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SUSTENTABILIDADE

ECONÔMICA

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). i


Ministério do Turismo
Secretaria Nacional de Políticas de Turismo
Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico
Coordenação Geral de Regionalização

PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO


ROTEIROS DO BRASIL

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

Brasília, 2006

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). ii


REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente

MINISTÉRIO DO TURISMO
WALFRIDO DOS MARES GUIA
Ministro

SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS DE TURISMO


MILTON ZUANAZZI
Secretário

DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAÇÃO, ARTICULAÇÃO E ORDENAMENTO TURÍSTICO


TÂNIA BRIZOLLA
Diretora

COORDENAÇÃO GERAL DE REGIONALIZAÇÃO


BENITA MARIA MONTEIRO MUELLER ROCKTAESCHEL
Coordenadora

Inserir Ficha Catalográfica

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). iii


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................ v

1 INTRODUÇÃO..... ............................................................................................................... 1
2 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA NO ÂMBITO DO TURISMO ............................................... 3
2.1 Conceitos e princípios fundamentais ............................................................................. 3
2.2 Aspectos econômicos do turismo.................................................................................. 6
2.2.1 Turismo e economia............................................................................................. 8
2.2.2 O turismo como fenômeno econômico................................................................... 9
2.2.3 Novas tendências ............................................................................................... 13
2.3 Sistema de gestão da sustentabilidade econômica do turismo ...................................... 14
2.3.1 Indicadores de sustentabilidade econômica do turismo......................................... 16
3 O PAPEL DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA ECONOMIA LOCAL ................................................ 19
3.1 Impactos econômicos da atividade turística ................................................................ 19
3.1.1 Impactos positivos ............................................................................................. 21
3.1.2 Impactos negativos ............................................................................................ 23
4 INSTRUMENTOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA DO TURISMO.................................. 26
4.1 Planejamento integrado entre os diversos níveis de governo........................................ 26
4.2 Capacitação da mão-de-obra...................................................................................... 28
4.3 Construção e manutenção da infra-estrutura............................................................... 29
4.4 Incentivo aos eventos programados ........................................................................... 30
4.5 Incentivo aos produtos associados ao turismo............................................................. 31
4.6 Monitoria e avaliação dos planos, programas e projetos locais e regionais .................... 32
5 EXEMPLOS DA BUSCA PELA SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA NO TURISMO BRASILEIRO ... 35
5.1 Praia do Forte (Mata de São João/BA) ........................................................................ 35
5.2 Santuário Vagafogo (Pirenópolis/GO).......................................................................... 41
5.3 Festival de Inverno de Pedro II (PI) ........................................................................... 44
6 GLOSSÁRIO ..................................................................................................................... 47
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 50

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APRESENTAÇÃO

O Plano Nacional do Turismo (PNT), instrumento norteador do planejamento utilizado


pelo Ministério do Turismo (MTur), tem como finalidade orientar as ações necessárias para
consolidar um novo modelo de desenvolvimento da atividade turística, no Brasil. Este modelo
deverá buscar o aumento da competitividade do setor e o respeito à cultura e ao meio ambiente,
de modo a harmonizar a força e o crescimento do mercado com a distribuição da riqueza (MTur,
2003).

Nesse sentido, tem por base as seguintes premissas: parceria e gestão descentralizada;
desconcentração de renda por meio da regionalização, interiorização e segmentação da atividade
turística; diversificação dos mercados, produtos e destinos; inovação na forma e no conteúdo das
relações e interações dos arranjos produtivos; adoção de pensamento estratégico, exigência de
planejamento, análise, pesquisa e informações consistentes; incremento do turismo interno; e, por
fim, o turismo como fator de construção da cidadania e de integração social (MTur, 2004).

O PNT foi estruturado em sete macroprogramas que originam programas, projetos e


ações. O Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil, construído de forma
participativa sob a coordenação do MTur, originou-se do Macroprograma 4 - Estruturação e
Diversificação da Oferta Turística - e atua de forma transversal, permeando todas as ações do
Ministério.

Este Programa propõe transformar a ação, antes centrada na unidade municipal, em uma
política pública mobilizadora, capaz de provocar mudanças, sistematizar o planejamento e
coordenar o processo de desenvolvimento local, regional, estadual e nacional, de forma articulada
e compartilhada.

Dentre os princípios adotados pelo Programa, destaca-se a sustentabilidade nos aspectos


ambiental, sociocultural e econômico. E isso é requisito básico para a inserção de produtos
turísticos com maior qualidade e capacidade competitiva, principalmente no mercado internacional.
Desse modo, a sustentabilidade desses aspectos deve transparecer, durante o desempenho das
atividades de todos os atores envolvidos com o turismo.

O Programa de Regionalização do Turismo utiliza subsídios e orientações às regiões


turísticas, com vista a conduzir o desenvolvimento do turismo brasileiro, como uma estratégia de
ação. Outra estratégia adotada por esse Programa, amparado nas premissas da sustentabilidade,
foi elaborar e disponibilizar três documentos técnicos. Tais documentos tratam de diferentes
aspectos da sustentabilidade no turismo: o econômico, o sociocultural e o ambiental. Neste
documento, o aspecto econômico da sustentabilidade será apresentado e discutido.

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Com esta publicação, o Ministério do Turismo atende o objetivo de disseminar
informações acerca dos impactos gerados pela atividade turística na economia, identificando suas
possibilidades e tendências. Além disso, o documento visa facilitar o entendimento dos vetores
econômicos, entre outros aspectos, como alocar e gerenciar de maneira eficiente os recursos de
forma a propiciar o desenvolvimento econômico das regiões turísticas e suas populações. Foca nas
contribuições da sustentabilidade para a melhoria da qualidade e competitividade do setor
turístico, sobretudo para o desempenho bem sucedido nas áreas econômica, ambiental e
sociocultural.

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho objetiva fornecer às pessoas que trabalham ou que pretendem trabalhar
com a atividade turística, elementos que favoreçam a um melhor domínio dos inúmeros aspectos
que compõem o universo turístico.

Destaque será dado à compreensão da sustentabilidade econômica que associada a


sustentabilidade ambiental e sociocultural, constituem pontos centrais para a obtenção de uma
visão macro do turismo, suas possibilidades, riscos, limites, tendências etc.

Sustentabilidade é o princípio básico que orienta o Programa de Regionalização do Turismo


- Roteiros do Brasil, implicando no fortalecimento do turismo responsável, justo e correto.

Dois grandes desafios permeiam as preocupações do Programa de Regionalização do


Turismo:

• Como potencializar os destinos turísticos existentes e transformá-los em novos


roteiros turísticos (economicamente produtivos) preservando os recursos naturais
e patrimônio cultural das comunidades locais?

• Como construir uma ordem social mais justa, de forma que as divisas advindas do
turismo possam contribuir para a produção e a distribuição da riqueza, ou seja,
para reduzir a pobreza, as desigualdades regionais e promover a inclusão social?

O objetivo central da política pública é alcançar taxas elevadas e permanentes de


crescimento econômico e desenvolvimento social sem comprometimento das riquezas naturais. E
isto pode ser obtido com o desenvolvimento sustentável da economia, isto é, a busca pelo
crescimento sistemático de toda a cadeia produtiva, sem o comprometimento dos recursos
existentes.

A sustentabilidade econômica pode ser constatada quando os recursos disponíveis são


explorados com eficiência, agregando valor e sendo competitivos num mercado aberto. Se
desenvolve quando a apropriação dos recursos é aplicada de maneira ambientalmente
responsável, valorizando os recursos naturais, sociais, políticos, paisagísticos e patrimoniais,
apesar de não ocorrerem condições de competitividade sem um mínimo de suporte público.

Este documento tem como finalidade discutir tais questões de maneira mais ampla. Será
apresentado um arcabouço teórico envolvendo conceitos econômicos relacionados ao turismo e
também alguns dos impactos positivos e negativos da atividade que alertam para a necessidade

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da realização de planejamento econômico-estratégico como pré-condição para investimentos no
setor turístico.

Abordará também um conjunto de instrumentos de sustentabilidade econômica que


podem perenizar e reforçar a atividade turística, apresentando ainda, alguns programas públicos
em implementação. Ao final será mostrado alguns bons exemplos da busca pela sustentabilidade
econômica, casos que devem ser considerados por seu relativo sucesso.

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2 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA NO ÂMBITO DO TURISMO

O objetivo deste capítulo é de facilitar a compreensão do sentido da sustentabilidade


econômica, particularmente sua interpretação no âmbito da atividade turística.

O setor turístico é marcado por um grande dinamismo e é eixo importante na economia


de muitos países. Interage com um número expressivo de setores, onde seus efeitos, positivos e
negativos, se disseminam gerando significativos lucros para seus empreendedores. Pode ser
considerada uma atividade frágil, pois não administra grande parte dos recursos, atividade e bens
que vende. Ou seja, a atividade turística vende o intangível – sensações, traços naturais, atrações
culturais, estilo de vida dos povos ao redor do mundo. Sendo assim, quaisquer incidentes que
aconteçam em determinada região, podem trazem conseqüências inestimáveis. Por exemplo a
poluição de determinada praia ou um ato criminal com grande cobertura jornalística pode ter
conseqüências razoavelmente danosas para a localidade.
Para a OMT, só recentemente foi reconhecido que o turismo se desenvolve em lugares
que tem limites próprios. Com freqüência os limites de um desenvolvimento turístico
inconseqüente são descobertos, mas na maioria das vezes os danos e os prejuízos já foram muito
graves ou são irreversíveis.
Diante deste cenário, como conciliar o crescimento da atividade turística, sem que os
efeitos negativos produzam uma deterioração irreversível? O conceito de turismo sustentável tem
sido ligado tradicionalmente, aos conceitos ambientais, socioculturais e econômicos. No que tange
a sustentabilidade econômica duas características estão inerentes, sendo:
• A efetivação de aumento dos níveis de rentabilidade econômica para os residentes locais;
• A obtenção de lucro pelos empresários turísticos, caso contrário as empresas esquecerão o
compromisso com a sustentabilidade e um conseqüente desequilíbrio será gerado.

2.1 Conceitos e princípios fundamentais

Para o melhor entendimento da sustentabilidade econômica, alguns conceitos da


economia serão apresentados a seguir, como por exemplo os de macro e microeconomia.

• Macroeconomia1: estuda os grandes fenômenos econômicos como o Produto Interno


Bruto (PIB), a taxa de desemprego, a taxa de juros (SELIC), a taxa de câmbio e a inflação.
Por meio desta abordagem, os economistas tentam estabelecer relações entre estas
variáveis para compreender e prever os efeitos de intervenções nessas variáveis sobre o
futuro da economia.

1
Dicionário de Termos Econômicos – Universidade de Brasília / http://www.unb.br/face/eco/inteco/dicionario.htm

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• Microeconomia2: estuda o comportamento das unidades econômicas individuais, sendo
consumidores, famílias, trabalhadores, firmas e indústrias, bem como a distribuição da
produção e rendimento (renda) entre eles. Valoriza a forma como os indivíduos reagem a
incentivos, como a informação circula na economia e como estes microeventos se refletem
nas variáveis macroeconômicas. Na Microeconomia os dois principais agentes que se inter-
relacionam são os consumidores que buscam obter o máximo de satisfação (utilidade) a
partir de uma renda limitada e as empresas que realizam a produção a partir da tecnologia
disponível e visando o maior lucro.

John Maynard Keynes foi um dos principais economistas do século XX. As teorias
keynesianas ganharam o mundo durante a década de 30. Um dos pontos centrais preconizados
por Keynes, refere-se a necessidade do envolvimento do aparelho de Estado na promoção do
desenvolvimento. Assim, caberia ao setor público o importante papel de enfrentar o inevitável
caráter sazonal da economia e as discrepantes condições sociais vividas pela população de seus
territórios.

Alguns anos mais tarde, logo após a 2º guerra mundial, o conceito de desenvolvimento
foi entendido como crescimento econômico, algo que surgia da idéia de progresso.

O caráter dinâmico da compreensão do desenvolvimento, levou o Clube de Roma, em


1972, a introduzir alguns novos elementos para se chegar a definição correta do conceito de
desenvolvimento, seus limites e suas possibilidades. Assim, o desenvolvimento passou a ser
associado a preocupações demográficas, possibilidades de produção, especialmente de alimentos,
o caráter não renovável de alguns recursos naturais e a destruição do meio ambiente.

Ficava claro que uma elevação do produto interno bruto seria, simplesmente,
crescimento. Por outro lado, desenvolvimento seria algo bem mais complexo. Com esta
diferenciação, abria-se o caminho para críticas ao modelo de desenvolvimento predador dos
recursos naturais e excludente do ponto de vista social. Crescer seria fundamental, mas não ao
custo da degradação ambiental e sem a repartição dos benefícios com a população.

Ao longo da década de 80, Ignacy Sachs resumiu o intenso debate sobre o


desenvolvimento e agrupou os aspectos econômicos, sociais e ecológicos. Assim, o eco-
desenvolvimento passa a ser entendido como um processo que, cumulativamente, une eficiência
econômica, equidade social e respeito aos limites e fragilidades do meio ambiente.

Ao final da mesma década, a Organização das Nações Unidas - ONU criou a expressão
“desenvolvimento sustentável”, condicionando o crescimento presente ao não comprometimento

2
Dicionário de Termos Econômicos – Universidade de Brasília / http://www.unb.br/face/eco/inteco/dicionario.htm

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do crescimento futuro. O termo sustentável significa algo duradouro, suportável, permanente no
longo prazo.

Para a Organização Mundial do Turismo - OMT (2004), o desenvolvimento sustentável do


turismo é um processo contínuo que requer monitoramento constante dos impactos que a
atividade pode causar, de modo que, com ações de manejo, seja possível minimizar os impactos
negativos e maximizar os benefícios potenciais, introduzindo medidas preventivas ou de correção
de rumo. Requer a participação e o comprometimento de todos os atores envolvidos com a
atividade, onde o lucro deve ser distribuído de forma eqüitativa entre os promotores da atividade e
a população local.

O poder público principalmente, deve incentivar e apoiar o processo, estimulando a


participação da sociedade por meio da construção de consensos. Portanto, os produtos turísticos
sustentáveis são desenvolvidos em harmonia com o meio ambiente, com as comunidades e
culturas locais, de forma que estas se convertam em permanentes beneficiários e não
espectadores de todo o processo (OMT, 1999).

Carlos Jará complementa que o desenvolvimento sustentável “refere-se aos processos de


mudança sociopolítica, socioeconômica e institucional que visam assegurar a satisfação das
necessidades básicas da população e a equidade social, tanto no presente quanto no futuro,
promovendo oportunidades de bem estar econômico que, além do mais, sejam compatíveis com
as circunstâncias ecológicas de longo prazo”.

Para Oskar Lange o conceito de economia pode ser entendido como “o estudo sistemático
do ajuste social à escassez de bens e recursos e à administração dos bens e recursos escassos”,
ou seja, busca o aproveitamento eficiente e racional dos recursos disponíveis (material, espaço,
tempo etc.).

Sendo assim, a compreensão de desenvolvimento sustentável levou à necessidade da


investigação dos diversos aspectos que o englobam: a sustentabilidade econômica, ambiental e
sociocultural. O conceito de sustentabilidade econômica é ligado ao da eficiência econômica,
equidade, competitividade e lucratividade para todos os envolvidos.

Diante disso entende-se a sustentabilidade econômica3 como:

“ a garantia de um crescimento turístico eficiente; o emprego e os níveis


satisfatórios de renda, junto com um controle sobre os custos e benefícios dos
recursos, que garante a continuidade para as gerações futuras” .

3
OMT, 2001.

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A compreensão deste conceito, no entanto, é ainda mais abrangente. Simultaneamente a
característica de eficiência e competitividade, a sustentabilidade econômica inclui um tipo de
desenvolvimento econômico que também contempla aspectos ambientais e sociais. Sublinhe-se o
entrelaçamento que ocorre entre as dimensões que formam o desenvolvimento sustentável. Um
exemplo prático poderá tornar mais fácil a compreensão deste entrelaçamento.

Suponha-se que seja construído um hotel às margens de um belo rio nas vizinhanças de
uma pequena cidade, o local tem beleza privilegiada e já atrai muitos visitantes. Com a instalação
do empreendimento, turistas se sentem estimulados a passar temporadas no local. A taxa média
de ocupação ultrapassa às expectativas; a iniciativa é um sucesso. Verifica-se, assim, a primeira
das condições de sustentabilidade econômica: eficiência econômica, competitividade e
lucratividade. Feito o investimento inicial, o hotel gera frutos na quantidade e qualidade
esperados, o que implica em dizer que ele está sendo competitivo e, logo, lucrativo.

Alguns problemas, entretanto, começam a surgir. A presença de um elevado número de


pessoas no local, passa a gerar uma crescente poluição no rio e suas margens, degradando
claramente suas condições ambientais. Este é um elemento novo que pode comprometer o futuro
do empreendimento, ou seja, sua sustentabilidade. Um belo local degradado afasta, logicamente,
os turistas e assim, inviabiliza sua lucratividade e continuidade. Verifica-se que a preservação
ambiental é condição necessária a sustentabilidade econômica.

Exemplo similar poderia ser realizado com a sustentabilidade sociocultural. A presença


exacerbada da atividade comercial em cidades com arquitetura histórica, por exemplo, leva a uma
grande desfiguração do ambiente e acabam por comprometer o sucesso da atividade turística
naquelas áreas.

A discussão específica sobre o desenvolvimento da atividade turística, também tem um


caráter dinâmico, incorporando novos elementos e novas óticas de percepção da atividade.

O turismo tem características peculiares em relação aos demais setores da economia,


possui alto poder de irradiação dos seus benefícios e tem uma lógica original de implantação. Seus
impactos têm sido considerados por regiões economicamente deprimidas, como uma boa
alternativa para minimizar seus problemas.

2.2 Aspectos econômicos do turismo


O turismo na atualidade faz parte da economia de forma muito semelhante aos demais
setores econômicos. Apresenta uma estreita relação com os conceitos e leis econômicas. Assim

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alguns fatores são determinantes na análise dos fluxos turísticos, sendo que seu entendimento se
faz necessário, como: a demanda e a oferta 4.

Costuma-se definir a demanda, como conjunto de consumidores, ou possíveis


consumidores, de bens e serviços turísticos. É importante notar, nesse ponto, que a demanda é
um desejo de consumir, e não sua realização. A Teoria da Demanda é derivada da hipótese de que
o consumidor maximiza sua satisfação, ou utilidade, entre os diversos bens que seu orçamento
permite adquirir, considerando ainda a renda do consumidor e seu gosto ou preferência. Ou seja,
a Demanda é uma relação que demonstra a quantidade de um bem ou serviço que os
compradores estariam dispostos a adquirir a diferentes preços de mercado.

Por outro lado a oferta é composta pelo conjunto de produtos, serviços e organizações
envolvidas ativamente na experiência turística. Similarmente aos consumidores, quando realizam
escolhas baseados nos seus sistemas de preferência, as organizações na elaboração de seus
produtos, também se deparam com uma série de escolhas a serem feitas. Inicialmente, as
empresas devem decidir quanto produzir e o preço a ser cobrado, quanto consumir de insumos
produtivos, como capital e trabalho, a tecnologia a ser utilizada e assim por diante. Estas escolhas
são feitas mediante o conhecimento dos anseios dos consumidores.

Kuazaqui (2000) define produto como tudo aquilo que pode ser ofertado a um mercado
com a finalidade de comercialização, mostrando que os conceitos de oferta e demanda estão
intimamente ligados. Um importante fator a ser considerado é que o produto turístico difere
tenuemente de outros produtos, como os industrializados, por constituir-se de elementos e
percepções intangíveis, que são sentidos pelo turista como uma experiência (OMT, 2001; Cooper
et al, 2001; Sagi, 2006). Assim, fatores como o preço do produto e a renda do consumidor,
influenciam diretamente as percepções e a decisão para a compra do produto turístico.

No âmbito do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, entende-se


por produto turístico:

... "o conjunto de atrativos, equipamentos e serviços turísticos acrescidos de


facilidades, localizados em um ou mais municípios, ofertado de forma organizada
por um determinado preço".

Os preços por sua vez são sinais que orientam a alocação dos recursos (MANKIW apud
SANTOS, 2004). O sistema de preços tem um papel fundamental numa economia de mercado,
pois direciona os recursos produtivos para as atividades onde o ganho esperado é maior,

4
Adaptado do Modelo Gravitacional do Turismo – Glauber Eduardo de Oliveira Santos

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aumentando a competição, em benefício do consumidor. Assim o sistema de preços rege toda a
produção e toda a demanda de bens e serviços. Os efeitos das variações no preço dos produtos
turísticos sobre a oferta e a demanda podem ser medidos pela elasticidade. Elasticidade de preço
é a medida da resposta da quantidade demandada ou quantidade oferecida a variação em seus
determinantes (MANKIW apud SANTOS, 2004). Os produtos turísticos, em geral, apresentam
elasticidade de preço de demanda negativa, uma vez que, a procura decresce à medida que os
preços sobem. Sendo que a necessidade de consumir o produto e a quantidade de informações do
produto são alguns pontos que influenciam diretamente a elasticidade de preço da demanda.

A renda dos consumidores reais e potenciais também é um importante fator a ser


considerado para a compreensão do turismo na economia. MANKIW apud SANTOS afirma que “...
as pessoas consomem menos do que desejam porque sua despesa está restringida, ou limitada
por sua renda”. O efeito da variação da renda sobre a quantidade demandada é, frequentemente,
medida pela elasticidade de renda da demanda. Essa variável é definida como a razão entre a
variação percentual da quantidade demandada e variação percentual da renda disponível.

A importância da atividade turística sobre a economia alcança níveis ascendentes no


mundo inteiro. Entre 1950 e 1996, o turismo internacional cresceu a excepcional taxa média anual
de 6,5% 5.

Em 1998, o Fundo Monetário Internacional atestou que o turismo havia superado a


indústria automobilística – o grande ícone da economia moderna – como principal fator de
exportação em todo o mundo. Na Europa, a atividade é responsável por aproximadamente 17 a
20% do produto interno bruto continental.

2.2.1 Turismo e economia

A atividade turística possui características que a torna única dentre as atividades


econômicas de um país, especialmente naqueles em vias de desenvolvimento como o Brasil
Segundo a Organização Mundial de Turismo, o número de viagens internacionais deverá triplicar
no intervalo 1995 e 2020. De acordo ainda com estimativas apresentadas pela OMT, publicadas no
Barômetro do Turismo Mundial em outubro de 2006, o crescimento do turismo mundial chegou a
4,5 % em relação ao ano de 2005. Este índice para o continente sul-americano é ainda maior,
atingindo um crescimento superior a 8% em relação a 2005. Este fenômeno tende a se repetir no
ano de 2007, onde a projeções indicam um crescimento da ordem de 4 %6. O fluxo turístico
internacional alcançou em 2005 o recorde de 800 milhões de chegadas com um crescimento de
10% em relação a 2003. É válido lembrar que, em 1950, o número de chegadas não passava de

5
Introdução ao Turismo / Organização Mundial do Turismo, 2001.
6
Organização Mundial do Turismo: http://www.unwto.org/newsroom/Releases/2006/november/barometer06.htm

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25 milhões. O choque do 11 de setembro7 parece ter ultrapassado sua pior fase, após a retração
observada em 2002 e 2003.

O estudo da OMT indica ainda que a Europa continua sendo o principal destino mundial.
Aproximadamente 54,6% das chegadas mundiais realizam-se naquele continente, seguido pela
Ásia e o Pacífico que representam o destino de 20,2% do fluxo turístico internacional.

Destaca-se que em países que recebem vultosos números de visitantes estrangeiros, o


turismo é um importante alicerce para o equilíbrio das contas externas. Por exemplo, a balança de
pagamentos, que é um instrumento da contabilidade social referente à descrição das relações
comerciais de um país com o restante das nações, contabiliza as receitas totais do país menos
suas despesas, na forma de importações e exportações de produtos, serviços, capital financeiro,
bem como transferências comerciais. O resultado da diferença entre o volume das transações de
recursos é chamado de “saldo da balança”. O saldo positivo indica que entrou mais recursos no
País, ou seja, houve superávit. Caso contrário, houve déficit 8.

Segundo o Ministério do Planejamento a conta corrente da balança de pagamentos do


Brasil tem se ajustado fortemente e contribuído para a manutenção da atividade econômica nos
últimos anos. A contribuição do turismo para a conta corrente na atualidade tem sido crescente,
chegando ao superávit nos anos de 2003 e 2004.

2.2.2 O turismo como fenômeno econômico

A atividade turística pode ter elevada importância sobre o nível da atividade econômica de
uma região. Entretanto a correta medição dos impactos provocados pela atividade sobre a
economia é uma tarefa complexa, e isto se deve a grande diversidade de segmentos impactados
de maneira direta ou indireta, uma vez que, cria postos de trabalho em uma vasta gama de
atividades relacionadas à prestação de serviços aos turistas, como: transporte, hospedagem,
alimentação, entretenimento, comunicação, entre outros. Conforme as diretrizes da Organização
Mundial do Turismo – OMT para a construção das contas satélites9 e também segundo a matriz
insumo-produto10, dos 54 setores produtivos da economia, 12 são envolvidos direta ou
indiretamente pelo segmento turístico.

E o que torna a atividade turística especial? São vários os fatores. A seguir são
relacionados alguns deles:

7
Ataques terroristas contra os Estados Unidos. Membros do grupo islâmico al-Qaeda seqüestraram quatro aeronaves, fazendo duas
delas colidirem contra as duas torres do World Trade Center em Manhattan, Nova Iorque, e uma terceira contra o quartel general do
departamento de defesa dos Estados Unidos, o Pentágono, em Arlington County, Virgínia, próximo à capital dos EUA, Washington, D.C..
O quarto avião seqüestrado foi intencionalmente derrubado em um campo próximo a Shanksville, Pensilvânia, após os passageiros
enfrentarem os terroristas.
8
Fonte: Dicionário de Termos Econômicos da Universidade de Brasília - http://www.unb.br/face/eco/inteco/dicionariob.htm
9
Conta Satélite do Turismo (CST): Instrumento desenvolvido pela Organização das Nações Unidas e Organização Mundial do
Turismo (OMT) para medir o impacto efetivo do turismo nas economias mundiais, é indispensável para que governos definam políticas
e estratégias para o setor.
10
Matriz Insumo-Produto: Instrumento que relaciona todos os setores da economia.

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a) prioridades às pequenas e médias empresas
Apesar de comportar empresas de grande porte, a atividade turística pressupõe um vasto
número de pequenos negócios. Trata-se de uma razoável cadeia que presta serviços ao público
final, no local onde o turismo efetivamente acontece. Onde geralmente as grandes empresas têm
dificuldade de penetração.

b) inclusão das classes menos favorecidas da sociedade


Dada sua enorme capilaridade, gera um grande número de ocupações nas classes de
reduzido nível educacional: empregados em hotéis, restaurantes, bares, áreas de diversão, meios
de transporte, produção associada ao turismo, etc.

c) forma mais barata de gerar empregos


Em um país onde a informalidade empregatícia e o desemprego apresentam números
significativos, a atividade turística surge com uma grande vantagem comparativa: gerar empregos
a um custo bem menor do que outras atividades econômicas.

d) capacidade de reduzir as desigualdades de renda


O Brasil é um dos países com maior concentração espacial e pessoal de renda. O Norte e
o Nordeste brasileiros são as duas regiões com maiores contingentes populacionais de
“desassistidos”. Exatamente estas duas regiões são aquelas que apresentam um notável potencial
turístico que só recentemente vem sendo explorado. A atividade, desta forma, pode significar uma
fundamental ferramenta de inclusão social.

e) capacidade de gerar divisas


O turismo conta com duas formas principais de atrair divisas: através do fluxo de
estrangeiros que visitam o país e também via investimentos diretos em atividades e
empreendimentos turísticos. Em ambas as formas, o Brasil vem tendo significativa expansão.

f) elemento de integração nacional


Num país com dimensões continentais como o Brasil, o turismo interno permite aos
brasileiros que conheçam o seu próprio país, tendo contato com sua extraordinária diversidade
física e cultural, valorizando o sentimento de unidade nacional.

A Cadeia Produtiva do Turismo11 também é um item destaque. Pode ser entendida


como:

... " um conjunto complexo de atividades e serviços interligados aos deslocamentos,


visitas, transportes, alojamentos, lazer, alimentação e circulação de produtos
típicos" .

11
Estudo do Impacto Socioeconômico do Turismo: Perfil da Hospitalidade Aracajuana e os Elos da Cadeia Produtiva: Vera Lucia Novaes
Provinciali, Marcello Edoardo Barboza Calado; Ana Claudia da Silva Monteiro; Juliana Costa Santos.

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Relaciona uma complexa rede de recursos integrados (bens e serviços) presentes e uma
determinada destinação turística. Estes recursos agregados e precificados são considerados
“produtos”, que podem ser distribuídos no mercado de forma direta ou indireta. A venda direta se
dá quando não há intermediários, ou seja, o consumidor compra diretamente do fornecedor, seja
por meio de sites ou indo diretamente ao ponto de distribuição ou venda. Já a venda indireta é
realizada quando o consumidor efetua a compra por meio de agências e operadoras de turismo.

A cadeia produtiva do turismo envolve distintas categorias, dentre elas destacam-se:

• Organizações diretamente envolvidas com a atividade turística (agências de


receptivo, meios de hospedagem, restaurantes etc.) e seus atores: guias, garçons,
atendentes, recepcionistas, camareiras, artesãos etc.;

• Organizações indiretamente relacionadas com o turismo (postos de gasolina,


hospitais, bancos, bancas de jornal e revista, telecomunicações etc.);

• Turistas;

• Organizações Turísticas de Planejamento (Poder público, Organizações e


Instâncias Regionais de Turismo, Associações, Universidades etc.).

Percebe-se que a comunidade, envolvida ou não com a atividade turística é a que possui
maior contato com o turismo, sofrendo os maiores impactos, sejam eles negativos ou positivos.

Com base na idéia de desenvolvimento á partir da dimensão territorial, o Ministério do


Turismo vem formulando projetos em destinos turísticos como de forma de criar oportunidades
nas esferas econômicas, políticas e sociais, incentivando ações e empreendimentos turísticos para
um desenvolvimento inclusivo. A metodologia destas ações está centrada no apoio a organização
de Arranjos Produtivos Locais (APL) – que representa aglomerados de atividades produtivas,
localizadas em determinado espaço geográfico, que possuem grande afinidade econômica e são
desenvolvidas por empresas autônomas de pequeno, médio e até grande porte, intensamente
articuladas, formando um ambiente de negócios onde prevalecem relações de recíproca
12
cooperação entre as diferentes partes envolvidas .

A estruturação de APLs no setor turístico requer: identificação, organização e articulação


da cadeia produtiva que possui especificidades e relações intersetoriais enquanto atividade
econômica e social. Os Critérios para a definição dos APLs são:

• Capacidade de Desenvolvimento Integrado.

• Potencialidades de mercado.

12
Relatório de Oficina de Trabalho: 2° Conferência Brasileira sobre Arranjos Locais

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 11


• Estágio de Associação e Cooperação das unidades produtivas e dos atores sociais
e econômicos.

• Inclusão social (capacidade de geração de emprego e renda).

• Desenvolvimento do capital social.

No plano de gestão, busca orientar suas ações dentro dos seguintes princípios:

• População - como sujeito e protagonista do desenvolvimento.

• Empreendedores - organizando fatores produtivos locais com eficiência.

• Instituições locais - servindo de base.

• Administração Pública - criando políticas inovadoras favoráveis à promoção do


desenvolvimento do território.

O APL Turístico, por sua natureza, reúne características sistêmicas, que possivelmente
irão levá-lo um êxito nos seus objetivos, alguns estudos vêm demonstrando que as interações
entre integrantes de um mesmo ramo da economia, quando ocorrem em situação de proximidade
geográfica, podem obter maiores vantagens, em termos da atração de atividades subsidiárias e
comerciais, consumidores de maior vulto, mercado constante para mão-de-obra especializada,
intercâmbio de conhecimentos novos entre as empresas, que prepara o caminho para a divisão de
trabalho. São condições de aglomeração, segundo Marshall (1982, p.234), em que "as forças
sociais cooperam com as econômicas".

Para Santos (1996, p. 225), esses "arranjos espaciais, são espaços nos quais a
solidariedade é obtida por via da circulação, do intercâmbio e do controle, constituindo um tipo de
sistema, no qual a organização é quem mantém o comando de sua vida funcional". Para alguns
economistas europeus que estudam esses sistemas territoriais de produção por processos de
aglomeração territorial, essas vantagens podem ser ampliadas, quando a proximidade for
acompanhada de uma lógica territorial baseada na cooperação organizada e aprendizagem
interativa, de modo a disponibilizar e compartilhar competências no âmbito de todo o sistema.
Nesse caso, as externalidades positivas tornam-se resultado dessas forças de aglomeração
(TORRE, 2003).

No que se refere ao turismo, o êxito de um Arranjo Produtivo Local nos mercados


turísticos regionais, nacionais e internacionais depende cada vez menos de suas vantagens
comparativas e cada vez mais de suas vantagens competitivas, competindo em mercados
tradicionais cada vez mais sofisticados e globalizados (BENI, 2003). Silva apud Merigue, vem
confirmar essa afirmação quando salienta que “Não só no ramo do turismo, como em qualquer
atividade econômica, principalmente a partir desta década, as pressões do mercado estão cada

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 12


vez mais acirradas. A globalização da economia traz como conseqüência uma crescente
proliferação de produtos e serviços; cada vez mais a concorrência nacional e internacional
aumenta”.

Dessa maneira as empresas e destinações turísticas que se formam em um APL Turístico,


passam a ter, além da proximidade física e da forte relação entre seus agentes locais, uma
dinâmica econômica comum, realizando as mesmas atividades, beneficiando-se com o afloramento
de mão-de-obra especializada e disponível em poucas regiões, a utilização das mesmas matérias-
primas (BEDÊ, 2002), bem como o surgimento dos demais efeitos das dinâmicas de proximidade
ou aglomeração citadas nesse artigo como categorias representativas dos APLs, que serão
elementos importantes no enfrentamento das pressões de mercado e na gestão local do turismo13.

2.2.3 Novas tendências

Segundo dados da OMT, no ano de 2005 pela primeira vez na história índice de 800
milhões de desembarques de turistas em todo o mundo foi rompido (OMT, 2005). Estima-se que
para o ano de 2020 este número praticamente dobre, chegando a quase 1,6 bilhão de chegadas,
movimentando aproximando 2 trilhões de dólares na economia mundial14.
Para a OMT (2001), uma série de novas características configuram uma nova era para o
turismo, dentre elas destacam-se:

• Férias flexíveis e aumento do tempo livre;


• Segmentação e nichos específicos de mercado;
• Consumidores mais experimentados e com motivações mais complexas;
• Novas tecnologias da informação e comunicação, proporcionando comodidade,
flexibilidade e a agilidade a cadeia produtiva.

Mediante esta mudança do mercado consumidor, tem-se no início deste século novas
tendências para o setor. Este novo perfil do visitante está em busca de novas experiências, de
refúgio em áreas protegidas e ainda de desafios e superações. Neste ponto é que se situa os
segmentos de ecoturismo, turismo de aventura, o turismo rural, dentre outros. Trata-se de uma
tendência que nos remete a simplicidade da vida das comunidades, ao contato com pessoas
humildes e com a natureza. Este consumidor é diferenciado, culto e exigente e está em busca de
“vivências e experiências”, quer fazer parte de um cenário real (sem simulacro), onde ele é o ator
e quer levar consigo lembranças do lugar visitado. Algo que lhe remeta e contribua para seu
cotidiano15. Mediante estas constatações se torna crescente a preocupação dos gestores de

13
Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais no Turismo - Geancarlo de Lima Merigue (Instituto Virtual de Turismo).
14
Organização Mundial do Turismo - http://pub.world-tourism.org:81/WebRoot/Store/Shops/Infoshop/Products/1243/1243-3.pdf
15
Projeto Brasil Brasil – Economia da Experiência: Ministério do Turismo/ Sebrae, 2006.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 13


destinos turísticos, que sentindo a necessidade qualificar seus produtos, começam a investir para
melhorar seu produto turístico, com intuito de conquistar fatias de mercados relevantes, em um
mundo competitivo.

Uma pesquisa do Instituto do Futuro, de Hamburgo, concluiu que as agências de viagem


estão bastante atentas às mudanças nos desejos dos turistas. Assim, verificou-se que estes
objetivam – ao viajar – encontrar mais do que a beleza, uma harmonia física e espiritual. Mas, em
paralelo a esta tendência, não faltam aqueles que procuram aventuras, algumas bastante
selvagens.

Outra tendência apontada pela Organização Mundial do Turismo é que com


envelhecimento da população, o segmento da terceira idade passe a ter significativo impacto na
economia turística. Este fenômeno já pode ser observado na Europa, onde a chamada “melhor
idade” está mais instruída que anteriormente, tem melhor estado de saúde, é mais ativa e possui
mais facilidades econômicas que em outros períodos do passado. Este segmento no velho
continente, mostra crescimentos graduais ao longo dos últimos anos.

Uma outra tendência que já vem se transformado em realidade no Brasil é o turismo


16
voltado para o grupo GLBT . Segundo o IBOPE, este grupo já representa aproximadamente 10%
da população brasileira (18 milhões de pessoas). O grupo GLBT segundo a pesquisa, chega a
consumir até 30% mais que os heterossexuais, sendo que 36% são da classe econômica A.

Ainda segundo a OMT, as tendências mais relevantes que vem alterando o perfil da oferta
do setor são: a adesão crescente aos pacotes turísticos promovidos via internet, a dinâmica
expansão das companhias aéreas de baixos preços, estadias mais curtas e viagens com interesses
específicos.

2.3 Sistema de gestão da sustentabilidade econômica do turismo


Nos países onde a atividade turística encontra-se desenvolvida e estabilizada, como
ocorre na maior parte da Europa, o setor privado é o seu fundamental sustentáculo. A sociedade
civil, especialmente através das ONGs, e o setor público também participam porém de maneira
secundária.

O quadro brasileiro é bastante distinto, dado o caráter ainda embrionário do turismo no


Brasil. A importância da participação do setor público é decisiva para o sucesso de qualquer
iniciativa no setor. Face ao caráter federativo do País, impõe-se repartições de funções entre os
diversos níveis da gestão pública.

16
Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 14


Aos governos municipais compete fundamentalmente a definição e a legalização relativa
às regras do uso do solo e do código de postura. Para um município que deseja elevar seus
investimentos turísticos é condição necessária – mas não suficiente – para a atração do capital
privado, a elaboração de um plano diretor que explicite claramente as ações a serem tomadas e
propicie uma certa segurança ao capital privado.

• Como controlar o crescimento desordenado?

• Como garantir que próximo a um hotel, não vá se instalar uma atividade incompatível
com aquele?

• Como controlar os níveis de poluição sonora e visual?

• Como beneficiar a população local em detrimento da mão–de-obra externa melhor


qualificada?

• Como criar condições para captação de recursos?

• Como promover facilidades de investimentos para a iniciativa privada?

• Como sensibilizar a população para importância do segmento turístico?

Uma série de outras responsabilidades fundamentais ao planejamento, implementação e


gestão da atividade turística recaem sobre o setor público municipal. A segurança dos sítios
históricos, arqueológicos e naturais, a limpeza pública, a fiscalização da implementação dos
códigos de postura e de utilização do solo, a manutenção das vias públicas e acessos, dentre
outras, assegura um papel chave para as municipalidades na sustentabilidade do desenvolvimento
turístico. É importante destacar a necessidade de construção de um Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Turismo Municipal para nortear o desenvolvimento turístico do município, sendo
que este deverá ser integrado ao Plano Regional de Turismo, conforme proposição do Programa
de Regionalização do Turismo – Ministério do Turismo.

O setor público estadual geralmente atua na atividade turística através de um órgão


específico. Sua função básica começa com a elaboração de um plano de desenvolvimento turístico
para a unidade federativa, onde são explicitados o potencial e a estratégia turística de curto e de
médio prazo. A capacitação da mão-de-obra pública e privada, o marketing turístico, a promoção
de eventos e sobretudo a instalação e conservação da chamada infra-estrutura turística (estradas,
acessos, saneamento básico, energia, transporte etc.) formam a parte mais visível das funções
estaduais. Na fase inicial de desenvolvimento, a atração de capitais de risco também é tarefa típica
das unidades públicas estaduais.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 15


Ao governo federal cabe prioritariamente definir o modelo de desenvolvimento do turismo
no país. O atual governo, após refletir sobre os rumos do turismo no Brasil e no exterior e definir o
planejamento participativo como estratégico, elaborou o Programa de Regionalização do Turismo –
Roteiros do Brasil, que reflete a aproximação e integração das instâncias de governo com a
sociedade. Como se trata de um modelo de gestão de política pública descentralizada, coordenada
e integrada, sua gestão impõe a organização de uma infra-estrutura política, técnica e
administrativa compatíveis com a estratégia escolhida.

Assim, para cada nível de abrangência – nacional, regional, estadual e local – há


Conselhos, Comitês e Fóruns com responsabilidades que se entrelaçam, gerando uma mobilização
e participação a partir do município. Este é um ponto central para a compreensão do novo modelo
turístico brasileiro.

Elaborar um planejamento integrado e participativo é tarefa árdua. Mas é um importante


instrumento para a democratização do processo e pelo aumento das possibilidades de
engajamento das comunidades envolvidas. Com este engajamento, sobem as possibilidades da
exploração equilibrada da atividade turística e das mudanças estruturais pretendidas pelo
programa federal.

O setor privado procura obter taxas de retorno compatíveis com os riscos assumidos.
Tomando isto por base e considerando as invejáveis perspectivas do turismo em todo o planeta, a
atividade tem recebido crescentes investimentos por parte da iniciativa privada. O que se espera
da iniciativa privada é que esta crie meios de hospedagem, alimentação, transporte, desenvolva
passeios, construa diferentes empreendimentos turísticos, faça o marketing local, enfim, explore
de maneira racional e responsável, a atração turística ao qual está ligado. Tudo isto com qualidade
e segurança para os usuários. E que gere empregos, e que estes sejam, preferencialmente,
requisitados na própria comunidade.

As sociedades locais, especialmente por meio das organizações não-governamentais –


ONGs estão participando de forma crescente do turismo, notadamente nos segmentos ligados à
conservação do meio ambiente e do patrimônio histórico-cultural. O terceiro setor parece ser o
fator que faltava para a obtenção do equilíbrio público privado. Há um número expressivo de
intervenções turísticas onde as organizações da sociedade civil desempenharam um papel central
para o seu êxito. No capítulo 6 serão apresentados, em detalhes, alguns destes exemplos.

2.3.1 Indicadores de sustentabilidade econômica do turismo

Indicadores são ferramentas utilizadas nos Sistemas de Gestão e nos Planos de Monitoria
e Avaliação para medir as mudanças nos aspectos considerados mais importantes da

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 16


sustentabilidade de uma região, de um roteiro ou de um produto turístico. Esses indicadores
possibilitam identificar e avaliar o resultado das ações empreendidas. Desse modo, constituem-se
em parâmetros específicos que podem ser monitorados e ajudam a avaliar o sucesso do
planejamento turístico, em direção à sustentabilidade, e os progressos ou retrocessos do processo.
O uso de indicadores pode funcionar, também, como um alerta e auxiliar na prevenção de
situações consideradas indesejáveis.

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2004), os indicadores podem medir:

• Mudanças em determinados aspectos do ambiente, que afetam o turismo como


conseqüência de fatores internos;

• Mudanças em determinados aspectos do ambiente, que afetam o turismo como


conseqüência de fatores externos;

• Os impactos do turismo no ambiente.

A seguir, relacionam-se exemplos de indicadores que podem ser utilizados para monitorar
os aspectos econômicos do turismo. Enquanto os resultados da nova metodologia de Conta
Satélite não estão disponíveis, utilizam-se alguns indicadores – de mais fácil obtenção – para se
mensurar o sucesso ou não de promoções, roteiros ou investimentos turísticos. Os mais comuns
são: balança de serviços17, receita cambial, desembarque de passageiros, fluxo de visitantes, taxa
de ocupação hoteleira, gasto dos turistas etc. Este conjunto de indicadores permite estimar se
houve crescimento ou não do fluxo visitantes e o volume de recursos despedidos por este
conjunto dos turistas.

Abaixo são relacionados alguns destes indicadores que constatam importância da


atividade turística no Brasil.

Exportações brasileiras

O turismo tem tido grande importância para o equilíbrio da balança comercial


(exportações menos importações de bens e serviços) brasileira nos últimos anos. Em 2005, a
atividade turística ficou entre os 5 produtos mais importantes da pauta de exportações brasileiras,
que são as vendas de bens e serviços do país ao mercado externo. Gerou US$ 3,8 bilhões de
dólares, superado apenas pelo minério de ferro (US$ 7,2 bi), soja (US$ 6,3 bi), autos (US$ 4,3 bi)
e petróleo bruto (US$ 4,1 bi). Este dado nos mostra o relevante papel do setor, se apresentando
como uma importante ferramenta de política econômica para aumentar as exportações e contribuir
para a melhoria do saldo da balança comercial. Fonte: MDIC/BACEN apud MTur (11º Relatório de
Atividades do Ministério do Turismo – março de 2006).

17
Balança de Serviços: Integra a balança comercial (exportações menos importações de bens e serviços). Sendo que a balança de
serviços relaciona-se diretamente com as transações nos campos de transporte, seguros, turismo e rendimento de investimentos.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 17


Receita cambial

São os gastos efetuados por brasileiros no exterior, subtraído dos gastos de turistas
estrangeiros no Brasil. Historicamente o balanço da receita cambial é negativo, sendo portanto
deficitário. Desta forma, entre 1990 e 2002, o país acumulou um déficit de US$22,6 bilhões, o que
corresponde a um déficit médio anual de quase US$ 2 bilhões de dólares.

O expressivo crescimento do número de turistas internacionais no país tem reduzido este


déficit para valores significativamente inferiores. Assim, nos anos de 2003 e 2004, o Brasil chegou
a obter um superávit acumulado de quase US$ 500 milhões de dólares. Fonte: BACEN apud MTur
(11º Relatório de Atividades do Ministério do Turismo – março de 2006).

Desembarque de passageiros em vôos internacionais

Entre 1995 e 2005 (dados até agosto/2005), o desembarque no Brasil de passageiros


procedentes de vôos internacionais evoluiu de 3,35 milhões para 6,78 milhões. Em 10 anos, o
crescimento acumulado chegou próximo a 100%. Fonte: INFRAERO apud MTur (11º Relatório de
Atividades do Ministério do Turismo – março de 2006).

Para período semelhante, as chegadas internacionais em todo o mundo passaram de


565,5 milhões para 763,0 milhões, registrando 35% de crescimento. Até 2010, estima-se que as
chegadas internacionais em todo o planeta alcançarão o patamar de 1 bilhão de passageiros.
Fonte: Projeção da OMT apud MTur

Desembarque de passageiros em vôos nacionais

A grande performance verificada nos vôos internacionais é ultrapassada nos vôos


nacionais. Os desembarques locais tem registrado sucessivos recordes. Enquanto em 1995 cerca
de 16,8 milhões de residentes realizaram vôos domésticos, em 2005 ocorrerão mais de 43 milhões
desembarques. Fonte: INFRAERO apud MTur (11º Relatório de Atividades do Ministério do
Turismo – março de 2006).

Fluxo de visitantes

As estatísticas sobre o fluxo de visitantes no Brasil, registradas pela Embratur, apontam


um forte crescimento nos últimos anos no ingresso de estrangeiros. O volume de turistas
internacionais que visitou o País, passou de 3,7 milhões em 2003 para 5,5 milhões em 2005, um
incremento de quase 50% em 2 anos. Esta tendência de crescimento tende-se a repetir para os
próximos anos, segundo dados da instituição.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 18


3 O PAPEL DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA ECONOMIA LOCAL

O impacto da atividade turística sobre as economias locais costuma ser bastante


abrangente, na medida em que a sua irradiação possui grande capilaridade. Tanto a mão-de-obra
qualificada como a não qualificada são beneficiadas, assim como diversos segmentos da economia
local como o alimentício, habitacional, bancário, cultural, recreativo etc.

Efetivamente, os gastos dos turistas não somente se limitam ao pagamento do aluguel


de um quarto, mas se destinam também a uma grande rede de serviços e bens de consumo. Isto
favorece, por sua vez, o aumento da demanda na região receptora.

Neste sentido, o turismo é considerado pela OMT como um “canal” de distribuição de


recursos de uma região para os destinos turísticos. Esta transação favorece a criação de
empregos, a redistribuição de renda, o aumento nos impostos públicos, o aquecimento da
atividade empresarial etc.

A aferição destes impactos é complexa, apesar de extremamente importante. Na


realidade, a falta de dados estatísticos confiáveis sempre foi um sério entrave ao planejamento do
turismo mundial e no Brasil, a situação não é diferente. O surgimento da Conta Satélite de
Turismo – como referido no capítulo anterior – tenta enfrentar este grave problema. Através da
sua utilização será possível avaliar, com relativa precisão, a participação efetiva do turismo na
renda nacional, na ocupação da mão-de-obra, no nível global de investimentos, nos impostos e na
balança de pagamentos do país, entre outros efeitos do setor.

3.1 Impactos econômicos da atividade turística


Como mencionado anteriormente, a atividade turística tem grande repercussão nas
economias dos locais onde se desenvolve, ainda que sua importância tenha intensidade diferente,
conforme dinamismo e diversificação dos setores econômicos que são ali desenvolvidos. O setor
pode trazer benefícios e alguns transtornos para as comunidades envolvidas. Se a atividade for
bem planejada e gerida, muito provavelmente os efeitos positivos serão superiores aos negativos.
Mal planejada, há uma probabilidade maior de que a atividade gere mais problemas do que
ganhos. Como afirma Inskeep, “por meio de um planejamento, uma ordenação e um
gerenciamento cuidadosos, os benefícios do turismo podem ser maximizados e seus problemas
minimizados, mas algumas incertezas são inevitáveis”.

As regiões pouco desenvolvidas são caracterizadas, normalmente, pelos baixos níveis de


renda, altos índices de desemprego, baixo desenvolvimento industrial e social e pela grande
dependência da agricultura. Por tudo isso, a injeção de divisas que supõe-se o gasto turístico e

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 19


investimentos externos, tem nestas regiões debilitadas economicamente, efeitos mais significativos
que em outras regiões, impulsionando desenvolvimento local.

Efetivamente quando um turista chega a determinada destinação turística, com seus


gastos, este erradia impactos sobre uma vasta gama de serviços e equipamentos, que não são
necessariamente voltados para atender ao turismo. Estes impactos incidem desde a utilização do
comércio local, como, táxis, farmácias, bancas de revistas, postos de gasolina etc., até
equipamentos da infra-estrutura da cidade, como, bancos, hospitais, redes sanitárias e vias de
deslocamento. Desta maneira, indiretamente, o incremento econômico proporcionado pela
atividade turística, afetará setores que fornecem insumos a cadeia do turismo, como:
distribuidores de bebidas e alimentos, setores de formação profissional especializados, setores
têxteis, redes bancárias etc., sendo que esta rede que também atende ao turismo, gera uma série
de empregos e por sua vez, os gastos destes empregados em outros setores, pode ser chamado
de efeito induzido, que será abordado adiante.

Normalmente, o valor dos gastos realizados pelos turistas representa uma forma pela qual
se mede o impacto econômico da atividade, mas este dado é incompleto. Na verdade, ocorrem
ainda vários outros impactos positivos e também negativos sobre a economia. Neste último caso,
pode-se exemplificar a sazonalidade18 da renda gerada, do emprego, a inflação localizada que
atinge a população local e os vazamentos (importação de bens e serviços, remessa de lucros como
conseqüência de investimentos externos etc.).

O efeito multiplicador é o conceito econômico mais utilizado para se estimar o efeito


total do turismo sobre a geração de renda. O efeito multiplicador do turismo tem 3 vertentes
básicas: o direto, o indireto e o induzido.

O efeito direto – também chamado de “gastos na linha de frente” – consiste nas


compras realizadas pelos turistas nos estabelecimentos que fornecem bens e serviços turísticos.
Basicamente são os dispêndios diretamente feitos pelos turistas com hospedagem, alimentação,
diversão, artesanato, transporte local etc.

O efeito indireto, por seu lado, consiste na repercussão das compras feitas pelos
estabelecimentos da linha de frente. Por exemplo, os hotéis, na medida em que compram bebidas,
alimentos ou ainda se utilizam de serviços como os bancários, irradiam para outros setores parte
dos benefícios que recebem por estarem na linha de frente. É o dinheiro circulando. Mas também
impostos, postos de trabalhos e empregos sendo gerados. O mesmo raciocínio pode ser feito para
todos os vendedores de bens e serviços da linha de frente.

18
Sazonalidade: Se caracteriza pelo aumento ou redução significativos da demanda pelo produto em determinada época do ano. Os
negócios com maior sazonalidade são perigosos e oferecem riscos que obrigam os empreendedores a manobras precisas. Quando em
alto grau, é considerada fator negativo na avaliação do negócio (Plano de Negócios Sebrae).
http://www.sebrae.com.br/br/parasuaempresa/planodenegocio_945.asp

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 20


O efeito induzido é aquele gerado através dos salários, aluguéis e juros recebidos das
atividades turísticas que, por sua vez, geram outras atividades econômicas19. É provocado pelo
pagamento de salários, juros e alugueis feitos pelos mesmos vendedores de bens e serviços da
linha de frente. Uma camareira de uma pousada, por exemplo, ao receber seu salário e gastá-lo
com alimentos, estará passando adiante, parte do impulso recebido para comerciantes não
diretamente beneficiados pela atividade turística.

Em resumo, o efeito multiplicador da atividade turística pode ser obtido somando-se os


efeitos diretos, indiretos e induzidos. Seu cálculo não é simples, pois algumas variáveis podem ser
de estimativa muito subjetiva. Apesar destas dificuldades, a estimativa do multiplicador é
fundamental para importantes tomadas de decisão para o desenvolvimento do setor.

Vislumbrando estas dificuldades de mensuração real dos impactos das atividades


turísticas, hoje se trabalha para o desenvolvimento do conceito de conta satélite, com o objetivo
de captar a verdadeira dimensão econômica do turismo. Entenda-se por conta satélite a uma nova
metodologia de cálculo – aceita mundialmente – que permite a mensuração, em separado, da
atividade turística nas Contas Nacionais. Esta nova metodologia unifica a aferição turística entre
diferentes países, permitindo comparações internacionais, servindo como um importante
instrumento para o planejamento estratégico dos setores públicos e privados. No Brasil, a nova
metodologia vem sendo trabalhada pelo IBGE, Ministério do Turismo e Embratur. Assim, com
dados consistentes e atualizados, o planejamento de ações por parte da iniciativa privada e a
formulação de políticas publicas pelo governo com o intuito que qualificar e estruturar a atividade
turística, poderão ser mais eficazes. Este instrumento permitirá a geração e disponibilização de
informações fidedignas e consistentes, como suporte a estudos e avaliações de impactos sócio-
econômicos do Turismo.

3.1.1 Impactos positivos

O turismo é capaz de gerar um número expressivo de repercussões nas localidades onde


a atividade é introduzida ou ampliada. Há um grande número de impactos positivos. Abaixo serão
relacionados os mais relevantes:

a) geração de novas ocupações permanentes e/ou temporárias;


A criação de novos postos de trabalho parece ser o principal desafio dos tempos atuais. A
maioria dos setores econômicos tem utilizado – de maneira crescente – tecnologias intensivas no
fator capital e poupadoras de mão-de-obra. Em conseqüência, aumenta-se a produção com menos
pessoas ocupadas. Em geral, o número de postos de trabalho criados é significativamente inferior
aos postos extintos. Mas o turismo surge com uma relativa importância estratégica, já que possui

19
(Barbosa e Santos, 2003). Jogos Pan-Americanos 2007 – Compreensão dos impactos a busca de uma estratégia para maximizar os
benefícios.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 21


uma significativa capacidade de gerar empregos a um custo menor que em outros setores, como o
comércio e a indústria. No que se refere ao Brasil, a atividade ainda tem um mérito adicional, uma
vez que, a diversidade cultural e natural do país atenta para boas perspectivas de crescimento,
onde o potencial turístico transformado em realidade, auxiliará na redução das altas taxas de
desemprego que assolam a economia brasileira na atualidade.

Outra boa repercussão da ocupação da mão-de-obra local é sua retenção nas áreas
turísticas, diminuindo o êxodo no sentido das maiores cidades.

Finalmente, salienta-se o impacto positivo gerado pela utilização de mão-de-obra


qualificada, o que tende a elevar o padrão da própria mão-de-obra local.

b) ampliação na arrecadação de impostos locais


O incremento da atividade turística provoca um crescimento na geração de impostos, na
medida em que estes acompanham a elevação da renda gerada em determinada localidade. O
aumento no recolhimento de tributos pode gerar melhorias na infra-estrutura turística e não
turística, beneficiando, em maior ou menor grau, a população residente. Dentre as ações que
buscam atender os anseios dos visitantes, mas que também beneficiam os moradores locais,
destacam-se as melhorias de estradas, dos acessos, da sinalização, das telecomunicações, postos
de saúde, agências bancárias etc. Estes exemplos são considerados externalidades do turismo.

c) geração e aumento da renda local


A expansão da renda gerada numa cidade onde se realiza o turismo, amplia – dentre
20
outros – a massa salarial , os aluguéis recebidos, o lucro dos empreendedores locais que
investiram naquela atividade, etc.

Isto provoca, pelo menos, dois impactos favoráveis ao ambiente econômico: uma
melhoria no padrão de vida, já que circula mais dinheiro, ou seja, maior poder de compra local; os
comerciantes e os prestadores de serviço tendem a investir seus lucros na própria comunidade, o
que não acontece obrigatoriamente com os empresários não residentes.

d) implantação de infra-estrutura turística


A exploração da atividade turística, com raras exceções, pressupõe a existência de uma
infra-estrutura mínima. Para atender aos anseios dos visitantes são necessários na maioria das
vezes estradas, acesso as atrações turísticas locais, sinalização turística, centros de atendimento
ao visitante, meios de hospedagem e alimentação etc. Consequentemente ao aumento do fluxo de
turistas, novos empreendimentos com vistas a atender essa demanda surgirão. Contudo não só o
turista irá se beneficiar deste padrão de oferta de infra-estrutura, mas toda a população local. A

20
Massa Salarial: É o resultado do produto entre a remuneração média dos empregados e o número de empregos – Ministério do
Trabalho e Emprego - http://www.mte.gov.br/EstudiososPesquisadores/PDET/faq/conteudo/bases.asp#4

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 22


construção destes empreendimentos motivados pela pelo fluxo de visitantes, geram também,
empregos e postos de trabalho para a comunidade.

e) geração e aumento das compras locais


Além de empregar fatores de produção locais (mão-de-obra, instalações, equipamentos
etc.) os investimentos turísticos também tendem a adquirir seus insumos – alimentos, frutas,
artesanatos, bens manufaturados etc.– próximos ao local de venda, desde que haja
competitividade. Tais compras irradiam internamente os benefícios gerados pela atividade turística
e representam a forma pela qual a linha de frente beneficia àqueles setores que a suprem de bens
e serviços; em economia é o que se chama de efeito “induzido” de um investimento. Um novo
hotel em área costeira, por exemplo, ao comprar peixes e frutos do mar junto a pescadores locais
está, evidentemente, estimulando a economia local.

f) melhoria dos padrões de conservação


O turismo tem, de fato, o potencial de colaborar com a proteção e a conservação do
ambiente e com a conseqüente melhoria e manutenção da qualidade de vida das comunidades
receptoras. A atividade pode agregar valor às áreas naturais e históricas, principalmente às
unidades de conservação e sítios tombados, à medida que esses ambientes são cada vez mais
procurados pelos turistas.

O poder público local e os empresários do setor tendem a investir em medidas


conservacionistas, a fim de manter a qualidade e a conseqüente atratividade do destino e dos
atrativos. Com uma visitação organizada e controlada, é possível utilizar de maneira sustentável
as áreas mais demandadas. Além disso, o turismo pode induzir ou estimular a recuperação de
áreas degradadas, uma vez que a qualidade ambiental da área está se tornando pré-requisito para
a escolha do local pelo turista.

3.1.2 Impactos negativos

Da mesma forma que possui um elevado número de benefícios econômicos, a atividade


turística também trás consigo problemas que podem ser de significativa gravidade, em
conseqüência da ineficiência do planejamento turístico e da gestão pública inadequada.

a) aumento exagerado do fluxo de turistas

O desenvolvimento turístico acima das possibilidades locais gera uma série de


conseqüências danosas para a população residente, como: congestionamento do trânsito, ruídos
em excesso, poluição do ar, podendo criar um clima de resistência da população em relação a
atividade turística e, evidentemente, representam uma queda na qualidade de vida. Com uma
gestão adequada pode-se minimizar este ponto, não resolvê-lo completamente já que a
sazonalidade parece ser uma característica implícita à atividade turística.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 23


b) elevação do custo de vida local

Apesar de alguns bens e serviços demandados pelos turistas não serem necessariamente
aqueles demandados pelos residentes em lugares ou cidades turísticas, ocorre uma certa
“contaminação” nos preços destes últimos, particularmente durante as altas estações. Durante
esta temporada, fatores de produção e insumos são absorvidos pelo mercado turístico - que
normalmente remuneram melhor – diminuindo a oferta no mercado não turístico e, logo,
aumentando seus preços.

c) piora dos padrões de conservação

Por outro lado a ausência de um planejamento adequado, pode gerar um descontrole. O


número exagerado de visitantes, pode levar a deterioração de sítios naturais, arqueológicos e
históricos, comprometendo a sustentabilidade da atividade turística em certos locais. A
manutenção de destinos turísticos exige cuidados – geralmente onerosos – e um grau de
consciência ambiental e cultural nem sempre presentes nos turistas.

A degradação do patrimônio cultural local e a tentativa em adaptar-se as expectativas dos


visitantes, geralmente deformam especificidades e tornam homogêneas as peculiaridades locais.
Em conseqüência, ocorre com freqüência uma certa “modernização” de alguns sítios turísticos,
desfigurando completamente o que havia como atração.

Também algumas demandas turísticas fazem a população – face a necessidade de


sobrevivência e sem maiores alternativas – adaptar-se. O crescimento da prostituição em áreas
turísticas é um exemplo bastante eloqüente deste ponto.

Importante porção dos benefícios trazidos pela atividade turística, pode ser prejudicada
caso os fatores de produção (especialmente a mão-de-obra) e os insumos e bens finais vendidos
na linha de frente forem importados. Neste caso, o efeito multiplicador do turismo não se realiza e,
após passada a alta estação, nenhum vigor econômico restará, pois todas as repercussões se
realizarão fora do local do impulso original.

Acrescente-se que o próprio capital (a propriedade do equipamento turístico, por


exemplo) pode ser externo a área de exploração, gerando a seguidas remessas de lucros,
patentes, royalties etc. para longe da comunidade onde se encontra o equipamento.

Cabe ressaltar que na atividade turística dois outros aspectos podem se destacar
negativamente, a prostituição e o comércio de drogas, duas mazelas que costumam se instalar em
diversas localidades que descobriram o turismo como agente econômico indutor. Seu
enfrentamento é importante para a manutenção do vigor do turismo local.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 24


Conclui-se com um importante ponto: a atividade turística tem elevada capilaridade e
grande poder de difusão de seus impactos. A questão é que esta pode ser positiva ou negativa.
Daí o cuidado exigido em sua formulação, implementação e controle.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 25


4 INSTRUMENTOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA DO TURISMO

O sucesso da atividade turística passa por diversas etapas e ações. E o planejamento bem
articulado é vital para a sua longevidade.

Porém o mais complexo relaciona-se com a gestão do negócio, seu acompanhamento e o


enfrentamento do enorme contingente de fatores indiretos que provocam impacto decisivo sobre
as possibilidades de sucesso do empreendimento turístico.

Abaixo, foram selecionados alguns – dentre muitos – aspectos e preocupações que devem
ser observados por aqueles que pretendem se envolver com a atividade turística no País.

4.1 Planejamento integrado entre os diversos níveis de governo


A presença do setor público é ampla em diversos países do mundo e influencia a vida
cotidiana em diversos âmbitos. No entanto, nas últimas décadas, experimentamos um crescente
liberalismo econômico, onde o setor privado protagonizando atividades no mercado, limitando o
setor público a estabelecer condições adequadas para iniciativa que privada possa desenvolver
suas atividades. Assim, o setor público passa paulatinamente a se concentrar no cumprimento de
uma função, a regulação da atividade econômica.
21
O Brasil é uma federação composta por 26 Estados e 1 Distrito Federal e 5.564
municípios. Com uma grande extensão geográfica e notáveis desequilíbrios de toda ordem. É
imprescindível, assim, a harmonia de política pública entre os 3 diferentes níveis de governo. Ou
seja : é fundamental que municípios, Estados e Governo Federal caminhem no mesmo sentido na
promoção do desenvolvimento.

Neste sentido, o planejamento é uma importante instrumento. O município – ao elaborar


seu planejamento, seu plano de ação – não poderá ignorar as prioridades e os objetivos definidos
pelo Governo Federal e os Estados.

O Brasil é um dos maiores países do mundo e suas potencialidades turísticas são bastante
diversificadas, além de situarem-se em diferentes estágios de desenvolvimento. Não se trata de
homogeneizar as estratégias de desenvolvimento e promoção do turismo, mas de valorizar as
diferenças e escolher a melhor forma de inserção no cenário global. A demanda turística está
gerando novas possibilidades. A procura pelo contato com a natureza, por exemplo, abre novos
horizontes para o fortalecimento do turismo local.

Em resumo, compatibilizar não significa homogeneizar. Mas agir de maneira estratégica,


valorizando as vantagens relativas apresentadas no vasto território nacional. A integração entre as

21
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2005.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 26


diversas esferas de governo e entre os diferentes setores da economia é o caminho para o
aumento da efetividade de qualquer ação pública de desenvolvimento.

Para a OMT, a política turística deve ser vista como um elo a mais na corrente que conduz
ao maior bem estar dos cidadãos de um país, complementando a atuação dos agentes privados
que intervêm no mercado turístico, com a finalidade de evitar comportamentos que afastem seu
funcionamento do objetivo principal. Portanto, para evitar distorções e falhas de mercado22, o
setor público controla a atividade turística, por meio da formulação de programas e políticas
públicas que rejam o setor.

A criação do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil – em 2004,


transformou-se num importante marco. Fruto de esforço coletivo que envolveu agentes públicos e
privados, definiu claramente a política pública para o setor, propondo a integração e cooperação
entre municípios, estados e países.

A Regionalização do Turismo dever ser entendida como:

"... a organização de um espaço geográfico em regiões para fins de planejamento,


gestão, promoção e comercialização integrada e compartilhada da atividade
turística".

O Programa de Regionalização do Turismo é um modelo de gestão de política pública


descentralizada, coordenada e integrada. Seus princípios são a flexibilidade, articulação,
mobilização, cooperação intersetorial e interinstitucional e sinergia de decisões.
Dentre as principais ações do Programa, a integração do planejamento municipal é
destaque. Foca na análise do presente e definindo ações que terão influências no futuro, para que
os objetivos traçados sejam alcançados. Esta ação se dá por meio do Plano Estratégico de
Desenvolvimento do Turismo Regional, o qual prevê a implantação das ações no curto, médio e
longo prazo. Este Plano deverá ser elaborado e implantado em cada região turística do país.
Outra ação de destaque do Programa e fator fundamental no estabelecimento da gestão
coordenada é a formação de parcerias envolvendo os setores público e privado, a sociedade civil e
o terceiro setor. Mas também a formação de redes de relacionamento, que subsidiam o
planejamento integrado e a gestão da atividade turística. Este processo um poderoso instrumento
de troca de informações e, ao mesmo tempo, uma forma organizada de cooperação e articulação
dos atores envolvidos no processo de regionalização do turismo.

22
Falhas de Mercado: Distorções ocorridas na economia que impedem o mercado de levar o processo econômico a uma situação
social estável.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 27


Fica, desta forma, transparente a ação pública – em suas diversas esferas – balizando
investimentos e sugerindo caminhos para a iniciativa privada.

4.2 Capacitação da mão-de-obra


A disponibilidade de pessoal qualificado é importante em qualquer atividade econômica. E
o setor turístico, evidentemente, não representa uma exceção.

No processo de planejamento do desenvolvimento turístico é central a avaliação sobre a


oferta de mão-de-obra, sua qualificação e seus limites. Segundo a OMT, a formação de recursos
humanos para utilização no turismo requer a seguinte sistemática:

a) levantamento e avaliação do atual aproveitamento de pessoal no turismo e identificação


de qualquer problema e necessidade existente .
b) cálculo dos funcionários necessários no futuro, com base no número exigido para cada
categoria e no nível de habilidade de emprego.
c) avaliação dos recursos humanos totais que estarão disponíveis no futuro. Envolve o
exame do número de pessoas na área que estarão procurando emprego no futuro e
das qualificações dessas pessoas em termos educacionais.
d) determinação das necessidades exigidas quanto à educação e ao treinamento dos
funcionários e formulação dos programas de educação e treinamento necessários para
o oferecimento de pessoal qualificado”.

Ainda segundo a OMT, o amplo conjunto de necessidades de mão-de-obra para o


turismo pode ser organizado em 2 grupos/funções:

I - serviços de hotel, gerenciamento de pessoal, incluindo atendimento e recepção, serviços


de arrumadeira, de comidas e bebidas, produção de alimentos (cozinha) e manutenção.

II - serviços de organização e realização de viagens, passeios e gerenciamento de pessoal.


funcionários públicos para as diversas funções relacionadas ao gerenciamento turístico.
artesãos, artistas, diretores esportivos etc..

Os Estados e municípios brasileiros são bastante heterogêneos em matéria de mão-de-


obra disponível para o trabalho em turismo. De maneira geral a tarefa de qualificar recursos
humanos para qualquer atividade econômica está ligada ao setor público.

Mas o setor privado, em especial as grandes redes hoteleiras, possui programas próprios
de qualificação de mão-de-obra. O SEBRAE, SENAC e o SENAI têm realizado um extenso trabalho
nesta área. Por meio de oficinas estaduais, estes órgãos qualificam extensa lista de prestadores de
serviços que podem ser absorvidos pelo setor privado.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 28


O Ministério do Turismo apóia diversos projetos de qualificação de profissionais que
atuam no turismo: hospedagem, hotelaria, gastronomia etc. O objetivo é melhorar os produtos
turísticos já existentes. São cursos com cargas horárias diversas e que devem ser propostos pelos
municípios ou Estados, com o aval dos Fóruns Estaduais de Turismo. Através da fundação Banco
do Brasil e ainda com recursos próprios, o MTur repassa os recursos financeiros para a execução
dos projetos selecionados e que correspondam às normas ministeriais.

4.3 Construção e manutenção da infra-estrutura


Freqüentemente aponta-se a ausência de infra-estrutura como o grande impedimento ao
desenvolvimento da atividade turística em certas regiões brasileiras. Esta linha de pensamento
deixa implícito que a criação da infra-estrutura deve preceder a chegada do fluxo turístico. Mas
não é assim que o turismo começou em parte nenhuma do mundo.

Na verdade, é o fluxo de turistas, ainda que timidamente, que precede e induz a


instalação de um conjunto de melhorias nos serviços e equipamentos turísticos, assim como na
infra-estrutura de apoio ao turismo. E de que ela se compõe? São vários aspectos. Abaixo, são
apresentados alguns deles:

a) meios de acesso ao município - geralmente, é o item mais dispendioso. Os programas


de incentivo ao turismo – como o PRODETUR Nordeste, por exemplo – utilizam a maior
parte dos recursos financeiros neste aspecto. Freqüentemente, pratica-se importante
equívoco: esquece-se que investimentos em estradas geram gastos posteriores relativos a
sua manutenção. E esta despesa futura, de caráter continuado, deve ser prevista.

b) serviços e equipamentos de transporte - o acesso às áreas turísticas pode ser por ar,
terra, e água (oceanos, lagos e rios). Neste ponto é importante enfocar tanto a qualidade
dos meios de transporte, das instalações de apoio e também dos serviços ofertados. A
construção de novos aeroportos no País, tem facilitado o fluxo – especialmente de vôos
23
charters – de turistas estrangeiros no país, pelo acesso que representam. Mas também o
24
transporte interno às regiões turísticas apresentam substancial importância. Buggys e
bicicletas, por exemplo, tem sido utilizados em diversas localidades com grande sucesso.

c) saneamento e água tratada - a disponibilidade de água de boa qualidade e de uma


rede sanitária mínima é condição básica para a recepção de fluxos turísticos, em particular

23
Também conhecido como vôo fretado, é aquele previamente reservado e pago para empresa aérea por meio de um pool de
operadoras (Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/preparese/glossario.shtml)
24
Veiculo chamado erroneamente de Bugre - é um automóvel leve e aberto (geralmente de fibra), com rodas e pneus adaptados para
terrenos arenosos e esburacados (Fonte: Enciclopédia Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Buggy).

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 29


aqueles de maior poder aquisitivo. Este é um forte obstáculo para diversas regiões
brasileiras. Sistemas baratos e simplificados de abastecimento e tratamento de resíduos
tem sido utilizados no Brasil, com relativo sucesso.

d) oferta de energia elétrica – O governo federal busca para os próximos anos, fornecer
acesso a energia elétrica para a totalidade dos lares brasileiros. Com a energia, o turista
passa a ter acesso a todo um conjunto de confortos . Já se pode afirmar que este é um
obstáculo praticamente resolvido. A permanente necessidade de investimentos em geração
e distribuição de energia elétrica, no entanto, é um ponto que preocupa todo o cenário
econômico brasileiro, face as altas cifras envolvidas e a grande antecedência de tempo
exigida.

e) sistema de comunicações - a quase universalização da energia elétrica também facilitou


o acesso a telefonia fixa, a telefonia móvel e a internet. Muitos turistas têm necessidade de
manter-se “conectado“ ao restante do mundo e aos familiares, por mais distantes que
estejam. É de destaque o crescimento do número de cyber-cafés25 em locais onde o
turismo é uma atividade relevante.

f) sistema de segurança - o item ganha importância crescente no Brasil e no mundo. Em


abril de 1994, forçada por sucessivos crimes e atos terroristas, a Organização Mundial do
Turismo exortou todos os países do mundo – em caráter emergencial – a criar sistemas de
informação confiáveis sobre a violência, centros de intercâmbio de informações, capacitar
pessoal para o enfrentamento da violência e implementar programas de serviços de
emergência a viajantes e turistas em dificuldade. Alguns estados brasileiros têm esquemas
especiais de segurança para áreas tipicamente turísticas. Os resultados são estimulantes e
a fórmula simples: policiamento ostensivo nas regiões de maior apelo e fluxo turístico.

4.4 Incentivo aos eventos programados


Uma programação de eventos não precisa de, obrigatoriamente, ter vinculação com a
base de recursos naturais ou culturais locais. Neste momento o importante é a criatividade. No
próximo capítulo será mostrado um bom exemplo da criação de um evento – Festival de Inverno
de Pedro II (PI).

O carnaval é a grande festa popular no Brasil. Apesar de grande parte da população


gostar do reinado de Momo, há muitos que não sentem o mesmo e querem sossego. Diante desta

25
Local onde é oferecido aos seus clientes o acesso internet (geralmente em alta velocidade), disponibilizando ainda, serviços de
impressão, fax, gravação de arquivos em CD/DVD, venda de acessórios de informática, além de fucnionar como bar e restaurante.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 30


exceção – nada desprezível – surgiu um mercado “contra a maré“ que tem obtido expressivos
resultados. Este é um exemplo indiscutível de nicho de mercado, surgido da criatividade e da
inteligência de formuladores do turismo.

Campeonatos esportivos, festivais de teatro, literatura, gastronomia, música, cinema vem


sendo um diferencial para se atrair clientes e movimentar as economias locais em períodos de
baixa demanda e ocupação.

A promoção de eventos para combater a sazonalidade da atividade turística é usada


amplamente no mundo inteiro, registrando casos de sucesso e de insucesso. O segredo do
negócio parece estar ligado à criatividade e ao senso de oportunidade dos investidores.

4.5 Incentivo aos produtos associados ao turismo


O Ministério do Turismo define Produção Associada do Turismo, como:

"... qualquer produção artesanal, industrial ou agropecuária que detenha atributos


naturais e/ou culturais de uma determinada localidade ou região capazes de
agregar valor ao produto turístico.

São as riquezas, os valores e os sabores brasileiros. É o design, o estilismo, a


tecnologia. O moderno e o tradicional. É ressaltar o diferencial do produto turístico
para incrementar sua competitividade”.

A atividade turística engloba um conjunto de setores econômicos e estes podem ser mais
ou menos sensíveis ao turismo. Um restaurante localizado em qualquer capital brasileira, por
exemplo, em função de sua localização e estilo, pode ser fortemente dependente do fluxo turístico
recebido pela cidade. Logo, o seu produto é associado ao turismo . Para outros restaurantes, no
entanto, o fluxo turístico pode ser algo irrelevante, uma vez que a base é o consumidor local.

A presença de turistas numa região afeta quase todos os setores econômicos locais.
Alguns mais do que outros. Mas a recíproca também parece ser verdadeira. Ou seja, diversas
atividades impactam, incentivam e estão bastante associadas ao turismo. O artesanato é uma
destas atividades. E diante desta característica, apoiar produtos associados acaba sendo uma
interessante forma de alavancar o turismo. Não há uma fórmula acabada para a realização de tal
trabalho. Inclusive porque cada realidade tem diferentes produtos associados e diferentes
composições setoriais. O setor de vestuário pode ser muito próximo ao turístico em áreas
litorâneas, mas pode ser também completamente desconectado em áreas montanhosas.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 31


O Ministério do Turismo e a Fundação Banco do Brasil estabeleceram uma parceria com o
objetivo de apoiar o desenvolvimento de ações em APLs – Arranjos Produtivos Locais Turísticos . A
partir de um número mínimo de pequenos produtores cooperativados, estes – via APLs - passam a
ter visibilidade, dimensão e tornam o apoio público mais viável.

O público alvo desta ação são trabalhadores ligados direta ou indiretamente ao turismo,
como por exemplo: artesãos, prestadores de pequenos serviços, pequenos agricultores, artistas
plásticos, músicos, cantores, dançarinos, artistas circenses, promotores de ecoturismo, pescadores
etc.

4.6 Monitoria e avaliação dos planos, programas e projetos locais e


regionais26
Segundo os novos paradigmas que alicerçam o conceito sustentável de regionalização do
turismo, tanto o setor público, como todos os demais envolvidos na cadeia produtiva do turismo,
tem deveres e obrigações para com a conservação ambiental e a otimização do uso dos recursos
naturais, assim como para com todo o patrimônio sócio-cultural, aliados ao crescimento
econômico, porém com a atenção voltada à melhoria da qualidade e das condições de vida das
comunidades locais participantes no processo. Todo esse processo desenvolvimentista, de acordo
com esses novos paradigmas que ressaltam a sustentabilidade, buscam levar a um crescimento
ordenado, centrado em princípios bem definidos e que buscam a integração dos diferentes
segmentos sociais à cadeia produtiva do turismo.

O setor público, no mundo inteiro, enfrenta um desafio central: a procura do equilíbrio


fiscal. Por um lado, as receitas parecem ter alcançado seu teto máximo. Elevar impostos é tarefa
cada vez mais difícil, pelo menos politicamente. O desgaste é elevado.

Por outro lado, as despesas vêm crescendo, como resposta a novos desafios e novas
demandas exigidas pela sociedade. Em conseqüência, o desequilíbrio fiscal passa a ser uma
realidade cada vez mais presente. O dilema só permite uma solução: fazer mais, com menos.

Ou seja : as políticas públicas devem ser mais efetivas.

A efetividade dos gastos se realiza através de dois indicadores: eficácia e eficiência. O


primeiro refere-se ao grau de atingimento da meta definida. Se o objetivo é criar-se 1000
empregos e consegue-se gerar 900, a conclusão é que se atingiu 90% de eficácia.

A eficiência deixa transparecer o custo com o qual uma meta foi alcançada. Sempre há
caminhos alternativos para se chegar a um determinado fim. O caminho eficiente é aquele que alia
alcance do objetivo com baixo custo.

26
Consultar o documento sobre o Módulo Operacional 9 – Sistema de Monitoria e Avaliação do Programa

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 32


O sucesso de um projeto ou programa não depende única e exclusivamente de um bom
planejamento estratégico ou da eficiência e eficácia com que seus executores atuam na
implementação de suas ações. Todo e qualquer projeto ou conjunto de ações sofre, ao longo de
sua implementação, desvios no cumprimento de suas metas programadas em conseqüência de
mudanças e pressões provenientes dos seus ambientes interno e externo, que acabam por
influenciar positiva ou negativamente as ações programadas. Tais desvios, cuja magnitude varia
dependendo do tipo, da freqüência e do grau de influência ou ingerência sofrida, se não forem
percebidos, avaliados e ajustados a tempo, poderão resultar desde um simples atraso no
cumprimento das metas ou no desperdício de tempo e recursos, até no completo insucesso do
programa ou projeto pelo não alcance dos objetivos.

Em resumo, o desafio do setor público é ser ao mesmo tempo eficaz, eficiente e ainda
monitorar a implementação de suas ações. Para se enfrentar tal desafio são necessários
mecanismos que forneçam dados de desempenho.

E como mensurar o efeito dos investimentos e das ações realizadas? Como mensurar a
efetividade dos investimentos?

É, justamente, a partir de um trabalho de acompanhamento, documentação, análise e


avaliação de resultados, comparação entre o planejado e o realizado e a avaliação dos desvios
ocorridos que vai ser possível subsidiar o processo de tomada de decisão com informações
precisas e pertinentes para a adoção de medidas de ajustes em função de padrões pré-
estabelecidos ou das metas programadas.

O processo de monitoria e avaliação (M&A) representa uma etapa fundamental e


imprescindível no ciclo de vida de um projeto ou programa para garantir seu bom desempenho e o
sucesso final do mesmo. Para que isso seja possível é necessário que seja traçado um Plano de
M&A, muito bem definido e objetivo, para o qual devem ser destinados os devidos e necessários
27
recursos humanos, materiais e financeiros .

O sucesso desse Programa de M&A depende, ainda, de um bem estabelecido e


organizado trabalho de convencimento dos envolvidos quanto à necessidade de sua elaboração e
aplicação. Inicialmente é necessário ter claramente definido uma ou mais metas, passíveis de
mensuração. Em seguida, todos os programas devem ser monitorados, fornecendo
permanentemente dados para avaliação. Finalmente, os dados devem ser trabalhados para
possibilitarem aferições e conclusões.

27
Documento: Sistema de Monitoria e Avaliação do Programa – Módulo Operacional 9

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 33


A exemplo do que é feito nas empresas, o processo de monitoria e avaliação, no caso de
programas e projetos, é parte integrante das atividades de administração, sendo considerada uma
função típica da gestão.

No caso do Programa de Regionalização do Turismo e na implementação de seus


respectivos Planos Estratégicos, cabe às Instâncias de Governança Regional, como entidades
gestoras do Programa, executar a avaliação e o controle de toda a produção em cada um dos
níveis considerados (nacional, estadual, regional e municipal).

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 34


5 EXEMPLOS DA BUSCA PELA SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA NO TURISMO
BRASILEIRO

Neste capítulo são apresentados 3 casos de investimentos feitos na área turística. Seria
incorreto chamá-los de casos de sucesso em sustentabilidade econômica. Inclusive porque este
conceito pressupõe, como foi visto anteriormente, critérios de longo prazo. E estes são exemplos
de sucesso econômico no curto prazo. Ou seja, cada um no seu caminho, eles apresentam
elementos alvissareiros numa análise de curto a médio prazo. Em todos eles, a demanda turística
mostrou-se elástica ao investimento realizado; ou seja, o fluxo turístico respondeu positivamente
aos investimentos.

O primeiro exemplo – Praia do Forte (BA) – é um dos destinos mais conhecidos e


procurados do Brasil. Alvo de investimentos maciços do setor público baiano e da participação
central de uma ONG, a área recebe anualmente quase 2 milhões de turistas, muitos dos quais
“esticando” o destino Salvador.

O Vagafogo – o 2º exemplo – cresceu lentamente. Ao longo de 20 anos, uma pequena


fazenda localizada em Pirenópolis (GO), transformou-se num Santuário de Vida Silvestre,
privilegiando a consciência ecológica e o contato com a natureza. Com 12 mil visitantes anuais, a
iniciativa é modelo a ser reproduzido no País e sugere uma segura sustentabilidade no longo
prazo, tanto no aspecto econômico quanto no ambiental.

O Festival de Inverno de Pedro II no Piauí – 3º exemplo aqui estudado - é um caso ainda


bastante incipiente e desconhecido, mas exemplar no que se refere a criatividade e a participação
popular. Falar em jazz ou em inverno no Piauí é, no mínimo, curioso. Mas os resultados imediatos
são surpreendentes e apontam na direção de um duradouro sucesso econômico e social.

5.1 Praia do Forte (Mata de São João/BA)


O município de Mata de São João situa-se a 70km de Salvador, pertence a região
metropolitana da capital baiana e sua população alcança 33 mil habitantes. Situado na região
turística denominada de Costa dos Coqueiros, o município conta com renomadas atrações
turísticas : Costa do Sauípe, Praia Imbassaí e Praia do Forte.

A Costa dos Coqueiros, por seu lado, compreende a faixa litorânea norte da Bahia e reúne
áreas de orla dos municípios de Jandaíra, Entre Rios, Mata de São João, Camaçarí e Lauro de
Freitas.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 35


A Costa do Sauípe é formada por 8 quilômetros de praias selvagens, conta com diversos
resorts28 e pousadas temáticas e representa um dos maiores investimentos públicos e privados na
área de turismo.

A Praia do Forte – situada a 60 km da capital baiana – é conhecida pelos europeus como


a Polinésia Brasileira dada a cor cristalina do seu mar e a grande variedade de espécies marinhas
ali encontradas. Há grande ocorrência de desovas de tartarugas marinhas na região, o que
ensejou a instalação da sede do Projeto Tamar, famoso em todo o território nacional. O Projeto é
executado através de uma parceria entre o IBAMA29 e a organização não governamental Fundação
Pró-Tamar.

As praias do distrito de Praia do Forte se estendem por mais de 12 km com diversas


piscinas naturais formadas por arrecifes .

A Fundação Garcia D’Ávila

É muito freqüente a presença de um triângulo institucional como base do processo de


desenvolvimento turístico: o setor público, o setor privado e as organizações não governamentais
(ONGs).

Na Praia do Forte – diferente da maioria dos casos – a presença de uma ONG foi o eixo
central do início do processo e da formatação do que seria o futuro desenvolvimento do povoado.
Os setores público e privado vieram nitidamente à reboque.

Em 1981, instalou-se no povoado a Fundação Garcia D’ Ávila, uma organização sem fins
lucrativos, esta homenageia o jovem almoxarife Garcia D’ Ávila que chegou ao Brasil em 1549 com
Tomé de Souza e começou a construção da Casa da Torre, edifício que servia de posto avançado
para a vigilância de navios que se aproximavam de Salvador. O objetivo da Fundação era de
conservar o edifício e proteger a remanescente Mata Atlântica. Ela adquiriu toda a terra onde hoje
se encontra a Praia do Forte.

Em 1987, a Fundação elaborou um plano de manejo30 para aquela área e induziu a


Câmara Municipal da Mata de São João a aprovar uma lei de Uso e Ocupação do Solo, numa ação
pioneira e que se tornou de importância fundamental para a ocupação do solo local. O respeito
aos coqueirais e a vegetação nativa foram centrais na convivência harmonioso do homem com a

28
Resorts: São hotéis situados fora das áreas metropolitanas, em áreas especialmente aprazíveis, com atividades especiais de
recreação para hóspedes de lazer. Essas instalações podem incluir balneários aproveitando as paisagens da região e os recursos
naturais. São numerosos à beira-mar, mas ocorrem também à beira de lagos, rios, na serra, nas altas montanhas e na região rural. De
formas arquitetônicas variáveis, têm sistemas de refeições geralmente na base de pensão completa ou meia-pensão. São usuais
piscinas, jardins, grandes espaços de natureza, onde são oferecidas diversões e esportes diversos.(MTur, 2000).
29
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
30
Plano de Manejo: Projeto dinâmico que determina o zoneamento de uma unidade de conservação, caracterizando cada uma de
suas zonas e propondo seu desenvolvimento físico, de acordo com suas finalidades. Estabelece, desta forma, diretrizes básicas para o
manejo da Unidade (IBAMA, 1997).

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 36


natureza e evitaram a caótica ocupação que se observa, por exemplo, em grande parte das praias
da própria Bahia.

A Fundação é engajada em projetos ambientais, sociais e culturais e desempenha papel


vital no desenvolvimento turístico local.

Acrescente-se que foi esta ONG a fundadora do primeiro eco resort local e que doou
terras para a instalação do projeto Tamar na área, associando uma forte imagem ecológica à Praia
do Forte.

Praia do Forte

A pedra fundamental do produto Praia do Forte como destino turístico foi a instalação, no
povoado, da Fundação Garcia D’ Ávila. Sua presença possibilitou duas vertentes que marcariam
para sempre a trajetória turística da Praia do Forte. Por um lado, a lei municipal de uso e
ocupação do solo, por outro, a marca da preocupação com a natureza e com o
desenvolvimento sustentável. A instalação do renomado projeto Tamar e a fundação do
primeiro eco resort foram os pilares da simpática e charmosa imagem criada para o local. Este é o
primeiro elemento que diferencia a Praia do Forte em relação às centenas de atrações estilo sol e
praia que compõem a Bahia.

A inauguração do Praia do Forte Eco Resort em 1985, com 250 Unidades Habitacionais
abriu a porta para o turismo estrangeiro e foi o 2º do gênero na Bahia. O primeiro foi o Club
Mediterranée, inaugurado em 1979.

Remontando o histórico da instalação deste resort, remarque-se que até o ano de 2002, o
Brasil não possuía mais do que 24 empreendimentos deste tipo, sendo 10 na Bahia dos quais 5 na
Costa do Sauípe, também município de Mata de São João.

Os resorts brasileiros são dirigidos às faixas de maior poder aquisitivo do mercado e tem
grande visibilidade junto aos meios de comunicação.A proximidade de Salvador – 60km – é mais
um elemento que explica o vigor da atividade turística em Praia do Forte.

O fluxo turístico em Salvador e entorno cresce de maneira consistente nos últimos anos.
Atualmente, estima-se (PDITS – Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável -
Salvador e Entorno – Prodetur NE - Governo da Bahia – 2004) o fluxo turístico anual em 1,8
milhões contra 1,6 milhões em 1996. Os turistas nacionais compõem 90,1% da demanda total,
enquanto os estrangeiros representam 9,9%.

A Praia do Forte não atrai todo o turista que chega a Salvador, mas principalmente os
estrangeiros e aqueles de maior poder aquisitivo. Isto implica num maior dispêndio médio por
turista, exatamente o filão mais desejado do mercado.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 37


A grande proximidade existente entre Salvador e Praia do Forte gera importante
repercussão nesta última: a segunda residência. Assim, do total de 10.902 domicílios existentes
no município de Mata de São João, 1.130 ou 10,4% são formados por segundas residências.

A ampliação do Aeroporto Internacional de Salvador que consumiu quase 90% de todos


os investimentos feitos pela Bahia através do Prodetur I, representou um estímulo significativo ao
turismo local, já que 44% dos turistas que chegam a capital baiana o fazem através de aviões. Em
2004, entre vôos regulares e não regulares, 1,85 milhões de passageiros utilizaram-se do
Aeroporto de Salvador. Tal fluxo, representa outra âncora que sustenta e impulsiona o turismo na
Praia do Forte.

Os investimentos públicos recentes

A região turística da Costa dos Coqueiros situa-se ao norte do município de Salvador e


estende-se até a fronteira norte do estado da Bahia. Em 1993, o Governo Estadual concluiu uma
importante linha rodoviária: a Linha Verde. Como uma extensão da Linha do Côco – que liga
Salvador ao município de Mata de São João – a estrada representou um claro redirecionamento da
expansão turística baiana.

“Enquanto o acesso rodoviário à Costa dos Coqueiros não existia, o acesso hidroviário
para as Ilhas de Itaparica, de Maré e dos Frades, lento e restritivo, era a opção mais viável para os
soteropolitanos que procuravam lazer e alternativas de turismo” ( PDITS – Salvador e Entorno).

A Linha Verde abriu o litoral do norte de Salvador ao turismo, facilitando o acesso as


grandes belezas naturais daquela região.

A expansão turística também trouxe impactos negativos como observado no relatório do


Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável - Salvador e Entorno (PDITS – 2004)
“ ... a implantação da Linha Verde trouxe costumes modernos para comunidades que viviam
praticamente isoladas dos centros urbanos maiores, havendo grande risco de perda dos costumes
regionais e tradicionais, comprometimento das águas e do solo através do adensamento
populacional, sem um adequado programa de saneamento básico. Nestes locais já se pode
observar o crescimento desordenado e agressões aos ecossistemas interiores dos povoados ou do
seu entorno, a exemplo de Porto Sauípe onde se observa agressões através da implantação de
sub-moradias sobre áreas de mangue ou adjacentes a ele”. (PDITS – Salvador e Entorno)

O Pólo turístico Salvador e Entorno continuou reforçando sua infra-estrutura turística ao


longo da década de 90. E contando com financiamento do BID – Banco Interamericano de
Desenvolvimento – surgiu o Prodetur I, Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste.
Em conseqüência foram investidos naquele pólo US$ 104,3 milhões. Deste total, conforme
salientado anteriormente, a maior parte destinou-se a ampliação do Aeroporto Internacional de

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 38


Salvador, sendo ainda aplicados US$ 1,05 milhão no sistema de esgotamento sanitário da Praia do
Forte.

As obras de saneamento básico permitiram a captação e o tratamento do esgoto sanitário


para a totalidade das casas de Praia do Forte criando um enorme diferencial em relação ao
restante da Costa.

Mas a comunidade continuava com problemas graves. A drenagem era um dos principais,
já que haviam muitas áreas de cota zero, isto é, áreas muito baixas e sujeitas a alagamentos. A
cota máxima não superava 1 metro.

Mediante ao atraso na liberação dos recursos do PRODETUR II, o governo estadual fez
com recursos próprios novos investimentos na Praia do Forte, onde melhorias ligadas a
urbanização foram realizadas:

a) pavimentação de 20.000 m² das principais vias da vila;

b) paisagismo (canteiros com jardins) de 10.420 m² com priorização ao pedestre;

c) drenagem – 1,6 km linear – beneficiando uma área de 20.000 m²;

d) iluminação pública;

e) melhoria da sinalização turística;

f) construção de um Centro de Apoio ao Turista;

g) elaboração do Plano Diretor de limpeza urbana.

O conjunto destes investimentos tornou a Praia do Forte diferenciada em relação a maior


parte da Costa dos Coqueiros.

Para muitos, o local não tem o mesmo “clima”, teria se tornado muito “sofisticado”,
ficando semelhante a outros destinos turísticos como Búzios (RJ) ou Arraial d’Ajuda (BA).

A crítica tem sentido, mas também não se pode esquecer que os visitantes têm aprovado
essas transformações na localidade. A evolução da oferta dos meios de hospedagem em toda a
Costa dos Coqueiros e, particularmente em Mata de São João, não deixam margens a dúvidas.

As taxas de crescimento das ofertas de meios de hospedagem (MHs), unidades


habitacionais (UHs) e leitos – todas superiores às observadas para Salvador – confirmam que o
setor privado tem reagido aos investimentos públicos em infra-estrutura lá realizados.

De fato, a Costa dos Coqueiros e a Praia do Forte, em particular, receberam maciços


investimentos turísticos públicos nos últimos 15 anos.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 39


Tabela 1: Evolução no número de meios de hospedagem em Salvador
1996 1998 1999 2000 crescimento anual (%)
MHs 181 167 156 292 12,7
UHs 8427 8350 70751 10742 5,6
Leitos 18416 18018 15812 22516 5,2

Tabela 2: Evolução no número de meios de hospedagem em Praia dos Coqueiros


1993 1996 1998 2000 crescimento anual(%)
MHs 85 159 188 236 15,7
UHs 1057 2219 2591 4813 24,2
Leitos 2580 5605 6799 11611 24,0

Fonte : PDITS – Salvador e Entorno

Segundo o PDITS (op.cit.), os investimentos feitos pelo governo baiano na região da


Costa dos Coqueiros (período 1991-2001), equivaleram a US$ 174 milhões, basicamente aplicados
em transportes (US$ 63 milhões), saneamento (US$ 64 milhões), energia elétrica (US$ 33
milhões) e urbanização (US$ 6, 2 milhões).

Tais investimentos, se por um lado modificaram para melhor diversos aspectos da Costa
dos Coqueiros e da Praia do Forte, por outro lado deixaram claros seus limites na melhoria da
qualidade de vida e na promoção de um desenvolvimento sustentável, sobretudo nos seus
aspectos ambientais e socioculturais.

O PDITS de Salvador e entorno sintetiza o estágio atual da região: “De maneira geral, o
turismo no Pólo Salvador e entorno apresenta características típicas de um processo de
desenvolvimento em regiões com predominância de baixos níveis socioeconômicos, apoiado em
recursos naturais e históricos de grande atratividade. Não foi, em linhas gerais, resultado de um
processo de planejamento amplamente controlado, mas, equilibradamente, fruto de : (i) ações
públicas estratégicas com objetivos claros de desenvolvimento ; e (ii) processos espontâneos de
crescimento de fluxo”.

E mais adiante:

“As regiões com estruturas econômicas mais consolidadas possuem melhores condições
socioeconômicas, resultando em um ciclo virtuoso de apropriação das oportunidades sem sérios
danos ao meio ambiente. Nas demais municipalidades, por sua vez, são registrados processos de
degradação urbanística, ambiental e social até a intervenção do Governo Estadual”.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 40


A Praia do Forte serve claramente como exemplo de localidade que – beneficiada pelos
investimentos públicos, pelas ações protetoras da Fundação Garcia D’ Ávila e pelo seu marketing
bem elaborado, aproveitou sua proximidade e complementaridade com as atrações turísticas da
capital baiana e transformou-se num dos maiores destinos turísticos do país.

Apesar do expressivo crescimento da oferta de serviços turísticos na Praia do Forte, sua


capacidade de suporte está saturada, a pressão sobre o meio ambiente – especialmente durante a
alta temporada - está acima do aceitável e a cidade perdeu sua originalidade de aldeia de
pescadores, tendo a cultura local e seus hábitos sucumbidos às transformações geradas pelo
turismo.

Mas seria possível – dadas as condições locais – gerar-se desenvolvimento econômico


com simultânea sustentabilidade econômica, ambiental e sócio-cultural? Esta é uma questão
recorrente, polêmica e atual. O bom senso parece indicar para a possibilidade da existência de
uma situação de equilíbrio onde as 3 óticas sejam observadas, com limitados sacrifícios.

O caso de Praia do Forte parece indicar um relativo sucesso em termos econômicos,


sucesso mais modesto em termos sociais e ambientais e um desempenho frustrado em termos de
preservação da identidade regional e das tradições culturais .

5.2 Santuário Vagafogo (Pirenópolis/GO)


A cidade de Pirenópolis (GO) – situada a pouco mais de 100 km de Brasília e de Goiânia -
comporta um conjunto de casarões coloniais e nasceu à partir de um pequeno arraial minerador
no início do século XVIII. Ali se localiza uma interessante experiência turística, trata-se do
Santuário de Vida Silvestre Vagafogo.

O caso Vagafogo

Em 1979, um casal preocupado com a preservação ambiental comprou e mudou-se para


uma propriedade de 46 hectares, nas proximidades do centro de Pirenópolis (6 km).

Naquela época, morar “no mato” era algo inusitado e o início foi bastante difícil.
Empréstimo em bancos, exigia a prática de culturas como milho, feijão e arroz, completamente
divergentes aos objetivos da iniciativa, mas coerentes com o pensamento de viabilidade
econômica vigente.

O Vagafogo foi desenvolvendo-se lentamente. Ao longo da década de 80, apenas amigos


desfrutavam do lugar aos finais de semana. Algumas dificuldades forçaram a criatividade. E para
gerar dinheiro a solução foi levar para Brasília uma série de bens que já eram procurados pelos
amigos: doces, geléias, ovos, pães (todos produzidos na propriedade), além de outros da região,
como rapadura, açúcar mascavo e produtos naturais de boa aceitação. A partir de telefonemas e

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entregas em casa, o Vagafogo estava lançando as bases de uma espécie de telemarketing e
delivery de produtos naturais.

No fim dos anos 80, a cidade de Pirenópolis viu crescer seu fluxo de turistas, originário
basicamente do Distrito Federal e Goiás. A cidade passou a ter os primeiros empreendimentos
hoteleiros que ultrapassavam a fase de pequenas pousadas. A Quinta Santa Bárbara e,
posteriormente, a Pousada dos Pireneus representavam a confirmação de que o caminho do
ecoturismo e do turismo sustentável era acertado. Desenvolve-se a idéia de hotel-fazenda no
Brasil.

Para os novos hotéis, o Vagafogo representava uma atração local que atraía e
aumentava a permanência dos turistas na cidade. A organização de clínicas e temporadas de
emagrecimento impulsionou as vendas de produtos naturais na cidade e, logo, o Vagafogo não
tinha mais necessidade de buscar demanda em Brasília: os clientes iam até a propriedade.

No início dos anos 90, a Funatura – uma Organização Não-Governamental preocupada


com a sustentabilidade e a preservação ambiental – descobriu o Vagafogo como um modelo real
do que procuravam: experiência privada que aliava preservação ambiental a viabilidade
econômica.

O modelo objetivou o tombamento de áreas como Santuários de Vida Silvestre, com o


compromisso de manutenção das matas, surgindo assim, o Santuário de Vida Silvestre Vagafogo
com uma área de 17 hectares.

Em paralelo foram criadas no país as primeiras RPPN – Reserva Particular de Patrimônio


Natural – onde o Vagafogo foi a primeira, no gênero, localizada no Centro-Oeste brasileiro.

Auxiliada pela Funatura e após a realização de um plano de manejo financiado pela WWF,
o Santuário Vagafogo recebeu financiamento do governo inglês e também da Fundação Boticário
que viabilizaram a construção de seu Centro de Visitantes para o recebimento de um fluxo turístico
organizado. Ele foi inaugurado em março de 1992, com a presença do príncipe Philips da
Inglaterra.

Com tão ilustre personagem servindo de referência, a visitação ao Santuário cresceu. E


também o nível de exigência dos turistas que passaram a demandar alimentação, por exemplo. No
31
início, um café da manhã. Logo, surgiu a idéia de um brunch – lanche servido pela manhã e
tarde – que virou uma marca registrada local. O brunch do Santuário se constitui, em sua quase
totalidade, de produtos colhidos e preparados na própria fazenda. Trata-se de leites, queijos,
requeijões, manteiga, coalhada, sucos, doces em compotas, geléias, frutas desidratadas,
cristalizadas, além de produtos que vendem a marca e a filosofia do empreendimento como

31
Brunch: Do inglês breakfast and lunch (café e almoço). Um tipo de refeição de origem americana que combina café da manhã com
almoço.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 42


camisetas, canecas e xícaras. É o complemento ideal para a jornada de conhecimento do
Vagafogo.

Com o crescimento da consciência ecológica, o lugar começou a receber uma presença


crescente de escolares. Atualmente, 1/3 dos visitantes são estudantes. Estes, antes de
percorrerem o Santuário com suas atrações – trilhas e banhos – assistem a uma palestra educativa
sobre a sustentabilidade. Ali moram 3 grupos familiares, empregando 10 funcionários conscientes
que preservam a natureza. Não há incompatibilidade entre a sobrevivência e o respeito a
natureza, este é o grande aprendizado que Santuário do Vagafogo que repassar aos visitantes.
Sua receita é gerada à partir da taxa de visitação paga pelos turistas e também da venda de seus
produtos e serviços, que agregam valor ao produto final ofertado. Como a maior parte dos bens
são produzidos na própria fazenda, o efeito multiplicador das compras é intenso, não se realizando
os “vazamentos” a que se fez referência em capítulos anteriores.

Em 2002, o Santuário acrescentou uma nova atração em sua variedade de serviços, além
das caminhadas e banhos, o visitante passou a contar com a possibilidade de praticar esportes
radicais como o rappel e o arvorismo. Neste último caso, os turistas caminham entre os topos das
árvores através de escadas e cabos feitas com toda a segurança. Os novos esportes têm a sua
gestão terceirizada e atraem especialmente o público mais jovem, abrindo novas perspectivas para
o empreendimento. Cerca de 25% dos visitantes praticam os esportes radicais, aumentando o
faturamento do empreendimento.

Atualmente, a visitação alcançou o total de 12 mil pessoas/ ano. A taxa de visitante


visitação é de R$ 10,0 (adultos) e R$ 5,0 (menores de idade).

Em resumo, o Santuário Vagafogo foi uma iniciativa pioneira no país e teve que arcar com
as conseqüências; as dificuldades iniciais quase levaram à desistência da iniciativa.

Para se transformar neste sucesso econômico e ambiental, alguns atributos foram


essenciais para os gestores do Vagafogo:

• a escolha acertada de uma atração – o ecoturismo – que viria a ser amplamente


confirmada pelo mercado;

• a persistência que fez suplantar as dificuldades iniciais;

• a criatividade que engendrou dezenas de produtos elaborados à partir do que a


natureza ofertava;

• a sensibilidade e sintonia com o mercado, criando bens e serviços percebidos a


partir do contato com os turistas;

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 43


Tudo isso, acrescido do apoio de instituições públicas e privadas que ajudaram a
consolidar o sucesso do Santuário Vagafogo.

A expressão sucesso econômico, neste caso, não deve ser entendida como um
investimento que possibilitou um grande lucro a seus empreendedores; mas sim como uma
experiência onde se comprovou ser possível o sustento de uma família inteira, valorizando o
ambiente natural e conservando-o.

5.3 Festival de Inverno de Pedro II (PI)


O Estado do Piauí ainda é incipiente em termos de atividades turísticas. Sua infra-
estrutura é bastante limitada e o Estado apresenta basicamente 3 pólos turísticos : ao norte, o
Pólo do Litoral explora o binômio sol e praia, como a maior parte das capitais nordestinas; no
centro, Teresina – estrategicamente localizada – aproveita o fato de ser um importante centro
comercial; ao sul, o Pólo das Origens tem o turismo arqueológico como atração diferenciada e de
nível internacional, como a famosa Serra da Capivara e o Museu do Homem Americano.

Pedro II

A experiência a qual retrataremos a seguir não se situa, no entanto, em nenhum destes


pólos. A sede de Pedro II dista 195 km de Teresina, o maior emissor de turistas do Piauí. O
município situa-se na Serra dos Matões com uma altitude média de 600 metros, o que proporciona
um clima agradável e diferenciado, numa das regiões mais quentes do Nordeste. As belezas
naturais do município são inúmeras como o morro do Gritador, o Olho D’Água e a Ladeira da
Pirapora.

O município conta com uma população de 36.200 habitantes (IBGE 2000), o que o
posiciona entre os 10 maiores municípios do Estado. Pedro II é um dos municípios mais pobres do
Nordeste e do Brasil, qualquer que seja o indicador utilizado. Seu Índice de Desenvolvimento
Humano é de 0,605, o que classifica o município como o 74º do Piauí (sobre um total de 223) e o
4.575º do Brasil (sobre um total de 5.505).

O PIB municipal (2002) a valores nominais alcançou R$ 43,96 milhões, o que


correspondeu a uma renda por habitante de R$ 1.196,65, muito reduzida mesma para os limitados
padrões piauienses (R$2.112,91), dentre as menores rendas das 27 UF’s brasileiras.

O Festival de Inverno de Pedro II

Pelo menos 4 fatores atestam o potencial turístico de Pedro II: a força do seu
artesanato, basicamente tecelagem de redes, tapetes e cerâmicas; a ocorrência de minas de opala
puras, o que fez a cidade conhecida como “a cidade dos opalas”; belezas naturais que viabilizam

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a realização do ecoturismo e, finalmente, o clima de serra, único no Piauí e bastante raro no
Nordeste.

Este potencial, no entanto, não foi suficiente para impulsionar o turismo naquela região, a
atividade sempre foi incipiente em Pedro II.

Foi a partir deste quadro que no início de 2004 o Sebrae, o Governo do Estado do Piauí,
a Prefeitura Municipal de Pedro II e a Fundação Grande Pedro II se articularam e criaram um
evento: o Festival de Inverno de Pedro II.

O Festival apresenta música de qualidade como o jazz e o blues, a comercialização do


artesanato local, a realização de feiras, workshop e diferentes alternativas para a prática do
ecoturismo – passeios de bike, rappel, enduro e caminhadas. Saliente-se a ousadia em se propor
jazz e blues numa região sem a menor tradição no estilo.

Em maio de 2005, realizou-se a segunda versão do Festival de Inverno de Pedro II. O


sucesso foi indiscutível e surpreendente, como atesta o Sebrae – PI, “o que no ano de 2004 era
apenas uma idéia ousada, mostra agora que é de fato uma soma de boas soluções para demandas
como geração de emprego e renda, qualificação profissional, intercâmbio de informações e
educação, tudo baseado em projeções realistas e planejadas para crescer racionalmente,
respeitando aspectos sociais, econômicos e ambientais.” ( Folder do Festival de Inverno – 2005 –
Sebrae – PI).

A avaliação do Sebrae é de que o público do festival em 2005 tenha alcançado o total de


6.000 turistas. O dispêndio médio por turista foi de R$ 553,0, sendo R$ 120,0 com alimentação,
R$ 96,0 com transporte, R$ 75,0 com hospedagem, R$ 124,0 com compras e R$ 138,0 com outros
produtos e serviços. O valor dos recursos injetados no município durante os 4 dias do festival foi
de R$3,3 milhões, o que corresponde a 7,5% do PIB municipal de 2002.

A avaliação do Festival possibilitou conclusões bem interessantes sobre o evento.


Listamos, abaixo, algumas destas:

a) 42% dos turistas tomaram conhecimento do Festival através de amigos e parentes; a


TV informou 35% dos turistas;

b) 60% dos turistas moravam em Teresina; 29% nas outras cidades do Piauí; fora do
Estado, Brasília e Fortaleza apareceram com 2% cada;

c) 94% dos presentes pretendiam voltar a próxima versão do Festival;

d) 39% dos turistas tinham nível superior concluído; 31% eram estudantes universitários;

e) 62% vieram a Pedro II de automóvel e 33% de ônibus;

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 45


f) 31% dos turistas ficaram hospedados em pousadas familiares, 29% em casa de amigos
e 10% em hotéis.

A oferta de meios de hospedagem na cidade é muito reduzida. Mas o que era uma
restrição, transformou-se num dos pontos altos da iniciativa. A cidade cadastrou 150 casas que
ofertaram Bed & Breakfast – cama e café – no qual residências transformaram-se em pousadas. E
foi criada a Associação de Pousadas Domiciliares que funciona mesmo fora do período do festival.
A iniciativa, além de internalizar os benefícios da atividade turística, irradiam seus benefícios por
toda a sociedade local e tornam a sua população amplamente simpática a idéia do festival e ao
turismo.

O êxito do Festival de Inverno de Pedro II confirma a idéia de que a criatividade e a união


da sociedade – pública e privada – são capazes de reverter quadros de estagnação econômica e
social e gerar renda e emprego em locais sem maiores tradições turísticas, como é exemplo uma
grande parte do território nacional.

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6. GLOSSÁRIO 32

Arranjo Produtivo Local: Representa aglomerados de atividades produtivas, localizadas


em determinado espaço geográfico, que possuem grande afinidade econômica e são
desenvolvidas por empresas autônomas de pequeno, médio e até grande porte,
intensamente articuladas, formando um ambiente de negócios onde prevalecem relações de
recíproca cooperação entre as diferentes partes envolvidas.
Balança de Serviços: Relaciona-se com as transações nos campos de transporte, seguros,
turismo e rendimento de investimentos.

Cadeia Produtiva:

Câmbio: Operação financeira de compra, venda ou troca de moedas estrangeiras, ou de


papéis que representem estas moedas.

Conta-satélite: A Conta Satélite do Turismo (CST), instrumento desenvolvido pela


Organização das Nações Unidas e Organização Mundial do Turismo (OMT) para medir o
impacto efetivo do turismo nas economias mundiais, é indispensável para que governos
definam políticas e estratégias para o setor.

Cyber Café: Local onde é oferecido aos seus clientes o acesso internet (geralmente em alta
velocidade), disponibilizando ainda, serviços de impressão, fax, gravação de arquivos em
CD/DVD, venda de acessórios de informática, além de fucnionar como bar e restaurante.

Déficit: Resultado de uma conta em que as despesas são sempre maiores que as receitas.
Ou seja, sai mais dinheiro que entra. Quando há esse desequilíbrio nas contas públicas,
dizemos que há um déficit público. Esse, pode ser déficit (público) primário - que não inclui
gastos com juros das dívidas interna e externa - ou nominal - que leva em conta as despesas
com juros das duas dívidas.

Demanda: Nome dado às necessidades ou desejo de consumo, individual ou coletivo, de


bens e serviços. A relação entre oferta e demanda é um dos fatores determinantes de preços
no mercado. Se a oferta for maior que a demanda, por exemplo, o preço tende a cair. Já, se
a oferta não der conta da demanda, o preço tende a aumentar. Procura por bens e serviços.

Economia: Economia é o estado de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a


utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter aplicações
alternativas, para produzir diversas mercadorias ao longo do tempo e distribuí-las para
consumo, agora ou no futuro, entre diversas pessoas e grupos da sociedade. Ela analisa os
custos e os benefícios da melhoria das configurações de alocação de recursos (Paul A.
Samuelson).

32
Baseado no Dicionário de Termos Econômicos – Universidade de Brasília/UnB

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 47


Efeito Induzido: São os impactos gerados através dos salários, aluguéis e juros recebidos
das atividades turísticas que, por sua vez, geram outras atividades econômicas.

Efeito Multiplicador: Corrente ou fluxo de divisas em direção aos locais onde a atividade
turística se desenvolve. Não é constituída somente da divisas para aquelas empresas ou
pessoas vinculadas diretamente ao turismo, mas também os benefícios irradiados aos demais
setores da economia.

Externalidade: Impacto de determinadas ações sobre o bem-estar de pessoas que não


participam da ação.

Macroeconomia: Estudo dos fenômenos da economia com um todo, incluindo inflação,


desemprego e crescimento econômico.

Massa Salarial: É o resultado do produto entre a remuneração média dos empregados e o


número de empregos.

Matriz Insumo-Produto: Matriz que relaciona todos os setores da economia.


Mercado: Relação estabelecida entre um grupo de compradores e vendedores de um
determinado bem ou serviço.

Microeconomia: Estudo de como famílias e empresas tomam decisões e como se


interagem nos mercados.

Oferta: Disposição no mercado de bens ou serviços.

Produto Interno Bruto (PIB): O valor de mercado de todos os bens e serviços finais
produzidos em um país em dado período de tempo.

Receita: A quantidade paga pelos compradores e recebida pelos vendedores do bem,


calculado como o preço do bem multiplicado pela quantidade vendida.

Renda: Valor recebido como resultado de atividade produtiva individual ou coletiva.

Sazonalidade: Se caracteriza pelo aumento ou redução significativos da demanda pelo


produto em determinada época do ano. Os negócios com maior sazonalidade são perigosos e
oferecem riscos que obrigam os empreendedores a manobras precisas. Quando em alto
grau, é considerada fator negativo na avaliação do negócio. (Plano de Negócios / Sebrae).

Superávit: Resultado de uma conta em que as receitas são sempre maiores que as
despesas. Ou seja, entra mais dinheiro que sai. Quando há uma arrecadação maior que as
despesas nas contas públicas, dizemos que há um superávit público.

Sustentabilidade: Satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a possibilidade


de satisfações das gerações futuras (Brundtland, 1987).

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Sustentabilidade Econômica: a garantia de um crescimento turístico eficiente; o emprego
e os níveis satisfatórios de renda, junto com um controle sobre os custos e benefícios dos
recursos, que garante a continuidade para as gerações futuras

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 49


BIBLIOGRAFIA

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SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas. Plano de Negócios.
Disponível em < http://www.sebrae.com.br/br/parasuaempresa/planodenegocio_945.asp >.
Acesso em 01 dez. 06.
Universidade de Brasília, Dicionário de Termos Econômicos. Disponível em
<http://www.unb.br/face/eco/inteco/dicionario.htm >. Acesso em 19 nov. 2006.

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 51


Coordenação geral

Tânia Brizolla

Coordenação técnica

Benita Maria Monteiro Mueller Rocktaeschel

Acompanhamento Técnico

Wilken Souto

Consultoria
Antônio Cezar Fortes
Marcelo Abreu

Apoio

Conselho Nacional de Turismo – Câmara Temática de Regionalização


Órgãos Oficiais de Turismo das Unidades Federadas

Parceiros

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE/Nacional


Confederação Nacional do Comércio – CNC
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC/Nacional
Serviço Social do Comércio – SESC/Nacional

Versão Final sem revisão ortográfica (Dezembro de 2006). 52

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