Você está na página 1de 25

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

Dimensionamento da Rede de Esgoto Sanitário


www.unila.edu.br

Responsabilidade Social da Engenharia Civil: Construindo um Brasil Saudável

Herlander MATA-LIMA, PhD

Maio de 2015

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Aspectos Gerais do Dimensionamento-1:
▪ Grande parte da rede de esgoto sanitário é dimensionada para um
‘horizonte de projeto’ (capacity life) de 25 a 50 anos, sendo 40 anos a
opção mais comum
▪ A rede de esgoto tem que ser capaz de transportar as vazões máxima e
mínima sem deposição de sólidos suspensos
▪ geralmente são dimensionados para transportar vazão com uma altura
do escoamento que varia desde ½ D até seção cheia (D)
▪ O projeto deve ter como critério evitar escoamento em seção cheia (h =
D) já que é necessário algum espaço com ar para ventilação e eliminação
da formação do ácido sulfídrico (H2S) – controle de septicidade.

Figura 1. Escoamento com


superfície livre em conduto
circular (NUVOLARI, 2011:48)
H. MATA-LIMA, PhD 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Aspectos Gerais do Dimensionamento-1:
▪ O projeto deve ter como critério evitar escoamento em seção cheia (h =
D) já que é necessário algum espaço com ar para ventilação e eliminação
da formação do ácido sulfídrico (H2S) – controle de septicidade
▪ Os coletores na parte final do sistema devem ser dimensionados para
transportar a vazão de dimensionamento com uma altura de
aproximadamente ½ D
▪ Interceptores e coletores tronco são menos suscetíveis à variação da
vazão do que pequenos coletores podendo admitir-se maior h do
escoamento*
▪ Coletores com D até 400 mm são geralmente dimensionados para
transportar escoamento com h = ½ D
▪ Coletores entre 400 e 900 mm devem ser dimensionados para h = 2/3D
▪ Coletores > 900 mm são dimensionados para h  ¾D.
H. MATA-LIMA, PhD 3
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Aspectos Gerais do Dimensionamento-2:
▪ Após a determinação da vazão do esgoto a ser transportado deve
definir-se o D e a declividade (i) do coletor
▪ Coletores devem ser implantados nas estradas, ajustados a
declividade das mesmas. Este procedimento minimiza os custos de
escavação
▪ Quando a declividade (i) da estrada não permite a velocidade
mínima do escoamento (0,6 m/s), o coletor será implantado com i
superior.
Figura 2. Declividade do coletor (NUVOLARI, 2011:48, 78)

H. MATA-LIMA, PhD 4
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Rede de Coleta (Collecting Sewers)-1:
▪ O trecho de coleta corresponde a coletores que recebem o esgoto de cada
edifício e transportam para os interceptores ou coletores tronco (principais)
(Figura 3)
▪ Coletores-tronco (DN comum: 450 – 1200 mm em concreto armado) – são
geralmente implantados sob o pavimento da estrada ao lado do ‘coletor de
drenagem pluvial’ (storm drain) que se situa no eixo da rodovia (Figura 3)
▪ Os coletores têm que ter capacidade de transportar a vazão relativa a
população atual e do horizonte do projeto (e.g. 40 anos) da área a servir
▪ A vazão de dimensionamento é a soma da vazão de ponta doméstica,
comercial, industrial e de infiltração
▪ Deve ser privilegiada a declividade que requer mínima escavação para
satisfazer os critérios das velocidades mínima (0,6 m/s) e máxima (3,0 m/s)
▪ Os poços de visita (manholes) são implantados sempre que há mudança de (1)
direção, (2) declividade, (3) diâmetro, (4) seçao transversal ou (5) intercepção de
coletores.
H. MATA-LIMA, PhD 5
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Rede de Coleta (Collecting Sewers)-2:

Figura 3. Desenho típico de sistema de drenagem


H. MATA-LIMA, PhD 6
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Rede de Coleta (Collecting Sewers)-3:
▪ Regras complementares para implantação do Poço de Visita (PV):
(1) espaçamento máximo de ~ 120 m (400 ft) para coletores de
diâmentro entre 200 mm e 300 mm
(2) para coletores de D > 300 mm pode considerar-se maior
espaçamento entre os poços de visita particularmente se for visitável (i.e.
se for possível um Homem caminhar dentro do coletor)
▪ O coletor não deve possuir diâmetro < 200 mm (8 in)
▪ Perdas de carga na rede – onde ocorre mudança na direção do coletor
ou existe confluência de escoamentos, i.e no poço de visita, há perda de
carga.
(1) quando a velocidade do escoamento se situa entre 0,6 e 3,0 m/s,
uma queda de 30 mm no poço de visita é suficiente para considerar a
perda de carga
(2) no caso de coletores de grande D (interceptor e coletor-tronco), a
perda de carga requer maior ajuste (podendo alcançar 60 mm)

H. MATA-LIMA, PhD 7
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Rede de Coleta (Collecting Sewers)-5:

Figura 4
Poços de Visita

H. MATA-LIMA, PhD 8
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Rede de Coleta (Collecting Sewers)-6:
▪ Nas conexões (junções ou nós) onde o diâmetro do coletor
aumenta, é comum ajustar-se a coroa (o topo) do coletor de
montante ao de jusante
SEQUÊNCIA DE COLETORES COM D CRESCENTE POÇO DE VISITA

Figura 5

H. MATA-LIMA, PhD 9
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Interceptores (Intercepting Sewers)-1:
▪ Interceptores (DN comum: 1200 a 2000 mm em concreto
armado) são responsáveis pelo transporte do escoamento (esgoto)
proveniente da rede coletora na bacia de drenagem até a Estação
de Tratamento de Efluentes (ETE) ou, infelizmente, diretamente ao
meio receptor (NUVOLARI, 2011:63) (Figura 6)
▪ Interceptores ou coletores tronco são geralmente implantados ao
longo do vale ou talvegue da bacia de drenagem (Figura 6)
▪ Quando os coletores são implantados em zonas sem urbanização
consolidada (underdeveloped areas) devem ser adotadas
precauções para garantir adequada localização de poços de visita
para futuras conexões
▪ Para coletores de diâmetro entre 380 e 680 mm os poços de
visita devem ser implantados com espaçamento máximo de 180 m
(600 ft). O espaçamento é maior para D > 680 mm.
H. MATA-LIMA, PhD 10
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Interceptores (Intercepting Sewers)-2:
Figura 6. Esquema da rede de
drenagem do esgoto sanitário
(NUVOLARI, 2011:62)
As ligaçoes prediais devem ter
diametro DN 100 e declividade
minima de 2%.

Destino Final do
Esgoto (após ETE):
▪ cursos d’agua
▪ oceano
ETE
▪ lago
▪ solo

H. MATA-LIMA, PhD 11
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Orgaos acessorios-1:
POÇO DE VISITA (PV)

TERMINAL DE LIMPEZA (TL)


Figura 7. Constituicao do sistema de esgotamento sanitario (NUVOLARI, 2011:66, 67)
H. MATA-LIMA, PhD 12
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Questões de orientação para o estudo:
Questão 1: Apresente as razões pelas quais o sistema separador absoluto não
transporta somente o esgoto líquido de origem doméstica e industrial. (ver
NUVOLARI, 2011:38-42, 59)
Questão 2: Indique as situações que justificam o uso da rede de esgoto dupla (ver
NUVOLARI, 2011:69)
Questão 3: Explique por que razão é aceitável analisar matematicamente o
escoamento do esgoto como se fosse água (ver NUVOLARI, 2011:43-47)
Questão 4: Quais as principais diferenças entre o sistema unitário e separador
absoluto, incluindo vantagens e desvantagens (ver NUVOLARI, 2011:60)
Questão 5: Identifique e descreva as partes constituintes de um sistema de
drenagem de esgoto sanitário, indicando também as dimensoes mais comuns (ver
NUVOLARI, 2011:61-63, 65–)
Questão 6: Quando deve ser instalado o poço de visita (PV) e quais as alternativas
existentes para reduçao do custo associado ao uso excessivo de PV na rede de
drenagem ? (ver NUVOLARI, 2011:66-67)
H. MATA-LIMA, PhD 13
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Coletores – Materiais mais usados-1:
▪ Os Coletores e Interceptores são geralmente feitos de seguintes
materiais: (1) fibrocimento* (asbestos cement), (2) ferro fundido
(cast-iron), (3) concreto (concrete), (4) grés vidrado (vitrified clay),
(5) grés ceramico (brick), (6) PVC e (7) fibra betuminada
(bituminized fiber)
▪ Cada um dos materiais acima possiu o seu limite de carga
estrutural que não deve ser excedido.

* Em desuso por ser cancerígeno.


H. MATA-LIMA, PhD 14
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Procedimento de Dimensionamento-1:
▪ Etapa 1: obter o mapa da área (escala  1:1000) com
representação de estradas, ruas, edifícios, ..., topografia, tipo de
solo, cota mais baixa dos edifícios a serem ligados a rede.
▪ Etapa 2: localizar o exutório da bacia de drenagem e desenhar o
sistema de drenagem – define system layout – (incluindo a rede de
coletores, interceptores, estação elevatória e ETE) sobre o mapa
seguindo estradas (facilita a manutenção).
Evitar implantar coletores e condutos de água potável na mesma vala.
Quando parte da área de drenagem ainda não possui edifícios nem plano de
desenvolvimento é preciso ter especial cuidado para garantir adequada
localização de poços de visita terminais que possam ser facilmente conetados
aos novos coletores no futuro.
▪ Etapa 3: procurar a solução que permite servir toda a área de
drenagem com a menor extensão de coletores. Deve evitar-se a
menor extensão do coletor quando o percurso implica maior custo
de escavação e/ou inclui estação elevatória.

H. MATA-LIMA, PhD 15
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Procedimento de Dimensionamento-2:
▪ Etapa 4: verificar se os interceptores ou coletores tronco estão
devidamente localizados para seguir o talvegue da bacia até ao exutório
visando minimizar a escavação e bombeamento. Geralmente seguem o
curso d’água principal, sendo implantados ao longo da rodovia mais
próxima (Figura 4).
Os coletores são geralmente perpendiculares às curvas de nível (Figura
4).
▪ Etapa 5: definir os diâmetros preliminares dos coletores. Nota: o D
mínimo (200 mm) pode servir várias centenas de residências mesmo com
declividade mínima.
▪ Etapa 6: rever o desenho da rede para otimizar a capacidade de
transporte do escoamento com um custo mínimo. Procurar viabilizar
comprimentos e diâmetros mínimos dos coletores, maximizar a declividade
dos coletores respeitando o limite da velocidade, minimizar o volume de
escavação e a quantidade de acessórios (appurtenances).
H. MATA-LIMA, PhD 16
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Procedimento de Dimensionamento-3:

Coletor Interceptor
Figura 4. Desenho de uma rede típica
Comentário:
▪ o interceptor está localizado no vale do rio e os coletores transportam o escoamento de
várias áreas tributárias até ao interceptor.
H. MATA-LIMA, PhD 17
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Procedimento de Dimensionamento-4:
▪ Etapa 7: analisar cuidadosamente a rede para evitar
estações elevatórias, pois são onerosas e exigem manutenção
rigorosa. Por outro lado, o custo de energia de bombeamento
também é significativo
▪ Etapa 8: considerar como regra indicativa a instalação de
estação elevatória apenas quando a escavação excede a
profundidade de 6,0 a 12,0 m, dependendo de cada situação
(e.g extensão da escavação, material a ser escavado).

H. MATA-LIMA, PhD 18
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Considerações sobre o dimensionamento hidráulico-1:
▪ (1): a vazão de dimensionamento deve ser transportada a
velocidades que não sejam elevadas a ponto de provocar erosão
nem baixas ao ponto de facilitar a sedimentação .
▪ (2): deve-se minimizar perdas de carga nas transições e eliminar
o efeito de backwater (recuo do escoamento). Como?
Resposta: evitando alterar bruscamente (a) o gradiente hidráulico, (b) a
declividade numa direção adversa ao escoamento nas mudanças de
direção horizontal, (c) diâmetro do coletor, (d) vazão do escoamento.
▪ (3): procedimento para definição do diâmetro do coletor: (a)
desenhar o perfil longitudinal de implantação do coletor, (b) anotar a
carga hidráulica (gradiente hidráulico) no extremo de jusante do coletor
(geralmente, a cota do gradiente hidráulico do coletor a ser conetado),
(c) quando o esgoto se destina a uma ETE ou um corpo d’água receptor, o
gradiente hidráulico é a cota da superfície livre da água nesse ponto.
H. MATA-LIMA, PhD 19
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Considerações sobre o dimensionamento hidráulico-2:
▪ (4): O que fazer quando não existe diâmetro comercial capaz de
transportar escoamento com exata altura e gradiente investigado?
Resposta: seleciona-se o diâmetro comercial imediatamente
superior, modifica-se a declividade ou faz-se ambas alterações. A
escolha depende do custo do coletor vs custo de escavação e das
condições locais (e.g. existência de outras instalações na estrada)
▪ (5): o diâmetro dos coletores nunca decresce no sentido de
jusante porque pode provocar acumulação de sedimentos e
obstrução (bloqueio) na seção de redução.

H. MATA-LIMA, PhD 20
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Exemplo de Aplicação-1a:
Determine a vazão de ponta em mgd e m3/s para uma área urbana
de 800 acre com as seguintes características:
▪ esgoto doméstico – 90 gpcd
▪ esgoto comercial – 15 gpcd
▪ infiltração – 600 gpd/acre
▪ densidade populacional – 20 pessoas por acre
▪ fator de ponta instantâneo (fp) – 3,0.
Conversão de unidades:
Legenda: | 1 m3 = 1000 l e 1 ml = 106 l
mgd – million galons per day | 1 mgd = 1,55 cfs = 700 GPM
cfs – cubic feet per second (ft3/s) | 1 mgd = 0,044 m3/s
GPM – gallons per minute
gpcd – gallons per capita per day

H. MATA-LIMA, PhD 21
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Exemplo de Aplicação-1b:
Resolução
Cálculo do escoamento médio por cada setor:
▪ Doméstico: 90*20*800 = 1 440 000 gd = 1,44 mgd
▪ Comercial: 15*20*800 = 240 000 gd = 0,24 mgd
▪ infiltração – 600*800 = 480 000 gd = 0,48 mgd
▪ Vazão média total (Qm) = 1,44 + 0,24 + 0,48 = 2,16 mgd
▪ Vazão de ponta = fp*Qm = 3,0*2,16 = 6,48 mgd
= 6,48*0,044 = 0,29 m3/s

H. MATA-LIMA, PhD 22
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA
Exemplo de Aplicação-2a:
Um coletor com escoamento de 10 cfs entra num poço de visita A
(PV-A) que dista 120 m (400 ft) do poço de visita B (PV-B). As cotas
da superfície da estrada no PV-A e PV-B corresponem a 50,7 m e
50,0 m, respetivamente. Considere que o topo do coletor tem que
estar a 1,80 m de profundidade relativamente à superfície da
estrada em cada poço de visita. Admitindo que o coletor é de
concreto (n = 0,013 m1/3s-1) e que a velocidade tem que situar-se
no intervalo [0,6 m/s – 3,0 m/s], determine o diâmetro do coletor
para transportar o escoamento com:
(a) seção cheia (h = D)
(b) h = ½ D.

H. MATA-LIMA, PhD 23
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

OBRIGADO PELA ATENÇÃO!

H. MATA-LIMA, PhD 24
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NUVOLARI, ARIOVALDO (org.). Esgoto Sanitário: coleta, transporte,
tratamento e reúso agrícola. 2ª edição, São Paulo: Blucher, 2011.

H. MATA-LIMA, PhD 25

Você também pode gostar