessas
características dá lugar às reflexões sobre a diversidade de formas de criação teatral na
da Universidade Regional do Cariri, foi orientada pelo prof. Dr. Luiz Renato Gomes Moura. O elenco é
composto pelos atores-performers: Davi Brito Silvestre, Thiago Silva Gomes, José Cardoso Bezerra de Oliveira
Brito e Kleber Benicio.
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2. A QUESTÃO DA ESPECTAÇÃO
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Imitação de alguma co isa.
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Aqui atribuído a utilização do texto como fonte para ressaltar o drama.
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performat
à proposta de acontecimentos dentro da cena, o risco pode ser estabelecido convidando o
ator/atriz-performer a ser-fazer-estar presente e disponível para o ato.
O que podemos deduzir quanto as preposições desse acontecimento é que, através
deste o ator/atriz-performer tem a capacidade de criar instalações atmosféricas com sua
presença corporal a partir dos seus deslocamentos conscientes pelo espaço. Os signos
criados podem seduzir e proporcionar um jogo onde é possível detectar uma ilusão a partir
da experiência do real. A presença gerada pode gerar uma representação mesmo que se
proponha uma fuga pela representação?
Podemos arriscar a dizer que sim, pois essa presença que se instala a partir do efeito
do real, não está mais na matriz de uma representação intencional por parte do ator/atriz,
nem muito menos vinculada a um reforçamento de uma representação enquanto
personagem. Esse estado intermediário em que o/a espectador/a detecta e percebe uma
possível representação é o que Lehmann (2007) intitula de não-atuação, de modo diferente,
esse espaço interno em que o público encontra se imerso na ficcionalidade é o que Féral
(2015) reconhece como espaço de clivagem.
A criação do espaço de clivagem é uma zona no qual a teatralidade pode provocar a
criação ficcional, mesmo em formas no qual o público tenha dificuldade em referenciar a
obra. Josette Féral identifica que um dos produtores desse espaço, é o ator/atriz, que com o
seu corpo produz e invoca a teatralidade.
lugar de emergência (o ator) e seu ponto de finalização (a relação que inst itui com o
real). As modalidades de relação que se estabelecem entre os dois polos são dadas
pelo jogo, cujas regras têm a ver, ao mesmo tempo, com o pontual e o permanente.
Na verdade, os percursos entre esses dois polos podem ser variados, mas não
obrigatórios. Eles organizam as três modalidades da relação que definem o
processo de teatralidade e que pode envolver o conjunto do teatro, respeitando as
mudanças históricas, so ciológicas ou estéticas: o ato, a ficção e o jogo. (FÉRAL,
2015, p. 90).
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Mas nem sempre o/a espectador/a estará preparado/a para agir na obra, muitas vezes
pela falta de contato com o universo. Pode-se estabelecer o risco e a circunstância para a sua
ação, mas nem sempre implica dizer que haverá participação e absorção do mesmo/a. Será
que é possível escapar do acontecimento?
3. A QUESTÃO DO ATOR/ATRIZ-PERFORMER
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Espaço no qual há diversas redes ocultas que não se comunicam entre si, dando possibilidade e dificuldades de
acesso, pois seus endereços se modificam constantemente.
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Essas atmosferas que foram instaladas em cada ambiente criaram diversos tipos de
presenças, tanto para o/a espectador/a como para o ator-performer. Presenças que ao serem
projetadas geram uma tripla recepção simultânea: a recepção do corpo do ator-performer, a
recepção do corpo projetada e a recepção da oscilação do virtual e ficcional. Temos, por
conseguinte, dois tipos de presença ainda nesse mesmo exemplo.
Presença virtual dos sujeitos do outro espaço, e a presença ao-vivo no
acontecimento, essa relação de encontro virtualmente-simultaneamente-ao-vivo, arquiteta
outro tempo-espaço atemporal, que rompe com todas as atmosferas estabelecidas
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(2007, p. 386).
O predomínio das mídias nesse tipo de cena não tem uma intenção de imitação
estética quanto à simulação da realidade, mas sim provocar a experiência do real no aqui e
agora em outros panoramas, uma realidade concreta de lugar, tempo, virtualidade e que abre
possibilidades para um redimensionamento na elaboração da dramaturgia 6 visual. O
acontecimento dessa forma, irá buscar a irrupção do sentido organizacional, do discurso
homogêneo, lançando possibilidades da construção de sentidos no próprio espectador/a
emancipar-se da ação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O corpo não é um lugar o nde as informações que vêm do mundo são processadas para serem depois
devolvidas ao mundo. O corpo não é um meio por onde a info rmação simplesmente passa, po is toda
informação que chega entra em negociação com as que já estão. O corpo é o resultado desses cruzamentos, e
não um lugar onde as informações são apenas abrigadas. É com esta noção de mídia de si mesmo que o
corpomídia lida, e não com a ideia de m ídia pensada como veículo de transm issão. A mídia à qual o corpomídia
se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecio nar informações que vão constituindo o corpo. A
informação se transmite em processo de co ntaminação. (GREINER, 2005, p. 130-131).
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Nessa reflexão, o conceito de dramaturgia não se refere ao campo do dramático. Mas a criação de imagens
proporcionadas pelos atores-performers em ato, imagens essas que criam atmosferas de ilusão e experiências
do real, imagens desconexas de um conflito, mas que pode proporcionar revisitações de significância para o/a
espectadora emancipado/a.
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Antônio. A encenação Performativa. Sala Preta, São Paulo, v. 8, 2008. Disponível
em: http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57375/60357 . Acesso em: 18 out,
2018.
FÉRAL, Josette. Além dos Limites: teoria e prática do teatro. Trad. J. Guinsburg [et al.]. 1ª
ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.
GREINER, C. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo, Annablume, 2005.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro Pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007.