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Marcos Evangelista Dias Klautau

Engenheiro Civil, Economista e Professor Universitário

domingo, 20 de março de 2011

A Lei Kandir, Estudos, Equívocos e Correções

Com muita dificuldade tento voltar ao blog.

Desculpem a ausência e grato pela compreensão.

Talvez ainda hoje, ou até amanhã, publique aqui considerações sobre a LC 87/96
(Lei Kandir), conforme prometi.

Agora, quero expor um assunto importante que merece elogios e correções.

OS FATOS

Técnicos do TCE – Tribunal de Contas do Estado fizeram um trabalho para


calcular as perdas financeiras, decorrentes da isenção do ICMS nas exportações,
que a Lei Kandir ocasionou ao Pará. Alguns blogs publicaram, inclusive com a
planilha de cálculos (sem exibir as fórmulas). Mas isto não é empecilho para a
análise.

Pelos cálculos da equipe do TCE “o valor das perdas de receitas tributárias no


erário paraense decorrentes da desoneração de exportações – imposta pela Lei
Complementar n° 87/96, a conhecida Lei Kandir – nos últimos 14 anos
(1997/2010) já acumulam R$ 21,5 bilhões. E a contrapartida do governo federal
a título de ressarcimento e auxílio financeiro, de minguados R$ 2,1 bilhões, está
muito aquém de compensar a queda na arrecadação.”

Foram feitas no documento as seguintes observações (bibliográfica e


metodológica):

“Fontes: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Banco


Central do Brasil (Calculadora do Cidadão), SEFA (Balanços Gerais do Estado),
SIAFEM-PA.

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Marcos Evangelista Dias Klautau
Engenheiro Civil, Economista e Professor Universitário

(*) Valores convertidos em Real pela cotação do dólar à época;

(**) Alíquota de 13% referente ao ICMS s/ exportação, aplicado sobre o valor das
exportações em Real;

(***) Valores corrigidos pelo IPCA de dezembro de 2010.”

Ou seja, os valores das exportações foram convertidos em Real pela cotação do


dólar à época. Como não é dito no trabalho, presumo que foram usados os
valores médios anuais, entretanto este é um detalhe sem muita importância.

Sem dúvidas, a atitude dos servidores do TCE é louvável, pois não é obrigação do
órgão fazer tal trabalho.

O governador recebeu o estudo das mãos do Presidente do TCE, com todas as


honras midiáticas, e demonstrou estar felicíssimo com o “achado”.

Será que o Governo do Pará não sabe, ou não sabia, quais são as referidas perdas?

O Governador leu, entregou a Secretários, Assessores?

Todos concordaram que os cálculos estavam corretos?

Faço aqui uma pausa sobre este tópico, pois será comentado em detalhes por mim
em futuras análises sobre a Lei Kandir e seus acessórios governamentais, etc. e tal.

OS GRANDES EQUÍVOCOS

Como já disse acima, parabenizo os técnicos do TCE pela iniciativa, porém, não
posso estender os encômios e amplexos pelo conteúdo do trabalho.

Lamentavelmente, os aplicados calculistas entraram em equívoco, indesculpável


sob o ponto de vista técnico.

Mais lastimável ainda é que, como corolário dos enganos, o exaustivo trabalho
perde totalmente seu valor, salvo se aplicarem-lhe uma correção.

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Marcos Evangelista Dias Klautau
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Os equívocos foram: valor incorreto das exportações; correções inadequadas; e


desconsideração dos créditos de ICMS dos exportadores.

PROPOSTA PARA A CORREÇÃO

Para corrigir os erros os técnicos devem fazer o seguinte:

1. Do valor total das exportações paraenses, no período definido (1997/2010)


devem ser deduzidos os valores das exportações de bens industrializados, pois a
Lei Kandir “não é culpada” (sic) por essas isenções. Antes da LC 87/96 os
produtos industrializados já gozavam do benefício legal pela CF/88 e o Estado do
Pará não teria tal arrecadação mesmo que a Lei Kandir não existisse.

2. Data vênia, a correção dos valores das exportações pelo IPCA, em meu modesto
entendimento não é correta. Esse “ganho” não é factível, pois o Estado do Pará, se
tivesse a arrecadação do ICMS à época, não conseguiria em nenhuma “aplicação
dos recursos” obter esses rendimentos.

Por qual motivo os valores das colunas “Lei Kandir” e “Auxílio Financeiro”, que
são os repasses feitos pela União ao Pará, não têm o mesmo privilégio
incremental?

As exportações são corrigidas mas os repasses não.

Não seria isto a adoção do famoso adágio popular “dois pesos e duas medidas”?

3. Quanto à ressalva presidencial feita na apresentação: “A pesquisa não


computou os valores dos créditos do imposto relativo aos insumos utilizados nas
mercadorias exportadas garantido pela Lei aos exportadores, porque a
informação é exclusiva da Secretaria da Fazenda do Estado”.

“Informação é exclusiva da Secretaria da Fazenda do Estado”?!

“Pelas barbas do profeta”!, Presidente, não diga mais isso, por favor!

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Essa informação é pública. Bom, sem mais comentários.

Esses créditos precisam ser considerados para que o trabalho tenha valor.

CONCLUSÃO

No meu entender, não há suficientes dados confiáveis para um cálculo exato das
perdas provocadas pela Lei Kandir aos estados brasileiros.

Há, também, variáveis exógenas de difícil mensuração.

Como exercício, no estudo que faço estimei tais perdas, entretanto, a metodologia
que defini envolve conceitos econômicos complexos para quem não tem
conhecimentos de teoria econômica - elasticidades, efeito-multiplicador das
exportações, fatores de eficiência e de crescimento e outros – que fica difícil
traduzir para uma linguagem acessível aos leigos.

Nos cálculos feitos, encontrei um valor aproximado de R$ 7 bilhões, como


resultado de tais perdas da Lei Kandir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para espancar dúvidas, interpretações equivocadas ou maledicentes, declaro que


o único objetivo deste artigo é colaborar; jamais com a intenção ou pretensão de
apontar erros ou corrigir quem quer que seja. Eu não ajo assim e quem me
conhece sabe disso. Eu também erro muito. Espero estar certo nestas
considerações.

Em suma, pelos equívocos ou falta de atenção, o valor apresentado no trabalho


não é correto, devendo ser reparado.

Se adotasse esses “argumentos numéricos” ficaria ainda mais difícil o Governo do


Pará ter credibilidade para discutir em Brasília seus direitos descumpridos pelo
governo federal.

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Marcos Evangelista Dias Klautau
Engenheiro Civil, Economista e Professor Universitário

Há muitos, mas muitos mesmo, assuntos a lançar a um debate público, mas este
artigo é exclusivo (artigo pode ser exclusivo) sobre o trabalho feito pelo TCE.

Espero trazer a lume nas próximas postagens importantes assuntos.

Deixo aqui, antes de encerrar, uma frase para nossa reflexão:

As perdas que a Lei Kandir possa ter provocado ao Pará são demasiadamente
menores do que a destruição causada pela desenfreada corrupção de muitos
políticos e pelo desvario de gestores públicos desonestos.

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