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Certo dia fui chamada para resolver o caso da Clarice: uma /enina de 10 anos que

morreu misteriosamente. Na delegacia, o pai da garota me deu algumas informações


sobre ela, e deu ênfase quando disse que, no último aniversário antes da morte dela,
ele a deu uma boneca que pertencia a um membro da família real e que depois que do
ocorrido coisas estranhas começaram a acontecer na casa. Objetos se movimentavam,
portas batiam e luzes oscilavam frequentemente, e que depois que Clarice morreu, ele
podia ouvir passos, risos e música vindo do quarto da garota.

O pai estava convicto de que a boneca que ele dera a Clarice tinha alguma coisa a ver
com a morte da menina, enquanto a mãe achava uma bobagem a boneca ser capaz se
fazer algum mal à sua filha. Por fim, aceitei o caso de prontidão e fui convidada a ir até
a antiga casa da família para investigar.

Chegando à frente da casa, pude ver que o pai da garota não estava louco: as luzes das
janelas da casa piscavam sem parar e risos de criança bem baixinhos vinham de dentro
da casa, mas isso não iria me impedir de entrar e descobrir o que estava acontecendo.

Ao explorar um pouco a sala de estar, não pude deixar de notar o péssimo odor e a
falta de limpeza daquele lugar, mesmo que a família tenha se mudado há apenas uma
semana. Além disso, pisos rangiam por todos os lados, mesmo havendo apenas eu e
minha câmera na casa.

Quando adentrei o primeiro corredor da casa, avistei uma folha de papel jogada no
chão e logo atrás da mesma havia uma silhueta com olhos vermelhos penetrantes e
aterrorizantes, mas o vulto logo se desfez para que eu pegasse a carta e lesse.
Chegando mais perto, peguei-a e nela estava escrito o seguinte: “Eu tenho uma nova
amiga! Ela mora aqui comigo agora. Ela disse que eu não tenho permissão para contar
a ninguém sobre ela ou ela irá embora. Eu a acho muito interessante porque ela não é
humana! Ela parece legal. Ela quer que eu a ajude a se tornar humana logo”. Ao ler
isso me veio um arrepio que percorreu todo o meu corpo. O que a boneca pretendia
fazer?

Antes mesmo que pudesse pensar no que eu faria em seguida, a porta da sala de
jantar se abriu sozinha diante de meus olhos. Sem muita opção eu entrei, e ao
caminhar um pouco pela mesma, a porta se fechou brutamente atrás de mim. Corri
para checar se havia emperrado ou algo do tipo, mas ela parecia ter sido trancada.
Sem ser suficiente, as luzes se apagaram e eu fiquei no completo breu, apenas com o
barulho das árvores se mexendo do lado de fora da casa. Eu estava quase entrando em
pânico, quando de repente a lareira se ascendeu e pude ver parcialmente o cômodo.
Para variar, havia outra página do suposto diário da Clarice, e nesse estava escrito o
seguinte: “Estamos escondendo esse segredo de todos. Ela me disse que se algo
acontecesse com os olhos dela, ela acabaria com tudo e ela iria embora. Eu não quero
que isso aconteça. Tenho que ter cuidado para nada acontecer com ela e os olhos
dela!”. A garota estava guardando um segredo extremamente perigoso com uma
boneca claramente anormal e isso era preocupante. A esse ponto estava claro que o
brinquedo tinha sim algo a ver com a morte de Clarice e eu estava determinada a
descobrir o que aconteceu.

Ouvi passos apressados em volta de mim, como se alguém estivesse correndo ao meu
redor. Pequenos objetos foram derrubados de acordo com os passos, até que uma
prateleira de livros caiu no chão fazendo um barulho muito alto, e então tudo ficou em
um completo silêncio e calmaria. Fui pegar os livros para colocar de volta na prateleira
e vi que tinha uma chave entre eles. Já que estava trancada no cômodo não custava
nada ver se era a chave da porta da sala de jantar. Dito e feito, a porta se abriu e lá
estava novamente o vulto de olhos vermelhos no final do corredor. Tentei pegar a
minha câmera rápido o suficiente para fotografá-lo, mas quando consegui pegar ela já
havia desaparecido novamente.

Saindo de lá, fui para a porta antes da sala de jantar. Abri e olhei ao redor. Por ter
brinquedos e gizes de cera espalhados pelo chão do quarto, supus que era o quarto de
Clarice – aquele lugar tinha um clima tão pesado que era quase impossível permanecer
lá. Em um lado da cama da garota estava a boneca que o pai havia mencionado,
olhando fundo em meus olhos com um enorme sorriso no rosto.

Entrando mais no quarto, vi uma casinha de bonecas empoeirada em um dos cantos e


uma caixa de brinquedos logo ao lado com mais uma folha do diário em cima e nessa
estava escrito: “Ela mentiu para mim. Ela está me usando. Ela disse que viverá em meu
corpo para sempre depois desta noite. Eu preciso detê-la antes que ela faça isso.
Preciso contar o segredo que escondi esse tempo todo. Se eu não escrever
novamente, quer dizer que ela ganhou. Espero que alguém encontre o meu diário
antes que o pior aconteça”.

Enquanto eu ainda procurava mais pistas nas gavetas da cômoda, o toca-discos em


cima da mesma começou a tocar uma música calma e serena. As luzes do quarto se
apagaram repentinamente e, olhando à minha volta, eu só conseguia ver a boneca
com mesmos olhos vermelhos do vulto rindo descontroladamente.

Meu coração batia aceleradamente e minhas mãos tremiam demais para que eu
pudesse fazer algo. A boneca olhou subitamente para a porta que bateu forte e dessa
vez não havia escapatória, tinha certeza que ela havia fechado de vez. O clima esfriou
novamente, estava insuportável permanecer ali.

Os risos da boneca cessaram aos poucos e consegui ouvir uma voz doce vindo da
casinha de bonecas. A criança sussurrava algo com brinquedos na mão de frente à
casinha como se brincasse com eles. Era Clarice! A luz do luar que adentrava pela
janela me permitia ver os longos cabelos castanhos e o vestido rosa da menina. Tentei
dar um passo à frente, mas minhas pernas vacilaram e eu cambaleei. Clarice olhou
para mim e disse baixinho: “Quem é você? O que está fazendo aqui? Bem, não
importa, você precisa ir embora antes que ela a encontre ou ela poderá fazer algo pior
ainda!”. A menina se levantou apressadamente e me puxou pelo dedo. Pude sentir sua
mão gelada e macia enquanto era levada em direção à porta. Clarice à minha frente
atravessou a porta como um espírito, enquanto eu permaneci ali, boquiaberta com o
que acabara de ver.

Sem outra opção, olhei para trás de novo e desta vez não aguentei. Gritei. Lá estava a
boneca com os olhos vermelhos a centímetros de meu rosto me encarando com um
sorriso maléfico.

Tentei desesperadamente abrir a porta atrás de mim sem tirar os olhos dela, até que
senti a porta caindo em direção ao corredor e me levando junto.

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