Você está na página 1de 15

ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

O NOME DO SUJEITO: O SUJEITO NA SOCIEDADE


BURGUESA É O CAPITAL, NO COMUNISMO SERÁ A
SOCIEDADE AUTOCONSCIENTE

Marildo Menegat
Professor Adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ

O SUJEITO EM O CAPITAL idealismo como um princípio insuperável.


Em outras palavras, a dialética não seria
A dialética, na sua versão moderna, para Marx um instrumento separado do
pretendeu desde sua origem ser uma conhecimento e dado independentemente
superação das formas de pensamento do objeto, mas a própria forma como o
metafísico. A tradicional dicotomia posta pensamento consegue apreender o real e,
pelas condições de possibilidade do por seu turno, como a complexidade do
conhecimento e da ação, entendidas a real se apresenta à compreensão. Por estas
partir da relação entre sujeito x objeto, já razões, perguntar sobre o que ele escreveu
em Hegel, quando se tratava de pensar o e pensou sobre esta importante questão
espírito que conforma as realizações de um para a dialética, que é o problema do
povo ou da humanidade enquanto um sujeito na sociedade burguesa, não é algo
todo, se resolviam por um nós, e não mais sem propósito.
pelo princípio epistemológico liberal do eu Um caminho para desenvolvermos
abstrato. Marx não retrocede deste ponto, este tema, dentre outros, poderia ser
ao mesmo tempo em que ele nunca tomado a partir do capítulo IV de O capital,
desenvolveu ao longo de sua vasta obra um onde ele fala de um “sujeito automático”,
“capítulo metodológico”, ao modo da que é o “valor que se valoriza”. Este parece
filosofia burguesa. Tudo indica que para ele ser um ponto de partida promissor, pois ele
o saber se estabelecia numa relação nos indica a existência de um sujeito que,
dialética com o objeto, em que forma e embora positivado, mantém invisível sua
conteúdo não podem ser determinados presença, sendo percebido apenas por seus
aprioristicamente, ao menos que rastros. Diz Marx:
abandonemos a perspectiva de um pensar
terreno, isto é, materialista, e aceitemos o

Revista Pegada – vol. 9 n.2 1 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

“Ele [o valor] passa continuamente de uma ocidental, como por exemplo, as do jovem
forma para outra [D-M-D], sem perder-se
Lukács em História e consciência de classe. Elas
nesse movimento, e assim se transforma num
sujeito automático. [...] o valor se torna pressupõem que a lei do valor é a
aqui o sujeito de um processo em que ele [...]
intencionalidade determinante na
modifica a sua própria grandeza [...]”.
(Marx, O capital, op. cit. p. 130). organização e estruturação da tessitura do
real. Tal lei, cuja imposição e forma
O sujeito referido nesta passagem não
constitutiva do ordenamento da vida social
é um mero uso de uma figura de linguagem
é totalmente abstrata – isto é, vem de fora,
por parte de Marx, mas a clássica noção de
é externa, aparentando ser “sobre-natural”
que sujeito é um substrato que sustenta
etc. -, opera como um legítimo a priori.
algo. Este sentido se faz presente na
Esta afirmação pode soar contraditória
afirmação de que ele é o “sujeito de um
com uma abordagem materialista, mas
processo”. Portanto, este ponto de partida
deixa de ser quando lembramos que Marx,
parece ser apropriado, uma vez que o que
reiteradas vezes, ao explicar o fetichismo
Marx explica nesta passagem é justamente a
da mercadoria, observa que o valor é uma
constituição da forma social moderna
metafísica que se realiza efetivamente no
como produtora de mercadorias. Como é
cotidiano. A sociedade burguesa tem esta
sabido, no duplo caráter da mercadoria se
característica – ademais, presente também
faz presente tanto a necessidade humana,
nas formações sociais anteriores - de ser
seja ela “natural ou espiritual”, como a
governada por forças sociais alheias a livre
intencionalidade [forma] social que governa
escolha e ao conhecimento comum de seus
a produção e realização destas
membros. A subjetividade reificada, ou
necessidades. Deste modo, parece estar
seja, a coisificação das relações humanas,
fortemente sustentada na realidade a
como nos mostrou Lukács, na referida
reflexão de que o valor é o sujeito do
obra, é o resultado mais contundente desta
processo social neste modo de produção1.
situação. Ela indica que os seres humanos
Derivaram deste marco teórico
são apenas o suporte - a coisa (res) - por
análises importantes no marxismo
meio da qual as relações sociais se realizam,
1 O que se discute aqui é tão somente a dimensão e que o verdadeiro sujeito destas relações é
do sujeito no processo social, que tem implicações
nas diferentes ciências humanas e sociais, mas o valor que move o mundo das
não anula outras dimensões do sujeito estudadas mercadorias.
nestas mesmas disciplinas ou mesmo na
psicanálise. Em síntese, a preocupação é o estudo
da lógica da vida social na sua totalidade - em que
o entendimento dos indivíduos que nela tomam
lugar permanece alheio a sua dinâmica -, e não em
suas partes que, como sabemos, não são isoladas,
mas guardam suas especificidades.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 2 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

AS MASSAS imperativa desta lógica social que lhes foi


imposta com brutal violência. Nas palavras
A premissa de que o sujeito na do próprio Marx, para evitarmos mal-
sociedade burguesa é o capital (“valor que entendidos:
se valoriza”) pode parecer estranha – agora
numa outra dimensão -, a um pensamento “Não basta que as condições de
trabalho apareçam num pólo como
que tem em seu horizonte justamente a
capital e no outro pólo, pessoas que
revolução como uma perspectiva nada têm para vender a não ser sua
força de trabalho. Não basta também
necessária. As revoluções na sociedade
forçarem-nas a se venderem
burguesa, como já observara Engels2, ou voluntariamente. Na evolução da
produção capitalista, desenvolve-se
serão feitas pela ação consciente das
uma classe de trabalhadores que, por
massas ou não acontecerão. Portanto, o educação, tradição, costume,
reconhece as exigências daquele modo
problema do sujeito que virá a realizar esta
de produção como leis naturais
revolução é uma questão que se coloca evidentes” (O capital; t. I, v. 2, p. 277).
numa construção a ser efetivada a partir da
Qualquer discordância, resistência e
interpretação desta forma social e da sua
negação, uma vez instaurada esta lógica no
negação na experiência histórica. Do que se
processo histórico (a acumulação primitiva
trata, em última instância, é da criação das
de capital é o marco originário), surge a
condições de autoconsciência e do auto-
posteriori. Ela vai depender da imanência
governo da sociedade.
da história e da capacidade desta “força de
Coerente com este raciocínio, ainda
massas” em compreender esta estrutura
em O capital, no capítulo XI; Marx fala da
social como histórica e transitória, voltando
criação, por este sujeito automático, de
sua ação sobre ela com a intenção de
“uma força produtiva que tem de ser, em si e para
modificá-la.
si, uma força de massas” (O capital; t.I v.1; p.
Quando Marx pensou a formação do
260). O ponto de partida, então, é uma
“trabalhador coletivo”, este, enquanto
subjetividade que se coloca às costas dos
possibilidade e potência se apresentava no
indivíduos e os submete à sua necessidade.
próprio processo histórico. Não se tratava
A consciência dessas massas, uma vez que
de uma forma dedutiva de pensamento3,
estão postas pelo valor que delas se utiliza,
ou seja, as coisifica, para seus fins de auto-
3 Seja esta dedução de cunho lógico ou
valoração, é a consciência da necessidade ontológico. Fica posto que a negação de um
mecanismo automático pode ser simplesmente os
limites lógicos (e físicos) do próprio mecanismo.
Esta hipótese é real, faz parte do campo de
2 Cf. Engels, F. Introdução a Luta de Classes na possibilidades que se abre com este tipo sistêmico
França de Marx. de sociedade que é o capitalismo e está em curso.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 3 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

mas de uma constatação. (Aqui se abre um capitalista como uma luta ao redor dos
limites da jornada de trabalho – uma
bom espaço para a polêmica acerca da
luta entre o capitalista coletivo, e o
dialética positiva. O capitalismo poderia se trabalhador coletivo, ou a classe
trabalhadora” (Marx, op. cit. p. 190).
auto-destruir sem que fosse substituído por
outra forma social superior? A teorização
da barbárie, quando este termo não é usado
FENOMENOLOGIA E HISTÓRIA
como mero adjetivo, concebe este
DA FORMAÇÃO DE UM SUJEITO
pressuposto como uma possibilidade em
DE NEGAÇÃO
curso no processo histórico). Tudo indica
que a Marx as enormes potencialidades da
Seria um empobrecimento
sociedade burguesa seriam aproveitadas
estruturalista da dialética em Marx tomar o
positivamente. Os sinais neste sentido eram
sujeito que viria a negar o capital como
razoavelmente promissores. É nesta
algo dedutível da lógica desta forma social
perspectiva que no capítulo VIII de O
e, por isso, dado aprioristicamente. Ele
capital ele se refere a uma importante
deve se formar no processo, e como tudo
transformação qualitativa da força de
que está em processo guarda sempre como
massas (trabalhador coletivo) que ocorreu
uma tensão interna a possibilidade do seu
na segunda metade do século XIX, que de
inverso. Na reconstrução da história que
uma força em si e para o capital, começava
vai da experiência de 1848 até às vésperas
a dar seguros sinais da sua formação numa
da grande crise de 1914-1945, a formação
força para si mesma:
deste sujeito pode ser constatada na
plenitude desta sua tensão, seja nos países
“[...] abstraindo limites extremamente
centrais, assim como em diversos países
elásticos, da natureza do próprio
intercâmbio de mercadorias não periféricos.
resulta nenhum limite a jornada de
Talvez tenha sido Karl Korsch, no seu
trabalho, portanto, nenhuma limitação
ao mais trabalho. [Quando o vendedor Marxismo e filosofia4, o primeiro a teorizar o
da mercadoria força de trabalho impõe
significado da passagem das formas
limites ao comprador] Ocorre aqui,
portanto, uma antinomia, direito espontâneas de rebelião, que foram
contra direito, ambos apoiados na lei
comuns durante o largo período da
de intercâmbio de mercadorias. Entre
direitos iguais decide a força. E assim a acumulação primitiva de capital, para as
regulamentação da jornada de trabalho
novas formas de luta social, iniciadas com
apresenta-se na história da produção
o novo regime da acumulação nascido da
Sobre este tema ver Menegat, M Depois do fim do
mundo: a crise da modernidade e a barbárie. Rio
de Janeiro: Relume Dumará, 2003; e O olho da 4 Cf. KORSCH, K. Marxismo e filosofia. Rio de
barbárie. São Paulo: Expressão Popular, 2006. Janeiro: EDUFRJ, 2008.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 4 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

Revolução Industrial e centrado na possibilidade de formação de um sujeito


extração da mais valia relativa. Segundo ele, fundado no trabalhador coletivo cujo
a práxis neste período, resultante da desejo, intencionalidade e vontade fossem
transformação do capitalismo, teria que opostas ao “sujeito automático”. A
passar das rebeliões dos métodos plebeus, sociedade burguesa, como um Titanic, se
marcadas por formas de pensamento moveria, então, a deriva, sem oposição, a
utópico e pela organização em clubes e não ser as da própria natureza (externa,
seitas, para novas formas, como a luta de como um iceberg) e os limites lógicos de
massas organizada em sindicatos e sua estrutura (esta interna, como uma auto-
partidos, em que o tipo de pensamento contradição).
exigido tinha justamente na obra O capital Outro caso de aristocratização, que
sua fundamentação. Estas novas formas de confirma esta tensão interna do processo
luta, caso não passassem à consciência histórico, foi o ocaso da Social-democracia
revolucionária – que, entre outras coisas, alemã. O debate antes de 1914 no Partido
implicava na compreensão desta obra de Social-democrata se fazia em torno da
Marx como uma teoria para a ação -, isto é, espera e da preparação de uma situação
caso não se realizassem em sua revolucionária. Mesmo que as formulações
potencialidade, poderiam dar lugar à em debate guardassem inúmeras
integração do proletariado à ordem. Um ambigüidades, não restam dúvidas que este
dos sintomas desta integração – o qual debate se realizava num nível muito mais
também não é dedutível a partir de uma elevado do que ocorreu após o fim da
lógica estrutural, mas decorre de um Primeira Guerra, em 1918. A direção social
processo histórico - já era visível ao tempo democrata na Revolução derrotada de
de Marx, que percebeu na aristocratização 1918-235 era dominada por quadros
do proletariado inglês uma tendência de oriundos do sindicalismo. Ebert e
inversão das expectativas de formação do Scheidemann, seus dirigentes mais
trabalhador coletivo. Em outros termos, a expressivos do período, nunca foram, ao
relativa melhora do bem estar dentro da menos em sua origem social, protótipos do
sociedade burguesa levava o proletariado a pequeno-burguês. Que eles tenham
aprofundar sua aceitação fatalista das leis dirigido a social-democracia – e que a
gerais do sujeito automático, tomando-as maioria da classe operária alemã tenha
como naturais e eternas. Desta maneira,
5 Sobre este tema ver dois ótimos livros de
caso este sintoma se confirmasse na LOUREIRO, I. A revolução alemã de 1918-23.
São Paulo: EDUNESP; e Rosa Luxemburg: os
estruturação do ser social, não haveria a dilemas da ação revolucionária. São Paulo:
EDUNESP...

Revista Pegada – vol. 9 n.2 5 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

concordado com este movimento - à manifestaram com força após a grande


aceitação fatalista das leis naturais do derrota na primeira grande crise deste
sujeito automático, se explica apenas por modo de produção que se abriu em 1914 e
esta abertura das possibilidades em curso se fechou para uma trégua a partir de
na história. Tal abertura e o seu resultado 19457.
foi, ao mesmo tempo, uma oportunidade O quadro social e político que se
perdida e a manifestação da força de desenhou após a Segunda Guerra na
recuperação e dominação que o capital Europa e nos EUA não confirmaria esta
ainda possuía. hipótese? As exceções neste período dos
A hipótese da integração do países periféricos, na sua dinâmica desigual
proletariado à sociedade burguesa, e combinada, não modificam este
aceitando os limites impostos à exploração diagnóstico. Uma vez formadas estas
como um horizonte histórico definitivo, sociedades industriais na periferia, com
inclusive tornando-se instrumento da sua toques de brutalidade que rivalizam com a
própria dominação6, não pode, portanto, experiência dos países centrais, este
ser descartada. Ela se sustenta na seguinte proletariado também parece ter perdido a
dialética: sendo o capital o sujeito força de afirmar sua potencialidade
inconsciente da sociedade burguesa, a negadora do capital.
negação desta forma social exigiria a
formação consciente desta sociedade,
processo este que não é dedutível nem da O CAPITAL COMO UMA
sua lógica estrutural, nem de uma CONTRADIÇÃO EM PROCESSO
fundamentação ontológica. Ele deve ser
formado na imanência do processo Retomemos o tema da autonegação do
histórico. A história do século XX foi a capital. Esta questão se impõe nesta
manifestação desta tensão interna que, ao reflexão porque, ao examinarmos as
que tudo indica, acabou resolvida a favor possibilidades históricas da formação de
da integração. É verdade que, como uma subjetividade coletiva negadora do
assinalou Marx, esta integração tem razões
estruturais, mas elas somente se 7 Sobre este tema ver MENEGAT, M. “Sem
lenço nem aceno de adeus: formação de massas
em tempo de barbárie; como a esquerda social
6 Sobre este tema ver BENJAMIN, W. “Tese pode enfrentar esta questão?”, in: Praia
sobre história”, in: Obras Escolhidas. São Paulo: Vermelha: estudos de política e teoria social/
Brasiliense... Para uma interpretação muito Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa
interessante testa passagem em Benjamin ver de Pós-Graduação em Serviço Social – Vol. 9, nº
LÖWY, M. Aviso de incêndio. São Paulo: 18 (2008) – Rio de Janeiro: UFRJ. Escola de
Boitempo, 2006. Serviço Social; pp. 146-177.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 6 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

“valor que se valoriza”, observamos que: 1) A Revolução tecno-científica foi uma


ela pode vir a se constituir, como também; imensa transformação do processo de
2) ela pode ser apenas uma potencialidade produção, iniciada após a Segunda Guerra,
que, uma vez absorvida, integra-se à lógica e que ficou madura somente nos anos
e dinâmica dominante. Nos rascunhos de 1970. Ela modificou drasticamente a
Marx, os Grundrisse, há um longo relação entre trabalho morto e trabalho
raciocínio que aponta para uma hipótese vivo, com a redução deste último a um
em que o capital começa a produzir auto- patamar que passa a afetar diretamente a
contradições insolúveis dentro dos seus produção de valor, que é a razão de ser do
marcos estruturais, como é o caso, sujeito automático. Como não há criação
admitido por ele, do fim do trabalho: de valor sem trabalho vivo, produtivo, a
substituição em larga escala da força de trabalho
“O desenvolvimento da grande humana por novos aparatos técnicos, baseados na
indústria – com a base sobre a qual ela
micro-eletrônica, etc., num primeiro
se funda, a apropriação de tempo de
trabalho alheio – deixa de construir ou momento pôde até ter beneficiado alguns
criar a riqueza, pois quando o trabalho
setores oligopolistas na disputa por
imediato cessa com a grande indústria,
deixa de ser, enquanto tal, a base da mercados, mas num segundo momento,
produção. Por um lado, porque se
este enxugamento de trabalho afetou
transforma numa atividade mais
vigilante e reguladora; mas, também, irreversivelmente a acumulação de valor do
porque o produto deixa de ser produto
capital total.
do trabalho imediato, isolado, para ser
a combinação da atividade social que Criou-se com isso uma contradição
se apresenta como produtora” (Marx,
incontornável para a acumulação de capital.
Grundrisse; v.2, p. 233).
Se a sua lógica se sustentava na
Foi sugerido acima, rapidamente, que a transformação de dinheiro em produção de
formação da classe para si não é uma mercadorias, para, a partir desta produção,
dedução lógica, tampouco ontológica; foi criar mais dinheiro; e, se a exploração do
sugerido também que a apresentação desta trabalho produtivo imediato era o segredo
possibilidade na história foi contornada e desta transformação de dinheiro em mais
desviada para o interior do próprio sistema. dinheiro (como explicou Marx: D-M-D’), a
Cabe ressaltar agora o passo em falso dado eliminação desta mediação em larga escala
pela ordem burguesa com a Terceira faz o motor desta máquina fundir.
Revolução Tecno-científica e o destino Literalmente é isso o que tem ocorrido
reservado ao trabalho, como uma desde os anos 1970, e pode ser constatado
manifestação de seus limites lógicos. por diversos fenômenos. Dito de outra

Revista Pegada – vol. 9 n.2 7 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

forma, na aparência do real se apresentam se sustenta a partir de seu imperativo (a lei


novos fenômenos que só podem ser abstrata do valor) e não tem em andamento
explicados satisfatoriamente se tomarmos, um processo de sua negação consciente, vai
como um elemento a ser levado em se transformando cada vez mais numa
consideração, o limite da lei do valor para realidade monstruosa. Enquanto a máquina
continuar organizando esta tessitura da funcionava, o seu horror ficou escondido.
realidade. O desemprego estrutural é um desses Agora que tudo rui, descobrimos a sua
fenômenos. Não se trata apenas do clássico verdade que, como dizia Benjamin, é esta
exército industrial de reserva, mas de um catástrofe permanente, e sua autonegação
exército estrutural e eterno, ao menos (quer dizer, sua negação inconsciente) é
dentro da lógica da realidade criada pelo este lento imergir na barbárie que, diga-se
sujeito automático, e que resulta, como vimos, de passagem, não passa de uma forma
das transformações da terceira revolução tecno- fetichista de vida social. Ela apenas torna
científica. mais visível o outro disso que até hoje
Outro desses fenômenos é a ficção conhecemos por civilização. Na fórmula de
que se produziu nas bolhas especulativas Marx: a barbárie que vai se realizando é a
desde os anos 1980, em que se pretendeu manifestação crua da pré-história da
prolongar as manifestações mais deletérias humanidade ainda mais uma vez não
deste limite lógico fazendo dinheiro superada.
produzir diretamente mais dinheiro. Na Se o proletariado, como trabalhador
fórmula de Marx: D-D’. Este estratagema coletivo não realizou a expectativa de criar
foi hábil, pois criou de fato a ilusão não as condições de negação do capital, dando
apenas de que o capitalismo ia bem, como início a uma forma social auto consciente,
a de que nunca estivera tão bem. Desse de onde poderia, nesta altura da crise
modo se inventou um volume de papéis estrutural do capitalismo, surgir
que nada valem apesar de seus portadores alternativas, e que tipo de alternativas
contarem com esta riqueza para seriam estas?
sustentarem os “galões de seus casacos”. A
tendência de queda da taxa de lucro neste
período fez milagres. Os milagres, porém, FORMAÇÃO DE MASSAS EM
não podem criar novas realidades. Eles são TEMPOS DE BARBÁRIE
apenas um momento de exceção, neste
caso, epifanias de um sagrado que cansou O território não é uma dimensão
de ser ordinário. Uma realidade que já não neutra do processo social com uma

Revista Pegada – vol. 9 n.2 8 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

objetividade que transcende a criação de valor ou mesmo de realização -,


intencionalidade das suas formas. Na mas que representavam com certa
tensão interna do processo social, que, fidelidade à flexibilização do assalariamento
como vimos, marcou boa parte da história que era requerida pelas modalidades
da sociedade burguesa, as rebeliões e ficcionais de riqueza financeira que
resistências contra o sujeito automático caracterizaram este período. Agora que o
tiveram raízes não apenas no local de capitalismo aprofunda seus espasmos de
produção, como também no espaço crise aguda, e estes artifícios se
geográfico que, para além do trabalho, desmancham no ar, se torna mais evidente,
guarda as formas comuns de vida social e pelo lugar em que estão estacionadas, quem
suas inúmeras distinções. Na propriedade são as pessoas que passaram efetivamente a
privada da terra, no esquadrinhamento das sobrar nesta forma social.
cidades, nos imensos espaços para a Insistir - com este conceito elástico de
circulação de mercadorias e sua exposição trabalho - que estas massas que sobram são
para a venda, assim como no espaço trabalhadores, é apenas a redundante
privilegiado para a realização de certas constatação de que nessa sociedade, a
necessidades em detrimento de outras, burguesa, elas apenas podem sobreviver
mesmo que básicas e concernentes a uma vendendo sua força de trabalho. Tal
massa maior de seres humanos, enfim, em raciocínio, ao contrário do que pretendem
todos estes territórios se faz sentir a seus portadores, nada tem de crítico, pois
objetivação da intencionalidade do valor. pressupõe que a solução do problema seja
Na medida em que o trabalho, com a a justa empregabilidade de todos – ilusão,
terceira revolução tecno-científica, foi se aliás, já parcialmente realizada pela
metamorfoseando, perdendo espaço social sociedade burguesa -, sem se dar conta de
e ficando cada vez menos presente e que não é razoável para quem pretende
visível, inclusive no espaço geográfico8, superar o capitalismo reduzir o sentido da
criou-se, como contrapartida vida social a um conceito de
compensatória, um conceito alargado de vendabilidade10. É provável que a densa
trabalho. Este conceito acabou
incorporando setores e funções9 que nada 10 Dentre as inúmeras ilusões em que opera este
possuem de produtivo – no sentido de argumento, se poderia indicar apenas uma
incongruência que é cara a tradição marxista. Um
dos fenômenos que sustentam a alienação,
8 Como por exemplo, com a obsolescência e segundo Marx, está exatamente na imposição da
conseqüente desaparecimento das grandes vendabilidade (ou mercantilização) de tudo. O
fábricas, etc. direito ao trabalho, tanto por sua forma jurídica,
9 O setor de serviços, com suas inúmeras como por seu conteúdo social, guarda apenas uma
modalidades precarizadas é um desses casos. aparência crítica, não passando na verdade de um

Revista Pegada – vol. 9 n.2 9 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

ligação entre espaço urbano e a forma decorrentes da violência da ditadura militar


mercadoria auxilie melhor na compreensão recém superada, se buscava reatar o fio da
deste fenômeno. A crise da sociedade meada da conjuntura imediatamente
produtora de mercadorias se revela anterior a 1964. Neste contexto o MST foi,
inteiramente pela impossibilidade desta num primeiro momento, uma tentativa de
forma continuar (ou vir-a-ser) a condição continuidade com o movimento camponês
de existência para milhões de indivíduos. anterior ao golpe militar. Criado, porém,
Esta impossibilidade de vendabilidade para num novo quadro histórico, no qual o país
boa parte deles já era, inclusive, a condição se tornara predominantemente urbano e
de suas estratégias de sobrevivência e de industrial – desde 1970 -, em que a
seus locais de moradia. agricultura se modernizara de modo
A dimensão do território, ao que impressionante, ele não podia mais ser o
parece, se tornou neste contexto histórico mesmo de antes. Durante os anos da
uma dimensão importante na construção ditadura militar mais de 27 milhões de
de alternativas para a negação do sujeito brasileiros passaram do campo para a
automático. Desde os anos 1990 as formas cidade, tendo se concentrado em poucas
de rebelião e resistência contra o capital, regiões metropolitanas e formado
principalmente nos países periféricos, gigantescos bolsões de pobreza. Assim,
foram mais comuns entre estas massas que num segundo momento, na medida em que
sobram do que junto ao operariado clássico, se aprofundava a inserção do Brasil no
ou mesmo junto a alguns setores que processo de globalização, nos anos 1990,
acompanham a elástica ampliação do foi ficando nítido que as massas que
conceito de trabalho. Estas massas confluíam para o MST eram uma fronteira
organizam suas ações desde o território, já social que passa a formar a sociedade.
que sua funcionalidade social, a de serem O processo de globalização, que é uma
uma reserva de força de trabalho, se mostra unificação a nível mundial da própria
frustrada e desastrosa. produção, tem como base material de
Um exemplo ilustrativo desse sustentação, justamente, a terceira
processo em curso é o Movimento dos revolução tecno-científica. Com ela se
trabalhadores rurais Sem Terra (MST). Este criou uma unidade imediata de
movimento é originário de uma conjuntura desenvolvimento das forças produtivas que
em que, ainda em meio aos cacos sociais colocou em confronto aberto parques
industriais nacionais completamente

problema de eficiência dentro desta mesma lógica desiguais. Restou aos países periféricos se
social.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 10 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

adaptarem a esta situação, adotando, programa econômico da última Ditadura e


quando possível, estas novas tecnologias, da globalização dos anos 1990, formaram-
ou, simplesmente fechando as portas de se fundamentalmente a partir das cidades.
ramos inteiros de produção. Ambas as Na Bolívia e no Paraguai a origem hibrida
escolhas criam uma massa de dessas massas tem um peso maior, por seu
desempregados que somente seria pensável turno, do espaço rural. As estruturas
para épocas de grandes crises. Desde 1996 fundiárias desses países com suas histórias
o desemprego no Brasil passou a girar em específicas de modernização é o que
torno de dois dígitos, sendo que nunca determina estes processos.
mais retornou ao nível dos anos 1980 - que O maior desafio que se impõe ao MST
por sinal não eram grande coisa. é interpretar esta metamorfose que o
Portanto, ao imenso exército industrial constitui. Num país predominantemente
de reserva característico de um país urbano, em que este espaço e o rural
capitalista periférico, foi acrescentado, nos começam a borrar suas fronteiras, e nas
anos 1990, novas massas de atuais configurações produtivas em que a
desempregados que são o resultado do alto agricultura e a indústria – num processo
nível de desenvolvimento das forças articulado ao anterior, e que lhe dá
produtivas. Às massas desempregadas sustentação -, também se fundem; agir em
devido ao atraso - um produto “natural” todos os espaços é uma questão de vida ou
do desenvolvimento desigual e combinado morte. Serão movimentos sociais com esta
- somaram-se as massas desempregadas característica que poderão criar as
pelo pleno desenvolvimento do condições de um processo de auto-
capitalismo. É neste sentido que o MST é compreensão desta sociedade que
uma fronteira da sociedade, ele reúne em desmorona, mas se mantém. Se eles não
suas fileiras os náufragos de ontem e os de vierem a se formar, este espaço será vivido
hoje que, partindo de suas condições de de modo inconsciente como um processo
subsistência, se encontravam no mesmo naturalizado – que fica evidente em
território. A forma de organização deste expressões como: “na história do Brasil
movimento de novo tipo se explica sempre foi assim” – de autodestruição, que,
basicamente pela história das formações aliás, já está em curso numa nova e
sociais. Na Argentina, por exemplo, um perversa modalidade de guerra civil.11
país urbano há mais tempo do que o Brasil,
suas massas sobrantes – o movimento
piqueteiro -, que resultaram do desastroso 11 Cf. MENEGAT, M “Guerra civil no Brasil”,
in: O olho da barbárie.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 11 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

13
Como e o que unirá estas massas encontram-se integrados e impotentes.
díspares, com questões distintas, é um Ele pretende também dar conta do modo
desafio teórico e uma equação prática da em que este processo se realiza, que é a
maior importância para o futuro. imensa violência cotidiana. Tal violência
Propomos aqui, a título provisório, o consiste numa cifra da desagregação dos
conceito de formação de massas12 para se laços sociais e da complexificação da
pensar alguns aspectos desse processo. Na construção de processos coletivos para
atual situação histórica em que o uma ação anticapitalista.
capitalismo maduro tornou plenas “as A falência e desmonte de parte do
potências da riqueza” e inutiliza boa parte aparelho de Estado, aquela responsável
das massas que outrora proletarizou à pelas funções sociais, e o enfraquecimento
força, cuja existência agora não requer mais da política parlamentar, onde se faziam as
como força de trabalho, estas massas mediações racionais do confronto entre as
apenas sobreviverão se vierem a se classes, reduzem o horizonte de ações que
constituir em formas de ação política de possam dar alguma satisfação às demandas
novo tipo. Este é o objetivo com o uso dessas massas. Se não existirem estas novas
deste conceito de formação de massas em formas de organização social que aqui nos
tempo de barbárie: o de pretender indicar referimos, que possam dar um outro
as bases sociais para a constituição de um encaminhamento para a saída da crise, esta
possível caminho para um processo de tende a se produzir como o declínio de
transformação no momento em que o toda a sociedade, até um ponto em que a
capitalismo começa a desmoronar e a se própria saída será impossível14.
tornar uma ameaça iminente para a
existência da humanidade e do planeta.
Este conceito abarca o fato de que uma 13 “[...] a lei que mantém a superpopulação
relativa ou exército industrial de reserva sempre
parcela cada vez mais significativa da em equilíbrio com o volume e a energia da
população seguirá existindo na condição de acumulação prende o trabalhador mais
firmemente ao capital do que as correntes de
exército industrial de reserva (isto é, Hefaísto agrilhoaram Prometeu ao rochedo”.
MARX, K. O capital, t. I, vol. 2, p. 210.
excedente, sobra), portanto, à margem do 14 Cf. MARX, K. e ENGELS, F. “Manifesto do
partido comunista”, in: Obras Escolhidas, Tomo
mundo do trabalho; e os coveiros I. Lisboa: Edições Avante, 1982, pp. 106-7: “A
“naturais” da sociedade burguesa história de toda sociedade até hoje é a história de
luta de classes. [...] em suma, opressores e
oprimidos, estiveram em constante antagonismo
entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas
vezes oculta, aberta outras, uma luta que acabou
12 Para uma exposição mais aprofundada deste sempre com uma transformação revolucionária de
tema ver MENEGAT, M “Sem lenço nem aceno toda a sociedade ou com o declínio comum das
de adeus”. classes em luta”.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 12 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

No Brasil, o estado de desagregação territórios, cuja posse e forma de moradia,


está muito adiantado. De 1978 a 2003 na maioria dos casos, foram fruto (e
morreram por causas externas, isto é, por depende) de relações de cooperação e
formas violentas – excluindo acidentes de solidariedade entre os vizinhos.
trânsito - 550 mil pessoas. Em 1979 Na experiência recente da América
morreram 11.194, enquanto no triênio Latina, diversos movimentos sociais vêm
1998-2000 a média anual chegava a 41.138 articulando ações que combinam elementos
mortos. São índices de uma guerra civil. típicos das lutas tradicionais da história do
Deste total de mortes anuais, a imensa movimento da classe trabalhadora, com
maioria são jovens de 15 a 25 anos e 52% novas formas territoriais de organização da
são negros. Dos jovens negros que morrem luta. Movimentos como os piqueteiros na
nessa faixa de idade, 85,1% morrem por Argentina, ao menos alguns de seus setores
causas externas, ou seja, são vítimas da mais lúcidos, como é o caso do movimento
violência15. Tudo indica que está em curso um de trabalhadores desempregados (MTD) de
genocídio que atinge principalmente a Quilmes/Solano17, recriam antigas táticas
juventude, e, em especial, os jovens negros, de luta operária, como os piquetes, para, ao
exatamente aqueles que mais razões teriam fechar estradas e ruas na cidade forçar o
para transformar esta sociedade. Estado a negociar suas reivindicações. Este
É nesse sentido que o território ocupa movimento faz de sua base territorial um
o lugar de centralidade da organização do ponto fixo importante para construir
processo de transformação que em outro alternativas ao desemprego que não sejam
momento coube a fábrica. Num país de viver a ilusão da espera de que uma
segregação social como o Brasil, as massas expansão da economia venha a trazer o
sem trabalho, ou em relações de trabalho emprego que a lógica da acumulação de
precarizadas, ou mesmo parte da classe capital na atualidade levou. Nestas
trabalhadora formalizada, moram na alternativas o MTD de Solano organiza
periferia, em bairros pobres contíguos16. tanto a produção das necessidades sociais
Tais massas estão dispostas em extensos de centenas de famílias quanto à superação
do domínio da produção de mercadorias.

15 Cf. PAIXÃO, M.; CARVANO, L.M. et. all. Ao exigir do Estado os recursos para a
“Contando Vencidos: diferenciais de esperança de sobrevivência dos desempregados, o
vida e de anos de vida perdidos segundo os grupos
de raça/cor e sexo na Brasil e grandes regiões”; in:
Saúde da população negra no Brasil. Brasília:
Funasa, 2005, pp. 49-189. 17 Cf. MARRO, K. De luchas, movimientos y
16 Cf. MENEGAT, E., op. cit. Em especial conquistas sociales: reflexiones a partir de la
“Sobre a formação dos sem propriedade na experiência del MTD de Solano. Rosário:
periferia do ocidente”, pp.175 e ss. Universidad Nacional de Rosário, 2006.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 13 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

movimento dá a uma parte destes recursos incorporação dos partidos de esquerda a


um destino coletivo de reconstrução da ordem vigente.
sociabilidade para além do capital. Para Uma formação de massas com caráter
além de bolsas famílias individuais, anticapitalista em tempos como estes em
constituem um fundo comum de recursos que vivemos certamente não obedecerá às
do coletivo de famílias, que conjuntamente formas de outros períodos históricos. A diferença
define o seu destino, conjugando a não é uma pueril divergência com as
autoprodução das necessidades de formas anteriores, mas a dificuldade que
consumo com novas formas de vida social, estas formas têm de englobar a dinâmica
centradas na solidariedade e cooperação objetiva das sociedades contemporâneas.
conscientes18. Esta experiência isolada, Nesse sentido, o debate do “sujeito
sempre suscetível de ser esmagada, não revolucionário” precisa ser colocado na
difere, no entanto, em essência, de muitas própria dialética do processo, em que as
práticas presentes na história do MST no contribuições de períodos anteriores
Brasil, ou das Ligas das Juntas Vicinales de devem ser recriadas a partir dos desafios
El Alto na Bolívia, ou mesmo dos objetivos atuais.
Zapatistas (FZLN) no México. Na medida em que o capitalismo na
Os limites desses movimentos é a atualidade se caracteriza por ser uma força
dificuldade para a sua generalização, seja promotora da destruição, seja da natureza,
nas grandes cidades, seja no campo e seja da sociabilidade, uma esquerda social19
pequenas cidades, e a elaboração de uma que pretende ser uma supressão desta
concepção de enfrentamento contra o sociedade, deve se pautar pela crítica desta
Estado que leve em consideração estas característica, o que exige articular as lutas
característica de serem ao mesmo tempo com novas formas de sociabilidade,
instrumentos de confronto político e promovendo a vida em comum em
embriões de poder popular. São oposição ao individualismo burguês, sem
experiências que têm em comum a com isso negar esta conquista histórica da
politização dos movimentos sociais ao cultura, que é a individualização. É nessa
mesmo tempo em que realizam uma crítica perspectiva que as polêmicas acerca das
às formas dominantes da política, tanto a formas de organização e ação política,
criminalizadora da oposição, feita pelo
19 Este conceito recebeu uma formulação em M.
Estado, como a de acomodação e HARNECKER, Os desafios da esquerda latino-
americana. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
Ele tem sido utilizado por movimentos sociais na
América Latina para afirmar uma diferenciação
com uma esquerda parlamentar apenas
18 Idem, pp. 139 e ss. preocupada com processos eleitorais.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 14 Dezembro/2008


ECOS DA IX JORNADA DO TRABALHO

presentes na história da esquerda, precisam


ser retomadas com o intuito de melhor
interpretar as condições de possibilidade de
uma ação anticapitalista nesta situação
histórica. Caberia a uma esquerda social
atualizar este debate, acrescentando-lhe as
novidades desse tempo, assim como a sua
necessária capacidade de inovação.

Revista Pegada – vol. 9 n.2 15 Dezembro/2008

Você também pode gostar