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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS


DISCIPLINA: FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
PROFESSOR: POLICARPO LIMA

RESENHA DO FILME:
O POVO BRASILEIRO
(DARCY RIBEIRO)

MÁRIO CÉSAR RAMOS GOMES


(ALUNO)

RECIFE, 07 DE AGOSTO DE 2019


O documentário “O Povo Brasileiro”, inspirado no livro homônimo do
antropólogo Darcy Ribeiro, apresenta aquilo que seriam as “matrizes” constituintes
da nação brasileira: a Matriz Tupi, a Matriz Africana e a Matriz Lusa. Embora a
película privilegie em sua narrativa o enfoque histórico e, bem como, os aspectos
antropológicos da gestação da “brasilidade”, a obra em análise permite-nos,
contudo, vislumbrar os pressupostos socioeconômicos daquilo que viria a constituir-
se na formação econômica do Brasil.
Neste sentido, a cultura manifesta-se como o suporte primário à
consecução dos processos econômicos. O quê faz de nós sermos o quê somos traz
nesses traços culturais mais longínquos as raízes da nossa identidade que hora se
manifesta em todas as nossas relações sociais e econômicas.
A película retrata o “achamento” do Brasil como sendo um projeto da
expansão mercantil e territorial europeu em busca de novas rotas comerciais e
entrepostos. Neste sentido é dramático notar como o Brasil, meio milênio depois,
ainda não conseguiu se desvencilhar por completo deste projeto originário, isto é,
continuar sendo um exportador de gêneros primários aos países do capitalismo
central.
O amálgama cultural que nos formou é, porém, fruto do entrechoque
dessas culturas díspares, heterogêneas e complexas. Unidas pela força da violência
do colonizador, o Brasil será, congenitamente, uma nação marcada pelo signo da
diversidade, apesar de todas as tentativas eugenistas de uniformizar nossa etnia.
Da “matriz” Tupi herdamos uma miríade nomes geográfico que permitiu
ao colonizador a capacidade de se locomover nessa vasta imensidão da floresta
tropical. Incorporamos também hábitos como o do asseio diário, a preocupação com
a aparência, a culinária e o uso de plantas medicinais bem como uma agricultura
com vários espécimes domesticados.
Da “matriz” Lusa (e, por conseguinte, também, moura), herdamos as
instituições cartoriais, a primazia das leis, à língua hegemônica, a afeição ao
comércio, a religiosidade e o aparato técnico (arquitetura, navegação, etc.). Um fato
importante que a película retrata é a desmistificação sobre a nossa suposta
inferioridade enquanto nação por termos sido colonizados por Portugal. Porém, o
comentário enfatiza que, à época, Portugal, ocupara a posição de vanguarda no
desenvolvimento técnico, cultural, político e econômico dentre os estados-nação, em
formação, europeus.
Da “matriz” Africana herdamos a criatividade, a musicalidade inventiva,
a “vogalização” do português e uma culinária rica em temperos e misturas. Da matriz
africana devemos também o trabalho sobre o qual se fundou esta nação. No dizer de
Gilberto Freire, a presença testemunhal das mãos, dos braços, do suor e do sangue
negro está inscrita desde paisagem das cidades coloniais ao desenvolvimento
econômico primeiro do açúcar, depois do ouro, borracha e do café que por seu turno
viabilizaram a construção do brasil moderno, bem como, de parte sensível da
acumulação capitalista dos países centrais.
Os ecos da nossa formação reverberam e fazem-se sentir até os dias
de hoje. A tarefa de construir um país voltado para suas necessidades internas, a
abolição por completo dos vestígios da escravidão, hoje latente na brutal
desigualdade social, ainda são tarefas por serem feitas.

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