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Ano 2016 | N.

º 91 | MENSAL Tiragem 500 exemplares | Distribuição Gratuita


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As opiniões expressas pelos autores nos artigos aqui publicados, não veiculam necessariamente o posicionamento da SAL & Caldeira Advogados, Lda.

ÍNDICE NOTA DO EDITOR


Caro Leitor:

Nesta edição são abordados temas como “A responsabilidade dos Administradores


A responsabilidade dos Administra- nos termos da Legislação Moçambicana” , “Algumas Alterações Trazidas pelo Novo
dores nos termos da Legislação Moçam- Regulamento do Procurement” e “Práticas Proibidas a luz da Lei e Regulamento da Lei
bicana da Concorrência ”.
Pode ainda, como habitualmente, consultar o nosso Calendário Fiscal e a Nova
Algumas Alterações Trazidas pelo Novo Legislação Publicada.
Regulamento do Procurement
Tenha uma boa leitura !
Práticas Proibidas a luz da Lei e Regula-
mento da Lei da Concorrência Actualmente as infracções A contratação da empreita- Não obstante o facto de a
praticadas pelos administra- da de obras públicas, forneci- ARC ainda não estar opera-
Legislação dores não colocam com mento de bens e prestação cional, mas estando já criado
tanta frequência a questão de serviços públicos junto às o quadro legal para a
Obrigações Declarativas e Contributivas de responsabilidade civil, mas entidades públicas tem vindo regulação da concorrência e
- Calendário Fiscal 2016 - (Maio) mais questões relacionadas a sofrer algumas alterações esperando-se que a ARC
com a sua destituição. ao longo dos anos. O Decre- seja constituída em breve,
Informação Sobre as Taxas de Armazen- Entretanto e conforme to-Lei nº. 48817, de 19 de torna-se relevante continuar
referido acima, é possível Fevereiro de 1969, aplicado... a divulgar as normas relativas
agem a Serem Aplicadas nos Silos da
que nos próximos tempos se Cont. Pág. 3 à concorrência aprovadas
Bolsa de Mercadorias de Moçambique acentue... Cont. Pág. 2 pelos... Cont. Pág. 4

FICHA TÉCNICA
EDIÇÃO, GRAFISMO E MONTAGEM: SÓNIA SULTUANE - DISPENSA DE REGISTO: Nº 125/GABINFO-DE/2005
COLABORADORES: Alcinda Isabel Cumba, Isabel Isaac Frengue Ngobeni, Vanessa Mauela Chiponde, Rute Nhatave, Sérgio Ussene Arnaldo,

SAL & Caldeira Advogados, Lda. é membro da DLA Piper Africa Group, uma aliança de firmas líderes de advocacia independentes que trabalham em conjunto com a DLA Piper, internacionalmente e em toda a África.

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A RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO
MOÇAMBICANA

Com o desenvolvimento da economia moçambicana através de investimentos para com a sociedade, o Artigo 160(1) do Código Comercial estabelece que os
estrangeiros e com a crescente exposição do mercado nacional a mercados administradores respondem para com a sociedade pelos danos que causarem
mais desenvolvidos, tem se notado o surgimento de novas questões e o por actos ou omissões com preterição dos deveres legais ou estatutários, salvo
desenvolvimento de outras que embora já existentes, eram menos frequentes, se provarem que agiram sem culpa. Os números 2 e 3 deste artigo afastam a
como é o caso da responsabilização pessoal dos administradores. responsabilidade dos administradores nos casos de responsabilidade decorrente
de deliberação colegial em que não tenham participado ou tenham tido votos
Actualmente as infracções praticadas pelos administradores não colocam com vencidos, ou nos casos de actos baseados em deliberação dos sócios.
tanta frequência a questão de responsabilidade civil, mas mais questões relacion- Nesta matéria de responsabilidade dos administradores para com a sociedade,
adas com a sua destituição. Entretanto e conforme referido acima, é possível que o número 4 do Artigo 160 do Código Comercial estabelece a solidariedade dos
nos próximos tempos se acentue em Moçambique questões judiciais da administradores responsáveis, embora que nas relações entre si os administra-
responsabilidade civil contra administradores de sociedades a título pessoal, tal dores terão direito de regresso na medida das respectivas culpas, que em
como vimos já suceder em diversas jurisdições. princípio se presumem iguais.

Nestes termos, julgamos relevante abordar ainda que de forma genérica, as Nos casos da responsabilidade para com a sociedade, o Código Comercial
regras gerais estabelecidas pela legislação moçambicana relativamente à prevê a possibilidade de a acção de responsabilidade ser proposta tanto pela
responsabilidade dos administradores das sociedades comerciais. Pretende-se sociedade como pelos sócios que detenham uma participação não inferior a
com este artigo esclarecer que deveres os administradores das sociedades 10% (dez por cento).
deverão respeitar para que possam exercer de forma legal e satisfatória os
respectivos cargo, bem como indicar quais as consequências do incumprimento Relativamente ao segundo pilar, i.e. a responsabilidade para com os credores
de algum dos seus deveres. sociais, o n.º 1 do Artigo 164 do Código Comercial estabelece a responsabili-
dade dos administradores perante os credores da sociedade se o património da
Nos termos do Artigo 151(1) do Código Comercial, a gestão e representação sociedade se tornar insuficiente para satisfazer os créditos dos credores, em
das sociedades compete à administração. O Artigo 152(1) do Código Comercial resultado do incumprimento de qualquer disposição legal ou dos estatutos
estabelece ainda que os actos praticados pelos administradores em nome da destinada à protecção dos credores do património.
sociedade e dentro dos poderes que a lei lhes confere, vinculam a sociedade
para com terceiros, não obstante as limitações e poderes de representação Com relação à responsabilidade para com sócios e terceiros por danos a estes
constantes dos estatutos ou resultantes das deliberações dos sócios, mesmo que directamente causados, i.e., o terceiro pilar, o Artigo 165 do Código Comercial
tais deliberações estejam publicadas. prevê que os administradores são também responsáveis para com os sócios e
terceiros pelos danos que directamente lhes causem no exercício das suas
Dos deveres gerais dos administradores estabelecidos pelo Código Comercial funções.
importa referir os seguintes:
a) dever de diligência a que o Artigo 150 do Código Comercial se refere, nos É importante notar que as regras referidas acima, estabelecidas pelo Código
termos do qual os administradores devem actuar com diligência de um gestor Comercial, não esgotam o regime legal de responsabilidade civil dos administra-
criterioso e coordenado, no interesse da sociedade, tendo em conta os interess- dores, considerando que, tratando-se de responsabilidade civil, se aplicarão ainda
es dos sócios e administradores; as regras de responsabilidade civil em geral estabelecidas pelo Código Civil.
b) dever de não concorrência, estabelecido nos Artigos 324 e 428 do Código
Comercial, nos termos do qual os administradores estão proibidos de exercer Adicionalmente às regras de responsabilidade civil, importa ter em atenção que,
por conta própria ou alheia, actividades abrangidas pelo objecto da sociedade se o acto praticado pelo administrador caracterizar uma infracção à lei penal, os
sem o consentimento/autorização prévia da Assembleia Geral; administradores serão chamados à responder pelos delitos praticados. A este
c) dever de elaborar as contas anuais da sociedade, bem como de elaborar o respeito, é de notar que o Artigo 30 do Código Penal estabelece a responsabili-
relatório referente ao exercício e aplicação dos resultados; dade das pessoas colectivas pelas infracções praticadas pelos titulares dos seus
d) dever de sigilo; e, órgãos, entretanto, tal responsabilidade não exclui a responsabilidade individual
e) dever de informação. dos respectivos titulares.

Adicionalmente aos deveres acima indicados, assim como os restantes estabele- Pelo acima referido podemos notar que a importância da responsabilização dos
cidos pelo Código Comercial, importa referir que os Estatutos da sociedade e administradores das sociedades por seus actos ilegais ou que ultrapassem suas
outra legislação específica (dependendo do sector de actuação da sociedade) atribuições é inquestionável. Esta responsabilização, por um lado, garante o bom
poderão estabelecer outros deveres e/ou obrigações dos administradores. funcionamento da sociedade e, por outro, permite que aqueles que se mostrem
incapazes para efectivação da gestão respondam pelos seus actos irregulares e
A responsabilidade dos administradores é tratada nos Artigos 160 e seguintes sejam substituídos por pessoas de maior capacidade.
do Código Comercial, na secção referente à “responsabilidade dos titulares dos
órgãos sociais”. Em termos gerais, a responsabilidade civil dos administradores decorre do
incumprimento dos deveres legais ou estatutários, conforme estabelece o
Parte da doutrina entende que a responsabilidade civil dos administradores número 1 do Artigo 160 do Código Comercial. Ou seja, o pressuposto principal
comporta três pilares fundamentais: (i) a responsabilidade para com a sociedade; para a responsabilidade dos administradores (sem prejuízo de outros elemen-
(ii) a responsabilidade para com os credores sociais; e, (iii) responsabilidade para tos) é a falta de conformidade entre a conduta do administrador e aquela que
com sócios e terceiros por danos a estes directamente causados. lhe é exigível quer seja por lei ou por contrato.

No que concerne ao primeiro pilar, i.e., a responsabilidade dos administradores

Vanessa Manuela Chiponde


Consultora Sénior
Jurista
Email: vchiponde@salcaldeira.com

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ALGUMAS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELO NOVO REGULAMENTO
DO PROCUREMENT

A contratação da empreitada de obras públicas, forneci- consulares. to válido emitido pelo Instituto Nacional de Estatística,
mento de bens e prestação de serviços públicos junto às que comprove que a empresa presta informação regular,
entidades públicas tem vindo a sofrer algumas alterações A modalidade do concurso limitado sofreu alteração nos termos da legislação estatística.
ao longo dos anos. O Decreto-Lei nº. 48817, de 19 de relativamente aos valores a serem considerados.
Fevereiro de 1969, aplicado à Moçambique através da Nomeadamente, esta modalidade pode ser adoptada No NR passa também a ser considerado como concor-
Portaria 555/71,de 12 de Outubro (Regulamento das quando o valor estimado da contratação não seja rente nacional, a pessoa singular ou colectiva, registada
Empreitadas e Fornecimentos de Obras Públicas) teve a superior a 5.000.000,00 Meticais para empreitada de em Moçambique há mais de 5 anos, ainda que o capital
sua primeira actualização através do Decreto nº. 42/89, obras públicas e 3.500.000,00 Meticais para fornecimen- social seja maioritariamente estrangeiro.
de 28 de Dezembro, actualizado pelo Decreto n.º 29/97, to de bens e prestação de serviços (contra os anteriores
de 23 de Setembro, que aprovou o Regulamento de 3.500.000,00 Meticais e 1.750.000,00, respectivamente). 6. Reclamações e recursos: O número de dias para a
Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Forneci- apresentação de reclamações, assim como para o júri
mento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado. Este O ajuste directo passa agora a prever a solicitação, remeter a reclamação e o seu parecer sobre a
decreto fora revogado em 2005 pelo Decreto n.º recepção e aceitação de propostas, contrariamente ao reclamação da EC, passa a ser de 5 dias úteis, contraria-
54/2005, de 13 de Dezembro, que veio mais tarde a ser previsto no AR, onde as disposições referentes ao ajuste mente aos anteriores 3 dias. O prazo para a EC decidir
igualmente revogado pelo Decreto n.º 15/2010, de 24 directo faziam referência à somente uma proposta. sobre a reclamação aumentou para 10 dias, diferente-
de Maio (daqui em diante “AR” - Anterior Regulamen- mente dos anteriores 3 dias.
to). 3. Entidades relevantes: As entidades relevantes no
processo de contratação pública mantêm-se, nomeada- 7. Disposições sobre o contrato de empreitada:
O AR foi recentemente revogado pelo actual mente: a Autoridade Competente (AC), a Entidade Contrariamente ao AR que era omisso relativamente às
Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Contratante (EC), a Unidade Gestora Executora das provisões relativas à gestão de contratos de empreitada
Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviço Aquisições (UGEA), e a Unidade Funcional de de obras públicas, notamos que o NR desenvolve esta
ao Estado, aprovado pelo Decreto n.º 5/2016, de 8 de Supervisão das Aquisições (UFSA). Importa referir que, parte. O NR passa a ter um capítulo específico sobre a
Março (doravante “NR” – Novo Regulamento). adicionalmente às competências atribuídas à AC, cabe matéria, no qual encontram-se incluídas várias regras
agora à esta entidade indicar funcionários e/ou agentes essenciais para este tipo de contratos, tais como, a
Com o presente artigo pretendemos divulgar algumas do Estado da respectiva UGEA, tendo em conta os classificação do tipo de empreitada; disposições gerais e
das alterações trazidas pelo NR, relativamente ao AR. perfis definidos para o efeito, e comunicar à UFSA. As específicas sobre obras provisórias, expropriações;
Nestes termos, de seguida fazemos menção a sete das competências das UGEA foram igualmente acrescenta- suspensão de trabalhos; indemnizações; erros nos
alterações trazidas pelo NR. das. projectos; habilitação dos concorrentes; seguros e
meio-ambiente; controlo de qualidade e gestão do
1. Âmbito de Aplicação: O NR aplicava-se às 4. Publicidade: Relativamente à publicação do Anúncio, o contrato; procedimento para consignação da obra;
“instituições da administração directa e indirecta do NR alarga os meios de publicitação, ao referir que particularidades na definição do plano de trabalhos e
Estado, incluindo a sua representação no estrangeiro, às aquele pode ser “divulgado mediante edital, portal, execução dos trabalhos; tratamento a dar aos defeitos
autarquias locais e às demais pessoas colectivas imprensa, podendo ser rádio, jornal ou outro meio de de execução; gestão de riscos; aspectos a observar na
públicas”. Importa destacar que o NR passa a excluir do comunicação adequado e de fácil acesso para o recepção da obra; entre outros.
seu âmbito de aplicação as empresas públicas e as público-alvo, devendo ser divulgado, pelo menos, duas
empresas participadas pelo Estado, que são regidas por vezes pela EC”. De uma forma geral, notamos que o NR apresenta
legislação específica. conceitos mais claros e objectivos, relativamente ao AR,
5. Requisitos de qualificação: Tanto o AR como o NR o que facilita a compreensão prática das diversas
2. Modalidades de Contratação: O regime geral para a determinam quais são os requisitos de qualificação e os modalidades de contratação, permitindo que o concor-
contratação de empreitadas de obras públicas, forneci- critérios a serem usados. Estes dividem-se em requisitos rente obtenha informação mais precisa e fidedigna.
mento de bens, prestação de serviços ao Estado e de qualificação jurídica, qualificação económico-financei- Adicionalmente, o NR desenvolve de forma detalhada
concessões continua a ser o Concurso Público. Este ra, qualificação técnica e regularidade fiscal. Relativa- os aspectos relativos ao contrato de empreitada e
tinha 6 fases, passando agora a ter 9 fases, que iniciam mente à qualificação económico-financeira, importa execução de obras, actualizando desta forma a parte do
com a Preparação e Lançamento à Celebração do destacar que no NR as pessoas singulares que pretend- regime aprovado pela legislação herdada da época
Contrato. am participar no concurso público já não precisam colonial não enquadrada nas diferentes revisões
obter uma declaração anual de informação contabilística anteriores que tiveram lugar.
O regime excepcional só tem lugar quando seja conven- e fiscal, bem como a declaração de que não há execução
iente ao interesse público e se verifiquem os respectivos judicial do seu património que afecte a sua situação Da leitura comparativa do AR e NR, nos parece que o
requisitos. Às anteriores modalidades excepcionais foi financeira, em comparação com o AR. NR procurou tornar mais rigoroso o processo de
acrescida uma nova modalidade, nomeadamente, o contratação pública e de gestão dos contratos de
concurso por cotações. Esta nova modalidade é Às pessoas colectivas pode ainda ser exigido que o empreitadas de obras públicas. Esperamos que o
aplicável quando o valor estimado de contratação for capital social não seja inferior ao montante fixado nos resultado possa ser uma maior transparência, abrangên-
igual ou inferior a 10% de 5.000.000,00 de Meticais para Documentos do Concurso ou património líquido no cia e segurança nas obras desenvolvidas, assim como
empreitada de obras públicas, e 3.500.000,00 Meticais último exercício fiscal, não devendo ser superior a 2%, e uma maior confiança do sector empresarial nos
para fornecimento de bens e prestação de serviços; se não mais 10%, do valor estimado das obras, bens ou concursos públicos lançados pelo Estado, resultando daí
em concurso anterior o mesmo ficou deserto por serviços objecto da contratação. ganhos em termos de eficiência e rentabilidade para o
desclassificação de todos os concorrentes e não possa Estado, e não apenas maiores burocracias ou provisões
ser repetido sem prejuízo do interesse público; e nas No que concerne à regularidade fiscal, à luz do NR o sem aplicação prática, em prejuízo do interesse público
contratações realizadas por missões diplomáticas e concorrente deve apresentar, igualmente, um documen- subjacente.

Alcinda Isabel Cumba


Consultora Júnior
Jurista
Email: acumba@salcaldeira.com

SAL & Caldeira Newsletter N.º 91 3


PRÁTICAS PROIBIDAS A LUZ DA LEI E REGULAMENTO DA LEI DA
CONCORRÊNCIA
O presente artigo incide sobre as práticas proibidas previstas na Lei da Concor- costumes comerciais, discriminar fornecedores ou consumidores de bens ou
rência, Lei n.º 10/2013, de 11 de Abril (adiante, a “L10/2013”) e no seu respecti- serviços mediante a fixação diferenciada de preços, ou de condições operacion-
vo Regulamento, que foi aprovado pelo Decreto nº 97/2014, de 31 de Dezem- ais de venda ou de prestação de serviços, entre outros.
bro (adiante, o “Regulamento”).
• Abuso da posição dominante, isto é, exploração abusiva, por uma ou mais
A L10/2013 visa regular a matéria respeitante à concorrência relativa às empresas, da posição detida no mercado nacional ou parte substancial do
actividades económicas exercidas no território nacional ou que nela produzam mesmo, visando impedir, falsear ou restringir a concorrência. Constam entre as
efeitos, sem prejuízo das excepções definidas por lei. práticas consideradas abusivas, todos os comportamentos acima referidos como
acordos horizontais e verticais, recusa de acesso à rede de infra-estruturas
A L10/2013 determina a criação da Autoridade Reguladora da Concorrência controlada pela mesma, sendo tal legal e factualmente essencial para a
(adiante, a “ARC”) de forma a efectivar a aplicação das normas proibitivas das manutenção da empresa em questão no mercado, rompimento de relação
práticas anti-concorrenciais, bem como para efectivar o controlo das operações comercial de forma injustificada, venda injustificada de mercadoria abaixo do
de concentração de empresas. O Estatuto Orgânico da ARC foi aprovado pelo preço, entre outros.
Decreto n.º 37/2014, de 1 de Agosto. Encontra-se igualmente aprovada a tabela
de taxas devidas pelos procedimentos realizados perante a ARC, através do O Regulamento veio determinar que considera-se existir uma posição
Diploma Ministerial n.º 79/2014, de 5 de Junho. Não obstante, a ARC ainda não dominante de mercado quando (i) uma empresa ou várias empresas colectiva-
foi constituída e, por isso, ainda não se encontra operacional. mente detêm no mercado uma quota equivalente ou superior a 50%; ou (ii) uma
ou mais empresas determinam a existência de barreiras significativas à entrada
Não obstante o facto de a ARC ainda não estar operacional, mas estando já de concorrentes no mercado, mesmo que detenham quota de mercado inferior
criado o quadro legal para a regulação da concorrência e esperando-se que a a 50%.
ARC seja constituída em breve, torna-se relevante continuar a divulgar as
normas relativas à concorrência aprovadas pelos instrumentos legais aqui Importa referir que uma ou mais empresas podem demostrar que não detêm
referidos. uma posição dominante, independentemente da sua quota de mercado,
mediante a prova de que as condições do mercado são compatíveis com a
É neste âmbito que o presente artigo irá debruçar-se sobre as práticas que são existência ou surgimento de uma concorrência significativa ou que não assumem
proibidas pela L10/2013 por serem classificadas como práticas anti-concorrênci- a preponderância sobre os seus concorrentes nesses mercados.
ais.
Note-se ainda que, a L10/2013 prevê determinadas situações em que as praticas
Segundo o disposto no artigo 4 do Regulamento, práticas anti-concorrenciais proibidas podem ser consideradas justificadas e, por isso, podem beneficiar de
são acordos que tenham por objecto ou efeito impedir, falsear ou restringir de isenção à proibição dentro de certos condicionalismos, desde que solicitadas
forma sensível a concorrência no todo ou em parte do mercado nacional. A pelas empresas em questão à ARC. Entre tais situações constam, entre outras,
L10/2013 divide as práticas anti-concorrenciais em três principais grupos, que contribuir para melhorar a produção de bens e serviços, reduzir os preços aos
passamos a citar: consumidores, acelerar o desenvolvimento económico, incentivar o desenvolvi-
• Acordos Horizontais (artigo 17 da L10/2013) manifestam-se na relação entre mento tecnológico das empresas nacionais, promover a competitividade das
empresas que concorrem no mesmo sector, independentemente da dimensão pequenas e médias empresas nacionais, contribuir para a consolidação do
de cada uma delas e de forma que se reveste tal concorrência. Os acordos que empresariado nacional, promover a protecção da propriedade intelectual.
tenham por objecto ou efeito falsear ou restringir a concorrência e, por isso, são
proibidos, são indicados na lei, entre os quais: os que adoptam uma conduta A Lei 10/2013 prevê ainda a figura da dependência económica e, proíbe a sua
comercial uniforme ou concertada, fixam de forma directa ou indirecta, os exploração abusiva. Encontra-se em dependência económica qualquer empresa
preços de compra ou venda ou interferem na sua determinação, provocam fornecedora ou cliente que esteja economicamente dependente de outra ou
oscilação de preços sem justa causa, fixam de forma directa ou indirecta, outras outras e não tiver alternativas equivalentes. A empresa fornecedora ou cliente
condições de transacção efectuadas no mesmo ou em diferentes estágios do pode se considerar sem alternativa equivalente quando, em razão das
processo económico, efectuam coligações ou desenvolvem outras práticas características do mercado onde a mesma opera ou das relações comerciais que
concertadas de modo a obter vantagens, interferir ou influenciar os resultados mantém com outras empresas, se verificam as seguintes circunstâncias: (i)
dos concursos públicos, limitam ou impedem o acesso de novas empresas no quando o fornecimento do bem ou serviço em causa for assegurado por um
mercado, entre outros. número restrito de empresas e (ii) a empresa ou fornecedora ou cliente não
puder obter de outros parceiros comerciais condições equivalentes em
• Acordos verticais (artigo 18 da L10/2013) decorrem da relação entre uma períodos razoáveis.
empresa produtora de bens ou fornecedora de bens ou serviços com outras
empresas relacionadas ao longo da cadeia produtiva incluindo os consumidores. Sem prejuízo da responsabilidade criminal, nos casos em que for aplicável, a
Estes são proibidos quando resultam, entre outros, no seguinte: aplicam de forma prática de comportamentos anti-concorrenciais acima descritos pode dar lugar
sistemática ou ocasional, condições discriminatórias de preços ou outras relativa- a aplicação de pesadas multas, que podem variar entre 1 a 5% do volume de
mente a prestações equivalentes, recusam, directamente ou indirectamente sem negócios de cada uma das empresas envolvidas ou do seu agregado ou 10
justa causa, a compra ou venda de bens e a prestação de serviços, subordinam a salários mínimos do sector económico em questão, dependendo da infracção
celebração de contractos a aceitação de obrigações suplementares que, pela sua em questão. Sanções acessórias, tais como, por exemplo, proibição de
natureza ou segundo os usos comerciais não tinham ligação com o objecto participação em concursos públicos por um período de 5 anos também
desses contratos, condicionam a venda de bens ou a prestação de serviços a poderão ter lugar, entre outras medidas determinadas pela ARC para corrigir a
aceitação de condições de pagamento diferentes ou contrárias aos usos e situação criada pela prática em questão.

Isabel Isaac Frengue Ngobeni


Consultora Júnior
Jurista
Email: ingobeni@salcaldeira.com

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NOVA LEGISLAÇÃO PUBLICADA

Rute Nhatave Decreto nº 5/2016 de 8 de Março de 2016 - Aprova o Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas,
Arquivista / Bibliotecária Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado e revoga o Decreto n.º 15/2010, de 24 de Maio
Email: rnhatave@salcaldeira.com

Resolução nº 9/2016 de 29 de Fevereiro de 2016 - Ratifica o Acordo sobre Isenção de Vistos para Portadores de
Passaportes Diplomáticos e de Serviço, celebrado entre a República de Moçambique e a República Popular da China, no
dia 2 de Fevereiro de 2016, em Maputo

Resolução nº 2/2016 de 20 de Abril de 2016 - Aprova o Estatuto Orgânico do Ministério da Indústria e Comércio

Despacho de 14 de Março de 2016 - Concernente à criação e especialização de Secções no Tribunal Superior de


Recurso de Nampula e no Tribunal Judicial do Distrito de Boane

Decreto nº 6/2016 de 24 de Fevereiro de 2016 - Cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável abreviada-
mente designado por FNDS e revoga os Decretos n.º 39/2000, de 17 de Outubro, que cria o Fundo do Ambiente e o
Decreto n.º 26/2011, de 15 de Junho, que aprova o Estatuto Orgânico do Fundo do Ambiente

Diploma Ministerial nº 23/2016 de 16 de Março de 2016 - Aprova o Regulamento do Comité Técnico das Máquinas
Fiscais

Diploma Ministerial nº 24/2016 de 18 de Março de 2016 - Aprova as normas relativas à Especificação Técnica das
Máquinas Fiscais e respectivos Sistemas de Suporte e Gestão

OBRIGAÇŌES DECLARATIVAS E CONTRIBUTIVAS - CALENDÁRIO FISCAL 2016

Sérgio Ussene Arnaldo    


Assessor Fiscal e Financeiro
MAIO
Grupo de Prática: Tributário - Assessoria e Treino
Email: sussene@salcaldeira.com INSS 10 Entrega das contribuições para segurança social referente ao mês de Abril de
2016
IRPS 20 Entrega do imposto retido na fonte de rendimentos de 1ª, 2ª , 3ª , 4 ª e 5ª
categoria bem como as importâncias retidas por aplicação de taxas liberatóri-
as durante o mês de Abril 2016
IRPC 20 Entrega do imposto retido durante o mês de Abril de 2016

IS 20 Entregar as importâncias devidas pela emissão de letras e livranças, pela


utilização de créditos em operações financeiras referentes ao mês de Abril de
2016

IPM 30 Entrega do imposto pela extracção mineira referente ao mês de Abril

IPP 30 Entrega do imposto pela produção de petroleo referente ao mês de Abril

ICE 30 Entrega da Declaração, pelas entidades sujeitas a ICE, relativa a bens produzi-
dos no País fora de armazém de regime aduaneiro, conjuntamente com a
entrega do imposto liquidado (nº 2 do artigo 4 do Regulamento do ICE)

ISPC 30 Até 30 de Abril, efectuar entrega do imposto referente ao 1º trimestre do ano


de 2016

IVA 30 Entrega da Declaração periódica referente ao mês de Abril acompanhada do


respec-tivo meio de pagamento (caso aplicável)

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Av. Julius Nyerere, 3412 • Caixa Postal 2830
Telefone: +258 21 241 400 • Fax: +258 21 494 710 • admin@salcaldeira.com
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Maputo, Moçambique

Escritório em Tete
Av. Eduardo Mondlane,Tete Shopping, 1º andar
Telefone: +258 25 223 113 • Fax: +258 25 223 113
Tete, Moçambique

Escritório em Pemba
Rua XV – Bairro de Cimento – Cidade de Pemba
Telefone: +258 27 221 111 • Fax: +258 21 221 268
Pemba, Moçambique

Contacto na Beira
Av. do Poder Popular, 264, Caixa Postal 7
Telefone: +258 23 325 997 • Fax: +258 23 325 997
Beira, Moçambique

Parceiros - Distinções

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