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Redes Técnicas e Serviços Ambientais: integrando qualidade

ambiental e de vida nas cidades (título)

Graziella Cristina Demantova (autor)


DEDICATÓRIA

À rede da minha vida: meus pais Carlos e Aguida, e ao meu filho Vitor,
conexão maior da vida.
AGRADECIMENTOS

O conteúdo desse livro é resultado de uma pesquisa de doutorado:“Redes Técnicas

Ambientais: diversidade e conexão entre pessoas e lugares”, defendida em 2009 na Faculdade

de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP). Para a realização deste trabalho foi importante a participação

de algumas pessoas, às quais ofereço meus agradecimentos.

A orientadora da tese, professora Dra. Emilia Wanda Rutkowski, pelas conversas,

incentivo e oportunidades oferecidas que contribuíram para a construção da tese e para

a descoberta de um novo caminho de pesquisa.

Aos professores que participaram da banca de qualificação e de defesa da tese de

doutorado que agora vira livro, professora Dra. Maria Adélia Aparecida de Souza

(USP), professora Dra. Roseli Buzanelli Torres (IAC), professor Dr. Luiz Antonio Nigro

Falcoski (DeCiv-UFSCAR), professor Dr. Leandro Silva Medrano (FEC-UNICAMP) e

Professora Dra. Silvia Aparecida M. G. Pina (FEC-UNICAMP) pelas idéias e sugestões

que influenciaram o desenvolvimento final deste trabalho. A professora Dra. Roseli

Buzanelli Torres (IAC), agradeço também a oportunidade de participar das atividades

do “Projeto Anhumas: Recuperação ambiental, participação e poder público: uma experiência em

Campinas” (projeto temático FAPESP/2002-2006 – IAC, UNICAMP, PMC) cujos

resultados foram utilizados para a pesquisa empírica deste trabalho.

Agradeço especialmente a oportunidade de publicar esse trabalho com a editora

Annablume e com o auxílio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP). Muito obrigada.


SUMÁRIO

PREFÁCIO xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

APRESENTAÇÃO xxxxxxxxxxxxxxxxx

Capítulo 1. O Espaço Urbano

2.1 O meio ambiente urbano

2.2 O ordenamento do espaço urbano

2.3 Outra lógica de olhar e pensar o espaço urbano

Capítulo 2. As funções do verde urbano

3.1 A sustentabilidade urbana

3.2 As funções para o verde urbano

3.3 Os serviços ambientais

Capítulo 3. As Redes Técnicas

3.1 Técnica, natureza e território

Capítulo 4. As Redes Técnicas Ambientais

4.1 Os Fixos e os Fluxos da Rede Técnica Ambiental: áreas verdes urbanas e serviços
ambientais
4.2 A informação: conexão e fortalecimento da rede

Capítulo 5. Análise da oferta de serviços ambientais na bacia urbana do Ribeirão das


Anhumas (Campinas/SP)

5.1 A Bacia do Ribeirão das Anhumas

5.2 A rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas

5.2.1 FIXOS – as áreas verdes da rede técnica ambiental da bacia do Ribeirão das

Anhumas
5.2.2 INFORMAÇÃO – Informação da rede técnica da bacia do ribeirão das

Anhumas

5.3 Relações entre os FIXOS e os FLUXOS da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão
das Anhumas

5.4 Ações para o fortalecimento da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das
Anhumas

Capítulo 6. Considerações finais

Referências bibliográficas
PREFÁCIO

Encomendada à coordenação da pós-graduação da Faculdade de Engenharia Civil,


Arquitetura e Urbanismo (FEC/UNICAMP)
APRESENTAÇÃO

Encomendada à orientadora da tese de doutorado, que agora vira livro, professora Dra.
Emília Wanda Rutkowski do depto. De Saneamento e Ambiente (DAS) da Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC/UNICAMP)
INTRODUÇÃO Como promover a qualidade ambiental e de vida nas cidades?

É difícil entender por que, apesar do avanço nos estudos, pesquisas, tecnologias e

idéias, muitas delas críticas e novas sobre sustentabilidade urbana, cidades ecológicas,

edifícios verdes, ainda não conseguimos mudar de forma ampla e efetiva a realidade

socioambiental nas cidades. Apesar de já ser reconhecida a relação entre qualidade

ambiental e de vida, mais do que aprender as ciências ambientais para solucionar os

problemas do nosso tempo, é preciso repensar a relação entre sociedade e natureza, e

aprender com esta nova racionalidade a fim de buscar outras formas de reapropriação

do mundo que reconheçam a importância da diversidade social e ambiental na

formação dos territórios.

Porém, parece que as ações de planejamento territorial vigentes são carentes de

um método de análise espacial que privilegie as relações da sociedade no uso e

ocupação do espaço. A grande maioria parece ainda buscar entender apenas os

impactos socioambientais de certas atividades, tendo como resultados mais diretos a

criação de normas de uso e ocupação do solo e legislação que restringem usos para um

espaço homogeneizado, a fim de minimizar o impacto da ação humana sobre o meio

ambiente. Não vemos ainda ações que analisem e considerem a lógica de ocupação

espacial em sua totalidade, com todos os agentes envolvidos. Como conseqüência, ao

não apreender a realidade do território vivido, os planos, programas e projetos

ambientais, dentre outros, não conseguem promover as mudanças desejadas porque não

conseguem adequar as idéias aos lugares e às pessoas que neles vivem.

A construção de um novo saber ambiental, para além daqueles voltados

exclusivamente ao entendimento dos processos ecológicos e impactos ambientais

sofridos, depende necessariamente de outras formas de apreensão do mundo. É preciso


pensar possibilidades de integrar as dinâmicas sociais, que produzem e moldam o

território, com as dinâmicas ambientais que conferem qualidade aos lugares. Nesse

sentido as redes técnicas ambientais são apresentadas neste livro como uma estratégia

metodológica de planejamento e gestão ambiental das áreas verdes urbanas a fim de

promover qualidade ambiental e de vida nas cidades.

Desde a publicação do relatório Bruntland (Nosso Futuro Comum) em 1987 pela

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, quando o conceito de

desenvolvimento sustentável foi divulgado internacionalmente, as metas pretendidas

para o alcance do desenvolvimento sustentável não conseguem ser atingidas

plenamente. Ainda vemos e presenciamos em muitas cidades e lugares, para além da

degradação ambiental, a ampla degradação do espaço construído e vivido das cidades,

materializada na degradação contínua da qualidade de vida da população.

Além de fatores políticos e econômicos, outro fator que dificulta o alcance de tais

metas são as concepções de espaço urbano, adotadas de forma consciente ou não pelos

profissionais envolvidos com a temática urbana. Tais concepções acabam influenciando

a escolha de métodos de análise espacial e a concepção de projetos que não reconhecem

as relações sociais no uso e ocupação do espaço e conseqüentemente as ações são

pensadas e executadas, em um espaço que não foi reconhecido em sua totalidade.

Concepções de espaço equivocadas acabam induzindo a formulação de projetos

cujas idéias encontram-se desconectadas do espaço real e por isso, mesmo com alguns

ganhos pontuais, as melhorias não se mantém. Como conseqüência direta, pela não

consideração das dinâmicas sociais no uso e na produção do espaço, as políticas, planos,

programas e projetos de planejamento territorial, não conseguem atingir os objetivos

propostos de mudança socioambiental, porque na verdade são pensados para o que a

cidade DEVE SER como desenho e forma física, e não para o QUE ELA É, permeada de

dinâmicas de usos próprios de cada lugar, conflitos e contradições.

Esta visão desconecta da dinâmica de uso social do espaço, percebe a cidade


como um espaço absoluto e é adotada de forma consciente ou não pelos profissionais do

urbano. Esta percepção não apenas influencia a organização espacial das cidades, ou

seja, a construção das edificações, infra-estruturas e organização dos serviços, como

também influencia e sempre influenciou as pesquisas e projetos que buscam atingir ou

melhorar o grau de sustentabilidade urbana. Assim, as propostas de melhoria da

qualidade ambiental e de vida nas cidades continuam, desde a divulgação do conceito

de desenvolvimento sustentável em 1987 (relatório Bruntland) a ter como foco exclusivo

a materialidade da natureza e a ecoeficiência na utilização dos recursos naturais:

preservar a quantidade e a qualidade.

A influência da não consideração das relações sociais na elaboração de ações e

instrumentos de planejamento e ordenamento do território, induziu que os processos

sociais de produção e consumo do espaço ocorressem de maneira paralela às normas de

uso e ocupação do solo criadas e implementadas, porque estas não foram pensadas para

a realidade concreta e vivida do espaço. Tais normas e instrumentos legais, em sua

maioria, parecem ter sido elaborados a partir de uma concepção de espaço como um

todo homogêneo, sem diversidade espacial e social. Na elaboração dessas normas e

instrumentos, como também em outras práticas de organização espacial, não só as

relações sociais, mas também os conflitos e as contradições inerentes da sociedade

tendem a ser minimizados ou até mesmo desconsiderados.

Ao invés de serem elaboradas novas estratégias metodológicas, tanto para a

análise espacial como para criar instrumentos a fim de operacionalizar propostas que

ampliem o grau de sustentabilidade em suas dimensões social e ambiental, o que se

percebe é a repetição continua e equivocada das premissas colocadas para se atingir o

desenvolvimento sustentável (ecoeficiência na utilização dos recursos naturais). Parece

que os planejamentos de usos futuros (como é o caso da elaboração de Planos Diretores)

estão fundamentados na mesma lógica, com a adoção da visão de espaço absoluto

referida, homogeneizando os espaços através de uma lógica zonal de planejamento.


Mais uma vez desconsiderando as relações sociais transformadoras do espaço. É preciso

estar atento ao risco da manutenção desta lógica de organização espacial, que ao invés

de promover ou melhorar, tende a agravar a qualidade ambiental e de vida nas cidades.

Para a proposição de ações de intervenção espacial que consigam de forma

efetiva transformar a realidade concreta das cidades é necessário antes da formulação de

boas idéias, melhor compreender o conceito de espaço urbano, defendido aqui como o

caminho inicial para operacionalizar as propostas vinculadas a melhoria ou promoção

da sustentabilidade. Pode-se dizer que estudar apenas a forma espacial dos objetos e a

distribuição geográfica dos mesmos, não irá promover uma compreensão real dos

condicionantes que formam a paisagem atual, e assim as propostas de organização

espacial não irão contribuir de forma efetiva para a melhoria ou manutenção da

qualidade ambiental e de vida, porque estarão desconectadas da realidade do território

vivido e usado.

Foi a partir da constatação da adoção da visão de espaço absoluto, estritamente

físico-material, onde apenas a introdução de objetos técnicos é vista como indutora das

mudanças desejadas, e pela necessidade de se buscar outras visões que analisassem o

espaço urbano em sua complexidade, não apenas como um sistema técnico, nem como

uma reserva de mercado ambiental para o sistema capitalista de produção, mas como

um sistema socioambiental, que o conceito de rede técnica ambiental foi construído

neste trabalho.

A estruturação das redes técnicas ambientais é defendida aqui enquanto uma

estratégia metodológica para a gestão das áreas verdes urbanas, como instrumento de

auxílio às decisões de planejamento e projetos urbanos. Este caminho alternativo foi

trilhado através do diálogo da arquitetura com a geografia e com a filosofia. A geografia

para o entendimento da categoria espaço, principalmente com Milton Santos (1996,

1997), e a filosofia para o entendimento da noção e do conceito de rede, com a

contribuição principal de Pierre Musso (2004).


O entendimento do processo de construção e conceituação do conceito de rede,

explicado pela filosofia, nos mostra possibilidades reais de integração entre a

materialidade do território e as dinâmicas sociais. Condição defendida neste livro como

um dos caminhos fundamentais para a promoção ou melhoria da sustentabilidade em

suas dimensões ambiental e social.

Através da constituição e estruturação de redes técnicas ambientais é possível

construir um caminho para se reverter o processo de degradação ambiental na medida

em que a implantação de tais redes no território estimula o processo de re-integração do

ser humano ao ambiente do seu entorno, numa tentativa de recolocar as idéias nos

lugares. Nesse sentido a constituição e estruturação das redes técnicas ambientais surge

como um dos caminhos possíveis para a construção de um processo de sustentabilidade

urbana em suas dimensões social e ambiental. Acreditando ser este o potencial

transformador das mudanças desejadas.

O caminho proposto para melhorar a qualidade ambiental e de vida nas cidades

através da estruturação e constituição das redes técnicas ambientais, enquanto estratégia

metodológica para gestão das áreas verdes urbanas é resultado da reflexão crítica de três

temas principais: espaço urbano, sustentabilidade urbana e redes técnicas, que foram

estruturados nos capítulos deste livro.

No capítulo 1 “Espaço urbano” é feita uma tentativa de explicar a categoria

espaço em função do diálogo estabelecido com a geografia, por acreditar que a não

compreensão da complexidade urbana acaba influenciando um olhar equivocado sobre

a realidade das cidades e como conseqüência as propostas de intervenção não atingem

os objetivos porque não foram pensadas para a realidade vivida.

Por isso, um esclarecimento sobre a categoria espaço é fundamental para iniciar

qualquer discussão sobre sustentabilidade. Tais esclarecimentos são fundamentais para

justificar também as críticas feitas aos modelos de planejamento territorial que

continuam a pensar apenas na materialidade do espaço, desconsiderando as relações


sociais de uso, porque os profissionais adotaram, em sua maioria, uma visão de espaço

absoluto. Mas isso também se repete no campo de ação ambiental, onde a visão de

espaço absoluto também é adotada para o tratamento das áreas verdes urbanas (item 1.1

O meio ambiente urbano). Esses fatores dificultam ou até inviabilizam a sustentação das

melhorias ambientais e sociais atingidas ou desejadas (item 1.2 O ordenamento do espaço

urbano).

Ao final do capítulo 1 são apresentadas as críticas de alguns estudiosos do espaço

urbano aos modelos vigentes de planejamento e ordenamento territorial para reforçar a

necessidade do desenvolvimento de uma lógica de intervenção mais condizente e

adequada à realidade física e social (item 1.3 Outra lógica de olhar e pensar o espaço urbano

na solução da problemática ambiental).

No capítulo 2 “As funções do verde urbano” é trazida a discussão sobre as

categorias de espaço para mostrar que, no que diz respeito à relação das áreas verdes

com a sustentabilidade, estas também são pensadas apenas enquanto objetos técnicos

com um fim específico: aumentar a ecoeficiência na utilização dos recursos naturais, sem

pensar em outras possibilidades de uso pelas pessoas em seu cotidiano. Isso ocorre

porque também o meio ambiente urbano é concebido como um espaço absoluto,

estritamente físico-natural, e assim a defesa da sustentabilidade acaba restrita em

preservar quantidade de recursos naturais. Esse é o contexto discutido e criticado neste

capitulo para fomentar uma discussão sobre a ampliação do conceito de

sustentabilidade em todas as suas dimensões (item 2.1 A sustentabilidade urbana).

Associada à ampliação da sustentabilidade urbana sugere-se também a ampliação

do entendimento das demais funções que os ecossistemas urbanos, ou as áreas verdes

urbanas podem desempenhar (item 2.2 Outras funções para o verde urbano). Ainda neste

capítulo é proposta uma classificação destas outras funções a partir de quatro categorias

de serviços ambientais que os ecossistemas podem ofertar, atendendo aos objetivos de

preservação ambiental e de melhoria da qualidade de vida (item 2.3 Serviços Ambientais).


Após a discussão da categoria espaço (capítulo 1), do conceito de sustentabilidade

e das funções para as áreas verdes, dentro de outra forma de olhar e compreender o

território (capitulo 2), e das críticas feitas às ações de planejamento e ordenamento

territorial influenciadas pela visão de espaço absoluto, foi constatada a dificuldade da

lógica de organização espacial dominante atingir a transformação socioambiental

necessária (itens 1.2 O ordenamento do espaço urbano e 1.3 Outra lógica de olhar e pensar o

espaço urbano).

A partir dessa constatação foram investigadas outras possibilidades de

intervenção espacial que integrem a dinâmica social de uso e ocupação do espaço na

introdução de objetos técnicos no território. A alternativa encontrada foi possível após o

entendimento do conceito de rede, exposto no capitulo 3 “As redes técnicas”, a partir do

qual é iniciada de forma mais detalhada a proposição da conceituação de redes técnicas

ambientais.

Após o entendimento da noção e do conceito de rede (introdução do capítulo 3 e

item 3.1 Técnica, natureza e território - o meio científico-técnico-informacional) é apresentada

uma nova proposta de organização espacial das áreas verdes urbanas através da

constituição de redes técnicas ambientais no território (capítulo 4). A constituição das

redes técnica ambientais é uma estratégia metodológica com o potencial de contribuir

para a gestão das áreas verdes urbanas, integrando preservação e conservação ambiental

à promoção da qualidade de vida.

Com o objetivo de pensar na possibilidade concreta de constituição dessas redes

técnicas e também de analisar seu potencial de ação transformadora de realidades

ambientais e sociais, foram analisadas os fixos (áreas verdes) e fluxos (informação) da

rede técnica ambiental existente na bacia do ribeirão das Anhumas em Campinas - SP.

Esta análise é apresentada no capítulo 5 “Estudo de caso: a bacia urbana do ribeirão das

anhumas” a partir das informações produzidas pela equipe do “Projeto Anhumas:


Recuperação ambiental, participação e poder público: uma experiência em Campinas” (projeto

temático FAPESP/2002-2006 – IAC, UNICAMP, PMC).

No capítulo 6 “Considerações Finais” é reforçada a necessidade de se mudar a

lógica da organização espacial urbana que ao invés de melhorar a qualidade ambiental

de vida nas cidades, vem de forma crescente e cumulativa fazendo o contrário. Nesse

sentido, aponta-se e justifica-se a possibilidade de reverter essa situação através da

utilização de uma estratégia metodológica para a gestão das áreas verdes urbanas: a

constituição de redes técnicas ambientais que promovem o atendimento das demandas

locais por qualidade ambiental e de vida de forma integrada às ações de preservação

ambiental. Neste capítulo justifica-se a proposta de mudança a partir das redes técnicas

ambientais pela defesa de que estas carregam o potencial transformador desejado,

porque conectam as pessoas a todas as dimensões do espaço urbano (física, ambiental e

humana) e assim promovem o reposicionamento e a integração total do ser no espaço

em que vivem.
Capítulo 1. O espaço urbano

“(...) a cidade não é, por natureza, uma criação que possa ser reduzida a uma só idéia básica”
(ROSSI, 2001:147)

Como resultado do processo de reflexão sobre a problemática ambiental urbana,

constata-se a necessidade primeira de mudança da visão de um espaço absoluto

(estritamente físico) para a de um espaço relativo (social, integrado aos recursos naturais

e processos ecológicos). A partir da compreensão da categoria espaço, a conceito de rede

técnica ambiental se apresenta como possibilidade de intervenção indutora de

transformações sociais e ambientais em direção a sustentabilidade urbana.

Nesse sentido é importante frisar que o espaço urbano não representa somente a

forma construída, a materialidade existente no território. O espaço urbano e seus

elementos constituintes não podem ser vistos como objetos estáticos, imóveis, nem

tampouco a cidade como uma obra de arte apenas. Deve sim ser considerada e estudada

como um processo vivo, que se faz e desfaz constantemente de forma readaptar-se,

através de ações de planejamento e ordenamento territorial que atendam às novas

exigências impostas (Goitia, 1982:205).

Henri Acselrad argumenta que:

“A redução da durabilidade da cidade à sua dimensão estritamente material tende a


descaracterizar a dimensão política do espaço urbano, desconsiderando a complexidade da
trama social responsável tanto pela reprodução como pela inovação na temporalidade
histórica das cidades” (Acselrad, 2001: 50).

Porém, em um primeiro momento pode-se pensar ou perceber o espaço urbano

das cidades como um:

“(...) conjunto de diferentes usos de terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas,
como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de
gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo
social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão” (Zmitrowicz,
1998:4).

Outras vezes associam-se os elementos constituintes do espaço urbano com os

elementos da “estrutura” urbana materializados nas edificações, trama viária, acidentes

geográficos, disposição espacial dos usos do solo, redes e equipamentos de infra-

estrutura e serviços urbanos sociais (Zmitrowicz, 1998:4-5).

Tal percepção física do espaço não deve ser evitada, uma vez que as cidades são

constituídas por diversas estruturas urbanas. O importante é não possuir uma visão

estática e mono funcional de todos esses elementos de forma a adaptá-los às constantes

mudanças nas dinâmicas de uso do espaço. Witold Zmitrowicz defende que as

estruturas não são fixas nem constantes podendo ser transformadas ao longo do tempo,

de forma consciente ou não, pela ação do ser humano ou resultante de processos

naturais, na conformação e desenvolvimento de atividades no espaço “(...) moldando s

principais traços da presença humana no território” (Zmitrowicz, 1998:22).

Mas, diferente deste pensamento percebe-se que a apreensão do espaço urbano

está relacionada, a primeira vista, apenas às formas físicas e aos usos diferenciados. Tais

formas e usos fazem parte do que é comumente conhecido como ambiente urbano e que

está contido dentro dos limites administrativos das cidades. Apesar de estes serem

objeto de estudo para ações de melhoria, revitalização, reurbanização e restauração de

elementos e/ou áreas, nem sempre se leva “(...) em conta os processos sócio-produtivos e a

cidade real deles decorrentes” (Rodrigues, 1998:92). Tal prática nos remete a visão de

espaço absoluto.

Esta visão está intimamente relacionada à noção de espaço como vazio, mais

próxima do senso comum e que tem suas origens nos séculos XVII e XVIII através das

idéias e posições de Newton e Kant. Eugênio Queiroga nos conta que:


“Newton considera o espaço um absoluto, imutável o espaço como void, vazio. Para o principal
mestre da física clássica, o espaço relativo seria apenas uma medida de espaço absoluto. O tempo,
segundo Newton, era um continuum, um tempo tão absoluto quanto o espaço. Tempo e espaço
separados, esta noção é responsável pelo dualismo história-geografia e até hoje se impõe, não
apenas ao senso comum, mas a muitos cientistas sociais e arquitetos, entre outros. A noção
kantiana de espaço mais conhecida, ao menos entre geógrafos e arquitetos, é a que afirma serem o
espaço e o tempo representados a priori, fundamentos necessários dos fenômenos externos. O
espaço como um receptáculo, um” container”, o espaço continente, uma espécie de moldura
tridimensional para coisas e eventos” (QUEIROGA, 2001:36-37).

Esta apreensão de espaço como um receptáculo sustenta-se na concepção de

espaço absoluto de Isaac Newton1, caracterizada pela não possibilidade de se produzir o

espaço, mas sim e apenas em produzir uma ocupação no espaço (Oliva, 2001:6). Para Neil

Smith (1984) é este conceito de espaço absoluto de Newton que indiretamente informa o

senso comum com relação ao espaço e influência as visões adotadas nas análises

espaciais. Em sua argumentação o autor afirma que “(...) todos nós concebemos o espaço

como vácuo, como receptáculo universal no qual os objetos existem e os eventos ocorrem, como

um quadro de referência, um sistema coordenado (juntamente com o tempo) em que toda a

realidade existe” (Smith, 1984:111).

De acordo com Neil Smith, a história da concepção das visões e conceitos de

espaço “(...) é marcada por uma contínua abstração do espaço em relação à matéria” (1984:112).

Apesar de esta ser a visão que prevalece atualmente, segundo relato do autor não foi

assim nas sociedades primitivas. Nestas “A terra não é uma parte do espaço existindo dentro

de um sistema maior. Pelo contrário, ela é vista em termos de relações sociais. As pessoas, como

parte da natureza, são intimamente ligadas a terra” (Sack apud Smith, 1984:112).

Ora, se não é mais esta visão que predomina nos estudos ambientais urbanos, e

sim a primeira, então podemos concluir que um dos motivos da desconsideração das

1
Citando a definição de espaço absoluto e relativo do próprio Newton, em texto de Smith (1984:111): “O espaço
absoluto, em sua própria natureza sem relação com qualquer coisa exterior, sempre permanece semelhante e imóvel. O espaço
relativo é uma dimensão ou medida um tanto mutável dos espaços absolutos, que nossos sentidos determinam por sua posição em
relação aos corpos”. Para Smith foi somente com a definição de Newton que a distinção entre espaço absoluto e relativo
tornou-se explícita.
relações sociais na organização do espaço ocorre porque entende-se que a sociedade só

pode consumi-lo, tendo a capacidade restrita de produzir uma ocupação no espaço para

tal consumo. Ou melhor dizendo, o espaço apenas suporta ou mantém as relações

sociais, assumindo a característica de receptáculo (Oliva, 2001). Esta noção de espaço

receptáculo, como um vazio a ser preenchido é muito comum entre os profissionais do

urbano. Para eles é necessário preencher este espaço com densidades e usos a fim de

repartir os seres humanos em um certo número de compartimentos no espaço (Bettanini

apud Queiroga, 2001:38).

Mas outra concepção de espaço existe e será descrita a seguir pois é nesta que está

fundamentada a discussão da sustentabilidade em suas dimensões ambientais e sociais.

Eugênio Queiroga (2001) nos conta que os autores da escola francesa de

geografia, no início do século XX, elaboraram um conceito de espaço mais humanizado,

aproximando a teoria espacial mais geral e o espaço concreto, vivido pelo homem

(2001:38). De acordo com este autor este conceito enfatiza o papel da sociedade como

criadora de configurações geográficas, e nesse sentido o ambiente não é mais visto como

física pura, já que considera a influência da ação humana na criação e transformação dos

espaços. “O espaço, para os autores “clássicos” da geografia humana francesa, é o meio (mileu)”

(Queiroga, 2001:38).

Em sua tese de doutorado, Eugênio Queiroga (2001) fez um levantamento dos

principais autores da geografia francesa humana e uma breve descrição de suas posições

que serão apresentadas aqui para reforçar a necessidade de se olhar para o espaço

urbano como um conjunto de sistema de objetos e de sistema de ações, conforme propôs

Milton Santos e não apenas como um espaço vazio que deve ser preenchido.
Quadro 1. A concepção de espaço para alguns autores da geografia francesa humana
O espaço para alguns autores da geografia humana francesa
Autor Idéias, conceitos, visões e concepções
Jean Brunhes “(...) os fatos da realidade geográfica são estreitamente ligados
entre si e devem ser estudados através de suas múltiplas
conexões” – inter-relação da geografia física e da geografia
humana
Vidal de La Blache “princípio da unidade terrestre” (...) “a concepção da Terra como
um todo, cujas partes estão coordenadas e no qual os fenômenos se
encadeiam” – geografia é a ciência dos lugares e não dos
homens, mas estes têm papel central da produção dos
lugares
Albert Démangeon “(...) a expressão meio geográfico é mais significativa do que a de
meio físico: abarca não somente as influências naturais, mas ainda
uma influência que contribui para o meio geográfico, o
environment integral: a influência do próprio homem”
Lucien Febvre “a terra habitável era, sobretudo, produto do “ (...) trabalho
humano. Cálculo humano, movimentos humanos, fluxos e
refluxos incessantes da humanidade, em primeiro plano, sempre o
homem e não o solo ou o clima”– oposição à visão mecanicista e
funcionalista da ação humana
Maximillien Sorre “a área habitada da terra – o meio (milieu) é uma criação do
homem “... o espaço humano é descontínuo e não homogêneo”
Fonte: QUEIROGA, 2001: 38-39

Nos anos oitenta outro autor, David Harvey (1980) passa a abordar o espaço

também sob outro enfoque, o concebendo como sendo ao mesmo tempo absoluto (com

existência material), relativo (como relação entre objetos) e relacional (espaço que

contém e que está contido nos objetos). Outras concepções também foram desenvolvidas

acerca do espaço, como a de Milton Santos (Suertegaray, 2001). Segundo Eugênio

Queiroga (2001), o trabalho de Milton Santos cumpriu o que foi enunciado por Max

Sorre. Sorre defende a necessidade de se revisar o conceito de espaço diante dos avanços

técnicos e das transformações que estes provocavam (2001). A seguir seguem algumas

definições de Milton Santos sobre o espaço:

“(...) a essência do espaço é social”


“(...) o espaço banal é todo o espaço, é o espaço geográfico. O território usado é o espaço. O espaço
é a extensão. Que se dá pela funcionalidade do mundo, num dado momento. O espaço concreto é
um só, deve ser ele o objeto da geografia”
“O espaço não é nem uma coisa, nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional,
coisas e relações juntas (...) O espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de
que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos
sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja,a sociedade em movimento (...)”
(QUEIROGA, 2001: 41-43)

Milton Santos também entendia o espaço geográfico, para além de objetos

materiais e relações entre eles, como a “acumulação desigual de tempos” onde coabitam

formas de viver, materializações, e tempos tecnológicos diferentes. Para este autor, o

espaço é “conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistema de ações” (1996:21).

De acordo com estas idéias, para Roberto Lobato Correa (1995) o espaço é

simultaneamente fragmentado e articulado, tendo em vista que cada uma das suas

partes mantém relações espaciais com as outras com intensidade diferentes. As relações

espaciais estabelecidas são responsáveis pela articulação do espaço, enquanto os

processos sociais são responsáveis por sua fragmentação. Isso porque a dinâmica de

organização espacial é realizada de forma segregada, pela divisão do espaço em áreas

residenciais, comerciais, industrias, entre outras.

Feitas as devidas distinções entre as duas categorias, pode-se dizer que a

principal diferença entre elas é que enquanto em uma (a de espaço absoluto) o espaço é

um objeto receptáculo, na outra categoria (de espaço relativo) ele é um sistema de

objetos e a vida que os anima, e por isso é constituído de objetos interconectados e

interdependentes (Godoy, 2004). Esta última concepção é a que fundamenta a

construção da noção de rede técnica ambiental, na medida em que o sistema de objetos

será representado pelas áreas verdes urbanas e as conexões serão realizadas pelo fluxo

de informação, movidos e sustentados pela vida que os anima, as pessoas que vivem no

lugar. As conexões irão influenciar a organização espacial do espaço a partir de


mudanças e ações individuais, como também coletivas e concretas na melhoria física dos

espaços existentes.

Também é importante uma breve explicação sobre a adoção do termo urbano

para a discussão da sustentabilidade. Arlete Moysés Rodrigues (2004) nos explica que o

urbano, enquanto resultado do processo de urbanização, diz respeito á um modo de vida

que atinge as áreas urbanas e rurais. A autora argumenta que apesar de uma parcela da

população exercer atividades primárias, que se relacionam com as indústrias, comércio e

serviços, o Brasil é sim um país urbano (Rodrigues, 2004). De acordo com a autora “O

urbano deve ser entendido não como uma realidade acabada mas como um horizonte de

transformações territoriais, sociais, políticas e econômicas, considerando que se trata de um modo

de vida da atualidade” (Rodrigues, 2004:6).

1.1 O meio ambiente urbano

A partir do entendimento de que o espaço urbano não é apenas aquele da

materialidade dos objetos e receptáculo de acontecimentos, mas sim um espaço total o

“meio ambiente” pode ser visto de outra forma nas cidades, para além dos recursos

naturais disponíveis que podem ser utilizados para a reprodução do capital inseridos no

processo produtivo.

No espaço urbano o meio ambiente não é aquele apenas onde são reproduzidos

os processos ecológicos, mas sim aquele que possui “(...) uma abrangência comparável à

noção de espaço social, incluindo necessariamente a sociedade, a economia, a política e a própria

ecológica entre os aspectos que o conformam” (Monte-Mór, 1994:179-180 nota 3). Para Arlete

Moysés Rodrigues o meio ambiente urbano é “(...) o conjunto das edificações, com suas

características construtivas, sua história e memória, seus espaços segregados, a infra-estrutura e

os equipamentos de consumo coletivos”.

O meio ambiente urbano é a sua totalidade e não apenas a quantidade e

qualidade dos recursos naturais existentes, porém “(...) poucas vezes a Cidade é pensada
como parte do ambiente natural onde está inserida” (Rodrigues, 1998:94). Para a autora “(...)

o meio ambiente ”natural” está cada vez mais ausente no “meio ambiente urbano”, porque dele

foi banido através das formas concretas de desenvolvimento (enterrando-se os rios, derrubando-se

vegetação, impermeabilizando terrenos, calçadas, ruas, edificando-se em altura - criando solo

urbano, etc)” (Rodrigues, 1998:90).

Para muitos o meio ambiente ou é aquele da ecologia e da biologia necessário

para a realização dos processos ecológicos, que são protegidos legalmente, ou aquele

dos contextos urbanos que é visto em praças e jardins, na arborização de ruas e canteiros

centrais de avenidas e em alguns parques e bosques públicos com o objetivo principal

de embelezamento. Para Rodrigues “O meio ambiente urbano parece, assim, referir-se ao

ambiente construído” (Rodrigues, 1998:88). O que nos remete à noção de espaço absoluto,

estritamente físico-material.

No senso comum o meio ambiente é aquela entidade visível e benéfica à

qualidade de vida, mas que sofre diversos tipos de impactos ambientais e por esse

motivo está cada vez mais deteriorado e com o seu fim próximo.

Arlete Moysés Rodrigues (1998) nos conta que:

“O ”meio ambiente natural” tem sido (re)incorporado como demonstrativo de qualidade


de vida que pode ser comprada como: o “ar puro” e/ou a possibilidade de morar próximo
ao “verde”, ao sossego, etc. dos loteamentos “modernos” ou ao lazer dos parques públicos
ou de prédios ‘inteligentes”. É também incorporado pela medida de quantidade de “verde”
disponível por habitante” (Rodrigues, 1998:90).

Nesse sentido, para o desenho e introdução de áreas verdes ainda prevalece a

lógica da introdução de espaços verdes como se apenas esta ação fosse por si só tivesse a

capacidade de induzir processos de mudança ou melhoria da qualidade ambiental ou de

vida. Como tem relação direta com o grau de qualidade de vida as áreas verdes nas

cidades são muito desejadas e necessárias.


Porém tais mudanças não ocorrem quando as idéias por trás dos projetos, em sua

grande maioria, valorizam apenas a forma de distribuição espacial das espécies, a

estética, sem considerar outros usos e relações que podem ser estabelecidas com a

população do entorno imediato que se relacionam mais diretamente com estes espaços.

Essa prática parece estar vinculada as intenções primeiras do uso do verde

urbano, associadas à função de contemplação presente nos jardins antigos, que ainda

não privilegiavam uma função utilitária à estes espaços, que foi incorporada apenas no

século XIX (Loboda e De Angelis, 2005).

Apesar dos avanços e modificações na lógica da concepção dos jardins e espaços

verdes, principalmente a partir do adensamento das cidades, e da crescente

preocupação com a qualidade ambiental das mesmas, talvez a predominância da visão

de espaço absoluto tenha influenciado a forma com que as áreas verdes são pensadas e

criadas nas cidades. Sobre as funções urbanas dos espaços verdes iremos aprofundar a

discussão no capítulo três, que tem como tema principal as funções do verde urbano.

Contudo, não é possível separar ambiente natural e ambiente construído, espaço

natural de espaço construído, tendo em vista que a chamada primeira natureza, ou

natureza intocada não existe mais. A persistente da prática de separabilidade desses

elementos, do tratamento dualista da natureza, acabam conduzindo a análises espaciais

inconsistentes sobre os espaços urbanos, por não considerar que o espaço (até mesmos

as porções de terra com cobertura de vegetação) é um produto social. Para Smith

(1984:47) desde Ricardo, Malthus e Mill, “(...) a natureza foi cada vez mais sendo considerada

um fator externo”.

Essa discussão é importante para provocar uma mudança de olhar e de intenção

na criação e desenho de espaços verdes urbanos. Isso será possível na medida em que

estes começarem a ser vistos não mais como uma natureza intocável, sem relação com

fatores e objetos externos, apenas preenchendo um compartimento no espaço, cujas leis

de proteção e restrições de uso acabam fortalecendo sua característica estática, imóvel.


Ao invés disso, a natureza deve ser vista como elemento integrante do espaço urbano

que está em constante movimento, e por ser dinâmico demanda que estes espaços sejam

adaptados e integrados à dinâmica de ocupação espacial, até para ampliar suas chances

de preservação e conservação ambiental.

Importante contribuição nesta discussão é a de Henri Lefebvre (1991:30) ao nos

alertar que se o espaço (social) é um produto (social) a primeira implicação disso seria a

desaparição do espaço natural (1991:30). Para este autor, o espaço natural, a natureza

seria aquilo que escapa a racionalidade e é atingida através do imaginário (1969:65 apud

Limonad, 2004).

Com esta afirmação é possível a realização de uma reflexão crítica sobre a

existência, ou não daquela primeira natureza, que muitos ainda tentam preservar. Hoje

em dia nada escapa à racionalidade, tudo que existe sobre a Terra sofre influência das

atividades humanas, e por esse motivo, segundo Ester Limonad (2004) “(...) mesmo as

áreas mantidas como reserva de recursos naturais, capital natural, não deixam de ser objeto da

racionalidade ao se constituírem enquanto tal”.

Ainda nesse sentido, e reforçando a inseparabilidade da natureza e da sociedade,

Neil Smith argumenta que:

“(...) colocar a natureza como sendo exterior à sociedade (um axioma metodológico
fundamental da ciência positivista, por exemplo) é literalmente absurdo, uma vez que o
próprio ato de se colocar a natureza exige que se entre numa relação com a natureza”
(1984:49).

Refletir sobre estas idéias pode induzir a mudanças na compreensão de que a

natureza não é apenas algo externo ao homem, e na elaboração de ações que visem

aprimorar a relação do ser humano com a natureza, de modo que não sejam mais

considerados separados. Para Arlete Moysés Rodrigues “Embora o homem tenha "instintos

naturais" e a própria vida seja "natural" a natureza tem sido considerada exterior ao homem e a

sociedade” (Rodrigues, 1998: 12). Para a autora este é um pensamento que deve ser
superado, para a compreensão de que a natureza não é algo isolado da sociedade ”(...)

mas pelo contrário (...) a natureza está totalmente apropriada e definida como propriedade pela

organização societária” (Rodrigues, 1998: 69).

Dirce Suertegaray (2001) argumenta que esse tipo de pensamento que dissocia

homem e natureza2 é herdado das idéias de Descartes nas quais o homem é o sujeito que

conhece e domina a natureza, tida como objeto.

O fato é que desde a formação dos assentamentos humanos, até a formação das

grandes metrópoles os recursos naturais existentes foram, e vêm sendo, transformados e

utilizados conforme as novas necessidades cotidianas, como também para o

atendimento dos novos modos de produção capitalista.

Nesse sentido, Maria Adélia Aparecida de Souza (1997) nos apresenta a cidade

como obra humana, na medida em que ela é:

“(...) um mundo de objetos, produzidos segundo procedimentos, determinados por


materialidades e regidos por intencionalidades precisas. A cidade é uma intencionalidade.
Isto, portanto, quer dizer que a cidade é uma negação da natureza, daquilo que é físico”
(Souza, 1997:4).

As intencionalidades promovem diferentes tipos de uso dos recursos naturais,

relacionados aos variados serviços ofertados pelos ecossistemas, que a cada momento

histórico são utilizados de modo diferente para atender os interesses capitalistas do

modo de produção e de organização espacial, que variam ao longo do tempo. A autora

explica que essas transformações de uso são possíveis através da técnica e assim “A

cidade é o lugar da acumulação técnica” (Souza, 1997:4).

Nota-se uma alteração intensa nos tipos de serviços ambientais utilizados,

principalmente a partir da Revolução Industrial ocorrida no século XIX, pela difusão de


2
Outras influências para a adoção desse pensamento e visão da natureza enquanto entidade fixa, objeto que recebe
intervenções, são vindas da obra de Humboldt, “Cosmos” de 1862, onde o autor realizou a análise do planeta Terra de
dois modos: através da física, para estudar os processos físicos, ou o estudo da articulação dos elementos
constituintes da configuração do planeta (Suertegaray, 2001) .
novas técnicas que influenciaram a organização espacial do território. Este processo

deixou marcas profundas na paisagem ao drenar os campos para alavancar o intenso

processo de desenvolvimento urbano que se seguiu. Novos padrões de uso e ocupação

da terra, como também a implementação de políticas de desenvolvimento subseqüentes

a este período impactaram drasticamente a paisagem, os recursos naturais e

conseqüentemente, e a longo prazo, o bem-estar humano.

A constante adaptação da forma da cidade no meio físico onde está implantada e

dos serviços ambientais necessários à sua manutenção, geram impactos cumulativos,

exigindo-se intervenções para a reabilitação da integridade da paisagem e melhoria da

qualidade de vida. Porém, essas adaptações e recriações do solo urbano foram

realizadas, prioritariamente, a parir da concepção do espaço enquanto um receptáculo,

noção mais comum encontrada na construção de cidades e presente também nos

projetos de arquitetura conforme nos explica Eugênio Queiroga:

”(...) o urbanista, o engenheiro e – entre outros o arquiteto apelam para uma filosofia da
extensão, onde o espaço é um dado que é necessário preencher de densidades, de usos [...]
dividido de modo mais ou menos racional (...) O arquiteto é antes de tudo observador e em
seguida técnico do espaço, concebido como matéria (Newton) a ser manipulada à vontade
(embora com diversas limitações) e no interior do qual ele está encarregado da repartição dos
seres num determinado número de compartimentos” (Bettanini, 1982:15 apud Queiroga,
2001:37-38)

A seguir serão apresentadas algumas ações de ordenamento do espaço urbano

concebidas a partir desta visão de espaço, que geraram impactos sociais e ambientais

diversos que são sentidos ainda hoje nas cidades e que demandam soluções através de

novas propostas de intervenções integradoras do espaço físico-natural e do espaço

vivido.

1.2 O ordenamento do espaço urbano


Em 2008, na ocasião do lançamento do livro “A metrópole e o futuro”,

organizado por Maria Adélia Aparecida de Souza, a autora falou de certa miopia que

dificulta e muitas vezes impede que se olhe e que se reconheça a totalidade do espaço

urbano em todas as suas dimensões, todas necessárias para a compreensão do que as

cidades são de fato. Esta parte da tese será sobre esta miopia que influencia de forma

direta ou indireta, consciente ou inconsciente as ações de planejamento territorial.

As idéias e imaginários por trás dos projetos e políticas que vêm transformando o

espaço urbano ao longo do tempo foram concebidos a partir de “(...) interpretações da

cidade e da sociedade para as quais aqueles projetos e políticas foram construídos” (Secchi,

2006:12). Dentro desse contexto vale a pena destacar o papel do urbanismo

(planejamento e regulação urbanística) enquanto “(...) um vasto conjunto de práticas, quais

sejam as da contínua e consciente modificação do estado do território da cidade” (Secchi,

2006:18). Porém, em alguns momentos algumas práticas não estiveram fundamentadas

em ações conscientes pois não houve o comprometimento com a “(...) com a realidade

concreta, mas com uma ordem que diz respeito a uma parte da cidade apenas” (Maricato,

2000:122).

Apesar de mudarem os nomes para os discursos e ações de ordenamento do

espaço, na tentativa de coordenar o desenvolvimento físico-territorial, como por

exemplo: programa de melhoramentos, plano diretor, plano de ação, planejamento

governamental, políticas públicas, plano estratégico, entre outros, pode-se dizer que

todos foram concebidos a partir da visão de espaço absoluto.

Não só os planos e projetos mudaram os nomes, mas segundo nos conta Delcimar

Teodózio:

“(...) em diferentes períodos políticos, o conceito de desenvolvimento foi qualificado


harmônico, integrado, sustentado. Os conteúdos e intenções eram diferentes, mas sempre
com uma determinada vontade de maior racionalidade, que ora aperfeiçoava a escolha dos
meios, ora a discussão dos fins, ora excluindo parcelas consideráveis da sociedade , ora
buscando maior participação ou incorporando novos parceiros” (Teodózio, 2003:17).

Mesmo que a crítica mais recorrente seja ao projeto moderno de urbanistas e

arquitetos, o fato é que em outros períodos também aconteceu algo semelhante: a não

consideração do dado social e da sua importância enquanto força indutora nos

processos de mudança desejados.

A grande maioria das propostas de intervenção espacial urbana vêm sendo

formuladas a partir da crença de que a introdução de um elemento físico (objeto técnico)

no espaço é suficiente para promover as transformações salvadoras da problemática

existente em cada época. O fato é que desde que as preocupações com os efeitos da

urbanização motivaram a realização de análises urbanas no final do século XIX, os

estudos subseqüentes focaram-se quase que exclusivamente na organização e nos

processos de sucessão espacial da estrutura das cidades (Zmitrowicz, 1998),

desconsiderando as relações sociais na produção do espaço.

Para Enrique Leff:

“(...) embora tenham sido propostas as conexões entre meio ambiente, os estilos de
desenvolvimento e a ordem econômica mundial (Sachs, 1982; WCED, 1987), muitos
programas internacionais de pesquisa sobre as mudanças ambientais globais minimizam
ou reduzem a especificidade dos processos sociais em sua análise” (Leff, 2002: 111).

No caso brasileiro a adoção da visão de espaço absoluto, de acordo com Maria

Elaine Kohlsdorf sofreu forte influência dos princípios do urbanismo progressista

europeu, através da França, com a missão francesa no segundo Império, seja na

elaboração de planejamentos, zoneamentos, em diagnósticos ou em outras ações de

ordenamento do território (Kohlsdorf, 1985). O processo de urbanização brasileira,

orientado por este pensamento, herdou a visão de espaço urbano enquanto “(...) um

fenômeno unicamente físico, que em seu campo disciplinar atuam somente arquitetos e
engenheiros civis, e que as proposições resultantes tratam o espaço urbano como um grande

edifício cujas variáveis são transpostas” (Kohlsdorf, 1985:58).

Para Alzira Krebs, outra influência decisiva na adoção da visão de espaço

absoluto nas práticas urbanistas brasileiras, foi a filosofia racionalista do período

iluminista que:

“(...) produziu no urbanismo um modelo de planejamento urbano funcionalista que previa


a divisão do espaço urbano segundo suas funções: morar, trabalhar, circular e divertir o
espírito como forma de se alcançarem objetivos filosóficos de mudança da sociedade via
racionalização do espaço urbano, mas que incorporava também as medidas higienistas até
então assimiladas, explicitadas nas preocupações com a aeração, a iluminação e com a
existência de muitos espaços verdes” (Krebs, 2002:157).

Sob a influência desta filosofia, a autora argumenta que as cidades, e seu espaço

foram divididos de acordo com as funções estabelecidas dentro do contexto higienistas,

sendo que este “(...) constituiu-se na premissa de qualquer construção ou reordenação do espaço

urbano. Desde então, a legislação urbanística, seja ela referente ao Código de Posturas, ao uso e

ocupação do solo ou ao Plano Diretor, tem privilegiado estes dois aspectos: funcionalismo e

higienismo” (Krebs, 2002:157).

Segundo Rattner (1978) “organizar racionalmente a ocupação do espaço, como condição

para melhoria das relações sociais e do próprio estilo de vida das populações urbanas, constitui

um dos postulados mais enfáticos dos planejadores e urbanistas contemporâneos” (apud

Teodózio, 2003:19).

Mas das melhorias esperadas, o que nos conta a história, é que aconteceu o

contrário:
“(...) os planos de redenção social através do novo arranjo do espaço habitado, na casa e,
sobretudo na cidade, deram o seu contrário. Em lugar da substância – que seria aquela
transformação redentora – ficou um conjunto de normas de funcionalidade, que se mostraram
funcionais, sobretudo para o processo social e material da produção industrial” (Schwarz, 1999;
202 apud Maricato, 2000:146)
De herança deste período resultaram espaços não funcionais, inadequados às

dinâmicas sociais de uso do espaço, que seguem de forma paralela às normas de

funcionalidade criadas no mesmo período, que pouco contribuem para a melhoria da

qualidade de vida e ambiental das cidades. Sem falar em outra conseqüência vinculada

à produção paralela de outra forma de organização espacial, conhecida como cidade

ilegal, fora da lei, mas que é integralmente vivida e adaptada as demandas e

necessidades sociais, fruto inclusive das contradições sociais, ignoradas em outras

épocas mas carregadas de força e dinamismo.

Muito se fala também a respeito da ineficácia da legislação como uma das causas

desse processo de produção da cidade ilegal, mas Ermínia Maricato nos alerta que esta

ineficácia é apenas aparente pois:

“(...) constitui um instrumento fundamental para o exercício arbitrário do poder além de


favorecer pequenos interesses corporativos (...) Ao lado da detalhada legislação urbanística
(flexibilizada pela pequena corrupção, na cidade legal) é promovido um total laissez-faire
na cidade ilegal” (Maricato, 1996 apud Maricato, 2000:147).

Através de uma análise crítica da situação atual socioambiental das cidades

podemos concluir que aquele ideal não foi atingido plenamente. Sobre este fato, Koop

argumenta que ”(...) a história não avançou no sentido colocado por eles e o mundo radiante

bem como as transformações ocorridas entre as duas guerras representam o contexto da morte

aparente da arquitetura moderna da primeira fase (...)” (apud Falcoski, 1997:32). De acordo

com Octavio Lacombe “A dimensão teleológica do projeto moderno, seu caráter programático e

utópico de redimir os males sociais via arquitetura, instaurando por seu intermédio a democracia

e tornando os homens livres, perde de vista suas motivações e razões” (Lacombe, 2006:8).

David Harvey nos conta que Lefebvre também fazia críticas à esta lógica de

intervenção espacial em virtude do autoritarismo presente, das concepções cartesianas,


do absolutismo político que advém das concepções de espaço absoluto, da espacialidade

racionalizada, burocratizada, definida tecnocrática e capitalisticamente (2004: 240).

Ermínia Maricato narra as conseqüências, que se encontram ainda presentes nos

tempos atuais, desta e de outras práticas de ordenamento e organização espacial urbana

que não atingiram a transformação social e ambiental desejada porquê, dentre outros

motivos, não estavam integradas e não consideraram a organização social do espaço

urbano real:
“Foi exatamente durante a implementação do primeiro e único sistema nacional de
planejamento urbano e municipal e do crescimento da produção acadêmica sobre o assunto que
as cidades brasileiras mais cresceram ... fora da lei. Boa parte do crescimento urbano se deu fora
de qualquer lei ou de qualquer plano, com tal velocidade e independência que é possível constatar
que cada metrópole brasileira abriga, nos anos 1990, outra, de moradores de favelas, em seu
interior. Parte de nossas cidades podem ser classificadas como não cidades: as periferias extensas,
que além das casas autoconstruídas, contam apenas com o transporte precário, a luz e a água
(esta não tem abrangência universal nem mesmo em meio urbano). E é notável como essa
atividade referida, de pensar a cidade e propor soluções para seus problemas, permaneceu
alienada dessa realidade que estava sendo gestada” (Maricato, 2000: 140).

A autora argumenta que não é por falta de planos e nem de legislação que os

problemas sociais encontram-se agravados, ao invés de solucionados nas cidades

brasileiras, e as cidades continuam a crescer de modo predatório (Maricato, 2000). O

problema é que os planos continuam desvinculados da realidade social concreta e

vivida e ainda continuam a ignorar as contradições sociais, e as legislações (leis de

zoneamento, uso e ocupação do solo e códigos de edificações são alguns exemplos) a

desconsiderar “(...) a condição de ilegalidade em que vive a grande parte da população urbana

brasileira em relação à moradia e à ocupação da terra, demonstrando que a exclusão social passa

pela lógica de aplicação discriminatória da lei” (Maricato, 2000:147).

A desvinculação das políticas, ações e projetos com a realidade social ainda

influenciam as intervenções espaciais e por isso são um forte agravante à contínua

deterioração da qualidade ambiental e de vida nas cidades. É preciso entender o tempo

presente, o processo de ocupação espacial atual. É preciso entender que os projetos


modernistas nasceram “(...) como resposta a uma situação histórica" (Koop apud Falcoski,

1997:33) e assim desvincular essas idéias na elaboração de projetos condizentes com a

dinâmica de ocupação e organização espacial atual.

Hoje os problemas do nosso tempo, apesar de algumas semelhanças, têm em suas

raízes motivos diferentes, e o instrumental tecnológico e construtivo também evoluiu o

que demanda outras soluções para este tempo, caracterizado por Milton Santos como o

meio técnico-científico-informacional, diferente daquela época por tudo que foi

acumulado e vivido desde então.

Segundo nos conta Milton Santos cada vez que a sociedade sofre uma mudança,

as formas, ou que ele chama de objetos geográficos, mudam também em razão de novos

valores adquiridos, expressos no desempenho de novas funções. Na visão deste autor

um estudo sobre o espaço deve priorizar a sua relação com a sociedade, já que é a

mesma que “(...) dita a compreensão dos efeitos dos processos (tempo e mudança) e especifica as

noções de forma, função e estrutura, elementos fundamentais para a nossa compreensão da

produção do espaço” (1997:49).

De forma alternativa, a construção e a reorganização espacial das cidades

poderiam ser feitas a partir de análises das experiências cotidianas de uso e organização

espacial, e não apenas baseadas em ideais utópicos, influenciados por referenciais

teóricos trazidos de outros lugares criados em diferentes contextos. Também não devem

ser feitas pensando-se apenas na funcionalidade padronizada das estruturas, dos objetos

técnicos imputados no território, porque ao mudar de lugar, tal funcionalidade pode ser

prejudicada por não se enquadrar às dinâmicas sociais, demandas e necessidades das

pessoas de cada contexto social. Sendo assim é primordial o desenvolvimento de “(...)

novas estruturas de formação urbanística capazes de orientar as cidades a uma realidade

emergente”, que é diferente em cada lugar (Medrano, 2004:2).

Podemos utilizar os três períodos de intervenções urbanas brasileiras,

periodicizados por Maria Cristina Leme para mostrar como a concepção de espaço
absoluto esteve presente desde os primeiros planos e projetos. A autora propõe uma

divisão em três períodos que possuem características de projeto diferenciadas: de 1895 a

1930 ; de 1930 a 1950 e de 1950 a 1964 (Leme,1999:21). Com intensidades e influências

diferenciadas, nos três períodos as intervenções urbanas e os projetos de arquitetura

foram realizados dentro da lógica da do racionalismo funcionalista, onde prevaleciam

valorizados a forma, a função e a ordem representados pela disposição física dos

elementos construtivos no espaço.

No primeiro período a autora nos informa que as técnicas surgiram para resolver

os problemas da cidade da época, como os relacionados ao saneamento (obras de infra-

estrutura, implantação de redes de água e esgoto) e a circulação (construção de

ferrovias, abertura e regularização do sistema viário). De acordo com Leonardo Mello

(2007) a idéia era a de extirpar o degradado e substituí-lo pelo novo e saudável, para

renovar e revitalizar o ambiente urbano, investindo na sua qualidade e na qualidade de

vida dos que o ocupam e dele usufruem.

As ações eram executadas em partes das cidades a fim de melhorá-las também

com a execução de projetos de ajardinamento de parques e praças, e a elaboração de

uma legislação urbanística. Para isto as cidades contaram com o trabalho de

profissionais formados em cursos de engenharia “(...) nas antigas Escolas Militares na

Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro ou na Escola Central no Rio de Janeiro”, com destaque

para os trabalhos de Saturnino de Brito (mais de 20 cidades), Theodoro Sampaio (SP e

Bahia) e Lourenço Baeta Neves (MG) (Leme, 1999:22).

Os projetos de melhoramentos e de renovação urbanas que tinham como objetivo

acabar com as epidemias ou fazer o ar circular e assim melhorar a salubridade urbana,

relacionam-se diretamente com a melhoria da qualidade ambiental das cidades. De

acordo com Bernardo Secchi (2006):


“O processo de agravamento e de melhoramento foram alternadamente apresentados de
modo diferente: o primeiro como doença, como distanciamento das condições originárias e
felizes, como perda de uma ordem e de uma medida, e como empobrecimento progressivo,
o segundo como obtenção de uma situação salubre, confortável, segura e esteticamente
mais satisfatória” (Secchi, 2006:21).

Mas não foi apenas no Brasil que esse tipo de intervenção ocorreu. Em tempos

históricos e lugares diferentes intervenções carregadas de intenções similares foram

realizadas em outros lugares do mundo.

Além da solução de problemas, a organização física dos espaços públicos também

era pensada a fim de corresponder a referências estéticas (Leme, 1999). Em ambos os

casos, percebe-se que as ações de melhoramentos, foram pensadas apenas com a

introdução do objeto técnico, seja ele especializado ou embelezado, era pensado como

sendo a solução para o problema enfrentado. O que nos remete à concepção de espaço

absoluto.

Apesar das ações deste período não incorporarem o dado social e alguns

princípios de sustentabilidade, mesmo porque naquela época as preocupações eram

revestidas de outros nomes, tais ações estavam muito vinculadas à noção de qualidade

ambiental do lugar, que se relaciona com qualidade de vida e ambiental, sendo esta

última relativa à totalidade do ambiente e não apenas aos espaços verdes.

Para Leonardo Mello (2007) o conceito de qualidade ambiental urbana está

intrinsecamente ligado ao de qualidade de vida urbana e refere-se à capacidade e às

condições do meio urbano em atender às necessidades de seus habitantes. Luengo (1998

apud Mello, 2007) nos dá uma definição ampla do conceito:

“Entendemos por “calidad ambiental” las condiciones óptimas que rigen el comportamiento del
espacio habitable en términos de conforto asociados a lo ecológico, biológico, económico-
productivo, socio-cultural, topológico, tecnológico y estético en sus dimensiones espaciales. De
esta manera, la calidad ambiental urbana es por extensión, producto de la interacción de estas
variables para la conformación de un hábitat saludable, confortable y capaz de satisfacer los
requerimientos básicos de sustentabilidad de la vida humana individual y en interacción social
dentro del medio urbano” (Luengo, 1998)

Ainda sobre o primeiro período, que compreende as intervenções entre 1895 e

1930, e que coincide também com o recorte dado por Delcimar Teodózio para as ações

relacionadas aos planos urbanos, a autora diz que:

“Os planos urbanos do final do século XIX e início do XX referiam-se especialmente ao


melhoramento e embelezamento das cidades, preocupados com a infra-estrutura, propostos pelas
elites e cumpridos à risca por diversos e sucessivos governos, como o Plano Pereira Passos para a
cidade do Rio de Janeiro, de 1903. A partir dos anos 30, o plano se transforma no plano-discurso,
pois não resolve os problemas que envolvem as questões sociais emergentes e cumprem apenas
obras, especialmente as viárias (...)” (Teodózio, 2003:17)

Como foi dito acima, os discursos, planos e políticas, mudaram de nomes e

mudam até hoje. De acordo com Ermínia Maricato (2000), os nomes não mudam apenas

pela mudança dos discursos, mas “Para fugir ao desprestígio dos planos não implantados, as

denominações variaram: Plano Diretor, Planejamento Integrado, Plano Urbanístico Básico,

Plano Municipal de Desenvolvimento, entre outros” (Maricato, 2000: 138).

Aqueles planos de melhoramentos do primeiro período transformaram-se nos

planos diretores de desenvolvimento integrado que mais tarde seriam transformados

então nos planos diretores, e dentro esse contexto surge então o planejamento urbano

brasileiro (Villaça, 1999 apud Maricato, 2000). Porém, utilizando a expressão de Ermínia

Maricato (2000), nessa época as idéias já começavam a estar fora do lugar, tanto por não

incorporar os dados e dinâmicas sociais, mas também por sofrerem forte influência

européia e francesa na elaboração dos planos.

Ao mesmo tempo, outra linha de ação, que não envolvia necessariamente os

planos foi desenvolvida a partir do movimento modernista (Leme, 1999). E apesar de

serem construídas no mesmo período histórico, possuem segundo a autora, diferentes

princípios e objetivos, envolvendo diferentes saberes e realizando intervenções distintas

no espaço.
Aqui será ressaltada a ação dos modernistas por ser um exemplo concreto da não

consideração do dado social, da não compreensão de que o espaço não é este

receptáculo pronto para receber estruturas de formas diversas, e da suposição de que

apenas o desenho e intervenção urbana o tornaria melhor. Porquê o que torna o espaço

vivido e usado são as pessoas. É necessário vida para animar e dar sentido a todos os

objetos técnicos idealizados.

De acordo com Leandro Medrano (2004) o movimento moderno acreditou que

através da transformação das cidades seria possível sustentar uma nova estrutura

socioeconômica – ancorada pelo capital industrial. Segundo o autor, “Le Corbusier foi o

arquiteto que mais impulsionou o desenvolvimento de novas estratégias urbanas condizentes com

a realidade ditada pelo avanço da sociedade industrial” (Medrano, 2004:2-3).

Este relato, mais uma vez nos mostra uma certa desconexão entre a concepção

dos projetos urbanos, neste caso dentro do movimento moderno, e a realidade vivida

das cidades tendo em vista que o ideal social não corresponderia à realidade social. Para

Ermínia Maricato, apesar do movimento moderno da arquitetura brasileira ter

idealizado um projeto que fosse capaz de superar o subdesenvolvimento do país, seu

engajamento não foi completo por que estreitou relações com as idéias provenientes do

movimento internacional, sem contextualizá-las à realidade brasileira, ignorando dessa

forma as contradições sociais (Maricato, 2000: 145-146).

Apenas para ilustrar esta lógica de ocupação, podemos citar, conforme

argumentação de Leandro Medrano, o desenvolvimento de um dos projetos de Le

Corbusier, o Plan Voisin, para Paris em 1925. Segundo nos conta o autor:

“Não existe, na concepção do Plan Voisin, nenhuma intenção de integração com o tecido
existente – qualquer forma de ligação entre seus habitantes com referências espaciais, culturais e
formais da cidade “histórica” é sistematicamente desprezada – valorizando a herança das
vanguardas em sua atitude voluntária de ruptura com o passado. A intenção primordial era
deixar claro o ideal revolucionário da nova arquitetura, que surgia com a finalidade de contribuir
para a construção de uma sociedade desvinculada de um passado retrógrado, cuja
“existência”(ou memória) só viria a perturbar o espírito da “nova era”. A idéia “moderna” de
cidade, ainda que ditada de forma alegórica e exageradamente panfletária, se consolidaria na
racionalidade e funcionalidade expressas em suas intenções urbanísticas que regeriam toda nova
estrutura urbana simpatizante com os ideais do Movimento Moderno (...). Com argumentos
apoiados fundamentalmente no pragmatismo funcionalista, no fascínio pela máquina, na
industrialização, na tecnologia, no racionalismo, organiza a cidade de modo a potencializar as
atividades cotidianas do suposto homem moderno. Trabalho, moradia, transporte, serviços, lazer
e produção, são sistematicamente setorizados sob a regência de uma otimização logística
(racional) destas atividades perante o homem, a máquina, a cidade e a natureza” (Medrano,
2004:2-3).

Por fim, é válido dizer que não é exclusivamente nossa e de alguns autores a

crítica ao projeto moderno. Leandro Medrano (2004) nos conta que o projeto da cidade

funcional teve mais opositores que simpatizantes. Entre os opositores dentro da

arquitetura o autor destaca os que pertencem a arquitetura organicista e que

construíram uma proposta de cidade oposta às premissas dos “racionalistas”, apesar da

oposição não ter sido o único fator condicionante (Medrano, 2004:3-4). O diferencial da

proposta organicista, por considerar a dinâmica social, é a formação da cidade “(...) com

base na valorização do indivíduo como elemento fundamental e indispensável à sua

caracterização – posição contrária ao racionalismo, cuja sociedade era idealizada por indivíduos

“coletivos” (mecanizados e substituíveis), orientados pela pressão aniquiladora da

industrialização.” (Medrano, 2004:4). Ainda no âmbito da arquitetura e do urbanismo, o

autor esclarece que Aldo Rossi e Robert Venturi também fazem parte deste grupo de

arquitetos que pensaram a cidade de outra forma, na tentativa de integrar e reconciliar

as transformações tecnológicas com a sociedade e o “homem comum” (MEDRANO,

2004: 4 - 5).

Na contramão do movimento moderno, temos também importante contribuição

da geografia no estudo sobre as cidades através de teorias, metodologias e conceitos

desenvolvidos por diversos geógrafos ao longo do tempo. Em seu livro “Dois séculos de

pensamento sobre a cidade” 3 Pedro de Almeida Vasconcelos (1999) nos apresenta


3
VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Dois séculos de Pensamento sobre a cidade. Ilhéus: Editus, 1999.
estudos de geógrafos sobre a cidade, entre eles: Alexander Von Humbolt, Friedrich

Ratzel, Marcel Aurosseau, Max Sorre, Herbert Fleure, C. Harris e E. Ullman, Robert

Dickinson, Milton Santos, entre outros. Tais estudos, de forma geral, tinham como

intenção explicar o desenvolvimento das cidades e não se constituíram em propostas

intervencionistas como fizeram os arquitetos e urbanistas modernos em algumas

cidades.

A técnica aprimorada com o advento da industrialização pôde dar asas à

imaginação e criatividade dos arquitetos que criaram formas e espaços diferenciados,

belos e inspirados, mas como disse Kevin Lynch, apenas a forma não é suficiente para

promover a mudança desejada. Um método adequado de análise espacial para a

compreensão da complexidade urbana em todas as suas dimensões teria contribuído

para uma mudança significativa nos resultados obtidos com a execução dos planos e

projetos modernos.

Talvez a falta de diálogo entre a geografia e a arquitetura tenha sido um dos

motivos que ocasionou a miopia comentada por Maria Adélia Aparecida de Souza

(2008), culminando na elaboração de propostas de intervenção e ordenamento territorial

inconsistentes pela falta de compreensão do espaço em sua totalidade. Mas este diálogo

ainda é necessário, pois um novo entendimento do espaço urbano é mais do que nunca

obrigatório, tanto pelo agravamento dos problemas socioambientais, como pela

velocidade com que as transformações ocorrem nos dias de hoje.

Voltando ao segundo período de 1930 a 1950, apresentado por Maria Cristina

Leme (1999), este é marcado pela substituição dos conceitos de melhoramento e

embelezamento pelos de eficiência, possível através da ciência e da técnica, já que a

cidade da produção precisava ser eficaz, de acordo com argumentação de Ermínia

Maricato (2000). De acordo com Maria Cristina Leme (1999) neste momento os planos

assumem outra característica por abranger o conjunto da área urbana, pensando na

articulação entre bairros e o centro, e a extensão das cidades através de sistemas de


transporte (Leme,1999). Mas essa visão de totalidade referia-se ainda e apenas a

dimensão física do espaço, suas estruturas e objetos técnicos.

Neste momento “Uma quantidade inédita de Planos Diretores foi elaborada no período

(...) A maior parte desses planos foi elaborada por especialistas pouco engajados na realidade

sociocultural local. A população não foi ouvida e, freqüentemente, nem mesmo os técnicos

municipais” (Villaça, 1999 apud Maricato, 2000: 139). E assim, novamente os dados e

dinâmicas sociais não foram considerados na elaboração dos planos e como

conseqüência persiste a lacuna existente entre a cidade “idealizada” e a cidade “real”

(Medrano, 2004).

Do primeiro período (1895-1930) para o segundo (1930-1950) é perceptível uma

mudança na forma de produção e organização do espaço. Muda-se a lógica

intervencionista pautada na forma, função e ordem para outra, que a partir dos avanços

das ciências e das técnicas, permite uma intervenção no espaço em outra escala sob a

lógica da relação (entre lugares) e da criação de sistemas a partir da organização urbana.

Porém a concepção de espaço absoluto prevalece nos dois períodos.

Apesar de destas mudanças na forma de pensar o espaço, incorporando a visão

de totalidade urbana e não mais de planos isolados e de ações pontuais, Ermínia

Maricato define este segundo período no Brasil, como de inconseqüência e de

inutilidade principalmente porquê “Quando a preocupação social surge no texto, o plano não

é mais cumprido. Ele se transforma em plano-discurso, no plano que esconde ao invés de mostrar.

Esconde a direção tomada pelas obras e pelos investimentos que obedecem a um plano não

explícito” (Maricato, 2000: 138).

Somente a partir do terceiro período (1950 a 1964), e principalmente durante o

regime militar brasileiro que as atividades de planejamento urbano desenvolveram-se

com mais intensidade (Maricato, 2000).

Octavio Lacombe (2006) nos informa que neste período, a partir dos anos 60,

outra forma de compreensão da arquitetura e da cidade se faz presente, sugerindo,


segundo o autor, o fim do movimento moderno. Para este autor ao invés de três

períodos, como proposto por Maria Cristina Leme, são apenas dois: antes e depois de

1950. Antes de 1950 prevaleciam idéias fundamentadas no tripé do racionalismo “forma,

função, ordem”, justificando que:

“O racionalismo pressupõe uma ordem harmônica e precisa, em que cada elemento da


estrutura tem sua função clara a definida. A clareza da disposição dos elementos, que têm
seus objetivos determinados a priori, garante a precisão da informação, daí decorrendo a
noção de funcionalismo. A estrutura é o próprio conteúdo, uma vez que ordenada
logicamente, na qual cada função é compreendida na sua interação com o todo. Assim a
forma segue a função, que se traduz em qualidade” (Lacombe, 2006:8).

Porém esta qualidade referida dizia respeito apenas à qualidade técnica da

execução, da construção e do resultado final da edificação, da obra, do aspecto físico-

material, e assim fica algo estranho no ar. E as pessoas que iriam entrar, circular, usar

tais espaços? A qualidade não deveria estar associada ao bem-estar proporcionado pelo

espaço construído? O problema é que os elementos do projeto foram pensados,

ordenados apenas em relação com as outras partes físicas, relacionando-se com a

estrutura e no com o meio no qual estavam inseridos, e principalmente com as pessoas

que irão utilizá-lo. Dessa forma o projeto arquitetônico foi desenvolvido e construído

sem qualquer relação de integração e permeabilidade com os recursos naturais e com as

dinâmicas futuras e já existentes de uso do espaço.

Parece que o movimento moderno na metade do século XX- “(...) se fez sobreviver

como forma à função extinta” (Lacombe, 2006:12). Como nos conta o autor, é a estrutura o

elemento importante neste período, expressando assim a racionalidade e funcionalidade

que marcaram os projetos nesta época (2006:8).

No segundo período definido por Octavio Lacombe, a partir da segunda metade

do século XX, o autor argumenta que começa outro movimento, outra forma de ver o

mundo, “(...) indefinida e aberta, carregada de nuances (...) reconhecedora de suas imprecisões ,
turbulências e oscilações (...) (Lacombe, 2006: 9). O autor cita alguns fatores que

condicionaram tais mudanças, como as descobertas experimentais da física sobre a

instabilidade das partículas, as estruturas de não-equilíbrio, e também sobre a evolução

do universo (Lacombe, 2006: 9). Neste período amplia-se a compreensão das da

complexidade das relações e da ocorrência de processos indeterminados e irreversíveis.

Nesse sentido vemos os planos do segundo período, segundo definição de Maria

Cristina Leme, ampliarem a sua escala de análise abrangendo todo o conjunto da área

urbana, mostrando dessa forma um pouco desse novo modo de olhar o mundo, na

medida em que reconhece que existem outras relações inter e intra-regionais. A autora

nos conta sobre os primeiros trabalhos realizados sob este enfoque pelo escritório

SAGMACS4, um estudo para a bacia Paraná-Uruguai reunindo oito estados brasileiros e

outro sobre as áreas conurbadas em Belo Horizonte e São Paulo, ambos na década de 50.

Esta é uma fase que em lugar da função pensa-se em relação, em lugar de

estrutura pensa-se em sistema, em lugar de ordem na organização. Começa a surgir

assim uma nova racionalidade, capaz de reconhecer ambigüidades, complexidades e

contradições (Lacombe, 2006: 10). Porém quando as idéias são trazidas de outros lugares

e para todos os lugares como ocorreu no Brasil, temos “idéias fora do lugar”, como disse

Ermínia Maricato, e que mesmo estando dentro dessa nova racionalidade, dificilmente

irão induzir um processo de transformação social e ambiental.

O segundo período de Octavio Lacombe (2006), pós 1950 coincide com o terceiro

período proposto por Maria Cristina Leme, entre 1950 e 1964 no qual são iniciados os

planos regionais, dando conta da nova realidade que se configura na época: a migração

campo-cidade, o processo crescente de urbanização, o aumento da área urbana e a

conseqüente conurbação. Vemos então algumas similaridades entre os períodos

4
Em São Paulo e Recife, neste mesmo período, forma-se o grupo de urbanistas ligados ao padre Louis Joseph Lebret,
e que vão compor o escritório da SAGMACS. Estes profissionais, com formação em diferentes disciplinas têm uma
expectativa de transformação social através do trabalho profissional (LEME, 1999:33).
propostos pelos dois autores, a partir do reconhecimento da existência de outras

relações complexas para além dos limites administrativos das cidades. A mudança no

modo de se olhar o espaço urbano e conseqüentemente do conteúdo das propostas dos

planos também ocorre por causa da:

“(...) emergência de novos temas, da introdução de novos métodos e da participação de


profissionais de outras disciplinas que, até aquele momento, não haviam se ocupado da
questão urbana. A temática regional, como objeto de planejamento e intervenção, aparece
no período após a segunda guerra mundial” (Leme, 1999:32).

No mesmo período começa a elaboração da legislação de zoneamento em São

Paulo para o atendimento de interesses pontuais de proteção de qualidade ambiental e

de valores imobiliários da parte mais valorizada da cidade de São Paulo, a sudoeste,

mostrando que na área legislativa também não foi considerada a dinâmica social de uso

e ocupação do espaço. Fato agravado, ilustrado pela constatação de Maria Cristina Leme

(1999) de que este saber produzido nas atividades legislativas tornaram-se codificados e

entendidos por poucos, promovendo além da exclusão a impossibilidade das pessoas

comuns participarem ativamente da organização espacial do território, deixando esta

tarefa na mão de poucos agentes dominantes. Talvez o que ocorreu de forma regional e

em escala ampliada nessa fase não foi o acesso aos benefícios desta lógica de

ordenamento, mas o contrário, o recebimento direto e indireto de alguns impactos

socioambientais que foram agravados, e não melhorados.

Neste terceiro período que compreende o final dos anos 60 e anos 70, Luiz

Antonio Nigro Falcoski (1997) nos mostra algumas diferenças, deste que é considerado o

período pós-moderno e o do movimento moderno do início do século XIX. Para o autor

este é um período:

- diferente do modernismo, pois apresenta a tradição e conservação cultural como tema

estético e político;
- opera no campo da tensão entre tradição, renovação, cultura de massas e grande arte;

- apropriam-se de muitas estratégias e técnicas estéticas da modernidade;

- cultura e crítica de resistência;

- fundamenta-se na identificação e na análise descritiva e avaliação das novas tensões e

contradições (Falcoski, 1997:59).

No âmbito da arquitetura também percebemos uma mudança significativa na

forma de se olhar e intervir no espaço. Ao analisarmos a classificação da arquitetura

feita por Frampton5 (apud Falcosky, 1997:64), em uma delas já é perceptível uma

mudança na análise espacial para intervenção do espaço urbano, a saber: “A retórica e

sintaxe do regionalismo crítico”. Os projetos integrantes desta categoria enfatizam “(...) a

adequação do edifício à configuração e ao tecido urbano, a preocupação de uso de materiais locais

trabalhados com precisão artesanal sem excluir a forma racional e as técnicas construtivas

modernas”, o que já representa um avanço significativo para reversão da desconexão com

a realidade local presente nos projetos modernos, anteriores a 1950 (Falcoski, 1997:84).

Alguns arquitetos brasileiros que contribuíram com este tipo de arquitetura

foram, entre outros, Severiano Porto e Padovano Viglieca. Para um de seus

representantes, o arquiteto Portas “(...) o importante é perceber o processo de rápido

crescimento e transformação em nossas cidades e calibrar os ajustes nos instrumentos técnicos do

planejamento do projeto urbano, do ”design urbano da arquitetura” (FALCOSKI, 1997:84).

Sobre os planos regionais Delcimar Teodózio acredita que tais planos

tradicionais, tecnocráticos e centralizadores vêm sendo substituídos gradativamente

pelos Planejamentos Estratégicos. Em todo caso, mesmo com a contínua mudança de

discursos e nomes para estes planos, que na realidade tratam do planejamento e

ordenamento físico-territorial do espaço, e dos estudos e análises críticas das propostas

5
A classificação de Frampton para a arquitetura é a seguinte: A retórica e sintaxe populista-contextualista/ A retórica e sintaxe
neo-racionalista / A retórica e sintaxe produtivista / A retórica e sintaxe Pós-Vanguardista/Modernista/ A retórica e sintaxe do
regionalismo Crítico (apud FALCOSKY, 1997:64).
até agora divulgadas, e algumas executadas, Ermínia Maricato (1997) argumenta que

“(...) não existe nas academias e nos departamentos governamentais um modelo de planejamento

em condições de consenso exigidas para substituir o lugar do planejamento modernista”.

Apesar de alguns avanços presentes nas novas propostas para os planos de

ordenamento urbano, trazidas pelo neoliberalismo, segundo Delcimar Teodózio, os “(...)

conceitos de cidades mundiais, cidades globais, cidades estratégicas, planejamento estratégico,

distritos, redes, pólos, nós, etc” trazidos neste novo discurso correm o risco de serem

incorporadas como novos modismos (Teodózio, 2003:88). Isso pode acontecer caso não

seja desenvolvido ou adotado um método de análise espacial que considere o espaço

urbano em sua totalidade, território vivido e usado, dinâmico e em movimento. Porque

qualquer ação de planejamento e ordenamento do espaço, seja através das redes técnicas

ou de outras formas de organização espacial, pode ter um método em comum mas este

deve ser adaptado para a melhor compreensão possível das múltiplas dimensões que

envolvem a questão em estudo, como também das múltiplas relações estabelecidas no

lugar e no entorno imediato, regional e até global, que variam de lugar para lugar e por

isso não se pode copiar os planos por simples modismo.

Dentro desse contexto é necessário “(...) compreender o espaço não só como o meio

ecológico mas também como o locus onde ocorrem as relações sociais de ordem cultural, política e

econômica” (Rutkowski, 1999:134-135). Ou seja, não só os planejamentos urbanos e as

intervenções arquitetônicas devem considerar e incorporar o dado social em seus

projetos. Dentro da área ambiental esta também é uma necessidade para que as áreas

verdes, e recursos e processos ecológicos integrantes sejam pensados em sua relação

com as pessoas e não somente como objetos que precisam de um ordenamento a fim de

se preservar a quantidade dos recursos disponíveis. Mais que a quantidade e disposição

das áreas verdes urbanas é primordial que se repense suas funções e o papel da

sociedade em sua manutenção.


1.3 Outra lógica de olhar e pensar o espaço urbano na solução da problemática
ambiental

“Hoje, quando as possibilidades técnicas do homem superam os sonhos dos


velhos utópicos em muitas vezes, parece mais que essas possibilidades,
negativamente realizadas, transformaram-se em forças de destruição; assim, ao
invés de acarretar uma salvação, ainda que sempre humanamente limitada,
levam à total destruição, a uma sinistra paródia da transformação desejada por
Marx, na qual o Sujeito e o Objeto não estão reconciliados, mas sim
aniquilados” (Schmidt, 1971 apud Smith, 1984:55)

Para que se mude efetivamente a visão de espaço absoluto adotada e que se

amplie o entendimento da dinâmica de organização espacial dos espaços urbanos em

sua complexidade, é necessária uma mudança de olhar sobre o território. Essa mudança

é fundamental para a elaboração políticas, planos, programas e respectivos

instrumentos, que objetivem promover a sustentabilidade urbana em suas dimensões

social e ambiental. Nesta parte da tese serão apresentadas as críticas de alguns

estudiosos da questão urbana à lógica de planejamento territorial. Para ao final indicar

novos caminhos e olhares possíveis, que podem reverter o processo de degradação

ambiental e de qualidade de vida que insiste a aniquilar o principal motivo de ser das

cidades, que é o viver bem.

Para Arlete Moysés Rodrigues (1998) a problemática ambiental recoloca e põe em

destaque a problemática da questão espacial, cujo desafio está colocado para todos os

analistas do espaço: estudar não apenas a espacialidade das coisas, quantidade de

floresta ou densidade construída, mas sim a dos próprios homens e das relações que são

estabelecidas na produção e consumo do espaço.

Como é possível construir um processo de sustentabilidade em suas dimensões

ambiental e social se não se avança de forma significativa na produção de

conhecimentos que nos auxiliem a melhor compreender os padrões de articulação entre

sociedade e natureza? (Guimarães, 1997). A sustentabilidade continua a ser pensada


para quem? Relembrando as palavras de Maria Adélia Aparecida de Souza, “(...) o

ambiente envolve o homem, a sociedade? (...) Porque conhecer? Para salvar o ambiente, ou a vida,

sobretudo a humana” (Souza, 2002:6).

O fato é que ainda não se vê uma clara diferenciação ou uso consciente da

categoria espaço enquanto fundamento decisivo nas elaborações de planos, programas,

projetos ou instrumentos de ordenamento do território. Estudar as cidades e seus

problemas ambientais implica na diferenciação das categorias de espaço absoluto e

espaço total, que segundo Luiz Roberto Monte-Mór (1994) é pré-requisito para quem

estuda a urbanização relacionada à questão ambiental. Essa diferenciação consciente é

de extrema importância para o conhecimento do que as cidades são de fato.

Mas ainda são poucas as reflexões conscientes sobre a categoria espaço para além

dos atributos naturais do terreno e dos impactos potencias pela sua transformação. As

dificuldades de entendimento da complexidade do espaço urbano sempre limitaram a

análise do espaço nos diferentes campos disciplinares (Pires, 2005:102). Limitando

também as propostas utópicas sobre o futuro das cidades, fazendo com que os sonhos

das cidades utópicas pareçam surgir de nenhum lugar e ir para nenhum lugar (Lynch,

1981: 99).

Sobre as diferentes apreensões acerca do espaço Roberto Luiz Monte- Mor aponta

que:

“Os cientistas sociais pensam o espaço construído, onde a lógica da reprodução repousa
na dinâmica social, ou o espaço transformado onde a lógica da reprodução repousa na
dinâmica natural a partir da intervenção de processos sociais. Os ecólogos, por sua vez,
pensam apenas os espaços naturais, aqueles cuja reprodução e regeneração se centram nos
processos biológicos. Os espaços urbano-metropolitanos permanecem como espaços
mortos, ao nível das ciências ambientais e ecológicas” (1994:175).

Pode-se dizer também, assumindo as considerações feitas por Roberto Luiz

Monte-Mór, que para por urbanistas e planejadores urbanos o espaço é aquele que

corresponde “(...) à forma e processos de transformação do espaço natural transformado em


espaço construído”. Sobre as conseqüências da adoção desse tipo de visão o autor afirma

que a “(...) análise passa a se centrar nas diversas e múltiplas formas possíveis de produção e

extensão do tecido urbano e seus impactos sobre o meio ambiente e condições de reprodução e

conservação do espaço natural” (Monte-Mór, 1994:177).

Por tudo isso se pode dizer que é predominante a visão de espaço absoluto pelos

profissionais e estudiosos do urbano, que desconsideram as relações sociais. As

diferentes apreensões dos espaços, que podem ser conscientes ou inconscientes, estão

baseadas nas categorias espaciais adotadas para as análises, dentro de cada campo da

ciência como também pela escolha de abordagem individual de cada pesquisador.

Como conseqüência vemos que as alternativas propostas para solucionar a

problemática ambiental urbana não revelam “(...) grandes avanços na busca de soluções

definitivas, muito menos soluções originais” (Guimarães, 1997:15). E assim a forma urbana e

sua qualidade ambiental, que influenciam a qualidade de vida, continua a ser negativa e

a impedir um viver bem nas cidades. Tanto o desempenho das funções sociais como as

ambientais das cidades continuam comprometidas.

Compromete também o fato de terem sido importados alguns “(...) padrões do

chamado “primeiro mundo”, aplicados a uma parte da cidade (ou da sociedade)” o que

contribuiu “(...) para que a cidade brasileira fosse marcada pela modernização incompleta ou

excludente” (Maricato, 2000:123) agravando ainda mais os problemas socioambientais.

Não é difícil imaginar por que idéias e projetos padronizados não são benéficos nem

detentores da salvação dos problemas de todas as pessoas, em todos os lugares.

A autora continua sua crítica sobre o “(...) deslocamento que a matriz funcionalista

modernista manteve em relação à realidade urbana no Brasil, o que nos permite chamá-la de

matriz postiça (...)”. Mas de acordo com sua argumentação a nova matriz de

planejamento urbano brasileiro continua postiça porque as idéias, além de fracas

operacionalmente, continuam “(...) transplantadas de diferentes realidades, sem mediações”

(Maricato, 2000:136). E essa não é uma realidade apenas brasileira, Kevin Lynch nos
informa que a maioria dos propósitos das ações públicas “(...) são reações para solucionar

dificuldades, realizadas com pressa, com baixa quantidade de informações e nenhuma teoria, que

são designadas para retornar o sistema a uma condição prévia” (Lynch, 1981:41).

Além disso, os conteúdos ideológicos dos planos globais e distantes, que

procuram racionalizar tudo e todos entram em conflito no espaço local que têm suas

características físico-naturais e dinâmicas sociais próprias construídas no cotidiano do

espaço vivido (Santos, 2005). Impossível elaborar propostas de intervenção urbanas

consistentes sem o entendimento dessa dinâmica já que “Cidade e território pertencem

inevitavelmente à experiência cotidiana de cada um” (Secchi, 2006:19).

Outros autores também concordam com a necessidade de se conhecer e valorizar

as experiências cotidianas para a proposição de intervenções espaciais urbanas. Lineu

Castello (1999) acredita que:

“(...) no próprio campo do projeto vem sendo ressaltada a importância da percepção da


interação comportamental entre homem e ambiente, contextualmente, para definir as
pautas de intervenção. No urbanismo, observa-se cada vez mais a importância de perceber
com clareza as tendências das relações homem-ambiente, mais ainda do que as
necessidades, para instruir a projetação” (Castello, 1999:25).

A experiência cotidiana, o que as “pessoas estão tratando de fazer” deveria

substituir os programas de necessidades que servem de parâmetros de projetos, que

podem vir prontos, sem relação com as demandas sociais reais. Para Cristina Cavaco

(2006) o projeto e a organização do espaço devem ser elaborados a partir do

conhecimento dos aspectos que fazem parte e afetam diretamente o cotidiano das

pessoas (Cavaco, 2006).

Mas esse entendimento requer um esforço intelectual e o desenvolvimento de

novas metodologias de análise espacial por que dizem respeito às relações não visíveis

que são mais difíceis de serem apreendidas através das metodologias usuais dos

diagnósticos que são, com freqüência, elaborados dentro das práticas de planejamento.
Como conseqüência poderemos ver as pessoas buscando por si só o atendimento

de suas necessidades já que as idéias que subsidiaram a elaboração dos programas e

projetos vieram de outro lugar. Assim, a tendência é a organização espacial ocorrer de

forma paralela as políticas e programas governamentais, gerando e agravando os

conflitos de uso do solo urbano.

O não entendimento dos condicionantes da sustentabilidade das cidades pode

estar relacionado com a desconsideração do processo de organização social do espaço,

como se o mesmo foi algo externo a sociedade. Tal pensamento ocorre quando se

considera o espaço como sujeito, como uma “externalidade” com “leis” próprias

estranhas e anteriores ao mundo social” sem a consideração de que o espaço é

constituído pelas relações sociais, que constroem coletivamente um espaço diferenciado

e heterogêneo (Oliva, 2001).

Estudos realizados no Brasil sobre o espaço urbano ainda consideram em sua

maioria, o meio físico como uma dádiva, um presente, uma externalidade, deixando de

lado nas análises o processo de produção social que os originou (Kohlsdorf, 1985:42).

Mesmo a construção física e concreta das cidades, com suas edificações e infra-

estruturas físicas devem ser compreendidos como resultantes dos processos de

organização social (Rodrigues, 1996:14).O fato é que, de acordo com Oliva (2001) “(...) o

espaço é um dos atributos da realidade espacializada e não uma realidade independente”.

Até aqui vemos que é necessário mudar não somente o olhar para o espaço

urbano de forma mais integradora entre ambiente natural e social, mas ao fazer isso, é

primordial a produção de um novo conhecimento para uma ressignificação do saber

ambiental, como defende Enrique Leff (2002), para que seja possível mudar não só a

qualidade ambiental dos elementos, mas também a sua dinâmica de produção social.

Milton Santos (1996) nos alertou sobre a urgência e importância desta ação:
“Vivemos em um mundo exigente de um discurso, necessário à inteligência das coisas e
das ações. É um discurso dos objetos, indispensável ao seu uso, e um discurso das ações,
indispensável à sua legitimação (...) Sem discursos, praticamente não entendemos nada”
(Santos, 1996:20).

A construção deste novo saber pode dar conta das lacunas e problemas gerados

na construção espacial do território, das ações fundamentadas em uma ecologia

generalizada e um pragmatismo funcionalista, e que segundo Enrique Leff (2002) deve

se constituir numa luta no campo do conhecimento. Caso contrário continuaremos a

construir e destruir as cidades com adaptações espaciais que ao invés de serem

integradas ao espaço vivido, pelo estabelecimento de novas relações saudáveis e

realísticas de uso, acabam apenas sendo consumidas, esquecidas e destruídas, porque

não são adequadas ao lugar e às pessoas que nele vivem.

Isso ocorre porque apesar das adaptações, ou outras formas de intervenção

espacial, serem elaboradas e executadas de forma consciente e dirigida “(...) para

determinada finalidade (...) as modificações do meio natural resultantes dessas adaptações

implicam, com freqüência, em aspectos negativos imprevistos” (Ferreira, 2003:20) quando

desconectadas da realidade local.

É preciso refletir sobre as transformações que a introdução dos objetos técnicos

pode causar no território e para as pessoas. Na elaboração dos projetos é também

importante conhecer o desejo e as necessidades das pessoas que irão usá-los e apropriar-

se deles. O projeto deve ser pensado para as pessoas e não para uma localização

geográfica apenas.

Mas ainda vemos de forma predominante outra forma de intervenção e

organização espacial através da lógica zonal que tem como principal objetivo controlar

áreas e limites ou fronteiras dentro e uma localização geográfica. Esta lógica está

vinculada ao controle da superfície e privilegia a homogeneidade e a exclusividade. Mas


sem sucesso esse tipo de ação continua a comandar a organização espacial nas cidades

agravando algumas questões socioambientais urbanas.

A utilização desta lógica de organização espacial forma, segundo Rogério

Haesbaert, os território-zona, mais tradicionais, com áreas e limites (“fronteiras”)

relativamente bem demarcados e com grupos mais “enraizados”, onde a organização

em rede adquire um papel secundário. Mas ainda segundo o autor, existem outras duas

formas de organização espaço-territorial:

“(...) os territórios-rede, configurados sobretudo na topologia ou lógica das redes, ou seja,


são espacialmente descontínuos, dinâmicos (com diversos graus de mobilidade) e mais
suscetíveis a sobreposições; e aquilo que denominamos “aglomerados”, mais indefinidos,
muitas vezes mesclas confusas de território-zona e territórios-rede, onde fica muito difícil
identificar uma lógica coerente e/ou uma cartografia espacialmente bem definida”
(Haesbaert, 2006: 306).

Esta segunda lógica ou forma de territorialização apresentada pelo autor reúne os

princípios e idéias necessárias para a mudança na transformação do espaço, não mais

em zonas, mas que integrem o ambiente construído, fisíco-natural às dinâmicas sociais:

“(...) a lógica reticular, de controle de fluxos e pólos de conexão ou redes” (Haesbaert, 2006:

290).

Rogério Haesbaert nos explica a diferença entre as duas:

“A diferença entre zonas e redes tem origem, como já destacamos, em duas concepções e
práticas distintas do espaço, uma que privilegia a homogeneidade e a exclusividade, outra
que evidencia a heterogeneidade e a multiplicidade, inclusive no sentido de admitir as
sobreposições espaço-temporais” (Haesbaert, 2006: 290).

Dentro desse contexto e de forma crítica, Leandro Medrano (2004) argumenta que

a não consideração da heterogeneidade e também da fragmentação como situações reais

e inevitáveis, evidencia uma crise real sobre os ideais totalizadores.


O fato é que até hoje as ações de planejamento territorial são realizadas a partir

dessa lógica zonal, que fundamenta a elaboração dos zoneamentos, que por sua vez,

subsidiam, por exemplo, a elaboração dos Planos Diretores. Estes determinam as

delimitações e restrições de uso em cada lugar, mesmo sem, de fato, compreender a

complexidade das relações que são estabelecidas no espaço. Como conseqüência, não é

considerada a coexistência da diversidade de pessoas, grupos, culturas e atividades na

medida em que segmentam e separam as cidades em zonas. Para Leandro Medrano

“(...) já é consenso o descrédito progressivo nos nitidamente “Modernos” planos de grande

abrangência (como os “planos diretores”), que buscam dominar o crescimento das cidades

unicamente por meios burocráticos e legislativos (uma herança ainda viva de outros tempos

estruturalistas)” (Medrano, 2004:9).

Na medida em que se trabalha com zonas ou setores nas cidades, os benefícios,

ou resultados dos projetos são pontuais porque não consideram o espaço urbano como

um todo dinâmico e interativo. Os espaços ficam então desconectados e fragmentados.

O contrário do que é necessário para que o arranjo espacial das cidades atinja as

dimensões sociais e ambientais da sustentabilidade.

Essa lógica desprovida do entendimento da complexidade, ou seja da realidade

vivida, parece, nas palavras de Maria Adélia de Souza, olhar a cidade, o mundo como se

estes fossem uma torta, feita de camadas distintas, no caso as zonas homogêneas, ora

massa, ora recheio (Souza, 2002).

Quando se considera apenas as formas espaciais materializadas nos diferentes

usos da terra, o recheio ou a massa, representando desse modo à adoção de uma visão

espacial de espaço absoluto, estritamente material, corre-se o risco de negligenciar a

função simbólica que está vinculada aos processos da sociedade, como também as

possíveis funções conflitantes à identidade natural da terra, do meio físico e as

demandas societárias de uso do mesmo.


Como conseqüência da persistência desta visão de espaço-torta, e de modo

cumulativo ao longo do tempo “O planejamento e o zoneamento tradicional pautaram por

limitar o crescimento das cidades” (Falcoski, 1997:85). Além disso a lógica presente nas

práticas do zoneamento funcional, de separar para organizar, são responsáveis também

pela exclusão social ao fragmentar o território criando espaços urbanos monótonos e

degradados. Para Jane Jacobs, mais do que isso, a cidade funcionalista apesar de ter

produzido espaços fisicamente limpos e ordenados, ao mesmo tempo eles eram social e

espiritualmente mortos (1961 apud Falcoski, 1997:32). Não havia identificação e

sentimento de pertencimento das pessoas com os lugares transformados sem a sua

participação (Teodózio, 2003). Reduzindo a realidade do espaço urbano a uma torta

(Souza, 2002).

Esta é uma visão simplista das cidades e deve ser repensada quando se pretende

discutir sua sustentabilidade, para além das análises baseadas em números (qualidade e

quantidade de recursos naturais, dados socioeconômicos, como renda, escolaridade,

entre outros) e em formas construídas (morfologia urbana, conjunto de pontos, linhas e

áreas).

Para Alzira Krebs (2002:11) apesar da grande produção bibliográfica sobre o tema

das cidades e sua estrutura “(...) não há ainda consenso sobre muitos dos aspectos que

envolvem a cidade enquanto expressão material dos processos urbanos e enquanto local e agente

de transformações sociais. Até mesmo sua definição é questão reconhecidamente controvertida,

variando segundo o ramo da ciência que procura explicá-la6”.

Assim, “Apesar de existir um pequeno entendimento sobre o que são as cidades, nós

ainda não temos uma base racional para decidir o que ela deve ser, apesar da inundação de

críticas e propósitos” (Lynch, 1981: 99).

6
“Tanto no caso da polis grega como da civitas romana o conceito de cidade não dizia respeito à dimensão espacial
da cidade, mas à sua dimensão política” (KREBS, 2002: 21).
O uso real do espaço diz respeito às pessoas, continuamente desconsideradas nas

análises espaciais que subsidiam a elaboração dos planos e outras ações de ordenamento

territorial. E é aqui que a mudança deve começar. Para Maria Adélia Aparecida de

Souza (2002:5) é inaceitável estudar “(...) a realidade do mundo de hoje, revolucionado pela

técnica, pela ciência e pela informação, com olhares dos anos 50 e 60, apenas fazendo um jogo de

palavras para colocar uma roupa nova num velho conceito e, sub-repticiamente, mudar o foco do

problema”. A autora defende que os estudos, as normas, os conceitos e as metodologias

que fundamentam e fortalecem as formas de intervenção espacial para a promoção

humana e social precisam ser revistas.

E para quê mudar? Para Ermínia Maricato existem motivos concretos para a

mudança:

“(...) há mudanças nas atividades econômicas, há mudanças na composição tecnológica de


produção, há mudanças na relação de trabalho, há uma centralização no controle dos
negócios e ao mesmo tempo a possibilidade do espraiamento da produção pós-fordista, há o
aumento na mobilidade do capital, esses e outros argumentos justificam portanto as
mudanças urbanas e urbanísticas” como também das matrizes do planejamento
urbano (2000:132-133).

Para Oliva (2001:11) “(...) somente outra visão de espaço poderá fornecer condições

lógicas e teóricas para trabalharmos a cidade, os subúrbios, o automóvel e o espaço urbano como

elementos componentes da sociedade: como produtos e produtores das relações sociais”. A partir

daí muda-se então o sujeito do processo de produção e organização espacial, ao invés de

adotar o meio enquanto indutor da dinâmica de transformação do espaço, a sociedade é

que se torna o verdadeiro sujeito do processo.

Kevin Lynch afirma que a consideração do comportamento humano no uso,

apropriação e organização do espaço é o aspecto chave que irá fazer a diferença no

processo de planejamento territorial. Isso porque, para além da organização dos

elementos materiais e tipos de uso definidos, o planejamento deve focar além do


ambiente físico externo para acomodar também a variedade do comportamento humano

de forma integrada aos sistemas ecológicos (1980 apud Teodózio, 2003:19).

Mas o fato é que as estratégias de desenvolvimento e ordenamento do território

continuam a privilegiar as formas, a quantidade e qualidade de recursos naturais, em

detrimento da complexidade urbana, cuja abordagem abrange os elementos físicos mais

a vida que os anima, representada pelas relações sociais. Sobre esse aspecto Arlete

Moysés Rodrigues argumenta que:

“(...) Desconsidera-se, de modo geral, o processo produtivo e a produção social do espaço


– que é um processo pelo qual se ocupa um espaço no qual se reproduz e/ou reproduz
relações sócio-espaciais e se reproduzem relações dominantes de produção e de reprodução
como parte integrante das relações societárias com a natureza” (1998:87).

Nesse ponto, é justificada mais uma vez a crítica feita ao projeto moderno e

outros com lógicas similares, que apenas consideraram e desejaram acomodar os

sistemas construtivos, a materialidade, a arquitetura, os objetos técnicos como se o

espaço fosse um receptáculo, uma folha em branco a ser preenchida segundo os

caprichos, interesses ou determinações políticas dominantes. Dominantes e impostas

porque não consideraram a variedade do comportamento humano e assim padronizam

as propostas de intervenção, sem considerar as experiências cotidianas que interferem

na qualidade ambiental e de vida. Como se vê as idéias sempre estiveram fora do lugar,

como nos alerta Ermínia Maricato (2000).

Sobre esse deslocamento das idéias com a realidade vivida, Luiz Antonio Nigro

Falcoski (1997) explica que:

“(...) a racionalização tende a negar a experiência cotidiana e o acaso pela mediação de


uma causa oculta e fechada. (...) Talvez, nesse sentido, pode-se dizer por exemplo, que os
paradigmas modernista e racionalista da arquitetura e urbanismo, tenham se
transformado num discurso e uma coerência lógica mutiladora e fechada às novas
experiências e sensibilidades, em cuja racionalidade e um momento histórico
imediatamente anterior tenha se transformado em racionalização estreita, ilusória e
idealista” (1997:11).

Porém, mudanças podem ser obtidas através de intervenções parciais ligadas ao

desenho urbano, que segundo Leandro Medrano (2004):

“(...) surgem e são consideradas como uma alternativa produtiva e viável à valoração ou
reorganização de fragmentos da cidade – permitindo, inclusive, uma abrangência muito
mais ampla que os limites físicos de sua implantação. A idéia de planificação passa a ser
substituída por uma “idéia de diversidade” – a formação de uma estética complacente com
uma cidade que se desenvolve heterogênica” (Medrano, 2004:9).

Essa mudança de visão e percepção do espaço urbano já mostra alguns indícios

de avanços na visão de alguns autores como Octavio Lacombe (2006). Para este autor,

“A partir do século XX, transformações significativas nos campos da ciência, tecnologia e da arte

passam a repercutir, e se desdobram até hoje alterando a visão de mundo calcada nos princípios

do racionalismo que tem origem na cultura clássica” (Lacombe, 2006:7).

É reconhecido o avanço das discussões conceituais e das pesquisas desenvolvidas

sobre a questão do meio ambiente urbano, sob o enfoque da sustentabilidade que vêm

contribuindo para a necessária mudança de olhar sobre a questão ambiental das

cidades. Atualmente, as concepções sobre espaço urbano concentram-se “(...) já em uma

série de características essenciais do mesmo – com sua natureza simultaneamente física e social,

ou com sua historicidade responsável pela indissolubilidade da relação espaço-tempo”

(Kohlsdorf, 1985:55).

Maria Elaine Kohlsdorf (1985) explica que já foram realizadas tentativas de

interpretações das cidades sob outros ângulos, como as realizadas pela Escola ecológica

ou de Chicago, nas primeiras décadas do século XIX com Park, Burgess e McKenzie, e

através da neo-ecologia nos anos cinqüenta. Porém, conforme aponta a autora, tais
análises ainda utilizavam os “(...) princípios da ecologia para explicar as organizações sociais

urbanas”, tendo assim como objeto de estudo as relações entre o meio (e não entre o

espaço) e a sociedade (Kohlsdorf, 1985:35).

Outras mudanças que indicam o surgimento de uma nova racionalidade

decisional são apontadas por Luiz Antonio Nigro Falcoski:

“(...) têm surgido atualmente vários estudos e contribuições de revisão teórico-


conceitual e metodológica apontando para um novo processo de integração de
conhecimentos, conceitual e radicalmente diferentes da versão d planejamento
científico-sistêmico e dos planos diretores integrados da década de 70,
envolvendo inovações no campo do direito urbanístico, geografia urbana,
engenharia urbana, ecologia, engenharia ambiental, gerenciamento urbano,
urbanismo, desenho urbano e outros campos disciplinares tendo como objeto de
estudo os fenômenos espaciais e urbanos, bem como suas transformações
decorrentes do advento de novas tecnologias de informação digital e da
comunicação” (Falcoski, 1997:112)

Emília Wanda Rutkowski nos apresenta o planejamento ambiental estratégico

como um dos caminhos que busca interpretar os eventos na sua dinâmica socioespacial

de três formas diferenciadas. Primeiro porquê compreende os agentes sociais não só

como usuários de um recurso, mas ao considerar suas expectativas, tenta contextualizar

suas percepções sobre a questão de forma mais abrangente. Segundo, porquê ao tratar

historicamente os eventos, mapeia os condicionantes que induziram o quadro de

conflitos. Terceiro porquê circunscreve, tecnicamente, esta preocupação à uma área de

abrangência cujos limites são reconhecidos. Além do mais, os objetivos e metas de

modificação da realidade podem ser reconstruídos ao longo do processo com a

participação efetiva dos interessados, diferente da prática muitas vezes recorrente de

importação das idéias (Rutkowski, 1999:151).

Mesmo assim ainda existe uma distância entre a produção científica e a prática

governamental na execução de ações que promovam a melhoria ou manutenção da

sustentabilidade urbana obtidas por uma nova abordagem do espaço. E mesmo que na
prática do planejamento e da gestão ambiental ainda não seja identificada uma mudança

significativa na visão de espaço adotada para o tratamento das questões urbano-

ambientais, existem discussões e estudos sendo desenvolvidos por diversos autores

(Lefebvre, 1969, Harvey, 1980, Kohlsdorf, 1985, Santos, 1996, Oliva, 2001, Rodrigues,

2001, Suertegaray, 2001, Krebs, 2002, Godoy, 2004, Limonad, 2004, Souza, 2002) sobre os

processos de organização espacial, que direta ou indiretamente enfatizam a importância

da adoção da visão de espaço relativo para o entendimento do que as cidades são de

fato, espaço complexo e dinâmico. Todos estes trabalhos são de extrema importância

para a mudança de olhar para o espaço urbano.

Se a análise das cidades tiver como ponto de partida a adoção da visão de espaço

relativo, consegue-se melhor compreender que no espaço das cidades não existem

apenas formas construídas materializadas em objetos geográficos, mas também existem

relações entre a forma espacial e a estrutura social na organização e consumo do espaço

urbano. Feito isso, ampliam-se as possibilidades de melhorar não só a qualidade

ambiental, mas também a de vida, e não de uma forma imposta por agentes

hegemônicos, mas por todos aqueles que vivem e usam o território. Para quem sabe as

idéias não serem mais aquelas fora do lugar, mas sim aquelas concebidas dentro dele e

para ele.

Mesmo que ainda não tenhamos avançado muito para uma outra forma de

compreensão do mundo, continuamos a avançar no desenvolvimento de pesquisas,

metodologias e ferramentas para reverter os processos de degradação socioambiental

vigentes e também, com a forte influência de instrumentos legais, a prevenir a geração

de outros impactos.

É crescente o número de pesquisas para a compreensão dos impactos ambientais

e proposição de medidas mitigadoras das atividades de diferentes tipos de

empreendimentos, principalmente os industriais, que hoje contam com novas

metodologias de produção mais limpa e ecologia industrial a fim de integrar seus


processos de forma sustentável aos da natureza. Também vemos no campo da

arquitetura inúmeros trabalhos de arquitetura vernacular, que utilizam materiais

construtivos das proximidades locais, a fim de reduzir os impactos ambientais tanto no

transporte como para integrar o projeto as características locais e regionais da paisagem.

Temos também a arquitetura verde ou sustentável que é aquela que procura otimizar o

uso de energia ao utilizar de forma passiva os recursos naturais, como a luz solar e os

ventos, reduzindo, por exemplo o uso de ar condicionado. Este tipo de arquitetura ainda

procura integrar a implantação do projeto à topografia local, às legislações locais e

estaduais de uso e ocupação do solo, como também atender as normas ambientais

vigentes.

Junto com esta prática foram desenvolvidas diversas ferramentas de avaliação de

desempenho ambiental de edificações, mas que devem ser usadas com critérios porque

os sistemas são desenvolvidos a partir dos valores e preocupações ambientais do seu

país e local de origem dificultando a aplicação indiscriminada em outros lugares.

Também foram desenvolvidas ferramentas para calcular a pegada ecológica das cidades

e de pessoas, com o objetivo de avaliar o quanto é utilizado de recursos naturais para a

obtenção de insumos a fim de atender as necessidades das pessoas e para manter as

atividades e serviços necessários á manutenção das cidades.

A pegada ecológica também avalia o outro lado da cadeia quando os resíduos

gerados são descartados, pois nesta fase também há o potencial de degradação

ambiental e de geração de conseqüências negativas na qualidade de vida das pessoas.

Esta também é uma ferramenta interessante para reorientar práticas produtivas mais

conscientes da finitude dos recursos naturais e também para induzir mudanças de

comportamento social sobre o consumo e o descarte adequado dos resíduos. Também

estão em andamento pesquisas sobre técnicas alternativas para o tratamento de resíduos

que minimizem os impactos ambientais, como é o exemplo de pesquisas para aprimorar

as estações de tratamento de efluentes, com o reaproveitamento do lodo produzido no


processo. Também existem pesquisas para desenvolver técnicas para a reciclagem de

materiais da construção civil. Todas estas ações compartilham da mesma preocupação

que é a de não extinguir os recursos existentes para a manutenção dos serviços, ao

menos os básicos, ofertados nas cidades à população.

A principal contribuição destes estudos, pesquisas e novas técnicas para

intervenções sustentáveis na cidade está em considerar as cidades como constituídas de

sistemas que se inter-relacionam e são interdependentes para a manutenção das funções

necessárias à manutenção da qualidade ambiental adequada à sobrevivência do homem.

Esse pode ser o ponto de partida para novas reflexões sobre como planejar e ordenar o

território.

Porém o que vemos são avanços no pensar técnico, seja na forma de integração

entre objeto técnico e meio natural, seja no desenvolvimento de tecnologias para

integrar os processos produtivos aos processos naturais e assim não sobrecarregar a

capacidade de suporte dos ecossistemas.

Mas estas são idéias recentes e que se diferenciam um pouco das que

influenciaram de forma significativa as intervenções espaciais em outra escala, a do

território. Porque as primeiras pensam e consideram as interações entre suas atividades

e os processos ecológicos e também os benefícios e impactos de suas ações.

Porém, nas atividades de planejamento territorial ainda constatamos ações

segregadoras e fragmentadoras, na medida em que setorizam e determinam funções

específicas e localizadas ao espaço, pensando o território em camadas completamente

desconectadas do espaço real, sem considerar as interações físicas, ecológicas e socais

existentes no espaço .

O que ainda se vê são práticas de divisão funcional e de segregação espacial,

como no caso dos planejamentos e zoneamentos, que compartimentam e fragmentam as

cidades por tipos de usos, que muitas vezes negligenciam as reais demandas societárias.

O resultado prático são espaços subutilizados, abandonados, degradados como também


a ocupação ilegal de espaços considerados de preservação ambiental, que mesmo com

severas restrições de uso, são atingidos pela dinâmica própria de ocupação social do

espaço.

Anne Whiston Spirn (1995) argumenta que os administradores e planejadores

públicos devem compreender a cidade como parte da natureza, sem fragmentá-la para

projetá-la de acordo com os processos naturais, aproveitando as potencialidades da

natureza “(...) para a conformação de um habitat urbano benéfico”. Porém a autora

acrescenta, que o valor da natureza só será apreciado e incorporada no momento em

que todo o ambiente urbano for considerado como um único sistema interativo (Spirn,

1995:15).

Capítulo 2. As funções para o verde urbano

"(...) o ambiente envolve o homem, a sociedade? (...) Porque conhecer? Para salvar o ambiente, ou a vida,
sobretudo a humana” (Souza, 2002:6)

Passados vinte e um anos desde a divulgação do conceito de desenvolvimento

sustentável (Relatório Bruntland, 1987), a sustentabilidade ainda é ponto central nas

discussões relativas ao futuro das cidades, porque não se reclama apenas pelo direito à
cidade, as reivindicações sociais e preocupações de estudiosos do espaço urbano

também estão centradas no direito a cidades sustentáveis.

No art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, este direito

já estava claramente evocado: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações”.

Outras regulamentações brasileiras também defendem a garantia a este direito

como o Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257 – 2001) que tem como objetivo principal o

pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana através

da “(...) garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à

moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços

públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”. A promulgação desta lei

é uma conquista social porque, conforme conteúdo do próprio documento, as pessoas

passam a ser o centro das preocupações e têm o direito a uma vida saudável e

produtiva, em harmonia com a natureza, conforme dispõe o princípio 1 da Declaração

do Rio (Agenda 21).

No documento “Cidades Sustentáveis – Subsídios à Elaboração da Agenda 21”

(2000) foram apresentadas propostas a fim de se alcançar as mudanças desejadas. Nesta

ocasião foram apontadas quatro estratégias de sustentabilidade urbana, com propostas

para cada uma delas, declaradas como prioritárias para o desenvolvimento sustentável

das cidades brasileiras:

1) “Aperfeiçoar a regulamentação do uso e ocupação do solo urbano e

promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria das

condições de vida população, considerando a promoção da equidade, a

eficiência e a qualidade ambiental;


2) Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da

capacidade de planejamento e gestão democrática da cidade, incorporando

no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva

participação da sociedade;

3) Promover mudanças nos padrões de produção e consumo da cidade,

reduzindo custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de

tecnologias urbanas sustentáveis.

4) Desenvolver e estimular a aplicação de instrumentos econômicos no

gerenciamento dos recursos naturais visando a sustentabilidade urbana”

(2000:15).

Porém desde então pouco se avançou e a busca por um desenvolvimento

equilibrado é continua e permanente, reflexo da crise urbana, conseqüência do modelo

obsoleto e irracional de ocupação do espaço. Para Henrique Rattner “A urbanização

rápida e a intensa concentração de indústrias, serviços e, portanto, de seres humanos, têm

transformado as cidades no oposto de sua razão de ser – um lugar para viver bem, nas palavras de

Aristóteles” (Acselrad, 2001:9).

Para a elaboração de propostas consistentes que revertam essa situação, é

necessário compreender outras funções que o verde pode desempenhar para além da

preservação da biodiversidade, porque quando se fala em cidades não é mais possível

separar as questões sociais das ambientais. De outro lado, também é necessário ampliar

a percepção de que outros espaços verdes urbanos, como praças e jardins também

podem desempenhar outras funções além da contemplação e do embelezamento. Nesse

sentido é necessário o entendimento de que as questões ambientais não diferem das

questões sociais, porque na realidade “as soluções ecológicas e sociais se reforçam

mutuamente e garantem cidades mais saudáveis, cheias de vida e multifuncionais” (Rogers,

2001:32).
Administradores e planejadores públicos devem compreender a cidade como

parte da natureza, sem fragmentá-la para projetá-la de acordo com os processos

naturais. Porém o valor da natureza só será apreciado e incorporada no momento em

que todo o ambiente urbano for considerado como um único sistema interativo (Spirn,

1995:15).

Além das funções dos espaços verdes também é fundamental compreender que a

sustentabilidade urbana possui múltiplas dimensões pois só assim é possível mudar a

lógica das ações sustentáveis, que até hoje privilegiaram a função de preservação e

conservação ambiental, ou seja, sua dimensão ecológica. Luiz Roberto Monte-Mór (1994)

argumenta que a sustentabilidade no espaço urbano têm relação direta com o grau de

permeabilidade e integração entre o espaço natural e o espaço social, centrados na

conservação das condições ecológicas adequadas às distintas comunidades. Para atingir

graus satisfatórios e adequados é necessário reformular o modelo territorial urbano e

metropolitano de organização espacial.

Porém, existem alguns entraves que dificultam o rearranjo espacial das cidades,

segundo Alzira Krebs (2002: 178) em função da visão da:

“(...) obediência irrestrita aos princípios ditados pelo urbanismo funcionalista que ao
fragmentar demasiadamente o espaço e o tempo urbanos, de acordo com funções
predeterminadas faz com que em muitas áreas da cidade certos equipamentos ou
amenidades não façam o menor sentido, pois, pelas circunstâncias urbanísticas impostas
ou inexistentes, carecem de usuários para delas se servirem”. Além disso a “(...) carência
de recursos financeiros para a realização de pequenas medidas de construção da
urbanidade, reforçada por uma cultura segundo a qual somente grandes obras resolverão
os problemas urbanos” (Krebs, 2002: 178).

Já para Ermínia Maricato (2000) existe um “(...) deslocamento entre as matrizes que

fundamentam o planejamento e legislação urbana no Brasil, e a realidade socioambiental de

nossas cidades (...)” (2000:121). Compartilhando a mesma opinião, Henri Acselrad (2001),
ao rever a história da gestão estatal do meio ambiente no Brasil desde a década de 70,

argumenta que “(...) as políticas ambientais explícitas do governo brasileiro surgem com traços

burocráticos e sem nenhuma articulação com a sociedade” (2001:78 apud Teodózio, 2003:37).

Sobre esse tema, Maria Adélia Aparecida de Souza (2008) argumenta que não

existem apenas questões físicas - ambientais a serem enfrentadas, mas também questões

sociais e geográficas.

Para Henri Acselrad aqueles que defendem a equidade como princípio da

sustentabilidade articulam tal discurso com a inseparabilidade analítica entre justiça e

ecologia, e argumenta que “A raiz da degradação do meio ambiente seria a mesma da

desigualdade social” e que:

“(...) embora ecologicamente equilibrado o mundo é socialmente fragmentado. E para os


muitos mundos em que se divide o planeta pela desigualdade social entre classes e regiões,
a questão da pressão agregada sobre os recursos ambientais é atravessada pelas temáticas
da desigualdade distributiva, da dependência financeira, da desigualdade no controle”
(ACSELRAD, 2001:34).

Isso nos faz pensar na necessidade de mudanças de paradigmas para a

construção do conceito de sustentabilidade urbana. A problemática ambiental urbana,

com exceção de algumas ações pontuais, ainda não apresenta soluções claras e

consistentes na requalificação da qualidade de vida e dos espaços construídos.

A supervalorização da temática ambiental também se tornou um problema na

medida em que não existe uma discussão teórica mais consistente sobre o assunto.

Maria Adélia Aparecida de Souza (2008) argumenta que o conceito de sustentabilidade e

ambiental foi introduzido na Universidade:

”(...) sem crítica, pois os estudos e teses produzidos nos inúmeros programas de pesquisa
não cuidaram do rigor metodológico, isto é, de um método que se ajuste as características
do funcionamento deste mundo novo em que vivemos. As matrizes montadas se revelam
inconsistentes do ponto de vista do método: não há rigor disciplinar, nem interdisciplinar
e sequer transdisciplinar. O que prevalece é o método analítico em mundo impregnado de
contradições. Conceitos são justapostos para montagem de um vigoroso discurso político-
ideológico. Porém não há a produção de um rigoroso texto teórico sobre a questão
ambiental no Brasil” (Souza, 2008:1).

A este respeito Enrique Leff nos diz que:

“(...) a crise ambiental é acima de tudo um problema de conhecimento o que nos leva a
repensar o ser do mundo complexo, a atender suas vias de complexificação (a diferença e o
enlaçamento entre a complexificação do ser e o pensamento) para, a partir daí, abrir novas
pistas para o saber no sentido da reconstrução e da reapropriação do mundo” (2002:191).

Para este autor, a crise ambiental é um sintoma dos limites da racionalidade

científica e instrumental e tem suas raízes na forma de conhecer o mundo e pode ser

superada através de transformações do conhecimento “(...) por meio do diálogo e da

hibridização de saberes” (2002:192).

Apesar dos avanços nas metodologias de avaliação de impactos ambientais e na

compreensão dos processos que causam degradação ambiental, ainda não existe um

consenso, nem metodologias eficientes em medir a sustentabilidade urbana porque

ainda falta o essencial, a compreensão do que ela É de fato e não o que DEVE SER.

Dentro desse contexto a noção de sustentabilidade tem estreita relação com outro

conceito, que é o de integridade. Mesmo que alguns estudos ecológicos tenham

realizado pesquisas sobre a integridade de determinados ecossistemas ou comunidades

vegetais ou animais, quando aplicado no contexto urbano, o conceito assume outro

significado. No espaço urbano a integridade da paisagem tem estreita relação com a

funcionalidade dos objetos produzidas no espaço “(...) que articulam e organizam, em suas

funções específicas, intercâmbios sociais que envolvem o trabalho e a produção” (Godoy, 2004:5).

Uma paisagem íntegra é aquela que possui adequação entre forma e conteúdo,
respeitando os aspectos da preservação ambiental, de seus elementos constituintes e

assim consegue ofertar indiscriminadamente múltiplos serviços ambientais à população.

Existem quatro categorias dos serviços ambientais (suporte, regulação, provisão e

cultural), definidos pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio, (ecosystems services,

ONU, 2005) que estabelecem relação direta entre o desempenho de suas funções com o

bem-estar humano. Os serviços ambientais podem melhorar tanto a qualidade

ambiental como de vida nas cidades se tais funções forem potencializadas. Isso é

possível através da constituição de redes técnicas ambientais, compostas por fixos (áreas

verdes) e fluxos que circulam na rede (serviços ambientais).

2.1 A sustentabilidade urbana

Parece difícil ler, falar de sustentabilidade nas cidades e não refletir com certo

estranhamento quando pouco se fala das pessoas e do lugar onde residem e trabalham.

Na maioria dos casos, parece apenas interessar no debate a riqueza natural e nela não se

incluem as pessoas. Sendo assim o foco é no meio ambiente, nos recursos naturais e

processos ecológicos e não no homem ou na sociedade.

Ainda estamos caminhando para a construção deste novo conhecimento do

mundo, e desde que iniciaram-se as preocupações com a crise ambiental e os limites na

utilização dos recursos naturais, o que mais tem se buscado foi a definição e

universalização de conceitos que moldem projetos de sustentabilidade. Porem antes da

produção do saber ambiental necessário para a reformulação das formas de intervenção

no mundo, Maria Adélia Aparecida de Souza argumenta que a adoção dos conceitos

vindos das agências internacionais foi extremamente rápida, fazendo parecer inclusive

que a “(...) ciência ambiental foi inventada a partir da decisão das Nações Unidas de promover

suas reuniões mundiais, seja em Estocolmo, no Rio de Janeiro ou em qualquer outra parte do

mundo, iniciada com a Carta Mansholt, na década de 70" (Souza, 2008:1).


Para Enrique Leff, “(...) a solução da crise ambiental – crise global e planetária – não

poderá surgir apenas por uma gestão racional da natureza e dos riscos da mudança global. A

crise ambiental leva-nos a interrogar o conhecimento do mundo (...)” (2002: 195).

O primeiro conceito produzido e divulgado internacionalmente foi o de

desenvolvimento sustentável, e os efeitos da divulgação deste conceito são perceptíveis até

os dias atuais, e ainda nfluenciam a elaboração de propostas que mais agravam os

conflitos socioambientais do que os solucionam, como as descritas acima por Paul

Hellmund e Daniel Smith (2006). Porque ainda falta o que Enrique Leff (2002) defende,

um novo conhecimento do mundo em sua complexidade.

A concepção de desenvolvimento sustentável (DS) passou a ser amplamente

difundida a partir de 1987 com o Relatório Brundtland – “Nosso Futuro Comum”

(WCED, 1987) onde se definia que este é “aquele que responde as necessidades do presente de

forma igualitária mas sem comprometer as possibilidades de sobrevivência e prosperidade das

gerações futuras”. Henri Acselrad nos conta que:

“Diversas matrizes discursivas têm sido associadas à noção de sustentabilidade


desde que o Relatório Bruntland a lançou no debate público internacional em
1987. Dentre elas, podem-se destacar a matriz da eficiência, que pretende
combater o desperdício da base material do desenvolvimento, estendendo a
racionalidade econômica ao “espaço não mercantil planetário”; da escala, que
propugna um limite quantitativo ao crescimento econômico e à pressão que ele
exerce sobre os “recursos ambientais”; da equidade, que articula analiticamente
princípios de justiça e ecologia; da auto-suficiência, que prega a desvinculação de
economias nacionais e sociedades tradicionais dos fluxos do mercado mundial
como estratégia apropriada a assegurar a capacidade de auto-regulação
comunitária das condições de reprodução da base material do desenvolvimento;
da ética, que inscreve a apropriação social do mundo material em um debate
sobre os valores de bem e de mal, evidenciando as interações da base material do
desenvolvimento com as condições de continuidade da vida no planeta”
(Acselrad, 2001: 27).

Sobre as matrizes discursivas da sustentabilidade e a legitimação de posições e

discursos ideológicos, Enrique Leff (2002) também acredita que a crise ambiental tem
sido explicada através de uma diversidade de perspectivas ideológicas. Par ao autor, a

crise:

“(...) por um lado é percebida como resultado da pressão exercida pelo crescimento da
população sobre os limitados recursos do planeta. Por outro, é interpretada como o efeito
da acumulação de capital e da maximização da taxa de lucro a curto prazo, que induzem a
padrões tecnológicos de uso e ritmos de exploração da natureza, bem como formas de
consumo, que vêm esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade
dos solos e afetando as condições de regeneração dos ecossistemas” (Leff, 2002: 59).

Em 1992 com a RIO 92 a noção de sustentabilidade, e não somente os princípios

presentes no conceito, passou a ocupar um espaço crescente nos debates de

desenvolvimento principalmente porquê naquele momento “(...) a crise “ambiental” é, a

um só tempo, generalizada e global” (Guimarães, 1997:14).

Porém, as políticas, planos, programas, metodologias e instrumentos de

ordenamento do território foram, na sua grande maioria, elaborados baseados no

conceito de desenvolvimento sustentável de 1987 e suas derivações. Tais ações além de

adotaram equivocadamente a visão de espaço absoluto em suas análises, utilizam

instrumentais metodológicos e matrizes discursivas 7 de outras ciências como a biologia

e a economia, que não permitem a compreensão real da complexidade que envolve a

organização espacial do espaço urbano, comprometendo a manutenção ou melhoria da

sustentabilidade. Para Henri Acselrad (2001: 30) “(...) o futuro das cidades dependerá em

grande parte dos conceitos constituintes do projeto de futuro dos agentes relevantes na produção

do espaço urbano”.

Além destas considerações, a utilização de apenas uma disciplina ou ciência

como base teórica para a discussão da sustentabilidade, já é um começo equivocado por

causa da natureza do conceito de sustentabilidade que, segundo Folladori (1999:27), é

7
“As matrizes discursivas devem ser entendidas como modos de abordagem da realidade, que implicam diversas atribuições do
significado. Implicam também em determinadas categorias de nomeação e de interpretação como na referência a determinados
valores subjetivos” (Sader, 1988 apud RODRIGUES, 1998:90).
“forçosamente interdisciplinar”. Por isso é importante compreender que as variáveis

críticas que controlam a saúde e o funcionamento de um ecossistema, que tem o

potencial de contribuir na manutenção da sustentabilidade, apenas podem ser

determinadas integrando informações das ciências naturais e sociais.

O autor argumenta que a elaboração dos diferentes métodos para analisar e

mensurar a sustentabilidade, muito desenvolvidos nos anos 80 e 90, foi baseada em

instrumentais teóricos de outras ciências influenciando assim a seleção de critérios,

categorias de análise e métodos de avaliação. A influencia de tais instrumentais acabou

comprometendo a medição e a discussão sobre a sustentabilidade urbana, por não

considerar as relações sociais, que tem incidência direta nos problemas ambientais,

considerando a sociedade uma unidade homogênea e os seres humanos como iguais na

relação com seu entorno (Folladori, 1999).

E apesar dos avanços teóricos, conclui-se que após a difusão do conceito de DS os

estudos e ações práticas desenvolvidas nas cidades parecem não ter avançado em outra

direção. Não foi constatada a incorporação das relações sociais de organização e

consumo do espaço em análises espaciais da sustentabilidade, mesmo sob a crescente e

forte crítica à aplicação deste conceito nas cidades (Acselrad, 2001 e Rodrigues, 1997).

A partir desta constatação surge o questionamento: Desenvolvimento sustentável,

para quem e onde? Para Acselrad (2001) o desenvolvimento sustentável é um objetivo

que ainda não se conseguiu apreender, então segundo o autor, como é possível definir

algo que não existe?

Para Arlete Moysés Rodrigues (2001) a agregação das palavras desenvolvimento

e sustentável é um paradoxo. Isso porque quando se fala em desenvolvimento, o mesmo

não tem limites tendo em vista que a cada estágio que se alcança, ainda se pode avançar

mais. O parodoxo é que sustentável, segundo a autora, significa manutenção das

condições. Então como avançar mantendo as condições? A autora ainda esclarece que

“Pensando em termos do modo de produção de mercadorias - o sustentável seria a manutenção


destas condições e para isso dever-se-ia pelo menos diminuir a depredação dos recursos,

relacionando-o à produção e não apenas ao consumo” (2001).

Sobre as relações problemáticas da associação entre meio ambiente e

desenvolvimento sustentável, e dos conseqüentes estudos, pesquisas e projetos

desenvolvidos que buscam o equilíbrio entre a natureza e o desenvolvimento, Maria

Adélia Aparecida de Souza nos coloca a sua posição sobre tudo isso:

"(...) nossa hipótese de reflexão central deste texto é que meio ambiente e desenvolvimento
sustentável, são falsos problemas acadêmicos e científicos. O que existem são processos
geográficos, biológicos e processos geológicos interagentes e que podem e devem ser cientificamente
estudados. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável são metáforas, discursos políticos e não
temas científicos" (Souza, 2008:3).

Outra consideração feita por Arlete Moysés Rodrigues é a de que os recursos a

serem preservados e/ou conservados são destinados à gerações futuras, deixando de

atender as gerações presentes (Rodrigues,2001) . Porém a manutenção de um ambiente

ecologicamente equilibrado depende do uso que se faz do mesmo no presente. Não é

possível preservar algo para o futuro, sem que exista envolvimento da sociedade

presente, já que é esta que se relaciona com o meio, ou melhor, com o espaço, na

construção do futuro desejado. Para Folladori (1999:32) “(...) o conceito de

sustentatibilidade associado ao desenvolvimento sustentável inclui não só chegar às futuras

gerações um mundo material (biótico e abiótico) igual ou melhor ao atual, se não, também, uma

equidade nas relações intrageneracionais atuais (...)“.

Para Folladori “Não se pode pensar a equidade se a sociedade é analisada como uma

unidade. Tampouco, medir a equidade se são utilizadas medidas que ocultam as diferenças

sociais” (1999:19-20). Um dos problemas advindos da utilização dos princípios do

discurso clássico de desenvolvimento sustentável, é que ao se pensar em uma geração

futura, ela se torna abstrata, uma unidade desconhecida, homogênea, o contrário do que
é necessário para discussão e proposição de medidas que melhorem o grau de

sustentabilidade presente.

As análises resultantes da consideração da sociedade como unidade homogênea,

que têm como foco práticas de uso de recursos sustentáveis para o futuro de uma

sociedade abstrata, influenciam toda a construção de instrumentos e ferramentas de

ordenação do território. Como conseqüência, planejadores e políticos acabam tirando

conclusões inconsistentes sobre o território e elaboram políticas e planos ineficazes no

alcance dos objetivos pretendidos. E ainda, os projetos e obras que modificam a

configuração espacial das cidades também são influenciados por este tipo de

pensamento. À exemplo disso, a elaboração de legislações protetoras de recursos

naturais (federais e estaduais) e de regulamentações de uso e ocupação do solo

municipais não conseguem efetivamente evitar a degradação ambiental e reverter o

processo de desqualificação do ambiente urbano. As ações promovidas parecem apenas

resolver problemas pontuais, que acabam por fragmentar ainda mais o território.

Principalmente porque nas cidades existem contextos socioeconômicos e

espaciais completamente diversos, que exigem soluções adequadas e integradas às suas

especificidades. E ainda pensando nas gerações futuras, David Harvey chama a nossa

atenção para o fato de que o que faz sentido para uma geração “(...) não tem forçosamente

utilidade para outra” já que a cada momento histórico os agentes hegemônicos e outros

mais ativos na organização do território, definem o tipo de natureza que será produzida

em função dos poderes de transformação acumulados (2004:282).

Henri Acselrad (2001) nos alerta para os riscos dessa “causalidade teleológica”

entre um presente conhecido e um futuro desconhecido e desejável na qual para um

acontecimento ocorrer é exigido que outro acontecimento aconteça. O autor nos dá

exemplos, já ocorridos na história brasileira de tais esperanças e expectativas apoiadas

em eventos futuros que não chegaram a se concretizar: “é preciso crescer para depois
distribuir”, “estabilizar a economia para depois crescer”, “sacrificar o presente para

conquistar o futuro” (Acselrad, 2001: 30).

Para a elaboração de políticas, planos e programas que visem a sustentabilidade

deve-se considerar as contradições e conflitos existentes nas populações residentes e

usuárias das áreas que serão objeto de intervenção. Isso porque que a natureza, os

recursos naturais podem ser utilizados de várias formas para desempenhar diversas

funções, pelo significado que possuem para diferentes grupos sociais (Rodrigues, 2001)

como também pelos problemas locais que podem auxiliar a solucionar, que variam de

um lugar para o outro.

Além do mais, diante da crise ambiental em que vivemos, é necessário o

questionamento da natureza e do ser no mundo, e assim o questionamento à unidade, à

uniformidade e à homogeneidade das formas e funções da natureza, nos leva a perceber

e desejar outras formas de intervenção e uso das áreas verdes urbanas (Leff, 2002).

Além da problemática que envolve a padronização de propostas influenciadas

pelo conceito de desenvolvimento sustentável, fundamentado em uma concepção de

espaço absoluto, outros problemas surgem com a falta de consenso sobre o que é e como

é possível atingir a tal sustentabilidade urbana.

O fato é que a partir da difusão do conceito de DS, diversos outros foram

desenvolvidos para o tratamento da problemática ambiental, principalmente a urbana.

Pelo fato de não haver um consenso sobre a definição do conceito, Henri Ascerald (2001)

provoca a discussão dizendo que as diferentes representações e valores que vêm

continuamente sendo associados à noção de sustentabilidade “(...) são discursos em

disputa pela expressão que se pretende a mais legítima. Pois a sustentabilidade é uma noção a que

se pode recorrer para tornar objetivas diferentes representações e idéias” (2001:28).

A fim de evitar a repetição incoerente de certos conceitos, a sustentabilidade não

pode ser concebida como uma receita de bolo para atingir um resultado final, mas deve
estar associada à um processo que vise, sobretudo a melhoria da qualidade de vida com

todas as suas peculiaridades. Quando ocorre o contrário disso, quando é seguido um

modelo de sustentabilidade, presenciamos “(...) processos de legitimação/ deslegitimação de

práticas e atores sociais” (Acselrad, 2001:29). Os que não seguem o modelo das ações e

práticas que são consideradas por alguma autoridade como algo bom e desejável, são

discriminadas como práticas ruins, indesejáveis e que devem se enquadrar no padrão

ideal de sustentabilidade, definido por poucos. A definição dos padrões não seria tão

negativa se houvesse um campo de interlocução eficiente onde fosse possível

coletivamente e de forma representativa pensar nos modelos e padrões ideais e

desejáveis de sustentabilidade que atenda necessidades e demandas atuais e não

somente futuras (Acselrad, 2001).

Nessa tentativa, a construção de um processo de sustentabilidade urbana não

deve estar apoiada somente em um único conceito, uma única definição, um modelo ou

receita. A sustentabilidade dentro do ambiente complexo das cidades, deve ser pensada

como uma sustentabilidade ampliada onde vários conceitos se relacionam e são

interdependentes. Assim será possível operacionalizar o conceito dentro do espaço

concreto e vivido das cidades em busca de melhores condições de vida e ambientais.

Roberto Pereira Guimarães acredita que é preciso pensar “(...) o conceito de

desenvolvimento sustentável em dimensões que lhe conferiram sentido real (...)” (Guimarães,

1997:29). Para isso o autor propõe as seguintes dimensões de sustentabilidade para as

quais ações devem ser pensadas:

Tabela 2. Dimensões da sustentabilidade urbana

Dimensões de Sustentabilidade
(GUIMARÃES, 1997: 31-39)
DIMENSÃO SIGNIFICADO
sustentabilidade planetária do relação direta com os problemas que extrapolam as
desenvolvimento fronteiras do Estado-nação, referindo-se
especificamente à necessidade de reversão dos
processos globais de degradação ecológica e
ambiental
refere-se a base física do processo de crescimento e
sustentabilidade ecológica do objetiva a conservação e uso racional do estoque de
desenvolvimento recursos naturais incorporados às atividades
produtivas
está intimamente relacionada com a manutenção
sustentabilidade ambiental do da capacidade de carga dos ecossistemas, ou seja,
desenvolvimento a capacidade da natureza para absorver e
recuperar-se das agressões antrópicas
revela um aspecto particular das sustentabilidades
ecológica e ambiental, relacionado com a
capacidade de suporte da natureza. Neste sentido,
a sustentabilidade demográfica problematiza as
sustentabilidade demográfica
duas anteriores ao incluir como critério de política
do desenvolvimento
pública os impactos da dinâmica demográfica
tanto nos aspectos de gestão da base de recursos
naturais como de manutenção da capacidade de
carga ou de recuperação dos ecossistemas
reconhece que a base do desenvolvimento reside
sustentabilidade cultural do na manutenção da diversidade em seu sentido
desenvolvimento mais amplo e se dirigem, portanto, à integração
nacional ao longo do tempo
vincula-se estreitamente ao processo de construção
da cidadania e busca garantir a incorporação plena
sustentabilidade social do dos indivíduos ao processo de desenvolvimento.
desenvolvimento Esta resume-se, em seus aspectos micro, na
democratização da sociedade, e macro, na
democratização do Estado
projeta no próprio desenho das instituições que
sustentabilidade política do regulam a sociedade e a economia as dimensões
desenvolvimento sociais e políticas da sustentabilidade em seus
conteúdos macros
O avanço da proposta de Roberto Pereira Guimarães reside na decomposição da

sustentabilidade em outros aspectos, e no reconhecimento dos papéis da sociedade e do

Estado no gerenciamento dos recursos naturais. O interessante é que esta proposta nos

mostra que não são apenas as ações de preservação e conservação ambiental locais, que

irão reverter o grau de degradação da qualidade ambiental urbana.


A partir do entendimento de que o espaço é produzido a partir de todas essas

relações é importante que as ações que busquem construir um processo de

sustentabilidade urbana sejam elaboradas dentro de todos esses campos de ação. Nesse

sentido, definem-se aqui quatro campos de ações possíveis, que incorporam as relações

descritas e que têm o potencial de melhorar não só a qualidade ambiental como de vida

nas cidades:

a) Redes de Governança: ações e reformas institucionais, para a melhoria do

gerenciamento dos recursos naturais e atendimento de demandas e necessidades

relacionadas com a qualidade ambiental urbana e ações que evolvam a

elaboração de normas e padrões a serem seguidos, como também a promoção de

incentivos à boas práticas;

b) Dinâmicas Sociais: ações que fortaleçam as dinâmicas de controle social e

participação igualitária tanto na organização do espaço como no recebimento dos

benefícios ofertados, e que promovam mudanças de comportamento e de

padrões de consumo;

c) Insumos e Resíduos: ações que controlem a utilização de insumos e o descarte da

matéria para a manutenção das dinâmicas urbanas, relacionadas a produção de

materiais e geração de resíduos;

d) Ambiente Construído: ações de engenharia, arquitetura e planejamento que

visem à produção de um ambiente construído com edificações e espaços livres

mais integrados as características locais, ambientais e sociais, e as legislações de

uso do solo e de proteção ambiental.

Se as ações que visam à construção de um processo de sustentabilidade

considerarem a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões e as relações existentes

nesta dinâmica é possível produzir um espaço social e ambientalmente justo e

equilibrado, pois as políticas, planos, programas e projetos serão feitos não para uma
geração futura abstrata mas para aquela que de fato uso e produz o espaço real das

cidades.

Os quatro campos de ações necessárias para a


construção do processo de sustentabilidade urbana

AMBIENTE
INSUMOS E
CONSTRUÍDO
RESÍDUOS
arquitetura,
matéria prima e geração
engenharia
de resíduos
integração das
atividades humanas

REDES DE
GOVERNANÇA DINÂMICAS
estruturas institucionais e SOCIAIS
organizações comportamento –
normas, padrões,avaliação consumo
ambiental controle social

Figura 2. Campos de ação para construção da sustentabilidade urbana8

As Redes de Governança têm forte influência na organização físico-territorial do

espaço e por isso é primordial que as concepções de espaço e de sustentabilidade que

fundamentam suas ações estejam pautadas na concepção de espaço total para o

aprimoramento de instrumentos de planejamento e gestão ambiental. Entre eles:

 o zoneamento ambiental;

 as normas ambientais – e o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental a

serem seguidos;

 o processo de avaliação de impacto ambiental e os procedimentos de

licenciamento ambiental correlacionados;


8
Adaptado de “Urban Resilience: A Resilience Alliance Initiative for Transitioning Urban Systems towards
Sustainable Futures “, 2007, disponível em:
http://www.resalliance.org/files/1172764197_urbanresilienceresearchprospectusv7feb07.pdf
 os planos e programas setoriais;

 as ações de fiscalização ambiental;

 os investimentos e incentivos para mudanças de comportamento, tanto de

empreendedores, empresários, profissionais que produzem o espaço urbano

edificado, como também dos cidadãos que produzem também o espaço urbano

em escala diferenciada.

As Dinâmicas Sociais devem atuar de forma integrada com as redes de

governança. Dentro desse contexto a sociedade civil organizada também participa da

gestão do território, defendendo seus interesses e demandas, e solucionando conflitos

relativos ao uso do território, através da utilização de instrumentos de controle social e

do fortalecimento de relações com entidades e instituições diversas:

 a fiscalização e controle das atividades públicas;

 a participação na tomada de decisão – conselhos municipais e outras instâncias –

Plano Diretor – instrumentos do Estatuto da Cidade;

 o orçamento participativo;

 as audiências públicas;

 os projetos de ação popular;

 o código do consumidor;

 os sindicatos;

 as Organizações não Governamentais (ONGS) – mediadores entre sociedade civil

e Estado;

 as Universidades - integração entre comunidade, academia, poder público-

mecanismo de pressão.

Com estes instrumentos, entre outros, a sociedade civil assume a gestão

compartilhada do meio ambiente e uma maior autonomia na organização espacial do

território. Essa co-responsabilidade, promotora de uma cidadania ativa, foi defendida na

Constituição Federal de 1988, no artigo 225: "Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes

e futuras gerações".

Sobre as ações dentro dos campos de ação das Redes de Governança e das

Dinâmicas Sociais, estas estariam inseridas dentro do que Roberto Pereira Guimarães

(1997) definiu como sendo dimensões de sustentabilidade cultural, social e política,

porque envolvem: ( i ) o reconhecimento da diversidade, que pode ser tanto social como

das características físico-naturais de cada lugar; ( ii ) a construção da cidadania e; ( iii ) o

fortalecimento do papel do Estado enquanto mediador das relações entre sociedade e

natureza, e entre sociedade e agentes hegemônicos produtores do espaço, incluindo ele

próprio.

Continuando a explicação dos quatro campos de ações necessários para

construção de um processo de sustentabilidade urbana, entraremos na questão do

porquê é importante pensar em ações que tenham como objetivo gerenciar a extração

dos insumos e o tratamento adequado dos resíduos. As cidades são como organismos

vivos que absorvem recursos e emitem resíduos, pois precisam de insumos para manter

a população e os processos produtivos de modo a atender as demandas de seus

habitantes. Porém, antes da explicação de como este processo funciona nas cidades, aqui

será apresentada uma crítica de Kevin Lynch (1981) a esta analogia que se faz das

cidades enquanto um organismo, ressaltando que desta visão o que importa mesmo é a

visão holística de “olhar para este organismo vivo” e todas as suas interelações

proporciona.
“A dificuldade central é a analogia em si. As cidades não são organismos, como
não são máquinas. Elas não crescem ou mudam a si própria, ou reproduzem ou
reparam a si mesmas. Elas não são entidades autônomas, e nem correm, existem
através de ciclos de vida, ou ficam infectadas. Elas não têm partes funcionais
diferenciadas, como os órgãos dos animais. É muito fácil rejeitar as formas
grosseiras das analogias – que as ruas são artérias, os parques pulmões,
comunicações linhas nervosas, esgoto o cólon, o centro das cidades como o
coração que joga sangue no tráfego pelas artérias, e os edifícios de escritórios
(onde estão o grupo de homens de negócios, oficiais e intelectuais) é o cérebro.
Talvez é o ponto de vista holístico a mais importante contribuição da teoria
orgânica: o hábito de olhar para um assentamento como um todo que exerce
muitas funções, no qual os elementos diversos (mesmo se não estiverem
estritamente separados) estão em trocas constantes e apoiadas, e onde forma e
processo são indivisíveis. (...) Incorporando cultura e propósitos, e especialmente
a habilidade de apreender e mudar, pode fornecer um modelo de cidade mais
coerente e defensível” (Lynch, 1981: 98).

Para explicar o funcionamento deste processo nas cidades, o antropólogo e

ecologista Herbert Girardet desenvolveu o conceito de metabolismo linear (figura 3).

Linear porque os recursos que são extraídos de um lado do processo são depositados de

outro lado sem a reutilização ou reciclagem dos mesmos, gerando sérios impactos

ambientais e sociais.

Fonte: HEBERT GIRARDET ; ROGERS,2001 ; VENDRAMINI et.al,

2005 Figura 3. Metabolismo linear

Muitos são os perigos da falta de planejamento e gerenciamento na utilização

desses recursos, como também da disposição e tratamento inadequado dos resíduos que

são gerados: esgotamento de recursos não renováveis, contaminação do solo, dos

recursos hídricos e prejuízos à saúde da população são alguns exemplos dos possíveis

impactos dessas atividades. Esses efeitos evidenciam um modo predatório e

inconseqüente de se relacionar com os recursos naturais, e para Maria Adélia Aparecida


de Souza “(...) A importância da deterioração da chamada relação sociedade - natureza, é sem

dúvida nenhuma um problema com o qual devemos nos preocupar" (Souza, 2002:3).

As áreas que são degradadas para a extração de recursos naturais objetivando a

obtenção dos insumos, de um lado do processo, e as que recebem os resíduos gerados

do outro lado, podem ter seus impactos analisadas a partir da “pegada ecológica”

(ecological footprint). A pegada ecológica é a “marca” deixada no território na qual é

possível identificar os impactos ambientais que foram gerados para o desenvolvimento

das atividades humanas e atendimento de demandas e necessidades diárias. É possível

calcular a pegada ecológica, tanto de um indivíduo, de uma atividade produtiva, de

uma cidade, de uma região ou de um país e para isso existem diversas ferramentas que

foram desenvolvidas9. A importância do cálculo da pegada ecológica reside na análise

dos resultados obtidos para identificar os processos e comportamentos que são

prejudiciais e que podem ser alterados para reverter, ou minimizar a degradação

ambiental.

Dentro desse contexto, caberiam ações que considerem as dimensões de

sustentabilidade, propostas por Roberto Pereira Guimarães (1997):

- planetária - porquê os efeitos da utilização, por exemplo, de recursos não

renováveis tem conseqüências ambientais, econômicas e sociais globais;

- ecológica – porquê a utilização indiscriminada de recursos naturais para a

obtenção de insumos pode limitar o estoque da quantidade e qualidade necessária às

atividades produtivas

- ambiental – porquê a velocidade com que utilizamos os recursos e devolvemos

os resíduos no meio ambiente é preocupante se pensarmos que a capacidade de

9
Para fazer o cálculo da pegada ecológica existem ferramentas disponíveis on-line:
http://www.pegadaecologica.org.br/
http://www.esb.ucp.pt/gea/myfiles/pegada/calcula.htm
http://www.myfootprint.org/en/
autodepuração10 dos recursos naturais, é cada vez mais prejudicada nas cidades em

função da carga de resíduos excessiva que é gerada. Um exemplo é a capacidade de

autodepuração dos cursos d’água que fica comprometida com a quantidade excessiva

de efluentes domésticos lançados sem tratamento prévio. Esta capacidade tem relação

com os mecanismos de autolimpeza que a natureza possui, e que permitem, por

exemplo, um curso d´água realizar um processo de autolimpeza após receber uma

quantidade de resíduos. Sobre a utilização de recursos não renováveis, a capacidade de

recarga da natureza possui um tempo diferente do social, não permitindo a

recomposição em tempo útil. Realizar a extração dos recursos de forma sustentável é

fundamental se levarmos em consideração o tempo para renovação dos recursos como

também o esgotamento de alguns no futuro.

- demográfica – porquê quando se pensa na capacidade de suporte dos

ecossistemas a ampliação de áreas urbanas, a construção de novas áreas habitacionais e

outros tipos de organização espacial deve ser precedida com o planejamento do

gerenciamento dos resíduos que serão gerados, com por exemplo a construção de

estações de tratamento de esgoto e ampliação da rota da coleta de resíduos sólidos

domésticos. Assim, novos moradores não sobrecarregarão a capacidade de suporte dos

ecossistemas.

Aproximando a discussão da sustentabilidade, dos impactos socioambientais, do

metabolismo e da pegada ecológica com a organização do espaço urbano, e

indiretamente com a arquitetura e com a construção civil percebemos a necessidade de

se repensar os projetos e a forma de construção nas cidades. Aqui entramos no campo

de ação do Ambiente Construído. Ao mudar as práticas que envolvem a constante

reformulação do Ambiente Construído, é possível caminhar para a construção de um

processo de sustentabilidade urbana, também em suas múltiplas dimensões, não apenas

para o futuro, mas para o tempo de hoje. É urgente a necessidade de mudarmos não
10
Neste processo, toda a matéria orgânica é decomposta por fungos e bactérias que a utilizam como alimento.
apenas a forma de apropriação dos recursos naturais para a produção do espaço urbano,

mas também nossa forma de viver e de usá-lo para diminuir a nossa pegada ecológica e

como conseqüência, melhorar a qualidade de vida nas cidades. Essa mudança de atitude

relaciona-se com a lógica da eficiência que “(...) insere o homem em processos culturais de

adaptação entre meios e fins” (Acselrad, 2001:31).

Dados obtidos no levantamento realizado para a elaboração do Guia de Boas

Práticas na Construção Civil do Banco Real, apontam a necessidade de uma mudança de

atitude:

 A quantidade gerada de resíduos de construção e de demolição (RCD) é, em

média, de 150kg/m² construído, sendo que os resíduos da construção constituem

de 41% a 70% da massa dos resíduos sólidos urbanos, ou seja, em muitos

municípios mais da metade dos resíduos gerados por toda a cidade são resíduos

da construção civil11.

 O esgotamento das reservas próximas às grandes cidades faz com que a areia

natural já esteja sendo transportada de distâncias superiores a 100km, implicando

enormes consumos de energia e geração de poluição12.

O cenário atual mostra a necessidade de reorientar as práticas de projeto de

modo a diminuir a pegada ecológica das cidades, o que é possível se pensarmos em

outro tipo de metabolismo para as cidades, conforme o sugerido também por

Herbert Girardet: o metabolismo circular. As principais diferenças entre este tipo de

metabolismo linear presente na grande maioria das cidades, é que no circular a

entrada de insumos é reduzida e é promovida a maximização da reciclagem para

reduzir a geração de resíduos. Desse modo, parte dos resíduos gerados são

11
PINTO, Tarcílio de Paula. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São
Paulo, 1999. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

12
JOHN, Vanderley Moacyr. Reciclagem de Resíduos na Construção Civil: Contribuição a Metodologia e
Desenvolvimento. Livre-Docência. Universidade de São Paulo. Ano de obtenção: 2000.
reaproveitados através de ações como estas: coleta e tratamento de água para reuso

nos jardins, sanitários, limpeza; o lodo de esgoto pode ser utilizado como nutriente

na agricultura e o lixo orgânico pode ser utilizado na compostagem para enriquecer

a terra com nutrientes.

Mas existem outras práticas que podem ser pensadas e executadas, desde o

momento do planejamento da obra, da construção e operação do empreendimento

envolvendo: o atendimento da legislação e de normas ambientais, a implementação

de sistemas que objetivem a eficiência energética das edificações, a conservação da

água, da biodiversidade e dos recursos naturais, entre outras.

Ampliando um pouco a escala e pensando em práticas a serem promovidas

dentro das cidades, algumas alternativas para mudar o metabolismo e diminuir a

pegada ecológica são:

 melhorar e incentivar o uso do transporte público;

 planejar e construir centros locais próximos de residências para diminuir os

deslocamentos e a poluição gerada;

 evitar o desperdício de alimentos;

 mudar os padrões de consumos;

 utilizar produtos até o final de sua vida útil;

 promover ações de reciclagem que significa diminuir a obtenção de matéria

prima para indústria ;

 promover políticas de incentivo ao aumento da durabilidade dos produtos e;

 incentivar ações nas quais a empresa torna-se responsável pelo recolhimento e

destino correto de produtos fabricados evitando-se assim a disposição

inadequada dos resíduos.

Depois de mostrar como é possível reduzir a pegada ecológica através de práticas

adequadas na construção civil e nos projetos urbanos, serão agora apresentadas

possibilidades dos projetos de arquitetura contribuírem na redução da pegada ecológica


das cidades. Isso é possível através de dois tipos de ações, principalmente quando este

processo é iniciado na concepção do projeto, ainda em planta:

1. ao pensar na utilização de materiais construtivos locais e certificados e em

sistemas construtivos que otimizem o uso de recursos naturais, o projeto de

arquitetura contribui na redução da obtenção de insumos necessários tanto para a

fabricação dos materiais construtivos como também para a produção energética

necessária para a operação da edificação. Para isto, o arquiteto precisa conceber o

projeto em função das características locais (topográficas, climáticas, naturais),

pensar em alternativas construtivas para utilizar de forma passiva os recursos

naturais, integrando o projeto aos processos ecológicos existentes na região.

Quanto a utilização passiva dos recursos naturais, é válido lembrar que existem

algumas iniciativas e projetos que buscam ofertar serviços ambientais, assunto

que será abordado a seguir.

2. na fase de construção da obra é de extrema importância o gerenciamento dos

resíduos da construção civil, incluindo ações de redução, reutilização e

reciclagem. A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)

no 307/200213 no art. 1º estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a

gestão dos resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de

forma a minimizar os impactos ambientais. Além disso, define as

responsabilidades e deveres de cada município em licenciar as atividades de

disposição final dos resíduos como também a necessidade de fiscalização deste

processo.

Além destas ações, que já vêm sendo realizadas em algumas cidades, existem

novas gerações de arquitetos e engenheiros 14 que trabalham no desenvolvimento de


13
Para ler a resolução na íntegra acessar: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html

14
Um parêntese se faz necessário para colocar uma nova possibilidade que surge e que merece ser investigada:
Quando são tantas as possibilidades de concepção, de sistemas construtivos, de tecnologias, princípios e idéias
presentes e necessárias para a elaboração de projetos de arquitetura de baixo impacto que contribuam para a
sistemas que utilizem fontes de energia alternativa, e de uma arquitetura para o futuro,

concentrando seus esforços no desenvolvimento de tecnologias verde (green

technology). Essa mudanças vêm ocorrendo principalmente com os avanços

tecnológicos e mudanças globais das relações sociais e econômicas, que acabam

influenciando os projetos de arquitetura (Kowaltowski et al., 2006). Os autores

argumentam, que principalmente nas construções de grande porte, a exigência pela

qualidade ambiental aumentou em razão de cinco objetivos principais: “avanço rápido da

tecnologia; mudança de percepção e de demanda dos proprietários de edificações; aumento da

importância do prédio como facilitador da produtividade; aumento da troca de informações e do

controle humano; e a necessidade de criação de ambientes sustentáveis, com eficiência energética”

(Kowaltowski et al., 2006:8).

Dentro esse contexto muitos arquitetos estão envolvidos na busca de uma nova

arquitetura que tenha o potencial de, ao integrar-se com o meio ecológico e social no

qual está inserida, melhorar as condições ambientais e de vida tanto dos usuários, como

da população do entorno.

Todas as ações vinculadas de algum modo à redução da pegada ecológica das

cidades, estão relacionadas não só a lógica de eficiência mas também à de auto-

sustentação, ou segundo Henri Acselrad (2001) da suficiência. De acordo com o autor:

“(...) para os Neomalthusianos, economistas, ecológicos, pessimistas tecnológicos (...) a


eficiência sem suficiência não basta. (...) Agora, além da alocação ótima de recursos, há
que se pensar também uma escala ótima, grandeza na qual a pressão do esforço produtivo
agregado sobre a base material do desenvolvimento seria compatível com a capacidade de
suporte do planeta” (Acselrad, 2001: 32).

Para Henri Acselrad, quando o foco é a eficiência material exclusivamente, temos

a representação técnico-material das cidades representada por “(...) uma matriz composta

por um vetor de consumo no espaço, energia e matérias-primas e um vetor de produção de

construção de um processo de sustentabilidade, será que estamos presenciando a formação de uma nova arquitetura?
rejeitos” e dentro desta lógica, a cidade sustentável será aquela onde “(...) para uma

mesma oferta de serviços,minimiza o consumo de energia fóssil e de outros recursos materiais,

explorando ao máximo os fluxos locais, satisfazendo o critério de conservação de estoques e de

redução de volume de rejeitos” (Déléage, 1995:35 apud Acselrad, 2001: 38).

Mas nem toda arquitetura ou projeto urbano verde pode ser considerado

sustentável sem uma análise criteriosa dos materiais construtivos, dos impactos

causados tanto na fase de construção e de operação, do tratamento que é dado aos

resíduos gerados (sólidos e líquidos), do uso que a edificação faz da energia, se utiliza

fontes de energias alternativas, como solar ou eólica, se foi projetada e construída com o

mínimo de alterações no terreno, se está em solo contaminado, se está adequada as

diretrizes do zoneamento municipal, se atende a legislação municipal, como estadual e

federal no que diz respeito ao uso do solo urbano e à utilização e ou manejo de recursos

naturais, entre outros aspectos também relevantes. Apesar de existirem diversos

sistemas de avaliação de desempenho ambiental que permitem uma análise mais

criteriosa, como estas são ferramentas de adesão voluntária, nem sempre os aspectos

sociais são incorporados na avaliação em detrimento dos interesses do empreendedor.

Além do mais, tais sistemas possuem metodologias de avaliação diferenciadas

em cada país, e agrupam os itens a serem avaliados em temas, que refletem as principais

preocupações econômicas, ambientais e sociais de cada região. Por isso cada local,

cultura, região e país devem desenvolver um sistema de avaliação condizente com a sua

realidade socioespacial, ambiental, econômica e política.

Não só com os projetos de arquitetura sustentáveis devemos tomar cuidado, mas

com todas as ações que associam a sustentabilidade às cidades. Henri Acselrad (2004)

nos alerta que o meio ambiente é uma temática unificadora e nesse sentido, ações, por

exemplo de planejamento urbano, podem ter como objetivo camuflado “(...) ressignificar

o espaço com gestos confortadores de segurança e controle, dando visibilidade à natureza nas
cidades e exorcizando os medos da destruição ecológica e da instabilização da ordem social”

(Brand apud Acselrad, 2004:28).

Dentro desse contexto:

“(...) ser visto como natural é supor que se traz sobre si o manto da inevitabilidade e da
probidade. Junte-se tudo isso e teremos um caldeirão de bruxas de argumentos, conceitos e
dificuldades de ordem política que podem ser convenientemente a base de intermináveis
debates acadêmicos, intelectuais, teóricos e filosóficos” (Harvey, 2004:282).

Henri Acselrad nos apresenta alguns fatores que podem motivar a associação da

noção de sustentabilidade com as ações urbanas (Acselrad, 2001:36-37):

- a necessidade dos agentes envolvidos na organização territorial em dar

legitimidade às suas ações mostrando a compatibilidade destas com os princípios de

acordos internacionais, como os da Agenda 21 15 resultante da Conferência das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente;

- entrada crescente das questões urbanas no debate ambiental refletida, por

exemplo, na urbanização crescente da carteira ambiental de projetos do Banco Mundial;

- o desenvolvimento de estratégias de implementação da metáfora cidade-

empresa, “(...) que projetam na “cidade-sustentável” alguns dos supostos atributos de

atratividade de investimentos, no contexto da competição global” (2001:37).

Nesse sentido, o autor complementa dizendo que:

“O meio ambiente, vestido desta roupagem universalista, convém, por certo, aos
propósitos de pré-construção de um consenso social destinado a reconstruir o sentido de
comunidade, solidariedade e interesse comum em um mundo fragmentado, buscando
acomodar as diferenças em uma nova totalidade interdependente” (Acselrad, 2004:28).

15
“Agenda 21 é um documento que estabelece um pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o século XXI,
aprovado por países signatários, entre eles o Brasil, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio de janeiro, em 1992. Consolida-se a idéia de que o binômio desenvolvimento e conservação do meio ambiente é
indissolúvel, tornando compatível as aspirações do direito ao desenvolvimento, principalmente para os países periféricos, e do
direito do usufruto da vida em ambiente saudável para as futuras gerações. O novo paradigma de desenvolvimento deve ser
construído de forma negociada e gradual para tornar possível a construção de um plano de ação e de um planejamento
participativo em nível global, nacional e local” (TEODÓZIO, 2003:46-47)
Além dos projetos de infra-estrutura urbana e de outros projetos de arquitetura e

engenharia, ainda temos dentro do campo de ação do Ambiente Construído o desenho e

a constituição de áreas verdes, protegidas ou não, que têm grande influencia na

melhoria da qualidade ambiental e de vida nas cidades. Dentro desse contexto, sugere-

se que sejam realizadas ações que integrem estratégias de preservação e conservação

ambiental com a promoção da qualidade de vida, extrapolando a matriz técnica-

material das cidades. Porém a constituição e o desenho das áreas verdes urbanas não

vêm sendo pensados para o alcance das múltiplas dimensões da sustentabilidade, muito

em função da influência da concepção de espaço urbano adotadas consciente ou

inconscientemente pelos profissionais envolvidos.

2.2 As funções para o verde urbano

Afinal o que são as áreas verdes urbanas? Mesmo sem definição clara, se

reconhece a importância destes espaços para a conformação de um espaço de qualidade

ambiental e de vida, pelos inúmeros benefícios que proporcionam. Entre os benefícios,

Felisberto Cavalheiro e Paulo Celso Dornelles Del Picchia (1992) apresentam os

seguintes: papel ecológico, integrador de diferentes espaços, embelezamento estético,

oferta de áreas para o lazer ao ar livre, fortalecimento da produtividade agrícola e

ensino e educação.

De um modo geral, pode-se classificar as áreas verdes urbanas como:

“(...) aquelas com vegetação predominantemente arbórea podendo ser compostas por árvores de
ruas, parques e áreas verdes em torno de edifícios públicos e outros tipos de propriedades
públicas e privadas” (Grey & Deneke apud Hildebrand, 2001:4)

“(...) como áreas livres na cidade, com características predominantemente naturais,


independente do porte da vegetação” (Milano, 1993 apud Hildebrand, 2001:4)
É importante esclarecer que toda área verde é sempre um espaço livre, de acordo

com a definição de Felisberto Cavalheiro e Paulo Celso Dornelles Del Picchia (1992). Na

opinião destes autores, “o termo espaço livre deveria ser preferido ao uso de área verde, por ser

mais abrangente, incluindo, inclusive as águas superficiais” (Cavalheiro e Del Picchia,

1992:2). Para melhor compreender esta argumentação dos autores é necessário entender

a definição de espaço livre, que neste trabalho não é utilizado em detrimento do termo

“áreas verdes” adotado para a classificação dos fixos da rede técnica ambiental. Sobre o

conceito de espaços livres, estes “(...) são aqueles preponderantemente portadores dos bens

naturais ou, de certo modo, seu receptáculo; assim sendo, seu uso e procedimento deverão ser

controlados em conformidade aos processos naturais” (Spitzer, 1991 apud Lima et.al, 1994:3).

Um espaço livre integra todos os tipos de elementos verdes existentes na

paisagem, conforme argumentação de Ana Maria Liner Pereira Lima et. al (1994). Os

autores exemplificam os tipos de espaços livres da seguinte maneira:

 Área Verde: predomínio de vegetação arbórea; engloba praças, jardins públicos,

parques urbanos, canteiros centrais, trevos de vias públicas, que tem apenas funções

estética e ecológica, devem, também, conceituar-se como Área Verde. Devem ser

hierarquizadas em tipologia: privadas, potencialmente coletivas e públicas) e em

categorias.

 Parque Urbano: é uma Área Verde, com função ecológica, estética e de lazer,

entretanto com uma extensão maior que as chamadas Praças e Jardins Públicos.

 Praça: como Área Verde, tem a função principal de lazer. Uma praça, inclusive, pode

não ser uma Área Verde, quando não tem vegetação e é impermeabilizada (caso das

praças da Sé e Roosevelt, na cidade de São Paulo); no caso de ter vegetação é

considerada Jardim, como é o caso dos jardins para deficientes visuais ou mesmo,

jardim japonês, entre outros, presentes no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.


 Arborização Urbana: elementos vegetais de porte arbóreo, dentro da cidade. As

árvores plantadas em calçadas,fazem parte da Arborização Urbana, porém, não

integram o Sistema de Áreas Verdes.

Como acontece com o as diferentes definições de sustentabilidade, o termo áreas

verdes também possui diferentes conceituações: “área verde”, “área livre”, ”espaço

livre”, “arborização urbana”, “área de lazer”, entre outras, que acabam dificultando as

pesquisas e ações de planejamento e gestão desses espaços (Lima et. al, 1994).

De qualquer modo, para além das diferentes conceituações, de modo similar ao

planejamento e ordenamento do espaço urbano, descrito no capítulo dois, a constituição

das áreas verdes e o planejamento destes espaços também foi e vem sendo realizado, na

maioria das cidades brasileiras, a partir de concepções de espaço absoluto com ênfase no

seu aspecto material e estético, inclusive dentro das práticas de desenho urbano. Porém,

a de se repensar essa postura na medida em que no campo do conhecimento ambiental,

“(...) a complexidade manifesta a impossibilidade da unidade da ciência, da idéia absoluta, de todo

tipo de pensamento homogeneizante e hegemônico” (Leff, 2002: 203).

Mesmo que o aspecto estético e a beleza não sejam defendidos para serem os

únicos motivadores do uso dos espaços verdes, quando pensamos em áreas urbanas não

podemos deixar de considerar que estas funções são importantes para aproximar e

motivar o estabelecimento de relações entre as pessoas com estes espaços. Relações que

podem ampliar as possibilidades de manutenção e conservação das áreas verdes a partir

de novos valores que podem ser incorporados a estes espaços. De qualquer modo,

apesar do pouco conhecimento sobre os processos ecológicos que ocorrem nas áreas

verdes urbanas, e de como estes contribuem para a manutenção ou melhoria da

qualidade ambiental e de vida urbana, as pessoas aprovam o verde na cidade

principalmente pela beleza da natureza (Ziggiatti, 2007: 4).

Esta valorização da beleza natural acontece há muito tempo, desde quando o

verde foi introduzido nas cidades com os jardins, que além de embelezar as áreas
urbanas traziam também um pouco da natureza para mais perto das pessoas que viviam

em lugares cada vez mais urbanizados, impermeabilizados, distantes do tempo e da

dinâmica natural, excluídos de muitos dos benefícios que os serviços ambientais podem

ofertar. Carlos Loboda e Bruno De Angelis nos contam que a princípio os espaços verdes

“(...) tinham uma função de dar prazer à vista e ao olfato. Somente no século XIX é que assumem

uma função utilitária, sobretudo nas zonas urbanas densamente povoadas” (Loboda e De

Angelis, 2005:126).

Quanto às novas funções utilitárias, a maioria delas está relacionada à

preservação e conservação da quantidade e qualidade de recursos naturais, ou seja, da

biodiversidade. No Brasil, as primeiras ações e os primeiros regulamentos de proteção

ambiental ainda não estavam vinculados à metas políticas ou ações de planejamento,

apesar de ter como um dos objetivos principais a manutenção dos ecossistemas naturais

que começavam a ser ameaçados em função do crescente impacto das atividades

humanas sobre o meio ambiente. A intenção era proteger a quantidade e qualidade dos

recursos naturais a fim de proteger as florestas e promover a conservação dos

mananciais para o abastecimento público. È possível perceber a preocupação com a

proteção dos recursos naturais com a promulgação das seguintes legislações: Código

das Águas – 1934 / Código Florestal – 1934 / Código de Caça e Pesca – 1938 / Código da

Mineração – 1940. Foi somente na década de 80 que o planejamento ambiental foi

incorporado pelos órgãos governamentais, instituições, sociedades e outras

organizações vinculadas a questão ambiental.

A mudança pode ser explicada em parte, porquê nesse momento a comunidade

internacional começava a se articular e a se manifestar sobre os riscos da degradação do

meio ambiente e proliferam as discussões sobre os limites do desenvolvimento. Temos

no final da década de 70 um grande marco nesta discussão com a elaboração Relatório

do Clube de Roma – 1968, onde era alertado os limites do crescimento e a Conferência

das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano (Conferência


de Estocolmo - 1972) cuja temática estava relacionada a relatório de 1968. No relatório

do Clube de Roma são manifestadas as primeiras preocupações acerca dos limites do

crescimento econômico levando em conta o uso crescente dos recursos naturais, já

preocupante na época, em função da grande pressão da população sobre o meio

ambiente. Projeções foram feitas para um período de 100 anos indicando como cenário

um futuro catastrófico caso o modelo de apropriação da natureza continuasse igual.

David Harvey nos alerta que essa retórica alarmista da crise e da catástrofe

iminente, que continua a prevalecer em muitos estudos e pesquisa científicas sobre a

qualidade futura dos recursos naturais e as implicações desta para a vida humana, é

arriscada. Em seu argumento:

“Para começo de conversa, ela presume que temos com toda a certeza e precisão conhecimento do
ponto exato de alguma colisão entre os seres humanos e o mundo natural. Não obstante, a
maioria dos cientistas, mesmo aqueles que fazem soar as trombetas catalisadoras da ação, são
com freqüência vagos com respeito a onde estão de fato os problemas realmente graves e à sua
verdadeira iminência” (HARVEY, 2004:283-284).

O curioso é que os desastres naturais previstos e as “Transformações catastróficas da

natureza ocorreram nas diversas fases da evolução geológica e ecológica do planeta. Pela primeira

vez, a crise ecológica atual não constitui uma transformação natural; é uma transformação da

natureza induzida pela concepção metafísica, filosófica, ética, científica e tecnológica do mundo”

(Leff, 2002:194).

Mas o fato é que a partir deste período as ações governamentais passaram a

incorporar os princípios de um desenvolvimento sustentável e assim as políticas, planos

e programas mudaram seu discurso evidenciando uma maior preocupação com o uso

dos recursos naturais e com o ordenamento da terra urbano. A intenção era não

comprometer a qualidade ambiental presente e futura, seja como forma de legitimar os

discursos e interesses de poucos agentes produtores do espaço, seja para atender as

agendas ambientais de organismos internacionais.


Além disso, o aumento da competição por terras, água, recursos energéticos e

biológicos fez surgir a necessidade de organizar o uso da terra e compatibilizar esse uso

com a proteção de ambientes ameaçados. Para isso foram desenvolvidos diversos

instrumentos de planejamento ambiental para adequar as ações de uso e ocupação do

espaço em função das potencialidades, da vocação local e da capacidade de suporte do

espaço objeto de planejamento.

Apesar de recentes em função da crescente preocupação com a problemática

ambiental urbana tais idéias não são. Tais princípios podem ser vistos nas idéias do

biólogo e filósofo escocês Patrick Geddes (1854-1932) sobre o planejamento urbano. Para

ele, a utilização do potencial do lugar também foi apontada como fundamental nas

ações de planejamento, condição colocada em sua definição de Planejamento Regional 16,

Região Natural e Método do Levantamento (1915). Para Geddes o desenvolvimento das

regiões deveria ser promovido através do planejamento adequado dos sítios e dos

recursos naturais. O objetivo principal seria melhorar a qualidade de vida e promover o

uso racional dos recursos sem a destruição das vantagens naturais do lugar.

O interessante ao trazer as idéias de Patrick Geddes (1915) é mostrar que não é só

planejamento carregado da denominação ambiental, ou outras ações assim denominadas,

que podem melhorar ou reverter processos de degradação ambiental e promover a

qualidade de vida ao planejar o uso adequado do espaço. Toda ação de planejamento e

ordenamento físico-espacial do território deveria ter esta preocupação como ponto de

partida. Isto porquê, conforme argumentação de Maria Adélia Aparecida de Souza,

existem questões de natureza diferenciada que influenciam não só a qualidade

ambiental das cidades, mas da totalidade do espaço urbano e que devem, de forma

conjunta, ser enfrentadas (Souza, 2002:6).

16
O livro publicado em 1915 “Cities in Evolution” é a mais coerente explanação das idéias de Geddes.
Retomando o desenvolvimento e divulgação de idéias como as de Patrick

Geddes, estas tiveram influência não só de planejadores ou arquitetos, mas também de

escritores como Henry David Thoreau. Sua principal obra foi “Walden” de 1854, e pelo

conteúdo e importância de sua obra Thoreau é considerado por muitos como o pai do

ambientalismo. Este autor escreveu 17 já no século dezenove sobre a importância de se

preservar algumas porções de natureza que desempenhassem outros usos para além dos

benefícios econômicos, como para educação e recreação (Benedict e McMahon, 2006).

Thoreau não defendia apenas usos múltiplos da natureza, mas também a necessidade

dos seres humanos respeitarem a natureza (fauna e flora) para que pudessem viver de

forma mais integrada a ela (Fonseca, 2002).

Na prática atual do planejamento intitulado ambiental foram desenvolvidos

alguns instrumentos para se planejar o uso do espaço a partir das suas potencialidades,

idéia defendida por Patrick Geddes, de forma a compatibilizar as atividades humanas

com a preservação da natureza, como Henry David Thoreau pensava. Assim para

auxiliar as ações de planejamento ambiental podem ser utilizados os seguintes

instrumentos, em função dos objetivos, tema e objeto de planejamento: Zoneamentos,

Estudos de Impacto Ambiental, Planos de Bacias hidrográficas, Planos Diretores

Ambientais, Planos de manejo e Áreas de Proteção Ambiental. A constituição e

manutenção de áreas verdes com especial interesse ecológico estão vinculadas ao

planejamento realizado através destes instrumentos, todos já regulamentados pela

legislação, e desse modo instrumentos obrigatórios para a gestão dos espaços verdes.

Todas essas ações integradas deveriam então proporcionar o desenvolvimento

harmônico da região e a manutenção da qualidade do ambiente físico, biológico e social.

Ao menos este deveria ser o objetivo de todo planejamento, e não apenas do ambiental,
17
Segundo Fonseca (2002) em “Walden” uma de suas obras primas, Thoreau escreve sobre suas excursões no lago
Walden onde ele viveu por dois anos e meio sobrevivendo apenas do trabalho natural .Uma frase do livro tornou-se
célebre e foi citada no filme “Sociedade dos poetas mortos” de 1989 : "eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria
viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não
havia vivido".
na medida que outros usos que não os ambientais, também influenciam de modo

significativo e direto a qualidade ambiental.

A legislação ambiental pode ser protetora de recursos naturais e a urbanística

pode ser a que ordena o uso adequado do solo, mas não se pode negar que ambas tem

poder direto de ação na melhoria ou degradação da qualidade e quantidade de espécies

e na qualidade de vida, pela criação de espaços abertos e internos às edificações

adequados aos usuários e integrados à dinâmica local e também por outros fatores.

Até onde chegamos aqui, percebemos duas funções bem distintas das áreas

verdes urbanas, a de contemplação e a de preservação de espécies. Mas a questão a ser

colocada é se ambas as funções, e outras mais, não podem ser desempenhadas no

mesmo espaço, na medida em que estão inseridas no espaço urbano onde inúmeras

demandas e necessidades de melhoria da qualidade ambiental e de vida podem ser

atendidas pelas áreas verdes. Dessa forma, não podemos mais ver as áreas verdes

apenas como espaços de contemplação nem como espaços protegidos para a

preservação e conservação da biodiversidade. Os benefícios ambientais de áreas

protegidas urbanas não devem ser pensados apenas para a preservação da

biodiversidade (fauna e flora - quantidade e qualidade de recursos naturais), mas

também para serem utilizados a serviço da melhoria da qualidade de vida no espaço

urbano.

Além de serem introduzidos pensando-se exclusivamente no aspecto estético, tais

espaços eram de uso exclusivo de poucos, por comporem no princípio, espaços privados

e não públicos. Realidade não muito diferente dos dias atuais, pelos vários problemas

sociais que impedem que as pessoas comuns de produzir espaços diferenciados e com

qualidade ambiental em seus jardins.

Antes de ter um jardim e consciência de que o espaço aberto de seu terreno pode

contribuir para o conforto ambiental de seu espaço de moradia, é preciso resolver outros

problemas relacionados à dinâmica de exclusão social, como os relativos ao acesso à


moradia, à educação, emprego, saneamento, entre outros que dificultam a apropriação

consciente do espaço em que moram e circulam a grande maioria da população

brasileira. Dentro desse contexto, a qualidade ambiental e de vida, meta principal da

sustentabilidade urbana, somente será alcançada ou melhorada quando não só os

espaços verdes, mas todos os equipamentos existentes, as condições habitacionais, as infra-

estruturas, e todos os elementos que formam o espaço urbano, atendam princípios como os

contidos no conceito de “desenho ambiental” definido por Franco como “(...) desenho

para o ambiente, no qual se supõe que o projeto seja o elemento formulador e indutor de um

processo” (1997:11), neste caso o da sustentabilidade.

Para Enrique Leff (2002:111) “A resolução dos problemas ambientais, assim como a

possibilidade de incorporar condições ecológicas e bases de sustentabilidade aos processos

econômicos (...) e construir uma racionalidade ambiental e um estilo alternativo de

desenvolvimento implica em (...)”:

 a incorporação de valores do ambiente na ética individual, nos direitos

humanos, e na norma jurídica dos agentes econômicos e sociais;

 a socialização do acesso e apropriação da natureza;

 a democratização dos processos produtivos e do poder político;

 as reformas do Estado que lhe permitam mediar a resolução de conflitos e

interesses em torno da propriedade e aproveitamento dos recursos e que

favoreçam a gestão participativa e descentralizada dos recursos naturais;

 o estabelecimento de uma legislação ambiental eficaz que normatiza os

agentes econômicos, o governo e a sociedade civil;

 as transformações institucionais que permitam uma administração

transetorial do desenvolvimento;

 e a reorientação interdisciplinar do desenvolvimento do conhecimento e

da formação profissional.
Mas apesar da qualidade de vida urbana estar diretamente atrelada á estes vários

fatores descritos acima, não se pode negar que “(...) as áreas verdes públicas constituem-se

elementos imprescindíveis para o bem estar da população, pois influenciam diretamente a saúde

física e mental da população” (Loboda e De Angelis, 2005:130).

Mas mesmo que exista a vontade, e algumas iniciativas isoladas de criação de

espaços verdes privados em moradias de baixa renda, as prioridades são outras, que

prevalecem na utilização dos recursos financeiros disponíveis, já que a criação de

espaços verdes exige custos tanto na compra das espécies como para a sua manutenção.

Mas os espaços verdes privados devem ser ampliados em todos os lugares e para acesso

de todos.

Não é mais possível executar boas idéias apenas “(...) a uma parcela da sociedade

reafirmando e reproduzindo desigualdades e privilégios. Para a cidade ilegal não há planos, nem

ordem. Aliás ela não é conhecida em suas dimensões e características. Trata-se de um lugar fora

das idéias” (Maricato, 2000:122). Esse quadro precisa ser revertido.

Sobre a lógica de criação do espaços verdes, mais relacionados ao paisagismo e

aos jardins públicos e privados, Evandro Ziggiatti (2007) nos explica que tais espaços

verdes vêm sendo criados através de quatro práticas inter-relacionadas ligadas ao

paisagismo, diferenciadas pela questão da escala (Laurie, 1986 apud Ziggiatti, 2007: 10-

11):

a) ações de avaliação e planejamento que resultam a elaboração de planos ou

estratégias de recomendação da distribuição e tipos de usos do espaço, que

incluem as áreas verdes.

b) ações de planejamento do espaço através da elaboração de um plano da

paisagem no qual as características do terreno e o programa de

necessidades são reunidos através de uma síntese criativa.


c) ações relacionadas diretamente à um projeto da paisagem detalhado em

micro escala, típico de projetos de paisagismo, onde é feita a seleção de

componentes, materiais, plantas para os quais é feito uma arranjo espacial.

d) ações relacionadas ao desenho urbano, no qual o espaço do projeto é a

cidade e muitas propriedades podem estar envolvidas e normalmente

agências governamentais são responsáveis por definir o parcelamento do

território e organizar o programa. Neste caso são a localização e a

organização do espaço entre as edificações, a circulação, o acesso e uso à

estes espaços, as principais preocupações do desenho urbano. Muitas

vezes o desenho urbano pode ser utilizado para definir um Sistema de

Áreas Verdes municipal, constituído pelo conjunto de espaços

significativos ajardinados e arborizados, de propriedade pública ou

privada, necessários à manutenção da qualidade ambiental urbana. Este

sistema de áreas verdes pode contemplar tanto as áreas protegidas

legalmente, como outras, agregando objetivos diferenciados como a

preservação, a proteção e a recuperação ambiental como a criação de

espaços de lazer e contemplação.

Apesar das diferentes formas de criação (planejamento ambiental, legislação

ambiental, paisagismo, desenho urbano e outras pequenas iniciativas locais) e das

características intrínsecas de cada área verde (com espécies de relevante interesse

ecológico ou apenas para contemplação) o fato é que todas têm o potencial de

desempenhar outras funções além daquelas principais associadas ao seu uso atual, seja

de preservação e conservação ambiental, para o lazer ou embelezamento urbano.

Na realidade a forma de criação das áreas verdes irá influenciar os usos futuros,

mas para que as áreas verdes desempenhem tanto funções sociais e ambientais é preciso

repensar as funções das áreas verdes, e para isso será apresentada a seguir uma

discussão sobre os tipos e a importância da oferta dos serviços ambientais dentro do


espaço urbano. Tais serviços tem o potencial de contribuir na construção do processo de

sustentabilidade urbana em suas dimensões extrapoladas pois consideram as relações

das pessoas com os ecossistemas e como estes influenciam o bem-estar humano, indo

para além da questão da eficiência e auto-suficiência tanto defendida pelos envolvidos

com a temática ambiental.

As áreas verdes urbanas devem ser pensadas e gerenciadas, para além da

composição estética da paisagem, como uma alternativa para a solução de problemas

ambientais locais e conseqüentemente como instrumentos de ação para melhoria da

qualidade de vida nas cidades. Isso porque as áreas verdes podem desempenhar

funções ecológicas e sociais (incluindo aqui as estéticas).

Carlos Loboda e Bruno De Angelis (2005) nos explicam como estas funções

podem ser exercidas:

“As contribuições ecológicas ocorrem na medida em que os elementos naturais que


compõem esses espaços minimizam tais impactos decorrentes da industrialização. A
função estética está pautada, principalmente, no papel de integração entre os espaços
construídos e os destinados à circulação. A função social está diretamente relacionada à
oferta de espaços para o lazer da população” (Loboda e De Angelis, 2005:134).

Sobre sua função ecológica no meio urbano, estas são inúmeras: têm o potencial

de funcionar como amenizadores de temperatura (controle climático), diminuir os

ruídos e os níveis de gás carbônico (melhoria da qualidade do ar), promover equilíbrio

de distúrbios do meio (proteção contra enchentes e secas), proteger as bacias

hidrográficas para o abastecimento de águas limpas (controle e suprimento de águas),

proporcionar abrigo para a fauna silvestre (controle biológico e refugio da fauna) ,

promover a melhoria da saúde mental e física da população que as freqüenta (função

recreacional e cultural), e contribuir para o melhoramento estético da paisagem.


É importante deixar claro que para desempenhar tais funções a escolha das

espécies deve ser feita de forma criteriosa, e a intensidade na oferta dos serviços

ambientais também dependerá das características locais que devem ser consideradas na

elaboração de projetos de constituição das áreas verdes para tais fins. Outra questão a

ser destacada quanto à escolha das espécies é que além de existirem espécies adequadas

para ofertar serviços ambientais distintos, uma escolha equivocada pode trazer

conseqüências negativas e funcionais.

Isso porque quando se muda a diversidade das espécies, a abundância e a

composição da comunidade18 pode-se alterar a eficácia das funções ecológicas,

comprometendo assim funções pré-existentes e que estariam contribuindo ao equilíbrio

de alguns processos ecológicos (Andersson, 2006:2). A introdução de espécies

inadequadas pode comprometer, por exemplo, a capacidade de resiliência dos

ecossistemas urbanos que representa “(...) a capacidade de um sistema absorver um distúrbio

e se reorganizar enquanto a mudança ocorre para conservar essencialmente a mesma função,

estrutura e identidade, e retornos” (Folke et al., 2004 apud Andersson, 2006:2).

Se isso ocorrer, ao invés de melhorar a qualidade ambiental, está será agravada

pelo surgimento de novos problemas ambientais. E infelizmente, “O que ultimamente

vem ocorrendo, é que as transformações equivocadas do meio natural para um meio artificial

(técnico) estão acarretando cada vez mais prejuízos a sociedade” (Ferreira, 2003:17).

O que queremos dizer aqui é que nem sempre é necessário criar áreas verdes com

a introdução de novas espécies, para ampliar a oferta de serviços ambientais. As áreas

que já existem podem ser analisadas para, se necessário, a elaboração de estratégias de

gestão dos recursos naturais a fim de manter ou ampliar os serviços ofertados, porque
18
Uma definição para “comunidade” do Projeto Educar – São Carlos –USP: “Comunidades - um conjunto de todas as
populações, sejam elas de microorganismos, animais ou vegetais existentes em uma determinada área, constituem uma
comunidade; também se pode utilizar o conceito de comunidade para designar grupos com uma maior afinidade separadamente,
como por exemplo, comunidade vegetal, animal, etc. Antes de definirmos o próximo conceito, é fundamental entendermos dois
parâmetros importantes em Ecologia; a todos os componentes vivos de um determinado local chamamos bióticos; em
contrapartida, o conjunto formado por regime de chuvas, temperatura, luz, umidade, minerais do solo enfim, toda a parte não
viva, é chamada de componentes abióticos”.Disponível em: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html
toda área verde desempenha uma função. Para ampliar ou promover a oferta de

serviços podem ser elaboradas diferentes estratégias: quando, por exemplo, não se tem

muito espaço livre árvores em espaços de estacionamento ou gramados estreitos como

faixas de separação pode aumentar a área de vegetação (Bolund e Hunhammar, 1999: 8).

Carlos Loboda e Bruno De Angelis (2005) chamam a atenção para o papel

simbólico que as áreas verdes urbanas podem representar na conformação da imagem

da cidade e também sua contribuição na organização espacial na medida em que podem

ser instrumentos de desenho urbano que definem e contêm espaços. Na definição de

Anne Whiston Spirn é o “O ambiente natural de uma cidade e sua forma urbana, tomados em

conjunto (...)” que “(...) compreende um registro da interação entre os processos naturais e os

propósitos humanos através do tempo. Juntos contribuem para a identidade única de cada

cidade” (Spirn, 1995:28).

Sobre a função de auxiliar o desenho urbano, os autores complementam

explicando que os “Espaços integrantes do sistema de áreas verdes de uma cidade, exercem, em

função do seu volume, distribuição, densidade e tamanho” conseguindo assim, com um

desenho urbano consciente das múltiplas funções das áreas verdes, ofertar inúmeros

benefícios á população do seu entorno tornando-se importantes espaços para a melhoria

da qualidade de vida urbana (Loboda e De Angelis, 2005:134).

Sobretudo com o aumento dos impactos ambientais dentro do espaço urbano, as

áreas verdes tornam-se locais prioritários e essenciais para as ações que buscam a

melhoria ou promoção da qualidade ambiental no cotidiano presente e vivido pois estão

mais próximas e integradas as dinâmicas de vida das pessoas. Dizendo de outro modo,

o direito a cidade sustentável, que atenda suas funções sociais e ambientais, defendido

na Constituição Federal Brasileira de 1988, na construção da Agenda 21 brasileira e pelo

Estatuto da Cidade pode ser alcançado em parte com a criação e manutenção de áreas

verdes urbanas.
Além do mais, como uma pessoa comum pode se sentir participante ativa da

defesa e proteção do meio ambiente, e também recebedora dos benefícios desta ação

quando o objeto de preservação, como por exemplo espécies da fauna em extinção,

golfinhos ou elefantes, não estão próximos da sua realidade material concreta de uso do

espaço? Por outro lado, as áreas verdes além de estarem inseridas no mesmo tecido

urbano em que moram, circulam e trabalham as fazem sentir com maior efetividade os

benefícios que ações de preservação e conservação ambiental podem trazer ao cotidiano

das pessoas, como por exemplo, o ar puro, o canto dos pássaros pela manhã, o conforto

térmico promovido pela sombra das árvores, e o simples prazer de uma caminhada em

um bosque.

Dentro desse contexto, além de contribuírem efetivamente para a preservação de

espécies e da biodiversidade, o uso e convívio nas áreas verdes têm o potencial de

induzir ações que possam individuais e coletivas que podem melhorar a qualidade de

vida de todos, tanto pelos benefícios ecológicos diretos recebidos como pelo aspecto

psicológico que nos faz sentir participantes do próprio futuro. Pessoas resistentes,

resilientes como a natureza capaz de sofrer agressões e buscar novamente um equilíbrio

que impulsione uma ação coletiva de resistência para a reconstrução daquilo que as

cidades devem ser, um lugar para viver bem. Sobre a resiliência e adaptação não só dos

espaços mas das pessoas também, vale a pena apresentar o seguinte pensamento:

“Quando a maioria das pessoas pensa em resiliência urbana, é geralmente no contexto da


resposta dos impactos (por exemplo a recuperação de uma ameaça ou desastre), contudo o que
nós aprendemos do nosso entendimento de resiliência em sistemas sócio-ecológicos regionais é a
sociedade que é flexível e capaz de se ajustar em frente a incertezas e surpresas é também capaz
de tirar partido de oportunidades positivas que o futuro pode trazer” (Berkes and Folke 1998;
Barnett 2001 apud CSIRO, 2007:8).

Apesar do desenvolvimento crescente de pesquisas que visam melhor

compreender as outras funções que as áreas verdes urbanas podem desempenhar, a

criação destes espaços continua a ser feita de forma incipiente e quando é feita, poucos
têm acesso aos benefícios ofertados. Este é um problema que demanda soluções

urgentes já que ainda se dá pouca importância as áreas verdes urbanas na dinâmica de

planejamento e ordenamento do território promovida pelo Estado e por interesses de

agentes privados, seja por falta de recursos financeiros ou pela não compreensão do

potencial de uso destes espaços.

Para além do equacionamento da crise e de um reforma institucional, se faz

necessária uma mudança de olhar sobre a questão ambiental das cidades, que não pode

ser realizada sem a mudança da visão de espaço absoluto para espaço relativo. Essa

mudança é essencial para a compreensão de outras funções além das relacionadas à

eficiência no uso dos recursos naturais, que influencia na preservação de espaços

naturais, mas que não considera outras relações de uso e benefícios que a população

pode receber de forma mais direta, no cotidiano.

Mas para a elaboração de projetos que visem a melhoria da qualidade ambiental

urbana é preciso considerar as áreas verdes não exclusivamente como espaços intocáveis

pela sua característica natural, ou de contemplação da natureza, mas enquanto “(...)

sistemas socioecológicos onde os processos naturais e sociais juntos moldam os ecossistemas”

(Andersson, 2006:2).

2.3 Os Serviços Ambientais

Pelo que foi visto anteriormente, pode-se dizer que as áreas verdes podem

desempenhar duas funções principais: a ecológica e a social. A primeira ocorre quando

os recursos naturais são preservados e conservados de modo a regular os processos

ecológicos e assim ofertar serviços ambientais como regulação da qualidade do ar e da

água. A segunda função diz respeito a alguns serviços ambientais que não podem ser

medidos quantitativamente, como os padrões de qualidade da água ou do ar, mas que


influenciam diretamente o bem-estar das pessoas, como a oferta de serviços culturais e

ornamentais.

O desempenho de ambas as funções, ecológica e social, contribui de forma direta

para a construção de um processo de sustentabilidade em suas dimensões planetária,

ecológica, ambiental, demográfica e cultural. E na medida que as áreas verdes forem

objeto de projetos elaborados para articular e integrar as pessoas com a natureza

presente nestes espaços como, por exemplo, para a constituição de redes técnicas

ambientais, as outras dimensões de sustentabilidade apresentadas por Roberto Pereira

Guimarães podem ser atingidas também: a social e a política.

É preciso realizar uma classificação de todas estas funções para facilitar a

identificação dos fixos que podem compor uma rede técnica ambiental. Para isso podem

ser utilizadas as quatro categorias de serviços ambientais 19 propostas pela equipe de

cientistas que participou da Avaliação Ecossistêmica do Milênio – AEM (“Millennium

Ecosystem Assessment” - MEA)20 porque pensam nas relações dos ecossistemas com o

bem-estar humano, não tendo assim, uma visão quantitativa apenas dos recursos

naturais. A AEM foi realizada não apenas para avaliar a quantidade e qualidade dos

19
No documento da AEM o termo utilizado é “Ecossystems Services”, mas para esta pesquisa optou-se em adotar o
termo “serviços ambientais” porque no espaço urbano as espécies não interagem apenas entre si e sofrem ação apenas
dos fatores abióticos presentes em seus habitats,a presença do homem altera completamente estas relações, e por isso
o termo ecossistema não é ideal para ser utilizado quando não é uma ambiente natural fechado, intocado. Para
complementar o esclarecimento, segue a definição de ecossistemas do Projeto Educar – São Carlos – USP: “(...) todas as
relações entre os fatores bióticos e abióticos em uma determinada área, chamamos ecossistema. Ou de outra forma, podemos definir
ecossistema (...), como sendo um conjunto de comunidades interagindo entre si e agindo sobre e/ou sofrendo a ação dos fatores
abióticos”.Disponível em : http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html
20
O objetivo desta avaliação é avaliar as conseqüências das mudanças nos ecossistemas sobre o bem-estar humano.
Além deste, outro objetivo é o de estabelecer uma base científica para fundamentar ações necessárias para assegurar a
conservação e o uso sustentável dos ecossistemas bem como suas contribuições para o bem-estar humano. Ela
fornecerá importantes informações científicas à Convenção sobre Diversidade Biológica, Convenção sobre Combate à
Desertificação, Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas e à Convenção sobre Espécies Migratórias, como também
para vários usuários no setor privado e na sociedade civil. A AEM foi realizada por 1.360 cientistas naturais e sociais
de 95 países, revisada por outros 600 especialistas, composta por representantes de governos, empresas, ONGs,
agências da ONU, acadêmicos e populações indígenas, o que representa o caráter científico desta avaliação. Esta foi
Lançada pelo Secretário General das Nações Unidas, Kofi Annan, em junho de 2001 e finalizada em março de 2005.
Para obtenção de maiores informações sobre a avaliação acessar o website da AEM: www.MAWeb.org
recursos naturais e de seus ecossistemas constituintes, mas de forma integrada avalia e

considera o bem-estar adquirido pela relação das pessoas com os ecossistemas.

Figura 4. Benefícios
dos serviços de
ecossistemas ao
bem-estar humano
(AEM, 2006:13)

Os serviços ambientais “(...) são definidos como os benefícios que a população humana

obtém, direta ou indiretamente, das funções dos ecossistemas" (Costanza et al., 1997 apud

Bolund e Hunhammar, 1999:3). Além de necessários para ampliar o entendimento de

outras funções que as áreas verdes podem desempenhar e assim reorientar as práticas

de planejamento e criação destes espaços, o conceito é fundamental para se repensar o

relacionamento entre o meio ambiente e o seres humanos de forma mais harmoniosa.

E os benefícios podem ser diversos se mudarmos nossa percepção da utilidade

que os recursos naturais podem ter no espaço urbano, como por exemplo: filtração do

ar, regulação microclimática, redução de ruídos, drenagem da água das chuvas,

tratamento de esgotos, recreação e valores culturais (Bolund e Hunhammar, 1999:1).

Acredita-se que nestas quatro categorias estão incluídas todas as funções que as

áreas verdes podem desempenhar no espaço urbano, para além daquela presente nos

discursos predominantes de desenvolvimento sustentável, vinculada apenas à eficiência

da utilização dos recursos naturais.


Entre os serviços ambientais que influenciam no bem-estar humano a AEM define

as seguintes categorias (ver tabela 4), que são adotadas nesta pesquisa para identificar e

selecionais quais são as áreas verdes urbanas que representam os fixos dentro de uma

rede técnica ambiental:

 serviços de provisão são os produtos obtidos diretamente da natureza alimentos,

água, madeira, fibras e plantas ornamentais;

 serviços reguladores são os benefícios que a natureza fornece quando regula seus

próprios processos, criando condições estáveis para o desenvolvimento humano,

afetam climas, inundações, doenças, resíduos e a qualidade da água;

 serviços culturais fornecem benefícios recreacionais, estéticos e espirituais;

 serviços de suporte são os que afetam a disponibilidade dos serviços de provisão,

de regulação e culturais. Nos afetam indiretamente e são percebidos a longo

prazo, tais como formação do solo, fotossíntese e ciclo de nutrientes.

Porque pensarmos em serviços ambientais para a melhoria da qualidade

ambiental e de vida nas cidades? È tempo de aproximar as áreas verdes das pessoas que

vivem na cidade. As soluções não estão distantes das pessoas, na Amazônia, pulmão do

mundo, ou em remanescentes de vegetação nativa,algumas vezes inacessíveis. Apesar

de se reconhecer aqui a importância de tais espaços para o equilíbrio ambiental global, a

utilização dos serviços ambientais dentro dos limites das cidades fortalece o vínculo e as

relações entre as pessoas pelo fato de sentirem mais diretamente seus benefícios e

também por terem a possibilidade de usá-los e participar na manutenção destes espaços.

Apesar das pesquisas que investigam a oferta dos serviços ambientais em áreas

urbanas terem sido iniciadas no final do século XX e começo do século XXI, os serviços

sempre foram ofertados pelos ecossistemas, mesmo que os projetistas não tenham

pensado nisso na concepção do projeto. Mas as funções eram sim pensadas. Se fizermos

uma análise histórica, por exemplo, da introdução das áreas verdes nas cidades
podemos ver o desempenho de funções diferenciadas (Loboda e De Angelis, 2005),

mesmo que ainda não relacionada à oferta de serviços ambientais.

Mesmo que os serviços ambientais sejam ofertados em pequenas áreas verdes, ou

em grandes, fragmentadas espacialmente, ou mais conectadas no território as vantagens

e benefícios obtidos com o gerenciamento adequado destes serviços representará um

avanço no processo de construção da sustentabilidade urbana principalmente na escala

local. Para Per Bolund e Sven Hunhammar “Pode ser vantajoso gerar serviços de

ecossistemas localmente por razões puramente de eficiência, mas também em níveis educacionais

e éticos” (Bolund e Hunhammar, 1999: 8).

Pode-se dizer que o conjunto destas áreas verdes formará então um mosaico da

sustentabilidade urbana, de integração entre homem e natureza, que pode ser

materializado com a constituição de redes técnicas ambientais.

Importante também destacar que não são apenas os impactos e outros problemas

socioambientais que o gerenciamento adequado das áreas verdes urbanas, para a oferta

de serviços ambientais pode trazer. Se pensarmos que a sustentabilidade está apoiada

em um tripé econômico, social e ambiental, fica claro que a oferta destes serviços, para

além dos benefícios ambientais e sociais, tendo em vista a significativa melhora da

qualidade do lugar, também gera muitos benefícios econômicos desde a redução dos

gastos com a saúde (por melhorar a qualidade do ar e da água, por exemplo) como

também os custos relacionados à manutenção das edificações, como o uso de ar

condicionado, reparos após inundações, entre outros.

Tabela 4. Categorias de serviços ambientais

As quatro categorias de serviços ambientais e os benefícios ofertados

Formação dos solos que influencia diretamente a fertilidade e a capacidade de


produção de alimentos; a fotossíntese; o ciclo de nutrientes, como o fósforo, o
SUPORTE
nitrogênio, entre aproximadamente 20 nutrientes essenciais para a vida e o ciclo
da água
Manutenção da qualidade do ar Regulação do clima local e global
Os ecossistemas são responsáveis pela
purificação e composição, absorvendo
carbono e emitindo o oxigênio através do
processo de fotossíntese
Regulação da erosão
Regulação da água
A cobertura vegetal controla a
Influencia a disponibilidade de água doce; o
retenção do solo evitando a
controle de enchentes; a capacidade de
destruição de áreas plantáveis, o
recarga dos aqüíferos e os depósitos de
assoreamento de rios e os
águas subterrâneos
REGULAÇÃO deslizamentos de solo
Controle de doenças e pestes
Purificação de água e resíduos
Através da limitação na
Através de processos de filtração e reações
reprodução de agentes como o
químicas no solo e subsolo que retiram os
vibrião da cólera, ratos, mosquitos
elementos nocivos da água
e pragas
Regulação da polinização Defesa natural contra desastres
Afetando a distribuição, a abundância e a Ecossistemas como mangues,
efetividade dos agentes polinizadores, barreiras de coral e pequenas ilhas
responsáveis pela reprodução vegetal, tais podem proteger as áreas costeiras
como insetos e outros animais de furacões e grandes ondas
Fibras como amadeira, o algodão,
Alimentos como plantas e animais a juta, o cânhamo, a seda e a lã,
usados em vestuário e construção
Bioquímicos
PROVISÃO Combustíveis como a madeira e o estrume, São os remédios naturais e
usados para aquecimento substâncias químicas obtidas
diretamente do meio ambiente
Recursos ornamentais como flores e conchas Recursos genéticos para uso em
Água doce bioengenharia
Atividades esportivas, de lazer, contemplação e descanso que os parques,
CULTURAL
florestas, áreas turísticas,áreas de lazer e recreação podem oferecer

De todo modo, independente se o benefício é econômico, social ou ambiental, a

oferta dos serviços ambientais é fundamental para a solução de pequenos problemas

locais cada vez mais agravados pelo processo de urbanização, aumento do fluxo de

veículos, alta impermeabilização do solo entre outros problemas recorrentes na maioria

das cidades brasileiras.

Porém não é tão simples ofertar serviços ambientais, é de fundamental

importância a escolha de espécies adequadas para a oferta dos serviços, porquê no caso

da filtragem da poluição, por exemplo, “A capacidade de filtração aumenta com mais área de
folhagem, e é maior para árvores de que arbustos ou grama” (Givoni, 1991 apud Bolund e

Hunhammar, 1999: 3). E ainda a capacidade de absorção dos gases varia de acordo com

o tipo/ família/ espécie de árvore (Stolt, 1982 apud Bolund e Hunhammar, 1999: 3).

Por tudo isso é de extrema importância o desenvolvimento de pesquisas para

identificar as espécies mais adequadas para ampliar e/ou promover a oferta de todos os

serviços ambientais. Sempre considerando pesquisas locais, regionais e nacionais, tendo

em vista a diversidade de espécies, ecossistemas e biomas terrestres em cada local do

globo, o que não permite que se faça, por exemplo, uma lista padronizada de espécies

para cada serviço.

Mas é importante também que se faça um alerta:

“A capacidade, contudo, de uma cidade fornecer esses serviços depende da configuração

desses ecossistemas, e não pode ser tomada como garantia. Nem os serviços distribuídos de forma

equilibrada no espaço, e por isso as paisagens urbanas devem ser planejadas para garantir o

acesso aos cidadãos a serviços importantes” (Andersson, 2006:2).

A leitura de alguns dados obtidos em pesquisas sobre a oferta de serviços

ambientais ilustra os benefícios reais que podem ser obtidos nas cidades:

 Em um parque mais de 85% da poluição do ar pode ser filtrada e em uma

rua com árvores mais de 70% (Bernatzky, 1983 apud Bolund e

Hunhammar, 1999: 3);

 Estima-se que as árvores da região de Chicago (EUA) removem 5500

toneladas de poluentes do ar, fornecendo 9 milhões de dólares de

qualidade de ar por 1 ano (McPherson et al., 1997 apud Bolund e

Hunhammar, 1999: 3-4);

 Uma única árvore larga pode transpirar 450 litros de água por dia, com a

possibilidade de reduzir as temperaturas locais e minimizando os efeitos


do fenômeno muito presente nos grandes centros urbanos, conhecido

como fenômeno conhecido como ilha de calor (Hough, 1989 apud Bolund e

Hunhammar, 1999: 4);

 Em áreas vegetadas apenas 5% à 15% das águas das chuvas escapam para

fora do solo, com o restante evaporando ou infiltrando no solo. Em cidades

sem vegetação cerca de 60% da água da chuva é, ao invés disso, deixada

de lado, por enxurradas de água pelo bueiro. Isso com certeza irá afetar o

clima local e os níveis da superfície da água (Bernatzky, 1983 apud Bolund

e Hunhammar, 1999: 5);

 Pacientes com os quartos virados para um parque se recuperaram 10%

mais rápido e necessitaram 50% a menos de medicamento para alívio da

dor comparado a pacientes que tinham seus quartos virados para um

prédio (Ulrich, 1984 apud Bolund e Hunhammar, 1999: 6). O que reforça a

afirmação de que os espaços verdes também são psicologicamente

importantes.

A produção de informação e o conhecimento sobre as categorias dos serviços

ambientais e as condições adequadas para sua oferta em cada local, região ou país, deve

continuar. Tanto para identificar demandas como para ampliar os que já são oferecidos.

Tabela 5. Funções das áreas verdes e oferta de serviços ambientais

Funções desempenhadas pelas áreas verdes e relação com a oferta de serviços ambientais
PERÍODO SERVIÇOS AMBIENTAIS OFERTADOS
FUNÇÃO
LUGAR suporte regulação provisão cultural
Cultivo e manutenção de espécies medicinais
jardim botânico X X
Jardins Árabes
Idade Média funções específicas
pequena escala X X X
jardins internos
plantas frutíferas e aromáticas
Renascimento Cultivo e coleção de grande variedade de espécies
vegetais de diferentes regiões - expostas em jardins X X
botânicos
Jardins com refinamentos estéticos elementos
X
artificiais de ornamento, formas diversas
espaço de alto valor artístico
Jardinocultura
Sistema de irrigação utilizado na agricultura, cuja
Egito21
função primeira é o de amenizar o calor excessivo X X X
das residências
Jardins naturalistas X X
China Jardins de cunho religioso com a inserção nestes dos
elementos da natureza X
Espaços livres assumem função pública -locais de
passeio, conversa e lazer
Grécia
Império Romano -todas as vilas possuíam um jardim X X
e/ou um espaço livre
Adaptação dos jardins à topografia do terreno
Itália desníveis e terraços interligados X X
Vegetação e obras de arte
Jardins maiores em extensão concepção cenográfica
Influência no surgimento das áreas verdes - praças e
França
parques. - aberto à população X X
a natureza como um espaço aberto
América século espaços ajardinados
X X
XVI parques e os jardins públicos
Pernambuco - Príncipe Maurício de Nassau –
Brasil
frutíferas nos trajetos das campanhas de invasão. X X
século XVII
Passeio Público do Rio de Janeiro. ordem do vice-rei
D. Luís de Vasconcelos - 1779 X X

Além disso, uma análise criteriosa dos serviços ambientais ofertados em

determinado lugar pode indicar no resultado final a qualidade ambiental deste espaço e

assim orientar propostas futuras de reabilitação e recuperação ambiental.

Este quadro mostra que “Ao longo da história o papel desempenhado pelos espaços

verdes nas nossas cidades tem sido uma conseqüência das necessidades experimentadas de cada

momento, ao mesmo tempo em que é um reflexo dos gostos e costumes da sociedade” (Loboda e

De Angelis, 2005:129).

Com exceção dos jardins que cultivavam plantas medicinais, a relação destes com

os serviços de provisão é apenas por causa da produção de plantas ornamentais, e não

através da produção de fibras ou alimentos, como é o caso de hortas ou áreas de cultivo

21
“Até o século XVIII a tradição da jardinagem egípcia - o berço da jardinagem ocidental. - é transmitida através dos gregos, dos
persas, dos romanos, dos árabes, dos italianos e dos franceses, imperando no Ocidente sem nenhuma influência da jardinagem
chinesa” (Loboda e De Angelis, 2005:127).
.
agrícolas. E os serviços de regulação ofertados pelas áreas verdes descritas na tabela 5

relacionam-se principalmente ao conforto térmico local.

Este quadro apresentou a evolução das funções de áreas verdes urbanas que ao

longo do tempo tornaram-se espaços públicos para o lazer e contemplação. Nota-se que

na tabela 5 quase nenhuma das áreas verdes ofertou serviços de suporte, porque estes

precisam de áreas maiores e processos ecológicos mais equilibrados. Aqui entra o

importante papel das áreas verdes protegidas, pois são elas que ofertam este serviço nas

áreas urbanas. Mesmo que os serviços ambientais de suporte não sejam consumidos

pelas pessoas diretamente, são extremamente necessários para sustentar os próprios

ecossistemas e assim a oferta dos demais serviços (Bolund, 1999:3). Alguns exemplos

dos serviços de suporte que as áreas verdes protegidas podem ofertar: atenuar os efeitos

erosivos e a lixiviação dos solos, regulação do fluxo hídrico, redução do assoreamento

dos cursos d’água e reservatórios, preservação da biodiversidade e do fluxo gênico de

fauna e flora.

Por isso as ações de preservação ambiental, que envolvem a restrição de usos nas

áreas verdes protegidas, permitindo apenas o manejo controlado dos recursos naturais

segundo objetivos específicos (pesquisa científica, atividades educativas e recreativas),

fazem sentido dentro de um contexto urbano. Para manter, principalmente, a oferta de

serviços de suporte. Apenas é necessário que se reconheça a oferta dos outros serviços

que também influenciam, de forma mais direta, a qualidade ambiental e de vida urbana.

Dentro desse contexto, arquitetos, engenheiros, planejadores e políticos devem

entender que a importância da manutenção e equilíbrio do meio ambiente urbano não é

conseguida apenas com práticas preservacionistas dos processos ecológicos e da

biodiversidade, nem tampouco apenas com o embelezamento da cidade através de

práticas paisagistas, quase sempre não funcionais. Sobre a necessidade de estar atento a

novas funções, Milton Santos nos diz que “(...) apesar da aceleração contemporânea, o espaço

não se extinguiu mas apenas mudou de qualidade” (Santos, 1996: 40).


Além do entendimento da possibilidade da oferta dos serviços ambientais pelas

áreas verdes, no momento do planejamento das áreas verdes é importante que seja

realizada a análise de alguns aspectos importantes, que irão influenciar a oferta e o

acesso aos serviços, como sugerem Ana Maria Liner Pereira Lima, Felisberto Cavalheiro,

João Carlos Nucci , Maria Alice de Lourdes Bueno Sousa, Nilva de Oliveira Fialho e

Paulo Celso Dornelles Del Picchia (1994:4):

0 a) Tipologia: particulares, potencialmente coletivos (clubes, escolas, etc.) e

públicos (Gröning, 1976);

1 b) Categoria: praças, parques, jardins, verde viário, etc. (RICHTER, 1981);

2 c) Disponibilidade: m²/hab, área mínima, distância da residência, etc.

(Cavalheiro & Del Picchia, 1992).

A ampliação das funções do verde urbano poderia ser garantida através da

criação, por exemplo, de instrumentos legais como os do Estatuto da Cidade, para

destinar áreas onde novos e múltiplos usos das áreas verdes para a oferta de serviços

ambientais fossem privilegiadas. Além de melhorar a capacidade local de ofertar

serviços ambientais, também seria possível minimizar os problemas relacionados à

especulação imobiliária, transformando as terras-mercado de reserva em áreas verdes

que atendam as funções ambientais e sociais da cidade.

O fato é que as cidades crescerão em uma proporção rápida nas próximas

décadas, e é importante que os serviços ambientais nas áreas urbanas e os ecossistemas

que os fornecem sejam compreendidos e valorizados pelos planejadores urbanos e

tomadores de decisão política para que não seja comprometida ainda mais a qualidade

ambiental e de vida.
Capítulo 3. As Redes Técnicas

“Uma das mais importantes considerações da compreensão sistêmica da vida é a do reconhecimento que
redes constituem o padrão básico de organização de todo e qualquer sistema vivente. Ecossistemas são
entendidos em forma de teias de alimento (i.e., redes de organismos); organismos são redes de células; e
células são redes de moléculas. Rede é um padrão comum a todo tipo de vida. Onde quer que nos
deparemos com vida, constatamos redes“ (Capra, 2003:4).

Desde a origem da palavra, as redes estavam associadas a certas atividades que

possuíam um tipo específico de configuração espacial, envolvendo pontos e linhas que


se conectam e formam uma reticulação espacial, como por exemplo: a irrigação 22 e a

tecelagem. Tais atividades buscavam reticular o espaço para dar maior mobilidade aos

fluxos, a exemplo da prática de sulcar o terreno para distribuir água pela plantação

(Costa, 2008). Apesar de o termo ser utilizado com mais freqüência nas últimas três

décadas, estas e outras atividades mostram que a noção de rede, e o desenvolvimento de

atividades que envolviam técnicas de reticular o espaço não são recentes.

Pierre Musso (2004) atribui o primeiro aparecimento da palavra rede no século

XII ligada a atividade de tecelagem. Porém o mesmo autor argumenta que a

operacionalização do conceito teve como propulsor a utilização do termo pela

medicina23, com a contribuição também de estudos desenvolvidos pela física e pela

matemática.

Pierre Musso nos explica que:

“Quatro disciplinas contribuem para a formação do conceito moderno de rede: a medicina


misturada à economia política, especialmente graças ao trabalho da escola fisiocrática
sobre circulação, fundada pelo médico François Quesnay (1694-1774), e a engenharia ou
´ciência dos engenheiros´, assim a militar,com suas técnicas de fortificações e de vigilância
de um território, como também a engenharia civil, com suas técnicas de circulação e
fluxos” (Musso, 2004:22-23).

Os trabalhos destas quatro disciplinas têm em comum o fato da rede “(...) designar

o espaço no território sobre o qual se conectam dispositivos de fortificação ou de circulação”.

Desse modo Pierre Musso (2 004:23) esclarece que “Controlar ou fazer circular, essa é a

ambivalência original da rede”.

22
“Os canais de irrigação construídos pelos povos antigos (egípcios, persas, gregos,etc) sulcando o espaço da plantação para dar
mobilidade à água, assim como a construção de estradas no Império Romano que possuía uma organização espacial com base na
reticulação e que deu a Roma a capacidade de melhor organizar suas estratégias de conquista e controle do espaço são outros
exemplos” (FORGET e POLCARPE, 1997 apud COSTA, 2008:26).

23
“(...) foi o médico e naturalista italiano Marcello Malpigui (1628-1964) quem começou a utilizar o termo rede para descrever o
tecido da pele e a circulação do sangue no organismo. A Medicina passou a observar a ação do sangue e associá-lo ao sentido de
ligação que possibilitava uma conexão por meio de veias e órgãos do corpo humano. Era uma idéia de rede interna ao corpo que
passava a permear o universo da Medicina, embora unicamente contemplativa”. (COSTA, 2008:26-27).
Foi a partir do momento que “A rede saí do corpo e torna-se um artefato superposto ao

território (...)” é que presenciamos a construção do conceito moderno de rede na medida

em que “(...) ele permite conceber e realizar uma estrutura artificial de gestão do espaço e do

tempo (...)” (MUSSO, 2004:22). Para Anne Cauquelin a rede é concebida como “(...) um

vínculo invisível dos lugares visíveis” na medida em que “(...) é uma estrutura de

interconexão instável, composta de elementos em interação, e cuja variabilidade obedece a alguma

regra de funcionamento”, de acordo com a definição de Pierre Musso (2004:31).

Virgínia Kastrup nos explica o porquê do vínculo ser invisível em razão do

conceito de rede ser “(...) oriundo da topologia que, ao contrário da geometria, focaliza apenas,

no objeto estudado, suas propriedades mais simples, e por isso dramáticas, desconsiderando uma

série de fatores, como medidas de largura, altura ou profundidade. (...) Entre as figuras

topológicas, a rede destaca-se por ser vazada, composta de linhas e não de formas espaciais”

(2004:80).

Mas é importante também destacar a contribuição da matemática e da física no

desenvolvimento da idéia de conectividade da matéria, principalmente os trabalhos do

astrônomo, matemático e físico alemão Johannes Kepler, que segundo relata Jodival

Costa foi muito importante para a sistematização do conceito (2008). “Para Kepler, toda

matéria existente é uma questão de conexão geométrica. A ligação entre os átomos, onde um está

ligado aos outros por cargas de energia, revela a idéia de que a matéria é reticulada em sua

estrutura” (COSTA, 2008: 27).

Sobre a incorporação da rede como materialidade técnica no território, Pierre

Musso esclarece que isso ocorreu a partir do final do século XVIII com Saint-Simon, que

foi segundo este autor, o primeiro pensador a trabalhar a relação entre redes e território

(MUSSO, 2005:24-27). “A importância do pensamento de Saint-Simon para o estudo das redes

concentra-se no fato de operacionalizar o conceito e transportá-lo para o território”

(COSTA,2008: 28).
De acordo com este autor, o Conde de Saint-Simon (1760-1825), que presenciou o

advento do capitalismo industrial na Europa não estava satisfeito com a política

francesa pós-revolução, pois entendia que o desenvolvimento das forças produtivas

também deveria gerar melhor qualidade de vida para a sociedade (Costa, 2008:29).

Nesse sentido começou a elaborar uma epistemologia do organismo-rede onde “todos os

fenômenos são feitos da luta existente entre sólidos e fluídos” (Musso, 2004:23). Saint-Simon

defendia a idéia de que a distribuição das riquezas deveria ser feita através das redes, e

sua principal contribuição para a consolidação do conceito foi definir que a circulação na

rede (sanguínea ou estatal) é a condição fundamental da vida ou da boa administração,

ou seja, é condição da mudança social (Musso, 2004:25).

Se a circulação para a distribuição de riquezas e outros benefícios que possam

melhorar a qualidade de vida já foi defendida nesta época, porque os planos e ações de

ordenamento territorial não se apropriaram desta idéia para intervir no espaço dentro

desta lógica? Por enquanto, pode-se concluir que apesar das práticas urbanísticas no

período moderno se desenvolverem em cima do ideal de circulação, este estava sendo

apenas considerado em sua dimensão espacial e estética, como se apenas a

materialidade, a técnica fosse resolver os problemas sociais da época. Não houve no

pensamento moderno a incorporação do dado social e assim as redes técnicas

implantadas, não conseguiram promover efetivas mudanças, pois não estavam

conectadas a dinâmica social, cujas relações e fluxos de idéias e informação fariam toda

a diferença para a manutenção das redes criadas. Os modernos estavam de certa forma

equivocados em sua análise espacial e conseqüente proposta de ação e intervenção no

território, pois a “A vida não é um produto da Técnica (...)”, como foi pensado por eles, “(...)

mas da política, a ação que dá sentido à materialidade” (Santos, 1996:39).

A crítica estende-se a outros projetos de outros tempos que também valorizaram,

de forma implícita ou explicita apenas a introdução da técnica e seu papel

transformador, quase salvador dos problemas sociais de cada época.


No mesmo sentido, na construção das cidades, entendidas como obra de

engenharia e arquitetura, e como artefato (Rossi, 2001), foi privilegiada apenas sua

dimensão física no desenvolvimento dos planos, programas e projetos urbanos já que a

cidade sempre foi considerada como uma estrutura espacial, uma “zona” para

intervenção. O território torna-se, dentro desse contexto, uma folha em branco, no qual é

desenhada a configuração espacial desejada, idealizada, sem conexão com a realidade

vivida.

Existe uma grande diferença em se considerar o território dessa forma, como

fizeram os modernos, e relacionando-o com o conceito de rede. Ao analisar um quadro

comparativo desenvolvido por Rogério Haesbaert sobre a visão dicotômica Território-

Rede é possível visualizar tais diferenças (ver quadro 2).

Quadro 2. Visão dicotômica Território-Rede (Fonte: Haesbaert, 2006:288)

Visão dicotômica Território-Rede

TERRITÓRIO REDE

intrínseco (mais introvertido) extrínseca (mais extrovertida)

centrípeto centrífuga

áreas, superfícies pontos (nó) e linhas

delimita (limites) rompe limites (fluxos)

enraízamento desenraizamento

mais estável mais instável

espaço areolar (“habitação) espaço reticular (circulação – Berque)

espaço de lugares espaço de fluxos (Castells)

métrica geográfica métrica topológica, não euclidiana (J. Lévy)


Impossível desconsiderar o componente social tanto na compreensão do mundo

como na elaboração de propostas de intervenção no território. O espaço deve ser

considerado como uma instância social, um conjunto indissociável entre o sistema de

objetos e o sistema de ações. Quando falamos em ações queremos enfatizar o uso do

território, que de acordo com Milton Santos, é este uso “(...) e não o território em si mesmo,

que faz dele objeto da análise social. O território são formas, mas o território usado são objetos e

ações, sinônimo de espaço humano, espaço habitado” (Santos, 2005: 255).

Maria Adélia Aparecida de Souza (2005) defende que “território-usado” “(...) seja

assumido como um conceito indispensável para a compreensão do funcionamento do mundo do

presente, este mundo dominado pela globalização, esta metáfora que incansavelmente torna míope

a realidade da maioria dos habitantes da Terra” (Souza, 2005:252). Ainda sobre este conceito,

a autora nos explica que esta é:

“(...) uma categoria integradora por excelência e que, especialmente no planejamento, vem
definitivamente terminar com as falsas premissas da possibilidade da gestão intersetorial à
partir da justaposição do setorial na elaboração dos planos (...). A resposta está
exatamente em assumir o território como a única possibilidade de lida com a unidade”
(Souza, 2005:253).

Apesar de hoje o conceito ser mais conhecido e discutido em diversos campos do

saber, Santos nos chama a atenção para o uso inadequado do conceito de redes, que traz

como conseqüência “(...) imprecisões e ambigüidades, quando o termo é usado para definir

situações” (Costa, 2008:31).

Sobre os agentes envolvidos na criação, uso, administração e manutenção das

redes, a criação e controle das redes, estes ainda são prioritariamente agentes

econômicos e políticos, desconsiderando os interesses, as demandas, os anseios e outras

possibilidades de relacionamento entre outros agentes. Essa é uma dinâmica perversa

que insiste em manter no domínio de poucos o controle sobre a organização do espaço,


atendendo interesses restritos, que não os da coletividade. Desse modo, “(...) os atores

que possuem o controle das redes, com grande destaque para as grandes empresas, passam a ter

grande capacidade de ação territorial, agindo como produtores e reestruturadores do território”

(Costa, 2008:34).

O fato é que nas relações das redes com o território, sempre existirá um agente

principal cujo papel será articular os pontos a serem conectados pelas linhas, porém ao

invés de atender apenas seus interesses, essa articulação pode e deve ser motivada para

o atendimento de interesses coletivos, de todos que usam e vivem por entre os espaços

que são articulados pela rede. Além do mais, deve-se motivar e promover o

empoderamento dos agentes excluídos, através da circulação de informação, para que

participem conscientemente e de maneira ativa na construção de seu território. Para

Marcon e Moinet “(...) a revolução das redes é também uma revolução dos poderes. Ela acontece

ao mesmo tempo em que se dá a passagem do poder coercitivo para o poder normativo” (2001:51

apud Costa, 2008:37).

Apesar de, como vimos, a utilização do termo e do desenvolvimento de

atividades com características de reticulação espacial não ser recente, apenas nas últimas

três décadas é que o conceito vem sendo trabalhado com maior intensidade nas ciências

sociais, principalmente na Geografia (Ueda, 2002).

Mas o fato é que, de forma geral, o potencial de estruturação e criação de redes

técnicas ainda não foi percebido, nem vem sendo utilizado dentro da lógica do

planejamento urbano. Na medida em que a rede ao ser construída, se torna um objeto

pensado em sua relação com o espaço, a intenção, por exemplo de criar espaços mais

solidários e saudáveis, pode ser realizada através de novas articulações e conexões que

serão estabelecidas para a manutenção e alcance dos objetivos da rede técnica

implantada no território. Sobre seu potencial de criar novas territorialidades ao

materializar intenções no espaço, o geógrafo Claude Raffestin escreveu que “(...) a rede
faz e desfaz as prisões do espaço, tornado território: tanto libera como aprisiona, é o porquê dela

ser o instrumento por excelência do poder” (Raffestin, 1993 apud Costa, 2008; 45).

Mas a técnica em si, imposta no território com a implantação das redes, não é

portadora da transformação desejada, ela é “(...) um meio de ação do espaço” que conforme

sua concepção, com a incorporação ou não do dado social, terá maiores ou menores

possibilidades de induzir um processo de transformação sócio-espacial (Santos, 2000). O

que irá fazer com que a implantação das redes no território consiga efetivamente

concretizar tais transformações serão as ações dos agentes sociais entre si e com os

elementos das redes.

Dentro desse contexto é interessante fazer um paralelo com a ação dos

modernistas, que foi realizada dentro de outra lógica, apesar de ter também a intenção

de produzir mudanças sociais com o projeto arquitetônico e urbanístico. Arrisca-se aqui

uma justificativa para as falhas, e não alcance dos objetivos e idéias modernistas pelo

fato de não considerarem a importância das ações dos agentes sociais no processo de

transformação e melhoria do espaço urbano. Para eles apenas a técnica, a forma o objeto

construído seria capaz de induzir às mudanças. O que não ocorreu muito em função do

determinismo técnico, da idéia de funcionalidade e de racionalidade que foi

predominante e acabou camuflando as relações entre as redes técnicas - estruturas

físicas implantadas no território dentro do ideal moderno - e sociedade.

Talvez, os agentes envolvidos na construção do projeto moderno não se deram

conta de que não “(...) não é a técnica que se constitui elemento provedor do desenvolvimento,

nem tampouco é ela que domina o território. A técnica é instrumento para uma finalidade, o

elemento dominador são os atores que controlam a técnica” (Santos,1999).

Além do seu caráter modificador, interventor do espaço quando concebidas e

construídas, a análise das redes técnicas existentes também traz outro benefício, também

importante dentro do campo do planejamento, que é o conhecimento da história dos

lugares. Aqui um parêntese é necessário para relembrar a importância do levantamento


de dados, reconhecimento local, diagnóstico físico-natural e social, incluindo a dinâmica

histórica de ocupação do espaço para a elaboração de planos e programas vinculados ao

planejamento urbano.

Voltando a importância da análise das redes para o conhecimento da história

local e explicação da sociedade, isso é possível na medida em que cada técnica

representa uma forma de apropriação diferenciada em função do contexto de cada

época histórica. Nesse sentido Milton Santos defende a necessidade de uma

periodização, unindo tempo e espaço, para entender o momento histórico presente,

levando-se em conta não apenas os dados sociais, mas também a materialidade do

território. Para ele uma análise espacial do espaço, a partir das técnicas existentes e que

estão sobrepostas no território revelam um técnica ou conjunto de técnicas particulares

que podem ser localizadas no tempo (Santos, 1996:61). Com este tipo de análise, não

apenas de uma técnica, mas do conjunto de técnicas de determinado lugar, é possível

reconstruir a “(...) história dos instrumentos e meios de trabalho postos à disposição do homem”

(Santos, 1996:61).

Porém apenas o levantamento e análise dos tipos de técnicas existentes não

explicam nada, e seu estudo deve ultrapassar, conforme defende Milton Santos “(...) o

dado puramente técnico (...)” exigindo “(...) uma incursão bem mais profunda na área das

próprias relações sociais” (Santos, 1996:63). Para o autor são as relações sociais que “(...)

que explicam como em diferentes lugares, técnicas semelhantes atribuem resultados diferentes aos

seus portadores, segundo combinações que extrapolam o processo direto da produção e permitem

pensar num verdadeiro processo político de produção” (Santos, 1996:63). Assim faz sentido

pensar que a abordagem e análise espacial a partir das redes técnicas possibilitará,

dentro do âmbito do planejamento, uma melhor compreensão do território e

conseqüentemente tais análises subsidiarão propostas de intervenções mais adequadas

ao lugar e sua dinâmica sócio-espacial, ampliando a capacidade de manutenção das

redes.
Depois da explicação sobre a origem do termo e início da operacionalização do

conceito falta ainda uma definição sobre o que é uma rede, e sobre isto, Santos

argumenta que existem duas grandes matrizes nas quais se encaixam as denominações e

conceituações: uma que considera apenas sua realidade material e outra que considera

também o dado social.

Ao percebermos que a rede é freqüentada, utilizada, mantida, reconstruída pelas

pessoas e valores que estas possuem, podemos concluir que a segunda matriz é mais

realista, tornando a rede política e social e não apenas material (Santos, 1999 apud

Costa, 2008: 33). Dentro desse contexto Bruno Latour afirma que as redes são portadoras

de um valor social, político, econômico e/ou cultural, ou seja, são híbridas (Latour, 1994).

Na medida em que consideramos que a rede é constituída por matéria e

componentes sociais, faz sentido pensar como Bruno Latour sobre sua composição a

partir de “linhas conectadas e não superfícies”, que se estendem por quase todo lugar

(Latour, 991:160 apud Haesbaert, 2006: 283). Assim, dentro da segunda matriz

apresentada por Milton Santos, a rede não deve ser considerada apenas:

“(...) enquanto mais uma forma (abstrata) de composição do espaço, no sentido de um


“conjunto de pontos e linhas”, numa perspectiva euclidiana, mas como o componente
territorial indispensável que enfatiza a dimensão temporal-móvel do território e que,
conjugada com a “superfície” territorial, ressalta seu dinamismo, seu movimento, suas
perspectivas de conexão (“ação a distância”, como destaca Machado) e “profundidade”
relativizando a condição estática e dicotômica (em relação ao tempo) que muitos concedem
ao território enquanto território-zona num sentido mais tradicional” (Haesbaert, 2006:
288).

Porém o oposto também não é o caminho ideal quando objetiva-se a organização

do território. Rogério Haesbaert nos informa que “(...) entre os sociólogos, em geral

partidários de uma não-espacialidade” das redes, há quem reclame dos riscos desta leitura

desmaterializada” e por este motivo, reforça-se mais uma vez a necessidade do estudo,
análise e concepção das redes tendo-se como base as leituras materiais e sociais do

espaço (Haesbaert, 2006: 292). Na tentativa de analisar e compreender a totalidade do

espaço urbano, não se deve nem privilegiar as técnicas em detrimento do dado social,

nem o contrário, deve-se buscar uma análise integrada entre a materialidade do

território e a dinâmica social que o produz.

Mesmo acreditando que as redes técnicas são importantes instrumentos de

organização do território é preciso dizer que elas, apesar de constituírem uma realidade

nova, conforme nos conta Milton Santos, são apenas um dos elementos que formam o

território. Para este autor é importante saber que:

“(...) além das redes, antes das redes, apesar das redes, depois das redes, com as redes, há
o espaço banal, o espaço de todos, todo o espaço, porque as redes constituem apenas uma
parte do espaço e o espaço de alguns” . Sendo assim, ele continua “O território, hoje,
pode ser formado de lugares contíguos e de lugares em rede: São, todavia, os mesmos
lugares que formam redes e que formam o espaço banal. São os mesmos lugares, os
mesmos pontos, mas contendo simultaneamente funcionalidades diferentes, quiçá
divergentes ou opostas” (Santos, 2005:256).

Compartilhando a mesma idéia, Claude Raffestin afirma que as redes são um dos

elementos que compõem o território, os quais ele denomina de “invariantes territoriais”,

e que além das redes encontram-se nessa categoria também as malhas e os nós (núcleos

urbanos), que são “(...) privilegiados diferentemente conforme a sociedade em que estamos

inseridos” (Haesbaert, 2006: 289). Para Milton Santos o território torna-se suporte das

redes, como uma prótese indissociável do mesmo (1999 apud Costa, 2008: 55).

3.1 Técnica, natureza e território - o meio científico-técnico-informacional

“O meio técnico-científico-informacional é a nova cara do espaço e do tempo”


(Santos, 1996:45)
O processo de formação do meio técnico-científico-informacional ocorre a partir

da implantação das redes técnicas no território, que modificam completamente as

relações entre a sociedade e o meio ao substituir o meio natural por um meio cada vez

mais artificializado (Santos,1997). Segundo Guillermo Foladori “As relações entre

congêneres e com os outros seres vivos são relações técnicas” (2001:83). O autor continua a

discorrer sobre as relações técnicas que:

“(...) descrevem o processo de produção em seu sentido forma, como inter-relação entre o
ser humano e a natureza, para mudar a forma desta. Essas relações se modificam segundo
o nível de desenvolvimento da técnica, os conhecimentos tecnológicos e científicos e a
amplitude de utilização do entorno” (Foladori, 2001:83).

De acordo com Milton Santos:

“A história do homem sobre a terra é a história de uma ruptura progressiva entre o


homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o
homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de
novos instrumentos para tentar dominá-lo. A Natureza artificializada marca uma grande
mudança na história humana da Natureza” (Santos, 1992:96-97 apud FERREIRA,
2003:15).

No espaço urbano as pessoas relacionam-se entre si e com o meio onde vivem e

trabalham realizando adaptações constantes para sua sobrevivência transformando

meio natural constantemente. Principalmente nas cidades, apesar das intervenções

técnicas serem cada vez mais aplicadas no campo, são estabelecidas diversas relações

técnicas entre sociedade e natureza, desde a sua criação até para sua manutenção e/ou

expansão. Tais atividades exigem “(...) adaptações do território, com a adição ao solo de

acréscimos cada vez mais baseados nas formulações da ciência e na ajuda da técnica” (Santos,

1996:73).
Para Aldo Rossi (2001:57) “(...) o processo dinâmico da cidade tende mais à evolução do

que à conservação”. Assim, qualquer utilização do meio natural produz o meio técnico no

qual o homem desenvolve suas atividades a fim de atender seus anseios e demandas.

Nas sociedades modernas “(...) as invenções técnicas vão aumentando o poder de

intervenção, e sua autonomia, e ao mesmo tempo vai ampliando a “diversificação da natureza”

socialmente construída” (Ferreira, 2003:16). Na medida em que o espaço é composto por

objetos técnicos e não mais pela chamada primeira natureza, com suas leis próprias, o

homem passa a ter maior domínio sobre os objetos construídos e assim maior poder de

intervenção no espaço, sem depender das forças naturais. De acordo com o filósofo

Gilbert Simondon “(...) quanto mais próximo da natureza é o objeto, mais ele é imperfeito e

quanto mais tecnicizado, mais perfeito, permitindo desse modo um comando mais eficaz do

homem sobre ele” (Simondon apud Ferreira, 200316).

Porém apenas o domínio da técnica e sua implantação no território não são

suficientes para resolver os problemas socioambientais atuais, pelo contrário, o emprego

inadequado de técnicas, e a implantação padronizada de obras no espaço, podem alterar

completamente e de modo negativo as dinâmicas dos lugares, aumentando os conflitos

já existentes.

Renata Ferreira nos alerta que algumas inovações técnicas, ao conduzir um novo

desenho e influenciar na organização das cidades, dentro de um processo de

descontração ininterrupta do espaço podem ocasionar sérios impactos sociais,

econômicos e ambientais (2003:5). Isso porque a criação do meio técnico não modifica

apenas o ambiente no qual vivem os homens, mas também e de modo intenso e direto

“(...) causa mudanças nas condições de existência da sociedade como um todo” (FERREIRA,

2003:6). A autora continua sua argumentação sobre os perigos da técnica:

“Quem faz a técnica é o homem; sua própria invenção posteriormente o domina. A técnica como
um universo de instrumentos, pode aumentar tanto a fraqueza como o poder de uma sociedade.
(...) Sabemos que as técnicas trouxeram aprimoramentos importantes para a humanidade, mas
precisamos ter consciência que ela, mal empregada, acabou gerando vários problemas observados
hoje. Os objetos técnicos são criados pela ciência inicialmente, como instrumentos de auxílio ao
trabalho humano, depois tornam-se em máquinas para dominar a natureza e a sociedade”
(Ferreira, 2003:5).

Isso é possível, conforme explicação de Milton Santos porque “A técnica (...)

comanda nossa vida, nos impõe relações, modela nosso entorno, administra nossas relações com o

entorno” (1996:20). Defendendo a mesma idéia, Jodival Costa complementa ao dizer que

ao implantar novos artefatos técnicos ao território irão ocorrer mudanças significativas

na organização territorial (2008:31).

Luiz Falcoski argumenta que as transformações tecnológicas em marcha,

modificam não somente “(...) as relações homem-ambiente construído, mas também

condicionam mudanças em processos e técnicas de planejamento, projeto e produção de elementos

constituintes do espaço ambiental” (1997:130). Apesar de esta última mudança ser mais

uma necessidade do que uma realidade nos dias atuais, essa colocação reforça mais uma

vez a importância da mudança de olhar e leitura espacial utilizada dentro da lógica do

planejamento urbano, a fim de acompanhar as mudanças e considerar a complexidade

das relações sociais com o meio.

É primordial que planejadores, urbanistas, arquitetos e outros profissionais do

urbano percebam este potencial transformador de forma positiva a fim de conseguir

atingir os objetivos de melhorias, recuperação, revitalização ou conservação previstos

em seus planos. Na medida em que os planejamentos urbanos e outras ações de

ordenamento territorial passem a ser concebidos a partir da noção de rede amplia-se a

possibilidade de promover mudanças e melhorias substancias na qualidade de vida

urbana em suas dimensões sociais e ambientais.

Para o entendimento da construção do meio científico-técnico-informacional é

importante diferenciar os períodos nos quais as relações sociais com o meio natural

eram predominantes e quando a relação com o meio técnico tornou-se predominante.


Renata Ferreira (2008:8) faz uma breve distinção entre estes dois períodos, esclarecendo

que a relação mais direta com o meio natural foi estabelecida pelas civilizações ou

comunidades pré-maquinistas, onde o homem reagia a “(...) estimulações vindas, na maior

parte, de elementos naturais, a terra, a água, as plantas”. Já as relações estabelecidas com o

meio técnico foram desenvolvidas “(...) nas sociedades e comunidades industrializadas desde

o início da era das revoluções industriais, isto é, desde o fim do século XVIII na Inglaterra e no

início do século XIX no restante da Europa” (Ferreira, 2003:8). E foi nas sociedades

industrializadas que se viu a presença cada vez mais intensa de técnicas, fato que até

hoje “(...) caracteriza a nova condição humana nas sociedades industrializadas” (Ferreira,

2003:7).

Para Milton Santos no final do século XVIII e no século XIX o território se

mecaniza. Em acordo com as idéias de Max Sorre (1948) e André Siegfried (1955) o autor

explica que foi nesse período que ocorreu a criação do meio técnico, substituindo o meio

natural. Porém no mundo de hoje, esta categoria é insuficiente, sendo preciso pensar no

meio técnico-científico-informacional, “(...) que tende a se superpor, em todos os lugares,

ainda que diferentemente, ao chamado meio geográfico” (Santos, 1996:139).

Segundo Milton Santos, a tecnoesfera e a psicosfera formam juntas o meio

técnico-científico. A Tecnoesfera é definida por este autor como:

“(...) o resultado da crescente artificialização do meio ambiente. A esfera natural é


crescentemente substituída por uma esfera técnica, na cidade e no campo” e a Psicosfera
“(...) é o resultado das crenças, desejos, vontades e hábitos que inspiram comportamentos
filosóficos, e práticos, as relações interpessoais e a comunhão com o universo” (Santos,
1996:32). Ainda segundo sua argumentação, o meio técnico-científico “(...) é muito
mais presente como psicosfera que como tecnoesfera” (Santos, 1996:32).

Ainda a respeito das redes técnicas, Milton Santos defende a idéia de que existe

com elas uma nova dimensão do espaço, quando consideram não só a materialidade

mas a dimensão social. O autor nos diz que:


“O espaço ganhou uma nova dimensão: a espessura, a profundidade do acontecer, graças
ao número e diversidade enormes dos objetos, isto é, fixos, de que, hoje, é formado e ao
número exponencial de ações, isto é fluxo, que o atravessam. Essa é uma nova dimensão
do espaço, a quinta dimensão”, que segundo seu esclarecimento é o cotidiano (Santos,
1996:38).

Pensando assim, percebemos a importância de se repensar novos instrumentos de

análise espacial que considerem essa quinta dimensão, que representa a vida real

construída por ações cotidianas, para mudarmos a lógica de organização do território

ainda pautada em análises aespaciais, descontextualizadas, forjadas para melhorar a

vida de uma sociedade abstrata, sem conexão com o território usado e vivido.
Capítulo 4. As Redes Técnicas Ambientais

“Para além de seus jogos metafóricos, a rede absorve, atualmente, a questão da mudança social, ela é a
prótese técnica de utopia social” carregando “(...) a promessa de um sistema futuro, o da associação
universal, anunciador de um novo tipo de relação igualitária”

(Musso, 2004:34)

Relembrando os elementos definidos por Santos (1997:8) como constituintes do

espaço (homens, instituições, meio ecológico e infra-estrutura 24) este capítulo começa

com o questionamento do autor sobre a validade da distinção entre o meio ecológico e

as infra-estruturas como elementos do espaço. Segundo sua argumentação:

“Na medida em que as infra-estruturas se somam e se colam ao meio ecológico, e se


tornam na verdade uma parte inseparável dele, não seria uma violência considerá-los
como elementos distintos? Ademais, a cada momento da evolução da sociedade, o homem
encontra um meio de trabalho já constituído sobre o qual ele opera e a distinção entre o
que se chamaria natural e não natural se torna artificial”.

Concordando com a indagação feita por Santos (1997) e assumindo que o meio

ecológico é sim um tipo de infra-estrutura existente, que desempenha importantes e

diferenciadas funções para a manutenção e melhoria da sustentabilidade urbana,

assume-se que tais estruturas na realidade são as redes técnicas ambientais existentes

nas cidades. Mesmo que ainda não estejam estruturadas totalmente, os fixos e fluxos já

existem em graus diferenciados de adequação ao lugar e às dinâmicas sócias existentes.

24
Citando as definições de meio ecológico e infra-estrutura definidas por SANTOS (1997): Meio ecológico: conjunto
de complexos territoriais que constituem a base física do trabalho humano. Infra-estrutura: são o trabalho humano
materializado e geografizado na forma de casas, plantações, caminhos.
Vimos que as redes técnicas são

formadas por um sistema integrado de

objetos técnicos (fixos no espaço) e de fluxos

(matéria, serviços e informação em

circulação) que criam as conexões entre os

objetos técnicos no território, e que estas

conexões podem ser físicas e/ou invisíveis.

No que diz respeito à rede técnica ambiental,

os objetos técnicos são todas as áreas verdes

urbanas (parques ecológicos, bosques, praças,

campos de futebol, jardins particulares, e

outras que ofertem serviços ambientais). Com

relação aos fluxos da rede técnica ambiental,


Figura 5. Infra-estrutura + Meio ecológico
estes são os serviços ambientais que podem integrados = rede técnica

ser ofertados ao longo da rede, pelos fixos que as compõem.

Fritojf Capra nos apresenta seu pensamento sobre este tipo de rede:
“A vida no campo social também pode ser compreendida em termos de rede, mas não estamos aqui
abordando reações químicas; e sim comunicações. Redes vivas em comunidades humanas são as
redes de comunicação. Assim como as redes biológicas são também autogeradoras, mas o que
geram é especialmente o impalpável. Cada comunicação cria pensamentos e significados, os quais
por sua vez dão lugar a comunicações posteriores, e assim uma rede inteira gera a si própria. À
medida que comunicações continuam a se desenvolver na rede social, eventualmente produzirão
um sistema compartilhado de crenças, explicações, e valores — um contexto comum de
significados, conhecidos como cultura, o qual é continuadamente sustentado por comunicações
adicionais” (Capra, 2003:4).

Milton Santos também nos explica o modo como as relações sociais “(...)

comandam os fluxos que precisam dos fixos para se realizar. Os fixos são modificados pelos

fluxos, mas os fluxos também se modificam ao encontro dos fixos. Então, se considerarmos que o
espaço é formado de fixos e de fluxos é um princípio de método para analisar o espaço (...)”

(Santos, 1996:166).

Já que toda modificação do meio natural o transforma em meio técnico, como

vimos no capítulo anterior, fica claro o entendimento de que as áreas verdes urbanas

fazem parte de uma rede técnica ambiental de importância fundamental para a melhoria

da qualidade ambiental e de vida nas cidades, uma vez que as áreas verdes, por serem

criadas através da racionalidade das ações humanas também podem ser consideradas

objetos técnicos. O que não se pode esquecer é que:

“A paisagem é, em grande parte, uma construção material mas também é uma


representação simbólica das relações sociais e espaciais. A paisagem “coloca” homens e
mulheres em relação com os grupos sociais e os recursos materiais, bem como nos coloca –
como observadores – em relação com os homens e as mulheres, as instituições e os
processos sociais observados por nós” (Zukin, 2000: 106).

A rede técnica ambiental carrega o potencial de promover uma integração entre

recursos naturais e sociais mais adequadas às características físico-naturais locais e às

dinâmicas sociais existentes. Nesse sentido, ao estabelecer uma conexão crítica,

consciente e ativa através do fluxo de informações entre a população do entorno e da

região com estes espaços verdes para a elaboração e execução de projetos urbanos e

ambientais, ampliam-se as possibilidades de conservação e preservação destes espaços.

Mas a concepção e o papel desse tipo de estrutura ambiental foi pouco adotada por

planejadores urbanos na execução de suas atividades e posterior construção ou

rearranjo do espaço construído.

De qualquer modo tais estruturas ou redes técnicas ambientais existem e sempre

existiram nos espaços urbanos, as pessoas sempre viveram e vivem ao lado delas, com
graus diferenciados de adequação ao meio físico. Ainda falta uma melhor compreensão

do seu potencial de uso e uma mudança de estratégia no desenvolvimento e execução

de projetos que consigam alterar o funcionamento dos ecossistemas na melhoria ou

manutenção da sustentabilidade urbana. Nesse sentido as redes técnicas ambientais

surgem como uma importante estratégia metodológica para uma organização espacial

que tenha como objetivo a melhoria da qualidade ambiental e de vida.

Além do potencial de promover intervenções conscientes no território, as redes

técnicas ambientais também promovem a distribuição e acesso indiscriminado aos

serviços ambientais que são ofertados pelas áreas verdes urbanas, ampliando os

benefícios da preservação e conservação ambiental a todos os agentes sociais.

Sobre a ampliação dos benefícios da preservação e conservação ambiental o que

vemos são estudos e propostas da criação de conexões ambientais através de corredores

ecológicos25, mas estes ainda pensam de forma restrita na materialidade da rede e

privilegiam os recursos naturais em detrimento do atendimento de demandas sociais de

melhoria da qualidade de vida. Tais estratégias, como os corredores ecológicos ou

verdes,a infra-estrutura verde, os parques lineares, entre outros poderiam ser utilizados

para ampliar as conexões físicas e sociais ao longo de um território através do desenho

das redes técnicas ambientais.

Além destes corredores, alguns municípios vêm criando parques lineares como

forma de conectar os lugares e diminuir a fragmentação da vegetação urbana, mas a

qualidade dos projetos têm se revelado ineficiente tanto para ampliar a conservação das

espécies, como para promover algum tipo integração com os habitantes locais,

dificultando também a promoção do bem-estar humano. Isso porque tanto as espécies

25
Em 1967 dois cientistas, Robert MacArthur e Edward Wilson desenvolveram uma teoria sobre o equilíbrio das
espécies e ilhas que teve uma profunda influência na conservação da natureza terrestre, incluindo o planejamento de
corredor de fauna: a biogeografia de ilhas (Hellmund e Smith, 2006: 31). Esta teoria promoveu uma mudança no
modo de analisar e pensar espacialmente as estruturas e elementos da paisagem, influenciando as análises e ações de
ecologistas e conservacionistas, planejadores e arquitetos da paisagem.
escolhidas como o desenho e os materiais construtivos adotados nos projetos, não são

adequados para o espaço, nem para o uso pelas pessoas, que não considerados em sua

diversidade social nem ambiental. Nesse caso podemos voltar a crítica feita ao projeto

moderno, pois neste caso também, o das conexões físico-ambientais que vêm sendo

pensadas para melhorar a sustentabilidade urbana, só a técnica, só a introdução de

objetos técnicos, ou seja dos corredores ou parques lineares por si só, não trará a

mudança necessária e desejada. Porque, mais uma vez, as idéias não estarão conectadas

aos lugares.

Por serem consideradas objetos naturais, a principal preocupação na constituição

e manutenção das áreas verdes, principalmente as de relevante interesse ecológico,

ainda continua ser com os recursos naturais e processos ecológicos existentes

fisicamente dentro destes espaços. Pouco se fala sobre a necessária integração entre as

pessoas do lugar e os recursos existentes, com exceção de algumas normas que

restringem o uso e regulam os comportamentos a fim de evitar ou minimizar a

degradação ou ocorrência de impactos ambientais. O conjunto da legislação ambiental

brasileira ainda objetiva disciplinar a atividade humana, para torná-la compatível com a

proteção do meio ambiente, desse modo fica muito restrito o tipo de relação e

apropriação destes espaços pela sociedade. Não que as leis não deveriam existir, são de

grande importância as legislações que envolvem, por exemplo a normatização do

procedimento de licenciamento ambiental (resolução conama 001/1986 e 237/1997, que

criam as unidades de conservação (SNUC, lei federal 9985), as áreas de preservação

permanente – APPs (resoluções conama 302/2002, 303/2002 e 369/2006) e de proteção

ambiental – APA (Lei Federal no 6.902, de 27/04/1981). Mas todas elas de modo geral

ainda pensam de modo restrito e específico as funções que as áreas verdes podem

desempenhar, principalmente em áreas urbanas onde é difícil manter espaços verdes

sem a interferência humana.


Porém a legislação ambiental brasileira já mostra alguns avanços, tanto na

constituição das APAs por incluir terras privadas dentro da delimitação de sua área,

como no que diz respeito ao uso das APPs, que tem seus usos regulamentados através

da resolução CONAMA 369/2006. Tal resolução avança porque considera as relações

sociais de uso destes espaços, ao definir usos nas APPs em áreas urbanas para fins de

utilidade pública e interesse social. Também a criação das unidades de conservação

(UCs) no Brasil, considera as relações sociais no uso do território na medida em que

define duas categorias de unidades: as de proteção integral e as de uso sustentável, que

permite o uso dos recursos naturais, desde que seja feito de modo equilibrado.

Mesmo assim uma análise da realidade das cidades brasileiras mostra diversos

conflitos de uso e ocupação da terra, com a geração de diversos impactos

socioambientais nestas áreas que deveriam estar protegidas da dinâmica excludente e

segregadora de territórios. Talvez uma das dificuldades de se reverter o processo de

degradação ambiental e da qualidade de vida resultante desses conflitos, seja porque

além dos saberes ambientais, que normalmente fundamentam a elaboração de tais leis,

são necessários também outros saberes para solucionar a problemática ambiental

urbana, que não tem em suas raízes apenas questões ambientais, mas também sociais,

econômicas e políticas.

A elaboração das leis de proteção ambiental também foram influenciadas, entre

outros fatores, pelos princípios do discurso de desenvolvimento sustentável (1987) e

suas derivações, com foco quase exclusivo na preservação de quantidades ótimas de

recursos, para manter o padrão de desenvolvimento preexistente, o que explica de certa

forma a ocorrência desses conflitos. Porque no espaço urbano existem outras forças

agindo nas áreas verdes e seus sistemas ecológicos, para além dos processos naturais

que ocorrem dentro de um ecossistema, e que devem ser considerados para ampliar a

preservação destas áreas.


Alguns diferenciais significativos entre a lógica tradicional de criação,

manutenção e conservação das áreas verdes urbanas e a criação das redes técnicas

ambientais merecem destaque para um melhor entendimento do potencial desta

proposta metodológica na transformação da realidade socioambiental urbana:

1) Nas redes técnicas ambientais o foco não é apenas a natureza ou simplesmente o

homem, mas a complexa interação entre o indivíduo e o meio em que vive e as

possibilidades da transformação consciente do espaço.

2) Nas redes técnicas ambientais os espaços verdes urbanos são considerados

objetos técnicos, e não mais simplesmente objetos naturais, intocáveis, ou

primeira natureza.

3) Através da estruturação e do desenho de redes técnicas ambientais é possível

planejar a oferta de diferentes categorias de serviços ambientais em diferentes

lugares do território, em função das demandas e características locais,

possibilitando o acesso igualitário aos benefícios que o verde pode ofertar.

4) A informação produzida (a conexão invisível da rede) deve ser divulgada e

apropriada (conexão visível da rede na forma de práticas cotidianas ou de

projetos urbanos implantados no território) por todos os agentes sociais que se

relacionam de forma direta e indireta com estes espaços.

5) A estruturação e constituição das redes técnicas ambientais deve ser feita a partir

de uma análise espacial que considere e privilegie as relações sociais de uso e

ocupação do espaço. A importância da adoção deste tipo de análise é justificada

pela possibilidade de compreender e discutir os fenômenos espaciais em

totalidade, deixando para trás aquela visão de espaço absoluto, que leva em

consideração apenas atributos físicos e acabam assim por limitar as análises sobre

organização e produção do espaço urbano.

Sobre este último item, condição essencial para o desenho das redes técnicas

ambientais no território, a adoção da bacia ambiental como unidade espacial de análise


possui um diferencial porque amplia ou promove o entendimento da complexidade das

relações que transformam constantemente o território. Através deste tipo de análise, os

aspectos ambientais e sociais podem ser mais facilmente analisados de forma integrada,

através de uma análise holística e global das dinâmicas sociais que envolvem o uso do

espaço. Esta abordagem vai além dos limites físicos da bacia hidrográfica, muito

utilizada como unidade espacial de análise na elaboração dos instrumentos de

planejamentos ambiental, como os planos de manejo, zoneamentos e planos de bacia

hidrográfica (Rutkowski, 1999).

A bacia ambiental é proposta pela autora como “(...) um espaço territorial de

conformação dinâmica, cujos limites são estabelecidos pelas relações ambientais de

sustentabilidade de ordens ecológica e social” (1999:135) e não apenas por limites

geográficos, cuja análise não permitem o entendimento real das forças condicionantes da

degradação da qualidade ambiental e de vida nas cidades.

Depois do reconhecimento das dinâmicas de uso e ocupação do território e dos

problemas socioambientais existentes a partir da análise espacial da bacia ambiental, e

da identificação dos serviços ambientais que podem auxiliar na solução destes

problemas, associados a outras ações que não dizem respeito especificamente às

questões ambientais, é preciso desenhar a rede técnica que será implantada no território

para atender os objetivos de integração e ocupação equilibrada entre o ser humano e

meio físico-natural.

Embora não exista uma simples e única receita para o desenho e constituição de

uma rede técnica ambiental, existem vários princípios úteis e passos sistemáticos que

podem contribuir para projetos bem sucedidos, que apesar de terem sido desenvolvidos

para a criação de caminhos verdes (greenways) podem também ser utilizados como

ponto de partida para a constituição das redes técnicas ambientais (Hellmund E Smith,

2006: 7). Ao seguir tais princípios na elaboração de projetos de redes técnicas ambientais,
é possível desenvolver projetos verdes que ampliem as conexões física, ambiental e

social no território e façam circular no território fluxos de serviços ambientais:

 Projetistas de redes técnicas ambientais devem se esforçar para conservar e

aumentar a conectividade das características naturais;

 Planos de redes técnicas ambientais devem manter a natureza próxima de onde

as pessoas vivem, não importando o quanto urbana é uma área;

 As redes técnicas ambientais devem ser projetadas e gerenciados com múltiplos

objetivos em mente;

 Deve-se conhecer a dinâmica ecológica das áreas verdes. Isso significa, por

exemplo, que as dimensões dos objetos técnicos de uma rede técnica ambiental

(tipos e quantidades de espécies, espaçamento entre árvores,entre outros fatores)

devem ser determinadas não somente em função do quê está dentro dela, mas

também considerando o que está adjacente à ela;

 Deve ser pensada a relação entre as redes técnicas ambientais e a outras

existentes, de transportes, de saneamento a fim de evitar, ou minimizar o impacto

de uma sobre a outra, já que de certa forma estão todas, ao mesmo tempo,

presentes e sobrepostas no território;

 Não apenas as áreas verdes preservadas e outros espaços públicos como as

praças podem ser os fixos da rede, podem também ser os fixos, apesar da escala

reduzida, as áreas particulares de jardins, canteiros centrais e gramados.

 Além das áreas verdes, as linhas de paisagem, como canais, ou estradas de ferros

abandonadas criadas para estes propósitos podem ter um grande potencial de

promover a conexão física a rede técnica ambiental na medida em que também

podem ofertar serviços ambientais.

Sem querer engessar o processo de constituição e implantação das redes técnicas

ambientais, a aplicação desses e de outros princípios pode auxiliar arquitetos,

engenheiros e planejadores a implementar uma rede técnica ambiental que contribua


para a melhoria da integridade da paisagem, e mais amplamente, da sustentabilidade

urbana em suas dimensões social e ambiental. É importante ter em mente que para cada

lugar dentro da mesma cidade serão necessários e adequados arranjos diferenciados em

função de especificidades locais, que devem ser analisadas detalhamente em suas

dimensões social, ambiental, econômica e política, na conformação de redes técnicas

ambientais. Sem tirar da mente que “Nós devemos ver qualquer lugar como um todo social,

biológico e físico, se é pretendido entendê-lo completamente” (Lynch, 1981).

Esses diferentes arranjos podem ser obtidos com a utilização de alguns

instrumentos de desenho urbano que auxiliam a gestão ambiental de áreas verdes

urbanas, que serão explicados a seguir, mas que devem ser utilizados a partir do

reconhecimento das especificidades locais, sociais e ambientais, defendido nesta tese a

partir da bacia ambiental.

Do mesmo modo que o processo de planejamento ambiental possui

instrumentos26 para se determinar o estágio em que se está, onde se deseja chegar, e qual

é o melhor caminho para chegar lá, aqui é proposto que para criar, manter e fortalecer as

conexões físicas e sociais das redes técnicas ambientais,existem algumas categorias de

projetos que serão considerados aqui como instrumentos da rede técnica ambiental. São

estes os instrumentos que podem contribuir ao alcance dos objetivos de constituição de

uma rede técnica ambiental: estradas-parque (parkways); cinturões verde (greenbelts);

corredores verdes, ecológicos ou ambientais (environmental corridors); caminhos verdes

ou parques lineares (greenways) e infra-estrutura-verde (green-infra-estrutucture). Os

instrumentos devem ser escolhidos em função das características físico-naturais das

áreas verdes existentes, dos problemas ambientais locais, das dificuldades de

preservação e conservação ambiental das áreas verdes e das relações potenciais que

26
Alguns instrumentos do planejamento ambiental utilizados para atingir fins específicos: zoneamento ambiental; estudo de
impacto ambiental; planos de bacia hidrográfica, planos diretores ambientais, planos de manejo e áreas de proteção ambiental.
podem ser estabelecidas com os moradores locais a fim de se criar uma estratégia de

intervenção espacial para melhorar a qualidade ambiental e de vida local.

Apesar de parecerem recentes por terem como objetivo promover uma maior

integração entre as dinâmicas sociais e a realidade físico-natural enquanto estratégia de

preservação ambiental, as idéias por trás destes projetos são antigas. Além do aspecto da

integração entre recursos naturais e sociedade, outro diferencial destes projetos, que vai

de encontro com a proposta de constituição das redes técnicas ambientais a partir de

fixos que ofertem diversos serviços ambientais, é a consideração de várias funções que

as áreas verdes podem desempenhar em função das potencialidades identificadas a

partir de uma análise espacial criteriosa do espaço - objeto de intervenção.

O desenho destes espaços, que têm o potencial de ampliar a conexão das redes

técnicas ambientais deve ser elaborado levando-se em consideração as dimensões

espaciais necessárias para o funcionamento dos ecossistemas, na medida em que

possuem em seu interior fauna e flora que para serem preservados precisam ter seus

processos ecológicos regulados. Dentro desse contexto ressalta-se a importância desses

instrumentos de desenho e gestão ambiental, porque em função das características

ecológicas de cada área verde, a organização espacial dos elementos deve ser feita de

modo específico. Per Bolund e Sven Hunhammar nos explicam porque isto deve ser

feito:

“Para a preservação da fauna, o tamanho e a natureza das áreas verdes urbanas também é
importante (...). Para se ter uma alta diversidade de plantas e espécies na cidade é
necessário que as conexões entre os ecossistemas que circundam a cidade e os espaços
verdes não sejam interrompidos. Os pequenos parques urbanos e florestas urbanas são
freqüentemente muito pequenos para sustentar uma variedade de fauna e flora dentro
deles. Através da migração de organismos de grandes núcleos de áreas de fora da cidade a
diversidade nos ecossistemas urbanos pode ainda ser mantida” (Bolund e Hunhammar
1999:8).
Para atender o objetivo de ampliar a oferta de serviços ambientais (de suporte, de

provisão, de regulação e culturais) os planejadores urbanos têm a disposição os

instrumentos de desenho urbano que serão descritos a seguir. É reconhecida a vantagem

de utilizar esses instrumentos de desenho no planejamento das áreas verdes, na medida

em que minimizam a dificuldade de se planejar toda a paisagem, através de um esforço

estratégico de se construir redes lineares, ou outros tipos de arranjos espaciais como um

tipo de ferramenta de sustentabilidade (Hellmund E Smith, 2006).

A importância deles é que além de resolver alguns problemas ambientais locais,

também tem o potencial de induzir aos processos de transformação socioambiental

necessários. Por tudo isso, é sugerido que para o desenho das redes técnicas ambientais,

sejam utilizados estes instrumentos já que podem contribuir de forma efetiva na

preservação e conservação dos fixos da rede.

Sobre a origem das idéias que podem fortalecer as conexões da rede técnica

ambiental, começando com as estradas-parque, Paul Hellmund e Daniel Smith nos

contam que foi Frederick Law Olmsted quem reconheceu o potencial dos espaços verdes

lineares em fornecer acesso aos parques urbanos, e estender os benefícios dos parques

aos bairros próximos (2006: 26). Em seus projetos Olmested (em conjunto com seu

parceiro Calvert Vaux) melhorou a experiência recreacional e estética dos visitantes dos

parques, ligando-os uns aos outros por pistas lineares, denominadas parkways.

Um dos pontos centrais de seus projetos residia na adequação dos mesmos ao

cenário e a topografia natural do terreno, respeitando o "espírito do lugar", ou seja,

promovendo a permeabilidade e a integração entre recursos naturais e sociedade

defendida nesta tese como condição possível de melhorar a qualidade ambiental e de

vida nas cidades. As parkways criadas por Frederick Law Olmsted são caminhos

urbanos de largura considerável, com vegetação, contemplando diversas modalidades

de transportes, conectadas aos parques, estendendo os benefícios das áreas verdes

públicas para toda a cidade (Hellmund e Smith, 2006: 26).


As principais parkways criadas por Olmsted foram: Eastern e Ocean parkways,

Brooklyn (1868); Humboldt e Lincoln, Bidwell e Chapin Parkways, Buffalo (1870);

Drexel Boulevard e Martin Luther King Drive, Chicago (1871); "Emerald Necklace"

(1881), Beacon Street, Commonwealth Avenue extension (1886), Boston e o Southern

Parkway, Louisville (1892). Posteriormente outros profissionais seguiram a iniciativa de

Olmsted, porém como advento dos automóveis, esses espaços adquiriram outras

características, primeiro com as estradas asfaltadas, depois com as rodovias de alta

velocidade (Hellmund e Smith, 2006: 28).

No final da mesma década (1969) Ian McHarg desenvolveu uma estratégia

metodológica para projetos e planejamentos com enfoque ecológico. McHarg enfatizou a

importância do planejamento sistemático do uso da terra em função do valor e da

potencialidade de uso de cada parte da paisagem, identificadas através de sobreposições

de mapas temáticos (overlays27).

Para Ian McHarg (2000) é necessário analisar os componentes da identidade

natural (forma recebida) da cidade como um sistema de valores que oferecem

oportunidades para o uso humano, incluindo nesta análise e avaliação as criações do

homem como os edifícios, lugares e espaços (forma elaborada). Além dos aspectos

ambientais, o autor defende a necessidade de o planejador compreender o

desenvolvimento histórico da cidade como uma sucessão de adaptações refletidas no

plano da cidade e nos edifícios que a formam, tanto individualmente como agrupados

Estas idéias assemelham-se as que justificam nesta tese a adoção da bacia ambiental

como unidade de análise espacial para a posterior constituição e estruturação das redes

técnicas ambientais.

27
Cada overlay (camada) representa uma diferente categoria de uma característica natural, como hidrologia, geologia
e plantas comunitárias. Para cada tipo de característica, mais sensível é a área para os impactos do desenvolvimento,
uma sombra escura é recebida. A combinação de sombras, e assim a sensibilidade de todos os lugares. Assim, a
conveniência relativa de diferentes áreas para o desenvolvimento, de vários tipos e intensidades, ou para
conservação era determinada (HELLMUND E SMITH, 2006: 30).
É importante ressaltar que a metodologia para o planejamento da paisagem

desenvolvida por Ian McHarg não pretende excluir o desenvolvimento e sim distribuí-lo

de um modo que minimize a interrupção de processos ecológicos, e conseqüentemente a

geração de impactos ambientais.

Já o conceito de greenbelts (cinturões verdes) foi desenvolvido por Ebenezer

Howard que desenvolveu outro conceito também muito conhecido entre arquitetos e

urbanistas, o de cidade jardim (1898) que foi adaptado com vários graus de sucesso em

planejamentos de cidades na Inglaterra e em outros lugares. Sobre o primeiro conceito,

Howard pretendia isolar as cidades com cinturões de terra rural para limitar o

crescimento urbano e ao mesmo tempo amarrar a cidade e campo juntos, oferecendo

assim os benefícios de ambos os espaços para a sociedade (Hellmund e Smith, 2006: 28).

Segundo afirmação de Paul Hellmund e Daniel Smith “(...) o conceito Cidade Jardim

incorporou uma mistura de cidade e natureza e inclui greenbelts como uma específica zona de

conservação” (2006: 28).

Ainda no início do século dezenove Benton MacKaye aprimorou e desenvolveu o

conceito de cinturões verdes posteriormente a Howard. Ele propôs sistemas de espaços

verdes arborizados que iriam formar uma área linear, ou cinturão em volta e através de

uma localidade, denominado Appalachian Trail. A sua intenção ia além de rodear as

cidades com espaços verdes para bloquear o crescimento urbano, pois incluía o uso

recreacional dos espaços contidos nestas faixas, combinando o conceito de cinturão

verde (greenbelt) com o de estrada-parque (parkway) de Olmsted (Hellmund E Smith,

2006: 28-29). Mais uma vez, uma idéia que pensa na integração entre recursos naturais e

sociedade de forma equilibrada e com a oferta de serviços ambientais diversos ao longo

dos espaços criados.

Já na década de 60 foram incorporadas novas idéias aos pensamentos e conceitos

desenvolvidos por estes autores em função da ênfase crescente dada à ecologia e da sua

associação ao planejamento e ao desenho urbano.


Neste período o arquiteto Phillip Lewis Jr enfatizou a importância da análise das

características ecológicas na orientação de políticas, planos e projetos que visem a

preservação e a conservação dos recursos naturais. Ele chegou a esta conclusão pela

sobreposição e analise de mapas ambientais em transparências. Como resultado

identificou que um volume significativo de recursos naturais de relevante interesse

ecológico estavam tipicamente localizados ao longo dos cursos d´água e em áreas de

topografia acentuada. O que hoje justifica no Brasil, entre outros motivos, a delimitação

das áreas de preservação permanentes (APPs) nas margens dos rios e córregos, áreas ao

redor de lagos e nascentes e em topos de morro e encostas, com metragens e usos

definidos em lei.

Lewis denominou estas áreas como corredores ambientais (environmental

corridors) (Hellmund E Smith, 2006: 29). Este trabalho merece destaque porque os

resultados e métodos empregados prepararam, segundo Paul Hellmund e Daniel Smith,

o caminho para esforços bem sucedidos de se preservar extensas redes regionais de

corredores focados na preservação ambiental, principalmente em alguns lugares dos

Estados Unidos (Hellmund E Smith, 2006: 29).

Além da contribuição do método proposto por Lewis e aprimorado por McHarg

para análise e planejamento da paisagem, em 1967 dois cientistas, Robert MacArthur e

Edward Wilson desenvolveram uma teoria sobre o equilíbrio das espécies em ilhas que

teve uma profunda influência na conservação da natureza terrestre, incluindo o

planejamento de corredor de fauna: a biogeografia de ilhas (Hellmund E Smith, 2006)

Esta teoria promoveu uma mudança no modo de analisar e pensar espacialmente as

estruturas e elementos da paisagem, influenciando as análises e ações de ecologistas e

conservacionistas, planejadores e arquitetos.

Segundo Daniel Hellmund e Paul Smith a partir da teoria da biogeografia de ilhas

surgiu um interesse considerável em se conservar e criar corredores ecológicos, de vida

selvagem e a partir daí foram desenvolvidas outras designações para corredores


ambientais em função de especificidades locais e dos objetivos de preservação

pretendidos (Hellmund E Smith, 2006).

Nos anos 80 além do objetivo preservacionista aumentou o interesse por espaços

abertos que também desempenhassem usos recreacionais, culturais e educacionais de

modo a atender outros anseios da população e assim auxiliar no aumento da qualidade

de vida. Desse modo na década de noventa iniciou-se o desenvolvimento de outros

conceitos e desenhos como os caminhos verdes, ou parques lineares (greenways) e as

infra-estruturas verdes (green-infra-estrutucture). Nesse momento buscava-se formas de

organização espacial que ampliassem a integração entre recursos naturais e as

demandas sociais através da oferta de variados serviços ambientais, atendendo ao ajuste

necessário entre as potencialidades do meio físico natural e o espaço construído e social.

Entre os dois tipos de desenho citados acima, com as infra-estruturas-verdes é

possível atingir metas ecológicas mais amplas, enquanto com os caminhos verdes é

possível ofertar apenas alguns serviços de regulação em escala local e os culturais. A

definição de Mark Benedict e Edward McMahon (2006:3) para infra-estrutura verde

relaciona-se diretamente com a noção de preservação, o que justifica sua relação com o

alcance de metas ecológicas mais amplas: “(...) uma rede interconectada de áreas naturais e

outros espaços abertos que conservam os valores e funções dos ecossistemas naturais, sustentando

ar e água limpos, e fornecendo amplos benefícios às pessoas e à vida selagem”. A constituição

deste tipo de infra-estrutura no território consegue melhorar ou ampliar de forma

significativa no território, a oferta de serviços ambientais.

Utilizada nesse contexto, a infra-estrutura verde torna-se uma ferramenta

ecológica para a saúde ambiental, social e econômica,podendo ser definida como um

sistema natural de suporte de vida (Benedict e Mcmahon, 2006). Esse sistema natural nos

remete àquela infra-estrutura acoplada ao meio físico definida por Santos (1997) no

início da explicação sobre as redes técnicas ambientais.


Todos estes autores defendem e compartilham da idéia de que proteger e

restaurar o sistema natural de suporte de vida é uma necessidade e não uma amenidade.

Mark Benedict e Edward McMahon explicam que enquanto o espaço verde é visto

muitas vezes como auto-sustentável, a infra-estrutura verde implica que os espaços

verdes e sistemas naturais devem ser ativamente protegidos, gerenciados e em alguns

casos restaurados (2006:4). Nesse ponto, entra o papel do fluxo da rede técnica

ambiental na manutenção da qualidade ambiental desejada e atingida.

O termo infra-estrutura verde significa diferentes coisas dependendo do contexto

no qual é usado: para alguns se refere às árvores que fornecem benefícios ecológicos nas

áreas urbanas, para outros se refere às estruturas de engenharia (tanto as de

gerenciamento de águas da chuva, ou de tratamento de água) que são designadas para

serem solidárias ao meio ambiente (Benedict e Mcmahon, 2006).

Quanto à execução de projetos de criação de caminhos verdes (greenways) e de

infra-estrutura verde (green-infraestructure), estes foram feitos principalmente nos

Estados Unidos e na Europa.

Em resumo, as idéias que influenciaram a defesa da necessidade das conexões

físicas para a ampliação da qualidade ambiental urbana, tiveram início no final do

século dezoito com a aceitação de que as características intrínsecas da terra é que

deveriam guiar o planejamento de seu uso (planejamento regional) e de que era

necessário conservar espaços naturais para as gerações futuras (Benedict e Mcmahon,

2006). Posteriormente foram realizados diversos estudos focados nas interações entre

comunidades biológicas (ecologia da paisagem) e o ambiente físico e entre espécies e

paisagens (biogeografia de ilhas). Já nos anos oitenta começou a ser difundida a idéia de

que preservar áreas naturais isoladas não era suficiente para proteger a biodiversidade e

os processos ecológicos necessários à sua preservação, e de que as conexões entre áreas

naturais integradas ao ambiente construído e às dinâmicas sociais eram necessárias.


Nesse sentido a criação de caminhos verdes ou de infra-estrutura verde surge

como possibilidade alternativa na gestão das áreas verdes urbanas, pela consideração do

contexto e das áreas adjacentes à porção de terra a ser preservada ou conservada. O

objetivo principal da criação de ambos é buscar o ajuste ideal entre recursos naturais e

sociais, com estratégias de conservação adequadas ao lugar, de modo a promover o

desenvolvimento necessário e equilibrado.

Recentemente os cientistas naturais, conservacionistas e outros estudiosos da

problemática ambiental urbana acordaram sobre a importância desses novos arranjos

espacial para o gerenciamento dos recursos naturais e da vida selvagem e

conseqüentemente para a proteção da biodiversidade. Também os cientistas sociais, vêm

investigando como as tais estruturas espaciais podem afetar a economia, a comunidade

e a vida cívica, como também as interações sociais entre os usuários e freqüentadores

destes espaços (Hellmund e Smith, 2006). Ao mesmo tempo, diante da rápida perda de

espaços abertos em função das dinâmicas de uso e ocupação do espaço, os cidadãos

reclamam por novos espaços e oportunidades de recreação, lazer e contemplação ao ar

livre, principalmente em locais próximos de suas residências (Hellmund e Smith, 2006:

3).

O desafio em se criar redes técnicas ambientais que promovam os benefícios

propostos e assim ampliem o grau de sustentabilidade urbana em suas dimensões social

e ambiental reside no entendimento suficiente do espaço urbano em sua totalidade para

identificar os elementos estratégicos a serem preservados e os arranjos espaciais

necessários.

Na medida em que são utilizados estes instrumentos para o fortalecimento da

rede técnica ambiental trabalha-se com dois tipos de fixos: os primários que já existiam e

que são a origem e razão da ampliação ou outros arranjos espaciais que podem ser feitos

através do uso dos instrumentos de desenho urbano que foram descritos acima. A

criação de um caminho verde ou parque linear pode, por exemplo, conectar fixos
primários (fragmentos de vegetação nativa) através de corredores onde são plantadas

vegetação (fixos secundários) de modo a promover a conexão física necessária,

ampliando também a oferta de serviços ambientais (fluxos) ao longo de sua extensão.

Como conseqüência a melhoria da qualidade ambiental e de vida pode ser distribuída

espacialmente em todo o território através dos benefícios ofertados pelos fixos

primários, e ampliados pela criação de fixos secundários (áreas verdes criadas por

reflorestamento, arborização, replantio de mata ciliar, entre outras condições).

A infra-estrutura verde vem sendo utilizada como substantivo, como adjetivo e

como conceito, oferecendo benefícios em todos os casos, conforme ilustra o quadro a

seguir (Benedict e McMahon, 2006:4):

Tabela 6. Benefícios da implantação da infra-estrutura verde


(Benedict e McMahon, 2006:5)

Benefícios socioambientais da infra-estrutura verde enquanto abordagem estratégica de


conservação
USO CARACTERIZAÇÃO BENEFÍCIOS
Rede de espaços verdes Planejado e gerenciado para os valores dos
Usada interconectados recursos naturais e para os benefícios
enquanto um (áreas e características naturais, terras associados que tais valores conferem as
públicas e privadas de conservação, populações humanas
substantivo
terras agricultáveis com valores de
conservação, e outros espaços
protegidos)
Descreve o processo de uma Promove práticas que são boas para as pessoas
Usada abordagem estratégica e sistemática e para a natureza, por fornecer um mecanismo
enquanto um para a conservação de terra nas para que diversos interesses sejam trazidos
escalas nacional, estadual, regional e juntos para identificar prioridades na proteção
adjetivo
local, incentivando planejamentos de das terras
uso da terra

Refere-se ao planejamento e Pode guiar a criação de um sistema de espaços


Usada gerenciamento de uma rede de infra- abertos centrais e ligações que dêem suporte a
enquanto um estrutura verde conservação associada à recreação ao ar livre e
outros valores humanos
conceito
4.1 Os Fixos e os Fluxos da Rede Técnica Ambiental: áreas verdes urbanas e serviços
ambientais

Já que toda rede técnica é formada por um conjunto indissociável, integrado e

articulado de fixos (objetos técnicos) e fluxos (matéria, serviços e informação) nesta parte

do livro serão definidos os elementos que constituem uma rede técnica ambiental,

considerada uma estratégia metodológica para o planejamento e gestão das áreas verdes

urbanas. Os benefícios da constituição de uma rede técnica ambiental concentram-se

principalmente em seu potencial de integrar o ser humano e a natureza ao considerar as

complexas relações estabelecidas no uso e ocupação do espaço, ampliando as

possibilidades de melhoria da qualidade ambiental e de vida na construção de um

processo de sustentabilidade urbana.

Sobre qualidade ambiental e sua relação com a qualidade de vida é preciso falar

um pouco sobre isto, já que a construção do processo de sustentabilidade urbana

proposto a partir das redes técnicas ambientais envolve o sentido que será exposto a

seguir. De acordo com Weingartner (2001:04) a qualidade ambiental deve ser entendida

não somente como um meio físico ecologicamente equilibrado, mas também como “um

meio ambiente humano onde os anseios e desejos dos indivíduos, respeitando a diversidade e a

individualidade, ultrapassam o meio físico em si”. A influencia do homem na organização

espacial não pode ser excluída da análise e das reflexões sobre os tipos de intervenções

possíveis para a reversão da degradação da qualidade ambiental e de vida nas cidades.

Nas redes técnicas ambientais os fixos são todas as áreas verdes urbanas que

possuem recursos naturais, protegidas ou não, ou que tenham outras qualidades

especiais. Apesar de alguns autores e profissionais defenderem a adoção do termo

“espaço livre” quando se discute o planejamento de áreas verdes nas cidades, porque
este é mais abrangente, aqui é adotado o termo “áreas verdes” para todos os tipos de

elementos considerados “espaços livres” (áreas verdes, parque urbano, praça e

arborização urbana, entre outros).

As áreas verdes, os fixos da rede, podem ser aquelas protegidas legalmente, o que

não impede, dentro do contexto urbano principalmente, o uso mesmo que restrito,

destes espaços. O importante é que as áreas verdes para estarem incluídas dentro de

uma rede técnica ambiental devem necessariamente ofertar um ou mais serviços

ambientais28, dentre aqueles que foram apresentados no Capítulo 3 “As funções do verde

urbano”.

Ao sentir e vivenciar os benefícios dos serviços ambientais, as pessoas

aproximam-se fisicamente, sensitivamente, à estas áreas verdes e ao se sentir-se assim, a

tendência é fortalecer o vínculo e o afeto ao lugar. Ampliando-se de forma significativa

as possibilidades de preservação e conservação ambiental, muito mais do que a simples

aplicação e cumprimento de legislações de proteção ambiental.

Sobre a falta de integração e de relações afetivas com o lugar em que vivem,

Carlos Lobada e Bruno De Angelis (2005:131) explicam que:

“Tais espaços, assediados pelas condições pós-modernas, já não trazem consigo a


significância de um tempo. Talvez, a população urbana, envolta pela ideologia das novas
tendências globalizantes, não esteja mais se identificando com um lugar específico, seus
aspectos sociais, culturais ou históricos”.

Assim, apresentam-se aqui alguns tipos de áreas verdes que podem formar a rede

técnica ambiental. O “podem” é porque em cada cidade, existem áreas verdes

diferentes, e a presença de uma ou de outra não diminui nem aumenta a importância da

28
Relembrando o que os serviços ambientais “(...) são definidos como: “os benefícios que a população humana obtém, direta
ou indiretamente , das funções dos ecossistemas" (Costanza et al.,1997 apud BOLUND e HUNHAMMAR, 1999:3).
rede, pois todos estes espaços ofertam determinados serviços ambientais, e é aqui que

reside a funcionalidade da rede técnica ambiental. Também é importante esclarecer que

não só as áreas públicas podem fazer parte desta rede, mas também áreas privadas, que

tenham gramados, jardins, hortas, canteiros, e qualquer tipo de arborização que ofertem

serviços ambientais importantes para a promoção da qualidade ambiental urbana,

mesmo que com graus e intensidades variados. Resumindo, todas as áreas verdes

urbanas podem ser incluídas e consideradas como sendo os fixos da rede. Talvez seja

interessante o desenvolvimento de estudos que classifiquem os fixos da rede técnica

ambiental para realizar uma avaliação entre as duas categorias de áreas verdes (públicas

e privadas) a fim de entender possíveis diferenças na oferta dos serviços ambientais, e

como conseqüência a qualidade ambiental destes espaços.

A respeito das áreas verdes que podem ser consideradas os fixos de uma rede

técnica ambiental, apresentaremos uma classificação destes fixos (ver quadros 3 e 4) a

partir das áreas verdes públicas com objetivos de proteção e conservação ambiental 29

(com base no Sistema Nacional de Unidades de Conservação 30 – SNUC e nas resoluções

CONAMA que delimitam e definem os usos das áreas de preservação permanentes) e

outras áreas verdes públicas, que não tem, necessariamente recursos naturais de

29
Para esclarecimentos e entendimento de diferenças no uso do espaço, seguem as definições de proteção,
preservação e conservação ambiental definidas na Lei Federal 9985/2000 que cria o Sistema Nacional das Unidades de
Conservação – SNUC: “Art. 2o - II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a
preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o
maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das
gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral; V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e
políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos,
prevenindo a simplificação dos sistemas naturais; VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações
causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais; VII - conservação in situ:
conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios
naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades
características”.

30
São consideradas unidades de conservação todo “(...) espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e
limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (SNUC, LEI No
9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000(. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm.
relevante interesse ecológico, definidos por Per Bolund e Sven Hunhammar (1999) como

ecossistemas urbanos (urban ecosystems). Mesmo as áreas de proteção integral nas

quais não são permitidas as visitas públicas, a não ser para fins de educação ambiental,

com é o caso das estações ecológicas 31, são ofertados serviços ambientais que podem ser

acessados sem a necessidade de estar dentro deste espaço, como por exemplo, a

regulação climática, cujos benefícios são sentidos por todos aqueles que moram e

circulam no entorno desta área.

Quadro 3. Fixos da Rede Técnica Ambiental - áreas verdes públicas de proteção


ambiental

Fixos da Rede Técnica Ambiental


Áreas verdes públicas de proteção ambiental
Proteção integral* Uso Sustentável
Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental – APA
- Pesquisa científica, educação - proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e
ambiental e preservação da assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais – área
natureza – espaços já com extensa com ocupação humana – terras públicas ou privadas –
interferência das ações humanas – pesquisa científica – visitação pública permitida – necessidade de
visitação pública proibida conselho gestor
Reserva Biológica
- Pesquisa científica, educação Área de Relevante Interesse Ecológico
ambiental e preservação da - pequena extensão - pouca ou nenhuma ocupação humana -
natureza – espaços sem características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros
interferência das ações humanas - da biota regional – terras públicas ou privadas
visitação pública proibida
Parque Nacional Floresta Nacional
- Pesquisa científica, educação - cobertura florestal de espécies predominantemente nativas - uso
ambiental, preservação da múltiplo sustentável dos recursos florestais - pesquisa científica -
natureza, recreação e turismo áreas particulares desapropriadas - admitida a permanência de
ecológico - visitação pública populações tradicionais que a habitam quando de sua criação –
permitida visitação pública permitida – necessidade de conselho consultivo
Reserva Extrativista
Monumento Natural
- utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência
- preservar sítios naturais raros,
baseia-se no extrativismo - proteger os meios de vida e a cultura dessas
singulares ou de grande beleza
populações e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
cênica – visitação pública
unidade – necessidade de Conselho Deliberativo – visitação pública
permitida – constituído também
permitida – pesquisa científica - proibidas a exploração de recursos
por áreas particulares
minerais e a caça amadorística ou profissional

31
Um exemplo é a Estação Ecológica de Murici, em Alagoas, considerada uma das mais importantes florestas do
mundo e uma das regiões prioritárias para a conservação de aves no hemisfério ocidental. Para saber mais a respeito
das estações ecológicas brasileiras acessar o link do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA http://www.ibama.gov.br/siucweb/listaUcCategoria.php?abrev=ESEC. Neste site é possível
encontrar a lista das estações ecológicas e outras unidades de conservação.
Reserva da Fauna
-área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-
científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos
Refúgio de Vida Silvestre
faunísticos – áreas particulares desapropriadas – visitação pública
- proteger ambientes naturais para
permitida - proibido o exercício da caça amadorística ou profissional
a existência ou reprodução de
Reserva da Fauna
espécies ou comunidades da flora
- área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência
local e da fauna residente ou
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais
migratória – pesquisa científica –
- preservar a natureza - melhoria dos modos e da qualidade de vida e
visitação publica permitida -
exploração dos recursos naturais das populações tradicionais –
constituído também por áreas
necessidade de Conselho Deliberativo – visitação pública permitida –
particulares
pesquisa científica
Reserva Particular do Patrimônio Natural
- área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar
a diversidade biológica

Fixos da Rede Técnica Ambiental


Áreas verdes públicas de proteção ambiental
Áreas de Preservação Permanente - APP
São: as faixas marginais aos cursos d´água; ao redor de nascente ou olho d`água; ao redor de lagos e lagoas
naturais; no topo de morros e montanhas; em encosta ou parte desta; nas escarpas e nas bordas dos
tabuleiros e chapadas; nas restingas, manguezais, dunas; nos locais de refúgio ou reprodução de aves
migratórias; nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçadas de extinção e nas
praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre. Com a função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas
* nas áreas de proteção integral todas as atividades, tanto de pesquisa como educação ambiental e visitação
ou dependem de autorização, ou devem ser realizadas de acordo com normas específicas

Quadro 4. Fixos da Rede Técnica Ambiental - áreas verdes públicas e privadas


(adaptado de CAVALHEIRO e DEL PICCHIA, 1992)

Fixos da Rede Técnica Ambiental


Áreas verdes públicas e privadas
Praças, Parques de bairro, Parques Distrital ou Setorial, Parque Regional. Bosques, Pradarias, Unidades

de Conservação e Áreas protegidas


Áreas arborizadas

canteiros centrais, verde viário, calçadas, jardins


Áreas ajardinadas públicas e privadas

jardins, canteiros, hortas , calçadas, gramados, campos de futebol, campos de golfe, play grounds, cemitérios,

outras áreas com cobertura de vegetação


Estes dois quadros (3 e 4) mostram que, independente do termo adotado (áreas

verdes, espaços abertos, espaços livres) os fixos da rede técnica ambiental são todos os

elementos verdes inseridos na paisagem natural ou antrópica, seja em áreas públicas ou

privadas, pois em todos é possível ofertar serviços ambientais. Ana Maria Liner Pereira

Lima et. al (1994:5) definem estes dois tipos de paisagens onde encontram-se os

elementos verdes:

 Paisagens naturais: áreas despovoadas, mares, baías, lagos, oceanos,

colinas, montanhas, vales, penhascos, desertos ou várias combinações.

 Paisagens antrópicas: represas, minas, fazendas, pomares, parques, praças,

jardins, campos de golfe e cemitérios, entre outros.

O diferencial proposto para o tratamento, criação e gestão das áreas verdes

urbanas é uma mudança no modo de se pensar a funcionalidade dos recursos naturais e

processos ecológicos existentes. Estes devem ter suas funções ampliadas a fim de

atender as demandas por melhoria da qualidade ambiental e de vida nas cidades,

promovendo benefícios diversos às populações do entorno ou que se relacionam de

alguma foram com estas áreas, na tentativa de atingir a necessária integração entre

natureza e sociedade.

Sendo assim, nas áreas verdes protegidas não se deve ter em mente apenas os

benefícios que a proteção, ou institucionalização legal destes espaços promove aos

recursos naturais (fauna e flora) pois os benefícios devem ser estendidos também as

pessoas. E se reconhecidos assim, tem-se a possibilidade de fortalecer o vínculo das

pessoas com as áreas verdes urbanas próximas ao seu ambiente de moradia, como

também outras dentro de sua cidade, desde que sintam diretamente os benefícios e

tenham acesso a estes espaços.

Apesar da necessidade de se repensar as funções dos áreas verdes urbanas, é

importante deixar claro que é reconhecida a importância do manejo adequado dos

recursos naturais e dos processos ecológicos existentes nas áreas de proteção ambiental
para a ampliação da oferta dos serviços ambientais. Guillermo Foladori nos alerta sobre

o manejo adequado dos recursos naturais para fim:


“A maneira de utilizar o meio biótico e/ou os demais seres vivos não pode ser nunca arbitrária.
Para poder se apropriar do ambiente externo transformando sua forma, o ser humano deve,
forçosamente, atuar de acordo com as leis físico-químicas e biológicas; de outra maneira, o
resultado é infrutífero. Ainda deve descobrir funções novas para coisas existentes, porque os
materiais e seres vivos estão dados. A adaptação da matéria à função a ser utilizada implica
restrições e pressões simultâneas para ampliar o espectro de matéria a ser utilizado” (Foladori,
2001:87)

Relembrando o que foi dito sobre a importância das redes técnicas ambientais, é

importante que o foco, na constituição das redes, não seja nem apenas a natureza, ou

exclusivamente o ser humano, já que é impossível dissociar as questões ambientais das

sociais dentro do espaço urbano. A seguir serão apresentados os serviços ambientais

ofertados por cada uma destas áreas verdes, no intuito de orientar estratégias para

aumentar ou recuperar a oferta destes serviços sempre de forma integrada à preservação

ambiental e à conservação.

Uma análise dos serviços ambientais ofertados pelas áreas verdes urbanas mostra

a importância e do equilíbrio dos processos ecológicos das áreas protegidas legalmente

para que as outras áreas verdes urbanas consigam ofertar serviços com qualidade

adequada.

As primeiras, protegidas legalmente, têm importância fundamental na oferta de

serviços de suporte que são a exigência para a oferta dos demais serviços, pois somente

em um solo fértil e dentro de um ecossistema equilibrado, nascerão e serão mantidas

espécies que podem ofertar os outros tipos de serviços ambientais. Quanto às outras

áreas verdes urbanas, sua contribuição principal é na oferta de serviços ambientais de

regulação, principalmente os relacionados à regulação micro-climática e do ciclo

hidrológico, através da introdução de espécies vegetais e redução da impermeabilização

do solo urbano. Estes últimos serviços contribuem de forma significativa na


minimização ou reversão de problemas ambientais muito comuns em áreas urbanas

como, por exemplo, as inundações e as ilhas de calor.

Tabela 7. Oferta de Serviços Ambientais pelos fixos (áreas verdes protegidas – UCs) da
Rede Técnica Ambiental

Áreas verdes PROTEGIDAS


Serviços Ambientais ofertados
Objetos Técnicos
Serviço Serviço Serviço Serviço
UNIDADES DE
Ambiental de Ambiental de Ambiental de Ambiental
CONSERVAÇÃO Suporte Regulação Provisão Cultural
(UCs)
Estação Ecológica X X
Reserva Biológica X X
Parque Nacional X X X
Monumento
X X X
Natural
Refúgio da Vida
X X X
SIlvestre
Área de Proteção
X X X
Ambiental – APA
Área de Relevante
X X X
Interesse Ecológico
Floresta Nacional X X X
Reserva Extrativista X X X X
Reserva da Fauna X X X
Reserva de
Desenvolvimento X X X X
Sustentável
Reserva Particular
do Patrimônio X X X
Natural
Todas as áreas verdes classificadas como unidades de conservação, por

possuírem recursos naturais de relevante interesse ecológico, ofertam os serviços de

suporte e de regulação (ver tabela 7), tornando-se assim importantes fixos para a

manutenção da qualidade ambiental da área em que estão inseridas. Mas como o uso

nestes espaços é restrito, para atender os objetivos preservacionistas, os benefícios são

recebido de forma indireta pela população, com poucos benefícios culturais ofertados, já

que as visitações e a freqüência são limitadas.

Tabela 8. Oferta de Serviços Ambientais pelos fixos (áreas verdes protegidas – APPs) da Rede
Técnica Ambiental
Áreas verdes PROTEGIDAS
Serviços Ambientais ofertados
Objetos Técnicos
Serviço Serviço Serviço Serviço
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO Ambiental de Ambiental de Ambiental Ambiental
PERMANENTE Suporte Regulação de Provisão Cultural

Faixas marginais aos cursos d´água X X X X


Faixas ao redor de nascente ou olho
d`água; ao redor de lagos e lagoas X X X X
naturais
Áreas no topo de morros e
montanhas; em encosta ou parte
X X X X
desta; nas escarpas e nas bordas dos
tabuleiros e chapadas
Áreas de restingas, manguezais,
X X X
dunas
Locais de refúgio ou reprodução de
aves migratórias; locais de refúgio ou
reprodução de exemplares da fauna
X X
ameaçadas de extinção e nas praias,
em locais de nidificação e reprodução
da fauna silvestre

A previsão legal das áreas de preservação permanente feita através das seguintes regulamentações:
Código Florestal (Lei 4.771/65 e suas alterações), e as regulamentações decorrentes: Resoluções
CONAMA 302 e 303,32 de 20.03.2002 e a pela recente Res.CONAMA 369, de 28.03.2006.

Quanto às áreas de preservação permanentes todas as categorias de APPs ofertam

os serviços de suporte e de regulação, o que justifica a sua proteção legal, como foi dito

anteriormente (ver tabela 8). Principalmente nos espaços urbanos, com a crescente

impermeabilização do solo, a manutenção de áreas com mata ciliar nas margens dos

rios, conforme estabelecido em lei, permite a infiltração da água da chuva direta e vinda

do escoamento das águas pluviais. Esse processo faz uma filtração de alguns poluentes

minimizando a contaminação e poluição das águas dos rios e córregos urbanos. Estes e

outros processos regulados pelo sistema ecológico das APPs contribui de forma

significativa na redução dos riscos ambientais associados, por exemplo, as inundações

freqüentes em períodos de chuva, que geram prejuízos ambientais, materiais e outros

relacionados à vida humana. Sobre a oferta dos serviços de provisão, estes são ofertados

principalmente para o fornecimento de água para consumo humano quando o processo

ecológico que purifica a qualidade da água está regulado, levando em consideração que

nas APPs estão localizadas as nascentes e fontes de água. A oferta dos serviços culturais

pode ser realizada nas APPs desde que sejam seguidas as orientações da Resolução

CONAMA 369, de 28.03.2006 para intervenções em casos de utilidade pública, interesse

social ou baixo impacto ambiental. Seguindo a legislação é possível criar espaços de

lazer, contemplação e educação ambiental nestes espaços, que por estarem inseridos em

contextos urbanos, atenderiam a uma demanda crescente dos moradores locais, carentes

de espaços verdes e de lazer.

32
Resolução CONAMA 302, de 20.03.2002: Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação
Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. Resolução CONAMA 303, de 20.03.2002: Dispõe
sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. Resolução CONAMA 369, de 28.03.2006:
dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam
a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente – APP.
Tabela 9. Oferta de Serviços Ambientais pelos fixos (áreas verdes públicas e privadas) da
Rede Técnica Ambiental
Áreas verdes PÚBLICAS e PRIVADAS
Serviços Ambientais ofertados
Objetos Técnicos
Serviço Serviço Serviço Serviço
ÁREAS VERDES PÚBLICAS E Ambiental Ambiental de Ambiental Ambiental
PRIVADAS de Suporte Regulação de Provisão Cultural

Praças X X
Áreas arborizadas
X X
canteiros centrais, calçadas, jardins
Áreas ajardinadas públicas e
privadas
jardins, canteiros, hortas , calçadas,
X X X X
gramados, campos de futebol,
campos de golfe, outras áreas com
cobertura de vegetação

Apesar de não ofertarem serviços de suporte em função da área reduzida e das

características dos recursos naturais as áreas verdes públicas e privadas, que não estão

protegidas legalmente contribuem todas para a ampliação ou oferta de serviços de

regulação, em função dos benefícios diretos que o verde pode proporcionar, bastando

ficar embaixo de uma árvore para sentir (ver tabela 9). Estes serviços de regulação

também podem ser incorporados em projetos de arquitetura para, por exemplo,

melhorar a qualidade do ar e o conforto térmico interno das edificações, contribuindo

para o bem-estar dos ocupantes e usuários e para a redução de gastos na medida em que

podem reduzir a utilização de aparelhos para resfriamento ou aquecimento interno.

Sobre os serviços de provisão, a oferta ocorre em áreas onde existem viveiros, que

fornecem plantas ornamentais, e hortas comunitárias ou não que fornecem alimentos

diversos. Fica mais clara a oferta de serviços culturais por todos esses fixos, na medida

em uma das funções mais conhecidas do verde urbano é associada ao embelezamento

de áreas privadas e públicas, de convívio e lazer local.

Mas é necessário alertar para o fato de que a oferta dos serviços ambientais varia

no tipo e intensidade “(...) em função do clima, tamanho das cidades entre outros fatores
intervenientes” (Bolund e Hunhammar 1999:2). Kevin Lynch (1981) já nos dizia que “As

estruturas físicas devem ter efeitos previsíveis em uma cultura singular, com a sua estrutura

estável de instituições e valores”, o que reforça a necessidade de que as redes técnicas

ambientais sejam pensadas para cada lugar, de forma diferenciada e adequada as

diferentes especificidades locais, e por este motivo não deve ser adotado um desenho

padrão, um projeto ideal para todos os lugares com objetos técnicos previamente

definidos.

O mesmo autor nos informa que “Apesar de qualquer influência que pode ou não ter, a

forma física não é a chave variável na qual a manipulação pode induzir a mudança. Nosso cenário

físico é um resultado direto do tipo de sociedade em que vivemos. Primeiro mudar a sociedade e o

ambiente muda também” (Lynch, 1981:102). Por tudo isso, pode-se afirmar que não existe

forma ideal, nem objetos técnicos prioritários, já pré-definidos para a constituição de

redes técnicas ambientais que induzam um processo de mudança socioambiental.

Primeiro deve ser feita uma análise das complexas relações e características de cada

lugar para a construção de uma rede que seja integrada aos recursos naturais e as

dinâmicas sociais de cada lugar.

Se pensadas para cada lugar, e não planejadas de forma padronizada, como ainda

acontece, por exemplo, na elaboração de Planos Diretores, as redes técnicas ambientais

tem o potencial de criar conexões geográficas, para além das ecológicas, em tempos e

espaços diferenciados do território conectando, através do fortalecimento e sustentação

da rede, espaços geográficos variados, porém enraizados no cotidiano, que segundo

Maria Adélia Aparecida de Souza (1991) caracteriza a conexão geográfica. De acordo

com a autora, “As conexões geográficas são conexões de lugares do espaço, totais, singulares.

Atributos do espaço, neste período da história” (1991:08).

Pensar na oferta dos serviços ambientais a partir das redes técnicas ambientais, e

nas conexões geográficas decorrentes de sua implantação, proporciona uma mudança

no modo como vemos o espaço urbano na medida em que olhamos para além da forma
e da estrutura física. De acordo com Kevin Lynch (1981), quando pensamos na forma ou

estrutura de um ambiente normalmente identificamos de imediato as:

“(...) estruturas espaciais dos objetos físicos, grandes, inertes e permanentes da cidade:
edifícios, ruas, utilidades, pontes, rios, e talvez árvores. A esses objetos são adicionados
uma miscelânea de termos modificáveis, que dizem respeito ao seu uso típico, a sua
qualidade, ou a quem o pertence: residências de família, projeto de casa públicas, campos
de milho, ponte de pedra, tubos de esgoto de 10 polegadas, ruas movimentadas, igrejas
abandonadas, e assim por diante” (Lynch, 1981:47).

Nesse sentido, as áreas verdes urbanas não devem apenas ser vistas e

consideradas a partir e exclusivamente dos seus atributos físico-naturais, pois tem o

potencial de ofertar serviços ambientais que podem contribuir não só para a preservação

da biodiversidade, mas também para a solução de muitos problemas ambientais locais,

melhorando a qualidade de vida. É preciso que se considere, e que isto seja incorporado

nas ações de planejamento e gestão ambiental, outras possibilidades de uso destas áreas

pelas pessoas do lugar, tornando estes espaços de fato, um território usado, conforme

defesa de Milton Santos e Maria Adélia Aparecida de Souza.

Não que outras informações não sejam importantes para subsidiar a elaboração

de propostas de planejamento e gestão ambiental, como na elaboração dos planos de

manejo33, apenas é defendida a importância da consideração da oferta dos serviços

ambientais pelas áreas verdes urbanas, de forma integrada à outras questões pertinentes

e necessárias para elaboração dos planos .

A incorporação da análise da oferta destes serviços ambientais, para a elaboração

de estratégias que ampliem o grau de conservação e preservação ambiental deve ser

vista como um diferencial metodológico. Assim, na coleta e sistematização dos dados

33
“Plano de Manejo é um projeto dinâmico que determina o zoneamento de uma unidade de conservação, caracterizando cada
uma de suas zonas e propondo seu desenvolvimento físico, de acordo com suas finalidades. Estabelece, desta forma, diretrizes
básicas para o manejo da Unidade”. Fonte: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis - IBAMA.
Disponível em: http://www.ibama.gov.br/siucweb/guiadechefe/guia/f-3corpo.htm
necessários para a elaboração de planejamentos ambientais, podem-se acrescentar o

mapeamento das redes técnicas ambientais, as áreas verdes existentes (os fixos da rede),

o estado da fauna e flora, a oferta de serviços ambientais, as populações direta e

indiretamente beneficiadas, os principais impactos existentes que prejudicam a oferta

dos serviços ambientais, entre outros aspectos que permitam uma análise do estágio

atual de estruturação da rede técnica, para posterior proposição de estratégias para

reverter e melhorar a oferta de serviços. Como nos outros tipos de planejamento, com o

mapeamento e diagnóstico da rede será identificado o estágio em que estamos, para ser

definido com os planos e estratégias de ação onde queremos chegar. Contribuindo para

atingir os objetivos de “onde queremos chegar” devem ser utilizados os instrumentos de

desenho urbano citados anteriormente (corredores ecológicos, parques lineares, infra-

estrutura verde, entre outros) na medida em que têm o potencial de fortalecer e

reestruturar a rede para fins de preservação ambiental integrada à promoção da

qualidade de vida.

Com estas ações serão dois ganhos efetivos: a ampliação da conservação

ambiental, a partir da recuperação e reabilitação de ecossistemas, e também a melhoria

da qualidade de vida pelo aumento, não só quantitativo, mas também qualitativo da

oferta de serviços ambientais ao longo da rede, distribuindo os benefícios no território

como um todo. Outro ganho resultante da melhoria na oferta dos serviços ambientais

em áreas urbanas é também a solução de problemas ambientais locais.

Isso porque as áreas verdes inseridas em contexto urbano têm grande potencial

de funcionar como amenizadores de temperatura (controle climático), diminuir os

ruídos e os níveis de gás carbônico (melhoria da qualidade do ar) , promover equilíbrio

de distúrbios do meio (proteção contra enchentes e secas), protegerem as bacias

hidrográficas para o abastecimento de águas limpas (controle e suprimento de águas),

proporcionar abrigo para a fauna silvestre (controle biológico e refugio da fauna) ,

promover a melhoria da saúde mental e física da população que as freqüenta (função


recreacional e cultural), e contribuir para o melhoramento estético da paisagem.

Metodologicamente, a identificação e valoração dos serviços ambientais podem

ser vistas como um input a análise de custo-benefício apontando usos da terra mais

eficientes nas áreas urbanas. Por tudo isso se pode admitir que os serviços ambientais

“(…) gerados localmente têm tem um impacto substancial na qualidade de vida nas áreas

urbanas e devem ser adicionados no planejamento de uso da terra” (Bolund e Hunhammar

1999:1).

Mas ainda é preciso apontar outro benefício da utilização das redes técnicas

ambientais enquanto estratégia metodológica dos processos de planejamento e gestão

ambiental. Este outro benefício diz respeito à informação produzida sobre a rede técnica

ambiental necessária ao diagnóstico para a formulação das ações estratégicas.

É possível que, a partir da produção de conhecimento, divulgação e explicação

sobre os serviços ambientais, as pessoas sintam-se mais envolvidas com as áreas verdes

e dessa forma sinta-se encorajadas e incentivadas a participar do processo de

transformação de seu território, porque entenderão de fato a importância da

conservação e preservação ambiental. Sem o acesso e o entendimento da ”(...) informação

sobre o destino que está sendo dado ao ambiente, local de vivência do cidadão, ninguém pode se

manifestar ou participar em favor da proteção ambiental” (Barros, 2004:111). Assim

poderemos ver outras formas de reapropriação destes espaços de forma consciente,

equilibrada e justa.

O aumento do vínculo afetivo, e conseqüentemente das iniciativas individuais de

preservação desses espaços, pode ser alcançado em momentos de análise histórica da

ocupação e produção dos mesmos. Isso porque as áreas verdes representam, para além

da qualidade e quantidade de recursos naturais presentes em determinados espaços,

um passado que ainda experimentamos, e apesar da mudança de função ainda

possuem significados importantes para os moradores e freqüentadores do local. Esses

significados podem e devem ser resgatados através de metodologias participativas para


a construção do conhecimento sobre esses lugares (Rossi, 2001:56).

A importância do acesso e apropriação da informação também contribui, na

medida em que impulsiona ações de diversos agentes sociais, para uma ação coletiva de

“(...) resistência dos lugares às perversidades impostas a ele pelo mundo”, gestando a partir do

território e dos lugares, um novo tempo, denominado por Milton Santos como o período

popular da história (SOUZA, 2005:254). Quem sabe?

4. 2 A informação: conexão e fortalecimento da rede

“Difícil seria argumentar que não há necessidade de somar esforços na criação de redes eficientes
para disponibilidade, acesso e uso de informações e conhecimentos. Porem é preciso considerar
que apesar da forma intensiva com que se dá a sua multiplicidade e a eficiente veiculação – tanto
em meio tangíveis, quanto intangíveis – a informação, por si só, torna-se impotente para
garantir uma articulação e incorporação dos conhecimentos de forma a resultar em ações pro -
ativas ou mesmo reativas, capazes de prevenir ou solucionar problemas ambientais” (Costa et.
al, 2002:7)
Para a boa circulação dos fluxos da rede técnica ambiental (serviços ambientais) a

informação produzida sobre as áreas verdes é de extrema importância, pois tem o

potencial de fortalecê-la.

São importantes todas as informações sobre as áreas verdes, a qualidade e a

quantidade de recursos naturais existentes, sobre as relações de uso e produção das

mesmas, como também sobre as dinâmicas de ocupação do espaço que interferem na

qualidade dos serviços ofertados. Deve-se analisar informação sobre os objetos técnicos

e dinâmicas sociais, pois ambos contém informações essenciais para a manutenção das

redes técnicas ambientais. Milton Santos nos esclarece essa condição na medida em que

“Os objetos geográficos, cujo conjunto nos dá a configuração territorial e nos define o próprio

território, são, cada dia que passa, mais carregados de informação. E a diferenciação entre eles é

tanto da informação necessária para trabalhá-los, mas também a diferenciação da informação que

eles próprios contêm, pela sua própria realidade física” (Santos, 1996: 140).
Para o autor a informação é importante pelas seguintes razões: ( i ) além de

serem, sobretudo, informação sobre a dinâmica e qualidade dos lugares na conformação

de territórios, ( ii ) precisam do comando da informação para trabalhar. Ou seja, é a

partir da apropriação da informação que novas dinâmicas de uso e ocupação do espaço

irão influenciar e determinar novas funções para os objetos técnicos, e assim lhes dar o

comando para trabalhar (Santos,1996: 101). No caso da rede técnica ambiental, a

informação produzida dará o comando necessário para recuperar ou ampliar a oferta

dos serviços ambientais nas áreas verdes, quando incorporadas nos processos de

planejamento e gestão ambiental.

Resgata-se aqui o sentido da palavra informação para evidenciar seu poder

transformador. Conforme explicação de Graciela Gondolo (2000) a palavra informação:

“(…) deriva do radical forma, assim como deformação ou transformação. Nesse sentido, a
informação pode ser considerada como o oposto de deformação. Segundo De Rosnay, a
informação se caracteriza como poder desorganização ou por uma ação criadora. É a
informação que transforma uma situação caótica em uma estrutura organizada, agindo
contrariamente à entropia” (Gondolo, 2000:112).

O aspecto relacionado à ação criadora para a transformação é a chave do uso da

informação que mantém a rede técnica ambiental fortalecida, na medida em que deve

subsidiar ações individuais e coletivas dos cidadãos e do poder público (para a criação,

por exemplo, de corredores ecológicos ou infra-estrutura verde). Esta posição é também

justificada na fala de Milton Santos sobre o papel atual da informação, que segundo ele

vem se tornado “(…) o verdadeiro instrumento de união entre as diversas partes de um

território” (Santos, 2005:257).

É importante também saber como usar a informação ambiental e lhe dar “(...) um

sentido, uma finalidade, estimulando o gosto por pesquisá-la, enriquecê-la, tratá-la, trocá-la, para

assim melhor compreender um fenômeno, tomar uma decisão mais acertada, agir

conscientemente” (Souza, 2000:228).


Deve-se dar maior atenção ao papel da informação na criação de novas

territorialidades, pois o que vemos ainda é a quase total falta de circulação e apropriação

da informação e conseqüentemente de conhecimento a respeito dos lugares e das

possibilidades alternativas de intervenção crítica, consciente e condizente às realidades

físicas e sociais. Assim o que vemos é realmente o processo de desterritorialização

promovido pela concretização no território das idéias de agentes sociais dominantes,

que não tem interesse em conhecer a realidade socioespacial, nem de produzir e

divulgar informações que possam fortalecer outros agentes e assim compartilhar com

eles uma organização do território de forma justa e democrática.

Durante a Convenção de Aarhus34, realizada em 1988 e que defende a melhoria

do acesso do público à informação e à justiça, e uma maior participação das pessoas na

tomada de decisão em matéria de meio ambiente, foi definido, entre outras coisas, o que

é a informação ambiental (forma escrita, visual, oral ou eletrônica ou sob qualquer

forma material), que diz respeito à :

a) o estado do meio ambiente, tais como o ar e a atmosfera, as águas, o solo, as terras,

a paisagem e os sítios naturais, a diversidade biológica e seus componentes,

compreendidos os organismos geneticamente modificados, e a interação desses

elementos;

b) fatores como: as substâncias, a energia, o ruído e as radiações e atividades ou

medidas, compreendidas as medidas administrativas, acordos relativos ao meio

ambiente, políticas, leis, planos e programas que tenham ou possam ter incidência sobre

os elementos do meio ambiente concernente à alínea a, precedente, e a análise custo/

34
A Convenção sobre o acesso à informação, a participação do público na tomada de decisões e o acesso à justiça no
domínio do ambiente (Convenção de Aarhus) foi assinada pela Comunidade Europeia e pelos seus Estados-Membros
em Junho de 1998. A Convenção de Aarhus comporta três pilares: o primeiro, que se refere ao acesso do público à
informação, foi aplicado a nível comunitário pela directiva relativa ao acesso do público à informação no domínio do
ambiente ; o segundo, transposto pela Directiva 2003/35/CE, trata da participação do público nos procedimentos
ambientais; finalmente, o terceiro refere-se ao acesso do público à justiça em matéria ambiental
(http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/l28140.htm).
benefício e outras análises e hipóteses econômicas utilizadas no processo decisório em

matéria de meio ambiente;

c) o estado de saúde do homem, sua segurança e suas condições de vida, assim

como o estado dos sítios culturais e das construções na medida onde são ou possam ser

alterados pelo estado dos elementos do meio ambiente ou, através desses fatores,

atividades e medidas visadas na alínea b precedente (Wold e Nardy, 2003: 77-78 apud

Barros, 2004:44).

É importante também destacar o sentido dado à palavra informação pela

Comissão das Comunidades Européias (CEE) 35, relacionando-a diretamente à liberdade

de acesso à informação em matéria de ambiente. Em seu art. 2º, considera informação

ambiental “(...) qualquer informação disponível sobre a forma escrita, visual, oral, ou de base de

dados36 relativos ao estado das águas, do ar, do solo, da fauna, dos terrenos e dos espaços naturais,

às atividades (incluindo as que provocam perturbações como ruído) ou medidas que os afetem ou

possam afetar negativamente e às atividades ou medidas destinadas a protegê-los, incluindo

medidas administrativas e programas de gestão ambiental” (BARROS, 2004:37). Além de

definir quais os temas e assuntos que a informação ambiental deve abranger, neste

documento também são definidas as fontes para a obtenção dos dados referidos.

Alguns exemplos e orientações sobre os tipos de informação ambiental que

devem ser produzidas e disponibilizadas foram divulgados neste documento: “(...)

textos de tratados, convenções ou acordos internacionais e da legislação comunitária, nacional,

regional ou local sobre o ambiente ou com ele relacionados; políticas, planos e programas relativos

ao ambiente; relatórios sobre o estado do ambiente (...); dados relativos a atividades que afetem o
35
Diretiva nº 313, de 07/06/1990 - COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 2003.

36
“Alguns exemplos de informações que podem ser solicitadas invocando esta norma: águas residuais, incidentes ou acidentes dos
quais resulte poluição, emissões, substâncias radioativas, níveis de ruído, planos de ordenamento do território, resíduos,
licenciamento de obras, qualidade das águas, loteamentos urbanos, consumo de energia, planos rodoviários, fontes de energia
utilizadas, construção de estradas, pontes etc, licenciamento industrial, licenciamento de comércio e serviços, condições de
laboração, transporte de mercadorias perigosas e outras” (COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 2003 apud
Barros, 2004:37)
ambiente; licenças, autorizações e acordos no domínio do ambiente e estudos de impacto

ambienta37l e avaliações de risco” (Barros, 2004:38).

A informação das redes técnicas ambientais pode ser caracterizada como toda a

informação produzida, tanto pelos órgãos públicos, instituições de ensino e pesquisa,

organizações não-estatais e outras organizações, inclusive de movimentos e associações

populares, sobre as relações entre espaço e sociedade, como também sobre a

materialidade, os aspectos e atributos físicos das áreas verdes. Esta informação não deve

privilegiar nem os aspectos físicos nem os dados sociais, porque “A combinação entre

informação ecológica e social deve ser capaz de capturar importantes processos na paisagem que

determinam sua origem e as implicações para a sustentabilidade” (Andersson, 2006:6).

Dentro desse contexto a informação para a tomada de decisão no campo

ambiental deve abranger temas relativos ao estado do ambiente físico-natural e as

pressões exercidas pelas atividades humanas de uso e ocupação da terra que afetam a

qualidade ambiental e de vida.

É ampla a variedade dos temas 38 das informações ambientais necessárias para o

reconhecimento da realidade em seus múltiplos aspectos e conseqüente proposição de

ações que visem construir um processo de sustentabilidade urbana em suas dimensões

social e ambiental (Santos,2004). Porém, é preciso tomar cuidado na escolha de

metodologias de análise espacial para evitar aquelas que promovem apenas a leitura do

aspecto material do espaço, que ocupam-se apenas da forma. É preciso ter consciência
37
A Resolução CONAMA 1/86, de 23 de janeiro de 1986 que dispõe sobre procedimentos relativos a Estudo de Impacto
Ambiental define o que é impacto ambiental em seu art. 1º: “Art. 1º Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental
qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I. a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; II. as atividades sociais e econômicas; III. a biota; IV. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V. a
qualidade dos recursos ambientais”.

38
Alguns exemplos de temas de diagnósticos em 11 planejamentos ambientais apresentados por Santos (2004): clima /
geologia / geomorfologia / pedologia / recursos hídricos / arqueologia / vegetação / uso e ocupação das terras /
atividades econômicas / estrutura fundiária / aspectos culturais de organização social e política / demografia e
condições de vida da população / infra-estrutura de serviços / aspectos jurídicos e institucionais (Fonte: Fidalgo, 2003
apud Santos, 2004:73)
de que a forma representa e é construída, moldada a partir de experiências concretas de

organização espacial. E as relações estabelecidas durante estas experiências devem

também ser foco e objeto de análise (Rossi, 2001:13).

Os dados e informações coletadas devem ser analisados e interpretados a fim de

revelar “(...) a coerência (ou incoerência) entre a estrutura espacial, dinâmica populacional e

condições de vida da população e, ainda, traduzem o significado social e política do que foi

descrito como estado do meio pelos temas do meio físico e biológico” (Santos, 2004:72). Sobre a

interpretação dos dados, a autora complementa que “Nos processos que envolvem a tomada

de decisão, antes de mais nada é necessário “(...) interpretar o meio em relação à sua composição,

estrutura, processo e função, como um todo contínuo no espaço. (...)” (Santos, 2004:72). Isso

quer dizer que é necessária uma análise integrada dos diferentes fatores sociais,

econômicos e ecológicos que determinam a qualidade ambiental.

A leitura equivocada e a elaboração de diagnósticos ambientais inconsistentes,

por não reconhecerem a realidade complexa do espaço, prejudicam o alcance dos

objetivos das ações de planejamentos e de gestão ambiental. “Isto decorre, em grande

parte, do conhecimento limitado que se tem sobre este objeto, complexo, multidisciplinar e ainda

carente de um corpo teórico próprio. Em outras palavras, o conhecimento da cidade, como objeto

concreto, é condição necessária, embora não suficiente, para melhor atingir os objetivos do

planejamento urbano, em todas as suas dimensões” (Gonzáles et. al 1985:11).

Por tudo que foi exposto pode-se dizer que a informação carrega o potencial, se

atendidos todos os critérios e condições para sua produção e apropriação, e resolvidas

às deficiências existentes, de aproximar e conectar pessoas e lugares pelo

estabelecimento de novas relações de uso e ocupação do espaço na formação dos

territórios.

4.2.1 O acesso e a apropriação da informação

“Vivemos num mundo onde já não temos comando sobre as coisas, já que estão criadas e
governadas de longe e são regidas por imperativos distantes, estranhos. Poderíamos, nesse caso,
dizer com Maffesli, que os objetos já não nos obedecem, já que eles respondem à racionalidade da
ação dos agentes. No dizer de Sartre de A Imaginação, os objetos se tornam sujeitos. Mas nenhum
objeto é depositário do seu destino final e não há razão para um desespero definitivo. Num mundo
assim feito, não cabe a revolta contra as coisas, mas a vontade de entendê-las, para poder
transformá-las. (...) O que se impõe é conhecer bem a anatomia desses objetos e daquilo que eles,
juntos, formam – o espaço” (Santos, 1996: 109).

O quadro legal que será apresentado a seguir mostra as principais leis relativas ao

acesso da informação ambiental, e como será visto em seu conteúdo, todas elas dizem

respeito exclusivamente à divulgação do que vem sendo feito e sobre o estado atual do

meio ambiente, sem espaço e procedimentos definidos para a participação da população

na construção desse conhecimento (ver quadro 5). Além disso, também é necessário o

desenvolvimento de ferramentas e instrumentos para garantir que a informação seja

produzida de forma democrática e que também seja incorporada na dinâmica

governamental de organização do território.

Quadro 5. As leis e o acesso à informação

Amparo legal ao direito à Informação Ambiental


Legislação Conteúdo - Objetivos
(...) visará a divulgação de dados e informações ambientais e à
Lei nº 6938 de 31 de agosto de formação de uma consciência pública sobre a necessidade de
1981 - Política Nacional do preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.
Meio Ambiente (PNMA) Constituem instrumentos da PNMA, conforme dispõe o art. 9º, inciso
art. 4º, inciso V VII, o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente
(Sisnama)
O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) deve ser apresentado de
forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações
Resolução Conama nº 01, de devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas,
23 de janeiro de 1986 - cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de
estabelece critérios básicos e modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do
diretrizes gerais para o projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de sua
Relatório de Impacto implementação. A audiência pública referida na Resolução Conama
Ambiental (Rima) - art. 9º nº 01/86, tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do
produto em análise e do seu referido Rima, dirimindo dúvidas e
recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito
Constituição Federal de 1988 o direito de acesso à informação pública é previsto de forma genérica,
e ao tratar de matéria ambiental, inseriu, de modo específico, o direito
à informação ambiental, ao estabelecer no caput do art. 225, § 1º, IV,
que, em caso de instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, seja exigido
pelo poder público Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA),
dando publicidade a toda a sociedade com a divulgação das
informações ambientais contidas no Rima
Lei nº 7.804, de 18 de julho de acrescentou o inciso XI ao art 9º, para garantir a prestação de
1989 que altera a Lei nº informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder
6938/81 que dispõe sobre a Público a produzi-las, quando inexistentes
Política Nacional de Meio
Ambiente

regulamentação da Política estabelece que a atuação do Sistema Nacional do Meio Ambiente


Nacional de Meio Ambiente, (Sisnama) efetivar-se-á mediante articulação coordenada dos órgãos e
via Decreto n. 99.274, de 06 deentidades que o constituem, observado, conforme prescreve em seu
junho de 1990 - art. 14 inciso I, o acesso da opinião pública às informações relativas às
agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambiental, na
forma estabelecida pelo Conama
Lei nº 10.650, de 16/04/2003 – dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos
Lei do Direito à informação órgãos e entidades integrantes do Sisnama, possibilitando a qualquer
Ambiental indivíduo, independentemente da comprovação de interesse
específico, ter acesso às informações de que trata a lei, cabendo ao
órgão ou entidade estatal prestar a informação, no prazo de 30
(trinta) dias
Decreto nº 5.975, de 30 de dispõe no seu art. 24 sobre a publicidade de informações,
novembro de 2006 que informando que os dados e informações ambientais, relacionados às
regulamenta o art. 2º da Lei normas previstas neste diploma, serão disponibilizados na Internet
no 10.650/2003 pelos órgãos competentes, no prazo máximo de cento e oitenta dias
da publicação deste Decreto.
De acordo com esse diploma, os dados, informações e os critérios
para a padronização, compartilhamento e integração de sistemas
sobre a gestão florestal serão disciplinados pelo Conama (§ 1º, do art.
24). Os órgãos competentes integrantes do Sisnama disponibilizarão,
mensalmente, as informações referidas nesse artigo ao Sisnama,
instituído na forma do art. 9o, inciso VII, da Lei no 6.938/81, conforme
resolução do Conama (§ 2º, do art. 24).
Finalmente, o art. 25 informa que as operações de concessão e
transferência de créditos de reposição florestal, de apuração de
débitos de reposição florestal e a compensação entre créditos e
débitos serão registradas em sistema informatizado pelo órgão
competente e disponibilizadas ao público por meio da Internet,
permitindo a verificação em tempo real de débitos e créditos
existentes
Fonte: (Barros, 2007:5-7)
No Brasil a informação ambiental está presente e representada pela legislação

através de dois modos. Lucivaldo Barros nos informa que isso ocorre da seguinte

maneira:
“De um lado, o direito de todos terem acesso às informações em matéria de meio ambiente (art.
5°, incs. XIV, XXXIII e XXXIV, da CF; art. 14, inc. I, do Decreto 99.274, de 06/06/1990 e art.
8°, da Lei n° 7.347, de 24/07/1985). De outro lado, o dever de o poder público informar
periodicamente a população sobre o estado do meio ambiente e sobre as ocorrências ambientais
importantes (art. 4°, inc. V, e 9°, incs. X e XI, da Lei n° 6.938, de 31/08/1981 e art. 6°, da Lei n°
7.347/1985), antecipando-se, assim, em certa medida, à curiosidade do cidadão” (BARROS,
2004:39).

O que é interessante pensar ao analisar o quadro legal do direito ao acesso à

informação é que estas leis e decretos não representam e apresentam apenas “os meios

formais concebidos pelo Estado, mas, de maneira cada vez mais indispensável, a participação

contínua de todos os setores da sociedade na proteção do meio ambiente” (Barros, 2004:22). O

autor complementa dizendo que “A participação popular visando à conservação do meio

ambiente insere-se num dos momentos mais importantes da cidadania na proteção ambiental”

(Barros, 2004:22). E foi a promulgação da Lei nº 10.650, de 16/04/2003 do Direito à

informação Ambiental39 o grande avanço nesse sentido na medida em que abre caminhos

para novas possibilidades de participação ligadas à proteção, preservação e conservação

ambiental. A referida lei, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações

existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama (Sistema Nacional de

Informações do Meio Ambiente), prevê que tais órgãos estão obrigados a permitir o

39
A Lei do Direito à Informação Ambiental foi aprovada pelo Congresso Nacional, e sancionada pelo presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva, juntamente com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, e o advogado-geral
da União, Álvaro Augusto Ribeiro Costa, a Lei no 10.650, de 16/04/2003. A Lei dispõe sobre o acesso público aos
dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama (Sistema Nacional de Informações do
Meio Ambiente) criado pela Lei nº 6.938/1981. O SISNAMA é constituído por órgãos e entidades da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental . A criação do SISNAMA tem os seguintes objetivos:
sistematizar a informação necessária para apoiar a tomada de decisão na área de meio ambiente, permitindo a rápida
recuperação e atualização, bem como o compartilhamento dos recursos informacionais e serviços disponíveis
(BARROS, 2004:132).
acesso de todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito,

visual, sonoro ou eletrônico, relativas aos seguintes aspectos:

a) qualidade do meio ambiente;

b) políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambiental;

c) resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de poluição e de

atividades potencialmente poluidoras, bem como de planos e ações de recuperação de

áreas degradadas;

d) acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais;

e) emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos; substâncias

tóxicas e perigosas;

f) diversidade biológica (Barros, 2004:133).

No que se refere às questões ambientais existe uma ligação muito forte entre meio

ambiente e o direito de ser informado (Costa et. al, 2002:8). O acesso à informação

ambiental é um importante instrumento de controle social e de participação direta da

sociedade na proteção ambiental, pela sua base transdisciplinar de conscientização 40 e

necessidade de produção coletiva do conhecimento ambiental, e na organização espacial

do seu lugar de vivência (Barros, 2004:13-14). É importante refletir sobre “(...) a

importância do direito à informação ambiental como mecanismo de fortalecimento no processo

participativo, bem como instrumento imprescindível à plena conscientização da sociedade na

defesa efetiva do patrimônio ambiental (...)” (Barros, 2004:13).

Mas apenas a existência das leis que garantam o acesso e a divulgação das

informações como também apenas a existência de espaços públicos de participação

popular, não garantem que a decisão sobre o meio ambiente seja feita de forma

democrática e justa. Mesmo participando destes espaços e recebendo a informação,

40
De acordo com Lucivaldo Barros “(...) o princípio maior da consciência ambiental vincula todos à preservação, porque todos
são também os titulares do direito e do dever de possuir um ambiente ecologicamente equilibrado” (BARROS, 2004:21).
existem entraves, os denominados “ruídos”, que dificultam o processo de transferência

e apropriação da informação (Barros, 2004).

A esse respeito Souza esclarece que:

“(...) a transferência de informação depende muito mais do receptor do que do transmissor


e se dá, necessariamente, através de canais sujeitos a ruídos, os quais podem introduzir
distorções, dificultando-a e impedindo que seja efetiva. Se a sociedade receptora está
comprometida com a mudança, esta mensagem pode transferir informações que acabarão
por iniciar processo aculturativo mais ou menos intenso” (Souza, 1983:75, 80-81)

Esses ruídos são produzidos por influências políticas e econômicas e são grandes

obstáculos à apropriação das informações. No que diz respeito às influências políticas,

como informação é poder, a “(...) sua não-distribuição passa a ser uma arma estratégica, não

interessando aos grupos dominantes a sua disponibilização de forma democrática e adequada”

(Barros, 2004:47).

Ainda sobre os entraves ao acesso à informação, Maria Adélia Aparecida de

Souza nos alerta que:


“Tais informações, especialmente aquelas veiculadas pelos meios de comunicação de massa (rádio,
televisão, jornais, revistas), são filtradas. Por outro lado, o clientelismo político também implica
manipulação da informação. Além do mais, as linguagens utilizadas pelos diferentes meios de
comunicação, que utilizam dados primários, são incompatíveis e as notícias são dadas de maneira
diferente por esses diferentes meios. Dessa maneira, a comunidade em geral está sempre privada
da informação original, confiável, verdadeira. Claro está que tais informações encontram-se
extremamente dispersas, tornando impossível o seu acesso de maneira voluntarista ou militante”
(Souza, 2000:222)

Infelizmente esta é uma prática recorrente que influencia e direciona a forma de

organização do território, para o atendimento, principalmente, de interesses

dominantes. Isso porque, conforme argumentação de Milton Santos “A informação,

sobretudo ao serviço das formas econômicas hegemônicas e ao serviço do Estado, é o grande

regedor das ações definidoras das novas realidades espaciais” (Santos, 1996:93).
A apropriação da informação por todos é importante para que a sociedade tenha

a possibilidade de participar da construção e reorganização espacial de seu território, na

medida em que o acesso à informação representa poder de agir e de ser no mundo. A

informação auxilia o seu receptor a tomar uma decisão, e conforme o grau de

participação no processo decisório, a pessoa tem a oportunidade de participar da

construção de seu próprio destino, deixando de ser coadjuvante neste processo. A

tomada de decisão pode ser sobre outras formas de relacionar com os outros, seja sobre

a forma de cuidar e organizar espaço em que vivem, ou também em processos

decisórios envolvendo questões, atividades ou novos empreendimentos que podem

afetar diretamente sua qualidade de vida.

Mais informadas as pessoas tomarão conhecimento dos problemas ambientais em

curso e tomarão, a sua escolha, uma posição. Somente “(...) a partir do conhecimento de

todos os fatos que possam influir, positiva ou negativamente, na vida dos cidadãos, que eles

poderão se organizar, e a partir de experiências positivas impedir eventos danosos à coletividade”

(Barros, 2007:4). Rogério Haesbaert informa sobre como “(…) Hoje as relações de poder

mais relevantes envolvem o controle sobre fluxos de informações (ou de capital fictício

“informatizado”, como o que gira em torno de paraísos fiscais e bolsas de valores) (…)”

(Haesbaert, 2006:301-302).

Dentro desse contexto:

“A visibilidade dos processos naturais é um dos princípios de projeto defendidos por


Hough (1995) como estratégia para promover consciência e responsabilidade ambientais.
Quanto mais um rio é escondido maior é a chance dele ser utilizado como lixeira e local de
despejo” (Costa e Monteiro, 2002: 297).

Ao receber a informação sobre a realidade físico-natural e social do seu lugar de

moradia e vivência, e apropriar-se dela é possível que as pessoas também compreendam

e repensem os modos de se relacionar com o meio ambiente – seja ele natural ou


construído. Para que isso aconteça de fato, devemos analisar as deficiências existentes

neste processo e tentar superá-las, na tentativa de mudar a dinâmica de produção,

acesso e apropriação da informação. Algumas destas dificuldades são:

 Dificuldades terminológicas - principalmente quando envolvem muitos

conhecimentos técnicos;

 Restrições na divulgação de dados - envolvendo a censura, o sigilo,a mentira, a

manipulação, a opacidade e a segurança como barreiras para que a sociedade

tenha acesso a informações ambientais relevantes sobre as atividades que causam

riscos ao meio ambiente e às pessoas;

 Interesses divergentes - quando geradores da informação – Estado e poder

econômico - têm interesses divergentes dos usuários, e não têm como objetivo

colocar todas as informações produzidas referente as atividades realizadas;

 Problemas na sistematização de informações - apesar de existirem vários sistemas e

base de dados no Brasil, eles não são construídos com a participação de todos os

agentes sociais, poucos têm acesso de forma fácil a este tipo de informação, e as

informações podem estar dispersas sem interligação com outras bases similares;

 Formas mal empregadas de disseminação - os envolvidos com a produção e

divulgação da informação, pensam mais em divulgar ou publicar, do que “como”

e “para que” o usuário vai aproveitar essa informação;

 Excesso de informações - dificulta a capacidade dos receptores da informação se

atualizarem sobre matéria ambiental, pelo excesso de dados e caráter

interdisciplinar;

 Falta de interesse - quando as pessoas não têm interesse pela leitura das

publicações sobre a temática ambiental, resultado também, entre outros fatores,

da falta de estímulo e incentivo para a criação e ampliação de bibliotecas e

centros de informação, onde seria possível encontrar a informação de fácil acesso

e já sistematizada). Sobre este assunto, Maria Adélia Aparecida de Souza


argumenta que “(...) Não há interesse em valorizar e obter informação. Não há memória.

Não é apenas a memória do país que se esvai, mas uma arma estratégica de fundamental

importância para a sobrevivência no mundo de hoje” (Souza, 2000:226-227)

 Vícios de comunicação - algumas organizações circulam informações previamente

selecionadas ou com vícios, nesses casos a comunicação se dá de forma passiva,

receptora e massificadora;

 Limitações da estrutura organizacional do Estado – em função da relativa falta de

capacidade técnica dos órgãos ambientais,que dificulta e/ou impede a aplicação

de novos instrumentos da política ambiental entre outras atividades ligadas a

produção e divulgação da informação ambiental;

 Sensacionalismo informacional - não é apenas com a intenção de ampliar a

consciência ambiental que alguns acontecimentos são divulgados pela mídia.

Muitos meios de comunicação vêm dando um tratamento dramático e

sensacionalista principalmente sobre catástrofes ambientais, sem análises

objetivas dos casos e condicionantes;

 Falta de efetividade das normas – dificuldades para efetivar a legislação sobre o

acesso à informação ambiental. Faltam pessoal qualificado para trabalhar com a

comunicação ambiental e vontade política de tornar pública e acessível a

informação a um número maior de pessoas (BARROS, 2004:53-56).

As barreiras que existem ao acesso à informação ambiental são também

prejudiciais aos processos de participação pública para a tomada de decisão, sendo

impossível dissociar “(...) o direito de participação do direito à informação. As barreiras

encontradas no acesso à informação, anteriormente mencionadas, repercutem diretamente nos

processos de participação pública” (Barros, 2004:53-56).

Por tudo isso, é possível afirmar que não só a existência de leis que garantam o

acesso à informação é importante, mas o processo de produção e divulgação, sem

censura ou restrições, com formato e linguagem adequados, também são fatores


condicionantes à efetiva apropriação da informação pelos receptores. Para isso, “A

informação ambiental deve ser adequada, útil, compreensível e transmitida em canal não-viciado,

(...) e, sobretudo, proporcionar e estimular a participação pública” (Barros, 2004:39). Com tudo

isso ampliam-se as possibilidades da informação contribuir na redução da insegurança,

na revelação de alternativas para a possível solução de problemas socioambientais

locais, como também para estimular os indivíduos à ação na busca de um ambiente

sadio e agradável para todos (Barros, 2004).

Além disso, no processo de participação pública, tanto da produção da

informação como na tomada de decisão a partir dela, é importante também ampliar a

relações da sociedade com as organizações que produzem as informações, para além da

natureza produtor-receptor da informação. Maria Adélia Aparecida de Souza (2002:221)

defende a idéia de que é fundamental “(...) estimular um diálogo mais objetivo e conseqüente

dentro da comunidade e desta com as instituições públicas e privadas que oferecem e gerenciam

serviços de interesse coletivo”.

Sobre o acesso à informação ambiental no Brasil, pode-se dizer que a população

continua pouco e mal informada sobre as questões ambientais, que raramente tornam-se

conhecimentos a serem utilizados efetivamente na reconstrução e reprodução do

território. A título de ilustração, foi realizada uma pesquisa pelo Ministério do Meio

Ambiente41 com duas mil pessoas para avaliar o quanto se sentiam bem informadas

sobre assuntos relativos ao meio ambiente. O resultado da pesquisa, que foi realizada

em 2001, apontou que apenas 2% dos entrevistados sentiam-se bem informados (Barros,

2007:1).

As pessoas pouco sabem sobre a importância de certas áreas verdes na regulação

de processos ecológicos e de sua real contribuição para a melhoria da qualidade

ambiental. Têm pouco ou nenhum conhecimento sobre a relação entre as características

41
Pesquisa coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, realizada pelo Ibope/Iser, disponível em:
<http://www.iser.org.br>. Acesso em: 02 ago. 2003 por BARROS (2004:21).
ecológicas das espécies do entorno da sua casa, ou existente nos parques, bosques da sua

cidade e os serviços ambientais que tais ecossistemas podem ofertar. Existe a

necessidade de informar as pessoas sobre os requerimentos ecológicos necessários,

envolvendo ações de preservação e conservação ambiental para que, ao entender a

importância destes espaços, sintam-se motivadas a contribuir na sua manutenção e uso

consciente do espaço (Andersson, 2006:2).

A pesquisa ilustrada acima nos mostra que há ainda muito a ser feito

principalmente porque:

“As questões ambientais demandam respostas rápidas e requerem o acesso a uma gama de
informações socioambientais e ferramentas adequadas para a análise e visualização de
modelos e cenários de impacto socioambiental, mas a apropriação isolada dessas
informações é insuficiente, tornando-se meros dados” (Barros, 2007:1).

Vemos então dois problemas principais a serem solucionados: ( i ) a necessidade

de se promover o acesso às informações ambientais em modelos e linguagem adequadas

e ( ii ) o desenvolvimento de estratégias que promovam a apropriação da informação de

modo a torná-la conhecimento passível de ser reutilizado pelos agentes sociais.

Para transformar a informação recebida em conhecimento é preciso

contextualizá-la em seu ambiente de moradia, de vivência, para que a informação faça

algum sentido e assim seja possível pensar e entender a realidade, seus problemas e

reelaborar uma forma de se relacionar com os outros e com o meio ambiente que o cerca

(BARROS, 2007).

“Qualquer ação prática se estabelece sobre um determinado objeto concreto. No entanto,


para que esta ação seja realista e conseqüente, ela deverá estar apoiada sobre o
conhecimento que se tem deste objeto. Esse conhecimento, no entanto, não se baseia
apenas nas manifestações visíveis do objeto. Pelo contrário, é necessário conhecê-lo por
dentro através das leis gerais do seu comportamento e de suas formas de vigência nas
mais diversas condições concretas” (Gonzáles et. al 1985:11).
Dentro desse contexto a capacidade de percepção, conhecida por cognição, tem

um papel fundamental na produção do conhecimento a partir das vivências de cada um.

Esta capacidade é definida por Vicente del Rio (1991:125) como "(...) o processo do saber

operativo que é reconhecidamente amplo, permitindo lidar, consciente e inconscientemente, por

um lado, com a informação selecionada e apreendida [através do processo perceptivo], e, por

outro, com a sua organização em representações simbólicas, conjuntos de valores e tendências

para determinados tipos de conduta" (apud Rheingantz et al. , 2005).

Porém a capacidade de percepção ambiental é diferente em cada pessoa e por isso

os processos de construção da informação e de tomada de decisão devem ser realizados

de forma aberta e participativa. Isso porque para que os indivíduos ampliem sua

consciência sobre a importância e a necessidade da preservação e conservação

ambiental, devem passar por uma reflexão a respeito do que significa e representa a

natureza para cada um (Barros, 2004:22). Essa consciência, se atingida entre um número

significativo e diverso de agentes sociais podem induzir a identificação entre eles de um

propósito de mudança (Carvalho, V., 2002:147 apud Barros, 2004:116).

A participação dos moradores e usuários do espaço neste processo pode

impulsionar iniciativas de organização espacial, individuais e coletivas, com o potencial

de criar espaços que tenham as dimensões da boa forma urbana 42 propostas por Kevin

Lynch (1981). Na medida em que todos os agentes envolvidos, presentes e que vivem no

espaço objeto de intervenção participam da produção da informação, apropriam-se dela,

produzem o conhecimento e participam ativamente de sua organização espacial,

trazendo suas vivências, experiências e expectativas, amplia-se a possibilidade de se

construir ou recriar um território com as seguintes características, associadas a

42
De acordo com Luiz Falcoski (1997), as dimensões e subdimensões de desempenho apresentadas por Kevin Lynch,
servem como modelo teórico e cognitivo de investigação, reflexão, análise e avaliação dos fenômenos sócio-espaciais e
da forma urbana.
constituição da rede técnica ambiental (dimensões 43 da boa forma urbana – Kevin

Lynch,1981):

- Vitalidade: esta dimensão diz respeito à qualidade ambiental do espaço em

questão, envolvendo a ausência de poluição ambiental e riscos a saúde das pessoas, a

presença de um nível adequado de conforto ambiental, a preservação da biodiversidade

local, na medida que os processos ecológicos existentes possibilitam todos os benefícios

citados. Todos os agentes podem estar envolvidos tanto no reconhecimento dos

problemas existentes que dificultam o equilíbrio necessário, quanto nas ações cotidianas

que podem contribuir para a reversão ou minimização de alguns dos problemas

ambientais locais.

- Sentido: esta dimensão é alcançada quando a forma e dimensões do entorno e

das estruturas físicas, edificações, ruas, calçadas, habitação, espaços públicos, e outros

espaços estão ajustadas às capacidades sensoriais e culturais das pessoas que os

freqüentam. Para isso é primordial a participação das pessoas que usam e freqüentam

tais espaços para identificar deficiências, e promover o ajuste necessário a partir da

percepção dos agentes envolvidos no uso destes espaços. Muitas vezes formas e projetos

padronizados não consideram as características locais de relacionamento espacial, e

como conseqüência alguns espaços, lugares e caminhos não são utilizados, alguns

chegam a ser abandonados ou degradados. Dentro desta dimensão é valorizada a

percepção das pessoas sobre o significado dos lugares, o que influenciará seu uso futuro.

43
Sobre a metodologia proposta por Kevin LYnch para a avaliação da boa forma urbana, existem dois metacritérios
de desempenho que permeiam todas as dimensões descritas: ( i ) eficácia interna e externa e ( ii ) justiça. O primeiro
deles ao será associado neste momento à dinâmica das redes técnicas ambientais porque não será objeto desta tese
discutir “(...) à forma de distribuição de custos e benefícios associados ao projeto, produção, manutenção e dimensões ambientais
anteriores” (FALCOSKI, 1997:187). Porém, o segundo metacritério relaciona-se de modo intrínseco com o conceito de
rede técnica na medida em que defende a distribuição entre os custos ambientais e benefícios, com a intenção de
reverter a lógica de apropriação injusta do espaço urbano e da distribuição dos benefícios para poucos. E na medida
em que a oferta dos serviços ambientais é ampliada em todos os objetos técnicos (áreas verdes) presentes no território,
distribui-se ao longo dele os diversos benefícios que contribuem para melhorar a qualidade ambiental local e de vida.
- Adequação: esta dimensão é atingida quando a forma e a capacidade dos

espaços e equipamentos de suporte são pensadas para adaptar o tipo e quantidade de

atividades que as pessoas ou agentes sociais desejem realizar. Mais uma vez, percebe-se

a importância da participação de todos para a produção deste tipo de informação. Tais

informações devem subsidiar os planos, programas e projetos urbanos para a criação,

revitalização ou substituição destes espaços e equipamentos.

- Acesso: esta é uma dimensão muito importante na rede técnica ambiental,

porquê diz respeito ao acesso aos benefícios dos serviços ambientais, como também ao

acesso à informação ambiental, que irá garantir, se apropriada adequadamente, a

ampliação e distribuição ao longo do território da oferta de serviços ambientais que

podem contribuir na melhoria da qualidade ambiental e de vida.

- Controle: esta também é uma dimensão importante a ser alcançada dentro da

rede técnica ambiental, porque indicará que não existe um ator social dominante

controlando a informação que sustenta a rede. Quanto mais as pessoas que moram,

usam ou trabalham no entorno ou ao longo da rede e próximo às áreas verdes (fixos -

objetos técnicos), tornarem-se participantes ativos, terão maior poder sobre a informação

que circula e assim maior autonomia em sustentar a rede técnica ambiental. Ao ter

acesso a todos os espaços da rede também amplia-se o grau de percepção e informação

adquirida, para a produção de conhecimento, contextualizada dentro da realidade e

vivência de cada um.

Ao ampliar o acesso e solucionar os entraves para efetivar a apropriação da

informação é possível distribuir de forma igualitária as possibilidades de organização

do espaço que ainda “(...) se constrói a partir de uma vontade distante e estranha, mas que se

impõe à consciência dos que vão praticar essa vontade” (Santos, 1996:100). Para agravar a

situação:

“(...) nenhum desses agentes faz uma análise compreensiva que envolva a estrutura
espacial, com exceção talvez das agências de planejamento locais, que são um dos atores
fracos, deficientes no processo. (...) como conseqüência temos um processo de construção
da cidade complexo e plural, marcado pelo conflito, propósitos cruzados, e barganha, cujos
resultados não são eqüitativos e nem desejados (...)” (Lynch, 1981:41).

A mudança desta realidade, a partir da efetiva apropriação da informação pode

ser construída através da consolidação de uma pedagogia cidadã constituída em uma

séria de atividades geradas a partir da informação, conforme defesa de Maria Aparecida

Adélia de Souza:

“A pedagogia cidadã é uma atividade que envolve um trabalho sistemático com os


movimentos populares, no sentido de oferecer informações confiáveis e organizadas para
as suas reivindicações, bem como ensinar formas de armazenar e utilizar tais
informações. O projeto de descentralização da informação é fundamental para essa
atividade. Tudo isso se constitui no que denominamos memória, ou seja, a capacidade de
reconhecer, através dos tempos, a possibilidade de se posicionar como sujeito de uma
construção social feita através da representação livre e consciente: cidadã” (Souza,
2000:224).

Este posicionamento como sujeito para a construção social, defendido pela

autora, não se dá apenas durante o acesso e apropriação da informação, mas também

pelo desenvolvimento da capacidade do sujeito analisar criticamente o conteúdo

informacional produzido e disponibilizado, para que as pessoas consigam também

solicitar melhores fontes de informação e documentação (Souza, 2000:226) e assim

participar ativamente e de forma consciente na formação de territórios.

Nesse sentido a idéia de compreender para mudar deve orientar a apropriação da

informação. Kevin Lynch afirma que “Mudar cabeças, mudar a sociedade, ou até mesmo não

mudar nada, pode ser a melhor resposta do que mudar o ambiente” (1981: 43). E o acesso à

informação ambiental é o início dessa mudança, como também a participação em sua

produção.

A apropriação da informação diz respeito à capacidade real de tomar


conhecimento sobre um fato ou fenômeno, mas o simples acesso à determinada

informação não garante por si só o conhecimento sobre determinado objeto ou situação.

O que proporciona isso é o ato da comunicação, como bem colocado pelo filósofo John

Dewey: “A ciência supõe que uma coisa seja conhecida quando é descoberta (compreendida), mas

algo somente é conhecido plenamente quando publicado, compartilhado, acessível socialmente.

Registro e comunicação são indispensáveis ao conhecimento” (1956:177 apud Costa et. al,

2002:7). Para este filósofo “(…) o conhecimento é estabelecido somente no próprio ato da

comunicação (…)” (Dewey, 1956:177 apud Costa et. al, 2002:7).

A esse respeito, o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, influenciado por

John Dewey, desenvolveu a Teoria da Ação Comunicativa, na “(...) qual a comunicação é

vista como base para a ação social” (Costa et. al, 2002:7). Eugênio Queiroga nos explica que:

“A ação comunicativa se constitui numa razão que se estabelece entre sujeitos, a partir
da perspectiva do entendimento mútuo. Seu campo de estabelecimento é o mundo vivido.
Por excelência, do cotidiano (...). Trata-se, portanto, de uma razão fundada na
cooperação, estabelecida através da linguagem, num movimento dialético, a partir do
embate entre os argumentos expostos nos discursos. Como resultado, sua verdade é
praticada a partir do agir comunicativo e não advém, por sua própria definição, de
posicionamentos apriorísticos. Como verdade resultante da ação comunicativa,
relativiza-se e realiza-se no mundo vivido, não aputado por dogmas (religiosos ou
laicos). A razão comunicativa, em sua dimensão cotidiana, não exclui, potencialmente,
nenhum ser humano, sejam os interlocutores analfabetos ou letrados. Por outro um
“grande intelectual” que não se dispuser ao diálogo visando a compreensão mútua não
estará praticando uma ação comunicativa; o que não lhe tira o mérito, mas não coloca
seu discurso no plano da razão comunicativa” (Queiroga, 2001:272).

Nesse sentido a informação dentro da rede técnica ambiental somente exercerá

seu potencial de induzir as mudanças sociais e ambientais desejadas, se for divulgada

através de ações comunicativas conforme exposto acima. Aqui cabe um espaço para

mais uma vez justificar a escolha das praças como um dos objetos técnicos da rede

técnica ambiental na medida em que, além de ofertar serviços ambientais também são

lugares de ação comunicativa (Queiroga, 2001).


Assim dois aspectos merecem destaque: a importância do processo educativo

para o estabelecimento da comunicação necessária ao conhecimento e compreensão do

mundo, e dentro desse contexto à adequação da linguagem e do formato do meio

utilizado para a divulgação da informação. Sobre este segundo aspecto é importante

saber:

“(...) a menos que (os resultados de investigação) sejam lidos, não podem afetar de forma
séria o pensamento e a ação de membros do público; restringem-se aos nichos retirados
das bibliotecas, e são estudados e compreendidos somente por poucos intelectuais. (...)
uma apresentação técnica e erudita teria apelo somente aos tecnicamente intelectuais;
não seria notícia para as massas. Dewey também sustentou a idéia de que é somente por
meio da comunicação da ciência ao público que o conhecimento per se é atingido, dado
que os “atos” da descoberta e da construção científica são restritos” (Dewey, 1956: 183
apud costa et. al, 2002:6).

Ainda referente ao acesso da informação ambiental, além da utilização de

metodologias participativas em processos de planejamento ambiental, de projetos de

educação ambiental, da divulgação dos relatórios de impacto ambientais em meios de

comunicação e da divulgação pela mídia de outras informações relativas a atividades

que causam danos ao meio ambiente e a saúde da população, anunciadas em jornais e

revistas locais e de grande circulação, como também em meio televisivo, existem outros

meios de comunicação para a divulgação da informação.

Existem atualmente inúmeros sistemas nacionais e internacionais de informação

especializados na organização e distribuição de dados ambientais. Lucivaldo Barros

(2004) nos dá o exemplo do Sistema Mundial de Informação Ambiental (Infoterra), que

segundo o autor “(...) é uma excelente fonte de informação ambiental, por oferecer, além de

bases de dados, endereços de milhares de organizações e pessoas que possuem informações sobre

meio ambiente”.

Mas apesar de serem importantes para ampliar o acesso à informação ambiental,

esses sistemas são ainda pouco conhecidos, pouco divulgados, e por funcionarem
através da internet, não são muito acessados pela grande maioria dos agentes sociais,

em função do atendimento de outra demanda primordial que é a promoção da inclusão

digital. Nesse sentido e em função do “(...) crescimento quase exponencial das fontes de

informações no mundo e a multiplicação de suportes para obtê-las (...)” faz com que a “(...)

organização e definição de sistemas de informação torna-se um processo cada vez mais urgente e

necessário” (Souza, 2000:225).

Capítulo 5. Análise da oferta de serviços ambientais na bacia urbana do Ribeirão das


Anhumas (Campinas/SP)

“A anhuma tem cerca de 60 cm de altura, 80 cm


de comprimento e 1,7 m de envergadura e pesa
em torno de 3 Kg. A plumagem é da cor Bruno
enegrecida e preta, exceto no ventre, que é branco.
A sua característica mais singular é a presença de
um ´espinho` córneo e curvo de 7 a 12 cm na
cabeça. Possui também dois esporões, um maior e
outro menor, em cada asa. O bico ´pardo escuro
com a ponta esbranquiçada e as pernas grossas e
terminam em grandes dedos”
(Manini e Scaleante, 2006)
Para a análise das possibilidades concretas da estruturação e da constituição de

redes técnicas ambientais no território vivido, e da análise do potencial sustentador e

transformador da informação produzida acerca dos fixos e fluxos de uma rede técnica

ambiental, foi escolhida a Bacia do Ribeirão das Anhumas no município de Campinas -

São Paulo para realizar uma análise empírica de uma rede existente.

Os dados coletados foram utilizados para identificar a configuração da rede

técnica ambiental existente: quais são os fixos (objetos técnicos: áreas verdes), os fluxos

(serviços ambientais ofertados), a informação produzida, e o potencial que estas

informações possuem em ampliar a oferta de serviços ambientais a fim de melhorar a

qualidade ambiental e de vida da população residente na bacia do Ribeirão das

Anhumas44. Esta análise para a constituição e estruturação das redes técnicas ambientais

pode ser utilizada em processos de planejamento e gestão ambiental das áreas verdes

urbanas, utilizando a bacia ambiental como unidade espacial de análise.

5.1 A Bacia do Ribeirão das Anhumas

Esta é a maior bacia do município de Campinas, cortando-o no sentido sul-norte,

possuindo aproximadamente 150 km2, totalmente inserida dentro de seus limites, em

área muito urbanizada, inclusive no centro histórico de fundação da cidade 45. O fato de

a bacia estar inserida em espaço totalmente urbanizado (figura 7), e da existência de

44
A razão da escolha desta área para ser objeto de estudo da pesquisa, é justificada em função de três motivos
principais: ( i ) vínculo institucional ao projeto; ( ii ) seu caráter participativo, na produção da informação ambiental,
principalmente para o mapeamento dos riscos ambientais e para a compreensão da evolução histórica de ocupação
dos fragmentos florestais ainda existentes na bacia, e ( iii ) a disponibilização pública da informação produzida.O
material produzido neste projeto encontra-se em: http://www.iac.sp.gov.br/ProjetoAnhumas/projetos.htm

45
Para a apresentação da área de estudo, o ribeirão das Anhumas, somente foram utilizados os resultados das
pesquisas e dos trabalhos disponíveis na página eletrônica do projeto para mostrar a qualidade e importância das
informações produzidas, e algumas possibilidades pelas quais outros pesquisadores, ou pessoas que se relacionam e
vivem neste espaço, podem se apropriar da informação e assim fortalecer a sustentação da rede através de ações
produzidas a partir destes fluxos. Estudos e análises dentro desta bacia, como fez a equipe do Projeto Anhumas, têm
o potencial de contribuir para a elaboração de estratégias de planejamento e ações de ordenamento do território que
possam induzir aos processos de mudança necessários pela nova apreensão da realidade promovida através de uma
análise crítica da informação produzida.
sérios impactos socioambientais resultantes da lógica de ocupação espacial evidencia a

necessidade emergente de ampliar a integração entre os recursos naturais presentes na

bacia com as dinâmicas sociais que estabelecem relações de uso e apropriação do espaço

das mais diversas, mas que em sua grande maioria acabam agravando a qualidade

ambiental e de vida dentro da área de estudo.

Com relação à dimensão territorial da bacia, é importante explicar que

espacialmente, esta bacia não está localizada apenas no município de Campinas, existe

uma pequena parte da bacia localizada no município de Paulínia (SP), onde o ribeirão

desemboca no rio Atibaia (Futada, 2007) (ver figura 8). E em outra escala, em relação ao

gerenciamento dos recursos hídricos, ela faz parte da Unidade de Gerenciamento 5

(UGRHI), da qual também fazem parte as bacias hidrográficas dos rios Piracicaba,

Capivari e Jundiaí.
Figura 6. Localização da Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas no Estado de São Paulo e
no município de Campinas com as principais rodovias
(http://www.iac.sp.gov.br/projetoanhumas/localiza.htm)
Figura 7. A Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas e o grau de urbanização (cor roxa)
(Gomes, 2005)

Figura 8. Localização da Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas no município de


Campinas.
(http://www.iac.sp.gov.br/projetoanhumas/localiza.htm)
Além disto, esta não é a única bacia hidrográfica inserida no território de

Campinas (ver figura 9), e muitos dos impactos e problemas existentes na área de estudo

estendem seus efeitos a estas outras bacias já que o espaço é um todo dinâmica e

interligado. Em Campinas também existem as bacias do rio Jaguarí (cor verde clara), do

rio Atibaia (cor verde escuro), do rio Capivari (cor mostarda), do rio Capivari-mirim

(cor marrom-escuro) e do ribeirão quilombo (cor amarela).

Figura 9. Bacias hidrográficas do município de Campinas e suas sub-bacias.


(Francisco, 2006:24)

Outros aspectos político-administrativos estão relacionados a divisão do

município de Campinas em 7 macrozonas, das quais três delas estão inseridas na bacia
do Ribeirão das Anhumas e auxiliam na compreensão das dinâmicas de uso e ocupação

da terra, e conseqüentemente das ações prioritárias para a requalificação ambiental da

área em questão. A bacia está localizada predominantemente nas Macrozonas 2, 3 e 4,

todas com característica predominante de alto grau de urbanização: 2 - área com

restrição à urbanização (região predominantemente rural, localizada nas proximidades

da Rodovia Adhemar de Barros - SP340, que liga Campinas a Mogi Mirim) e 3 - área de

urbanização controlada do norte (região do distrito de Barão Geraldo e da Rodovia D.

Pedro I – SP065) e 4 - área de urbanização consolidada (representa 50% da área da bacia

e compreende área de urbanização consolidada - região central da cidade) (Futada,

2007:45-46).

Figura 10. Relevo e sub-bacias do ribeirão das


Anhumas
(ADAMI et al., 2006)
Outra divisão, porém através das sub-bacias da bacia do ribeirão das anhumas

(ver figuras 9 e 10) também permite uma análise para o entendimento de como as

características naturais influenciam diferentes processos de ocupação e organização

espacial, na medida em que constata-se que em cada sub-bacia, apesar de alguns

problemas em comum, o processo de ocupação espacial ocorre de forma, em graus e

com velocidades diferenciadas. Este tipo de análise, comparando as características

naturais com o tipo de uso da terra, também permite a identificação de conflitos de uso,

para o posterior desenvolvimento de instrumentos e políticas que possam minimizar os

impactos gerados.

Dentro desse contexto, análises da qualidade ambiental através de associações

entre características físico-construtivas e físico-naturais podem auxiliar a compreensão

das tendências históricas de expansão da ocupação na bacia, e indicar quais são os

padrões de uso e ocupação da terra que estão gerando impactos socioambientais para a

proposição de medidas mitigadoras e preventivas.

Éderson Costa Briguenti (2006) realizou esse tipo de avaliação na bacia do

ribeirão das Anhumas nos fornecendo um quadro de geoindicadores que mostram

como as transformações no ambiente construído influenciam o estado dos atributos

naturais locais, e como esta alteração prejudica a qualidade ambiental e de vida. Em sua

metodologia, o autor utilizou como base principal as características geomorfológicas da

bacia (geoindicadores de estado: classes de declividade, forma de relevo, solos,

densidade de rios dr/km2) e dados físicos e socioeconômicos (geoindicadores de

pressão: arruamento, densidade de domicílios, densidade demográfica, não

alfabetizados, responsáveis com até 2 salários mínimo, lixo/ destino em aterros, rios). Os
dados foram espacializados e sobrepostos de forma integrada para a criação de

unidades físico-ambientais integradas (ver figura 11) que foram avaliadas em sua

qualidade ambiental (ver tabela 10).

Figura 11. Unidades físico-ambientais integradas da bacia do ribeirão das Anhumas


(BRIGUENTI, 2005:78)
Tabela 10. Geonidicadores e os índices de avaliação ambiental de cada “unidade-físico-
ambiental-integrada” (BRIGUENTI, 2005:98)
No resultado final de sua avaliação, três unidades físico-ambientais se destacaram

e duas tiveram a pior avaliação, avaliação esta que ao autor ressalta para não ser

considerada como um valor rígido que expresse exatamente a qualidade ambiental dos

lugares em as pessoas vivem. Mas sim que sirva de instrumento de análise para

orientação de futuras ações.

Quanto as unidades com maior índice de qualidade ambiental, encontram-se as

unidades C (primeiro lugar - no baixo curso da bacia), B2 (segundo lugar – no médio

curso da bacia) e D (terceiro lugar – no baixo curso da bacia). A unidade C, primeiro

lugar da avaliação, possui indicadores sócio-econômicos acima da média, áreas de

arruamento reduzidas, e sua urbanização é pouco consolidada, o que de um lado é bom,

mas por outra indica o risco da especulação das suas terras, e novas ocupações futuras,

que podem reverter este índice. Nesta área estão localizados o distrito de Barão Geraldo,

o Vale das Garças, o Real Parque entre outros.

A unidade B2 localizada na área do Parque taquaral ficou nesta classificação em

função de bons níveis de escolaridade e renda e também pelas áreas verdes e de lazer

significativas que esta unidade possui.

Já a unidade D, terceiro índice de qualidade ambiental, possui baixa densidade

demográfica, bons índices socioeconômicos, apenas 5% de sua área com arruamento na

medida em que possui algumas fazendas, residência rurais e bairros periféricos em fase

de urbanização. Quanto ao pior índice da bacia, a unidade E2 (muito semelhante à E1

localizada no Jardim Proença, Guarani e Cambuí, alto grau de impermeabilização,

córregos revestidos e canalizados, inundações) esta possui as piores condições

ambientais da bacia. A degradação ambiental dessa área se dá principalmente por causa

de um processo de ocupação nas margens do ribeirão das Anhumas que teve início dos
anos 70 e continua até hoje, sobrecarregando a capacidade de autodepuração da curso d

´água, em razão do lixo e esgoto, entre outros resíduos lançados sem tratamento e de

forma indiscriminada dentro do rio, gerando também outros problemas associados a

erosão das margens e inundações muito freqüentes na área.

Como resultado da análise deste trabalho podemos perceber que o índice de

qualidade ambiental é pior nas áreas onde relações de desrespeito aos processos

ecológicos e dinâmicas naturais ocorrem, como com a ocupação das margens e

impermeabilização excessiva do solo, restringindo a capacidade de drenagem do solo e

recarga e lençóis freáticos e aqüíferos. Nas áreas de pior índice também encontram as

populações com menor escolaridade e renda, mas não se pode estabelecer uma relação

direta entre baixa renda e degradação ambiental, como se este perfil populacional não

respeitasse a natureza. Eles estão lá por outros fatores de ordem social e econômica, e

não por simples ato de desrespeito ou desconhecimento das “Leis da natureza”. Mais

uma vez, e principalmente neste caso, outros saberes além do ambiental, devem ser

acionados de forma integrada para reverter a situação não apenas de forma curativa,

mas na raiz do problema, porque se não esta lógica de organização territorial,

continuará a ocorrer paralela à leis e normas de usos e ocupação do solo, que parecem

ter sido feitas para outros lugares e mesmo assim parecem não funcionar.

A importância deste trabalho, além da avaliação da qualidade ambiental da bacia

que pode orientar uma séria de ações estratégicas, reside em seu potencial de servir

como um instrumento para a compreensão de que a qualidade ambiental de um lugar

não é condicionante apenas de perdas e destruição dos recursos naturais e dos processos

ecológicos. Esse trabalho nos permite perceber que por trás da degradação ambiental

existe uma série de ações interligadas que modificam radicalmente a composição do

solo, as características da paisagem, porque fazem parte de uma lógica de ocupação e

organização espacial que não tem como diretriz o equilibro e integração entre recursos

naturais e ambiente construído, muito menos em integrar homem e natureza em suas


relações cotidianas. Como conclusão desta análise concluímos que a problemática

ambiental urbana não envolve só as questões e os saberes ambientais na solução dos

problemas, mais sim uma séria de outras questões e saberes que precisam ser integrados

para a compreensão da complexidade do espaço urbano.

Éderson Briguenti (2005) nos conta que a dinâmica de ocupação na bacia do

ribeirão das Anhumas gerou ao longo dos anos diversos tipos de impactos ambientais e

sociais que, de forma cumulativa, vem degradando a qualidade ambiental e de vida

nesta área do município, principalmente pela ocupação indiscriminada e aumento dos

usos urbanos nas margens dos rios, com a retirada da cobertura florestal e de vegetação,

como também pelo lançamento de resíduos e efluentes domésticos e industriais nas

águas da bacia.

Na área em questão, o rápido e intenso processo de urbanização ocorrido no

município de Campinas, atrelado a ausência de um efetivo controle ambiental e

urbanístico, gerou sérios impactos e conseqüências ambientais, que segundo Davanzo

(1992 apud Serra, 2002: 41) podem ser classificados em três categorias: (i) ampliação das

carências sociais; (ii) estrangulamento na provisão de infra-estrutura com ênfase para os

setores de saneamento, habitação e transporte coletivo e (iii) deterioração ambiental e

dos recursos naturais, sobretudo dos recursos hídricos.

Sobre a dinâmica de ocupação que causou estes problemas, Silvia Futada (2007)

nos explica que no período colonial era prática comum as ocupações e explorações

serem feitas margeando os rios, o que justifica o crescimento das cidades, e a formação

de seus centros históricos próximos aos rios. E no caso da bacia em questão, também

explica o porquê muitas nascentes se encontram em áreas altamente urbanizadas

(Futada, 2007).

Mas enquanto na época colonial esta era uma dinâmica formadora de territórios,

hoje ela representa a desterritorialização dos mesmos. O território perdeu suas

características naturais junto com a sua história que foi canalizada e enterrada com seus
córregos e nascentes. Na bacia do ribeirão das Anhumas, principalmente no alto curso,

as nascentes e córregos encontram-se aterrados ou canalizados, desrespeitando também

as restrições de uso das áreas de preservação permanente (APPs) – faixas ao redor das

nascentes e que margeiam os cursos d´água protegidas por lei. Quanto as matas ciliares

das APPs, elas estão em sua maioria degradadas e muitas vezes destruídas, ou retiradas

para fins de projetos de canalização, restando poucas áreas com remanescentes da

vegetação nativa (ver figura 13). Nas APPs da bacia é crescente o uso urbano (ver figura

13) e os impactos ambientais sofridos nestes espaços, prejudicando a regulação de seus

processos ecológicos e afetando não só o local da intervenção, mas também outros

lugares ao longo de sua extensão. Porém, esta é uma realidade recorrente em outros

locais do município e não apenas desta bacia.

A importância mais reconhecida de se ter áreas de preservação permanente está

ligada à função ambiental das APPs que engloba: a preservação dos recursos hídricos,

da paisagem, da estabilidade geológica, da biodiversidade, do fluxo gênico de fauna e

flora, para a proteção do solo e para a promoção do bem estar das populações humanas

(Brandão e Lima, 2002:46). As garantias legais de proteção das áreas de preservação

permanente não se encontram prontas e acabadas no ordenamento jurídico pátrio. A

previsão legal das áreas de preservação permanente está prevista no artigo 2 o do Código

Florestal (Lei nº 4.771/65 e suas alterações), o qual foi regulamentado pelas Resoluções

CONAMA nº 302 e 30346, de 20 de março de 2002 e a pela recente Resolução

CONAMA 369, de 28 de março de 2006.

A manutenção das APPs urbanas tem sido objeto de conflito desde a revisão em

1986 do Código Florestal (LF 4771/6547). Agravando os conflitos, a lei sobre


46
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 302, DE 20 DE MARÇO DE 2002- Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de
Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. RESOLUÇÃO CONAMA
Nº 303, DE 20 DE MARÇO DE 2002: Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação
Permanente. RESOLUÇÃO CONAMA Nº 369, DE 28 DE MARÇO DE 2006: dispõe sobre os casos excepcionais, de
utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de
vegetação em Área de Preservação Permanente-APP.
47
última modificação em 2001: MPV 2.166-67, de 24/08/2001
parcelamento do solo urbano - Lei Lehman (LF 6.766/79 48) - determina que os

loteamentos devem reservar (sem edificações) uma faixa de 15 metros de cada lado ao

longo de cursos d’água, rodovias, ferrovias e dutos, enquanto o Código Florestal reforça

a medida de 30 metros ao longo dos corpos d’água urbanos 49. Suely Araújo (2002)

sugere que sejam flexibilizados os usos das APPs urbanas, no caso de implantação de

infra-estrutura para dar suporte a atividades de lazer e recreação desde que seja

garantida a preservação da cobertura vegetal para o cumprimento da função ambiental

das APPs , perspectiva esta que de certa forma assemelha-se com a Resolução

CONAMA 369.

Muitas vezes os conflitos são conseqüências também de ações de planejamento e

urbanismo realizadas antes da elaboração do Código Florestal e das Resoluções

Conama, quando a função das áreas nas margens dos rios e dos próprios cursos d´água

atendiam outros objetivos.

Podemos citar o exemplo da edição da Lei Municipal nº 1786, de 13 de julho de

1957, do município de Campinas, que, segundo Servilha (2003:44):

“traz um grave comprometimento à preservação das matas ciliares ao exigir, dos


interessados na abertura de novos arruamentos e loteamentos, a canalização dos cursos
d’água e deixa transparecer conflitos jurídicos de domínio das áreas verdes, entre outras
(...)” (Servilha, 2003:44).

48
modificada pela LF 9785/99
49
Segundo SERVILHA (2003:2) as metragens mínimas estabelecidas pelo Código Florestal “(...) eram de 5 metros, para
cursos d’água com até 10 metros de largura; metade do curso d’água para curso de 10 a 200 metros de largura; e de 100 metros
para os cursos com largura superior a 200 metros (inciso 1, letra a, Art. 2º). Essas metragens sofreram alterações pelas Leis
Federais 7.511/ 86, 7.803/89, Medidas Provisórias nº 001956, de 26/05/2000, reeditadas sete vezes, 002080, de27/12/2000
reeditada seis vezes e 002166, reeditada até a presente data”. A Lei Lehman (Lei Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de
1979) estabelece como norma 15 metros de “(...) faixa non aedificandi ao longo das águas correntes e dormentes (Art. 4º,
III)”, já o Código Florestal “(...) propõe faixas diferenciadas a partir da largura da calha dos corpos d’água nunca menores que
30 metros” (SERVILHA, 2003:2).
Nesta época não havia a preocupação em se preservação às margens dos rios, que

poderiam sofrer ações de acordo com interesses específicos, não necessariamente de

utilidade pública ou de interesse social.

Estes ecossistemas, as APPs, ao mesmo tempo em que são um dos principais

afetados pelos impactos ambientais da urbanização podem se tornar também o ponto de

partida para a melhoria ou manutenção da qualidade ambiental urbana. Isso porque em

função da sua característica de linearidade e por possuírem recursos naturais com

reconhecidas qualidades especiais, podem ser incorporados em redes técnicas

ambientais eficientes na integração de recursos naturais e dinâmicas sociais. Estas áreas

podem ser o ponto de partida para o desenvolvimento de projetos que visem aumentar

ou manter a sustentação de uma rede técnica ambiental através de projetos de como os

corredores ecológicos e parques lineares.

O fato é que o processo que antes induzia o início da formação de um lugar, a

partir de ocupações próximas aos rios, hoje é o início de uma cadeia em ação de

problemas ambientais quando as margens dos cursos d´água são ocupadas. Hoje nas

APPs presenciamos a crescente alteração de seu uso para urbano, principalmente com as

ocupações ilegais nas margens (ver figura 13). A degradação dos recursos naturais tanto

na região da bacia do ribeirão das Anhumas, como nas demais áreas de Campinas está

intimamente relacionada com o processo de expansão urbana ocorrido na cidade.


Figura 13. Uso e ocupação nas áreas de APPs
(http://www.iac.sp.gov.br/projetoanhumas/mapas/r_app_usos.jpg)

Hoje, outra ação que também desencadeia efeitos socioambientais negativos é a

ocupação de vazios urbanos, principalmente a conversão de alguns espaços vazios,

algumas vezes com vegetação remanescente, em loteamentos residenciais, alterando

drasticamente a configuração espacial.

A equipe de pesquisadores do projeto Anhumas que trabalhou na pesquisa “Solos

antropogênicos da bacia do ribeirão das Anhumas: caracterização, legenda e implicações

ambientais” ao procurar entender a dinâmica de transformação destes solos, também

tiveram que compreender a dinâmica de ocupação relacionada aos vazios urbana,

transformadora da paisagem, mesmo que os efeitos sejam sentidos indiretamente e a

longo prazo.

De acordo com o relatório apresentado por esta equipe de pesquisadores:

“Esses vazios são novas frentes de crescimento da urbanização na área rural do


município, que encontram na Secretaria de Planejamento do município o aval oficial para
tal empreendimento através da lei 8.853/96. (...). Essas novas áreas rurais, somadas às
glebas não parceladas preexistentes e aos lotes vagos da cidade totalizam uma importante
extensão em área para avanço e adensamento da mancha urbana de Campinas e,
conseqüentemente, para aumento dos graus de impermeabilização do solo na bacia do
ribeirão das Anhumas” (Gomes et al., 2006:6).
Um reflexo evidente desse crescimento desordenado é o aumento do perímetro

urbano de Campinas que já foi alterado 18 vezes em 40 anos (Bernardo, 2002 apud Rossi

e Costa, 2005:10).

Quanto às conseqüências deste tipo de ação, elas são inúmeras, na medida em

que a instalação de serviços de infra-estrutura e a promoção de usos do solo diferentes

da aptidão e potencialidade do lugar, o que é feito quando estes vazios são ocupados,

alteram a dinâmica dos processos ecológicos, comprometendo a qualidade da água, do

ar, o conforto térmico, aumentando os riscos ambientais e prejudicando a qualidade de

vida da população local.

Ainda sobre a expansão da mancha urbana de Campinas, temos como fatores

condicionantes em um primeiro momento o processo de industrialização da região,

depois o crescimento da cidade em função da infra-estrutura implantada, a implantação

do aeroporto de Viracopos, da ferrovia e das rodovias ligando Campinas com a região e

com a capital, que foram também atrativos para indústria e o crescimento da mancha

urbana. Outros aparelhos de infra-estrutura urbana instalados na periferia da cidade

também contribuíram para um crescimento desordenado e desconectado com a mancha

original (Gomes et al., 2006:6). A instalação de infra-estruturas contribui para a

valorização de áreas desocupadas, criando espaço para especulação imobiliária. Hoje a

pressão é causada pelos proprietários rurais interessados em lotear suas terras para o

uso urbano. Na região em estudo, estas terras estão localizadas ao norte da cidade e da

bacia (Gomes et al.,2006).

Mas estes problemas não estão relacionados apenas à ocupação dos vazios

urbanos, pois nas planícies fluviais e nas várzeas naturais do ribeirão, como já foi

explicado, ocorre a mesma dinâmica de ocupação e supressão dos espaços naturais, seja

pela falta de fiscalização, seja pela ineficácia dos instrumentos urbanísticos e/ou pela

falta de articulação entre as políticas setoriais. O que vemos nestas áreas é uma dinâmica

de ocupação por uma população de baixa renda que não vê estas áreas como uma opção
de compra, ou idealização de um lugar de moradia. A opção é de vida, porque os efeitos

negativos deste tipo de ocupação são sentidos diretamente pela própria população,

principalmente nos períodos chuvosos com as inundações que acarretam perdas

materiais e riscos à saúde.

Essas inundações são conseqüência da ocupação irregular nas margens dos rios e

córregos, que retiram a cobertura florestal e de vegetação, assoreando e poluindo os

mananciais. Todas estas alterações no sistema ecológico dos rios provoca uma mudança

no regime de vazão dos cursos d´água promovendo enchentes sistemáticas, cujos

prejuízos, como foi dito acima, não são apenas os ambientais, mais humanos também

(Francisco, 2006).

Tanto nesta área de estudo, como em outros lugares, cidades ou regiões

brasileiras, a história não nos mostra a elaboração e execução de projetos e ações

diferenciadas que valorizem as margens dos rios enquanto um espaço público, que pode

ser utilizado pelo homem, integrando natureza e sociedade de forma equilibrada. A

execução de tais projetos poderia contribuir também para evitar ou diminuir as

possibilidades de ocupação ilegal nestas áreas pelos usos que seriam promovidos.

Mas ao invés disso, a grande maioria das ações desenvolvidas nas margens dos

rios, são segundo Sonia Afonso (2000:05), as seguintes:

“(...) os corpos d'água têm sido transformados em avenidas e construções, sem nenhum
aproveitamento paisagístico do vale e do rio. Atualmente estas linhas de drenagem estão
sendo taponadas, aterradas, ou simplesmente servem para a disposição de dejetos líquidos
e sólidos, contra qualquer recomendação paisagística e ambiental. O ideal seria que estas
faixas de preservação integrassem um sistema de parques, sendo estas áreas arborizadas
para que se efetivasse sua proteção contra as inundações. Os esgotos, separados das águas
fluvio e pluviais, deveriam ser coletados e tratados para aproveitamento na lavação de
ruas e rega de jardins” (Afonso, 2000:05).
Ainda não vemos estas ações na bacia, continuando com a canalização dos

córregos (ver figuras 14 e 15), com projetos muitas vezes mal executados contribuindo

para o desmoronamento das margens e o desencadeamento de outros impactos ao longo

da bacia (ver figuras 15 e 16). A não valorização e tratamento adequado as margens dos

rios acumulam os problemas relacionados a erosão e o aumento do risco de inundações

(ver figura 16) nas áreas próximas aos cursos d´água, conseqüência também do alto grau

de impermeabilização das áreas adjacentes, quando não são utilizadas para aterros de

lixo doméstico e/ou de construção civil.

Figura 14. Av. princesa D´Oeste com av. Moraes Figura 15. Desmoronamento da margem
Sales: córrego Proença revestido e canalizado impermeabilizada do córrego Orozimbo Maia
(BRIGUENTI, 2005:38) (enchente de 17/02/2003) (BRIGUENTI, 2005:38)

Figura 16. Confluência do córrego Proença com o Figura 17. Ribeirão Anhumas: aterro e ocupação ao
córrego da Av. Orozimbo Maia, no início do ribeirão longo da rua Luiza de Gusmão (BRIGUENTI,
das Anhumas: assoreamento, degradação e risco de 2005:38)
inundações (BRIGUENTI, 2005:38)
Os habitantes do entorno do Ribeirão Anhumas, além dos problemas relativos à

qualidade da água e da degradação da vegetação nativa, enfrentam sérios problemas de

saneamento básico. Roseli Torres (2004:4) relata que na área urbana na qual esta inserida

a bacia do ribeirão além do problema referente à ocupação ilegal nas áreas de várzeas

(conforme mostra o mapa XX), existem outros relativos ao “(...) despejo de esgoto sem

tratamento nos corpos d’água, inúmeras fontes de poluição, depósitos clandestinos de entulho e

muito lixo”, jogados pelos próprios moradores do entorno do Ribeirão.

Por estar quase que completamente inserido em áreas urbanas, com a existência

de ocupações ilegais nas margens dos córregos da bacia, o ribeirão das Anhumas é um

dos rios mais poluídos do país, segundo Sevá Filho (2001 apud Futada, 2007: 46). Isso

porque ao atravessar quase toda a área urbana da cidade, além de sofrer a retirada de

mata ciliar, erosão das margens dos rios, o ribeirão das Anhumas recebe “(...) quase

metade do esgoto da cidade (o equivalente a mais de 400.000 habitantes), além das descargas de

algumas indústrias e serviços com grande volume de águas pluviais e esgotos, como shoppings,

grandes lojas, clubes, estacionamentos, garagens e oficinas” (Futada, 2007).

Sobre a qualidade ambiental dos cursos d´água integrantes da bacia, a equipe que

participou do trabalho “Caracterização sócio-econômica da população da bacia do

ribeirão das Anhumas” dentro do projeto Anhumas (COSTA et al, 2006), nos apresenta

um cenário crítico argumentando que os rios:

“(...) ao nascerem dentro do perímetro urbano, já nascem mortos, recebendo todo tipo de
dejeto urbano, sofrendo ação de assoreamento devido às más condições ciliares, além de
poluição proveniente de partículas atmosférica e entulhos. Assim, aliando-se à grande
concentração urbana, a alta impermeabilização do solo, o regime pluvial de períodos
curtos de grande contingência de água, favorecendo inundações, temos ainda a alta
concentração de poluição dos corpos hídricos, que ao atravessarem suas margens durante
as enchentes espalham o esgoto urbano despejado nele, se tornando foco de doenças e
inutilizando bens materiais devido a grande quantidade de impurezas presentes na água”
(COSTA et al. , 2006).

Outro problema ambiental muito grave na bacia, também resultado da lógica de

ocupação, é a formação de uma paisagem cada vez mais fragmentada e desconectada, o

que para a dinâmica dos processos ecológicos é uma condição extremamente prejudicial.

Quanto mais conectadas espacialmente forem as áreas verdes, maior será a chance de

regularem seus processos ecológicos e assim formar um ambiente adequado à vida,

incluindo homem e natureza.

A compartimentação do território em zonas, e a ocupação crescente dos vazios

urbanos e das margens de rios e córregos, degradando, ou até destruindo

completamente, e de forma crescente as áreas verdes reduz a área dos fragmentos de

vegetação existentes na bacia (ver figura 13). Silvia Futada nos fala a respeito da situação

dos fragmentos de vegetação na bacia do ribeirão das Anhumas:

“Os poucos fragmentos de habitat original que restaram encontram-se reorganizados


espacialmente em manchas pequenas, que variam de 0,46ha a 234ha e apresentam
considerável grau de isolamento entre si. Os fragmentos pequenos são a maioria absoluta
na bacia, sendo que apenas seis dos 34 fragmentos possuem área maior do que 10ha”
(Futada, 2007:195-196).

O trabalho desenvolvido por Silvia Futada (2007) é de extrema importância para

proposições de ações estratégicas e emergenciais para a preservação destes fragmentos,

alguns deles inclusive já foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio

Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc), em função de sua importância ecológica.

Silvia Futada propõe duas ações estratégicas para aumentar a conectividade e a

conservação destes fragmentos:


a) para os fragmentos situados ao norte da bacia, de características não

exclusivamente urbanas: restauração ecológica, através de plantios de árvores nativas,

ampliando a área e adensando os fragmentos e a criação de zonas de amortecimento nos

fragmentos, com o planejamento do plantio. A autora sugere ainda no entorno de

alguns fragmentos serem estimuladas áreas agrícolas orgânicas, como zona de

amortecimento a fim de diminuir o impacto sobre os mesmos. No caso dos condomínios

ela sugere que no entorno dos fragmentos seja planejada uma área de lazer integrada ao

sistema de áreas verdes do condomínio. Mas para outros fragmentos totalmente

inseridos em áreas urbanas, sem espaço disponível no entorno para as zonas de

amortecimento, outras medidas devem ser pensadas (Futada, 2007:196).

b) promover a conectividade da paisagem considerando as diferentes realidades

entre as áreas rurais e urbanas, através da criação de corredores ecológicos que

promovam maior mobilidade e dispersão dos organismos na paisagem. No sentido de

aumentar a conectividade destes fragmentos deve-se estar atento para algumas medidas

que aprecem de proteção, como é o caso da instalação de muros e alambrados, que ao

invés de ajudar, diminuem a mobilidade de animais de porte médio e grande, que

podem também atuar como dispersores (Futada, 2007:197). Este tipo de corredor difere-

se dos corredores verdes previstos nos Planos Diretores porque os últimos tem objetivos

mais locais, como aumentar a arborização urbana, aumentando o índice de cobertura

vegetal do município, e com esta ação resolver pequenos problemas locais como a

melhoria da qualidade do ar e melhoria do conforto térmico. Em alguns casos aumenta-

se também a permeabilidade do solo, que se soma à diminuição da poluição sonora e ao

embelezamento paisagístico, e ainda, dependendo do local onde os corredores são

implantados pode-se inclusive promover a recuperação de áreas de preservação

permanentes. As principais diferenças entre os corredores ecológicos e verdes é que os

primeiros têm o potencial de promover a conectividade de fragmentos de vegetação em

escala regional e não apenas local, e por isso podem contribuir para a dispersão de
diversos tipos de espécies, diferentemente dos verdes que possibilitam principalmente a

dispersão de aves e insetos polinizadores.

Aqui vemos a complexidade da problemática ambiental urbana, porque as ações

de colocar muro e outros isolamentos, na verdade também tem outros objetivos, como

proteger a propriedade privada e dar maior segurança aos usuários de áreas verdes

públicas, na mediada em que dificulta a ocorrência de crimes e também a presença de

usuários de drogas, queixa muito freqüente dos administradores e funcionários destas

áreas à autora. Mais uma vez, só os saberes ambientais não conseguirão sozinhos

resolver situações como esta.

Além da perda da biodiversidade local, a existência destes pequenos fragmentos

também traz outro prejuízo relacionado ao aumento da dificuldade para a gestão

ambiental destas áreas. Isso porque se cada fragmento encontra-se em uma área

diferente, com usos diferentes ou de lazer, ou de proteção e conservação ou para fins de

especulação, dentro de espaços ora público, ora privado, e que recebem interferências

diferenciadas da população do entorno, todos esses fatores dificultam o estabelecimento

de ações para a recuperação e/ou preservação destas áreas. Assim, na medida em que

envolvem relações diferenciadas de uso, acabam exigindo das equipes técnicas uma

visão global, integrada com outros setores, e estratégica para solucionar os problemas

resultantes desta fragmentação (Futada, 2007:195-196).


Figura 18. Redução da área dos fragmentos de vegetação na bacia do ribeirão das Anhumas nos
anos de 1962, 1972 e 2005.
(ADAMI et al., 2006)
O modo como a autora analisou os fragmentos contando a história de sua criação

explica, em parte, as dificuldades atuais de preservação destes espaços e as

conseqüências hoje das diferentes ações e tratamentos que foram realizados nas áreas

verdes do município ao longo dos anos.

Apesar da população em alguns momentos da história de Campinas, evidenciar a

preocupação e sensibilização sobre as questões ambientais, é preocupante a ação do

poder público em suas ações de fiscalização ambiental, e também a falta de

disponibilidade e vontade de trabalhar de forma conjunto e articulada dos proprietários

de alguns espaços privados onde estão localizados estes fragmentos (Futada, 2007:193).

Um exemplo de dificuldade que surge a partir desta situação foi relatado por Silvia

Futada (2007) em sua pesquisa sobre os fragmentos de vegetação da bacia do ribeirão

das Anhumas.

De acordo com a autora:

“Em alguns casos, a visitação dos fragmentos com acompanhamento de proprietário ou


responsável por cada uma das áreas, fez-se impossível, dada a dificuldade de interlocução
com os mesmos. Alguns se negaram a manter um canal de comunicação, enquanto outros,
apesar de inicialmente aceitarem o contato, depois não fizeram dele algo efetivo. Muitos
dos responsáveis pelas áreas particulares reagem desconfiadamente e não são amigáveis
quando abordados a respeito dos fragmentos e de suas condições de preservação por
temerem se comprometer com algum tipo de fiscalização, sendo comum perguntarem a
respeito da possível associação das visitas e das perguntas com órgãos da Prefeitura, o
DEPRN, ou mesmo o IBAMA” (Futada, 2007: 52).
Em contrapartida a autora ressalta a importância do trabalho de organizações não

governamentais (ONGs), destacando o trabalho da PROESP 50 (Associação Protetora da

Diversidade das Espécies), que atua em diversos fóruns deliberativos como o Conselho

do Patrimônio Cultural e Artístico de Campinas (CONDEPACC), o Conselho de Meio

Ambiente de Campinas (CONDEMA) e no Conselho da Fundação José Pedro de

Oliveira e assembléias municipais, sendo esta a mais antiga organização que participa

nas discussões e proposições de ações ambientais (FUTADA, 2007:194).

50
“A PROESP é uma organização não governamental, institucional e legalmente constituída como uma associação civil, fundada
em abril de 1977, que tem por objetivos a preservação da flora e da fauna, através de incentivos à criação e defesa de reservas
naturais, da ampliação de áreas de preservação e recuperação das matas ciliares e do combate à caça e aprisionamento das espécies
silvestres” (www.proesp.org.br) (FUTADA, 2007:194).
Figura 19. Localização dos fragmentos atuais da bacia do ribeirão das Anhumas
(BRIGUENTI, 2005:98)

Por fim é importante destacar que não são apenas com os problemas ambientais

que a população residente na bacia do ribeirão das Anhumas sofre no seu dia a dia.

Além destes, a população desta região é carente de habitação adequada, de espaços de

lazer e conseqüentemente de qualidade de vida.

O conhecimento dessa realidade, complexa, com vários fatores interligados e

interdependentes é o primeiro passo para o desenvolvimento de políticas, planos e

ações que possam resolver estes problemas. Para auxiliar a nossa compreensão da

realidade socioambiental da bacia, temos toda a disposição toda a informação

produzida pela equipe do projeto Anhumas: trabalhos relacionados aos solos

antropogênicos que foram transformados em sua estrutura pela ação humana, a relação

dos solos com a vegetação existente; os fragmentos de vegetação na bacia; as áreas de

preservação permanentes prioritárias para recuperação; os riscos e problemas da alto

grau de impermeabilização encontrado na bacia, o mapeamento de todos os riscos

ambientais (ar, água, vegetação e animais, resíduos sólidos e contaminação, fatores de

vulnerabilidade social, solos); o perfil socioeconômico e a avaliação da qualidade

ambiental da bacia pelo cruzamento de dados geomorfológicos e outros dados do

ambiente construído. O interessante dos trabalhos é que em todos eles é presente e

evidente a tentativa de melhor entender os efeitos das relações entre homem-natureza

não só na qualidade ambiental como também na de vida da população residente no

ribeirão das Anhumas, ou que se relaciona de outra forma com os ecossistemas da

região.

Esse quadro geral, da dinâmica de ocupação e degradação da qualidade

ambiental e de vida na região da bacia do ribeirão das Anhumas foi apresentado para
reforçar a importância da estruturação e fortalecimento da rede técnica ambiental já

existente, na medida em que já existem os fixos (as áreas verdes compostas por

fragmentos de vegetação e áreas de preservação permanentes 51) e os fluxos (serviços

ambientais cuja oferta está prejudicada) mas em contrapartida para essa área existe

muita informação produzida de forma participativa entre técnicos e comunidade

envolvida no projeto Anhumas que pode auxiliar no fortalecimento desta rede.

A partir da identificação da rede técnica ambiental da bacia o próximo passo seria

o desenvolvimento de projetos, com a utilização dos instrumentos de desenho

(corredores ecológicos, parques lineares, infra-estrutura verde, entre outros) para

ampliar e fortalecer a sustentação da rede existente.

Para isso se é necessário também a criação de mecanismos e estratégias que

ampliem o grau de apropriação da informação produzida, tanto pelo poder públicos

como pelos moradores da bacia, a fim de ampliar também o poder efetivo das pessoas

em participarem de forma consciente na organização espacial de seus territórios.

Por último vale destacar mais uma vez a importância do trabalho realizado pela

equipe do projeto Anhumas, materializado em relatórios, dissertações e teses, com

mapas de ótima qualidade gerados. Os resultados permitem uma análise integrada das

51
No caso da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas serão considerados como fixos apenas os
fragmentos de vegetação nativa e as áreas de preservação permanentes inseridas neles, na medida em que não foram
produzidas informações pela equipe do projeto Anhumas sobre praças e outras áreas verdes que podem ser também
classificadas como fixos de uma rede técnica ambiental, na medida em que também ofertam serviços ambientais.
relações sociais nas dinâmicas de ocupação espacial, para além dos limites geográficos,

de encontro com o método da bacia ambiental defendido na tese.

Toda essa informação, que nos fornece o estado atual dos atributos naturais da

região e os fatores de pressão que atuam sobre eles, torna-se uma importante ferramenta

para a transformação ambiental e social necessária para a área em questão auxiliando

processos de tomada de decisão.

Só através desta apreensão de mundo em sua totalidade, e posterior incorporação

desse novo entendimento nas ações individuais e governamentais, estaremos no

caminho de não mais repetir a lógica de planejamento e ordenamento territorial que

insiste em manter as idéias fora do lugar, como nos alertou Ermínia Maricato (2000).

5.2 A Rede Técnica Ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas

É necessária a identificação de todos os fixos, análise dos fluxos e seleção dos da

informação existente sobre eles para que seja possível analisar as relações de uso

predominantes, em função da dinâmica de ocupação espacial, e os efeitos desta na oferta

dos serviços ambientais refletidas no grau de preservação e conservação das áreas

verdes52.

Após esta análise sugere-se estabelecer ações estratégicas de desenho urbano

através de alguns instrumentos, para fortalecer e sustentar a rede com a solução dos

problemas diagnosticados pela conectividade ecológica e social que pode ser

promovida. Dessa forma a informação exerce seu papel transformador na medida em

que orienta ações para a mudança desejada e necessária para melhoria da qualidade

52
Para a análise da rede da área em estudo, foi utilizada exclusivamente a informação produzida pela equipe do
projeto Anhumas, mesmo reconhecendo a existência de outros fluxos de informação sobre esta região, como o Plano
Diretor municipal, os Planos e Bacia e outros trabalhos desenvolvidos pelo Comitê PCJ (dos rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí) entre outros. A escolha é justificada pelo vínculo ao projeto temático como foi explicado no início do
capítulo 5.
ambiental e de vida. Na figura 20 é possível ver as etapas metodológicas propostas para

a análise e estruturação de redes técnicas ambientais.

A partir do trabalho de Silvia Futada sobre o fragmentos da vegetação nativa da

bacia (2007) foram identificados e classificados os fixos. Apesar de existirem outras áreas

verdes integrantes de uma rede técnica ambiental, como as praças, os jardins públicos e

privados, as calçadas arborizadas, as hortas comunitárias, dentre outras, só os

fragmentos de vegetação foram considerados como os fixos desta rede 53. Isso se deve ao

fato de que, dentre todo o material produzido neste projeto, apenas os fragmentos foram

analisados em sua totalidade na bacia, o que facilita uma análise integrada com a oferta

dos fluxos.

53
Os fixos poderiam ser classificados também a partir das áreas de preservação permanentes, mas apesar do trabalho
desenvolvido por Carlos Eduardo da Silva Francisco (2006) sobre a prioridade de recuperação de APPs, este teve
como objeto de estudo apenas uma sub-bacia do Anhumas (São Quirino), o que restringiria nossa análise. Na medida
que outras pesquisas forem realizadas, e quando estiverem disponíveis novas informações sobre outras áreas verdes
tanto da bacia, quanto do município, outras análises poderão ser feitas de modo a estruturar uma rede técnica
ambiental completa e integrada com os diversos fixos da região de estudo .
A. IDENTIFICAÇÃO DOS FIXOS
Seleção de todas as áreas verdes, protegidas ou não

a1. Classificação dos fixos


Classificação de todos os fixos – localização

a2 Caracterização dos fixos


- elaboração de ficha com a descrição dos aspectos relevantes da dinâmica de ocupação e estado atual da qualidade ambiental
das áreas verdes

B. IDENTIFICAÇÃO DA INFORMAÇÃO PRODUZIDA


Seleção de toda informação produzida sobre os fixos e sobre a área na qual estão inseridos

b1 Classificação da informação
Classificação de toda a informação produzida sobre a área em questão – título - tema/conteúdo – autores – data – produção
técnica ou participativa

b2 Caracterização da informação
Elaboração de ficha da informação com tema e conteúdo, forma de produção técnica ou participativa, produção de mapas e
visualização de trabalhos e/ou atividades desenvolvidas

c1 Análise da Informação produzida


- compreensão das conseqüências das relações de uso e ocupação do solo na oferta de serviços ambientais e na preservação e
conservação das áreas verdes
- identificação e seleção de informações que podem subsidiar a elaboração de propostas de melhoria
UNIDADE ESPACIAL DE ANÁLISE: bacia ambiental

C. ANÁLISE DOS FLUXOS


Analisar a oferta de serviços ambientais nos fixos da rede

c2 Análise da oferta de serviços ambientais e da qualidade ambiental dos fixos


- identificação da oferta de serviços ambientais nas áreas verdes classificadas
- identificação dos fatores que prejudicam a oferta de serviços ambientais em cada fixo

c3 Análise do potencial de utilização da informação


- análise da informação para identificar aquelas que podem auxiliar a proposição de ações e estratégias para reverter a
situação diagnosticada

D. FORTALECIMENTO DA REDE TÉCNICA AMBIENTAL

d1 Sustentação da rede
- Identificação de áreas prioritárias para intervenções que ampliem a oferta de serviços ambientais e aumentem o grau de
preservação ambiental
- Seleção de instrumentos de desenho ambiental para promover as mudanças desejadas
- utilização dos instrumentos de desenho ambiental para promoção de novos arranjos espaciais que promovam a
conectividade ecológica e social através da rede técnica ambiental

d2 Atualização contínua da informação


-desenvolvimento contínuo de pesquisas sobre a qualidade ambiental e de vida na bacia
- promoção do acesso e da apropriação da informação produzida por agentes públicos e pela população para continuidade da
organização espacial do território, de modo participativo e equilibrado

MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL E DE VIDA


Figura 20. Estratégia metodológica para estruturação de uma rede técnica ambiental

5.2.1 FIXOS – as áreas verdes da rede técnica ambiental da bacia do Ribeirão das
Anhumas

Seguindo as etapas propostas na metodologia de estruturação das redes técnicas

ambientais (ver quadro 6), será apresentada a identificação de todos os fixos compostos

por fragmentos de vegetação nativa, sua classificação e caracterização através de fichas

elaboradas para cada um deles. Nestas fichas também é aconselhável, em processos de

planejamento, acrescentar os programas e ações necessários para reverter ou minimizar

os problemas diagnosticados.

A. IDENTIFICAÇÃO DOS FIXOS


Seleção de todas as áreas verdes, protegidas ou não
a1. Classificação dos fixos
Classificação de todos os fixos – localização
Quadro 6. Processo metodológico utilizado para a identificação e classificação dos fixos
da rede técnica ambiental

ETAPA A - Identificação dos fixos


Apesar do termo “vegetação nativa” às vezes parecer relacionado à alguma

natureza intocada, distante e protegida, em função do acelerado processo de

urbanização e ocupação na cidade e dos vazios urbanos, hoje estes fragmentos de

vegetação encontram-se, com poucas exceções, incluídos totalmente nas áreas urbanas

da bacia. Essa situação exige intervenções específicas para cada local, na mediada em

que populações do entorno relacionam-se de modo diferentes com estes espaços,

também exercendo impactos diferenciados. O fato de alguns fragmentos estarem

localizados em propriedades privadas também é um fator de dificuldade no

estabelecimento de ações integradas entre poder público, proprietário e população tanto

para preservar como para evitar a ocorrência de novos impactos. E é essa articulação,

acordo e cooperação que irá transformar e reverter as situações de risco ambiental

encontradas na bacia.

Atualmente na bacia do ribeirão das Anhumas existem 34 fragmentos, 11 em

áreas públicas e 23 em propriedades privadas, que em sua maioria restringem e/o

proíbem o acesso à estes lugares transformando um bem público e de direito de todos,

em propriedade privada. A autora fez uma classificação levando em conta a existência

de mais de um fragmento na mesma propriedade. Aqui, para a classificação dos fixos da

rede técnica ambiental, os fragmentos que estão em um mesmo local, foram

considerados um só, o que aconteceu nos casos: 2 fragmentos dentro da fazendo rio das

pedras / 2 fragmentos dentro da Fazenda Argentina / 2 fragmentos na Fazenda Tozan

(Fazenda Monte d'Este), por isso temos 28 fragmentos classificados.

Alguns destes fragmentos são muito antigos e possuem recursos naturais de

relevante interesse ecológico, muito em função da dinâmica histórica de ocupação e

preservação destes espaços. Silvia Futada ao entrevistar proprietários e moradores do

entorno dos fragmentos, apontou que o grau de preservação é maior quando os donos

ou administradores destes espaços possuem valores compatíveis com os da proteção

ambiental, porque acabam restringido alguns usos e proibindo ações que poderiam ter
reduzido a área dos fragmentos e sua qualidade ambiental. Em razão desta postura, e

também de outros fatores, sete fragmentos estão tombados e 27 em estudo de

tombamento, inclusive para ampliar as garantias leais de proteção destas áreas.

Mas estas ações são de forma geral, exceção na bacia, e os demais fragmentos, sua

maioria sofre ainda diversos tipos de pressão principalmente por causa do aumento do

uso urbano em seus entornos, e das ações de uso destes espaços serem normalmente

contrárias ao que seria permitido, ou por falta de conhecimento das exigências

ambientais para a manutenção do equilíbrio ecológico, seja por imprudência ou

prevalecimento de interesses econômicos em detrimento dos sociais e ambientais. Essa

maior proximidade, sem planejamento e orientação adequada, dos fragmentos com a

população urbana, provoca diferentes tipo de pressão sobre os recursos naturais, o que à

longo prazo pode reduzir sua área e a importância ecológica das espécies contidas neles.

Alguns exemplos das pressões, relatadas por Silvia Futada (2007) são: incêndio, corte de

árvores, espécies invasoras e exóticas, poluição e especulação imobiliária. Todos estes

fatores contribuem estão diretamente relacionados com os usos do entorno, e

contribuem para deteriorar a qualidade ambiental dos fragmentos, o que é identificado

no momento atual. Nesse sentido, o planejamento ambiental deveria atuar, através de

fortes instrumentos urbanísticos e ambientais para promover a organização espacial do

território compatibilizando os diferentes usos do entorno de espaços que devem ser

preservados. Mas instrumentos que garantam a real proteção dos atributos ambientais,

sem camuflá-los para o atendimento de interesses econômicos futuros.

Mas pensar nos entornos de fragmentos de vegetação e outras áreas verdes com

relevantes recursos naturais em áreas urbanas é uma tarefa extremamente complexa, na

medida em que as distâncias sugeridas para as áreas de amortecimento em função do

feito de borda, são impraticáveis em contextos urbanos. Sugere-se que, dependendo do

tipo de resposta a distância do efeito de borda pode chegar até a 500m, o que é

impossível por exemplo na área da bacia do ribeirão das Anhumas onde quase
praticamente todos os fragmentos têm uso urbano no seu entorno imediato, alguns

deles inclusive estão dentro de loteamentos residenciais. A forte influência do efeito de

borda na deterioração da qualidade ambiental dos fragmentos, justifica a necessidade de

se preservar a área dos mesmos, na medida em que quanto menores em área, mais

sujeitos à descaracterização pelas alterações provocadas pelas atividades humanas, seja

com a disposição inadequada de diversos tipos de resíduos, seja pela infestação de

espécies exóticas e invasoras (Futada, 2007).

Ainda sobre a importância dos fragmentos existentes na bacia, vale a pena

destacar que dentre eles, estão duas Unidades de Conservação ambiental estaduais: um

Parque Ecológico Estadual (Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim – Decreto

Estadual 27.071 de 8/6/87) e uma Área de Relevante Interesse Ecológico – ARIE (Mata da

Sta. Genebra - Decreto Federal 91.885, de 5/11/85, que faz divisa com o município de

Paulínia).

Sobre a área total dos fragmentos apesar de ser reduzida se considerarmos a bacia

inteira, representado 2,82% dela, essa porcentagem é próxima ao encontrado no

município de Campinas, que conta com 2,55% de sua área com fragmentos de

vegetação, o que evidencia a contribuição dos fragmentos desta bacia também para a

qualidade ambiental e de vida no município, pelos benefícios indiretos ofertados pelos

serviços ambientais a outra parcela da população (FUTADA, 2007).

Mas a realidade atual mostra um caminho crescente na redução da área dos

fragmentos, que entre 1962 e 2002 perderam mais de 30% do total de suas áreas

remanescentes. Dentre os fragmentos da bacia, Silvia Futada nos relata que o fragmento

do parque Xangrilá, juntamente com o do Jardim Miriam, o do Bosque Chico Mendes, a

Mata do Chico Brinco e o hoje menor fragmento do Condomínio Estância Paraíso, foram

os que mais apresentaram uma redução em sua área total, quando tomado como ponto

inicial o ano de 1962.


Através de fluxos (informação ambiental) produzidos e efetivamente apropriados

por agentes econômicos, políticos e sociais, é possível reconstruir caminhos e outras

formas de relacionar com as áreas verdes, para resolver os problemas existentes e evitar

os futuros, na conformação de lugares melhores. E depois do quadro revertido, os fluxos

devem continuar, só que em outro momento a sustentar a qualidade ambiental e de vida

atingida.

ETAPA a1 - Classificação dos fixos

Tabela 11. Classificação dos fixos da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas

FIXOS DA REDE TÉCNICA AMBIENTAL DA BACIA DO RIBEIRÃO DAS ANHUMAS


fragmentos de vegetação
número
Nome / local Bosque Chico Mendes
1 Localização Rua Moscou s/n - Pq. São Quirino
Área 27,70ha (1962); 20,40ha (1972); 3,10ha (2002)
Nome / local Bosque São José - Praça Francisco Vivaldi
2 Localização Rua Capistrano de Abreu, s/nº, Vila Lemos
Área 2,81ha (1962); 2,81ha (1972); 3,25ha (2002)
Nome/ local Bosque dos Italianos - Pça Samuel Wainer
3 Localização Dr. Miguel Penteado, s/nº - Guanabara
Área 1,65ha (1962); 1,65ha (1972); 1,65ha (2002)
Nome/ local Bosque dos Alemães - Praça João Lech Júnior
4 Localização Albano de Almeida Lima - Guanabara
Área 2,24ha (1962); 2,24ha (1972); 2,15ha (2002)
Nome/ local Bosque dos Jequitibás
5 Localização Coronel Quirino, 2 Cambuí
Área 10,31ha (1962); 10,31ha (1972); 10,78ha (2002)
Nome/ local Bosque da Paz - Bosque Yitzhak Rabin
6 Localização Prof. Ary Monteiro Galvão - Jardim Madalena
Área 6,28ha (1962); 4,75ha (1972); 4,19ha (2002)
Nome/ local Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim
7 Localização Rodovia Heitor Penteado, Km 3,2 - Jardim das Palmeiras
Área 5,79ha (1962); 5,73ha (1972); 5,02ha (2002)
Nome/ local Fazenda Rio das Pedras
Localização Estrada da Rhodia, km 12 - Barão Geraldo
8 Área 5,39ha + 26,02ha (1962); 7,67ha + 6,91ha + 4,23ha (1972); 6,18ha + 8,10ha + 5,82ha
(2002)
Nome/ local Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão Filho
9 Localização Av. Luiz de Tella s/nº, Cidade Universitária
Área 0,79ha (1962); 0,79ha (1972); 0,88ha (2002)
Nome/ local Condomínio Residencial Parque Rio das Pedras
10 Localização Estrada da Rhodia, Km 13 Cidade Universitária
Área 0ha (1962); 0ha (1972); 2,79ha (2002)
Nome/ local Reserva Municipal Mata de Santa Genebra
11 Localização Mata Atlântica s/n - Bosque de Barão
Área 389,15ha (1962); 239,56ha (1972); 234,22ha (2002)
Nome/ local Santa Genebrinha
12 Localização Fazenda Santa Genebra Cidade Universitária
Área 22,18ha (1962); 23,57ha (1972);22,89ha (2002)
Nome/ local Mata do Chico Brinco (Mata do Boi Falô)
13 Localização Rodovia D. Pedro I km 137 - Jd. Nilópolis
Área 18,73ha (1962); 7,99ha + 6,63ha (1972); 0,44ha + 4,65ha (2002)
Nome/ local Recanto Yara
14 Localização Av. Santa Isabel s/n Residencial Burato
Área 1,59ha (1962); 1,59ha (1972); 1,27ha (2002)
Nome/ local Residencial Ibirapuera (Cooperativa Habitacional Chapadão)
15 Localização Av. Albino J.B. de Oliveira, 5555
Área 1ha (1962); 1ha (1972); 1,12ha (2002)
Nome/ local Fazenda Boa Esperança (Loteamento Engenho do Barão)
16 Localização Av. Albino J.B. de Oliveira, 1.885 (Estrada da Rhodia) Vila Holândia
Área 2,73ha (1962); 2,61ha (1972); 2,77ha (2002)
Nome/ local Vila Holândia
17 Localização Fonte das Flores s/n - Vila Florida
Área 20,97ha (1962); 24,17ha + 4,23ha (1972); 32,51ha (2002)
Nome/ local Sítio San Martinho/Centro Médico Boldrini
18 Localização Entre as ruas Márcia Mendes e Dr. Gabriel Porto Cidade Universitária
Área 2,31ha (1962); 2,31ha + 4,23ha (1972); 2,17ha (2002)
Nome/ local Fazenda Argentina
19 Localização Acesso pela Rodovia Adhemar de Barros ~km 117 sul
Área 2,12ha + 2,90ha (1962); 3,43ha + 2,90ha (1972); 3,64ha + 2,99ha (2002)
Nome/ local Fazenda Anhumas (Fazenda Nanandiba)
20 Localização Fazenda Anhumas
Área 10,32ha (1962); 10,32ha (1972); 5,19ha (2002)
Nome/ local Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS)
21 Localização Rua Giuseppe Máximo Scolfaro, 10000 - Pólo II de Alta Tecnologia de Campinas
Área 7,02ha (1962) + 13,78ha (1972) + 10,26ha (2002)
Nome/ local Sítio São Francisco (Fazenda Pau D Alho)
22 Localização Rodovia Adhemar de Barros (SP340) km 118,5
Área 2,66ha + 0,46ha (1962); 3,51ha (1972); 5,12ha (2002)
Nome/ local Loteamento Condomínio Estância Paraíso
23 Localização Luis Antônio Lalone, 321 - Bosque das Palmeiras
Área 0,86ha + 1,69ha (1962); 1,43ha + 0,46 (1972); 0,56ha + 0,46ha (2002)
Nome/ local Fazenda Tozan (Fazenda Monte d'Este)
Localização Rodovia Adhemar de Barros (SP340) Km 121,5 sul
24 Área 2,09ha + 5,05ha (1962); 2,87ha + 3,15ha + 1,81ha (1972); 4,34 + 3,63ha + 2,12ha
(2002)
Nome/ local Fazenda São Bento
25 Localização Rodovia Adhemar de Barros (SP340) km 120,5 norte
Área 18,43ha (1962); 17,79ha (1972); 18,15ha (2002)
Nome/ local Parque Xangrilá
26 Localização Rodovia Adhemar de Barros km 121,5 norte Parque Xangrilá
Área 7,65ha (1962); 6,83ha (1972); 5,52ha (2002)
Nome/ local Jardim Miriam Moreira da Costa
27 Localização Rodovia Adhemar de Barros km 118,5 - Jardim Miriam Moreira da Costa
Área 2,68ha (1962); 2,46ha (1972); 0,76ha (2002)
Nome/ local Sociedade Residencial Alphaville Campinas
28 Localização Acesso pela Rodovia Adhemar de Barros (SP340) km 117
Área 3,75ha (1962); 3,64ha (1972); 4,02ha (2002)
Fonte: FUTADA, 2007

ETAPA a2 - Caracterização dos fixos

A seguir, dando continuidade as etapas metodológicas propostas (ver quadro 7),

será apresentada a ficha onde foi realizada a caracterização de todos os fixos da rede

técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas através da informação obtida no

trabalho de Silvia Futada (2007) sobre os fragmentos de vegetação existentes na bacia no

formato de fichas com as características e imagens dos fixos em questão.

a2 Caracterização dos fixos


- elaboração de ficha com a descrição dos aspectos relevantes da dinâmica de ocupação e estado atual da
qualidade ambiental das áreas verdes

Quadro 7. Processo metodológico utilizada para a caracterização dos fixos da rede técnica
ambiental.

FIXOS – caracterização
número
Nome: Bosque Chico Mendes
1
Características:
- um dos fragmentos que sofreu maior redução de área total,
passando de 27,70ha em 1962 para 3,10ha em 2002 / causada
pelo parcelamento do solo do entorno, principalmente pelo
loteamento fechado residencial Chácaras São Quirino;
- manejo realizado é mínimo: os funcionários varrem apenas
as folhas do passeio, e as acumulam entre as árvores, para que
estas virem adubo para as árvores e não interferem no
fragmento através de podas.
- anos de distúrbio e manejo inadequado influenciaram na
composição e estrutura do fragmento: este é um dos
fragmentos da bacia cujo sub-bosque é mais escasso, quase
ausente.
- hoje: uso feito em grande parte pelo público infantil -
quadras poliesportivas, gramado para jogos, brinquedos no
parquinho. Problema com a falta de manutenção: brinquedos
inutilizados. Para adultos: equipamento para ginástica,mais
utilizado apenas como via de acesso para deslocamentos de
pessoas
- funcionários reclamam falta de participação da sociedade
(FUTADA, 2007)
(Terra Metrics, Digital GLobe,Google Earth, 2009) Participação da população na preservação
SIM NÃO
X

FIXOS – caracterização
número
Nome: Bosque dos Alemães - Praça João Lech Júnior
4
Características:
- área doada à Prefeitura de Campinas em
- ausência de cercas ou alambrados de proteção, os cortes de
algumas árvores e o acúmulo de detritos urbanos danificaram
a vegetação criando-se dificuldades de preservação e
renovação da cobertura vegetal
- a área era alvo de incêndios e chegou a sofrer corte raso da
vegetação, sendo mantidas algumas árvores maiores e alguns
eucaliptos
- 1978 : novo projeto - urgência de se instalar mecanismos de
controle e preservação da mata que, ainda neste período,
mantinha cerca de 80% de sua flora nativa – quando ocorreu
o adensamento do Bosque, com plantio de várias espécies
arbóreas, nativas e exóticas
- bairro tradicional de classe média - uso do entorno urbano
- no intervalo de tempo de 1972 a 2002 o fragmento sofreu
uma pequena redução (FUTADA, 2007)

(Terra Metrics, Digital GLobe,Google Earth, 2009)

Participação da população na preservação


SIM NÃO
X
FIXOS – caracterização
número
Nome: Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão Filho
9
Características:
- 1996: inauguração
- área ter sido antes ocupada pelo Viveiro Municipal
- média mensal de 5.600 pessoas / grande parte de seu
público é de moradores de bairros
- pista de caminhada, mesas, parquinho e equipamento para
ginástica
- 2005 - Projeto Parque Amigo - parceria da PMC e Unicamp
- proposta com medidas de curto, médio e longo prazo e
permanentes, visando a sua revitalização
- maiores dificuldades da administração: falta de verbas,
manutenção, material necessário e colaboração da
comunidade.
- problemas: carrapatos e os animais de estimação
abandonados no parque
(FUTADA, 2007)
Participação da população na preservação
SIM NÃO
(Terra Metrics, Digital GLobe,Google Earth, 2009)
X

FIXOS – caracterização
número
Nome: Mata do Chico Brinco (Mata do Boi Falô)
13

Características:

- contígua ao Shopping Dom Pedro


- atualmente o uso urbano do solo no entorno é muito
alto (aproximadamente 85%), o que aumentou a sua
impermeabilização
- o fragmento é muito impactado pelas águas pluviais
do entorno, que escoam para dentro da mata causando
desagregação do banco de sementes, danos físicos aos
indivíduos já estabelecidos e erosão do solo
(FUTADA, 2007)

Participação da população na preservação

SIM NÃO
(Terra Metrics, Digital GLobe,Google Earth, 2009)
X
FIXOS – caracterização
número
Nome: Sítio San Martinho/Centro Médico Boldrini
18

Características:
- este fragmento está localizado em mais de uma propriedade
particular
- o acesso à mata pelo Centro Médico Boldrini é fechado, e
pode ser realizado apenas com permissão do responsável.
- as águas das nascentes dentro deste fragmento descem pela
Cidade Universitária em direção à estrada da Rhodia e
alimentam a lagoa do Parque Ecológico Hermógenes de
Freitas Leitão Filho
(FUTADA, 2007)

Participação da população na preservação

SIM NÃO

(Terra Metrics, Digital GLobe,Google Earth, 2009) X


5.2.2 INFORMAÇÃO – Informação da rede técnica da bacia do ribeirão das Anhumas

A seguir são apresentadas três etapas metodológicas propostas para identificar e

classificar os fluxos produzidos (ver quadro 8), que neste estudo de caso representam a

informação produzida pela equipe do projeto Anhumas sobre a bacia em questão.

B. IDENTIFICAÇÃO DA INFORMAÇÃO PRODUZIDA


Seleção de toda informação produzida sobre os fixos e sobre a área na qual estão inseridos

b1 Classificação da informação
Classificação de toda a informação produzida sobre a área em questão – título - tema/conteúdo – autores – data –
produção técnica ou participativa

b2 Caracterização da informação
Elaboração de ficha da informação com tema e conteúdo, forma de produção técnica ou participativa, produção de mapas e
visualização de trabalhos e/ou atividades desenvolvidas

Quadro 8. Processo metodológico utilizado para a identificação, classificação e caracterização


dos fluxos da rede técnica ambiental

ETAPA B - Identificação da INFORMAÇÃO produzida

Pelo fato do mapeamento dos riscos ambientais, que subsidiou a elaboração do

diagnóstico e as propostas e recomendações de recuperação ambiental na bacia, terem

envolvido a comunidade residente na bacia do Ribeira das Anhumas, a informação

produzida foi realizada a partir não só de conhecimentos técnicos e de especialistas, mas

também a partir da experiência cotidiana de cada um, em sua relação com os recursos

naturais locais.

Sobre a importância da participação da população residente na bacia na produção

da informação ambiental e da metodologia utilizada para este objetivo, Torres e Costa

(2006:5) nos contam que “(...) as técnicas participativas, utilizadas de levantamento de riscos

ambientais na bacia e nas atividades de educação ambiental, são ferramentas poderosas que
estimulam o envolvimento e o comprometimento da comunidade na análise e na proposição de

soluções dos temas levantados”.

Foram vários trabalhos desenvolvidos e divulgados ao longo do projeto. A

equipe do projeto teve a intenção de disponibilizar a informação produzida tanto para a

administração municipal, enquanto subsídio para a implementação de políticas

públicas, como para a comunidade, não só da Bacia do Ribeirão das Anhumas e

participantes do projeto, como também outros moradores e interessados, como

instrumento de esclarecimento sobre o estado atual dos recursos naturais e dos

processos ecológicos da área em questão. A divulgação e disponibilização da

informação produzida também têm como objetivo auxiliar os grupos de interesse na

melhoria da qualidade ambiental e de vida da região, informando-os sobre as questões

ambientais para que possam pressionar e argumentar com as agências governamentais

na busca de melhorias e soluções para os problemas que enfrentam (Torres e Costa,

2006). Além de auxiliar a população em suas reivindicações, a informação produzida

também pode e deve se transformar em ferramenta para o planejamento das ações e

políticas do poder público (Torres e Costa, 2006:5).

De acordo com a equipe técnica que realizou o trabalho de cartografia “(...) os

diagnósticos e proposições resultantes da análise espacial de dados da bacia do ribeirão das

Anhumas visam estabelecer parâmetros técnicos que podem auxiliar no processo de tomada de

decisão e na formulação de políticas públicas para a área da bacia e para a população direta e

indiretamente afetada” (Adami et al., 2006:3).

Essa ferramenta torna-se ainda mais eficiente quando os dados são

constantemente atualizados, como fez a equipe de cartografia do projeto e outros

pesquisadores que produziram mapas em seus trabalhos. Na opinião da equipe que

elaborou o trabalho de cartografia, sensoriamento remoto e sistemas de informações

geográficas, esse tipo de informação é de extrema utilidade para as ações que são

desenvolvidas pelo poder público. Os dados e informações atualizados sobre o espaço


contribuem de forma significativa na elaboração e proposição de políticas de

desenvolvimento mais condizentes com a realidade local (Adami et al., 2006). A equipe

relatou casos em que no mapa desatualizado existiam rios sem a presença de pontes.

Como pensar em políticas ações e projetos para um espaço que não existe?

Além do mais, dados sobre o espaço devem apresentar de forma espacializada

não somente os atributos físico-naturais de determinadas regiões, mas é importante que

as dinâmicas sociais e políticas também sejam espacializadas (Adami et al., 2006). De

certa forma isso foi feito, nos trabalhos foi identificado o perfil sócio-econômico da

população residente, e também quando foi realizado o mapeamento de riscos

ambientais (água, ar, vegetação, agricultura, sociais e resíduos sólidos). Isso porque, na

medida em que os riscos são colocados no mapa, é possível visualizar espacialmente as

relações sociais e de uso e ocupação do espaço que contribuem para a existência dos

riscos em diferentes lugares, as vezes distantes geograficamente. O mapa permite

visualizar e compreender as interdependências das ações humanas e as conseqüências

ambientais e diretas das relações estabelecidas.

Após a elaboração da informação pela equipe do projeto Anhumas, ou seja, da

criação de alguns fluxos desta rede técnica ambiental, é vindo o momento de procurar

estratégias de articulação com o poder públicos para a criação de mecanismos e

implementação de propostas que utilizem de fato a informação produzida a fim de

sustentar a melhoria ambiental e de vida desejada.


ETAPA b1

Classificação da informação
Tabela 12. Classificação da informação produzida na bacia do ribeirão das Anhumas

REDE TÉCNICA AMBIENTAL DA BACIA DO RIBEIRÃO DAS ANHUMAS


Informação ambiental produzida
número
título Cartografia, sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas
ADAMI, Samuel Fernando; NOGUEIRA, Francisco de Paula; MORAES, Jener Fernando
1 autores Leite de; COSTA, Diógenes Cortijo Costa; FILHO, Archimedes Perez; CARVALHO,
Dea Rachel Ehrhardt; PRADO, Maria Stela Belluzo, VUKOMANOVIC, Carlos Reys.
data 2006
Estudo de Impactos Ambientais e Perfil Sócio Econômico às Margens do Ribeirão
título
das Anhumas e Afluentes na Macrozona 03 de Campinas.
2 autores BARONI, Fernando Marques; COSTA, Maria Conceição da
data 2006
O uso de geoindicadores na avaliação da qualidade ambiental da bacia do ribeirão
título
das Anhumas, Campinas – SP
3 autores BRIGUENTI, Edérson Costa
data 2006
título Caracterização sócio-econômica da população da bacia do ribeirão das Anhumas.
COSTA, Maria Conceição da; GOBBI, Estéfano Semene; BARONI, Fernando Marques;
4 autores
CARLOS, Thaís Pedro Moreira de Andrade
data 2006
título Atividades de Educação Ambiental na Bacia do Ribeirão das Anhumas
COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia; QUERINO, Marcos Roberto; VIEIRA, Ana
5 autores
Lucia Floriano Rosa
data 2006
Riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras, Campinas / São
título
Paulo
6 autores DAGNINO, Ricardo de Sampaio
data 2007
título Associações entre solos e remanescentes de vegetação nativa em Campinas.
7 autores FERREIRA, Ivan Carlos de Moraes
data 2007
Áreas de Preservação permanente na bacia do ribeirão das Anhumas:
título estabelecimento de prioridades para recuperação por meio de
8 análise multicriterial
autores FRANCISCO, Carlos Eduardo da Silva
data 2006
Fragmentos remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas (Campinas –SP):
título
evolução e contexto
9 autores FUTADA, Silvia de Melo
data 2007
Solos antropogênicos da bacia do ribeirão das Anhumas: caracterização, legenda e
título
implicações ambientais
10 autores
GOMES, Daniela Cristina Haponczuk; COELHO, Ricardo Marques; GUADALUPE,
Gabriel Wolfensberger
data 2006
título Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das Anhumas
JUNIOR, Salvador Carpi; SCALEANTE, Oscarlina Ap. Furquim; ABRAHÃO, Carlos
Eduardo Cantúsio; TOGNOLI, Marílis Busto; DAGNINO, Ricardo Samapio;
BRIGUENTI, Éderson Costa; OLIVEIRA, Ariane Saldanha; ESPELETA, Analice;
autores LORANDI, Ana Cristina; PINTO, Alessandra Buonavoglia Costa; PASCHOLATI,
11 Elisabete Maria; MALAVASI, Heloísa Girardi; QUERINO, Marcos Roberto; COELHO,
Ricardo Marques; SCALEANTE, Vivian F.; GOBBI, Estéfano Semene; GIGLIOTTI,
Marcelo; BARONI, Fernando; MATIAS, Lindon Fonseca
data 2006
título O Centro de memória do Projeto Anhumas
12 autores MANINI, Miriam Paula; SCALEANTE, Vivian Furquim; TORRES, Roseli Buzanelli
data 2006
Mapa de Impermeabilização do Solo na área Urbana da Bacia Hidrográfica do
título
Ribeirão das Anhumas, Campinas-SP
13 autores ROSSI, Marcio, COSTA, Hubert Bayer
data 2005
Abundância relativa de mamíferos carnívoros em fragmentos de vegetação na bacia
título
das anhumas, campinas, São Paulo
14 autores SIVIERO, Maria Carolina Brunini; SETZ, Eleonore Zulnara Freire
data 2007
título A vegetação nativa remanescente na bacia do ribeirão das Anhumas
TORRES, Roseli B.; BERNACCI, Luis Carlos; DECHOUM, Michele de Sá.;
CONFORTI, Thiago Borges; ESPELETA, Analice Salina; LORANDI, Ana Cristina;
15 autores
FERREIRA, Ivan Carlos de Moraes; OLIVEIRA, Ariane Saldanha de; SIMÃO,
Aparecido; JOÃO, Eduardo Luis; LIMA,Enoque Gonçalves de.
data 2006

ETAPA b2 - Caracterização da INFORMAÇÃO

A seguir é apresentada, de forma ilustrativa, a caracterização da informação

produzida sobre a bacia do ribeirão das Anhumas, que auxilia o entendimento da

dinâmica de ocupação na bacia e podem subsidiar a constituição da rede técnica

ambiental e de outras ações para ampliar o grau de preservação e conservação

ambiental, para melhorar a qualidade de vida dos habitantes da região analisada. Como

já foi explicado, existem outras informações importantes que podem também ser

utilizadas para a proposição de programas e ações para ampliar a oferta de serviços

ambientais na região.
INFORMAÇÃO - caracterização
Título: “Cartografia, sensoriamento remoto e sistemas de informações
Número: 1
geográficas”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com
Com a comunidade
técnicos
X
Uso e ocupação da terra; risco de erosão, capacidade de uso das terras; fragmentos florestais e
Produção de mapas
sua evolução; morfometria das bacias hidrográficas; relevo e sub-bacias; usos nas áreas de
SIM NÃO
preservação permanentes (APPs)
X
Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas

Mapa de uso atual das terras

Fator topográfico para a área analisada


INFORMAÇÃO -Mapas das perdas de solo por erosão para a bacia do Ribeirão das Anhumas
caracterização
Título: “Riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras,
Número: 6
Campinas / São Paulo”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com a Com
comunidade técnicos Sistema, geossistema e bacia hidrográfica, mapeamento participativo dos
X X riscos ambientais, classificação dos riscos ambientais (ar, água, solos,
Produção de mapas vegetação e animais, Resíduos sólidos e contaminação, fatores de
SIM NÃO vulnerabilidade social)
X
Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas
INFORMAÇÃO - caracterização
Título: “Áreas de Preservação permanente na bacia do ribeirão das
Número:8 Anhumas: estabelecimento de prioridades para recuperação por meio de
análise multicriterial”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com a Com
comunidade técnicos Legislação ambiental, características físicas da bacia (relevo, clima,
X geologia, solos, uso e cobertura do solo, remanescentes de vegetação nativa,
Produção de mapas hidrografia urbana), critérios de seleção de áreas prioritárias de recuperação
SIM NÃO nas APPs, áreas de APP priorizadas
X
Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas
INFORMAÇÃO - caracterização
Título: “Fragmentos remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas
Número: 9
(Campinas –SP): evolução e contexto”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com a Com
comunidade técnicos
Fragmentação de habitats, processo de expansão de Campinas e a
X X
fragmentação de habitats, Fragmentos de vegetação – histórico e
Produção de mapas
características atuais, dificuldades e conflitos na sua preservação
SIM NÃO
X
Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas

Figura 7 - Bacia hidrográfica do ribeirão das Anhumas, em destaque os fragmentos numerados, que
podem ser identificados a partir da numeração na Tabela 2. Imagem elaborada a partir do mosaico de
ortofotos de 2002.
INFORMAÇÃO - caracterização
T
Número: 11 Título: “Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das
Anhumas”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com a Com
comunidade técnicos Análise da ocupação da bacia; densidade demográfica de habitantes e
X X domicílios, área coberta por arruamentos, representatividade da ocupação
Produção de mapas urbana, mapeamento dos riscos ambientais no baixo, médio e alto curso da
SIM NÃO bacia,metodologia de diagnóstico participativa com reuniões públicas
X
Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas
INFORMAÇÃO - caracterização
Título: “Mapa de Impermeabilização do Solo na área Urbana da Bacia
Número: 13
Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas, Campinas-SP”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com a Com
comunidade técnicos Mapeamento dos graus de impermeabilização do solo urbano na bacia do
X ribeirão das Anhumas, evolução da macha urbana, identificação dos
Produção de mapas padrões de ocupação, solos e a água, estabelecimento de cinco classes de
SIM NÃO impermeabilização do solo: muito
permeável, permeável, moderadamente permeável, pouco permeável e
X impermeável

Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas

Mapa de impermeabilização do solo


Imagem de satélite
Mapa de impermeabilização do solo
Foto área
5.3 Relações entre os FIXOS e os FLUXOS da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão
das Anhumas

Após a identificação, classificação e caracterização dos fixos (fragmentos de

vegetação) e da informação produzida pela equipe do projeto Anhumas da bacia do

ribeirão das Anhumas, os dados coletados foram analisados para atingir os objetivos

propostos para as etapas: 3.1 Entendimento da dinâmica de ocupação espacial e 3.2 Análise da

oferta de serviços ambientais e da qualidade ambiental dos fixos (ver quadro abaixo). O

entendimento das relações entre a dinâmica de uso e ocupação da terra e a qualidade

ambiental da bacia foi realizado ao longo da coleta e análise da informação produzida,

sendo apresentado principalmente no início do capítulo 5 na caracterização da área de

estudo. Reflexões posteriores foram utilizadas para analisar a oferta dos serviços

ambientais e as causas do prejuízo da oferta em alguns fixos e serão apresentadas a

seguir.

C. ANÁLISE DOS FLUXOS


Analisar a oferta dos serviços ambientais nos fixos da rede

c1 Entendimento da dinâmica de ocupação espacial


- compreensão das conseqüências das relações de uso e ocupação do solo na oferta de serviços ambientais e na
preservação e conservação das áreas verdes
- identificação e seleção de informações que podem subsidiar a elaboração de propostas de melhoria
UNIDADE ESPACIAL DE ANÁLISE: bacia ambiental

c2 Análise da oferta de serviços ambientais e da qualidade ambiental dos fixos


- identificação da oferta de serviços ambientais nas áreas verdes classificadas
- identificação dos fatores que prejudicam a oferta de serviços ambientais em cada fixo
- análise da informação produzida para identificar aquelas que podem auxiliar a proposição de ações e estratégias
para reverter a situação diagnosticada

Quadro 9. Processo metodológico utilizado para entender as relações entre as dinâmicas de uso
e ocupação da terra e a oferta de serviços ambientais e seus efeitos na qualidade ambiental dos
fixos da bacia
A seguir são apresentadas análises sobre a atual oferta de serviços ambientais na

bacia, e algumas tabelas que evidenciam a possibilidade de melhoria na oferta destes, e

conseqüentemente da qualidade ambiental e de vida, a partir da informação produzida

pela equipe do projeto Anhumas. Estas relações reforçam o papel da informação na

construção de um processo de sustentabilidade urbana em suas dimensões social e

ambiental.

ETAPA c1 - Entendimento da dinâmica de ocupação espacial

ETAPA c2 - Análise da oferta de serviços ambientais e da qualidade ambiental dos

fixos

As transformações físico-naturais dos fragmentos de vegetação nativa em função

da pressão urbana alteraram bastante, não só a dimensão de sua área, mas também as

características naturais destes espaços e do seu entorno, mudando a estrutura e a

química dos solos, dificultando os processos de regeneração natural, contaminando os

cursos d´água, reduzindo as áreas de habitats, aumentando o grau de

impermeabilização do solo, entre outros tipos de impactos tanto ambientais como

sociais. Todos eles influenciam direta e indiretamente a qualidade de vida de quem

mora ou se relaciona de outra forma com os ecossistemas afetados. Essas alterações na

estrutura ecológica das áreas verdes têm como conseqüência primeira e direta o

comprometimento da oferta dos serviços de suporte (fertilidade e a capacidade de

produção de alimentos; fotossíntese; ciclo de nutrientes e o ciclo da água), conforme

mostra a tabela 13. Estes serviços são ofertados com maior freqüência em áreas com

densidade urbana menor já que estão relacionadas e são dependentes dos processos de

formação dos solos quase totalmente prejudicados em áreas com alto grau de

urbanização.
Talvez a redução ou o impedimento da oferta deste serviço ambiental resulte em

uma das conseqüências mais prejudiciais à qualidade ambiental e de vida nas cidades,

na medida em que este afeta a disponibilidade dos serviços de provisão, de regulação e

culturais. E por isso, é de extrema importância a preservação e conservação de

fragmentos de vegetação nativa, sem alterações drásticas em sua estrutura físico-natural

a fim de manter a capacidade dos ecossistemas em ofertar este tipo de serviço do qual

dependem os demais.

Em função da dinâmica de ocupação espacial da área em questão, os serviços de

regulação que os fragmentos da bacia do ribeirão das Anhumas ofertam, sem entrar na

avaliação da qualidade e graus de intensidade nos quais os serviços são ofertados, são

os relacionados à: Manutenção da qualidade do ar e Regulação do clima local e global por

causa da presença de árvores de diferentes espécies. Por estarem inseridos em áreas

totalmente urbanas, os outros serviços de regulação estão muito comprometidos,

quando não são inexistentes: Regulação da disponibilidade e qualidade da água (purificação de

água e resíduos), Regulação da polinização, Regulação da erosão, Controle de doenças e pestes e

Defesa natural contra desastres.

Ao entender a dinâmica de uso e ocupação do espaço na bacia, e conhecer o

estado atual da qualidade ambiental urbana é possível identificar campos de ação e

locais prioritários de recuperação para ampliar ou começar a ofertar serviços ambientais

que possam reverter o grau de degradação ambiental e de vida diagnosticado na área de

estudo.

A oferta dos serviços de provisão (produtos obtidos da natureza: alimentos,

combustíveis, recursos ornamentais, fibras, bioquímicos e recursos genéticos) na bacia é

praticamente inexistente pelos seguintes motivos:

- a qualidade da água na bacia ser muito ruim, recebendo esgoto e outros

resíduos e efluentes sem tratamento prévio, o que impede o fornecimento de água

purificada para consumo humano;


- não existem áreas destinadas à produção de plantas ornamentais, com exceção

da Mata Santa Genebra e do fragmento localizado no Parque Xangrilá;

- não existem nos fragmentos áreas onde é feita a extração de recursos naturais

para subsistência de populações.

Mas entre os fixos da rede alguns deles possuem algumas nascentes e cursos d

´água mais preservados que podem influenciar na oferta de água para abastecimento

humano e que por isso devem ser preservados com maior rigidez.

Por último, quanto aos serviços culturais ofertados pelos fragmentos da bacia do

ribeirão das Anhumas, em todos os fixos analisados não existe um planejamento

integrado das atividades de lazer e recreação, permitidas em alguns espaços, que

considere de forma integrada a capacidade suporte dos ecossistemas presentes nestes

espaços com as demandas de uso local. Além disso, os fragmentos que ofertam serviços

culturais estão cada vez mais com seus recursos naturais e processos ecológicos

comprometidos em função do avanço da mancha urbana em seu entorno, que provoca

sombra pela altura dos edifícios, problemas na recarga dos lençóis freáticos e aqüíferos

por interferência das fundações dos edifícios vizinhos, introdução de espécies exóticas,

entre outras pressões que degradam a qualidade ambiental destas áreas. O que nos

mostra a total interelação entre as atividades humanas e a qualidade ambiental urbana e

a necessidade do estabelecimento de ações estratégicas entre poder público e população

local para minimizar os impactos já em andamento e prevenir a geração de outros.


Tabela 13. Oferta dos serviços ambientais nos fixos da bacia do ribeirão das Anhumas
FIXOS - Oferta atual dos serviços ambientais
Oferta de serviços ambientais
Fragmentos de vegetação
suporte regulação provisão cultural
1 Bosque Chico Mendes
2 Bosque São José
3 Bosque dos Italianos
4 Bosque dos Alemães
5 Bosque dos Jequitibás
6 Bosque da Paz
7 Parque Ecológico Mons. Emílio José Salim
8 Fazenda Rio das Pedras
9 Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão Filho
10 Condomínio Resid. Parque Rio das Pedras
11 Reserva Municipal Mata de Sta. Genebra
12 Santa Genebrinha
13 Mata do Chico Brinco
14 Recanto Yara
15 Residencial Ibirapuera
16 Fazenda Boa Esperança
17 Vila Holândia
18 Sítio San Martinho/Centro Médico Boldrini
19 Fazenda Argentina
20 Fazenda Anhumas (Fazenda Nanandiba)
21 Laboratório Nacional de Luz Síncrotron
22 Sítio São Francisco
23 Loteamento Condomínio Estância Paraíso
24 Fazenda Tozan
25 Fazenda São Bento
26 Parque Xangrilá
27 Jardim Miriam Moreira da Costa
28 Sociedade Residencial Alphaville

Oferta dos serviços ambientais nos fixos da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas,
Campinas - SP
LEGENDA

Serviços não ofertados

Serviços ofertados com prejuízos – problemas na manutenção e oferta restrita

Serviços ofertados com riscos de redução na oferta

Serviços ofertados

ETAPA c3 - Análise do potencial de utilização da informação produzida


Com o entendimento dos fatores condicionantes da redução ou prejuízos à oferta

dos serviços ambientais, e como conseqüência da qualidade ambiental na bacia, a

informação foi analisada na tentativa de apontar de que forma pode auxiliar a sustentar

a rede técnica ambiental. Essa informação deve subsidiar a elaboração tanto de políticas

públicas como projetos que promovam novos arranjos espaciais para que seja possível

ampliar as conexões ecológicas, entre as áreas verdes, e social, entre a população

residente no entorno e nas áreas adjacentes aos fixos com a natureza presente nos fixos

da rede. Assim pode-se melhorar não só o grau de preservação e conservação ambiental

nestas áreas como a qualidade de vida. Esta etapa metodológica é 3.3 Análise do potencial

de utilização da informação apresentada abaixo.

c3 Análise do potencial de utilização da informação


- análise da informação produzida para identificar aquelas que podem auxiliar a proposição de ações e
estratégias para reverter a situação diagnosticada

Quadro 10. Processo metodológico para análise do potencial de utilização da informação para
reversão dos problemas diagnosticados.

A maioria dos trabalhos produzidos pela equipe do projeto Anhumas contribui

de forma efetiva para a ampliação ou manutenção da oferta dos serviços de suporte, e

de regulação.

Estes dois serviços, para terem as suas ofertas ampliadas, precisam de

informações sobre as características dos recursos naturais, principalmente as

relacionadas ao uso da terra e às principais alterações e transformações existentes e

decorrentes da lógica de ocupação urbana. As alterações nas composições físico-

químicas do solo provocadas pela pressão das atividades humanas irão influenciar de

forma direta a oferta destes serviços, relação esta pesquisada pela equipe do projeto

Anhumas.
Como resultado das pesquisas desenvolvidas também foram produzidos mapas

que mostram espacialmente estas alterações auxiliando a localizar no território onde as

ações devem ter prioridade para ampliação ou oferta dos serviços referidos.

Para manter ou melhorar a oferta de serviços ambientais de SUPORTE e

REGULAÇÃO, as seguintes informações ambientais produzidas pela equipe do projeto

Anhumas são importantes:

1 Cartografia, sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas.

2 Estudo de Impactos Ambientais e Perfil Sócio Econômico às Margens do Ribeirão das

Anhumas e Afluentes na Macrozona 03 de Campinas

3 O uso de geoindicadores na avaliação da qualidade ambiental da bacia do ribeirão das

Anhumas, Campinas – SP.

4 Caracterização sócio-econômica da população da bacia do ribeirão das Anhumas

5 Atividades de Educação Ambiental na Bacia do Ribeirão das Anhumas

6 Riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras, Campinas / São

Paulo.

7 Associações entre solos e remanescentes de vegetação nativa em Campinas.

8 Áreas de Preservação permanente na bacia do ribeirão das Anhumas: estabelecimento

de prioridades para recuperação por meio de análise multicriterial.

9 Fragmentos remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas (Campinas –SP):

evolução e contexto.

10 Solos antropogênicos da bacia do ribeirão das Anhumas: caracterização, legenda e

implicações ambientais.

11 Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das Anhumas.

13 Mapa de Impermeabilização do Solo na área Urbana da Bacia Hidrográfica do

Ribeirão das Anhumas, Campinas-SP.

15 A vegetação nativa remanescente na bacia do ribeirão das Anhumas.


Quanto a ampliação da oferta de serviços de provisão, como estes relacionam-se

com os produtos obtidos diretamente da natureza (alimentos, água, madeira, fibras e

plantas ornamentais), a informação contribuiu ou contribuirá para a oferta deste

serviços nos fragmentos analisados, apenas quando for de áreas onde existam nascentes

e cursos d´água, no que diz respeito a qualidade da água, e quando houver viveiros de

plantas, para a ofertar de mudas. Dentro desse contexto as seguintes informações são

importantes para manter ou melhorar a oferta de serviços ambientais de PROVISÃO:

1 Cartografia, sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas.

3 O uso de geoindicadores na avaliação da qualidade ambiental da bacia do ribeirão das

Anhumas, Campinas – SP.

5 Atividades de Educação Ambiental na Bacia do Ribeirão das Anhumas

6 Riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras, Campinas / São

Paulo.

8 Áreas de Preservação permanente na bacia do ribeirão das Anhumas: estabelecimento

de prioridades para recuperação por meio de análise multicriterial.

9 Fragmentos remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas (Campinas –SP):

evolução e contexto

10 Solos antropogênicos da bacia do ribeirão das Anhumas: caracterização, legenda e

implicações ambientais.

11 Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das Anhumas.

15 A vegetação nativa remanescente na bacia do ribeirão das Anhumas.

Quanto à oferta ou melhoria dos serviços CULTURAIS, estes não foram objeto

direto das pesquisas analisadas, apesar de muitos fragmentos serem áreas de lazer, uns

de forma mais intensa como o Bosque dos Jequitibás e outros como áreas de lazer dos

condomínios dentro dos quais estão inseridos. Mas de todo modo, o conhecimento das

características naturais e da importância ecológica dos fragmentos tem o potencial de

auxiliar a imposição de algumas restrições de uso em função de objetivos prioritários de


preservação, como também orientar novos padrões de relações sociais com estes espaços

e orientar também a elaboração de planos de manejo nas duas unidades de conservação

ambiental existentes na bacia.

A produção da informação acerca da realidade do território com a participação

da comunidade residente na bacia (ver a participação na tabela 15) auxilia o

entendimento das formas de apropriação e uso destes espaços pela população em suas

relações cotidianas. Se estas dinâmicas de ocupação e uso do espaço, pelos diferentes

agentes sociais, foram incorporadas nas análises que irão subsidiar a elaboração de

novas propostas de intervenção e organização espacial, ampliam-se as possibilidades de

alcançar os objetivos propostos, na medida em que estarão integrados à realidade física

e social, revertendo a lógica de planejamento e ordenamento territorial ainda vigentes,

onde as idéias estão desconectadas com a realidade socioespacial.

Como os trabalhos desenvolvidos pela equipe do projeto Anhumas possuem uma

forte característica técnica, na produção de mapas digitalizados e análises sistêmicas da

dinâmica de ocupação urbana e seus efeitos nocivos aos ecossistemas da bacia em

questão, apenas quatro trabalhos contaram com a participação da população residente

na bacia: (5) Atividades de Educação Ambiental na Bacia do Ribeirão das Anhumas; (6) Riscos

ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras, Campinas / São Paulo; (9) Fragmentos

remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas (Campinas –SP): evolução e contexto e (11)

Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das Anhumas (ver tabela 15).
Tabela 14. Potencial de utilização da informação ambiental produzida na melhoria e ampliação
dos serviços ambientais ofertados nos fixos da bacia

Influência da informação nas transformações da qualidade ambiental e de vida


Contribuição na ampliação ou melhoria na
TRABALHOS oferta dos serviços ambientais
suporte regulação provisão cultural
1 Cartografia, sensoriamento remoto e sistemas
de informações geográficas X X X X
2 Estudo de Impactos Ambientais e Perfil Sócio
Econômico às Margens do Ribeirão das
Anhumas e Afluentes na Macrozona 03 de X X _ _
Campinas
3 O uso de geoindicadores na avaliação da
qualidade ambiental da bacia do ribeirão das X X _ X

SUSTENTAÇÃO DA REDE TÉCNICA AMBIENTAL


Anhumas, Campinas – SP
4 Caracterização sócio-econômica da
população da bacia do ribeirão das Anhumas. X X _ _
5 Atividades de Educação Ambiental na Bacia
do Ribeirão das Anhumas X X X X
6 Riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do _
Ribeirão das Pedras, Campinas / São Paulo X X X
7 Associações entre solos e remanescentes de
vegetação nativa em Campinas. X X _ _
8 Áreas de Preservação permanente na bacia do
ribeirão das Anhumas: estabelecimento de
prioridades para recuperação por meio de X X X _
análise multicriterial
9 Fragmentos remanescentes da bacia do
ribeirão das Anhumas (Campinas –SP): X X X X
evolução e contexto
10 Solos antropogênicos da bacia do ribeirão
das Anhumas: caracterização, legenda e X X _ _
implicações ambientais
11 Levantamento de riscos ambientais na bacia
do ribeirão das Anhumas X X X
12 O Centro de memória do Projeto Anhumas _ _ _ _
13 Mapa de Impermeabilização do Solo na área
Urbana da Bacia Hidrográfica do Ribeirão das X X _ _
Anhumas, Campinas-SP
14 Abundância relativa de mamíferos
carnívoros em fragmentos de vegetação na bacia X _ _ _
das anhumas, campinas, São Paulo
15 A vegetação nativa remanescente na bacia
do ribeirão das Anhumas X X X
Para a execução destes trabalhos a equipe do projeto realizou algumas ações

envolvendo metodologias participativas: a capacitação de agentes da comunidade sobre

as metodologias participativas integrantes do projeto; reuniões públicas para

mapeamento dos riscos ambientais na bacia e workshops para discussão e apresentação

do andamento e resultado final dos trabalhos.


Apesar do número reduzido de trabalhos onde a população teve uma

participação ativa, dois deles sobre os riscos ambientais foram de grande importância

para a compreensão da percepção das pessoas sobre o que é qualidade ambiental e

como as pressões exercidas na bacia vem afetando a sua qualidade de vida, indo além

de um diagnóstico da qualidade dos recursos naturais, incorporando as relações e

experiências cotidianas de uso do espaço nesta análise. E na medida em que as

informações foram divulgadas e apresentadas para a população nas reuniões públicas e

workshops, também foi proporcionada uma reflexão coletiva sobre as principais causas

de degradação ambiental na bacia, e as responsabilidades individuais e coletivas para a

mudança.

Sobre os trabalhos de educação ambiental, estes forneceram informação à

população da bacia para que tenham condições, sozinhas, de se relacionar com o meio

de outras formas, participando a seu modo na organização do espaço, mesmo que o seja

o seu de moradia.

Existem como já foi dito, algumas formas de transformação da realidade em que

vivem a partir da apropriação da informação, tanto em suas práticas cotidianas e

individuais, como de forma coletiva pressionando e exigindo mudanças nos espaços

públicos de participação, através dos instrumentos de controle social disponíveis.

Mesmo que as ações cotidianas sejam pontuais, elas também carregam o potencial

transformador da mudança desejada se pensarmos que juntas contribuem para

produção de um espaço total, formado de vários lugares por várias pessoas.

Tabela 15. Participação da população residente na bacia na produção da informação

Produção da informação ambiental


Com a
Com participação
Número participação de
da população
técnicos
1 Cartografia, sensoriamento remoto e sistemas de informações
geográficas
X
2 Estudo de Impactos Ambientais e Perfil Sócio Econômico às X
Margens do Ribeirão das Anhumas e Afluentes na Macrozona 03 de
Campinas
3 O uso de geoindicadores na avaliação da qualidade ambiental da
bacia do ribeirão das Anhumas, Campinas – SP
X
4 Caracterização sócio-econômica da população da bacia do
ribeirão das Anhumas.
X
5 Atividades de Educação Ambiental na Bacia do Ribeirão das
Anhumas
X X
6 Riscos ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras,
Campinas / São Paulo
X X
7 Associações entre solos e remanescentes de vegetação nativa em
Campinas.
X
8 Áreas de Preservação permanente na bacia do ribeirão das
Anhumas: estabelecimento de prioridades para recuperação por
meio de
X
análise multicriterial
9 Fragmentos remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas
(Campinas –SP): evolução e contexto
X X
10 Solos antropogênicos da bacia do ribeirão das Anhumas:
caracterização, legenda e implicações ambientais
X
11 Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das
Anhumas
X X
12 O Centro de memória do Projeto Anhumas X
13 Mapa de Impermeabilização do Solo na área Urbana da Bacia
Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas, Campinas-SP
X
14 Abundância relativa de mamíferos carnívoros em fragmentos de
vegetação na bacia das anhumas, campinas, São Paulo
X
15 A vegetação nativa remanescente na bacia do ribeirão das X
Anhumas

Outro ponto importante a ser destacado, para além da participação em alguns

trabalhos do projeto, é que, nas entrevistas realizadas por Silvia Futada (2007) os

administradores dos fragmentos de vegetação nativa explicaram que a participação e o

envolvimento da população na preservação destas áreas é, em sua maioria, feito através

de denúncias sobre atos nocivos à qualidade ambiental como a ocorrência de incêndios e

instalação de aterros e depósitos clandestinos de lixo e outros resíduos nas margens dos

cursos d´água. Não é só a falta de conhecimentos que lhes impede agir de outro modo.

A apropriação do conhecimento é fundamental para que ampliem a consciência acerca

dos efeitos negativos e positivos de suas ações. A criação de instrumentos legais também

é primordial para esta mudança, para que seja possível a garantia e a manutenção de

boas e novas práticas de intervenção espacial, para que as pessoas possam efetivamente

repensar e refazer outras formas de apropriação do mundo em que vivem.


Em função da natureza dos trabalhos produzidos, e de sua relação estreita com

saberes ambientais, necessários ao entendimento dos processos ecológicos e das

alterações destes pela dinâmica de ocupação humana no território, praticamente toda

informação ambiental produzida pela equipe do projeto Anhumas tem o potencial de

contribuir efetivamente para o alcance das dimensões ecológica (relacionada à

conservação e uso racional do estoque de recursos naturais incorporados às atividades

produtivas) e ambiental (relacionada à manutenção da capacidade de carga dos

ecossistemas para absorver e recuperar-se das agressões antrópicas) da sustentabilidade

(ver tabela 16).

Quanto ao alcance da dimensão planetária da sustentabilidade, a informação

produzida contribui na medida em que auxilia na tomada de decisão para a proteção e

recuperação de ecossistemas de extrema importância ecológica cujos efeitos são sentidos

não apenas localmente. Isso ocorre com os grandes fragmentos de vegetação nativa,

importantes para a estabilidade ecológica da região, tendo na área de estudo a Mata

Santa Genebra como exemplo. Outros exemplos são as informações que contribuem

para solucionar os problemas da contaminação dos cursos d´água que deságuam para

fora da área da bacia, como os trabalhos sobre solos e vegetação.

Todos os trabalhos que abordam e analisam as dinâmicas sociais de ocupação e

uso do espaço, identificando o perfil da população envolvida neste processo, contribuem

para o alcance das dimensões demográfica, cultural, social e política. Mas isso somente é

possível através do reconhecimento do papel e da importância de cada ator social nos

processos de organização espacial do território, como também através do

reconhecimento da necessidade de cooperação e articulação entre eles na execução de

ações prioritárias para manter a qualidade ambiental e de vida desejada.

Sobre a necessidade de articulação entre agentes econômicos, políticos e sociais, a

efeito de ilustração, apresenta-se a tabela 17 para mostrar que para minimizar ou

resolver os riscos ambientais mapeados na bacia pela equipe do projeto Anhumas, é


fundamental que a apropriação da informação produzida seja feita através da

articulação de ações entre a sociedade e o poder público. Sendo que este deve estar

consciente desta demanda e atuar de forma presente e sistemática para promover as

transformações almejadas, sendo a sua participação necessária para todas as mudanças.

Tabela 16. Potencial da utilização da informação produzida no alcance ou melhoria das


dimensões de sustentabilidade propostas por Guimarães (1997)

Informação e dimensões da sustentabilidade


Número Contribuição no desenvolvimento de ações e em processos de tomada de decisão que
da alcancem as dimensões de sustentabilidade
informação planetária ecológica ambiental demográfica cultural social política
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15

Tabela 17. Necessidade de participação da sociedade e do poder públicos para a promoção das
mudanças desejadas

Prevenção de riscos ambientais


FORMA DA MUDANÇA
INFORMAÇÃO Com apropriação da Com a ação de
RISCOS
número informação pela técnicos e poder
comunidade público

Ar 3, 6,10, 11 X

1, 3, 6, 7, 8, 9, 11,
Água X X
13,15
1, 3, 5, 6, 7, 8, 9,
Vegetação e Animais X X
10, 11, 14, 15
Resíduos sólidos e 3, 6, 8, 10, 11 X X
contaminação
Fatores de vulnerabilidade
2, 3, 4, 5, 6, 11 X
social
1, 3, 6, 7, 10, 11,
Solos X X
13

Após a finalização dos trabalhos para a produção do relatório final, a equipe do

projeto Anhumas fez a proposição de algumas ações, a partir da realidade

socioambiental diagnosticada, para melhorar e reverter a situação identificada na bacia.

Aqui, algumas destas sugestões serão ilustradas para apontar de que forma a

informação pode ser apropriada para desenvolver e executar ações que induzam aos

processos de mudança. Neste caso a mudança destacada com a apropriação da

informação é na melhoria ou ampliação dos serviços ambientais ofertados pelos

fragmentos da bacia.
Tabela 18. Formas de apropriação da informação para a promoção ou melhoria da oferta de
serviços ambientais na bacia do ribeirão das Anhumas

Formas de apropriação da informação


Melhoria na oferta de serviços ambientais
Ações possíveis
suporte regulação provisão culturais
1. Taxação do IPTU proporcional à área do
terreno que está impermeabilizada
evitar ou minimizar alterações drásticas na
drenagem dos solos e suas conseqüências, como X X
inundações, contaminação dos cursos d´água,
erosão das margens de rios,assoreamentos,
perdas de solo, entre outros
2. Incentivo à agricultura sustentável
tornar os terrenos em áreas rurais mais rentáveis
X X
que a venda de suas terras para especulação
imobiliária
3. Estruturação de uma equipe técnica
qualificada nos departamento de Meio
Ambiente e de Parques e Jardins da prefeitura
identificar e propor áreas prioritárias para a X X X
recuperação das matas ciliares e elaboração de
planos de manejo para os remanescentes de
vegetação nativa
4. Criação de sistema de monitoramento através
de indicadores
rastrear as situações de risco dispersas no
território decorrentes das atividades urbanas
X X X X
cotidianas que, em seu conjunto apresentam
impactos relevantes, bem como daquelas
provenientes de fontes mais definidas ou de
maior risco
5. Elaboração de um Plano Diretor de
Macrodrenagem Urbana e de um Plano Diretor X X
de Áreas Verdes
6. Promover maior articulação entre os órgãos
da administração pública (secretarias,
X X X X
administrações regionais, sub-prefeituras,
autarquias municipais)
7. Ampliar a fiscalização das normas ambientais
X X X
legais vigentes

5.4 Ações para o fortalecimento da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das
Anhumas
D. FORTALECIMENTO DA REDE TÉCNICA AMBIENTAL

d1 Sustentação da rede
- Identificação de áreas prioritárias para intervenções que ampliem a oferta de serviços ambientais e aumentem o
grau de preservação ambiental
- Seleção de instrumentos de desenho ambiental para promover as mudanças desejadas
- utilização dos instrumentos de desenho ambiental para promoção de novos arranjos espaciais que promovam a
conectividade ecológica e social através da rede técnica ambiental

Quadro 11. Processo metodológico necessário para a sustentação da rede técnica ambiental.

ETAPA d1 - Sustentação da rede

Nesta etapa devem ser selecionados os fixos prioritários para intervenção e

também deve-se pensar nos instrumentos de desenho urbano adequados ao

fortalecimento da rede técnica ambiental. Tais instrumentos podem ser selecionados em

função da proximidade física entre os fixos de modo a ampliar as possibilidades de

promoção da conectividade ecológica e social ao longo do território.

O desenho de sustentação da rede pode ser pensado para ofertar serviços

ambientais que solucionem ou minimizem problemas ambientais locais, como os

relacionados a inundações e problemas de conforto térmico. Contribuindo assim para a

melhoria da qualidade ambiental e de vida.

Com relação à ocorrência de enchentes e inundações, conseqüência do prejuízo

na oferta dos serviços de regulação, além de medidas para adequar a capacidade de

vazão do córrego podem ser realizadas ações locais para aumentar a capacidade de

infiltração da água no solo, com a execução, por exemplo, de calçadas verdes, canteiros

pluviais, jardins de chuva e hortas comunitárias, e outros projetos que reduzam a

impermeabilização do solo (ver figuras abaixo 54). Com este tipo de projeto, ampliam-se

54
As fotografias são cortesia de Nate Cormier, ASLA, LEED AP, Senior Landscape Architect at SvR Design Company,
natec@svrdesign.com.
os fixos (áreas verdes) que ofertam serviços ambientais na rede técnica ambiental a ser

estruturada e fortalecida, em áreas selecionadas previamente.

Figura 21. Calçada verde ou ecológica Figura 22. Canteiros pluviais

Para conectar os recursos naturais existentes nesta rede técnica ambiental com as

pessoas, e assim ampliar também a oferta dos serviços culturais, podem ser construídos

parques lineares, ciclovias, e também elaboradas propostas de educação ambiental nos

fixos existentes, entre outras ações. Todas são fundamentais em nos espaços urbanos

carentes de espaços verdes e abertos que promovam atividades de recreação ao ar livre

próximas das residências da população.

Outras iniciativas para a ampliação dos serviços de regulação relacionados ao

conforto térmico podem ser as ilustradas a seguir (figuras 23,24,25 e 26) , integradas aos

projetos de arquitetura e engenharia.

Estes, e outros projetos podem ser pensados de forma conjunta para promover a

conexão ecológica para a constituição da rede técnica ambiental, seja através dos

corredores ecológicos ou da criação de infra-estrutura verde no território.

Figura 23. Atividades recreativas e de educação nas


áreas verdes Figura 24. Calçada verde integrada à ciclovia
Figura 25. Plantio de espécies vegetais no Figura 26. Teto-verde
muro de residências

ETAPA d2 - Atualização contínua da informação

Como todo processo de planejamento, neste caso ambiental para a gestão das

áreas verdes urbana, é cíclico e contínuo, a atualização da informação é de extrema

importância para a sustentação da rede, seja para identificar novos riscos ambientais

como também a efetividade das ações realizadas. E por isso é defendida como uma das

etapas da metodologia proposta (ver quadro 12). Além da produção é necessário, e

fundamental, promover espaços e mecanismos onde a informação produzida possa ser

apropriada pelos agentes governamentais, técnicos e população, para que seja possível a
participação consciente de todos no processo de organização espacial e formação dos

territórios.

d2 Atualização contínua da informação


-desenvolvimento contínuo de pesquisas sobre a qualidade ambiental e de vida na bacia
- promoção do acesso e da apropriação da informação produzida por agentes públicos e pela população para
continuidade da organização espacial do território, de modo participativo e equilibrado

Quadro 12. Processo metodológico para a atualização contínua da informação e


ampliação do acesso e apropriação da informação produzida

A produção de novas informações através da atualização das existentes sobre o

estado atual dos ecossistemas, permite que estratégias de preservação e de recuperação

ambiental sejam pensadas na mesma velocidade com que a organização espacial é

realizada nos dias atuais. Além do mais, a utilização de informações atuais e

condizentes com a realidade local em todas as suas dimensões, permite uma conexão

das idéias que subsidiam as políticas, planos, programas e projetos aos lugares que

serão objeto de intervenção, ampliando assim as possibilidades de alcançar os objetivos

e idéias de mudança.

A análise da informação produzida mostra que as idéias foram colocadas no

lugar, mas falta ainda o importante elo de ligação entre elas e o desenvolvimento e

execução de ações estratégicas para que transformação física-natural e social seja

concretamente implantada no território.

Quanto à rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas, a análise

mostrou que existem fixos ofertando serviços ambientais de forma reduzida à população

em função das diversas alterações do uso do solo que foram promovidas ao longo do

tempo na bacia, principalmente pela pressão que o processo de urbanização do entorno

dos fixos, vem fazendo nos fragmentos.

Apesar de em alguns fragmentos e em outras áreas da bacia existir vegetação

como cobertura de solo, o avanço da mancha urbana em seu entorno eleva o grau de
impermeabilização do solo, gerando impactos e transformações na estrutura ecológica

destas áreas. Talvez ainda haja tempo para a proposição de ações de recuperação

ambiental que possam restabelecer os processos ecológicos responsáveis pela oferta dos

serviços prejudicados. E nesse sentido, a utilização da informação produzida é uma

importante ferramenta de auxílio à tomada de decisão.

A informação produzida sobre a área em questão tem o potencial de promover e

atualizar o entendimento da realidade para novas apropriações e relações de uso do

espaço. Mas isso apenas irá acontecer de forma ampla em todo o território e por todos os

agentes sociais envolvidos, se de forma urgente o poder público se esforçar para

operacionalizar as idéias elaboradas a partir da informação que foi produzida. Se o

poder público não estiver consciente de seu papel e responsabilidade no planejamento e

organização espacial do território, apesar das idéias, finalmente estarem nos lugares,

elas continuarão no papel distantes ainda de cumprirem seu poder transformador de

territórios e de vidas.

Capítulo 6. Considerações Finais


“Objetos e ações contemporâneos são, ambos, necessitados de discursos. Não há objeto
que se use hoje sem discurso, da mesma maneira que as próprias ações tampouco se dão
sem discurso” (Santos, 1996:92)

A construção de um processo de sustentabilidade urbana foi assumido e

defendido neste trabalho através de uma simbiose entre sustentabilidade social (bem-

estar alcançado pelo acesso indiscriminado aos serviços ambientais ofertados) e

sustentabilidade ambiental (gestão adequada das áreas verdes através da constituição

de redes técnicas ambientais). A sustentabilidade ao ser tratada a partir das redes

técnicas ambientais com a oferta de serviços ambientais vai além da perspectiva que

considera e avalia exclusivamente a quantidade e qualidade dos recursos naturais, que

privilegia a sua administração ótima para a manutenção dos modos de produção.

Pensar a construção de um processo de sustentabilidade a partir das redes

técnicas também promove um repensar sobre a forma de organização espacial da cidade

já que os arranjos espaciais que irão ampliar as conectividades necessárias fazem com

que a forma urbana seja um fator determinante para a construção da sustentabilidade.

Isso porquê as redes técnicas ambientais propõem alternativas para a configuração

espacial das cidades, na medida em que o seu desenho de conectividade promove o

desempenho de funções nas áreas verdes urbanas além daquelas normalmente

associadas às práticas de conservação ambiental ou ao embelezamento.

Nesse sentido é fundamental o papel de arquitetos e engenheiros para o desenho

das redes que serão implantadas no território. Desde que não elaborem seus projetos

baseados nos paradigmas modernistas que desconsideravam a relação de uso e

ocupação do espaço, e que priorizavam a qualidade visual do mesmo. A mudança

necessária virá, na medida em que os projetos de constituição das redes técnicas

estiverem fundamentados nos princípios de um desenho urbano, focado na melhoria

da qualidade de vida das pessoas que irão utilizar o ambiente que será construído.
Desse modo tais desenhos poderão considerados, se incorporados nas dinâmicas

públicas de planejamento territorial, um importante instrumento de planejamento para

a materialização das idéias de sustentabilidade socioambiental no espaço.

Porém é importante esclarecer que a constituição da rede técnica ambiental per si

não garante a promoção de uma relação benéfica entre os recursos naturais e a

sociedade, nem a preservação e conservação ambiental das áreas verdes urbanas. A

manutenção da qualidade ambiental urbana desejada necessita da constituição e

sustentação de outras redes técnicas. Uma boa cidade para se viver é aquela que possui

enraizadas no território redes técnicas diversas: urbanas, de telecomunicações, de

transportes, de energia, de habitação, de saneamento, que consigam conectar pessoas e

lugares, estabelecendo novas e melhores relações de uso e ocupação do espaço.

Porém nas cidades brasileiras ainda não se percebe o estabelecimento de redes

que integrem os processos naturais com o espaço construído a partir da compreensão do

potencial de uso que atenda a desejada qualidade ambiental urbana. Além de reprojetar

o espaço urbano integrando os elementos físicos urbanos aos recursos naturais para

atender as demandas sociais por qualidade ambiental e de vida, é necessária outra

integração na esfera política, entre os instrumentos jurídicos ambientais e urbanísticos

para se buscar um equilíbrio entre as dinâmicas de uso e ocupação da terra e a

preservação e conservação ambiental. Ambos os instrumentos contribuem para a

materialização da sustentabilidade desejada.

A indissociabilidade das questões sociais e ambientais deve ser buscada também

para integrar as práticas de ordenamento territorial como as relacionadas à gestão

ambiental. Sem estas integrações (instrumentos jurídicos e práticas), a dinâmica de uso e

ocupação do espaço pode desestruturar as redes técnicas ambientais ampliando o

processo de degradação socioambiental nas cidades. Para que isto não ocorra, duas

questões estruturais devem ser equacionadas de modo urgente: a especulação

imobiliária e a ocupação ilegal em terras públicas, principalmente as de relevante


interesse ecológico, que devem ser protegidas e preservadas, como por exemplo, as

Áreas de Preservação Permanentes (APPs) ao longo das margens de cursos d´água e nos

topos de morro. Mesmo com as legislações protetoras de recursos naturais (federais e

estaduais) e com as regulamentações de uso e ocupação do solo municipais não se tem

conseguido efetivamente evitar a degradação ambiental e reverter o processo de

desqualificação do ambiente urbano. As ações promovidas parecem apenas resolver

problemas pontuais, que acabam por fragmentar ainda mais o território.

Sobre a primeira questão, o processo de especulação imobiliária, que se manifesta

na ausência ou na ineficiência da aplicação de instrumentos de regulação urbana, como

os previstos no Estatuto da Cidade para a promoção da função social da terra, a

permanência desta lógica de ocupação territorial impede que leis e projetos com ideais

transformadores atinjam seus objetivos. Porquê não é a falta destes que impede a

mudança desejada. Mas sim a lógica de produção e uso do espaço que insiste em ocorrer

de forma paralela aos planos e legislações vigentes.

Infelizmente, essa é a realidade em muitas cidades brasileiras, onde,

reconhecendo o potencial de uso das redes técnicas no ordenamento do território,

enquanto instrumentos de apropriação e controle do espaço, aliado a ineficiência de

instrumentos de controle e de fiscalização, as grandes empresas, principalmente as

corporações imobiliárias acabam dominando o processo de ocupação espacial,

restringindo os benefícios do uso da terra a poucos indivíduos. Desse modo, os serviços

ambientais que serão ofertados em áreas que funcionam como reserva de mercado,

acabam tendo sua oferta prejudicada ou com seus benefícios obtidos de modo restrito e

particular.

As áreas que são objeto de especulação imobiliária são principalmente os fixos da

rede técnica ambiental: as áreas verdes dentro ou fora do perímetro urbano. A

especulação, além de restringir os beneficiários dos serviços ambientais, acaba

degradando os recursos naturais existentes em função das conseqüências decorrentes da


ocupação destas áreas, como a alteração da qualidade dos solos, a impermeabilização, a

remoção de espécies vegetais, o assoreamento de cursos d´água, a introdução de

espécies exóticas sem planejamento adequado, a introdução de animais, entre outros

processos que prejudicam a oferta de serviços ambientais.

Na contramão da valorização de terrenos para o fortalecimento da especulação

imobiliária, pela existência de áreas verdes com qualidades especiais, estratégia muito

utilizada como marketing na venda de terras, os benefícios da constituição das redes

técnicas ambientais são defendidos neste trabalho de forma ampliada, para o acesso

indiscriminado de todos. A construção de um processo de sustentabilidade urbana em

suas dimensões ambiental e social exige não apenas a criação de espaços verdes ou de

práticas de ocupação que minimizem os impactos ambientais, mas necessariamente, da

distribuição igualitária do bem-estar adquirido pela qualidade ambiental atingida.

Direito esse garantido na Constituição Federal brasileira de 1988 em seu artigo 255:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia  qualidade de vida (...)”.

Do lado oposto à especulação imobiliária, aqueles excluídos da oferta de serviços

ambientais e que sofrem outros inúmeros problemas relacionados à falta de moradia e

emprego, e que não estão integrados na lógica de ocupação espacial motivada pelos

agentes econômicos dominantes, ocupam terras públicas para sobrevivência, também

em razão da ineficiência dos instrumentos de regulação urbana e de políticas de

habitação eficientes, entre outros condicionantes políticos.

Se estas duas questões não forem solucionadas, dificilmente projetos

diferenciados, que busquem uma transformação social e ambiental do território,

conseguirão ir além do atendimento de algumas demandas locais. E mesmo que estas

sejam atendidas, em pouco tempo, novos problemas irão surgir demandando novas

intervenções. Isso porque os efeitos decorrentes do processo de ocupação, motivado seja

pela especulação imobiliária ou pela ocupação ilegal de terras, alteram drasticamente a


paisagem e a estrutura física das áreas verdes, prejudicando os processos ecológicos que

podem ofertar serviços ambientais e contribuir na solução de pequenos problemas

ambientais locais do entorno imediato, como os relacionados ao conforto térmico e

inundações.

Apesar de neste trabalho ser defendida a constituição das redes técnicas

ambientais no território para a promoção da qualidade ambiental e de vida nas cidades,

antes é preciso criar condições e garantias legais, e fazê-las cumprir, de que antes de

tudo as pessoas tenham seu próprio ambiente de moradia, para que assim tenham

condições de interagir de forma efetiva na produção de espaços saudáveis condizentes

com a sua cultura e seus modos de vida.

E além de se pensar novas formas de intervenção espacial nas cidades, a

elaboração da noção de rede técnica ambiental realizada neste trabalho e da estratégia

metodológica proposta para sua estruturação também teve como objetivo contribuir

para a construção de um novo saber ambiental, para o desenvolvimento de futuros

estudos, trabalhos e pesquisas, que incorporem a complexidade urbana em suas

dimensões ambiental e social. O diferencial desta noção, é que nas redes propostas o

foco não é apenas a natureza, os recursos naturais ou os processos ecológicos, nem

somente o homem, mas sim a interação equilibrada entre ambos na formação lugares

melhores para se viver.

Com a criação das redes técnicas ambientais, pensadas a partir da ampliação da

oferta dos serviços ambientais alguns dos objetivos que se pode atingir, vinculados tanto

a melhoria da qualidade ambiental como de vida, são os seguintes:

 Proteger espaços naturais com espécies em perigo;

 Proteger e ampliar a variedade de habitats;

 Prevenir a redução de área dos fragmentos de vegetação nativa;

 Prevenir a ocupação ilegal de áreas protegidas, como as áreas de preservação

permanentes, na medida em que poderão ser desenvolvidas algumas atividades


nestas áreas, e assim minimizar os impactos relacionados à este tipo de ocupação

(assoreamento de córregos, poluição e contaminação de rios e córregos,

inundações, riscos à saúde da população,entre outros);

 Minimizar a contaminação dos recursos hídricos;

 Minimizar os riscos de inundações;

 Potencializar o uso das áreas livres que tenham áreas verdes, atendendo a

demanda por áreas verdes e de lazer;

 Melhorar o conforto térmico de áreas com grande densidade populacional e alto

grau de impermeabilização do solo;

 Promover a integração entre sociedade e natureza através de práticas cotidianas

de relação com as áreas verdes, repensadas a partir da apropriação coletiva da

informação produzida.

Sobre este último objetivo, é importante mais uma vez destacar o papel

transformador da informação no fortalecimento ou desestruturação da rede técnica

ambiental, na medida em que a informação aumenta o poder de ser e agir no mundo,

contribuindo para que uma parcela maior da sociedade participe ativamente nos

processos de tomada de decisão sobre as transformações futuras do espaço físico-

ambiental em que vivem. No caso da incorporação das redes técnicas em processos de

planejamento como no Plano Diretor, a participação da população pode ser feita no

momento de identificação e caracterização das redes, para o diagnóstico dos problemas

socioambientais existentes e dos serviços ambientais cuja oferta está prejudicada, como

também em momentos posteriores para a tomada de decisão sobre as áreas prioritárias

de intervenção e os tipos de projetos de desenho urbano e outras ações necessárias para

reverter ou minimizar a situação diagnosticada.

É de extrema importância a participação da população na produção do

conhecimento sobre o espaço em que residem ou se relacionam a partir do relato de suas

experiências cotidianas e da identificação das suas demandas e necessidades de uso e


produção do espaço. Feito desse modo, a informação que será posteriormente

apropriada para a elaboração de políticas e projetos urbanos, poderá conduzir a criação

e reconfiguração de espaços que tenham as dimensões da boa forma urbana propostas

por Kevin Lynch (1981): vitalidade, sentido, adequação, acesso e controle, eficiência e

justiça, na medida em que irá incorporar os valores e as necessidades das pessoas sobre

a forma de organização do espaço em que vivem.

Além disso, os processos que envolverão a produção, o acesso à informação e a

participação na tomada de decisão podem contribuir também para ampliar as relações

entre atores sociais e políticos para a construção de um pacto democrático e

compartilhado e para o reconhecimento da responsabilidade coletiva na gestão e

organização do território.

A respeito das ações necessárias para promover ou ampliar a oferta de serviços

ambientais, neste trabalho sugere-se que, para além de ações pontuais, sejam analisadas

e selecionadas categorias de desenho urbano que possam promover uma conectividade

ecológica e assim regular os processos ecológicos para ofertar os serviços. Desse modo o

desenho das redes técnicas irá, ao ofertar serviços ambientais de forma indiscriminada

no território, melhorar a qualidade do ambiente construído e conseqüentemente de

vida. Para que isso aconteça de fato, defende-se que as ações necessárias para a

constituição, fortalecimento e sustentação das redes devem ser conduzidas pelo poder

público de modo a efetivar a implantação das soluções propostas em todo o território, e

para isso devem ser incorporadas nas práticas de planejamento urbano.

Alguns destes instrumentos de desenho urbano que podem contribuir ao alcance

dos objetivos de constituição e de fortalecimento de uma rede técnica ambiental são os

seguintes: estradas-parque (parkways); cinturões verde (greenbelts); corredores verdes,

ecológicos ou ambientais (environmental corridors); caminhos verdes ou parques

lineares (greenways) e infra-estrutura-verde (green-infra-estrutucture). Estes, entre

outros existentes ou a serem desenvolvidos, devem ser escolhidos em função das


características físico-naturais das áreas verdes existentes nos fixos da rede, dos

problemas ambientais locais, das dificuldades de preservação e conservação ambiental

das áreas verdes e das relações potenciais que podem ser estabelecidas com os

moradores locais a fim de se criar uma estratégia de intervenção espacial para ampliar a

oferta de serviços como também a sua manutenção.

Apesar da existência destes instrumentos não há receita nem formato ou arranjo

ideal para a configuração destes desenhos. Para cada cidade e para cada lugar, inclusive

dentro da mesma cidade, podem ser necessários arranjos diferenciados em função de

especificidades locais, que precisam ser analisadas detalhadamente em suas dimensões

sociais, ambientais, econômicas e políticas. A identidade natural e a vocação do lugar

são condicionantes fundamentais para projetos que busquem ajustar os fixos existentes

em uma estratégia de ação integradora das demandas da preservação ambiental com os

anseios das pessoas por melhoria da qualidade de vida.

Dentro desse contexto, arquitetos, engenheiros e planejadores irão conceber tais

projetos em função das características locais (topográficas, climáticas, naturais), pensar

em alternativas construtivas para utilizar de forma passiva os recursos naturais,

integrando o projeto de fortalecimento da rede técnica ambiental aos processos

ecológicos existentes na região. E se for o caso, optar pela criação de novos fixos, pela

introdução de novas áreas verdes em locais onde a degradação ambiental atingiu altos

níveis e a demanda pela oferta de serviços ambientais exige o plantio de novas espécies.

Tudo dependerá do diagnóstico – identificação e caracterização da rede, e do projeto

desenvolvido a partir da análise dos fluxos existentes.

Ao participar da elaboração e da implantação de novos arranjos espaciais para o

fortalecimento das redes técnicas ambientais, é ampliada a contribuição da arquitetura e

da engenharia na construção do espaço urbano. Isso porque o urbano não se constrói só

da massa edificada, mas sim da relação entre áreas edificadas e áreas livres (que podem

ser pensadas para abrigar ou preservar as áreas verdes que integram os fixos da rede).
As áreas livres de edificações, mesmo que não estejam integradas aos projetos de

desenho urbano citados acima, podem contribuir para a oferta de serviços ambientais,

em escala local, da seguinte maneira:

 Oferta de serviços de suporte: quando o projeto está integrado e adequado

às características naturais do terreno;

 Oferta de serviços de provisão: quando não impacta o meio, por exemplo,

com o lançamento inadequado de resíduos, e assim não interfere indiretamente

na ofertas destes produtos (água, alimentos, madeira, espécies ornamentais);

 Oferta de serviços de regulação: quando trabalha com pavimentos

permeáveis, sistemas de micro-drenagem, projetos de arborização e de

paisagismo, entre outras possibilidades de projeto.

 Oferta de serviços culturais: quando possuí em seu programa a criação de

espaços de lazer, recreação, ou de contemplação, públicos ou privados integrados

ao meio ecológico.

Talvez uma avaliação de projetos de revitalização urbana, em áreas centrais, áreas

industriais abandonadas ou degradadas, pode indicar que alguns serviços ambientais

passaram a ser ofertados como resultado da implantação de tais projetos, mesmo que

pensados isolados de uma rede técnica ambiental. Isso porque a preocupação destes

profissionais em adequar o projeto às características naturais do terreno e integrá-lo a

dinâmica social de uso do espaço, não é uma postura recente, apesar de ainda restrita.

Alguns arquitetos brasileiros já pensaram nisso, mesmo que as preocupações estejam

revestidas de outros nomes, que não o da sustentabilidade, ou o de serviços ambientais,

ou de redes técnicas, na contramão dos projetos influenciados pelos ideais modernistas.

Retomando o ponto de partida do desenho das redes técnicas ambientais, é

fundamental que as vocações e potencialidades sejam diagnosticadas na etapa inicial da

estratégia metodológica proposta, quando forem identificados, classificados e

caracterizados os fixos e fluxos da rede. O que deve ser feito de forma coletiva com a
participação dos moradores locais e de outras pessoas que se relacionam de outra

maneira com o espaço no qual será implantada a rede técnica ambiental.

Mas além do importante papel de arquitetos e de engenheiros na concepção de

idéias e de projetos que promovam a conectividade ecológica e social da rede técnica

ambiental, fundamental para o seu fortalecimento, o poder público tem um papel de

extrema importância para a sustentação das redes pensadas por estes profissionais na

medida em que é o grande responsável pela legitimação e implementação dos fluxos de

informação produzida que irão subsidiar as ações de constituição das redes no território.

Incorporar a estratégia metodológica de organização espacial através das redes

técnicas ambientais apresenta-se como uma alternativa para ações de ordenamento do

território, principalmente através dos instrumentos de planejamento existentes como é o

caso do Plano Diretor. Pensar o território em redes técnicas ambientais pode influenciar

as diretrizes de ocupação integrantes de Planos Diretores e de outros instrumentos para

a oferta de serviços ambientais. Para isto é preciso incorporar a estratégia metodológica

proposta neste trabalho na etapa de diagnóstico, que já é realizada para identificar e

analisar as características físicas, as atividades predominantes e as vocações da cidade,

os problemas e as potencialidades de ação locais. A mudança é pensar também na oferta

dos serviços ambientais e em ações e planos necessários para regular as dinâmicas de

ocupação que estão prejudicando a oferta de serviços e assim diminuindo a qualidade

ambiental de vida da população em determinados locais na cidade.

Como em todo processo de elaboração de Planos Diretores existe a produção de

mapas e cartas, sugere-se aqui a produção de mapas da oferta de serviços ambientais,

para:

 identificar as fragilidades na oferta de serviços e elaborar um conjunto de

indicadores,

 identificar, através de uma análise das características físico-naturais e dos

impactos ambientais existentes, os fatores que condicionam esse prejuízo,


 analisar as características naturais e refletir sobre os recursos financeiros e

humanos existentes para a proposição de diretrizes, ações e projetos de desenho

urbano que possam reverter a situação diagnosticada nas áreas identificadas

como prioritárias para intervenção.

Deixando de lado as críticas ao Plano Diretor, porque as críticas não são

direcionadas à sua metodologia e objetivos, mas sim à forma pela qual vem sendo

elaborado e implementado nos municípios, aqui é reconhecido seu importante papel

enquanto principal instrumento de Reforma Urbana. Isso porque através de sua

implantação é possível, ou ao menos deveria ser, orientar as ações de uso e ocupação do

espaço urbano, a fim de adequar a dinâmica urbana de ocupação do território com a

necessidade de preservação e conservação ambiental, já que esta é responsável pela

oferta de serviços ambientais que influenciam diretamente a qualidade de vida nas

cidades.

A identificação de redes técnicas ambientais e a incorporação da estratégia

metodológica proposta dentro dos Planos de Bacia Hidrográfica também pode ser uma

medida importante em função da estreita relação entre as áreas verdes, principalmente

porque a cobertura vegetal modifica os mecanismos de armazenamento e de infiltração

da água, e a preservação e proteção da qualidade e quantidade dos recursos hídricos.

No planejamento dos recursos hídricos, as áreas prioritárias para os projetos de

ampliação da conectividade ecológica da rede técnica ambiental serão aquelas que tem

os serviços de suporte (formação do solo, transporte de nutrientes, polinização) e de

regulação prejudicados (controle de enchentes, inundações, capacidade de infiltração).

Isso porquê estes dois serviços influenciam diretamente na regulação do ciclo

hidrológico, na capacidade de recarga dos aqüíferos, na manutenção da margem dos

cursos d´água diminuindo os riscos de assoreamento e os problemas de vazão, entre

outros. Neste caso, o objetivo principal do planejamento da oferta de serviços

ambientais é para a preservação e proteção ambiental de áreas importantes para a gestão


dos recursos hídricos, mas que de forma indireta também irão afetar a qualidade de vida

da população que se relaciona de modos diferentes com os cursos d´água da bacia a ser

planejada.

E não apenas projetos de ampliação da conectividade ecológica podem ser feitos,

mas ao identificar e analisar na etapa de diagnóstico os fatores e as implicações das

modificações dos padrões de uso e ocupação do solo na qualidade e quantidade de

recursos hídricos, deve-se também pensar em diretrizes e ações concretas (medidas,

programas, e projetos) para regular as dinâmicas diagnosticadas como prejudiciais a

oferta de serviços ambientais que influenciam diretamente na capacidade hídrica da

região (em quantidade e qualidade).

Por fim, é importante ressaltar que o reconhecimento das funções das áreas

verdes urbanas pode ser utilizado na orientação e elaboração de políticas públicas

municipais. O desafio em se criar redes técnicas ambientais reside no entendimento

suficiente do espaço e da complexidade urbana para identificar os elementos

estratégicos e os arranjos necessários, sejam eles físicos ou políticos, para a

transformação socioambiental desejada.

Continuar a pensar as redes técnicas ambientais

Sugere-se a continuidade dos estudos sobre as redes técnicas ambientais para

aprofundar o entendimento de conceitos importantes para a conceituação das redes,

como também para melhor entender como incorporar a estratégia metodológica

proposta nas ações de planejamento territorial.

Sobre este último aspecto, são importantes estudos que identifiquem as redes que

já estão sendo consideradas e incorporadas nas ações de planejamento territorial do

poder público, mesmo que informalmente, revestidas de outros nomes. Ao identificá-las

é interessante avaliar as diretrizes e ações propostas nestes planos para verificar de quê
modo a promoção ou a ampliação da oferta dos serviços ambientais foram pensadas

pelo poder público nestes documentos, mesmo que indiretamente. Com este tipo de

avaliação é possível repensar a lógica de planejamento vigente, para que além de

serviços básicos e de infra-estrutura urbana, sejam ofertados também os serviços

ambientais, de extrema importância para a promoção da qualidade ambiental e de vida.

Já para a elaboração de novos planos, que pretendam planejar o território a partir

da estruturação de redes técnicas, entre elas a ambiental, como ponto de partida além da

identificação das redes existentes deve ser realizada a elaboração de um conjunto de

indicadores que relacionem as diferentes categorias de serviços ambientais ofertados no

município ao grau de qualidade ambiental e de vida da população. A utilização destes

indicadores, que podem inclusive ser georeferenciados, pode contribuir como suporte

às decisões de planejamento e gestão dos serviços ambientais das cidades que buscam a

construção e um processo de sustentabilidade urbana em suas dimensões ambiental e

social.

Apesar de já se ter claro que a implantação das redes técnicas ambientais no

território pode ampliar a qualidade socioambiental de um lugar, outros efeitos

decorrentes da implantação das redes devem também ser analisados. Isso porque, a

constituição destas no território mesmo que atenda demandas locais, será uma ação

tomada e planejada por agentes externos a dinâmica do lugar. Mesmo que a

identificação e a elaboração de propostas para a constituição e fortalecimento da rede

conte com a participação da população local em algumas etapas, a idéia central não foi

desenvolvida por eles. E por isso, as relações de uso e manutenção posteriores a

implantação no território podem ser as mais variadas possíveis, de acordo com o

envolvimento e aceitação por parte da população, principalmente, se de fato, o projeto

atender as demandas locais.

Dentro desse contexto é importante que sejam desenvolvidos estudos para o

entendimento das conseqüências da criação de uma paisagem (formas) e de um espaço


(instância social) a partir de idéias externas ao lugar, como as relativas à constituição das

redes técnicas ambientais. Trabalhos como o do geógrafo Milton Santos tem

fundamental importância para estes entendimentos necessários. Este autor, ao reler o

conceito de “paisagem derivada” de Max Sorre, começou a trabalhar com o conceito de

“espaço derivado”, no qual os princípios de organização do espaço são motivados

principalmente por vontades externas em detrimento das vontades locais, como será o

caso da implantação das redes técnicas ambientais no território (mesmo que

considerando as demandas pela oferta de serviços).

Apesar da conclusão deste trabalho, novos olhares e novas idéias começam a

surgir sobre como pensar as redes técnicas ambientais, agora não apenas no campo das

idéias, mas sobre possibilidades concretas de incorporar a noção de rede técnica

ambiental desenvolvida neste trabalho na lógica de planejamento territorial. Já que esta

parece ser a única possibilidade de legitimar a rede técnica ambiental como um

instrumento eficaz de organização territorial. E se reconhecidas não apenas enquanto

um conceito, mas como um operador para a ação, poderemos vislumbrar a

possibilidade de conectar pessoas e lugares na construção de um processo de

sustentabilidade em suas dimensões ambiental e social.

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