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Nº142 | maio 2021 | mensal

www.portugalglobal.pt

Portugalglobal

PORTUGAL
E O REINO UNIDO
OS IMPACTOS DO BREXIT

ENTREVISTA // RICARDO REIS


PROFESSOR NA LONDON
SCHOOL OF ECONOMICS

OPINIÃO // MANUEL LOBO ANTUNES


EMBAIXADOR DE PORTUGAL EM LONDRES
SINES TECH
Innovation & Data Center Hub

Novo Hub Tecnológico em Sines, estrategicamente localizado para


conectividade de data centers e para empresas de IT&T – Tecnologias de
Informação e Telecomunicações

CONECTIVIDADE ROTAS TERRESTRES ROTAS EXCLUSIVAS


SEGURA PARA O MUNDO DE BAIXA LATÊNCIA

FORNECIMENTO ÁREA REDES DE ALTA TENSÃO


DE ÁGUA DISPONÍVEL ENERGIAS RENOVÁVEIS

ENTRE EM CONTACTO:
Tel.: + 351 213 827 750
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sumário
Portugalglobal nº142
maio 2021

Destaque [6]
Edição especial sobre os impactos do Brexit no relacionamen- 6
to entre Portugal e o Reino Unido. O que mudou a partir de
janeiro passado e as novas regras definidas pelo Acordo de
Comércio e Cooperação celebrado com a União Europeia.

Entrevista [22]
Ricardo Reis, Professor no departamento de economia
da London School of Economics.

Opinião [24]
Portugal e o Reino Unido no pós-Brexit: a análise do Embai-
xador de Portugal em Londres, Manuel Lobo Antunes.
22
Exportação [28]
O que precisa de saber para exportar para o Reino Unido.

Estudar no Reino Unido [32]


O que muda com o Brexit explicado pela PARSUK – Portu-
guese Association of Research and Students in the UK.

Turismo [36]
O impacto do Brexit no turismo português, por Cláudia 40
Miguel, diretora do Turismo de Portugal em Londres.

Empresas [40]
Testemunhos de empresas portuguesas com presença
no Reino Unido – Calvelex, Ferpinta, Instituto dos Vinhos
do Douro e do Porto, Transitex, Triva Group, Vision-Box
e Wewood – e de empresas britânicas em Portugal – DS
Smith e Revolut.

Factos & Tendências [54]


Pela Direção de Produto da AICEP.
Consulte aqui
Notícias [56] a Rede de Delegações
da AICEP
Tabela classificativa de países
– COSEC [58]
Bookmarks [59]
4 EDITORIAL Portugalglobal nº142

PORTUGAL E O REINO UNIDO NO PÓS-BREXIT


Como afirma o Se- Por outro lado, é também considerado que a
nhor Embaixador de nível de investimento, Portugal poderá captar
Portugal em Londres, o interesse de um maior número de investido-
Manuel Lobo Antu- res britânicos, atraídos pelos nossos fatores de
nes, em artigo publi- competitividade, mas também pela vantagem
cado nesta edição da de poderem ter uma operação num país da
Portugalglobal, nunca União Europeia. A AICEP tem vindo a desenvol-
foi desejo de Portugal ver várias ações de comunicação no mercado do
que o Reino Unido abandonasse a União Euro- Reino Unido para aumentar a visibilidade sobre
peia. Tal, porém, não se verificou e, portanto, te- a atratividade de Portugal, nomeadamente para
mos agora um desafio pela frente que é manter comunicar os fatores que diferenciam Portugal
o excelente relacionamento que sempre existiu enquanto destino de investimento.
entre os dois países.
Uma nota para o turismo português, setor forte-
E se ao nível institucional esse relacionamento mente atingido pela crise pandémica, mas que
histórico deverá prosseguir sem sobressaltos, tem no Reino Unido um dos principais emisso-
o desafio coloca-se, sobretudo, ao nível das res de turistas, sendo expectável que o interesse
relações económicas bilaterais, que passaram, dos britânicos pelo destino Portugal seja reto-
mado assim que a conjuntura o permitir.
desde 1 de janeiro, a obedecer a novas regras
dado o posicionamento do Reino Unido como
Esperamos, com esta edição especial dedicada
país terceiro para a União Europeia.
ao Brexit, contribuir para o esclarecimento das
empresas portuguesas que continuam a apostar
Apesar dos entendimentos alcançados com o
no mercado britânico, no seguimento das varia-
Acordo de Comércio e Cooperação celebrado
das ações (seminários, webinars, etc.) que te-
entre a União Europeia e o Reino Unido, é um
mos vindo a desenvolver desde o pedido formal
facto que as regras do comércio com este país
de saída do Reino Unido da UE.
mudaram, nomeadamente alterações aduanei-
ras, fiscais e regulamentares, e que há novos A Delegação da AICEP em Londres está prepa-
procedimentos a ter em conta nas relações rada para as receber e aconselhar na sua estra-
com o Reino Unido. tégia de abordagem ao mercado do Reino Uni-
do à luz desta nova realidade.
As empresas, conforme os testemunhos que
aqui publicamos, estão a adaptar-se a estas no- Boa leitura!
vas regras e afirmam-se, na generalidade, con-
fiantes com o futuro da sua presença no merca- LUÍS CASTRO HENRIQUES
do britânico. Presidente do Conselho de Administração da AICEP

Revista Portugalglobal Conselho de Administração Fotografia e ilustração Colaboram neste número


www.portugalglobal.pt Luís Castro Henriques (presidente), ©Pixabay, ©Unsplash, Rodrigo Cláudia Miguel,
Mensal João Dias, Marques, Joana Morgado, GALP.
Delegação da AICEP em Londres,
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6 DESTAQUE Portugalglobal nº142

PORTUGAL – REINO UNIDO


OS IMPACTOS DO BREXIT
Membro da União Europeia (à data Comunidade Económica Europeia) desde 1973,
o Reino Unido decidiu, no seguimento de referendo realizado em 2016, sair desta
comunidade de Estados europeus, assumindo as consequências de uma decisão cujos
impactos se fazem sentir desde o início deste ano.

Sendo um dos principais parceiros comerciais de Portugal, o Reino Unido


mantém-se como um mercado de grande importância para as empresas portuguesas,
que procuram adaptar-se às novas regras ao nível do relacionamento comercial,
em conformidade com o Acordo celebrado com a União Europeia.

Analisamos detalhadamente neste dossier os impactos do Brexit no seu


relacionamento com Portugal e com os agentes económicos portugueses.
maio 2021 DESTAQUE 7

Em março de 2017, o Reino Unido lidade dos bens e inclui um capítulo todos os atores, menores serão os im-
acionava oficialmente o artigo 50.º dedicado aos serviços, assim como pactos e os custos decorrentes desta
do Tratado da União Europeia – que disposições em matéria de contra- nova conjuntura.
prevê a saída de um Estado-membro tação pública, transportes aéreos e
da União – já depois de a maioria dos rodoviários, investimento, comércio As atividades de preparação resultam
britânicos (51,9 por cento) ter vota- digital, pescas, energia, cooperação de um esforço conjunto, envolvendo
do nessa direção, no referendo de policial e judicial, coordenação de os níveis europeu, nacional, regional e
2016. Depois de longas negociações, sistemas de segurança social, coope- local, bem como as empresas/opera-
o Reino Unido deixou oficialmente a ração em matéria de segurança sani- dores económicos, cidadãos e outras
União Europeia (UE) a 31 de janeiro tária e cibersegurança, a participação partes interessadas. Todos os atores
de 2020, tendo o Acordo de Saída do Reino Unido em programas da devem manter-se informados, seguir
negociado, previsto um período de União Europeia, entre outros. as recomendações, e preparar-se para
transição até 31 de dezembro de todas as eventualidades1.
2020, durante o qual prevaleceram Uma nova realidade
as regras do Mercado Único Europeu
no relacionamento
e da União Aduaneira. Principais
com o Reino Unido
implicações
Em paralelo, decorreram negociações No dia 1 de janeiro de 2021, a reali-
para um acordo que enquadrasse a re- dade alterou-se com o fim do período
do pós-Brexit
lação futura entre a UE e o Reino Uni- transitório e, pese embora o acordo O Brexit provocou grandes mu-
do. Esse acordo foi, por fim, alcança- alcançado sobre a relação futura entre danças no relacionamento co-
do a 24 de dezembro de 2020, tendo a UE o Reino Unido, ocorreram altera- mercial entre a UE e o Reino
sido decidida a sua aplicação provisó- ções importantes e com impacto, ao Unido que, a partir de 1 de ja-
ria a partir de 1 de janeiro, enquanto nível dos cidadãos, do comércio de neiro de 2021, passou a reger-
decorrem as necessárias etapas para a bens e de serviços ou da mobilidade, -se pelo Acordo de Comércio
respetiva ratificação. tanto da UE para o Reino Unido, como e Cooperação. Não obstante os
no sentido inverso. entendimentos conseguidos com
Este acordo é constituído por três o “Acordo Brexit”, são várias
pilares principais: um acordo de co- É fundamental que cidadãos, consu- as consequências nas regras do
mércio livre; uma nova parceria para midores, empresas, investidores, estu- comércio com o Reino Unido,
a segurança dos cidadãos; e um acor- dantes, investigadores e todas as par- nomeadamente alterações adua-
do horizontal em matéria de gover- tes interessadas estejam a par dessas neiras, fiscais, regulamentares
nação. O Acordo de Comércio e Coo- alterações e se preparem adequada- e novos procedimentos a ter em
peração prevê, nomeadamente, zero mente para esta nova realidade, pois conta nas relações estabelecidas
tarifas e zero quotas para a genera- quanto mais preparados estiverem com o Reino Unido.

Em breves notas, o Acordo


de Comércio e Cooperação al-
cançado entre o Reino Unido
e a UE significa:

Troca de bens e serviços


•
Isenção recíproca de quotas e
tarifas aduaneiras para a gene-
ralidade dos bens;
•
Certas barreiras regulatórias:
(1) Regras de origem: o Reino
Unido terá de certificar a origem
das suas exportações para o es-
paço comunitário e, nos casos

1
Artigo de David Santiago ao JN
8 DESTAQUE Portugalglobal nº142

de bens que ultrapassem o limite Concorrência


de 40 por cento à incorporação Ambas as partes se comprometem a
de componentes oriundos de paí- assegurar condições de concorrência
ses terceiros ao Reino Unido para equitativas mediante uma elevada
o respetivo fabrico, poderão ser proteção em domínios como a pro-
aplicadas novas taxas alfandegá- teção do ambiente, a luta contra as
rias. Londres conseguiu que os com- alterações climáticas e a fixação do
ponentes vindos da UE sejam con- preço do carbono, os direitos sociais
siderados como "made in Britain". e laborais, a transparência fiscal e os
(2) Segurança e saúde: a União re- auxílios estatais, bem como uma apli-
quer que os exportadores britânicos cação eficaz das normas aplicáveis
de bens alimentares assegurem cer- a nível nacional, um mecanismo de
tificados sanitários e controles fitos- resolução de litígios vinculativo e a
sanitários nos postos fronteiriços. possibilidade de ambas as partes to-
marem medidas corretivas.
De forma a permitir que as empre-
sas se adaptassem aos constran- Ao contrário do pretendido pela UE,
gimentos decorrentes da saída do não ficou previsto um mecanismo a contraparte divirja demasiado das
Reino Unido do mercado único, o capaz de vincular o Reino Unido a regras em causa.
governo britânico optou por uma acompanhar a evolução futura das
implementação gradual de contro- regras em vigor no mercado único Os litígios que daqui resultem não fi-
los, pelo que a maioria dos controlos europeu, mas apenas a criação de carão a cargo do Tribunal de Justiça da
à importação só entrarão em vigor a um mecanismo que permita, a qual- UE (outra exigência de Bruxelas), mas
1 de janeiro de 2022. quer das partes, aplicar sanções caso de um painel independente.

Trabalho
Os cidadãos que já viviam no Reino
Unido e na UE antes do fim de 2020
têm os seus direitos garantidos e ne-
cessitam apenas de formalizar o seu
estatuto de residente.

A partir de 2021, para trabalhar


no Reino Unido, os europeus preci-
sam de cumprir certos requisitos do
novo sistema de pontos que o go-
verno britânico implementou para
a imigração. Ter boas qualificações,
falar inglês, ter uma oferta de tra-
balho, no mínimo, de 25.600 libras/
ano (20.480 libras/ano em situações
específicas), e desempenhar profis-
sões com forte procura (atualmente
incluem enfermagem, engenharia
civil, psicologia) são alguns exem-
plos de valorações que contribuem
para a obtenção de visto de trabalho.
A isto acrescem custos de emissão do
maio 2021 DESTAQUE 9

provável que seja resolvida a ques-


tão crucial das equivalências, que
permite que as empresas financeiras
do Reino Unido operem no conti-
nente. Nesse caso, o mais certo é
que o Reino Unido perca parte do
acesso ao mercado europeu neste
setor, que é determinante para as
exportações britânicas.

Para se ter noção, o poderoso cora-


ção financeiro de Londres (a “City”),
é responsável por cerca de 7 por
cento do PIB e 10 por cento da re-
ceita tributária do país, ou seja, cer-
ca de 76 mil milhões de libras.
visto e de uma sobretaxa para aceder • Fazer prova de: (1) seguro de viagem
a serviços de saúde. com cobertura para saúde (Cartão
Europeu de Saúde deixa de ser váli- Pescas
Em sentido inverso, para trabalhar na do para britânicos. Reino Unido ten- Ficou acordado um período de tran-
UE, os cidadãos britânicos precisam ciona emitir um cartão com cober-
sição de cinco anos e meio para as
de visto e/ou uma autorização de tra- tura semelhante); (2) suficiência de
pescas, e ficaram previstas negocia-
balho (visto é sempre necessário para recursos para a estadia; (3) bilhete
ções anuais com o objetivo de de-
estadias superiores a 90 dias consecu- de regresso.
terminar as quotas que deverão ser
tivos num período de 180 dias), de-
pendendo da legislação em vigor no Serviços Financeiros definidas para lá desse prazo. Du-
país da UE em causa. rante esta fase, as duas partes asse-
O acordo é omisso quanto à chamada
equivalência, necessária para que as guram direitos de acesso recíproco
O controlo da circulação de trabalha- empresas que atuam na "City" londri- às águas de cada um dos lados.
dores está entre as questões por resol- na possam vender os seus serviços no
ver entre europeus e britânicos. mercado único europeu. Transportes
Ficou garantida a conetividade aé-
Turismo A Comissão Europeia, que decide
rea, rodoviária, marítima e ferroviá-
Turistas europeus no Reino Unido sobre o acesso ao mercado único,
já avisou que precisa de mais infor- ria entre os dois blocos. Os aviões
• Podem entrar e ficar em solo britâni-
mações de modo a atribuir maiores de carga e de passageiros vão po-
co até seis meses sem visto;
equivalências. Os dois lados decidi- der operar como até aqui, contudo
• Terão de passar a entrar nas fronteiras
ram negociar um memorando de en- haverá mudanças para os camiões
pela fila das chegadas internacionais;
tendimento com vista a um sistema de carga de longo curso. Ambas
•Cartões de identidade nacionais serão reforçado de cooperação na supervi- as partes comprometem-se a fazer
aceites até 30 de setembro de 2021. são financeira.2
uma gestão eficaz dos controles de
• Isenção recíproca de visto (para esta-
vistos e fronteiriços, sobretudo na
dias de até 90 dias). A 26 de março, o Tesouro britânico
anunciou que o Reino Unido e a UE fronteira entre o Reino Unido e a
Turistas britânicos na UE chegaram a um acordo pós-Brexit União, e em especial para agilizar a
•Passaporte com, no mínimo, seis para cooperar na regulamentação de passagem dos camionistas a fim de
meses de validade; serviços financeiros. No entanto, é im- evitar filas intermináveis.3

2
https://www.jornaldenegocios.pt/economia/europa/uniao-europeia/detalhe/e-1-de-janeiro-e-o-acordo-pos-brexit-ja-vigora-afinal-o-que-e-que-muda
3
https://www.jornaldenegocios.pt/economia/europa/uniao-europeia/detalhe/e-1-de-janeiro-e-o-acordo-pos-brexit-ja-vigora-afinal-o-que-e-que-muda
10 DESTAQUE Portugalglobal nº142

A importância somados (Alemanha, Holanda, Fran- e esperada, mas estes deverão conti-
ça), só ficando atrás de EUA e China. nuar a ser dos principais setores ex-
do mercado
Pelo ritmo de crescimento, é esperado portadores britânicos.
do Reino Unido que esta “tempestade perfeita” – que
O Reino Unido é a 6ª maior economia combina disponibilidade de talento O potencial do mercado não irá des-
a nível mundial e a 2ª no contexto do (universidades mais prestigiadas do vanecer-se, aliás, há eventualmente
continente europeu. O país posiciona- mundo), disponibilidade de financia- margem para as empresas portugue-
-se como 10º exportador de bens mento e promoção do empreendedo- sas substituírem empresas europeias
e 2º de serviços a nível mundial e como rismo (incentivos) – não desapareça. neste processo de reajustamento,
5º importador de bens e de serviços tirando partido da proximidade geo-
(de acordo com as estimativas do FMI Setores como o automóvel, aero- gráfica (e não só) entre Portugal e o
e do ITC – International Trade Centre náutico e defesa têm também forte Reino Unido. É legítimo dizer que as
para 2020).

Os serviços representam cerca de 80


por cento da economia britânica (tí-
pico de uma potência desenvolvida),
sendo de destacar, naturalmente, os
serviços financeiros. A praça financei-
ra de Londres, apesar dos necessários
esforços de adaptação decorrentes do
Brexit, não deverá subitamente perder
a sua capacidade de atrair investido-
res. Tem sido, aliás, um dos principais
mobilizadores da “green finance”
(investimentos socialmente respon-
sáveis, que são feitos em empresas
que apoiam ou fornecem produtos e
práticas ambientalmente corretas). Há
expectativa que continue a ser uma
das principais ligações, senão a princi-
pal, entre o este e o oeste. Prova disso
é o facto de, historicamente, muitas
empresas de origem não europeia ele-
gerem Londres para estabelecer a sua
sede europeia. A construção é outra
indústria que contribui consideravel- tradição e peso na economia. Fa- empresas portuguesas já beneficiam
mente para o peso elevado dos servi- bricantes como a Rolls Royce, Aston de uma certa consideração qualita-
ços na economia. Martin, Jaguar, BAE Systems, Ultra tiva aos olhos do empresário e do
Eletronics, QinetiQ são apenas alguns consumidor inglês, não só pela histó-
Se os serviços financeiros estão a pas- exemplos de empresas originalmente rica aliança entre os dois países, mas
sar por algumas dores de adaptação, britânicas; enquanto Honda, Nissan, sobretudo pelo facto de conhecerem
o mesmo não se aplica ao setor tech, Toyota, Boeing, Bombardier, Airbus, bem o nosso país (maior emissor de
que cresce mais depressa do que qual- são exemplos de grandes fabricantes turistas) e porque, efetivamente, a
quer outro no Reino Unido. Conside- estrangeiros estabelecidos no Reino nossa oferta é considerada compe-
rado um dos maiores ecossistemas de Unido. De forma semelhante, os seto- titiva e de qualidade. Existe sempre
tecnologia do mundo, com milhares res automóvel e aeronáutico também espaço para a entrada de produtos
de startups construídas em torno de contribuem substancialmente para a ou serviços de novas empresas por-
uma forte cultura empresarial, o Rei- nossa economia, ao ponto de os au- tuguesas que trabalhem em nichos
no Unido continua a gerar mais uni- tomóveis, componentes automóveis ou que consigam diferenciar-se pela
córnios (empresas avaliadas acima de e componentes de veículos aéreos sua inovação tecnológica (ex. smart
mil milhões de dólares) e a atrair mais constituírem as principais exportações cities) ou design, originalidade, sus-
investimento que o gerado por todos nacionais para o Reino Unido. O Brexit tentabilidade ambiental e/ou outro
os principais “concorrentes” europeus está a exigir uma adaptação normal fator diferenciador.
maio 2021 DESTAQUE 11
12 DESTAQUE Portugalglobal nº142

Os impactos do Brexit associados à pandemia

A economia britânica ressentiu- para depreender o real declínio do co- comerciantes britânicos. Apesar
-se dos efeitos do Brexit e, já em mércio. Para além dos naturais custos do Reino Unido se ter decidido
2019, registou a mais baixa taxa de adaptação, estas foram as principais pelo adiamento do controlo das
de crescimento dos últimos cinco razões para a queda de cerca de 40 por importações, a UE está a aplicar o
anos (1,4 por cento). Em 2020, cento das exportações britânicas para regime definido desde o dia 1 de
fruto dos efeitos acrescidos da a UE no primeiro mês do ano, quando janeiro de 2021.
pandemia COVID-19, verificou-se comparado com o mês anterior. O exe-
uma contração recorde de 9,8 por cutivo britânico garantiu, entretanto, Contrariamente ao que se au-
cento (versus menos 8,4 por cento que os volumes de mercadorias entre o gurava e exceto casos pontuais,
para a Zona Euro), segundo dados país e a UE voltaram a níveis "normais" não se veio a verificar o pressá-
do gabinete de estatística nacio- no início de fevereiro (Bloomberg noti- gio da escassez de produtos nos
nal, o Office for National Statistics ciou que as exportações caíram 27 por supermercados britânicos, nem
(ONS). De acordo com cálculos cento no conjunto dos dois primeiros filas intermináveis nas fronteiras
da Bloomberg que se baseiam na meses do ano, em relação ao mesmo entre o Reino Unido e o bloco
comparação da evolução britânica período do ano anterior). europeu. Há sim um processo
com a dos seus pares do G7, a saí- de adaptação em curso, de par-
da do Reino Unido da UE (Brexit) Quando entrou em vigor o Acordo de te a parte, desde os produtores
já custou mais de 150 mil milhões Comércio e Cooperação entre Londres aos consumidores, passando pe-
de euros à economia britânica, e Bruxelas, a UE impôs controlos sani- los grossistas e retalhistas, sem
podendo o valor superar 230 mil tários e fitossanitários a produtos de esquecer os agentes e despa-
milhões até final do ano. origem animal e plantas, além de exi- chantes, que culminará no novo
gir formulários e burocracia que tem normal: lidar com o Reino Unido
O Reino Unido enfrenta, atual- criado alguns atrasos e obstáculos aos como país terceiro.
mente, uma dupla-crise. Para além
dos impactos da pandemia, que se
sentem no mundo inteiro, incluin-
do no Reino Unido, o governo
britânico está a orientar-se para a
realidade pós-Brexit que, não obs-
tante o acordo alcançado, está a
implicar um pesado processo de
adaptação em termos logísticos e
regulamentares.

Em antecipação a possíveis pro-


blemas de abastecimento nos pri-
meiros dias do Reino Unido fora da
União Aduaneira, muitas empresas
reforçaram as suas encomendas em
dezembro, de forma a acumularem
stocks. Em acréscimo, a entrada
em vigor do Acordo coincidiu com
os novos controlos implementados
às transportadoras que atravessam
o Canal da Mancha, para evitar a
propagação da variante britânica
da COVID-19, pelo que será neces-
sário esperar pelos próximos meses
maio 2021 DESTAQUE 13

Porém, esse processo não será a COVID-19, que está significativa- poderão constituir o catalisador
fácil para os dois lados. Segundo mente adiantado quando comparado necessário da recuperação econó-
uma sondagem feita pela British com os dos países da UE, tem sido mica britânica. O Banco de Ingla-
Chamber of Commerce, uma em visto por alguns como uma vitória terra prevê um crescimento de 5
cada quatro empresas britânicas do Brexit. Cerca de 40 por cento dos por cento para 2021.
parou de vender para a UE e 40 britânicos já tomou a 1ª dose, contra
por cento das empresas britânicas apenas 12-14 por cento da média eu- Outra preocupação desta dupla
exportadoras apresentou menores
ropeia (Portugal vai nos 17 por cento). crise é o desemprego. Prevê-se
receitas provenientes de vendas
Espera-se que este plano de vacinação que a taxa de desemprego (cerca
internacionais no primeiro trimes-
(e consequente imunização de toda de 5 por cento, atualmente) ve-
tre do ano, quando comparado
a população) acompanhe o plano de nha a subir drasticamente assim
com o último de 2020. Controlos
desconfinamento e permita a reaber- que termine o esquema de sub-
na fronteira, atrasos logísticos,
burocracia, questões relacionadas tura definitiva de toda a atividade eco- sídios à retenção de emprego do
com IVA, são alguns dos principais nómica, nomeadamente do retalho, qual, segundo dados do governo
problemas identificados pelas em- restauração, hotelaria, eventos, estas britânico em novembro de 2020,
presas, agora que já decorreram que foram algumas das indústrias que beneficiavam 9,6 milhões de tra-
100 dias do pós-Brexit. mais sofreram com a pandemia. Os balhadores. Este apoio, que estava
níveis de consumo que se antecipam, previsto terminar em outubro de
Por outro lado, o plano de vaci- tendo em conta as poupanças das fa- 2020, foi prolongado até setem-
nação do Reino Unido contra mílias geradas durante a pandemia, bro de 2021.

Principais problemas/ consumidor. Em paralelo, como con- as suas implicações e eventuais opor-
sequência da disrupção causada pelas tunidades que daí pudessem resultar
constrangimentos
alterações alfandegárias intrínsecas ao para as empresas portuguesas, com
A UE e o Reino Unido constituem ago- fim do período de transição do Brexit, recomendação das respetivas medidas
ra blocos comerciais e regulamentares o governo britânico decidiu adiar os de preparação necessárias.
distintos, o que cria entraves ao comér- controlos alfandegários efetuados a
cio de bens nos dois sentidos: embora bens importados oriundos da UE (na Não obstante, a “tranquilidade” sen-
o Acordo de Comércio e Cooperação sua maioria, para janeiro de 2022), tida a nível de tráfego marítimo entre
(ACC) tenha introduzido mecanismos permitindo que as empresas britânicas Portugal e o Reino Unido contraria a
práticos de simplificação aduaneira, se adaptem corretamente aos novos “agitação” sentida no tráfego rodo-
persistirão obstáculos horizontais aos procedimentos. Ao longo dos últimos viário (representada pelas filas de ca-
vários setores. A imposição de novos anos, a AICEP, em articulação com vá- miões na fronteira nos primeiros dias
procedimentos e aumento da carga rios Ministérios e autoridades nacionais da saída do Reino Unido da UE): o vo-
burocrática acarretam novos custos e com a participação de diversas As- lume de carga contentorizada impor-
logísticos para os parceiros comerciais sociações Empresariais, foi organizan- tada-exportada entre os dois países
britânicos e europeus, algo que poderá do diversas sessões de esclarecimento com destino/base no Porto de Sines
ter impacto no aumento dos preços no (seminários e webinars) sobre o Brexit, cresceu 14,8 por cento no primeiro
14 DESTAQUE Portugalglobal nº142

de libras em transferências de ativos


(como exemplo, a JP Morgan redire-
cionou 200 mil milhões de libras para
a Alemanha e o Barclays 166 mil mi-
lhões de libras para Dublin). Como tal,
Londres poderá eventualmente perder
alguma (mas não toda) relevância en-
quanto capital financeira da Europa
e Mundo, em detrimento de outras ci-
dades europeias (Dublin, Luxemburgo,
Frankfurt, Paris, entre outras). A pos-
sível desvalorização da libra esterlina
antevê um menor poder de compra
do consumidor britânico, tornando-se
mais caro para o Reino Unido impor-
tar; em contrapartida, aumenta a com-
petitividade dos produtos britânicos
na ótica das exportações.

Tal como ilustrado nos resultados do


referendo de permanência do Reino
Unido na UE, realizado em 2016, a Es-
cócia e a Irlanda do Norte demonstra-
trimestre de 2021; similarmente, o Outros constrangimentos financeiros
ram maior inclinação “pró-permanên-
Porto de Lisboa não denotou, até ao afiguram-se como desafios inerentes
cia” que as restantes duas nações do
momento, quaisquer irregularidades à adaptação à realidade imposta pelo
na atividade marítima entre os países . Reino Unido. Como resultado, é nelas
Brexit. O impacto da saída do Reino
visível um rescaldo prolongado de um
Unido da UE foi sentido, em particular,
Os bens alimentares, animais e hu- acordo Brexit apressado: enquanto os
pelo hub financeiro de Londres no iní-
manos, vegetais e derivados, repre- mais recentes confrontos entre mani-
cio de janeiro, com cerca de 6 mil mi- festantes e forças policiais na Irlanda
sentam as categorias de produtos
lhões de euros provenientes diariamen- do Norte ilustram o crescente desagra-
mais sensíveis ao nível dos entraves,
te do mercado de ações a abandonar a do da população com a solução proto-
por força da necessária fiscalização
capital em destino a bolsas de valores colar estabelecida para esta nação, na
sanitária e fitossanitária, exigindo-
-se, desde logo, a pré-notificação às europeias localizadas em Paris e Ames- Escócia a possibilidade de realização de
autoridades britânicas de qualquer terdão. Pelo menos 24 empresas de um novo referendo de independência
remessa de mercadoria. Em certas serviços financeiros registaram publica- ganha força – algo defendido pelo par-
categorias de produtos, anterior- mente mais de 1,2 milhares de milhões tido separatista Scottish National Party
mente cobertas pela marcação CE,
passará ser necessária a alteração da
certificação de produto para a mar-
cação UKCA ou UKNI (para produtos
a entrar na Irlanda do Norte). Para
empresas interessadas em manter a
sua atividade de exportação para o
Reino Unido, é recomendável a verifi-
cação dos requisitos para a alteração
de certificação dos seus produtos. De
modo a facilitar a adaptação à nova
certificação, o governo britânico ape-
nas exigirá a substituição da marca-
ção CE pela UKCA a partir de janeiro
de 2022: até esta data, ambas serão
aceites no mercado britânico.
maio 2021 DESTAQUE 15

(SNP) em caso de vitória nas eleições no Unido como o principal mercado português Dárcio Henriques, que con-
parlamentares escocesas, em maio. A emissor de turistas para Portugal (cer- quistou uma estrela Michelin à frente
possibilidade de um novo referendo ca de um quinto dos turistas que Por- do restaurante Céleste, pelo ceramis-
sobre a mesma questão tem sido repe- tugal recebe são britânicos). Em 2019, ta português Toni de Jesus que venceu
tidamente refutada por Boris Johnson. 17,3 por cento dos imóveis vendidos a o prémio British Ceramics Biennial’s
Em janeiro de 2020, o primeiro-minis- não-residentes foram para britânicos FRESH, ou ainda pelos inúmeros ar-
tro britânico salientou que o mais re- (apenas ultrapassados pelos franceses, tistas que expõem o seu talento em
cente referendo – realizado em 2014, com 18,1 por cento).5 A nível migrató- diversas galerias pelo país. Da banca
em que 55 por cento dos votantes es- rio, o Reino Unido era, em 2018, a ter- ao futebol, da música ao ensino, da
coceses disseram “não” à independên- ceira nacionalidade estrangeira com moda à construção, são muitos os
cia – representava um evento que só maior representatividade em Portugal, exemplos de profissionais portugue-
deveria ocorrer “uma vez por cada ge- com quase 35 mil residentes britâni- ses que elevam a nossa marca.
ração” (“once in a generation”). A in- cos estabelecidos; em sentido inverso,
dependência escocesa do Reino Unido, o Office for National Statistics estima- O comércio bilateral entre os países
apesar de estar dependente de uma va cerca de 271 mil portugueses resi- sustenta-se, portanto, em fatores
decisão de Westminster, deixaria esta dentes no Reino Unido em 2020, a 6ª como a aliança mais antiga do mundo
nação mais próxima de retornar ao co- nacionalidade mais representada. e nas ligações consolidadas de diáspo-
mércio sem barreiras e à livre circulação ra e turismo. Na ótica comercial, ape-
de pessoas com os demais países do Investigadores, economistas, artistas, sar de Portugal possuir uma posição
Espaço Económico Europeu, revelando arquitetos, designers, empresários, modesta como exportador de bens
uma ambição escocesa de retoma de estudantes e muitas outras profissões para o mercado britânico (31ª posição
proximidade com os ideais europeus. e ofícios: independentemente da sua na lista de fornecedores de bens ao
ocupação profissional no Reino Uni- Reino Unido), este mercado estabele-
Relacionamento do, a presença da comunidade lusita- ceu-se como um dos principais parcei-
na no país é histórica, estoica, e bem ros comerciais português ocupando,
económico
estabelecida (existindo inclusive uma ao longo dos últimos anos, uma po-
entre Portugal região no sul de Londres intitulada sição estável como nosso 8º fornece-
e o Reino Unido “Little Portugal”, onde se concentram dor de bens, posição que manteve em
Para o cidadão britânico, Portugal é alguns restaurantes e estabelecimen- 2020 e, em destaque como 4º cliente
já um destino familiar, seja pelas suas tos comerciais especializados em pro- de bens (depois de Espanha, França e
mais-valias turísticas, comunidade re- dutos portugueses). Como tal, é de Alemanha), e principal cliente dos ser-
sidente no país, ou até pelos produ- relevar os casos de sucesso que con- viços portugueses. É de salientar ainda
tos que encontram nas prateleiras dos tribuem, à sua medida, para ilustrar a que, excetuando uma ligeira diminui-
seus estabelecimentos comerciais lo- excelência da mão-de-obra portugue- ção em 2019, o número de empresas
cais. Um breve relance sobre a impor- sa e, simultaneamente, aproximar Por- portuguesas exportadoras para o Rei-
tância turística apresenta-nos o Rei- tugal do Reino Unido: seja pelo chef no Unido tem mantido uma tendên-

BALANÇA COMERCIAL DE BENS E SERVIÇOS DE PORTUGAL COM O REINO UNIDO

Var % 2020 2021 Var %


2016 2017 2018 2019 2020
20/16a jan jan 21/20b
Exportações 7 776,2 8 430,2 8 897,4 9 616,3 6 355,2 -3,0 689,9 205,2 -70,3
Importações 3 265,6 3 404,7 3 610,2 4 263,3 3 471,5 2,5 352,7 121,0 -65,7
Saldo 4 510,6 5 025,5 5 287,2 5 353,0 2 883,7 -- 337,2 84,2 --
Coef. Cob. % 238,1 247,6 246,5 225,6 183,1 -- 195,6 169,6 --

Fonte: Banco de Portugal Unidade: Milhões de euros


Notas: (a) Média aritmética das taxas de crescimento anuais no período 2016-2020
(b) Taxa de variação homóloga 2020-2021
Devido a diferenças metodológicas de apuramento, o valor referente a "Bens e Serviços" não corresponde à soma
["Bens" (INE) + "Serviços" (Banco de Portugal)]. Componente de Bens com base em dados INE, ajustados para valores f.o.b.

5
Fonte: INE – Aquisição de imóveis por não residentes
16 DESTAQUE Portugalglobal nº142

cia de crescimento constante desde


2014, registando-se cerca de 3.010
empresas em 2019.

Em adição, Portugal tem mantido


consistentemente um excedente co-
mercial com este país (valor das ex-
portações superior às importações) –
5,3 mil milhões de euros em 2019 e
de 2,9 mil milhões de euros em 2020
(ano pandémico). É de salientar o di-
ferencial registado na balança comer-
cial de serviços (na qual se destaca a
exportação de serviços de viagens e
turismo, transportes e telecomunica-
ções), em que Portugal exporta mais
do dobro dos serviços que importa,
registando uma taxa de crescimento
anual média de 11 por cento, entre
2015 e 2019. Quanto aos principais
grupos de exportação de bens para
o Reino Unido, destacam-se os veí-
culos e outro material de transporte
(18,4 por cento do total exportado),
máquinas e aparelhos (16,2 por cen-
to), produtos alimentares (9,2 por
cento), vestuário (7,5 por cento) e
metais comuns (7,4 por cento) que,
no seu conjunto, representam 58,8 indústria metalomecânica e de enge- Como esperado, o impacto do Brexit
por cento do total vendido por Por- nharia aplicada, e os serviços partilha- e medidas de contenção da pande-
tugal ao Reino Unido. dos e de competências tecnológicas. mia já se fizeram sentir nas expor-
Revolut, DS Smith e GKN Automotive tações portuguesas de bens para o
A importância do Reino Unido como são alguns dos exemplos mais recentes mercado britânico, com um decrésci-
país de origem e de destino de investi- de empresas britânicas que decidiram mo de 7,5 por cento entre janeiro de
mento direto estrangeiro (IDE) é, tam- investir e abrir operações em Portugal. 2021 e dezembro de 2020; não obs-
bém ela, incontornável. No final de Investimentos como estes apontam tante, tal desaceleração não foi tão
2019, o Reino Unido era o 5º maior para uma confiança estabelecida e de- acentuada percentualmente como a
investidor direto estrangeiro em Por- monstram que há interesse e vontade registada nas exportações de países
tugal, com mais 10 mil milhões de eu- das empresas britânicas (e não só) em como Bélgica (38,3 por cento), Ale-
ros, representando 5,9 por cento do estabelecer-se em Portugal, tanto pela manha (29,6 por cento), ou Países
total, e o 12º destino do investimento vantagem de ter uma operação em Baixos (29,3 por cento)6. Cria-se as-
direto de Portugal no exterior, com solo da União, como pelo reconheci- sim uma janela de oportunidade na
1,9 por cento do total. mento dos fatores competitivos e dife- qual os laços históricos entre Portugal
renciadores que o país tem para ofere- e o Reino Unido poderão ter um efei-
Entre os setores em que se tem con- cer. Em sentido inverso, o investimento to impulsionador, mitigando – ainda
centrado o investimento de empresas português no Reino Unido estende-se que parcialmente – as piores conse-
britânicas em Portugal nos últimos a várias áreas, tais como consultadoria, quências do Brexit e, deste modo,
anos, são de referir, entre outros, as serviços de IT, agroindústria, constru- reafirmar Portugal como parceiro pri-
tecnologias de informação e de de- ção, restauração, têxtil, mobiliário, de- vilegiado do Reino Unido na UE-27 e
senvolvimento de software, áreas de coração, entre outras. permitir uma potencial substituição

6
Fonte: ONS (UK trade: January 2021)
maio 2021 DESTAQUE 17

de outros países enquanto fornece- Oportunidades para as dutos provenientes dos quatro cantos
dores do Reino Unido. do mundo e, naturalmente, também
empresas portuguesas
de Portugal. Num dia de passeio pelas
Similarmente, o decréscimo verificado ruas comerciais mais agitadas de Lon-
Um mercado de consumo
no valor das exportações britânicas de dres, é possível fazer uma pausa para
Em 2019, as despesas de consumo um pastel de nata e uma ‘bica’; nas
bens para os seus principais parceiros
das famílias britânicas representavam grandes superfícies de retalho britâni-
europeus, entre dezembro de 2020
65 por cento do PIB do Reino Unido, cas, é possível encontrar a pera rocha
e janeiro de 2021 – com quebras
valor consideravelmente superior ao do Oeste, o vinho do Porto e o peixe
significativas em países como Ale-
da média da UE que, no mesmo ano, em conserva, mas também a cerâmi-
manha (44,5 por cento), França (47
se fixou nos 54 por cento do PIB do ca e o têxtil-lar Made in Portugal. As
por cento), Irlanda (47 por cento), e
Países Baixos (31 por cento) – poderá Bloco7. No contexto europeu, o Rei- lojas especializadas em produtos por-
traduzir-se em novas oportunidades no Unido destaca-se, inclusivamente, tugueses estão espalhadas por todo
de negócio para empresas portugue- como o principal consumidor de de- o país, alimentando a saudade da
sas em alguns setores, num potencial terminados produtos/serviços, como o comunidade imigrante, mas não só.
efeito de “compensação” da redução calçado e vestuário, ou os serviços de São também importantes agentes de
de oferta britânica nestes países. restauração e hotelaria8. divulgação da oferta nacional, captan-
do a atenção de cada vez mais consu-
A forte tradição de consumo britâni- midores britânicos.
Mas o regresso à normalidade é possí-
ca, aliada a um multiculturalismo ca-
vel e não tão distante como se poderia
racterizado por cidades extremamen- A qualidade da oferta portuguesa já é
antever. Como defendido por Eurico
te globalizadas e uma componente de reconhecida no Reino Unido, mas há
Brilhante Dias, Secretário de Estado
turismo expressiva, fazem do Reino espaço para crescer. Assim o confirma
da Internacionalização, o atual perío-
Unido um mercado apetecível para Angelina Brandão, diretora da Por-
do de adaptação aos “naturais ajus-
empresas produtoras de bens de con- tugália Wines UK, um dos principais
tamentos administrativos e logísticos”
sumo de todos os setores, que veem distribuidores de produtos portugue-
provenientes do novo relacionamento
neste um mercado “montra” para o ses no Reino Unido. “As operações de
entre a UE e o Reino Unido é “nor-
resto do mundo. venda têm corrido consistentemente,
mal”, sendo que as trocas comerciais
a ritmo crescente, mas lento. Os pro-
entre os dois “parceiros históricos Nos supermercados e mercearias, lojas dutos mais apreciados pelo consumi-
(…) retomarão aos valores anteriores de especialidade e do high-street, res- dor britânico são o vinho (Porto e ou-
a março de 2020”. taurantes e bares, encontram-se pro- tros), cerveja, pastelaria e café”.

Depois de ter promovido uma campa-


nha a destacar a capacidade industrial
e de inovação no têxtil, agroalimentar,
farmacêutico e investigação de Portu-
gal, a AICEP está a equacionar lançar
uma campanha de imagem reputacio-
nal (“awareness”) a desenvolver no
Reino Unido, com o objetivo de co-
municar os fatores que diferenciam o
nosso país enquanto destino de inves-
timento. Não só todos estes materiais,
como também a qualidade da nossa
oferta e talento, contribuem para o
desenvolvimento da marca Portugal
como marca de prestígio.

7
Fonte: World Bank (Households and NPISHs final consumption expenditure (% of GDP)
8
Fonte: Eurostat (Final consumption expenditure of households by consumption purpose (COICOP 3 digit)
18 DESTAQUE Portugalglobal nº142

cresceu 20 por cento, representando


5,6 mil milhões de libras em volume
de vendas. As grandes cadeias de re-
talho competem cada vez mais com
as marcas do produtor, investindo em
gamas de alta qualidade como, a tí-
tulo de exemplo, o “Taste the Diffe-
rence” do Sainsbury’s.

A ascensão do private label pode ser


uma oportunidade para as empresas
portuguesas que estejam dispostas
a exportar neste modelo, às quais se
recomenda que se informem quanto
aos critérios de qualidade e segurança
que as grandes superfícies exigem dos
seus fornecedores.

E-commerce: o novo “normal”


Com uma taxa de penetração de e-
commerce de 84 por cento, corres-
Existem, portanto, oportunidades produtos e serviços “amigos do am- pondente a cerca de 57 milhões de
para os produtores portugueses que biente” e de origem ética no Reino utilizadores em 202012, o Reino Unido
se pretendam posicionar neste mer- Unido, revela que a indústria faturou posiciona-se como 3º mercado de e-
cado. Para o efeito, é importante es- 98 mil milhões de libras em 2019, commerce do mundo e 1º da Europa.
tarem informados quanto às carac- mais 4,18 mil milhões de libras do que O canal online faturou 99 mil milhões
terísticas do consumidor britânico e no ano anterior e quase o dobro do de dólares em 2020, o que correspon-
atentos às tendências de consumo, que em 201010. de a 14,5 por cento do total das ven-
em constante mutação neste merca- das a retalho, com o valor das com-
do trendsetter. Não obstante, o preço não deixa de pras e o gasto médio por comprador
ser um aspeto determinante na deci- em constante ascensão.13 No mesmo
As marcas são impelidas a oferecer são de compra do consumidor britâ- ano, as principais categorias de pro-
um produto diferenciado e compe- nico. Este é um dos fatores associa- duto vendidas online foram as da filei-
titivo em preço mas, acima de tudo, dos à ascensão dos discounters e das ra moda e os equipamentos eletróni-
em qualidade. Refira-se que o Reino marcas brancas no grande retalho, cos e média14.
Unido é o 4º país do mundo e o 1º da tendência global que o Reino Uni-
Europa que mais despende em produ- do não só acompanha, como lidera. Apesar da maturidade do mercado
tos de luxo9, o que traduz a disponibi- A quota de produtos de marca branca britânico no contexto do e-commerce
lidade do consumidor em investir em no total de produtos vendidos em su- ainda existe potencial de crescimento.
qualidade e diferenciação. permercados tem vindo a crescer de A este respeito, a diretora da Portugá-
forma consistente na última década lia Wines UK afirma que “As vendas
É também de salientar a crescente e é a mais elevada da Europa – 52,7 ‘online’, ultimamente, deram um salto
preocupação com questões de ética e por cento em 201911. A crise ineren- notável à custa da pandemia e, a par
sustentabilidade. A título de exemplo, te à pandemia fez disparar este valor, com a expansão do universo de clien-
o Ethical Consumer Markets Report que já era bastante significativo: só tes, tem-se verificado uma taxa eleva-
do Co-Op, que analisa o consumo de em março de 2020, o private label da de fidelização. De assinalar a per-

9
Fonte: Statista (Value of the leading personal luxury goods markets worldwide in 2020, by country)
10
Fonte: Ethical Consumer (UK Ethical Consumer Markets Report)
11
Fonte: The Grocer (The Power List 2020: own label), IRI (Private label (PL) wins ahead at regional level)
12
Fonte: ecommerceDB (eCommerce in the United Kingdom 2020)
13
Fonte: Business.com (The 10 Largest E-commerce Markets in the World by Country)
14
Fonte: ONS (Retail sales, internet index categories and their percentage weights
maio 2021 DESTAQUE 19

centagem surpreendente de clientes e 12 mil colaboradores em todo o Rei- merciais (serviços de cafetaria e bar
britânicos.”. Prevê-se que, em 2025, no Unido) e do grupo Arcadia (deten- em lojas de vestuário; organização de
as compras online atinjam cerca de tor de marcas como Topshop, Burton eventos, como o lançamento de livros
119,1 mil milhões de dólares no Reino e Dorothy Perkins, com 444 lojas e 13 em livrarias; entre outros exemplos).
Unido, um crescimento médio anual mil colaboradores no Reino Unido). É
de 3,5 por cento desde 2021.15 interessante notar que as lojas online No Reino Unido, assim que foi levan-
de ambos os grupos foram adquiridas tado o lockdown em dezembro, a
Trata-se, portanto, de um canal de por empresas que já tinham uma forte afluência de pessoas no high street
vendas que as empresas portuguesas presença online antes da pandemia – aumentou 85,2 por cento16 face à re-
não devem deixar de considerar. O e- no caso do Debenhams, pela Boohoo; gistada na semana anterior, e viram-se
commerce é uma ferramenta útil na no caso do Arcadia, pela ASOS. longas filas à porta dos estabelecimen-
estratégia de internacionalização de tos comerciais. O mesmo sucedeu em
qualquer empresa, que facilita o aces- Apesar de o cenário poder parecer, abril, com a reabertura do comércio, o
so ao mercado internacional com cus- à partida, pessimista, os especialistas que prova que o consumidor britânico
tos relativamente baixos e a partir de acreditam que o brick and mortar ainda valoriza o comércio presencial:
qualquer parte do mundo, permitindo pode sobreviver à crise COVID-19. O esta ideia transmite confiança às lojas
a efetivação de vendas a qualquer dia comércio em espaços físicos não só de que um regresso à normalidade
e a qualquer hora. resolve algumas das fragilidades do não é impossível e poderá, inclusive,
e-commerce (como o atraso nas en- estar no horizonte.
A viragem para o e-commerce, agra- tregas, ou a impossibilidade de ver
vada pelas medidas de combate à ao vivo ou experimentar o produto Build Back Better
pandemia (nomeadamente, a impo- antes de o comprar), como pode pro- O governo britânico anunciou, a 3
sição do confinamento e do encerra- porcionar experiências sensoriais e de de março de 2021, um plano de re-
mento dos estabelecimentos comer- contacto humano, ainda muito valo- cuperação económica que pretende
ciais), fez despoletar uma grave crise rizadas pelo consumidor. Mesmo an- dar resposta à crise pandémica (cujo
no retalho em lojas físicas. Alguns dos tes da pandemia, as grandes marcas efeito se refletiu na quebra de 9,8
mais reconhecidos grupos do retalho já apostavam em acrescentar valor à por cento do PIB britânico em 2020).
britânico viram-se obrigados abrir pro- experiência de compra em loja, no- O Build Back Better pretende guiar o
cessos de insolvência, como é o caso meadamente, providenciando outros desenvolvimento da economia britâni-
do grupo Debenhams (com 124 lojas serviços dentro dos seus espaços co- ca em direção a uma economia verde,

15
Fonte: PortugalExporta
16
Fonte: Express (Christmas shopping: £10bn bounce back as shoppers hit the high street)
20 DESTAQUE Portugalglobal nº142

apoiando-se em três "pilares de cres- entidades privadas a co-investir com mento setorial, dirigido a empresas
cimento": infraestruturas, capacidade o governo britânico em empresas bri- portuguesas de construção e mate-
laboral e inovação. tânicas de rápido crescimento, com riais de construção, que se encontra
projetos inovadores com forte compo- disponível para assistir em diferido no
Com o objetivo de reduzir totalmente nente de I&D. O mesmo projeto prevê portal Portugal Exporta.
as emissões de CO2 até 2050, o pla- ainda um investimento público de va-
no compreende o "Ten-Point Plan for lor recorde – 100 mil milhões de libras Importa, ainda, mencionar a criação
a Green Industrial Revolution" ("Pla- entre 2021 e 2022 – na construção e da Advanced Research & Invention
no de 10 Pontos para uma Revolução reparação de estradas, caminhos de Agency (ARIA), agência independente
Industrial Verde"), que se destina a ferro e obras públicas, assim como destinada ao apoio à investigação de
responder às crescentes preocupações na extensão da rede 5G a todas as re- tecnologias de "elevado risco e eleva-
de preservação do meio ambiente giões do país.
do retorno" (high-risk, high-reward),
através do investimento de 12 mil mi- na qual se prevê a alocação de 800
lhões de libras em áreas como ener- As empresas portuguesas que tenham
milhões de libras. A criação da agên-
gia, ambiente, transportes, inovação, interesse, devem consultar o Policy
cia é mais um reflexo da intenção clara
construção e infraestruturas. Neste Paper desta diretiva, que se encontra
do Reino Unido em fazer da inovação
um dos principais motores da econo-
mia britânica.

Portugal é um país de capacidade


tecnológica e com empresas que dão
provas disso mesmo no plano inter-
nacional, inclusivamente no Reino
Unido. Consideremos, como exem-
plo, a solução de controlo de passa-
portes presente nos aeroportos britâ-
nicos, concebida pela VisionBox, ou
os sinalizadores alimentados a ener-
gia solar da Eurosolution, instalados
em inúmeras passadeiras da capital.

Existe, portanto, potencial para a


compatibilização entre a estratégia de
âmbito, merece destaque o anúncio disponível no portal do governo bri- desenvolvimento britânica, baseada
do investimento de 2,8 mil milhões tânico e acompanhar a evolução da na inovação tecnológica em direção à
de libras no apoio à transição para respetiva execução, de onde poderão sustentabilidade, e o espírito inovador
veículos elétricos, que acompanhará das empresas portuguesas.
surgir eventuais oportunidades de ne-
a proibição de venda de veículos mo- gócio no âmbito dos setores mencio-
A “revolução” que se antecipa fará
vidos inteiramente a diesel e gasolina nados e seus associados.
surgir novas necessidades, a que as
a partir de 2030. A decisão antecipa
empresas portuguesas devem estar
uma transformação profunda da in- A par do Build Back Better, Boris John- atentas. Na era da transformação di-
dústria automóvel britânica, uma das son anunciou um pacote de 12 mil mi- gital e ecológica, novas oportunidades
mais relevantes do país.17 lhões de libras dirigidos à construção surgirão, criando assim espaço para
de habitações – o Build, Build, Build. que produtos e serviços inovadores de
Outra iniciativa prevista no Build Back Atendendo à oportunidade que este origem nacional se continuem a afir-
Better é a criação, para o segundo tipo de investimento pode representar mar além-fronteiras.
semestre de 2021, do Future Fund: para o tecido empresarial português,
Breaktrough, um fundo de 375 mi- a Delegação da AICEP em Londres Delegação da AICEP no Reino Unido
lhões de libras que pretende encorajar promoveu um webinar de esclareci- aicep.london@portugalglobal.pt

17
Fonte: Policy Paper (The Ten Point Plan for a Green Industrial Revolution)
maio 2021 DESTAQUE 21

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22 ENTREVISTA Portugalglobal nº142

O REINO UNIDO E A EUROPA


Quatro questões a Ricardo Reis*

Professor no departamento de economia da London School of Economics, onde


ocupa a cátedra A. W. Phillips in Macroeconomics, Ricardo Reis aceitou responder
a quatro questões sobre o futuro do relacionamento económico e institucional entre
o Reino Unido e a União Europeia.

Como prevê o futuro do relacionamento reagir de forma diversa às circunstâncias, como


económico e social do Reino Unido com aliás tem sido bem visível nos últimos 12 meses
a União Europeia? E do Reino Unido com com as diferentes respostas à pandemia.
Portugal? Teremos um período de adapta- Especificamente na relação entre o Reino Uni-
ção ou uma disrupção definitiva? do e Portugal, há que ter em conta o turismo,
Vai haver de certeza um período de adaptação. a migração e o trabalho à distância. Embora fa-
As economias do Reino Unido e da União Eu- zer férias em Portugal vá passar a ser um pou-
ropeia estão muito próximas, e são demasiado co mais difícil para os ingleses, o impacto de-
interligadas, para ser possível uma disrupção verá ser muito ligeiro, pelo que não espero que
excessivamente radical ou definitiva. A direção haja grandes diferenças nesse domínio. Já na
dessa adaptação não é fácil de prever, pois de- migração de portugueses para o Reino Unido,
pende de desenvolvimentos políticos que são sobretudo em alturas de crise em Portugal, aí
difíceis de antever para os próximos anos. Se- o efeito será grande, pois será bem mais difícil
ria do interesse comum dos dois blocos man- fazê-lo. Por fim, no que diz respeito ao traba-
terem-se integrados para beneficiarem das lho à distância, que muitos esperam que cresça
forças de cada um, como tem acontecido nas bastante com esta pandemia, Portugal poderá
últimas décadas. Ao mesmo tempo, cada blo- ser um destino de eleição para trabalhadores
co, com a soberania que detém, pode escolher ingleses que se encontrem em teletrabalho,
maio 2021 ENTREVISTA 23

mas isso depende da coordenação dos regimes Nas políticas monetárias fará muito pouca
fiscal e de segurança social entre os dois países diferença. O Reino Unido não participou do
e que devem ser resolvidos no futuro. projeto do euro, e a independência do Banco
de Inglaterra não é diferente no pós-Brexit.
Qual a importância do mercado do Reino Londres vai perder força e negócio como pra-
Unido no panorama global? Com a “du- ça financeira, mas, pelo menos por enquanto,
pla” crise COVID-19 + Brexit, afigura-se isso não parece ser tão extensivo que leve a
um reajuste de influência? grandes alterações no poder e na autonomia
A seguir aos EUA, União Europeia, China, Ja- dos bancos centrais.
pão e Índia, o Reino Unido não deixa de ser
o sexto maior bloco económico do mundo. Mais relevante é antes a autonomia de políti-
Militarmente é uma das maiores potências do cas orçamentais e fiscais, que tanta celeuma
mundo e tem assento no Conselho da Segu- criaram nas negociações do Brexit. Embora
não acredite que o Reino Unido se transforme
rança das Nações Unidas. O Reino Unido é um
num “paraíso fiscal”, não vai deixar de ter mui-
ator central no panorama global e não vai dei-
ta flexibilidade para concorrer de forma agres-
xar de o ser só por causa do Brexit. Ao mesmo
siva com a UE.
tempo, com certeza que haverá um reajustar
de influência. Fora da UE, o poder negocial
será certamente menor. Por outro lado, a CO- personal.lse.ac.uk/reisr
VID-19 favorece o reajustamento da influên-
*Licenciado pela London School of Economics em
cia do Reino Unido de duas formas. Primeiro, 1999, Ricardo Reis completou o seu doutoramento na
porque, sobretudo graças ao sucesso do seu Universidade de Harvard em 2004, tendo lecionado
na Universidade de Princeton, em Nova Jérsia, e na
programa de vacinação, em comparação com
Universidade de Columbia, em Nova Iorque. É inves-
o europeu, tudo indica que a economia britâ- tigador associado do National Bureau of Economic Re-
nica vá recuperar seis a12 meses mais cedo do search (Cambridge, Massachusetts), do Centro de Pes-
quisa de Política Económica (Londres) e do Centre for
que a economia da UE. Segundo, porque se o
Macroeconomics (Londres), desempenhando também
mundo vai ser muito diferente no pós-COVID, funções como consultor académico nos Banco de Ingla-
com um reajuste dos setores da economia e terra, no Banco Central Europeu e no Federal Reserve
Bank de Richmond. É ainda membro do Conselho da
da forma como trabalhamos, então a flexibi- Diáspora Portuguesa.
lidade que o Reino Unido ganhou em fazer
os ajustes adequados à sua economia, sem
coordenação com Bruxelas, pode ser valiosa
(se for bem usada).

Quais os principais desafios e oportuni-


dades para as empresas portuguesas que
querem fazer negócio com o Reino Unido?
A combinação da COVID-19 e do
Brexit vão implicar alterações céleres na es-
trutura dos negócios com o Reino Unido. Não
vão diminuir as ligações de negócios, nem
as oportunidades. Mas poderá mudar a for-
ma como eles acontecem e os setores onde
se encontram as grandes oportunidades. Por
isso, vai ser preciso flexibilidade e um grande
sentido de alerta para reagir rapidamente (e
antes dos concorrentes) às oportunidades que
o mercado britânico oferece.

De que forma poderá o Reino Unido be-


neficiar da definição autónoma das respe-
tivas políticas monetárias? Procurará uma
conformidade com a UE?
24 OPINIÃO Portugalglobal nº142

PORTUGAL E O REINO UNIDO


NO PÓS-BREXIT
O governo português nunca escondeu que teria preferido que
o Reino Unido tivesse permanecido na União Europeia. Isto é,
que o resultado do referendo de 2016 tivesse sido o oposto.
O eleitorado, no entanto, pronunciou-se pela saída e democraticamente
o resultado tinha que ser respeitado.

clusão de várias iniciativas europeias, não per-


mite uma relação tão próxima e tão “fluída”
como desejaríamos. Este ponto é particular-
mente evidente na área da política externa e
outras áreas chamadas de soberania.

Mas por outro lado, esta nova situação de me-


nor proximidade ou intimidade no quadro das
instituições e regras europeias abre portas à ex-
© Fotografia de Rui Santos Jorge
ploração de oportunidades no relacionamento
>POR MANUEL LOBO ANTUNES, bilateral, de alguma forma menos evidentes
EMBAIXADOR DE PORTUGAL por força da relação multilateral desenvolvida
EM LONDRES no âmbito da UE. Por outras palavras, o diá-
logo e a ação política e diplomática tenderão
a deslocar-se agora mais para o eixo Lisboa-
Cinco anos volvidos, é escusado agora reabrir
-Londres e centrarem-se menos em Bruxelas.
uma discussão sobre os motivos da decisão do
São, portanto, novos desafios com que somos
povo britânico, continuar a argumentar sobre
confrontados, e estimulados.
os “ses” e os “mas”. Este debate está por ora
encerrado, o que não significa que não possa Tornou-se um lugar-comum a referência insis-
eventualmente ser reaberto no futuro. É com tente à circunstância de Portugal e a Inglaterra
factos, realidades, que temos que conviver, serem dos mais velhos aliados na história da
não com hipóteses ou desejos, por mais virtuo- Europa. É bem conhecida a intervenção dos
sos que nos pareçam. guerreiros ingleses na chamada reconquista
cristã da Península e posteriormente o apoio
Neste quadro, a posição portuguesa foi mui- político-militar que as forças inglesas nos pres-
to clara ao longo dos últimos anos e meses. taram ao longo da história, no sentido de ga-
Consciente que a relação do Reino Unido com rantir ou proteger a independência de Portugal
a União Europeia não poderá ser da mesma na Península Ibérica e continente europeu. Esta
natureza daquela enquanto Estado-membro realidade, porém, não nos deve fazer esque-
da UE, passando ao estatuto de Estado ter- cer que também houve espinhos no relacio-
ceiro, o objetivo foi o de prevenir uma saída namento bilateral, uma vez que os interesses
desordenada (o no-deal) e negociar um qua- portugueses e britânicos nem sempre foram
dro de relacionamento tão próximo quanto coincidentes, e por vezes mesmo conflituantes,
possível do que existia até então. Em gran- sobretudo no espaço não-europeu.
de medida estes objetivos foram alcançados,
embora se deva reconhecer que a recusa do Mas, em geral, ambos os países partilharam ao
Reino Unido em integrar a união aduaneira e longo dos séculos objetivos estratégicos seme-
o mercado interno, assim como a sua autoex- lhantes, em grande parte resultado da sua po-
maio 2021 OPINIÃO 25

sição geográfica na Europa. Costuma dizer-se lente formação, ótimos profissionais. E patrio-
que ambos têm vocação atlântica. tas. Um capital humano valiosíssimo ao serviço
de Portugal, do nosso prestígio, da nossa ima-
O passado, a História, é evidentemente fun- gem de país do século XXI, moderno, inovador,
damental para se compreender o presente e sempre aberto ao mundo. Temos e devemos
sobretudo projetar ou planear o futuro. Assim contar com as novas gerações para construir
devemos “olhar” para ela, estudá-la, analisá-la, um novo relacionamento bilateral com o Rei-
não como uma realidade estática, paralisante, no Unido, sem esquecer, antes pelo contrário,
inamovível, de simples contemplação, mas an- aqueles outros que antes delas criaram as raízes
tes como um estímulo e um conselheiro para para os frutos que hoje colhemos, tirando par-
fazer melhor ou diferente quando necessário. tido da sua experiência e do seu conhecimento
Por isso, como Embaixador de Portugal no Rei- profundo da realidade britânica.
no Unido, procuro olhar o futuro das relações
bilaterais não tanto como uma celebração esté- Trabalhar com este imenso capital humano na
ril do passado, o que não significa, sublinho, ig- defesa dos interesses portugueses é, pois, a meu
norar ou esquecer a História comum, mas vê-la ver, uma prioridade que não pode ser esquecida.
como um repositório útil de ensinamento, um
guia para explorar novas “aventuras”. Mas temos outras cartas para jogar e “ganhar
a partida”. As relações comerciais são-nos fa-
Portugal tem no Reino Unido uma diáspora de voráveis, milhões de turistas britânicos visitam-
mais de 300 mil compatriotas nas mais diversas -nos todos os anos e, cada vez mais, outros fa-
atividades (a ordem é aleatória): artistas, finan- zem de Portugal a sua residência permanente,
ceiros, advogados, médicos, investigadores, co- ou a sua segunda casa. Ao longo destes meses
merciantes, empresários, enfermeiros..., muitos de pandemia foi gratificante testemunhar o
deles ainda jovens, ambiciosos, com uma exce- apoio e a solidariedade que muitos britânicos
26 OPINIÃO Portugalglobal nº142

nos manifestaram, exprimindo o desejo e a


vontade de que rapidamente ultrapassássemos
as dificuldades que enfrentávamos. E também,
no caso da indústria do turismo, o incansável
apoio da imprensa britânica da especialidade
(e de todos os agentes do setor, diga-se) que
nunca se esqueceu de recomendar Portugal
como destino de viagem.

Dispomos, portanto, de uma excelente base, de


um sólido ponto de partida, para irmos muito
mais além no nosso relacionamento com o Rei-
no Unido estabelecendo uma agenda bilateral
exigente. No comércio, alargando a diversidade
de produtos exportados, demonstrando a sua
qualidade, inovação e competitividade. Dar a
conhecer o que não é ainda conhecido ou de
que apenas se ouviu falar. Divulgar, informar, ram. Mostrar que soubemos também mo-
propor de uma forma saudavelmente agressiva. dernizar o passado, torná-lo atual e atraente.
Há uma imensa floresta a desbravar. Mas tam- Marca e imagem, eis uma dupla insubstituível.
bém na atração do investimento para Portugal, E Portugal como um sítio para se viver feliz,
onde a presença britânica tem sido relativamen- para investir, para apostar.
te modesta comparada com outros parceiros
europeus. Há toda uma “economia moderna” Num outro plano mais político-diplomático, o
à procura de lugar para investir, e Portugal pode do lugar dos dois países na Europa e no mun-
bem ser esse destino realçando a circunstância do contemporâneo, também se requer uma
de sermos parte integrante do mercado único reflexão renovada. O que podemos fazer jun-
europeu. Muitas empresas britânicas procuram tos, Portugal e Reino Unido, para salvaguardar
um lugar no espaço UE para investirem e se es- os nossos princípios e valores, o nosso modo
tabelecerem e Portugal pode bem ser esse des- de vida, aquilo em que acreditamos, num
tino. No Turismo, continuar sempre a melhorar ambiente de paz, segurança, prosperidade e
a oferta e ampliar a sua diversidade, garantindo igualdade. Trabalhar em conjunto no plano in-
simultaneamente a competitividade. ternacional quer nas organizações de que so-
mos ambos participantes, NATO ou ONU, por
No entanto, devemos também olhar para exemplo, quer no quadro mais estritamente
além das áreas tradicionais da nossa relação bilateral, aumentando a frequência e intensi-
bilateral. Há um mundo à nossa espera no dade do diálogo político e diplomático.
âmbito, por exemplo, da cooperação na in-
vestigação científica, na ligação entre a aca- Por instruções do senhor Ministro dos Negó-
demia e as empresas. Recordemos a colabo- cios Estrangeiros, estão os serviços do MNE em
ração Oxford/AstraZeneca como um exemplo Lisboa e a Embaixada de Portugal em Londres
assinalável dessa ligação. Dispomos, como empenhados numa reflexão conjunta sobre
acima referi, de uma capacidade crítica no um programa de trabalho, digamos assim, que
Reino Unido na área da investigação verda- defina prioridades no relacionamento no nos-
deiramente notável. so bilateral com o Reino Unido e instrumentos
para os alcançar, também em face da nova si-
Mas também temos muito para fazer no âmbi- tuação que se criou com o Brexit.
to do chamado “soft power”, por exemplo, na
divulgação da cultura e da língua portuguesa, Estou certo de que estaremos, Portugal e o
ou das artes. Temos que trabalhar em prol de Reino Unido, à altura do legado comum que a
uma nova imagem de Portugal no Reino Unido História nos deixou valorizando-o e tornando-
que seja aquela do Portugal de hoje, moderno, -o verdadeiramente contemporâneo.
ambicioso, empreendedor, fugindo aos clichés
redutores ancorados nos tempos que passa- londres@mne.pt
maio 2021 OPINIÃO 27
28 EXPORTAÇÃO Portugalglobal nº142

portadas continuarão a estar sujeitas


a impostos (como o Imposto sobre o

O QUE PRECISA DE
Valor Acrescentado – IVA e o Imposto
Especial de Consumo – IEC) e taxas de
processamento alfandegário.
SABER PARA EXPORTAR O Acordo de Comércio e Cooperação
PARA O REINO UNIDO abrange a exportação de serviços?
O Acordo de Comércio e Cooperação
faz muito pouco pelos serviços, para
A AICEP preparou um conjunto de informação útil além de prever o Acesso padrão ao
para as empresas portuguesas que exportam para mercado e as obrigações de não dis-
o Reino Unido, disponível para consulta no site criminação típicas dos mais recentes
portugalexporta.pt. acordos de comércio livre celebrados
pela União Europeia. Em boa verdade,
as principais barreiras comerciais nos
serviços não são as tarifas, mas sim a
sua regulação.

Quais as formalidades de exporta-


ção para a Irlanda do Norte?
Em virtude do Protocolo da Irlanda do
Norte, os envios de mercadorias para
a Irlanda do Norte continuarão a ser
considerados como vendas intraco-
munitárias, pelo que não se torna ne-
cessária qualquer alteração às regras
pré-Brexit, continuando este território,
para estes efeitos, a ser considerado
espaço “comunitário”.

Que formalidades são exigidas


O que representa o Acordo de Comércio e Cooperação?
para a exportação de bens para o
Comércio e Cooperação entre a Será necessário que as mercadorias a
Reino Unido?
União Europeia e o Reino Unido? exportar cumpram as Regras de Ori-
A União Europeia e o Reino Unido cons-
O Acordo de Comércio e Cooperação gem estabelecidas no Acordo de Co-
tituem agora blocos comerciais e regu-
significa a concessão de tratamento mércio e Cooperação e que seja pos-
lamentares distintos, o que cria entraves
preferencial (logo uma ausência ge- sível a prova da origem comunitária
ao comércio de bens nos dois sentidos.
neralizada de direitos aduaneiros e das mesmas. Para mais informação,
Embora o Acordo de Comércio e Coo-
quotas) à importação/exportação de consulte o Oficio Circulado n.º 15807 peração tenha introduzido mecanismos
mercadorias entre as partes, poden- da Autoridade Tributária e Aduaneira, práticos de simplificação aduaneira,
do, desse modo, ser afastada a apli- o Guia sobre o estatuto de exportador persistirão obstáculos horizontais aos
cação às exportações comunitárias da registado no âmbito do sistema REX vários setores, como a tramitação adua-
United Kingdom Global Tariff – UKGT no quadro do ACC da Autoridade Tri- neira (anteriormente inexistente) e os
(GOV.UK), se assim for mais benéfico butária e Aduaneira ou a plataforma diferentes padrões regulamentares dos
para as empresas. Access2Markets da Comissão Europeia. bens (antes harmonizados).
O Acordo, porém, não evita a intro- Assim, todas as exportações terão
dução de formalidades alfandegárias O Acordo de Comércio e Coopera- que cumprir as normas impostas pelo
no comércio entre a União Europeia e ção isenta as exportações de im- mercado do Reino Unido e sujeitar-se
o Reino Unido, que eram inexistentes postos e taxas? a verificações de conformidade regu-
antes do Brexit. Não, o Acordo de Comércio e Coo- lamentar e a controlos de segurança
peração apenas concede tratamento e saúde. Para este efeito, consulte a
Como beneficiar do tratamento preferencial ao nível dos direitos adua- Access2Markets (Comissão Europeia).
preferencial dado pelo Acordo de neiros, pelo que as mercadorias ex- Em certas situações, as formalidades e
maio 2021 EXPORTAÇÃO 29

requisitos regulamentares são (ou po- portação britânica, poderá este forne- ses on recovery from Covid with new
derão ser) distintos conforme a “na- cer um “comprovativo” do desalfan- timeline for border control processes
ção” de destino da exportação: Ingla- degamento da mercadoria para envio on import of goods) para a entrada
terra, País de Gales, Escócia ou Irlanda ao fornecedor estrangeiro. em vigor de medidas de fiscalização
do Norte. sanitária e fitossanitária, não só em
O Acordo de Comércio e Cooperação graduação e incremento dos formalis-
Todas as mercadorias são controla- impede a exportação temporária de mos, como de alargamento do leque
das na alfândega quando chegam mercadorias para o Reino Unido? de produtos abrangidos.
ao Reino Unido? Não, o Reino Unido continuará a pre- É, por exemplo, o caso dos vegetais
Na exportação para o Reino Unido há ver no seu ordenamento a possibilida- e produtos vegetais, que estarão su-
que ter em conta duas realidades dis- de da admissão temporária de bens jeitos a três fases progressivas até aos
tintas, a dos bens controlados (sujeitos no seu território – Import goods tem- controlos de fronteira integrais: até
a inspeção física obrigatória) e a dos porarily to the UK (GOV.UK). dezembro de 2021, entre janeiro e
não controlados, que serão sujeitos a fevereiro de 2022 e a partir de março
processo aleatório de escolha para fis- Como é efetuada a exportação de de 2022. Neste âmbito, aos produtos
calização na alfândega – List of goods bens alimentares, animais e huma- de “alta prioridade” são exigidos,
imported into Great Britain from the nos, vegetais e produtos vegetais desde já, formalismos como o certifi-
EU that are controlled (GOV.UK). para o Reino Unido? cado fitossanitário, a pré-notificação
Por estes bens representarem a gama à autoridade competente no Reino
Como obter a prova do desalfan- de produtos mais sensíveis ao nível da Unido (a enviar pelo importador), a
degamento da mercadoria no Rei- segurança, as autoridades do Reino verificação documental e os contro-
no Unido? Unido estabeleceram um calendário los de identidade e físico (estes a rea-
Uma vez que o importador local terá faseado (entretanto alterado a 11 de lizar, por agora, apenas no local de
acesso à plataforma eletrónica de im- março de 2021 – Government focu- destino das mercadorias).
Também os produtos de origem ani-
mal estarão sujeitos a fases distintas
em termos de formalismos – Import-
ing animal products (GOV.UK).
A Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária (DGAV) é a entidade em
Portugal com competências na área
da habilitação das exportações e coor-
denação com os serviços veterinários/
fitossanitários homólogos.

Quais as regras de origem presen-


tes no Acordo de Comércio e Coo-
peração entre União Europeia e
Reino Unido?
Para que os produtos originários da
União Europeia possam beneficiar do
tratamento preferencial previsto, o
importador britânico terá de requerer
essa preferência às autoridades locais,
apresentando uma das seguintes pro-
vas de origem: a) Atestado de Origem
efetuado pelo Exportador na Fatura;
b) “Conhecimento do Importador”.
O exportador deve assegurar-se que
as condições exigidas para poder de-
clarar a origem preferencial das suas
mercadorias se encontram cumpri-
das, sendo assim responsável pela
exatidão dos Atestados de Origem
30 EXPORTAÇÃO Portugalglobal nº142

que emitir e das informações nesta


matéria que providenciar ao importa-
dor, conforme informação do Oficio
Circulado n.º 15807 da Autoridade
Tributária e Aduaneira.

Para a emissão de Atestado de Ori-


gem é necessário o exportador es-
tar registado?
O princípio geral é o de que os expor-
tadores comunitários necessitam de
estar registados no Sistema REX, ob-
tendo por essa via o Estatuto de Ex-
portador Registado, para que lhes seja
possível proceder ao envio de merca-
dorias (de valor superior a 6.000 eu-
ros) sem qualquer tipo de problema.
No caso de remessa ocasional de valor
igual ou inferior a 6.000 euros, pode-
rão os exportadores efetuar declaração
de origem na própria fatura, sem ne-
cessidade de registo no Sistema REX.
Na situação de ausência de registo exportadores registados no Sistema através do formulário disponibilizado
no Sistema REX, existe ainda algu- REX, aos quais é, consequentemente, no Portal da Autoridade Tributária e
ma “flexibilidade no cumprimento atribuído um número de Estatuto de Aduaneira, para Direção de Serviços
do Atestado de Origem”, com três
Exportador Registado. de Tributação Aduaneira da Autorida-
possíveis “alternativas”: a) apresen-
O registo no Sistema REX pode ser de Tributária e Aduaneira.
tação da declaração de importação e
efetuado de forma eletrónica no REX
demais documentação em momento
Trader Portal (Comissão Europeia), Como solicitar o meu número EORI?
posterior (apenas até 1 de janeiro de
2022); b) apresentação do pedido de via E-Balcão, ou, de forma tradicio- Por razões de conveniência operativa,
tratamento preferencial (até três anos nal, enviando o Pedido de obtenção designadamente para efeitos de limi-
após a importação); c) invocação do do Estatuto de Exportador Registado tar as alterações nos sistemas de re-
Conhecimento do Importador, dando
ao exportador (que não pretenda/
possa efetuar o Atestado de Origem)
a possibilidade de fornecer ao im-
portador todos os elementos de in-
formação de que este necessita para
declarar essa origem.

Em que consiste o Sistema REX?


O REX é um sistema de auto-certifi-
cação de origem (das mercadorias)
efetuada pelo próprio exportador,
que visa a concessão de tratamen-
to preferencial ao nível aduaneiro à
exportação de bens para países com
os quais a União Europeia tenha cele-
brado recentemente, ou venha a ce-
lebrar no futuro, Acordos de Comér-
cio (Ex.: Canadá, Coreia do Sul, Japão
ou Reino Unido). A auto-certificação
só poderá, assim, ser efetuada por
maio 2021 EXPORTAÇÃO 31

gisto vigentes e de dispensar burocra- Quais as regras do IVA na exporta- and overseas goods sold directly to
cias desnecessárias num contexto de ção para o Reino Unido? customers in the UK (GOV.UK).
funcionamento interno, a Autoridade Em virtude do Brexit, deixaram de se Caso haja a envolvência ou interme-
Tributária e Aduaneira, que desde há aplicar no Reino Unido as regras co- diação na venda por parte de um e-
longos anos vem assegurando o re- munitárias relativas ao IVA nas ope- marketplace, será este o responsável
gisto dos seus operadores, optou por rações intracomunitárias, passando a pela cobrança e contabilização do IVA.
utilizar como número EORI o número vigorar apenas as regras internas do
de identificação fiscal (NIF) que já hoje país. Para mais informação consulte Quais as condições em que atual-
é utilizado para efeitos de identifica- a página Changes in the UK to VAT mente pode ter lugar o destaca-
ção dos operadores económicos esta- treatment of overseas goods sold to mento de trabalhadores da União
belecidos em Portugal, antecedido do customers from 1 January 2021 do Europeia para o Reino Unido?
código PT. GOV.UK e o Guia sobre o Tratamento No pós-Brexit já não é possível a livre
Assim, no caso português o número das Operações de Importação e Ex- circulação de pessoas para fins de
EORI corresponde ao NIF do operador portação em sede de IVA da Autorida- prestação de serviços e/ou trabalhar
de Tributária e Aduaneira. nos termos anteriormente vigentes,
antecedido do código “PT” (exem-
A base de cálculo de aplicação do IVA pelo que tal possibilidade depende
plo: PT500.000.000), pelo que os
(ou do IEC, por exemplo) no Reino agora da legislação do Reino Unido.
operadores estabelecidos em Portu-
Unido é, à semelhança das demais O Acordo de Comércio e Cooperação
gal estão dispensados de requerer o
aquisições de bens, o valor da própria contém, no entanto, algumas regras
seu registo EORI.
mercadoria – The amount of VAT you sobre a entrada e permanência tem-
Nas faturas de exportação para o Rei-
must pay depends on the value of the porária de pessoas físicas para fins co-
no Unido o exportador nacional deverá
goods (GOV.UK). merciais, limitando-a a certas catego-
fazer sempre referência, na fatura ou
rias de pessoas e atividades. De entre
outro documento comercial de expor-
Quem é responsável pela cobrança essas categorias, a que mais se apro-
tação, ao seu número EORI e ao núme-
do IVA nas exportações B2B para o xima da noção de trabalhador desta-
ro EORI do seu cliente no Reino Unido
Reino Unido? cado (na aceção da Diretiva 96/71,
(com o prefixo GB se estabelecido no Se o valor da exportação for superior a relativa ao destacamento de trabalha-
Grã-Bretanha ou XI se estabelecido na 135 libras, a cobrança do IVA terá lugar dores para prestação de serviços) é a
Irlanda do Norte). A indicação deverá nos termos das demais exportações categoria de “Fornecedor de serviço
ser efetuada à semelhança do que tem para países extracomunitários, isto é, contratual”, a qual, no entanto, cobre
lugar na venda de bens a nível nacional pelas autoridades do Reino Unido no apenas profissionais altamente qualifi-
e/ou comunitário, com a indicação dos processo de tramitação aduaneira. cados (com títulos universitários) que
NIF do vendedor e comprador. Sendo o valor igual ou inferior a 135 coloquem essas qualificações ao servi-
libras, se o importador for uma em- ço dessas mesmas atividades.
presa comercial registada em IVA no O Acordo de Comércio e Cooperação
Reino Unido e dispuser de número de contém também regras sobre a trans-
registo de IVA válido para fornecer ao ferência de trabalhadores dentro do
exportador, a responsabilidade pela mesmo grupo/empresa.
cobrança do imposto é transferida O destacamento de trabalhadores
deste último para o primeiro, isto é, para fins de prestação de serviços em
do fornecedor para o adquirente (co- si mesmo não está previsto no Acor-
brança reversa). do de Comércio e Cooperação, salvo
quanto às categorias acima referidas e
Quem é responsável pela cobrança à dos profissionais independentes.
do IVA nas exportações B2C para o Mais informações em EU-UK Trade
Reino Unido de valor igual ou infe- and Cooperation Agreement: - Com-
rior a 135 libras? pilations of written questions and
No caso de mercadorias enviadas do answers (Conselho Europeu) e/ou Wi-
exterior e vendidas diretamente aos thdrawal of the United Kingdom and
consumidores do Reino Unido sem European Union rules on posting of
envolvimento de e-marketplaces, o workers (Comissão Europeia).
exportador estrangeiro deve cobrar o
IVA do Reino Unido e registar-se junto
da administração fiscal britânica – Vat Consulte aqui para mais informações.
32 ESTUDAR NO REINO UNIDO Portugalglobal nº142

ESTUDAR NO REINO UNIDO:


O QUE MUDA COM O BREXIT

A PARSUK (Portuguese Association of Research and Students in the UK) foi criada
em março de 2008 com o objetivo de representar os interesses dos estudantes
e investigadores portugueses a viver no Reino Unido. Saiba o que, com o Brexit,
vai mudar no Reino Unido nesta área em breve entrevista a Márcia Martinho
Costa, PhD e presidente desta associação.

Quais as principais áreas de atuação da investigação no Reino Unido) e no estreita-


PARSUK? mento das relações científicas entre Portugal
A nossa comunidade tem algumas carac- e o Reino Unido, que resultou na assinatura
terísticas particulares, como membros al- de um protocolo entre a PARSUK, a Funda-
tamente qualificados, adaptáveis aos am- ção para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e o
bientes em que se inserem e em constante Ministério para a Ciência Tecnologia e Ensino
mobilidade. Na sua essência, a PARSUK fun- Superior (MCTES). Este protocolo reconhece
ciona como uma rede para promover a in- a PARSUK como participante ativo no desen-
tegração e o trabalho dos seus membros. volvimento de diplomacia científica entre os
Os três pilares principais em que a PARSUK dois países.
atua são:
• Programas de bolsas para apoiar a vinda de Qual a importância do Reino Unido para
estudantes portugueses ou dos PALOP para a comunidade académica e investigadora
o Reino Unido; portuguesa? E a nível internacional?
• Eventos (presenciais e online) e outras ati- O Reino Unido é um dos principais parcei-
vidades de promoção digital para apoiar o ros de Portugal em termos de investigação.
convívio e a divulgação do trabalho dos nos- Um excelente exemplo é a parceria Portugal
sos membros; – Imperial College ou entre as Universidades
• Diplomacia científica, com a participação ati- de Lancaster e Nova (Lisboa). Dadas as liga-
va em discussões sobre o Brexit com diferen- ções próximas entre os dois países, foi com
tes stakeholders (por exemplo, Royal Society, alívio que recebemos a notícia de que o Reino
BEIS, outras associações europeias ligadas à Unido irá participar como país associado no
maio 2021 ESTUDAR NO REINO UNIDO 33

programa Horizonte Europa, pelo que institui- que poderá ser um impeditivo a que venham
ções baseadas no Reino Unido serão elegíveis estudar para o Reino Unido.
a financiamento do programa nas mesmas
condições que as homólogas da União Euro- Quais as parcerias entre instituições/enti-
peia, com a exceção da componente de inves- dades portuguesas e britânicas em que a
timento no Acelerador do Conselho Europeu PARSUK está envolvida ou que promoveu?
de Inovação. As universidades e centros de Até agora, os membros da PARSUK sempre
investigação do Reino Unido são reconheci- tiveram papéis ativos no desenvolvimento de
dos mundialmente pela sua excelência, bem colaborações entre os dois países, uma vez
como o investimento feito pelo país em ino- que muitos mantêm relações próximas com as
vação, pelo que o seu continuado impacto a universidades ou centros de investigação em
nível europeu (e mundial) é esperado. Portugal e fazem questão de contribuir para o
progresso do nosso país. Enquanto associação,
Quais obstáculos que um estudante portu- as nossas bolsas Xperience sempre representa-
guês que pretenda vir para o Reino Unido ram um apoio directo à mobilidade de estu-
irá agora enfrentar? dantes portugueses para o Reino Unido, que
De momento, nós prevemos três principais podem depois prosseguir os seus estudos aqui
diferenças: ou aplicar os conhecimentos adquiridos nas
• O facto de o Reino Unido ter decidido não suas instituições em Portugal.
continuar com o programa ERASMUS signi-
fica que muitos estudantes em licenciatura e Desde 2020, o estreitamento das parcerias
mestrado não terão a mesma facilidade de entre Portugal e o Reino Unido é um dos pi-
lares do protocolo de diplomacia científica
assinado com a FCT e o MCTES. A PARSUK,
conjuntamente com a FCT, nomeou um Con-
selho Científico, formado por oito membros
de várias áreas de investigação, baseados em
Portugal e no Reino Unido. O objetivo é que
este Conselho Científico possa identificar áreas
de interesse para os dois países e comunicá-las
aos diferentes parceiros, incluíndo o MCTES e
o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Deste
protocolo, foram também criadas as Bilateral
Research Funds, bolsas de três a seis meses que
promovem a mobilidade de investigadores en-
tre os dois países.

Márcia Martinho Costa, PhD e presidente da PARSUK

fazer parte dos seus estudos no Reino Unido.


Nessa perspetiva, a PARSUK tem procurado
expandir o seu programa de bolsas Xperience
(estágios de quatro semanas no verão para
estudantes portugueses no Reino Unido)
para dar mais oportunidades aos estudantes
portugueses de estudar no Reino Unido com
a supervisão de membros PARSUK;
• De momento, os alunos europeus terão de
pedir visto para vir estudar, o que antes não
era necessário;
• Por fim, de futuro, os alunos europeus terão
de pagar propinas com valores mais altos, o
34 ESTUDAR NO REINO UNIDO Portugalglobal nº142

Qual o percurso habitual de um mem- ainda temos membros em áreas de economia


bro PARSUK? Formar-se no Reino Unido, e artes. Em termos de formação, a nosssa esti-
aproveitar a oportunidade de aí trabalhar mativa é 14 por cento de alunos de licenciatura,
e eventualmente regressar a Portugal? outros 14 por cento de mestrado, 30 por cen-
A mobilidade é esperada na carreira académi- to em doutoramento, e os restantes membros
ca ou de investigação, particularmente nos pri- variam entre professores e investigadores dou-
meiros anos. Assim sendo, muitos dos nossos torados. Mais recentemente, temos membros
membros formam-se ou fazem investigação também profissionais (por exemplo, a trabalhar
no Reino Unido e depois emigram para outros em indústria, publishing), mas que continuam
países, incluíndo Portugal, até porque muitos ligados à associação.
mantêm colaborações com universidades e
institutos de investigação em que estudaram
Gostaríamos ainda de deixar um apelo. O
ou trabalharam em Portugal. Contudo, e talvez
Reino Unido é um dos principais parceiros de
refletindo a boa adaptabilidade dos portugue-
Portugal em termos de investigação científica.
ses e as oportunidades de progressão de car-
Existe uma comunidade de estudantes e inves-
reira no Reino Unido, muitos membros consi-
tigadores portugueses muito bem estabele-
deram ficar no país e regressar a Portugal mais
cida no Reino Unido, dadas as universidades
tarde, eventualmente para a reforma.
de excelência e as oportunidades na carreira
(e progressão) em investigação. Desta forma,
Quais os principais setores de atividade dos
a PARSUK tem-se mantido ativa para promover
membros da PARSUK e a sua importância
no Reino Unido? e apoiar a vinda de novos membros. Anos de
A PARSUK conta neste momento com mais de cooperação não devem ser desperdiçados e é
1.800 membros. Estimamos que 48 por cento necessário um esforço concertado e bilateral
deles nas áreas de ciências biomédicas ou bio- para manter estas relações.
lógicas, 20 por cento nas engenharias, 13 por
cento em ciências sociais e humanidades, e www.parsuk.pt
maio 2021 ESTUDAR NO REINO UNIDO 35
36 TURISMO Portugalglobal nº142

O IMPACTO DO BREXIT
NO TURISMO PORTUGUÊS
O mercado do Reino Unido tem, ao longo de anos, ocupado sempre posições
cimeiras no ranking dos 10 principais mercados emissores de turistas, seja nos
indicadores referentes a hóspedes, dormidas ou receitas. A atual conjuntura
teve consequências diretas nessa realidade, mas no Turismo de Portugal
acreditamos que o nosso país continuará a ser um destino de eleição para os
turistas britânicos.

Face a 2019, e tendo em conta a con- teve o seu início em junho de 2016)
juntura de confinamento geral, os in- não pode deixar de ser levada em con-
dicadores sofreram, naturalmente, um ta. Isto apesar de os maiores receios
acentuado decréscimo: nos hóspedes e incertezas que lhe estão associados,
(menos 80,2 por cento), nas dormidas terem sido de algum modo mitigados
(menos 81,9 por cento) e nas receitas e/ou adiados por um desafio ainda
(menos 63,0 por cento). Estes núme- maior – as restrições a que, por for-
ros são particularmente relevantes se ça da pandemia, todos os países es-
se levar em conta o facto de que, em tiveram sujeitos, tendo sido impostos
>POR CLAÚDIA MIGUEL, fevereiro de 2020, o Reino Unido apre- limites quase totais à circulação de
DIRETORA DO TURISMO sentava já índices de crescimento de- pessoas. Entrados numa nova fase e à
DE PORTUGAL EM LONDRES luz do que poderá ser a realidade dos
veras significativos para esse ano: mais
5,5 por cento em hóspedes, mais 3,2 próximos meses, com o eventual ate-
Em 2019 foi o primeiro mercado em nuar da conjuntura pandémica, o Bre-
por cento em dormidas e mais 7,7 por
receitas, o primeiro em dormidas e o xit volta a congregar alguma atenção.
cento em receita (YoY fevereiro 2020).
segundo em hóspedes, logo atrás de
Espanha. E, em 2020, apesar de todos Apresentado a 22 de fevereiro último
Estes resultados indiciam, sem mar-
os condicionalismos e vicissitudes, o o roadmap do Reino Unido para a saí-
gem para dúvida, a importância que
Reino Unido posicionou-se em primei- da do confinamento, a par do número
este mercado detém no contexto eco-
ro lugar no que se refere a dormidas crescente de vacinados (31.523.010
nómico do turismo nacional.
(16,3 por cento), em terceiro no núme- na 1ª dose e 5.381.745 na 2ª dose à
ro de hóspedes (11,5 por cento) e em data de 4 abril), continua a ser visível
Assim, a expectativa e a importância
segundo quanto a receitas turísticas. a grande expectativa que a população
associada ao Brexit (num processo que
britânica tem relativamente ao verão e
à possibilidade de viajar.

Esta expectativa assenta, ainda, na


estimativa de que, a 15 de abril, 32
milhões de pessoas estavam vacina-
das (com a 1ª dose), significando que,
a 15 de julho, estas mesmas pessoas
estarão integralmente vacinadas.
Espera-se que esta meta possa ser
atingida em data anterior à prevista,
sendo esta previsão corroborada pelo
número de reservas de viagens que
o setor regista e as quais apontam
maio 2021 TURISMO 37

o final de julho como data a partir da


qual começa a haver uma maior con-
centração de reservas, à qual se aliam
maiores níveis de confiança.

Todavia, este movimento não se cinge


apenas a turistas. Envolve, também,
residentes, imigrantes ou pessoas que
viajam em negócio.

Os desafios do Brexit
Perante esta realidade que espera-
mos seja viável a breve trecho, são
retomadas as questões que já tinham
sido objeto de longa discussão e de
profundo debate no setor do Turismo
(e não só): quais os impactos do Bre-
xit? Que desafios se apresentam aos
nossos agentes económicos, dentro e
fora da atividade turística? Que opor-
tunidades se apresentam?

Se refletirmos no modo como a pan-


demia veio acentuar e salientar, de
forma mais premente, o peso que o
setor do turismo tem na economia
nacional, na sua transversalidade (em minha carta de condução é válida e até enquadramento legal, daí resultando
ligação com uma multiplicidade de quando? Como se autoriza legalmente medidas claras e com a fluidez neces-
áreas/serviços como transportes, fron- a permanência de trabalhadores sazo- sária, visando a simplificação e com-
teiras, saúde, cultura, diplomacia, in- nais de turismo? Poderei levar o meu preensão de todos os processos.
dústria, educação, etc.) e na absoluta animal de estimação comigo? Sou es-
necessidade de comunicação e corre- tudante, que direitos e como poderei Parte das nossas oportunidades resi-
lação entre as mesmas, será correto permanecer em Portugal? Poderei usu- dem, efetivamente, nesta interligação
afirmar que estamos hoje mais bem fruir de “tax free”, como se processa? e num trabalho conjunto em prol de
preparados para um Brexit. Por força Após janeiro de 2021, poderei aceder objetivos que convirjam na minimiza-
das circunstâncias, atualmente o turis- ao sistema nacional de saúde em Por- ção das consequências nefastas de um
ta britânico relaciona de forma mais tugal? Quanto terei de pagar? Brexit, congregando uma seamless ex-
direta a interligação funcional dos perience do turista inglês em Portugal.
destinos, hotéis, aeroportos, aviões. A estas questões, meramente exem-
plificativas, acrescem ainda muitas No sentido de passar uma mensagem
Com efeito, desde há alguns anos a outras colocadas pelos residentes positiva, sensibilizando os agentes do
esta parte, nem todas as questões dos britânicos em Portugal. Também eles setor no mercado Reino Unido e a im-
turistas ingleses tocam ou são, na sua dando conta de aspetos pertinentes prensa britânica para o facto de tudo
essência, Turismo. Fazem, contudo, com que seriam confrontados no de- estar a ser feito para simplificar o pro-
parte do seu processo intrínseco, mas curso desta viragem. cesso em curso, e que o país estava de
estão também inquestionavelmente braços abertos para receber os turistas
ligadas a outras áreas de atividade: te- Há já alguns anos o governo portu- britânicos, o Turismo de Portugal lan-
rei necessidade de um visto? Quanto guês tem encetado diligências para çou a campanha Brelcome, dedicada
tempo poderei estar num país da UE que todas estas questões possam ter ao turista britânico. Com esta cam-
como turista? Qual a validade que o resposta. Ouvindo, concertando os panha, que imediatamente teve uma
meu passaporte deve ter? Haverá um diversos setores e organismos, Tu- resposta muito positiva por parte dos
mecanismo rápido de leitura do pas- rismo incluído, para que todas estas parceiros, dos turistas (e até da con-
saporte ou terei de estar em filas? A questões encontrassem o necessário corrência), o Turismo de Portugal con
38 TURISMO Portugalglobal nº142

recintos de espetáculos ou centros de


ciência viva) veio, mais uma vez, trans-
mitir interna e externamente a nossa
capacidade de liderança, inovação e
da forma como estamos preparados
para, em segurança e com confiança,
sermos o destino turístico escolhido.

São estas premissas que muito têm


contribuído para aumentar a nossa
visibilidade como país e como marca,
aliado aos atributos intrínsecos da nos-
sa diversificada oferta e que são fato-
res decisivos na escolha de um destino
para férias, como, por exemplo, no
caso dos destinos short haul (Europa).
Todos estes fatores influem: a qualida-
de da oferta, os procedimentos ope-
racionais claros, a hospitalidade e as
boas experiências anteriormente tidas
no destino, fazem-nos acreditar que
seguiu, de forma efetiva, passar uma As efetivas reservas que o turista bri- Portugal continuará a ser escolhido
mensagem positiva, de articulação tânico tem realizado desde 22 de fe- como destino de férias.
interna, de inovação, criatividade, rei- vereiro, se por um lado demonstram
terando a importância deste mercado resiliência e ausência de receio – que É necessário dar continuidade ao tra-
para Portugal. aliás acompanha o seu comportamen- balho promocional, aumentar a nossa
to neste que é já o primeiro ano de visibilidade, reduzir a sazonalidade,
As oportunidades não são apenas es- pandemia –, por outro são acompa- proporcionar formação contínua aos
tas. Elas interligam-se com as medidas nhadas de uma escolha criteriosa, ba- profissionais do turismo, sensibilizar
adotadas para dar uma cabal respos- seada na flexibilidade das mesmas e operadores e jornalistas para a diver-
ta a estas matérias e com o mínimo na confiança do destino. sidade de recursos que Portugal tem
de disrupção possível, mas passam para oferecer.
também pelo modo como nos conti- E para garantir, assegurar e manter es-
nuaremos a posicionar enquanto des- ses níveis de confiança, o Turismo de Olhando de uma forma ainda mais
tino turístico inovador, transformador, Portugal lançou, em 2020, o Selo Clean integrada e com mais alcance da ex-
moderno e arrojado, mantendo, em & Safe. Esta medida, articulada com a periência turística, tantas vezes rece-
simultâneo, os atributos e elementos Confederação do Turismo de Portugal bemos, e com tanto agrado, o feed-
identitários que tão bem nos caracte- (CTP) e com contributos de outras as- back de parceiros ou de particulares,
rizam: a autenticidade e o foco per- sociações do setor, procura sensibilizar relatando que, durante uma viagem
manente nas pessoas. os empreendimentos para os procedi- de negócios, aquando da participação
mentos mínimos a adotar e incentivar num evento ou numa mera experiência
Tendo em conta a operação aérea ins- a retoma do setor do turismo a nível de férias, selecionaram Portugal como
talada desde há longa data, a prefe- nacional e internacional, reforçando a futuro destino para estudar, trabalhar,
rência demonstrada por operadores confiança de todos no destino Portugal viver ou gozar o período de reforma.
turísticos pelo destino Portugal (até e nos seus recursos turísticos.
2019 entre 4ª preferência destino, ou Por todos estes motivos, acreditamos
5ª posição em dormidas – cfr. estudo A forma clara com que foi implemen- que Portugal continuará a ser um des-
Deloitte + Travelweekly) acreditamos tado, a sua transversalidade e, mais tino turístico escolhido pelos britâni-
que este mercado emissor continue uma vez, a interligação entre as di- cos. Os esforços envidados por todos
a ter uma enorme relevância para o versas áreas (empreendimentos turís- para que o Brexit seja um processo
nosso país, sobretudo ao nível das re- ticos, museus, guias intérpretes, alo- fluído apontam nesse caminho.
ceitas turísticas geradas, embora com jamento local, motoristas de turismo,
pesos distintos na esfera regional. áreas de serviço para autocaravanas, Info.UK@turismodeportugal.pt
maio 2021 TURISMO 39

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40 EMPRESAS Portugalglobal nº142

EMPRESAS PORTUGUESAS
COM PRESENÇA NO REINO UNIDO

EMPRESAS QUE INVESTIRAM


EM PORTUGAL
maio 2021 EMPRESAS 41

cho. Quando consumidores da União


Europeia importam produtos do Reino
Unido, a inflação no custo dos mes-
mos ronda os 30 por cento.

Os custos envolvidos na exportação e


importação do Reino Unido são mui-
tas vezes superiores ao produto em
si. Os atrasos generalizados, devido
ao controlo alfandegário, são inevitá-
veis e o processo do comércio online
ficou comprometido.

Neste modelo de negócio, algumas


empresas sem a estrutura necessária
para se adaptarem às novas regras e
muitas desconhecendo por completo
quais são, afinal, essas regras, optaram
simplesmente por deixar de fazer en-
vios para o Reino Unido e vice-versa.

CALVELEX A Calvelex tem tentado adaptar-se ao


Brexit da melhor forma possível, sen-

O IMPACTO DO BREXIT do que o acordo com o Reino Unido


(TCA) aligeirou aquele que poderia ter

NA INDÚSTRIA sido um cenário trágico, incentivando


o consumo dos produtos de origem

DA MODA NACIONAL
europeia e não aplicando valores de
direitos a esses produtos, como refe-
re fonte da empresa. No entanto, a
indústria da moda está ainda muito
Todas as empresas estão a adaptar-se a uma dinâmica
dependente de produtos importados
sobre a qual sabem muito pouco. Quando o Reino da Ásia. O desconhecimento das re-
Unido votou para a saída da União Europeia, gras tem também alienado algumas
a Calvelex adivinhou o impacto negativo que teria na oportunidades e o processo de apren-
nossa indústria. O acordo, no entanto, foi considerado dizagem tem-se verificado mais lento
um “alívio” pela empresa e, mesmo não sendo do que seria o ideal.
a melhor solução, foi a melhor possibilidade.
Ainda assim, é neste impasse que
surge a oportunidade de criar novos
O Reino Unido passou a ser um país As exportações e importações pós-
modelos de negócio. Para a Calvelex,
terceiro para a União Europeia e isto -Brexit têm automaticamente um pro-
os mais de 35 anos de experiência
trouxe novas dificuldades para as in- cesso muito mais moroso e burocrá-
com mercados extracomunitários fo-
dústrias exportadoras, com um im- tico, sendo o tempo fundamental na
ram fundamentais para ultrapassar
pacto inegável na indústria da moda, indústria da moda.
as dificuldades da nova dinâmica,
principalmente no que diz respeito à tendo sido um passo óbvio disponi-
venda a retalho, no modelo de negó- Todos os bens importados pelo Reino bilizar a própria estrutura logística,
cio B2C. Esta indústria padeceu, mas Unido têm o acréscimo do IVA de 20 onde faz todo o processo de aloca-
não por não estar preparada para a por cento e, no caso dos produtos de ção, armazenamento e expedição
exportação para países terceiros, por- vestuário e acessórios, têm ainda uma internacional, para empresas que
que isso é algo que já tem vindo a ser inflação de 10 a 12 por cento cor- precisam deste alicerce para se man-
feito nas últimas décadas, especial- respondente a direitos aduaneiros. A terem no negócio.
mente com o crescimento do mercado este valor é necessário acrescentar os
dos países da América do Norte. custos de todo o processo de despa- www.calvelex.com/pt/home-pt/
42 EMPRESAS Portugalglobal nº142

FERPINTA
UMA REESTRUTURAÇÃO DE SUCESSO
APÓS O BREXIT
As exportações da Ferpinta para o Reino Unido, iniciadas em 2011, registaram um
crescimento exponencial nos primeiros anos, permitindo o alcance de um volume
de negócios e uma posição no mercado de relevo. Apesar de ter enfrentado um
aumento do ambiente concorrencial e uma flutuação da variante cambial, que
se transformou num desacelerar do ritmo de crescimento, a empresa conseguiu
manter uma tendência de crescimento positiva ao longo de toda a década.

Nesta altura, a Ferpinta apostou numa acarreta um aumento de custos e pinta deu início a um novo modus ope-
abordagem estratégica de crescimen- entrega-se um serviço menos bom ao randi a nível logístico, que difere do
to, dispersa por novos mercados. cliente, menos flexível e mais moroso. anterior pela obrigatoriedade de rea-
Naturalmente, o Reino Unido, sendo lizar formalidades aduaneiras e uma
uma das maiores economias da Euro- No dia 1 de janeiro de 2021, data em maior sincronização com os clientes,
pa, foi considerado um mercado com que o acordo passou a vigorar, a Fer- de forma a agilizar o processo de im-
atratividade elevada para os produtos
da empresa, devido essencialmente
à dimensão da economia, à concor-
rência, aos custos de transporte e aos
custos de contexto.

A aposta neste mercado permitiu


um crescimento rápido e consistente
da empresa, que hoje é reconhecida
como uma das principais fabricantes
de tubos de aço na Europa.

A saída do Reino Unido da União Eu-


ropeia aportou novos e variados desa-
fios, face à acrescida burocracia e às
formalidades impostas, bem como aos
riscos de quotas e tarifas aduaneiras.
Desde o dia 31 de janeiro de 2020,
até ao presente, a Ferpinta teve forço-
samente de se ajustar as novas regras,
tendo colocado em prática a rees-
truturação dos seus procedimentos
aduaneiros e logísticos, previamente
preparada para esta eventualidade.
Estes novos procedimentos obrigató-
rios acarretam custos administrativos
mais elevados, mais burocracia e,
sobretudo, uma menor flexibilidade
e transit times mais elevados. Logo,
maio 2021 EMPRESAS 43

portação. No caso da Irlanda do Norte


são exigidos processos administrativos

INSTITUTO DOS VINHOS


extraordinários se a mercadoria passar
por território do Reino Unido em trân-

DO DOURO E DO PORTO
sito. Atualmente, o processo já está
normalizado, embora com uma maior
carga burocrática e custos acrescidos.

Apesar do impacto e das dificuldades


EVOLUÇÃO NO MERCADO
iniciais, a Ferpinta conseguiu ultrapas-
sar as dificuldades do processo, pois
BRITÂNICO
atempadamente criou uma equipa
multidisciplinar para endereçar rapi- O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP)
damente soluções e preparar um pla- é uma instituição única, com características especiais,
no para a transição. Nos dias de hoje, dada a sua natureza de instituto público de índole
a Ferpinta pode afirmar que a confian- interprofissional, com as atribuições de gestão
ça está restaurada e que o negócio das denominações de origem protegidas (DOP)
corre com normalidade, tendo até os Porto e Douro e da indicação geográfica protegida
volumes do primeiro trimestre supe- (IGP) Duriense.
rado os valores do período homólogo
de 2020.
do em Portugal com isenção de direi-
tos; em troca, os vinhos portugueses
No entanto, é importante salientar
importados para a Inglaterra estariam
que existe um carácter de incerteza
sujeitos a um terço a menos do que os
devido à possibilidade de imposição
vinhos importados da França.
de barreiras aduaneiras aos produtos
de origem europeia e ao facto de o
A comercialização dos vinhos da RDD,
processo do Brexit acarretar ainda al-
em 2020, totalizou um volume de ne-
guns potenciais entraves à exportação
gócios de mais de 518 milhões de euros,
com base em normalizações de pro- Os vinhos da Região Demarcada do
dos quais pouco mais de 358 milhões
dutos diferentes da Europa, o que Douro (RDD) têm associado um gran-
de euros para exportação. Este valor
obriga a uma monitorização rigorosa de prestígio, sendo especialmente re-
das exportações de vinhos da RDD, em
deste tipo de iniciativas. levante, a nível mundial, o que aporta
2020, representou 69 por cento do to-
o vinho do Porto.
tal das exportações portuguesas de vi-
No futuro, a Ferpinta antecipa um po- nho com DOP (dos quais 57 por cento
tencial de crescimento mais acelerado A relação histórica entre Portugal e a
são referentes ao vinho do Porto).
no Reino Unido, face às novas polí- Inglaterra remonta ao célebre Tratado
ticas de investimento e estímulo da de Windsor, celebrado em 1386, que
vigora até hoje. O casamento entre D. Na RDD, o IVDP tem alinhada a sua
economia. Como tal, prevê continuar atuação com os desenvolvimentos
Filipa de Lencastre e D. João I em fe-
a crescer de forma sustentada. mais recentes da revolução digital e
vereiro de 1387, justamente no Porto,
selou a aliança, que foi fundamental da sustentabilidade, pilares estraté-
Entrar num novo mercado é sempre gicos para a Europa moderna que se
doravante, tanto no aspeto militar
um desafio, mas no caso do Reino pretende construir.
como nas trocas comerciais.
Unido a Ferpinta considera importan-
te preparar uma estratégia sólida e de Em 2020, o mercado britânico contri-
No que ao vinho do Porto diz respeito,
médio prazo, com uma proposta de buiu muito positivamente para a evo-
a consolidação das trocas comerciais
valor diferenciadora, e ter em devida regulares teve o seu início com o Tra- lução das exportações, com especial
consideração os riscos, nomeadamen- tado de Methuen, também referido destaque para o aumento das suas
te cambial e regulatório, bem como como Tratado dos Panos e Vinhos, importações de vinho DOP Douro,
muita resiliência. assinado entre a Inglaterra e Portugal, numa evolução que poderá ter sido
em 1703. Os seus termos permitiam influenciada por uma antecipação de
https://www.grupoferpinta.com/pt/ que o tecido de lã inglês fosse admiti- compras, em resposta à eventualida-
44 EMPRESAS Portugalglobal nº142

de de um hard Brexit. As exportações


de Vinho do Porto para o Reino Unido
representaram 47,2 milhões de euros
(+ 2,4 por cento que em 2019) e as
de Douro totalizaram 6,2 milhões de
euros (+ 31,2 por cento).

Em termos futuros, e apesar da in-


certeza criada pela pandemia da
COVID-19 na evolução económica e
financeira mundial, salientam-se dois
aspetos geradores de otimismo, no
que ao Brexit diz respeito.

Primeiro, o facto do IVDP ter assegura-


do o registo das DO Porto/Port e Douro
como marcas coletivas de certificação
no Reino Unido, sendo que esta prote-
ção não afasta a que vier a ser atribuí-
da pela legislação do Reino Unido. TRANSITEX
Segundo, o acordo pós-Brexit entre a
União Europeia e o Reino Unido. Atra-
LANÇAMENTO
vés deste acordo, as taxas aduaneiras
não terão implicações nas trocas co-
DE NOVO SERVIÇO
merciais e na intensidade das exporta-
ções e importações entre os dois mer-
PARA O REINO UNIDO
cados, havendo alguma preocupação
com a burocracia ao nível do controlo; O operador logístico português Transitex iniciou,
e o facto, positivo, do reconhecimen- este ano, um novo serviço destinado a carga
to dos direitos de produção e comer- fracionada que liga a Península Ibérica ao Reino
cialização de bens certificados. Unido por via marítima.
Por fim, é de referir que o IVDP teve
Com uma frequência semanal, a con- da Transitex na Europa, afirmou que
conhecimento de que o Reino Uni-
solidação da carga é feita nas locali- a poucos dias do Brexit, os serviços
do introduziu documentos (VI-1 cer-
zações Transitex Ibéria e o serviço tem de transporte porta a porta presta-
tificates & COI for organic products)
destinados à importação de vinhos, a como destinos Londres e Liverpool, dos pela empresa se encontravam em
aplicar a partir de 1 de janeiro de 2022. com distribuição em qualquer pon- normal funcionamento, sem qualquer
to de entrega no Reino Unido, e um quebra da cadeia logística.
O IVDP exerce a certificação de vinhos transit time estimado de 4 a 5 dias
segundo os mais elevados padrões (mais entrega). O novo serviço para carga LCL é mais
internacionais. Para a realização de uma forma de garantir as trocas co-
um extenso protocolo analítico e de A Transitex, fundada em 2002, abriu merciais entre Portugal, Espanha e
prova, está capacitado para assegurar um escritório próprio em Manchester Reino Unido no pós-Brexit. Com um
a autenticidade dos vinhos, zelando em julho de 2019, motivada maiori- departamento de despacho aduaneiro
pela credibilidade das DOP Porto e tariamente pela necessidade de ante- in-house, a equipa Transitex em Man-
Douro, acautelando a sustentabilida- ver e preparar os desafios que o Brexit chester dá resposta às necessidades
de económica da Região Demarcada certamente traria a importadores e ex- dos clientes da empresa em Portugal
do Douro e reforçando a afirmação da portadores na União Europeia. e Espanha, bem como às de importa-
marca Portugal no mundo. dores locais.
Ainda em dezembro de 2020, Sa-
www.ivdp.pt muel Nascimento, regional manager www.transitex.com
maio 2021 EMPRESAS 45

TRIVA GROUP
A RELAÇÃO COM O REINO UNIDO
O Reino Unido, e Londres em particular, é um mercado e um investimento essencial
para o TRIVA GROUP, bem como para a sua marca de interiores e mobiliário
FRATO, que tem como objetivo ter presença física global.

mitiu manter todos os postos de tra-


balho. Na realidade, o TRIVA GROUP
manteve resultados positivos no Reino
Unido em 2020.

Relativamente ao Brexit, o grupo ex-


porta 99 por cento da sua produção
para 70 países, 67 por cento dos quais
são países terceiros. Com a saída do
Reino Unido do espaço comunitário e
a consequente entrada no grupo dos
países terceiros, a empresa necessita
de efetuar um despacho semanal ex-
tra. Apesar disso, esta é uma situação
irrelevante ao nível de custos e opera-
cional, não tendo sido um impedimen-
to nestes primeiros meses de 2021.
Para além do consumo inerente a negócio, o que se tem revelado extre-
uma cidade com nove milhões de ha- mamente vantajoso. O grupo, que conta já com presença
bitantes e com um elevado poder de no Emirados Árabes Unidos, na China
compra e exigência, Londres é a ca- Os últimos 12 meses têm sido um ver- e, brevemente, mais especificamente
pital mundial do design de interiores, dadeiro desafio para a empresa portu- em 2022, nos Estados Unidos, já está
sendo obrigatória e indispensável uma guesa que considera, porém, que na habituado a estes contratempos. Se-
presença física por parte das marcas. realidade, o Brexit e a pandemia cria- gundo a empresa, é frequente que es-
ram a “tempestade perfeita”. Os espa- tas dificuldades pontuais sejam com-
Desde 2015, o TRIVA GROUP conta ços da marca estiverem encerrados 56 pensadas com simplicidade noutros
com um investimento direto em Lon- por cento dos dias nos últimos 12 me- processos, como se verifica no caso
dres, permitindo a obtenção e gestão ses, tendo essa sido a principal dificul- do Reino Unido.
de uma concessão no Harrods, que foi dade sentida. Contudo, para contrariar
renovada por mais um triénio em ou- este período de fecho, o grupo imple- Para o TRIVA GROUP, o Reino Unido
tubro de 2020, em plena pandemia. mentou visitas virtuais aos espaços a foi e continuará a ser uma aposta de
partir do seu website, o que se revelou sucesso. “Estamos bastante confian-
Paralelamente, no final de 2019, a uma aposta ganha. De salientar ainda tes para o futuro e pretendemos con-
empresa expandiu a sua presença que os espaços tinham sido totalmente tinuar a investir. Reabrimos os nossos
para o Chelsea Design Centre, um renovados antes do confinamento. espaços a 12 de abril e, tendo em vista
verdadeiro hub com 120 showrooms a elevada percentagem de vacinação,
e 600 marcas internacionais exclusiva- Ainda assim, é de destacar a elevada temos esperança de não voltar a con-
mente ligadas ao segmento casa. resiliência das empresas e dos con- finar no Reino Unido”, revela Carlos
sumidores britânicos, bem como o Santos, presidente do grupo.
Com estas duas frentes, conseguiu esquema de apoios do governo britâ-
assim cobrir a vertente B2B e B2C do nico, simples e pragmático, que per- www.frato.com
46 EMPRESAS Portugalglobal nº142

VISION-BOX
REINO UNIDO APOSTA
NA TECNOLOGIA PORTUGUESA
A Vision-Box é a parceira estratégica de longa data da agência de comando de
aplicação da lei no controlo de fronteiras (UKBF) do Home Office, responsável
pelos e-Passport Gates no Reino Unido. Até à pandemia, os e-Passport Gates
processavam mais de 60 milhões de pessoas por ano nas chegadas, em todos os
principais terminais de aeroportos.

Ao longo dos anos, a Vision-Box tem todas as viagens aéreas nos aeropor- É de salientar que a Vision-Box ajudou a
vindo a implementar projetos adicio- tos europeus – com Heathrow e Gat- liderar e a definir os padrões em torno
nais para a UKBF, de forma a habili- wick classificados entre os 10 aero- da tecnologia biométrica para as via-
tar os Serviços Digitais na Fronteira portos europeus mais movimentados. gens e para a segurança das fronteiras.
(DSAB), tais como as verificações de Antes da primeira vaga da COVID-19,
segurança melhoradas e os recursos o aeroporto de Gatwick contratou a A empresa também trabalha com
de pré-autorização de passagem à Vision-Box durante um período de
outros clientes no mercado do Reino
chegada, permitindo uma forma au- cinco anos, com o objetivo de apoiar o
Unido, como a VISA Immigration Ser-
tomatizada, eficiente e segura das aeroporto no seu plano de crescimen-
vices, a Irish Naturalization and Immi-
pessoas entrarem no país. to e concentrar-se na disponibilização
gration Service (INIS) e a Eurostar.
da melhor experiência possível para o
Os aeroportos do Reino Unido corres- passageiro, recorrendo às tecnologias
Em relação ao Brexit, é de referir que
pondem a cerca de 15 por cento de biométricas sem contacto físico.
aportou novas oportunidades e desa-
fios no controlo das fronteiras, nomea-
damente na importação e exportação
de cargas, no rastreamento de veículos
e na imigração. Nos próximos anos, a
Vision-Box espera alargar a sua plata-
forma e os seus serviços, de modo a
fornecer uma solução integrada que
pode interconectar diferentes agências
dentro e fora da União Europeia.

www.vision-box.com
maio 2021 EMPRESAS 47

tir durante os próximos meses, após


a reabertura do mercado.
WEWOOD Esta empresa portuguesa tem a certeza

MOBILIÁRIO PORTUGUÊS que vai sentir esses impactos, mas con-


ta com a compreensão dos seus clien-

MANTÉM APOSTA NO tes no Reino Unido, que são os princi-


pais prejudicados, uma vez que terão

REINO UNIDO de suportar os custos deste aumento


de preços imposto pelas novas taxas.

O setor do mobiliário português en-


frentará um risco elevado ou médio/
alto, mas a presença de quase uma
década da Wewood neste mercado
poderá mitigar os efeitos negativos do
Brexit. A empresa considera o investi-
mento realizado até hoje neste merca-
do demasiado elevado para desistirem
do mesmo e procurarem alternativas.

“Há uma ligação, não só em termos


comerciais, mas também em termos
históricos, entre Portugal e o Reino
Unido. Os clientes ingleses reconhe-
cem a qualidade dos nossos produtos
e, no caso do Reino Unido, a marca
O Reino Unido é o segundo mercado de exportação já é relativamente conhecida no seg-
da Wewood e, por isso, a empresa pretende mantê- mento de mercado em que nos inseri-
lo. No segmento onde se insere, este é um mercado mos”, afirma Salvador Gonzaga, CEO
extremamente importante, uma vez que os principais da Wewood.
gabinetes de arquitetura e de design de interiores
estão quase todos sedeados na capital britânica. “Não vamos desistir da nossa conces-
são na HEAL’S e teremos, certamente,
O Reino Unido sempre foi um dos Desde o início, a Wewood tentou an- que encontrar formas de contornar os
principais mercados de aposta da tecipar os impactos do Brexit, nomea- entraves logísticos entretanto criados.
Wewood. Em 2019, a empresa de- damente através da criação de uma Eventualmente teremos de ponderar
cidiu consolidar a sua presença nes- empresa no Reino Unido, a Wewood o arrendamento de um armazém no
se mercado com a abertura de um UK. No entanto, logo após a saída do Reino Unido e trabalhar com ‘stocks’
showroom na HEAL’S, uma das prin- Reino Unido da União Europeia, a em- locais, exportando maiores quantida-
cipais lojas de mobiliário britânicas, no presa começou a sentir alguns impac- des de produtos, em menos vezes”,
histórico edifício de Tottenham Court tos, sobretudo a nível logístico. Além finaliza Salvador Gonzaga.
Road, em Londres. disso, as taxas alfandegárias entretan-
to impostas obrigaram a um aumento Apesar dos obstáculos, a Wewood
O nome Tottenham já não era estra- dos preços dos produtos. encara esta situação como um desa-
nho para a Wewood, uma vez que, fio, numa perspetiva positiva, tentado
em 2018, o gabinete de arquitetura F3 Apesar disso, a Wewood ainda não aproveitar todas as oportunidades re-
Architects selecionou o aparador Scar- conseguiu perceber os reais impactos sultantes da reconfiguração do mer-
pa, uma das peças mais icónicas da do Brexit, uma vez que o lockdown cado, uma vez que os seus principais
empresa, para equipar os quartos do causado pela COVID-19 acabou por concorrentes também vão sofrer os
centro de estágios do Tottenham Hots- ser muito mais impactante. Assim, a mesmos impactos.
pur FC. Este centro de estágios é con- empresa acredita que os reais impac-
siderado um dos melhores da Europa. tos do Brexit se possam fazer sen- www.wewood.eu
48 EMPRESAS Portugalglobal nº142

EMPRESAS PORTUGUESAS
COM PRESENÇA NO REINO UNIDO

EMPRESAS QUE INVESTIRAM


EM PORTUGAL
maio 2021 EMPRESAS 49

DS SMITH
PORTUGAL: UMA OPORTUNIDADE
DE EXPANSÃO DA OFERTA
A DS Smith, fornecedor líder global de packaging sustentável à base de fibra
de papel, com operações de reciclagem e produção de papel, iniciou a sua
trajetória em Portugal, em 2016, com a aquisição da Gopaca e da P&I Displays.
Em 2019, reforçou a sua presença no país, com a conclusão da compra da
Europac. Estas aquisições enquadraram-se na ambição da empresa de fortalecer
as operações na Península Ibérica, um mercado bastante importante e em
crescimento, disponibilizando, desta forma, uma maior amplitude de oferta
aos clientes europeus.

A divisão de Packaging da DS Smith


em Portugal conta com seis unidades
fabris, situadas em Guilhabreu, Esmo-
riz, Águeda, Carregal do Sal, Leiria e
Lisboa, e um centro logístico, na Ma-
deira. A empresa possui ainda três uni-
dades de reciclagem, no Porto, Figueira
da Foz e Lisboa, e uma fábrica de pa-
pel, em Viana do Castelo. Atualmente,
e passados apenas cerca de cinco anos
após a implantação no país, a DS Smith
assume uma posição de liderança no
setor. Por essa razão, a operação em
Portugal é considerada uma peça-cha-
ve para a estratégia global da empresa,
presente em 34 países e com cerca de
30 mil colaboradores.

Distinguindo-se pelas suas soluções


inovadoras e sustentáveis de embala-
gens em cartão canelado, a DS Smith
apresenta uma oferta diversificada,
que inclui uma ampla gama de em-
balagens prontas a usar e vender no
Fábrica de Viana tem uma capacidade de produção bruta de 425 mil toneladas por ano.
ponto de venda, embalagens para
e-commerce, embalagens de trans-
porte e embalagens industriais, entre e respondem à crescente procura, tan- das inovações da empresa que surge
outras. O portefólio de produtos inte- to das marcas, como dos consumido- no âmbito da necessidade de produ-
gra ainda os displays e materiais para res, por alternativas mais sustentáveis. tos substitutos do plástico.
ponto de venda em cartão canelado. A ECOVETE, uma linha de embala-
Todas as soluções desenvolvidas têm gens 100 por cento recicláveis, desti- Recentemente, a DS Smith instalou
em conta os novos hábitos de compra nadas ao setor hortofrutícola, é uma uma impressora digital Single-Pass,
50 EMPRESAS Portugalglobal nº142

inovadora e única em Portugal, que


contribui de forma decisiva para a ex-
pansão da oferta da empresa. Instala-
da na fábrica de Lisboa, devido à sua
posição privilegiada, que facilita a dis-
tribuição das soluções desenvolvidas
com esta tecnologia, a nova máquina
permite fornecer packaging personali-
zado, com elevada qualidade de ima-
gem e prazos de entrega reduzidos.

Na DS Smith, um dos objetivos es-


tratégicos é liderar o caminho em
termos de sustentabilidade, em linha
com o seu propósito de “Redefinir o
Packaging para um Mundo em Cons-
tante Mudança”. Por isso, a empresa
utiliza papéis 100 por cento recicla-
dos ou com certificação da cadeia
de custódia, fornecendo embalagens
sustentáveis que fazem o melhor uso
da fibra, e que estão devidamente oti-
mizadas de modo a garantir a prote-
ção, o transporte e o armazenamento
dos produtos de uma forma eficiente.
Para reforçar o seu compromisso com
a economia circular e com a proteção
do meio ambiente, a empresa lançou,
em 2020, a nova estratégia de susten-
tabilidade “Now and Next”. Focada
nos desafios atuais, assim como nos REVOLUT
que terão impacto nas gerações fu-
turas, esta compromete-se a fechar o
ciclo através de um melhor desenvol-
UMA APOSTA DE SUCESSO
vimento, proteger os recursos naturais
tirando o máximo proveito de cada
EM PORTUGAL
fibra, reduzir os resíduos e a poluição
através de soluções circulares e capa- Ao longo dos últimos anos, Portugal tem vindo a
citar as pessoas para liderar a transi- consolidar-se como um interessante hub para fintechs
ção para uma economia circular. e startups na Europa. A Revolut tem muito orgulho
em integrar este movimento.
O mercado português é uma oportu-
nidade para a DS Smith expandir a sua
oferta, utilizando o know-how de um O estabelecimento de um Centro com a estratégia de expansão global
líder europeu em packaging. Atual- de Suporte Global em Matosinhos da empresa.
mente, a empresa dispõe de equipa- foi alvo de vários estudos e de mui-
mentos inovadores no país, que irão ta ponderação. Portugal destacou-se A relação da Revolut com Portugal
contribuir para a modernização das por várias razões, nomeadamente remonta à edição de 2016 da Web
soluções de embalagem dos clientes pelo talento dos recursos humanos, Summit, quando ainda era só mais
em setores-chave, como os de bens de medidas atrativas de captação de ta- uma de muitas pequenas startups pre-
grande consumo e o e-commerce. lento estrangeiro, proficiência em lín- sentes – com pouco mais de um ano
guas, qualidade de vida e custos de de existência. Nos últimos cinco anos,
www.dssmith.com implementação razoáveis, alinhados cresceu exponencialmente, tendo já
maio 2021 EMPRESAS 51

Vendas, Análise de Dados, Apoio ao da força de trabalho local da empre-


Cliente, Engenharia (back-end e front- sa. Assim, perante a pandemia global
end), entre outras. O objetivo é con- e marcadas mudanças nas formas de
solidar Portugal como mais um polo trabalhar, a Revolut implementou um
relevante da Revolut na Europa. novo modelo híbrido, que permite
aos colaboradores escolher com que
O último ano provou-se desafiante frequência querem trabalhar a partir
para todas as organizações, em todos de casa ou visitar os escritórios, que
os mercados, mas criou também mui- serão também redesenhados para
tas oportunidades e, a Revolut, ten- responder melhor às necessidades do
ciona aproveitá-las. Tornar Portugal trabalho colaborativo.
ainda mais atrativo passa por valorizar
o capital humano que cresce e estuda Além disso, a empresa anunciou tam-
no país, mas também criar condições bém uma nova política que permitirá
para que outros possam descobrir aos mais de 2.000 funcionários da Re-
essa riqueza. Pensar a Revolut como volut trabalhar a partir do estrangeiro
um recrutador de excelência reveste- durante dois meses ao longo do ano.
-se, por isso, hoje em dia, de diferen- A empresa acredita que Portugal esta-
tes nuances, sendo uma das principais rá no mapa de muitos deles, uma vez
a flexibilidade. que as mais de 80 nacionalidades que
fazem parte da sua workforce encon-
O mercado português tem um poten- trarão no país, pelo menos tempora-
cial enorme do ponto de vista da atra- riamente, todos os benefícios que fi-
ção de talento internacional – com zeram a Revolut escolher Portugal.
os estrangeiros sediados em Portugal
a representar cerca de 40 por cento www.revolut.com/pt-PT

mais de 15 milhões de clientes e mais


de 2.000 colaboradores globalmente.
Portugal alimentou esse crescimento,
com a sociedade portuguesa a abra-
çar os benefícios de aliar as finanças
à tecnologia.

Tendo avaliado várias possibilidades,


primeiro em diferentes capitais euro-
peias e depois em várias cidades por-
tuguesas, a Revolut optou por se esta-
belecer no norte do país, pelas razões
já referidas. A sua atividade começou
com cerca de 20 pessoas, em 2019.
Atualmente, conta com mais de 100
profissionais em variadas funções,
mantendo os planos de expansão
para o mercado nacional - muitos de-
les em modalidades remotas baseadas
em Portugal Continental.

Estão, atualmente, mais de 50 vagas


por preencher em diferentes áreas
do negócio, como Crime Financeiro,
52 EMPRESAS Portugalglobal nº142

Reino Unido em ficha


Caminhos de Ferro Principais
Estradas Principais
Fronteiras Internacionais
Fronteiras Regionais
Aeroportos
Caminhos de Principais
Ferro Principais
Shetland Data da atual Constituição: o Reino Unido é uma monarquia
Capital
Estradas Principais
Cidades
Outras
Principais
Fronteiras Internacionais
Cidades
Fronteiras Regionais Shetland constitucional. Não existindo um documento único ou uma lei a
* Capital de Província
Aeroportos Principais
Capital
0 k Cidades
50 100
Principais
Outras Cidades
150 200 que se possa fazer referência, o país rege-se por um conjunto de
* Capital de Província
Orkney
0 miles
0k 50
50
100 150
100
200
princípios, tradições e usos
Orkney
Thurso
0 miles 50 100

MAR DO NORTE
Principais Partidos Políticos: Grã-Bretanha – Conservative Party;
es

Lewis
ri d

Ullapool Thurso
Heb
Outer

MAR DO NORTE Labour Party; Liberal Democrats; UK Independence Party (UKIP);


es

Lewis
Inverness
ri d

Ullapool
Heb

Isle of Kyle of Lochalsh


OCEANO Skye
Reform UK (antigo Brexit Party); Green Party; Scottisth National Party
Outer

Aberdeen
Inverness
ATLÂNTICO
OCEANO
Isle of
Skye
Kyle of Lochalsh
Dundee Aberdeen (SNP); Plaid Cymru (Welsh National Party). Irlanda do Norte – Ulster
Mull Oban Perth
ATLÂNTICO
Stirling Dunfermline
Dundee
Unionist Party (UUP); Democratic Unionist Party (DUP); Alliance Party;
Greenock Glasgow
Perth
Mull Edinburgh
Social Democratic Party and Labour Party (SDLP); Sinn Fein
Islay Oban
Motherwell Berwick-upon-Tweed
of Cl yde

Kilmarnock Dunfermline
Stirling
Greenock Glasgow Edinburgh
rth

Islay Fi Motherwell Berwick-upon-Tweed


Dumfries
of Cl yde

Londonderry U) Kilmarnock Newcastle


(R Stranraer Sunderland
rte
Capital: Londres – 8,1 milhões habitantes
(Derry) Carlisle
Larne
No
rth

Armagh do Antrim Fi
Bangor Middlesbrough
Londonderry n da Belfast
U ) Dumfries Newcastle
Irla (R Stranraer
(Derry) r te Larne Isle of REINOCarlisleUNIDO SunderlandScarborough
No Man
Armagh do Antrim

Irla
nd
a
Belfast
Bangor Lancaster
Bradford
Middlesbrough
York Outras cidades importantes: Birmingham, Leeds, Glasgow,
MarIsledaofIrlanda REINOBolton
Blackburn UNIDO Leeds Kingston upon Hull
Scarborough

Sheffield, Bradford, Liverpool, Edinburgh, Manchester, Bristol, Cardiff,


Man Grimsby
Liverpool
Lancaster ool Manchester
Anglesey
Birkenhead Bradford York
Sheffield
Warrington
REPÚBLICA Holyhead
Mar da IrlandaBangor Blackburn Chester Leeds Lincoln
Kingston upon Hull
The
DA IRLANDA Anglesey
Wrexham
Liverpool
Bolton
Derby
oolStoke Manchester Nottingham
SheffieldKing's Lynn
Wash
Grimsby
Norwich
Belfast e Leicester
Birkenhead Warrington
REPÚBLICA Holyhead Shrewsbury Lincoln The Great
Cardigan Bangor Chester Leicester Yarmouth
Wolverhampton Peterborough
Wash
Bay Wrexham Birmingham
DA IRLANDA Aberystwyth
Stoke Derby Coventry
Nottingham

Cardigan
Shrewsbury Worcester
Wolverhampton Milton Keynes
Northampton
Leicester
Norwich
King's LynnCambridge
Great
Ipswich
Yarmouth
Religião: a religião oficial do Reino Unido é Anglicana (a Rainha é a
Peterborough
Fishguard Bay Birmingham Luton
Coventry
Aberystwyth Gloucester
Newport
WorcesterSwindon
Oxford Northampton Cambridge
Southend
Ipswich
Chefe da Igreja), mas são igualmente relevantes a religião Católica,
Swansea
Milton Keynes
Bristol
Fishguard Cardiff l ReadingLuton LONDON Canterbury
o Islamismo, o Judaísmo e outras denominações cristãs protestantes
ne

Bri stol Ch aGloucester


n
Mar Céltico Oxford Dover
Newport Salisbury Crawley FolkestoneSouthend
Barnstaple Swindon
Swansea Southampton Calais
Cardiff l Bristol Hastings
Reading Canterbury
Exeter Portsmouth LONDONBrighton
ne

Bri stol Ch a nBournemouth


Mar Céltico
IsleCrawley
of Channel Tunnel Dover
Língua: inglês; existem idiomas próprios no País de Gales (galês),
Salisbury Folkestone
OCEANO Barnstaple Wight Rail Link
Calais
Southampton Hastings
ATLÂNTICO Truro Plymouth Canal Inglês
Exeter Bournemouth Portsmouth Brighton

OCEANO
Penzance
Isles of Scilly
Isle of Channel Tunnel
Wight Rail Link
FRANÇA
na Escócia (gaélico escocês) e na Irlanda do Norte (gaélico irlandês)
ATLÂNTICO Truro Plymouth Canal Inglês
Penzance
Isles of Scilly
FRANÇA
Unidade monetária: Libra Esterlina (GBP)
Área: 242 509 km2 (Inglaterra 130 279 km2; Escócia 77 933 km2;
1 EUR = 0,87 GBP (abril 2021 – Banco de Portugal)
País de Gales 20 735 km2; Irlanda do Norte 13 562 km2)
Risco País:
População: 67,9 milhões de habitantes (estimativa 2020)
Risco geral - BBB (AAA = risco menor; D = risco maior)
Densidade populacional: 279 hab./ km2 Risco Político - A
Risco de Estrutura Económica - BBB
Designação oficial: Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte
Risco de crédito: País “não classificado” na tabela risco-país da
Chefe de Estado e do governo: Rainha Elizabeth II (desde fevereiro de 1952) OCDE. Não é aplicável o sistema de prémios mínimos

Primeiro-ministro: Boris Johnson (desde 2019) Fontes: The Economist Intelligence Unit (EIU), Banco de Portugal.

Endereços úteis
Embaixada de Portugal Tel.: 213 924 000
no Reino Unido www.ukinportugal.fco.gov.uk
11, Belgrave Square, London,
SW1X 8PP – Reino Unido
Portuguese Chamber
Tel.: +44 20 723 55 33
– The Portuguese UK
londres@mne.pt
Business Network
Fourth Floor 11 Belgrave Square,
London SW1X8PP – Reino Unido
AICEP Londres
Tel.: +44 020 7201 6638
11, Belgrave Square, London,
info@portuguese-chamber.org.uk
SW1X 8PP – Reino Unido www.portuguese-chamber.org.uk
Tel.: +44 20 7201 6666
aicep.london@portugalglobal.pt Câmara de Comércio
Luso-Britânica
Embaixada do Reino Unido Rua da Estrela, 8, 1200-669 Lisboa
em Portugal Tel.: 213 942 020
R. de S. Bernardo, 33, info@bpcc.pt
1249-082 Lisboa www.bpcc.pt
maio 2021 EMPRESAS 53
54 FACTOS & TENDÊNCIAS Portugalglobal nº142

FACTOS & TENDÊNCIAS


Compras online Consumo aumentará Perguntas e Respostas
representarão 20 por após a pandemia sobre o Acordo
cento das vendas a e algumas tendências de Parceria entre a UE
retalho em 2025 irão manter-se e os Estados de África,
A percentagem das vendas a retalho A compra online de mercearias, as
Caraíbas e Pacífico
que são efetuadas online irá duplicar consultas médicas através da inter- A Comissão Europeia publicou uma
de 10 por cento em 2019 para 20 por net e a procura de artigos para a casa breve análise, a 15 de abril, no formato
cento em 2025, segundo o relatório são três áreas que deverão continuar pergunta/resposta, sobre o novo rela-
“Online Retailing – How to navigate a crescer após a pandemia da CO- cionamento entre a União Europeia
the new normal” que a Economist VID-19, segundo o estudo “The con- e os Estados de África, Caraíbas e Pa-
Intelligence Unit acaba de publicar. sumer demand recovery and lasting cífico (Acordo pós-Cotonu), que terá a
O crescimento será mais acentuado effects of COVID-19” publicado em duração inicial de 20 anos após os pro-
em mercados emergentes da Ásia, março pela McKinsey. A aprendiza- cessos de ratificação entre as partes.
América Latina e Médio Oriente e exi- gem à distância, as viagens aéreas em No texto é abordada a estratégia para
girá por parte dos retalhistas a adoção lazer e o entretenimento ao vivo são o futuro, as vantagens do novo acordo,
de tecnologias e novas estratégias de também algumas das áreas em que o as prioridades para as diversas regiões
armazenamento e atendimento. consumo deverá aproximar-se dos pa- e o modo como este instrumento bi-
CONSULTAR drões anteriores à pandemia. lateral irá contribuir para o desenvolvi-
CONSULTAR mento económico e comercial, assim
como a proteção social e ambiental.

Produtividade anual CONSULTAR

poderá acelerar um ponto África terá um


percentual até 2024 crescimento de 3,4 por
cento em 2021 Angola vai passar
A produtividade e o crescimento irão a importar a granel
regressar após a crise da COVID-19? O crescimento do PIB em África deverá
produtos da cesta básica
A pergunta é o título de um estudo ser de 3,4 por cento em 2021, segundo
que a McKinsey acaba de publica o “African Economic Outlook 2021” Angola estabeleceu novas regras so-
e no qual conclui que a produtivida- que o Banco Africano de Desenvolvi- bre a importação de produtos pré-em-
de global poderá acelerar cerca de um mento acaba de lançar. Esse crescimen- balados com a publicação do Decreto
ponto percentual até 2024. O relató- to representa uma recuperação face à Executivo n.º 63/2021, de 17 de mar-
rio analisa o crescimento da produtivi- contração de 2,1 por cento em 2020. ço (em vigor a partir de 17 de junho).
dade nos Estados Unidos e em seis das África viveu a pior recessão em mais Segundo o Africa 21 Digital, esta pas-
maiores economias europeias – Fran- de meio século devido à pandemia e o sará a ser efetuada em “big bags”
ça, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia crescimento que agora se prevê dever- (embalagens de grandes dimensões)
e Reino Unido. Saúde, construção, -se-á sobretudo à retoma do turismo, à para acomodação de produtos a gra-
tecnologias de informação e comuni- recuperação dos preços dos produtos nel da cesta básica (açúcar, arroz, fa-
cação e retalho são os setores em que de base e à redução das restrições rela- rinha de trigo e de milho, feijão, leite
a produtividade mais deverá crescer. cionadas com a pandemia. em pó, óleo alimentar, ração animal,
sal grosso e refinado, sêmola de trigo,
CONSULTAR CONSULTAR
carne de porco e de vaca, margarina e
sabão). O objetivo do governo é pou-
par divisas e apoiar a economia local.
CONSULTAR
maio 2021 FACTOS & TENDÊNCIAS 55

Cabo Verde adia para Indicadores económicos apresentando uma tvh de -13,8 por
cento. Estes resultados determinaram
2022 implementação
Projeções do FMI (World Economic um défice da balança comercial de 1,6
da Tarifa Externa
Outlook, April 2021) revelam que a mil milhões de euros, correspondente
Comum da CEDEAO a um desagravamento de 1,4 mil mi-
economia portuguesa deverá crescer
Segundo a Inforpress, Cabo Verde 3,9 por cento em 2021, enquanto lhões de euros. A taxa de cobertura
adiou para 2022 a aplicação da Tari- o Plano de Estabilidade 2021-2025, das importações pelas exportações
fa Externa Comum (TEC) da CEDEAO apresentado pelo Ministério das Fi- situou-se em 86 por cento o que cor-
(Comunidade Económica dos Estados nanças (MF), aponta para um cresci- responde a uma subida de 9 pontos
da África Ocidental), inicialmente mento de 4,0 por cento, após quebra percentuais face à taxa registada no
prevista para este ano, condicionada de 7,6 por cento em 2020. Para as ano anterior.
à realização de um estudo de impac- exportações de bens e serviços, o FMI CONSULTAR
to socioeconómico. A Tarifa Externa e o MF preveem crescimentos reais de
Comum da CEDEAO entrou em vigor 10,8 por cento e 8,7 por cento, res-
em 2015 mas alguns países não ade- petivamente (variação de -18,6 por Atividade empresarial
riram, como a Guiné-Bissau e Cabo cento no ano passado). abrandou ligeiramente
Verde. Prevê taxas unificadas para os Segundo o INE, nos dois primeiros em 2019
diversos tipos de bens e representa meses deste ano, as exportações e
um marco importante na construção importações nominais de bens dimi- Em 2019, os principais indicadores do
de uma União Aduaneira na região nuíram, em termos homólogos, 3,7 setor empresarial não financeiro em
da CEDEAO. por cento e 13,8 por cento, respeti- Portugal continuaram a evoluir posi-
vamente. Nos serviços, segundo o tivamente, embora em desaceleração
CONSULTAR
Banco de Portugal, as exportações e relativamente a 2018, evidenciando
importações nominais portuguesas di- um crescimento de 4,1 por cento no
pessoal ao serviço e crescimentos no-
Exportação para minuíram 44,9 por cento e 32,0 por
minais de 4,0 por cento no volume de
o Azerbaijão cento em 2021, janeiro a fevereiro.
negócios e 5,8 por cento no VAB (+4,3
de pintos do dia CONSULTAR
por cento, +6,8 por cento e +6,4 por
A Direção Geral de Alimentação e cento, respetivamente, em 2018), de
Veterinária (DGAV) anunciou que fo- Exportações de bens acordo com dados do INE (março).
ram definidas as condições sanitárias diminuem 3,7 por cento No setor não financeiro iniciaram ati-
para exportação de pintos do dia de nos dois primeiros vidade 45.977 sociedades, o que cor-
Portugal para o Azerbaijão, após de- meses de 2021 responde a uma taxa de natalidade de
monstração de interesse por parte de 10,5 por cento, ligeiramente superior
Nos dois primeiros meses de 2021, as
operadores nacionais e de um proces- à verificada em 2018 (+0,6 p.p.). Estas
exportações de bens ascenderam a
so de negociação entre as entidades novas sociedades empregaram 86.623
9,7 mil milhões de euros, contra 10,0
responsáveis de ambos os países sobre pessoas ao serviço e geraram 2.540
mil milhões de euros em igual perío-
as condições sanitárias exigidas e da milhões de euros de volume de negó-
do de 2020, ou seja, um decréscimo
aprovação da respetiva certificação. cios (+14,2 por cento e +7,8 por cen-
de 368 milhões de euros (taxa de va-
CONSULTAR to, respetivamente, face ao gerado por
riação homóloga de -3,7 por cento),
novas sociedades no ano anterior).
de acordo com os dados de abril do
CONSULTAR
Instituto Nacional de Estatística. No
mesmo período, as importações to-
talizaram 11,2 mil milhões de euros
e diminuíram 1,8 milhões de euros, Direção de Produto da AICEP
56 NOTÍCIAS Portugalglobal nº142

notícias
Estudo ‘InterComm
Report – B2B
Communication Trends
in Global Business’

AICEP
O estudo ‘InterComm Report – B2B
Communication Trends in Global
Business’, desenvolvido pela Escola
Superior de Comunicação Social em
parceria com a SayU Consulting –
Evoke Network, e que contou com o
apoio da AICEP, foi apresentando no
dia 7 de abril, no auditório da Agên-
cia em Lisboa.
apoiar o desenvolvimento de uma es- Para além de identificar tendências,
tratégia conjunta para a sustentabili- este estudo pretende ajudar na ação,
dade, surgiu o Seminário Empresarial apontando vários caminhos de refle-
Portugal-África|Exportar “Verde”, que xão sobre o papel da Comunicação na
contou com a participação do minis- construção e gestão de relações com
tro do Ambiente e da Ação Climática, os stakeholders das empresas B2B ex-
João Matos Fernandes, do ministro portadoras nacionais.
dos Recursos Minerais e Energia de De acordo com as oradoras presentes,
Moçambique, Ernesto Max Tonela, Ana Raposo, da Escola Superior de Co-
do secretário de Estado da Interna- municação Social, e Marta Gonçalves,
cionalização, Eurico Brilhante Dias, do da SayU Consulting, ambas investiga-
secretário de Estado da Energia, João doras responsáveis pelo InterComm,
Galamba, do presidente da AICEP, Luís “O mundo pós-pandemia irá exigir
Castro Henriques e do presidente da maior transparência e mais confiança.
Seminário Empresarial CIP, António Saraiva. Será essencial às empresas nacionais
Portugal-África|Exportar
“Verde”:
No âmbito da Presidência Portuguesa
da União Europeia, a AICEP, em par-
ceria com a CIP, organizou, no dia
22 de abril, o Seminário Empresarial
Portugal-África | Exportar “Verde”: A
Internacionalização das empresas na
era da sustentabilidade.
Os desafios colocados pelas alterações
climáticas e a consciência crescente
de que é urgente caminhar para a
sustentabilidade económica, social e
ambiental têm vindo a ganhar peso
na agenda internacional. As exporta-
ções e o investimento proporcionam
uma plataforma para galvanizar a
ação conjunta no desenvolvimento
sustentável, facilitando uma ponte de
convergência de atuação para o rela-
cionamento Portugal – África.
Neste âmbito e com o objetivo de
maio 2021 NOTÍCIAS 57

A Landing.Jobs, em colaboração com Barreto, diretor geral de distribuição


a AICEP e com o apoio da Startup Por- da Ageas Seguros, Henrique Figueire-
tugal, da Invest Lisboa, InvestPorto e do, do Compete 2020, José Gomes,
da revista Pessoas, lançou a segunda CEO da Ageas Seguros, Pedro Matias,
edição do livro “Hiring in Portugal”, presidente do ISQ, Pedro Oliveira, da
um go-to guide para empresas estran- Trust in News, Rui Leão Martinho, bas-
geiras que queiram contratar em Por- tonário da Ordem dos Economistas
tugal ou estabelecer-se no país. e Tiago Freire, diretor da EXAME.
A ideia deste e-book é facilitar este
processo de “chegada” ao merca-
do, detalhando os processos ins-
tituídos e simplificando-os. Surge
com o objetivo de mostrar ao exte-
B2B exportadoras aumentar a sua re-
rior que Portugal é um destino de
putação e construir e consolidar as
eleição, não só para turismo, mas
suas relações com todos os agentes da
também para contratar talento
cadeia de produção, desde o fornece-
e fazer negócio.
dor de matéria-prima de base até ao
O evento de lançamento
último cliente (o comprador), passando
online, assinalado no dia
por todas as outras partes interessadas,
6 de abril, contou com a
como colaboradores, parceiros, entida-
participação de Luís Cas-
des reguladoras ou governo”.
tro Henriques, presidente
O InterComm integra, de uma forma
da AICEP, João Borga, di-
complementar, a experiência em-
retor da Startup Portugal,
presarial nacional e internacional, o
e Diogo Oliveira e Pedro Mou-
conhecimento académico e técnico,
ra, CEO e CMO da Landing
a informação estatística e o contacto
Jobs, respetivamente, e também
com o mercado em estudo, através
com nomes internacionais de re-
do inquérito realizado a mais de 120
levo como John Graham-Cumming,
empresas nacionais B2B exportado-
CTO da Cloudflare, Mark Jacobi,
ras de diferentes setores, dimensões
managing director da Volkswagen
e maturidades.
Digital Solutions.
Para mais informações e conclusões
do estudo aceda aqui.
“A inovação nas empresas é um fa-
AICEP jurada tor crítico para o seu crescimento,
AICEP colabora no ‘Prémio Inovação nomeadamente para a sua internacio-
nalização, e premiar estas boas práti-
na segunda edição em Prevenção’
cas empresariais é, sem dúvida, uma
do e-book “Hiring Na sua primeira edição, a iniciativa da motivação extra.”, afirmou Luís Cas-
in Portugal” EXAME e da AGEAS para premiar as tro Henriques durante a cerimónia de
melhores empresas na inovação em entrega do prémio.
prevenção teve cerca de 100 empre- Entre as cerca de 100 candidaturas
sas participantes. ao prémio, as empresas vencedoras
Os prémios foram atribuídos após um foram: a Valérius – Têxteis, SA na ca-
processo que durou quase um ano tegoria Ambiente, a Gofoam na cate-
e que teve como membros do júri goria Património, e a Balanças Mar-
Luís Castro Henriques, presiden- ques na categoria Pessoas. Para além
te da AICEP, António Saraiva, dos galardões entregues, a empresa IT
presidente da CIP, o jornalista People recebeu uma Menção Honrosa
Camilo Lourenço, Cristina Siza na categoria Pessoas.
Vieira, presidente executiva Reveja aqui a cerimónia da entrega do
da AHP – Associação da Ho- Prémio Inovação em Prevenção, reali-
telaria de Portugal, Gustavo zada no dia 13 de abril.
58 TABELA CLASSIFICATIVA DE PAÍSES Portugalglobal nº142

COSEC
Tabela classificativa de países
Para efeitos de Seguro de Crédito à exportação
A Portugalglobal e a COSEC apresentam-lhe uma Tabela Clas- pondendo o grupo 1 à menor probabilidade de incumprimento
sificativa de Países com a graduação dos mercados em função e o grupo 7 à maior.
do seu risco de crédito, ou seja, consoante a probabilidade de As categorias de risco assim definidas são a base da avaliação do
cumprimento das suas obrigações externas, a curto, a médio e risco país, da definição das condições de cobertura e das taxas de
a longo prazos. Existem sete grupos de risco (de 1 a 7), corres- prémio aplicáveis.

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Grupo 6 Grupo 7

Singapura * Arábia Saudita Barbados África do Sul • Albânia Angola Afeganistão Líbia
Taiwan Brunei Botswana Bahamas Argélia Arménia Ant. e Barbuda Madagáscar
China • Bulgária Colômbia Aruba Bahrein Argentina Malawi
EAUa Dep/ter Austr.b Costa Rica Azerbaijão Benim Belize Maldivas
Gibraltar Dep/ter Din.c Croácia Bangladesh Bielorussia Bósnia e Herze- Mali
Koweit Dep/ter Esp.d Dominicana. Rep. Barein Butão govina Mauritânia
Macau Dep/ter EUAe Guatemala Bolívia Cabo Verde Burkina Faso Moçambique
Malásia Dep/ter Fra.f Panamá Brasil • Camarões Burundi Moldávia
Dep/ter N. Z.g Rússia Cazaquistão Cambodja Cent. Af. Rep. Mongólia
Dep/ter RUh Sérvia Curaçau Comores Chade Montenegro
Filipinas Vietname Egito C. do Marfim Cisjordânia / Gaza Nicarágua
Hong-Kong El Salvador Dominica Congo Níger
Ilhas Marshall Fiji Eswatini Congo. Rep. Dem. Paquistão
Índia Honduras Gabão Coreia do Norte Quirguistão
Indonésia Jordânia Gana Cuba S. Crist. e Nevis
Marrocos • Macedónia Geórgia Djibouti S. Tomé e Príncipe
Maurícias Paraguai Guiana Equador Salomão
México • S. Vic. e Gren. Jamaica Eritreia Serra Leoa
Micronésia Santa Lúcia Kiribati Etiópia Síria
Palau Senegal Kosovo Gâmbia Somália
Peru Turquia Lesoto Grenada Sudão
Qatar Uzbequistão Myanmar Guiné Equatorial Sudão do Sul
Roménia Namíbia Guiné. Rep. da Suriname
Tailândia Nauru Guiné-Bissau Tadjiquistão
Trind. e Tobago Nepal Haiti Tonga
Uruguai Nigéria Irão Turquemenistão
Omã Iraque Venezuela
Papua–Nova Guiné Iemen Zâmbia
Quénia Laos Zimbabué
Ruanda
Líbano
Samoa Oc.
Libéria
Seicheles
Sri Lanka
Suazilândia
Tanzânia
Timor-Leste
Togo
Tunísia •
Turquemenistão
Tuvalu
Ucrânia
Uganda
Vanuatu

Fonte: COSEC - Companhia de Seguro de Créditos. S.A.


* País pertencente ao grupo 0 da classificação risco-país da OCDE. Não é aplicável o sistema de prémios mínimos.
• Mercado de diversificação de oportunidades

NOTAS
a) Abu Dhabi, Dubai, Fujairah, Ras Al Khaimah, Sharjah, Um Al Quaiwain e Ajma f) Guiana Francesa, Guadalupe, Martinica, Reunião, S. Pedro e Miquelon, Polinésia
b) Ilhas Norfolk Francesa, Mayotte, Nova Caledónia, Wallis e Futuna
c) Ilhas Faroe e Gronelândia g) Ilhas Cook e Tokelau, Ilhas Nive
d) Ceuta e Melilha h) A nguilla, Bermudas, Ilhas Virgens, Cayman, Falkland, Pitcairn, Monserrat, Sta. Hel-
e) Samoa, Guam, Marianas, Ilhas Virgens e Porto Rico ena, Ascensão, Tristão da Cunha, Turks e Caicos
maio 2021 BOOKMARKS 59

A VANTAGEM DO CÉREBRO FELIZ

Toda a gente sabe que, se traba- dade mais positiva em todos os


lharmos muito, teremos muito aspetos da sua vida.
sucesso. E, tendo muito sucesso, Shawn Achor é um dos mais im-
seremos felizes. portantes especialistas mundiais
Contudo, descobertas recentes em felicidade, sucesso e poten-
no campo da psicologia positiva cial. A sua investigação foi capa
vieram mostrar que esta fórmu- da Harvard Business Review e a
la, na verdade, está ao contrário: TED Talk que protagonizou é uma
a felicidade é o que impulsiona das mais populares de sempre,
o sucesso e não o inverso. com 15 milhões de visualizações.
Partindo do trabalho que reali-
Depois de doze anos em Harvard,
zou com milhares de executivos
o autor apresentou o resultado da
de todo o mundo incluídos no
sua investigação a quase metade
ranking Fortune 500 e baseando-
das personalidades da Fortune
-se num dos maiores estudos rea-
Autor: Shawn Achor 100 e deu palestras sobre o tema
lizados sobre a felicidade e o po-
Editora: Editorial Presença em locais tão distintos como o
tencial, Shawn Achor, professor
Ano: 2021
de Harvard, explica de que forma Pentágono, escolas improvisa-
Nº de páginas: 280 pp. das em África e a Casa Branca.
nos conseguimos tornar mais po-
Preço: 16,90€ A sua investigação foi também
sitivos para obtermos uma van-
tagem competitiva num mundo publicada em reputadas revistas
onde imperam, cada vez mais, de psicologia e citada em artigos
a carga de trabalho excessiva, do New York Times, Wall Street
o stress e a negatividade. Journal, Forbes e Fortune.
Esta obra vai maximizar o seu po- Atualmente, faz parte do World
tencial no trabalho, mas também Happiness Council e continua
ajudá-lo a manter uma mentali- a sua carreira de investigador.

500 DICAS DE MARKETING NAS REDES


SOCIAIS

O livro “500 Dicas de Marketing excelência e aumentar as vendas.


nas Redes Sociais” é um guia para Esta obra, que é utilizada por
o sucesso empresarial nas redes milhares de gestores de empre-
sociais, que inclui centenas de sas para rentabilizar ao máximo
excelentes estratégias de market- aquilo que as redes sociais têm
ing para usar no Facebook, Insta- para lhe oferecer, proporciona-lhe
gram, Pinterest, YouTube, Snap- todas as orientações necessárias
chat, TikTok, entre outras redes. para alcançar o sucesso.
A chave para o sucesso nas redes Desta forma, o livro tem ajudado
sociais consiste em implementar milhares de empresas, através de
um plano de marketing consis- orientações simples e práticas,
tente que permita dar a conhecer a otimizarem as potencialidades
a sua marca, fidelizar clientes e da implementação do marketing
Autor: Andrew Macarthy atingir os objetivos, tais como au- nas redes sociais.
Editora: Editorial Presença mentar o tráfego no seu website, Andrew Macarthy é consultor
Ano: 2021
assegurar ao cliente um serviço de e especialista em redes sociais.
Nº de páginas: 320 pp.
Preço: 15,90€
Perto de si para o levar mais longe
Sabemos como é importante acompanhar cada passo
do crescimento da sua empresa nos Mercados Externos.

Por isso, estamos próximos de si através de uma equipa


de Gestores de Cliente em Portugal
e de uma Rede Externa a nível mundial.

Cada vez que a sua empresa vai mais longe


Portugal fica mais global.

25 13
3 Ásia
América do Norte Europa

4
Médio e Próximo Oriente

14
África
10
América Central e do Sul

1
Oceânia

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