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À rede da minha vida: meus pais Carlos e Aguida, e ao meu filho Vitor,
conexão maior da vida.
AGRADECIMENTOS
doutorado que agora vira livro, professora Dra. Maria Adélia Aparecida de Souza
(USP), professora Dra. Roseli Buzanelli Torres (IAC), professor Dr. Luiz Antonio Nigro
PREFÁCIO xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
APRESENTAÇÃO xxxxxxxxxxxxxxxxx
4.1 Os Fixos e os Fluxos da Rede Técnica Ambiental: áreas verdes urbanas e serviços
ambientais
4.2 A informação: conexão e fortalecimento da rede
5.2.1 FIXOS – as áreas verdes da rede técnica ambiental da bacia do Ribeirão das
Anhumas
5.2.2 INFORMAÇÃO – Informação da rede técnica da bacia do ribeirão das
Anhumas
5.3 Relações entre os FIXOS e os FLUXOS da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão
das Anhumas
5.4 Ações para o fortalecimento da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das
Anhumas
Referências bibliográficas
PREFÁCIO
Encomendada à orientadora da tese de doutorado, que agora vira livro, professora Dra.
Emília Wanda Rutkowski do depto. De Saneamento e Ambiente (DAS) da Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC/UNICAMP)
INTRODUÇÃO Como promover a qualidade ambiental e de vida nas cidades?
É difícil entender por que, apesar do avanço nos estudos, pesquisas, tecnologias e
idéias, muitas delas críticas e novas sobre sustentabilidade urbana, cidades ecológicas,
edifícios verdes, ainda não conseguimos mudar de forma ampla e efetiva a realidade
aprender com esta nova racionalidade a fim de buscar outras formas de reapropriação
criação de normas de uso e ocupação do solo e legislação que restringem usos para um
ambiente. Não vemos ainda ações que analisem e considerem a lógica de ocupação
ambientais, dentre outros, não conseguem promover as mudanças desejadas porque não
território, com as dinâmicas ambientais que conferem qualidade aos lugares. Nesse
sentido as redes técnicas ambientais são apresentadas neste livro como uma estratégia
Além de fatores políticos e econômicos, outro fator que dificulta o alcance de tais
metas são as concepções de espaço urbano, adotadas de forma consciente ou não pelos
cujas idéias encontram-se desconectadas do espaço real e por isso, mesmo com alguns
ganhos pontuais, as melhorias não se mantém. Como conseqüência direta, pela não
cidade DEVE SER como desenho e forma física, e não para o QUE ELA É, permeada de
urbano. Esta percepção não apenas influencia a organização espacial das cidades, ou
uso e ocupação do solo criadas e implementadas, porque estas não foram pensadas para
maioria, parecem ter sido elaborados a partir de uma concepção de espaço como um
análise espacial como para criar instrumentos a fim de operacionalizar propostas que
estar atento ao risco da manutenção desta lógica de organização espacial, que ao invés
boas idéias, melhor compreender o conceito de espaço urbano, defendido aqui como o
da sustentabilidade. Pode-se dizer que estudar apenas a forma espacial dos objetos e a
distribuição geográfica dos mesmos, não irá promover uma compreensão real dos
vivido e usado.
físico-material, onde apenas a introdução de objetos técnicos é vista como indutora das
espaço urbano em sua complexidade, não apenas como um sistema técnico, nem como
uma reserva de mercado ambiental para o sistema capitalista de produção, mas como
neste trabalho.
estratégia metodológica para a gestão das áreas verdes urbanas, como instrumento de
ser humano ao ambiente do seu entorno, numa tentativa de recolocar as idéias nos
lugares. Nesse sentido a constituição e estruturação das redes técnicas ambientais surge
metodológica para gestão das áreas verdes urbanas é resultado da reflexão crítica de três
temas principais: espaço urbano, sustentabilidade urbana e redes técnicas, que foram
espaço em função do diálogo estabelecido com a geografia, por acreditar que a não
absoluto. Mas isso também se repete no campo de ação ambiental, onde a visão de
espaço absoluto também é adotada para o tratamento das áreas verdes urbanas (item 1.1
O meio ambiente urbano). Esses fatores dificultam ou até inviabilizam a sustentação das
urbano).
adequada à realidade física e social (item 1.3 Outra lógica de olhar e pensar o espaço urbano
categorias de espaço para mostrar que, no que diz respeito à relação das áreas verdes
com a sustentabilidade, estas também são pensadas apenas enquanto objetos técnicos
com um fim específico: aumentar a ecoeficiência na utilização dos recursos naturais, sem
pensar em outras possibilidades de uso pelas pessoas em seu cotidiano. Isso ocorre
urbanas podem desempenhar (item 2.2 Outras funções para o verde urbano). Ainda neste
capítulo é proposta uma classificação destas outras funções a partir de quatro categorias
e das funções para as áreas verdes, dentro de outra forma de olhar e compreender o
necessária (itens 1.2 O ordenamento do espaço urbano e 1.3 Outra lógica de olhar e pensar o
espaço urbano).
ambientais.
uma nova proposta de organização espacial das áreas verdes urbanas através da
para a gestão das áreas verdes urbanas, integrando preservação e conservação ambiental
rede técnica ambiental existente na bacia do ribeirão das Anhumas em Campinas - SP.
Esta análise é apresentada no capítulo 5 “Estudo de caso: a bacia urbana do ribeirão das
de vida nas cidades, vem de forma crescente e cumulativa fazendo o contrário. Nesse
utilização de uma estratégia metodológica para a gestão das áreas verdes urbanas: a
ambiental. Neste capítulo justifica-se a proposta de mudança a partir das redes técnicas
em que vivem.
Capítulo 1. O espaço urbano
“(...) a cidade não é, por natureza, uma criação que possa ser reduzida a uma só idéia básica”
(ROSSI, 2001:147)
(estritamente físico) para a de um espaço relativo (social, integrado aos recursos naturais
Nesse sentido é importante frisar que o espaço urbano não representa somente a
elementos constituintes não podem ser vistos como objetos estáticos, imóveis, nem
tampouco a cidade como uma obra de arte apenas. Deve sim ser considerada e estudada
“(...) conjunto de diferentes usos de terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas,
como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de
gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo
social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão” (Zmitrowicz,
1998:4).
Tal percepção física do espaço não deve ser evitada, uma vez que as cidades são
constituídas por diversas estruturas urbanas. O importante é não possuir uma visão
estruturas não são fixas nem constantes podendo ser transformadas ao longo do tempo,
está relacionada, a primeira vista, apenas às formas físicas e aos usos diferenciados. Tais
formas e usos fazem parte do que é comumente conhecido como ambiente urbano e que
está contido dentro dos limites administrativos das cidades. Apesar de estes serem
elementos e/ou áreas, nem sempre se leva “(...) em conta os processos sócio-produtivos e a
cidade real deles decorrentes” (Rodrigues, 1998:92). Tal prática nos remete a visão de
espaço absoluto.
Esta visão está intimamente relacionada à noção de espaço como vazio, mais
próxima do senso comum e que tem suas origens nos séculos XVII e XVIII através das
espaço, mas sim e apenas em produzir uma ocupação no espaço (Oliva, 2001:6). Para Neil
Smith (1984) é este conceito de espaço absoluto de Newton que indiretamente informa o
senso comum com relação ao espaço e influência as visões adotadas nas análises
espaciais. Em sua argumentação o autor afirma que “(...) todos nós concebemos o espaço
como vácuo, como receptáculo universal no qual os objetos existem e os eventos ocorrem, como
espaço “(...) é marcada por uma contínua abstração do espaço em relação à matéria” (1984:112).
Apesar de esta ser a visão que prevalece atualmente, segundo relato do autor não foi
assim nas sociedades primitivas. Nestas “A terra não é uma parte do espaço existindo dentro
de um sistema maior. Pelo contrário, ela é vista em termos de relações sociais. As pessoas, como
parte da natureza, são intimamente ligadas a terra” (Sack apud Smith, 1984:112).
Ora, se não é mais esta visão que predomina nos estudos ambientais urbanos, e
sim a primeira, então podemos concluir que um dos motivos da desconsideração das
1
Citando a definição de espaço absoluto e relativo do próprio Newton, em texto de Smith (1984:111): “O espaço
absoluto, em sua própria natureza sem relação com qualquer coisa exterior, sempre permanece semelhante e imóvel. O espaço
relativo é uma dimensão ou medida um tanto mutável dos espaços absolutos, que nossos sentidos determinam por sua posição em
relação aos corpos”. Para Smith foi somente com a definição de Newton que a distinção entre espaço absoluto e relativo
tornou-se explícita.
relações sociais na organização do espaço ocorre porque entende-se que a sociedade só
pode consumi-lo, tendo a capacidade restrita de produzir uma ocupação no espaço para
urbano. Para eles é necessário preencher este espaço com densidades e usos a fim de
Mas outra concepção de espaço existe e será descrita a seguir pois é nesta que está
aproximando a teoria espacial mais geral e o espaço concreto, vivido pelo homem
(2001:38). De acordo com este autor este conceito enfatiza o papel da sociedade como
criadora de configurações geográficas, e nesse sentido o ambiente não é mais visto como
física pura, já que considera a influência da ação humana na criação e transformação dos
espaços. “O espaço, para os autores “clássicos” da geografia humana francesa, é o meio (mileu)”
(Queiroga, 2001:38).
principais autores da geografia francesa humana e uma breve descrição de suas posições
que serão apresentadas aqui para reforçar a necessidade de se olhar para o espaço
Milton Santos e não apenas como um espaço vazio que deve ser preenchido.
Quadro 1. A concepção de espaço para alguns autores da geografia francesa humana
O espaço para alguns autores da geografia humana francesa
Autor Idéias, conceitos, visões e concepções
Jean Brunhes “(...) os fatos da realidade geográfica são estreitamente ligados
entre si e devem ser estudados através de suas múltiplas
conexões” – inter-relação da geografia física e da geografia
humana
Vidal de La Blache “princípio da unidade terrestre” (...) “a concepção da Terra como
um todo, cujas partes estão coordenadas e no qual os fenômenos se
encadeiam” – geografia é a ciência dos lugares e não dos
homens, mas estes têm papel central da produção dos
lugares
Albert Démangeon “(...) a expressão meio geográfico é mais significativa do que a de
meio físico: abarca não somente as influências naturais, mas ainda
uma influência que contribui para o meio geográfico, o
environment integral: a influência do próprio homem”
Lucien Febvre “a terra habitável era, sobretudo, produto do “ (...) trabalho
humano. Cálculo humano, movimentos humanos, fluxos e
refluxos incessantes da humanidade, em primeiro plano, sempre o
homem e não o solo ou o clima”– oposição à visão mecanicista e
funcionalista da ação humana
Maximillien Sorre “a área habitada da terra – o meio (milieu) é uma criação do
homem “... o espaço humano é descontínuo e não homogêneo”
Fonte: QUEIROGA, 2001: 38-39
Nos anos oitenta outro autor, David Harvey (1980) passa a abordar o espaço
também sob outro enfoque, o concebendo como sendo ao mesmo tempo absoluto (com
existência material), relativo (como relação entre objetos) e relacional (espaço que
contém e que está contido nos objetos). Outras concepções também foram desenvolvidas
Queiroga (2001), o trabalho de Milton Santos cumpriu o que foi enunciado por Max
Sorre. Sorre defende a necessidade de se revisar o conceito de espaço diante dos avanços
técnicos e das transformações que estes provocavam (2001). A seguir seguem algumas
materiais e relações entre eles, como a “acumulação desigual de tempos” onde coabitam
De acordo com estas idéias, para Roberto Lobato Correa (1995) o espaço é
simultaneamente fragmentado e articulado, tendo em vista que cada uma das suas
partes mantém relações espaciais com as outras com intensidade diferentes. As relações
processos sociais são responsáveis por sua fragmentação. Isso porque a dinâmica de
principal diferença entre elas é que enquanto em uma (a de espaço absoluto) o espaço é
será representado pelas áreas verdes urbanas e as conexões serão realizadas pelo fluxo
de informação, movidos e sustentados pela vida que os anima, as pessoas que vivem no
espaços existentes.
para a discussão da sustentabilidade. Arlete Moysés Rodrigues (2004) nos explica que o
que atinge as áreas urbanas e rurais. A autora argumenta que apesar de uma parcela da
serviços, o Brasil é sim um país urbano (Rodrigues, 2004). De acordo com a autora “O
urbano deve ser entendido não como uma realidade acabada mas como um horizonte de
“meio ambiente” pode ser visto de outra forma nas cidades, para além dos recursos
naturais disponíveis que podem ser utilizados para a reprodução do capital inseridos no
processo produtivo.
No espaço urbano o meio ambiente não é aquele apenas onde são reproduzidos
os processos ecológicos, mas sim aquele que possui “(...) uma abrangência comparável à
ecológica entre os aspectos que o conformam” (Monte-Mór, 1994:179-180 nota 3). Para Arlete
Moysés Rodrigues o meio ambiente urbano é “(...) o conjunto das edificações, com suas
qualidade dos recursos naturais existentes, porém “(...) poucas vezes a Cidade é pensada
como parte do ambiente natural onde está inserida” (Rodrigues, 1998:94). Para a autora “(...)
o meio ambiente ”natural” está cada vez mais ausente no “meio ambiente urbano”, porque dele
foi banido através das formas concretas de desenvolvimento (enterrando-se os rios, derrubando-se
para a realização dos processos ecológicos, que são protegidos legalmente, ou aquele
dos contextos urbanos que é visto em praças e jardins, na arborização de ruas e canteiros
ambiente construído” (Rodrigues, 1998:88). O que nos remete à noção de espaço absoluto,
estritamente físico-material.
qualidade de vida, mas que sofre diversos tipos de impactos ambientais e por esse
motivo está cada vez mais deteriorado e com o seu fim próximo.
lógica da introdução de espaços verdes como se apenas esta ação fosse por si só tivesse a
vida. Como tem relação direta com o grau de qualidade de vida as áreas verdes nas
estética, sem considerar outros usos e relações que podem ser estabelecidas com a
população do entorno imediato que se relacionam mais diretamente com estes espaços.
urbano, associadas à função de contemplação presente nos jardins antigos, que ainda
não privilegiavam uma função utilitária à estes espaços, que foi incorporada apenas no
de espaço absoluto tenha influenciado a forma com que as áreas verdes são pensadas e
criadas nas cidades. Sobre as funções urbanas dos espaços verdes iremos aprofundar a
discussão no capítulo três, que tem como tema principal as funções do verde urbano.
inconsistentes sobre os espaços urbanos, por não considerar que o espaço (até mesmos
(1984:47) desde Ricardo, Malthus e Mill, “(...) a natureza foi cada vez mais sendo considerada
um fator externo”.
na criação e desenho de espaços verdes urbanos. Isso será possível na medida em que
estes começarem a ser vistos não mais como uma natureza intocável, sem relação com
que está em constante movimento, e por ser dinâmico demanda que estes espaços sejam
adaptados e integrados à dinâmica de ocupação espacial, até para ampliar suas chances
alertar que se o espaço (social) é um produto (social) a primeira implicação disso seria a
desaparição do espaço natural (1991:30). Para este autor, o espaço natural, a natureza
seria aquilo que escapa a racionalidade e é atingida através do imaginário (1969:65 apud
Limonad, 2004).
existência, ou não daquela primeira natureza, que muitos ainda tentam preservar. Hoje
em dia nada escapa à racionalidade, tudo que existe sobre a Terra sofre influência das
atividades humanas, e por esse motivo, segundo Ester Limonad (2004) “(...) mesmo as
áreas mantidas como reserva de recursos naturais, capital natural, não deixam de ser objeto da
“(...) colocar a natureza como sendo exterior à sociedade (um axioma metodológico
fundamental da ciência positivista, por exemplo) é literalmente absurdo, uma vez que o
próprio ato de se colocar a natureza exige que se entre numa relação com a natureza”
(1984:49).
natureza não é apenas algo externo ao homem, e na elaboração de ações que visem
aprimorar a relação do ser humano com a natureza, de modo que não sejam mais
considerados separados. Para Arlete Moysés Rodrigues “Embora o homem tenha "instintos
naturais" e a própria vida seja "natural" a natureza tem sido considerada exterior ao homem e a
sociedade” (Rodrigues, 1998: 12). Para a autora este é um pensamento que deve ser
superado, para a compreensão de que a natureza não é algo isolado da sociedade ”(...)
mas pelo contrário (...) a natureza está totalmente apropriada e definida como propriedade pela
Dirce Suertegaray (2001) argumenta que esse tipo de pensamento que dissocia
homem e natureza2 é herdado das idéias de Descartes nas quais o homem é o sujeito que
O fato é que desde a formação dos assentamentos humanos, até a formação das
Nesse sentido, Maria Adélia Aparecida de Souza (1997) nos apresenta a cidade
relacionados aos variados serviços ofertados pelos ecossistemas, que a cada momento
explica que essas transformações de uso são possíveis através da técnica e assim “A
”(...) o urbanista, o engenheiro e – entre outros o arquiteto apelam para uma filosofia da
extensão, onde o espaço é um dado que é necessário preencher de densidades, de usos [...]
dividido de modo mais ou menos racional (...) O arquiteto é antes de tudo observador e em
seguida técnico do espaço, concebido como matéria (Newton) a ser manipulada à vontade
(embora com diversas limitações) e no interior do qual ele está encarregado da repartição dos
seres num determinado número de compartimentos” (Bettanini, 1982:15 apud Queiroga,
2001:37-38)
concebidas a partir desta visão de espaço, que geraram impactos sociais e ambientais
diversos que são sentidos ainda hoje nas cidades e que demandam soluções através de
vivido.
organizado por Maria Adélia Aparecida de Souza, a autora falou de certa miopia que
dificulta e muitas vezes impede que se olhe e que se reconheça a totalidade do espaço
cidades são de fato. Esta parte da tese será sobre esta miopia que influencia de forma
As idéias e imaginários por trás dos projetos e políticas que vêm transformando o
cidade e da sociedade para as quais aqueles projetos e políticas foram construídos” (Secchi,
em ações conscientes pois não houve o comprometimento com a “(...) com a realidade
concreta, mas com uma ordem que diz respeito a uma parte da cidade apenas” (Maricato,
2000:122).
governamental, políticas públicas, plano estratégico, entre outros, pode-se dizer que
Não só os planos e projetos mudaram os nomes, mas segundo nos conta Delcimar
Teodózio:
arquitetos, o fato é que em outros períodos também aconteceu algo semelhante: a não
existente em cada época. O fato é que desde que as preocupações com os efeitos da
“(...) embora tenham sido propostas as conexões entre meio ambiente, os estilos de
desenvolvimento e a ordem econômica mundial (Sachs, 1982; WCED, 1987), muitos
programas internacionais de pesquisa sobre as mudanças ambientais globais minimizam
ou reduzem a especificidade dos processos sociais em sua análise” (Leff, 2002: 111).
orientado por este pensamento, herdou a visão de espaço urbano enquanto “(...) um
fenômeno unicamente físico, que em seu campo disciplinar atuam somente arquitetos e
engenheiros civis, e que as proposições resultantes tratam o espaço urbano como um grande
iluminista que:
Sob a influência desta filosofia, a autora argumenta que as cidades, e seu espaço
sendo que este “(...) constituiu-se na premissa de qualquer construção ou reordenação do espaço
urbano. Desde então, a legislação urbanística, seja ela referente ao Código de Posturas, ao uso e
ocupação do solo ou ao Plano Diretor, tem privilegiado estes dois aspectos: funcionalismo e
para melhoria das relações sociais e do próprio estilo de vida das populações urbanas, constitui
Teodózio, 2003:19).
Mas das melhorias esperadas, o que nos conta a história, é que aconteceu o
contrário:
“(...) os planos de redenção social através do novo arranjo do espaço habitado, na casa e,
sobretudo na cidade, deram o seu contrário. Em lugar da substância – que seria aquela
transformação redentora – ficou um conjunto de normas de funcionalidade, que se mostraram
funcionais, sobretudo para o processo social e material da produção industrial” (Schwarz, 1999;
202 apud Maricato, 2000:146)
De herança deste período resultaram espaços não funcionais, inadequados às
qualidade de vida e ambiental das cidades. Sem falar em outra conseqüência vinculada
Muito se fala também a respeito da ineficácia da legislação como uma das causas
desse processo de produção da cidade ilegal, mas Ermínia Maricato nos alerta que esta
podemos concluir que aquele ideal não foi atingido plenamente. Sobre este fato, Koop
argumenta que ”(...) a história não avançou no sentido colocado por eles e o mundo radiante
bem como as transformações ocorridas entre as duas guerras representam o contexto da morte
aparente da arquitetura moderna da primeira fase (...)” (apud Falcoski, 1997:32). De acordo
com Octavio Lacombe “A dimensão teleológica do projeto moderno, seu caráter programático e
utópico de redimir os males sociais via arquitetura, instaurando por seu intermédio a democracia
e tornando os homens livres, perde de vista suas motivações e razões” (Lacombe, 2006:8).
David Harvey nos conta que Lefebvre também fazia críticas à esta lógica de
que não atingiram a transformação social e ambiental desejada porquê, dentre outros
urbano real:
“Foi exatamente durante a implementação do primeiro e único sistema nacional de
planejamento urbano e municipal e do crescimento da produção acadêmica sobre o assunto que
as cidades brasileiras mais cresceram ... fora da lei. Boa parte do crescimento urbano se deu fora
de qualquer lei ou de qualquer plano, com tal velocidade e independência que é possível constatar
que cada metrópole brasileira abriga, nos anos 1990, outra, de moradores de favelas, em seu
interior. Parte de nossas cidades podem ser classificadas como não cidades: as periferias extensas,
que além das casas autoconstruídas, contam apenas com o transporte precário, a luz e a água
(esta não tem abrangência universal nem mesmo em meio urbano). E é notável como essa
atividade referida, de pensar a cidade e propor soluções para seus problemas, permaneceu
alienada dessa realidade que estava sendo gestada” (Maricato, 2000: 140).
A autora argumenta que não é por falta de planos e nem de legislação que os
desconsiderar “(...) a condição de ilegalidade em que vive a grande parte da população urbana
brasileira em relação à moradia e à ocupação da terra, demonstrando que a exclusão social passa
que demanda outras soluções para este tempo, caracterizado por Milton Santos como o
Segundo nos conta Milton Santos cada vez que a sociedade sofre uma mudança,
as formas, ou que ele chama de objetos geográficos, mudam também em razão de novos
um estudo sobre o espaço deve priorizar a sua relação com a sociedade, já que é a
mesma que “(...) dita a compreensão dos efeitos dos processos (tempo e mudança) e especifica as
poderiam ser feitas a partir de análises das experiências cotidianas de uso e organização
teóricos trazidos de outros lugares criados em diferentes contextos. Também não devem
ser feitas pensando-se apenas na funcionalidade padronizada das estruturas, dos objetos
técnicos imputados no território, porque ao mudar de lugar, tal funcionalidade pode ser
periodicizados por Maria Cristina Leme para mostrar como a concepção de espaço
absoluto esteve presente desde os primeiros planos e projetos. A autora propõe uma
No primeiro período a autora nos informa que as técnicas surgiram para resolver
(2007) a idéia era a de extirpar o degradado e substituí-lo pelo novo e saudável, para
Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro ou na Escola Central no Rio de Janeiro”, com destaque
Mas não foi apenas no Brasil que esse tipo de intervenção ocorreu. Em tempos
introdução do objeto técnico, seja ele especializado ou embelezado, era pensado como
sendo a solução para o problema enfrentado. O que nos remete à concepção de espaço
absoluto.
Apesar das ações deste período não incorporarem o dado social e alguns
revestidas de outros nomes, tais ações estavam muito vinculadas à noção de qualidade
ambiental do lugar, que se relaciona com qualidade de vida e ambiental, sendo esta
“Entendemos por “calidad ambiental” las condiciones óptimas que rigen el comportamiento del
espacio habitable en términos de conforto asociados a lo ecológico, biológico, económico-
productivo, socio-cultural, topológico, tecnológico y estético en sus dimensiones espaciales. De
esta manera, la calidad ambiental urbana es por extensión, producto de la interacción de estas
variables para la conformación de un hábitat saludable, confortable y capaz de satisfacer los
requerimientos básicos de sustentabilidad de la vida humana individual y en interacción social
dentro del medio urbano” (Luengo, 1998)
1930, e que coincide também com o recorte dado por Delcimar Teodózio para as ações
mudam até hoje. De acordo com Ermínia Maricato (2000), os nomes não mudam apenas
pela mudança dos discursos, mas “Para fugir ao desprestígio dos planos não implantados, as
então nos planos diretores, e dentro esse contexto surge então o planejamento urbano
brasileiro (Villaça, 1999 apud Maricato, 2000). Porém, utilizando a expressão de Ermínia
Maricato (2000), nessa época as idéias já começavam a estar fora do lugar, tanto por não
incorporar os dados e dinâmicas sociais, mas também por sofrerem forte influência
no espaço.
Aqui será ressaltada a ação dos modernistas por ser um exemplo concreto da não
apenas o desenho e intervenção urbana o tornaria melhor. Porquê o que torna o espaço
vivido e usado são as pessoas. É necessário vida para animar e dar sentido a todos os
através da transformação das cidades seria possível sustentar uma nova estrutura
socioeconômica – ancorada pelo capital industrial. Segundo o autor, “Le Corbusier foi o
arquiteto que mais impulsionou o desenvolvimento de novas estratégias urbanas condizentes com
Este relato, mais uma vez nos mostra uma certa desconexão entre a concepção
dos projetos urbanos, neste caso dentro do movimento moderno, e a realidade vivida
das cidades tendo em vista que o ideal social não corresponderia à realidade social. Para
engajamento não foi completo por que estreitou relações com as idéias provenientes do
Corbusier, o Plan Voisin, para Paris em 1925. Segundo nos conta o autor:
“Não existe, na concepção do Plan Voisin, nenhuma intenção de integração com o tecido
existente – qualquer forma de ligação entre seus habitantes com referências espaciais, culturais e
formais da cidade “histórica” é sistematicamente desprezada – valorizando a herança das
vanguardas em sua atitude voluntária de ruptura com o passado. A intenção primordial era
deixar claro o ideal revolucionário da nova arquitetura, que surgia com a finalidade de contribuir
para a construção de uma sociedade desvinculada de um passado retrógrado, cuja
“existência”(ou memória) só viria a perturbar o espírito da “nova era”. A idéia “moderna” de
cidade, ainda que ditada de forma alegórica e exageradamente panfletária, se consolidaria na
racionalidade e funcionalidade expressas em suas intenções urbanísticas que regeriam toda nova
estrutura urbana simpatizante com os ideais do Movimento Moderno (...). Com argumentos
apoiados fundamentalmente no pragmatismo funcionalista, no fascínio pela máquina, na
industrialização, na tecnologia, no racionalismo, organiza a cidade de modo a potencializar as
atividades cotidianas do suposto homem moderno. Trabalho, moradia, transporte, serviços, lazer
e produção, são sistematicamente setorizados sob a regência de uma otimização logística
(racional) destas atividades perante o homem, a máquina, a cidade e a natureza” (Medrano,
2004:2-3).
Por fim, é válido dizer que não é exclusivamente nossa e de alguns autores a
crítica ao projeto moderno. Leandro Medrano (2004) nos conta que o projeto da cidade
oposição não ter sido o único fator condicionante (Medrano, 2004:3-4). O diferencial da
proposta organicista, por considerar a dinâmica social, é a formação da cidade “(...) com
caracterização – posição contrária ao racionalismo, cuja sociedade era idealizada por indivíduos
autor esclarece que Aldo Rossi e Robert Venturi também fazem parte deste grupo de
2004: 4 - 5).
desenvolvidos por diversos geógrafos ao longo do tempo. Em seu livro “Dois séculos de
Ratzel, Marcel Aurosseau, Max Sorre, Herbert Fleure, C. Harris e E. Ullman, Robert
Dickinson, Milton Santos, entre outros. Tais estudos, de forma geral, tinham como
cidades.
belos e inspirados, mas como disse Kevin Lynch, apenas a forma não é suficiente para
para uma mudança significativa nos resultados obtidos com a execução dos planos e
projetos modernos.
motivos que ocasionou a miopia comentada por Maria Adélia Aparecida de Souza
inconsistentes pela falta de compreensão do espaço em sua totalidade. Mas este diálogo
ainda é necessário, pois um novo entendimento do espaço urbano é mais do que nunca
Maricato (2000). De acordo com Maria Cristina Leme (1999) neste momento os planos
Neste momento “Uma quantidade inédita de Planos Diretores foi elaborada no período
(...) A maior parte desses planos foi elaborada por especialistas pouco engajados na realidade
sociocultural local. A população não foi ouvida e, freqüentemente, nem mesmo os técnicos
municipais” (Villaça, 1999 apud Maricato, 2000: 139). E assim, novamente os dados e
(Medrano, 2004).
intervencionista pautada na forma, função e ordem para outra, que a partir dos avanços
das ciências e das técnicas, permite uma intervenção no espaço em outra escala sob a
inutilidade principalmente porquê “Quando a preocupação social surge no texto, o plano não
é mais cumprido. Ele se transforma em plano-discurso, no plano que esconde ao invés de mostrar.
Esconde a direção tomada pelas obras e pelos investimentos que obedecem a um plano não
Octavio Lacombe (2006) nos informa que neste período, a partir dos anos 60,
períodos, como proposto por Maria Cristina Leme, são apenas dois: antes e depois de
material, e assim fica algo estranho no ar. E as pessoas que iriam entrar, circular, usar
tais espaços? A qualidade não deveria estar associada ao bem-estar proporcionado pelo
que irão utilizá-lo. Dessa forma o projeto arquitetônico foi desenvolvido e construído
Parece que o movimento moderno na metade do século XX- “(...) se fez sobreviver
como forma à função extinta” (Lacombe, 2006:12). Como nos conta o autor, é a estrutura o
do século XX, o autor argumenta que começa outro movimento, outra forma de ver o
mundo, “(...) indefinida e aberta, carregada de nuances (...) reconhecedora de suas imprecisões ,
turbulências e oscilações (...) (Lacombe, 2006: 9). O autor cita alguns fatores que
Cristina Leme, ampliarem a sua escala de análise abrangendo todo o conjunto da área
urbana, mostrando dessa forma um pouco desse novo modo de olhar o mundo, na
medida em que reconhece que existem outras relações inter e intra-regionais. A autora
nos conta sobre os primeiros trabalhos realizados sob este enfoque pelo escritório
outro sobre as áreas conurbadas em Belo Horizonte e São Paulo, ambos na década de 50.
contradições (Lacombe, 2006: 10). Porém quando as idéias são trazidas de outros lugares
e para todos os lugares como ocorreu no Brasil, temos “idéias fora do lugar”, como disse
Ermínia Maricato, e que mesmo estando dentro dessa nova racionalidade, dificilmente
O segundo período de Octavio Lacombe (2006), pós 1950 coincide com o terceiro
período proposto por Maria Cristina Leme, entre 1950 e 1964 no qual são iniciados os
planos regionais, dando conta da nova realidade que se configura na época: a migração
4
Em São Paulo e Recife, neste mesmo período, forma-se o grupo de urbanistas ligados ao padre Louis Joseph Lebret,
e que vão compor o escritório da SAGMACS. Estes profissionais, com formação em diferentes disciplinas têm uma
expectativa de transformação social através do trabalho profissional (LEME, 1999:33).
propostos pelos dois autores, a partir do reconhecimento da existência de outras
relações complexas para além dos limites administrativos das cidades. A mudança no
mostrando que na área legislativa também não foi considerada a dinâmica social de uso
e ocupação do espaço. Fato agravado, ilustrado pela constatação de Maria Cristina Leme
(1999) de que este saber produzido nas atividades legislativas tornaram-se codificados e
tarefa na mão de poucos agentes dominantes. Talvez o que ocorreu de forma regional e
em escala ampliada nessa fase não foi o acesso aos benefícios desta lógica de
Neste terceiro período que compreende o final dos anos 60 e anos 70, Luiz
Antonio Nigro Falcoski (1997) nos mostra algumas diferenças, deste que é considerado o
este é um período:
estético e político;
- opera no campo da tensão entre tradição, renovação, cultura de massas e grande arte;
feita por Frampton5 (apud Falcosky, 1997:64), em uma delas já é perceptível uma
trabalhados com precisão artesanal sem excluir a forma racional e as técnicas construtivas
a realidade local presente nos projetos modernos, anteriores a 1950 (Falcoski, 1997:84).
5
A classificação de Frampton para a arquitetura é a seguinte: A retórica e sintaxe populista-contextualista/ A retórica e sintaxe
neo-racionalista / A retórica e sintaxe produtivista / A retórica e sintaxe Pós-Vanguardista/Modernista/ A retórica e sintaxe do
regionalismo Crítico (apud FALCOSKY, 1997:64).
até agora divulgadas, e algumas executadas, Ermínia Maricato (1997) argumenta que
“(...) não existe nas academias e nos departamentos governamentais um modelo de planejamento
distritos, redes, pólos, nós, etc” trazidos neste novo discurso correm o risco de serem
incorporadas como novos modismos (Teodózio, 2003:88). Isso pode acontecer caso não
qualquer ação de planejamento e ordenamento do espaço, seja através das redes técnicas
ou de outras formas de organização espacial, pode ter um método em comum mas este
deve ser adaptado para a melhor compreensão possível das múltiplas dimensões que
lugar e no entorno imediato, regional e até global, que variam de lugar para lugar e por
Dentro desse contexto é necessário “(...) compreender o espaço não só como o meio
ecológico mas também como o locus onde ocorrem as relações sociais de ordem cultural, política e
projetos. Dentro da área ambiental esta também é uma necessidade para que as áreas
com as pessoas e não somente como objetos que precisam de um ordenamento a fim de
das áreas verdes urbanas é primordial que se repense suas funções e o papel da
sua complexidade, é necessária uma mudança de olhar sobre o território. Essa mudança
ambiental e de qualidade de vida que insiste a aniquilar o principal motivo de ser das
destaque a problemática da questão espacial, cujo desafio está colocado para todos os
floresta ou densidade construída, mas sim a dos próprios homens e das relações que são
ambiente envolve o homem, a sociedade? (...) Porque conhecer? Para salvar o ambiente, ou a vida,
espaço total, que segundo Luiz Roberto Monte-Mór (1994) é pré-requisito para quem
Mas ainda são poucas as reflexões conscientes sobre a categoria espaço para além
dos atributos naturais do terreno e dos impactos potencias pela sua transformação. As
também as propostas utópicas sobre o futuro das cidades, fazendo com que os sonhos
das cidades utópicas pareçam surgir de nenhum lugar e ir para nenhum lugar (Lynch,
1981: 99).
Sobre as diferentes apreensões acerca do espaço Roberto Luiz Monte- Mor aponta
que:
“Os cientistas sociais pensam o espaço construído, onde a lógica da reprodução repousa
na dinâmica social, ou o espaço transformado onde a lógica da reprodução repousa na
dinâmica natural a partir da intervenção de processos sociais. Os ecólogos, por sua vez,
pensam apenas os espaços naturais, aqueles cuja reprodução e regeneração se centram nos
processos biológicos. Os espaços urbano-metropolitanos permanecem como espaços
mortos, ao nível das ciências ambientais e ecológicas” (1994:175).
Monte-Mór, que para por urbanistas e planejadores urbanos o espaço é aquele que
que a “(...) análise passa a se centrar nas diversas e múltiplas formas possíveis de produção e
extensão do tecido urbano e seus impactos sobre o meio ambiente e condições de reprodução e
Por tudo isso se pode dizer que é predominante a visão de espaço absoluto pelos
diferentes apreensões dos espaços, que podem ser conscientes ou inconscientes, estão
baseadas nas categorias espaciais adotadas para as análises, dentro de cada campo da
problemática ambiental urbana não revelam “(...) grandes avanços na busca de soluções
definitivas, muito menos soluções originais” (Guimarães, 1997:15). E assim a forma urbana e
sua qualidade ambiental, que influenciam a qualidade de vida, continua a ser negativa e
a impedir um viver bem nas cidades. Tanto o desempenho das funções sociais como as
chamado “primeiro mundo”, aplicados a uma parte da cidade (ou da sociedade)” o que
contribuiu “(...) para que a cidade brasileira fosse marcada pela modernização incompleta ou
Não é difícil imaginar por que idéias e projetos padronizados não são benéficos nem
A autora continua sua crítica sobre o “(...) deslocamento que a matriz funcionalista
modernista manteve em relação à realidade urbana no Brasil, o que nos permite chamá-la de
matriz postiça (...)”. Mas de acordo com sua argumentação a nova matriz de
(Maricato, 2000:136). E essa não é uma realidade apenas brasileira, Kevin Lynch nos
informa que a maioria dos propósitos das ações públicas “(...) são reações para solucionar
dificuldades, realizadas com pressa, com baixa quantidade de informações e nenhuma teoria, que
são designadas para retornar o sistema a uma condição prévia” (Lynch, 1981:41).
procuram racionalizar tudo e todos entram em conflito no espaço local que têm suas
podem vir prontos, sem relação com as demandas sociais reais. Para Cristina Cavaco
conhecimento dos aspectos que fazem parte e afetam diretamente o cotidiano das
novas metodologias de análise espacial por que dizem respeito às relações não visíveis
que são mais difíceis de serem apreendidas através das metodologias usuais dos
diagnósticos que são, com freqüência, elaborados dentro das práticas de planejamento.
Como conseqüência poderemos ver as pessoas buscando por si só o atendimento
como se o mesmo foi algo externo a sociedade. Tal pensamento ocorre quando se
considera o espaço como sujeito, como uma “externalidade” com “leis” próprias
maioria, o meio físico como uma dádiva, um presente, uma externalidade, deixando de
lado nas análises o processo de produção social que os originou (Kohlsdorf, 1985:42).
Mesmo a construção física e concreta das cidades, com suas edificações e infra-
organização social (Rodrigues, 1996:14).O fato é que, de acordo com Oliva (2001) “(...) o
Até aqui vemos que é necessário mudar não somente o olhar para o espaço
urbano de forma mais integradora entre ambiente natural e social, mas ao fazer isso, é
ambiental, como defende Enrique Leff (2002), para que seja possível mudar não só a
qualidade ambiental dos elementos, mas também a sua dinâmica de produção social.
Milton Santos (1996) nos alertou sobre a urgência e importância desta ação:
“Vivemos em um mundo exigente de um discurso, necessário à inteligência das coisas e
das ações. É um discurso dos objetos, indispensável ao seu uso, e um discurso das ações,
indispensável à sua legitimação (...) Sem discursos, praticamente não entendemos nada”
(Santos, 1996:20).
A construção deste novo saber pode dar conta das lacunas e problemas gerados
importante conhecer o desejo e as necessidades das pessoas que irão usá-los e apropriar-
se deles. O projeto deve ser pensado para as pessoas e não para uma localização
geográfica apenas.
organização espacial através da lógica zonal que tem como principal objetivo controlar
áreas e limites ou fronteiras dentro e uma localização geográfica. Esta lógica está
em rede adquire um papel secundário. Mas ainda segundo o autor, existem outras duas
“(...) a lógica reticular, de controle de fluxos e pólos de conexão ou redes” (Haesbaert, 2006:
290).
“A diferença entre zonas e redes tem origem, como já destacamos, em duas concepções e
práticas distintas do espaço, uma que privilegia a homogeneidade e a exclusividade, outra
que evidencia a heterogeneidade e a multiplicidade, inclusive no sentido de admitir as
sobreposições espaço-temporais” (Haesbaert, 2006: 290).
Dentro desse contexto e de forma crítica, Leandro Medrano (2004) argumenta que
dessa lógica zonal, que fundamenta a elaboração dos zoneamentos, que por sua vez,
complexidade das relações que são estabelecidas no espaço. Como conseqüência, não é
abrangência (como os “planos diretores”), que buscam dominar o crescimento das cidades
unicamente por meios burocráticos e legislativos (uma herança ainda viva de outros tempos
ou resultados dos projetos são pontuais porque não consideram o espaço urbano como
O contrário do que é necessário para que o arranjo espacial das cidades atinja as
vivida, parece, nas palavras de Maria Adélia de Souza, olhar a cidade, o mundo como se
estes fossem uma torta, feita de camadas distintas, no caso as zonas homogêneas, ora
usos da terra, o recheio ou a massa, representando desse modo à adoção de uma visão
função simbólica que está vinculada aos processos da sociedade, como também as
limitar o crescimento das cidades” (Falcoski, 1997:85). Além disso a lógica presente nas
degradados. Para Jane Jacobs, mais do que isso, a cidade funcionalista apesar de ter
produzido espaços fisicamente limpos e ordenados, ao mesmo tempo eles eram social e
(Souza, 2002).
Esta é uma visão simplista das cidades e deve ser repensada quando se pretende
discutir sua sustentabilidade, para além das análises baseadas em números (qualidade e
áreas).
Para Alzira Krebs (2002:11) apesar da grande produção bibliográfica sobre o tema
das cidades e sua estrutura “(...) não há ainda consenso sobre muitos dos aspectos que
envolvem a cidade enquanto expressão material dos processos urbanos e enquanto local e agente
Assim, “Apesar de existir um pequeno entendimento sobre o que são as cidades, nós
ainda não temos uma base racional para decidir o que ela deve ser, apesar da inundação de
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“Tanto no caso da polis grega como da civitas romana o conceito de cidade não dizia respeito à dimensão espacial
da cidade, mas à sua dimensão política” (KREBS, 2002: 21).
O uso real do espaço diz respeito às pessoas, continuamente desconsideradas nas
análises espaciais que subsidiam a elaboração dos planos e outras ações de ordenamento
territorial. E é aqui que a mudança deve começar. Para Maria Adélia Aparecida de
Souza (2002:5) é inaceitável estudar “(...) a realidade do mundo de hoje, revolucionado pela
técnica, pela ciência e pela informação, com olhares dos anos 50 e 60, apenas fazendo um jogo de
palavras para colocar uma roupa nova num velho conceito e, sub-repticiamente, mudar o foco do
E para quê mudar? Para Ermínia Maricato existem motivos concretos para a
mudança:
Para Oliva (2001:11) “(...) somente outra visão de espaço poderá fornecer condições
lógicas e teóricas para trabalharmos a cidade, os subúrbios, o automóvel e o espaço urbano como
elementos componentes da sociedade: como produtos e produtores das relações sociais”. A partir
a vida que os anima, representada pelas relações sociais. Sobre esse aspecto Arlete
Nesse ponto, é justificada mais uma vez a crítica feita ao projeto moderno e
Sobre esse deslocamento das idéias com a realidade vivida, Luiz Antonio Nigro
“(...) surgem e são consideradas como uma alternativa produtiva e viável à valoração ou
reorganização de fragmentos da cidade – permitindo, inclusive, uma abrangência muito
mais ampla que os limites físicos de sua implantação. A idéia de planificação passa a ser
substituída por uma “idéia de diversidade” – a formação de uma estética complacente com
uma cidade que se desenvolve heterogênica” (Medrano, 2004:9).
de avanços na visão de alguns autores como Octavio Lacombe (2006). Para este autor,
“A partir do século XX, transformações significativas nos campos da ciência, tecnologia e da arte
passam a repercutir, e se desdobram até hoje alterando a visão de mundo calcada nos princípios
sobre a questão do meio ambiente urbano, sob o enfoque da sustentabilidade que vêm
série de características essenciais do mesmo – com sua natureza simultaneamente física e social,
(Kohlsdorf, 1985:55).
interpretações das cidades sob outros ângulos, como as realizadas pela Escola ecológica
ou de Chicago, nas primeiras décadas do século XIX com Park, Burgess e McKenzie, e
através da neo-ecologia nos anos cinqüenta. Porém, conforme aponta a autora, tais
análises ainda utilizavam os “(...) princípios da ecologia para explicar as organizações sociais
urbanas”, tendo assim como objeto de estudo as relações entre o meio (e não entre o
como um dos caminhos que busca interpretar os eventos na sua dinâmica socioespacial
suas percepções sobre a questão de forma mais abrangente. Segundo, porquê ao tratar
Mesmo assim ainda existe uma distância entre a produção científica e a prática
sustentabilidade urbana obtidas por uma nova abordagem do espaço. E mesmo que na
prática do planejamento e da gestão ambiental ainda não seja identificada uma mudança
(Lefebvre, 1969, Harvey, 1980, Kohlsdorf, 1985, Santos, 1996, Oliva, 2001, Rodrigues,
2001, Suertegaray, 2001, Krebs, 2002, Godoy, 2004, Limonad, 2004, Souza, 2002) sobre os
fato, espaço complexo e dinâmico. Todos estes trabalhos são de extrema importância
Se a análise das cidades tiver como ponto de partida a adoção da visão de espaço
relativo, consegue-se melhor compreender que no espaço das cidades não existem
ambiental, mas também a de vida, e não de uma forma imposta por agentes
hegemônicos, mas por todos aqueles que vivem e usam o território. Para quem sabe as
idéias não serem mais aquelas fora do lugar, mas sim aquelas concebidas dentro dele e
para ele.
Mesmo que ainda não tenhamos avançado muito para uma outra forma de
de outros impactos.
Temos também a arquitetura verde ou sustentável que é aquela que procura otimizar o
uso de energia ao utilizar de forma passiva os recursos naturais, como a luz solar e os
ventos, reduzindo, por exemplo o uso de ar condicionado. Este tipo de arquitetura ainda
vigentes.
desempenho ambiental de edificações, mas que devem ser usadas com critérios porque
Também foram desenvolvidas ferramentas para calcular a pegada ecológica das cidades
Esta também é uma ferramenta interessante para reorientar práticas produtivas mais
Esse pode ser o ponto de partida para novas reflexões sobre como planejar e ordenar o
território.
Porém o que vemos são avanços no pensar técnico, seja na forma de integração
Mas estas são idéias recentes e que se diferenciam um pouco das que
existentes no espaço .
cidades por tipos de usos, que muitas vezes negligenciam as reais demandas societárias.
severas restrições de uso, são atingidos pela dinâmica própria de ocupação social do
espaço.
públicos devem compreender a cidade como parte da natureza, sem fragmentá-la para
que todo o ambiente urbano for considerado como um único sistema interativo (Spirn,
1995:15).
"(...) o ambiente envolve o homem, a sociedade? (...) Porque conhecer? Para salvar o ambiente, ou a vida,
sobretudo a humana” (Souza, 2002:6)
discussões relativas ao futuro das cidades, porque não se reclama apenas pelo direito à
cidade, as reivindicações sociais e preocupações de estudiosos do espaço urbano
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
gerações”.
como o Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257 – 2001) que tem como objetivo principal o
da “(...) garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à
públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”. A promulgação desta lei
passam a ser o centro das preocupações e têm o direito a uma vida saudável e
para cada uma delas, declaradas como prioritárias para o desenvolvimento sustentável
participação da sociedade;
(2000:15).
transformado as cidades no oposto de sua razão de ser – um lugar para viver bem, nas palavras de
necessário compreender outras funções que o verde pode desempenhar para além da
separar as questões sociais das ambientais. De outro lado, também é necessário ampliar
a percepção de que outros espaços verdes urbanos, como praças e jardins também
2001:32).
Administradores e planejadores públicos devem compreender a cidade como
que todo o ambiente urbano for considerado como um único sistema interativo (Spirn,
1995:15).
Além das funções dos espaços verdes também é fundamental compreender que a
lógica das ações sustentáveis, que até hoje privilegiaram a função de preservação e
conservação ambiental, ou seja, sua dimensão ecológica. Luiz Roberto Monte-Mór (1994)
argumenta que a sustentabilidade no espaço urbano têm relação direta com o grau de
Porém, existem alguns entraves que dificultam o rearranjo espacial das cidades,
“(...) obediência irrestrita aos princípios ditados pelo urbanismo funcionalista que ao
fragmentar demasiadamente o espaço e o tempo urbanos, de acordo com funções
predeterminadas faz com que em muitas áreas da cidade certos equipamentos ou
amenidades não façam o menor sentido, pois, pelas circunstâncias urbanísticas impostas
ou inexistentes, carecem de usuários para delas se servirem”. Além disso a “(...) carência
de recursos financeiros para a realização de pequenas medidas de construção da
urbanidade, reforçada por uma cultura segundo a qual somente grandes obras resolverão
os problemas urbanos” (Krebs, 2002: 178).
Já para Ermínia Maricato (2000) existe um “(...) deslocamento entre as matrizes que
nossas cidades (...)” (2000:121). Compartilhando a mesma opinião, Henri Acselrad (2001),
ao rever a história da gestão estatal do meio ambiente no Brasil desde a década de 70,
argumenta que “(...) as políticas ambientais explícitas do governo brasileiro surgem com traços
burocráticos e sem nenhuma articulação com a sociedade” (2001:78 apud Teodózio, 2003:37).
Sobre esse tema, Maria Adélia Aparecida de Souza (2008) argumenta que não
existem apenas questões físicas - ambientais a serem enfrentadas, mas também questões
sociais e geográficas.
com exceção de algumas ações pontuais, ainda não apresenta soluções claras e
medida em que não existe uma discussão teórica mais consistente sobre o assunto.
”(...) sem crítica, pois os estudos e teses produzidos nos inúmeros programas de pesquisa
não cuidaram do rigor metodológico, isto é, de um método que se ajuste as características
do funcionamento deste mundo novo em que vivemos. As matrizes montadas se revelam
inconsistentes do ponto de vista do método: não há rigor disciplinar, nem interdisciplinar
e sequer transdisciplinar. O que prevalece é o método analítico em mundo impregnado de
contradições. Conceitos são justapostos para montagem de um vigoroso discurso político-
ideológico. Porém não há a produção de um rigoroso texto teórico sobre a questão
ambiental no Brasil” (Souza, 2008:1).
“(...) a crise ambiental é acima de tudo um problema de conhecimento o que nos leva a
repensar o ser do mundo complexo, a atender suas vias de complexificação (a diferença e o
enlaçamento entre a complexificação do ser e o pensamento) para, a partir daí, abrir novas
pistas para o saber no sentido da reconstrução e da reapropriação do mundo” (2002:191).
científica e instrumental e tem suas raízes na forma de conhecer o mundo e pode ser
compreensão dos processos que causam degradação ambiental, ainda não existe um
ainda falta o essencial, a compreensão do que ela É de fato e não o que DEVE SER.
Dentro desse contexto a noção de sustentabilidade tem estreita relação com outro
funcionalidade dos objetos produzidas no espaço “(...) que articulam e organizam, em suas
funções específicas, intercâmbios sociais que envolvem o trabalho e a produção” (Godoy, 2004:5).
Uma paisagem íntegra é aquela que possui adequação entre forma e conteúdo,
respeitando os aspectos da preservação ambiental, de seus elementos constituintes e
ONU, 2005) que estabelecem relação direta entre o desempenho de suas funções com o
ambiental como de vida nas cidades se tais funções forem potencializadas. Isso é
possível através da constituição de redes técnicas ambientais, compostas por fixos (áreas
Parece difícil ler, falar de sustentabilidade nas cidades e não refletir com certo
estranhamento quando pouco se fala das pessoas e do lugar onde residem e trabalham.
Na maioria dos casos, parece apenas interessar no debate a riqueza natural e nela não se
incluem as pessoas. Sendo assim o foco é no meio ambiente, nos recursos naturais e
utilização dos recursos naturais, o que mais tem se buscado foi a definição e
no mundo, Maria Adélia Aparecida de Souza argumenta que a adoção dos conceitos
vindos das agências internacionais foi extremamente rápida, fazendo parecer inclusive
que a “(...) ciência ambiental foi inventada a partir da decisão das Nações Unidas de promover
suas reuniões mundiais, seja em Estocolmo, no Rio de Janeiro ou em qualquer outra parte do
poderá surgir apenas por uma gestão racional da natureza e dos riscos da mudança global. A
Hellmund e Daniel Smith (2006). Porque ainda falta o que Enrique Leff (2002) defende,
(WCED, 1987) onde se definia que este é “aquele que responde as necessidades do presente de
discursos ideológicos, Enrique Leff (2002) também acredita que a crise ambiental tem
sido explicada através de uma diversidade de perspectivas ideológicas. Par ao autor, a
crise:
“(...) por um lado é percebida como resultado da pressão exercida pelo crescimento da
população sobre os limitados recursos do planeta. Por outro, é interpretada como o efeito
da acumulação de capital e da maximização da taxa de lucro a curto prazo, que induzem a
padrões tecnológicos de uso e ritmos de exploração da natureza, bem como formas de
consumo, que vêm esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade
dos solos e afetando as condições de regeneração dos ecossistemas” (Leff, 2002: 59).
sustentabilidade. Para Henri Acselrad (2001: 30) “(...) o futuro das cidades dependerá em
grande parte dos conceitos constituintes do projeto de futuro dos agentes relevantes na produção
do espaço urbano”.
7
“As matrizes discursivas devem ser entendidas como modos de abordagem da realidade, que implicam diversas atribuições do
significado. Implicam também em determinadas categorias de nomeação e de interpretação como na referência a determinados
valores subjetivos” (Sader, 1988 apud RODRIGUES, 1998:90).
“forçosamente interdisciplinar”. Por isso é importante compreender que as variáveis
considerar as relações sociais, que tem incidência direta nos problemas ambientais,
estudos e ações práticas desenvolvidas nas cidades parecem não ter avançado em outra
forte crítica à aplicação deste conceito nas cidades (Acselrad, 2001 e Rodrigues, 1997).
que ainda não se conseguiu apreender, então segundo o autor, como é possível definir
não tem limites tendo em vista que a cada estágio que se alcança, ainda se pode avançar
condições. Então como avançar mantendo as condições? A autora ainda esclarece que
Adélia Aparecida de Souza nos coloca a sua posição sobre tudo isso:
"(...) nossa hipótese de reflexão central deste texto é que meio ambiente e desenvolvimento
sustentável, são falsos problemas acadêmicos e científicos. O que existem são processos
geográficos, biológicos e processos geológicos interagentes e que podem e devem ser cientificamente
estudados. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável são metáforas, discursos políticos e não
temas científicos" (Souza, 2008:3).
possível preservar algo para o futuro, sem que exista envolvimento da sociedade
presente, já que é esta que se relaciona com o meio, ou melhor, com o espaço, na
gerações um mundo material (biótico e abiótico) igual ou melhor ao atual, se não, também, uma
Para Folladori “Não se pode pensar a equidade se a sociedade é analisada como uma
unidade. Tampouco, medir a equidade se são utilizadas medidas que ocultam as diferenças
futura, ela se torna abstrata, uma unidade desconhecida, homogênea, o contrário do que
é necessário para discussão e proposição de medidas que melhorem o grau de
sustentabilidade presente.
que têm como foco práticas de uso de recursos sustentáveis para o futuro de uma
configuração espacial das cidades também são influenciados por este tipo de
resolver problemas pontuais, que acabam por fragmentar ainda mais o território.
especificidades. E ainda pensando nas gerações futuras, David Harvey chama a nossa
atenção para o fato de que o que faz sentido para uma geração “(...) não tem forçosamente
utilidade para outra” já que a cada momento histórico os agentes hegemônicos e outros
mais ativos na organização do território, definem o tipo de natureza que será produzida
Henri Acselrad (2001) nos alerta para os riscos dessa “causalidade teleológica”
em eventos futuros que não chegaram a se concretizar: “é preciso crescer para depois
distribuir”, “estabilizar a economia para depois crescer”, “sacrificar o presente para
usuárias das áreas que serão objeto de intervenção. Isso porque que a natureza, os
recursos naturais podem ser utilizados de várias formas para desempenhar diversas
funções, pelo significado que possuem para diferentes grupos sociais (Rodrigues, 2001)
como também pelos problemas locais que podem auxiliar a solucionar, que variam de
e desejar outras formas de intervenção e uso das áreas verdes urbanas (Leff, 2002).
espaço absoluto, outros problemas surgem com a falta de consenso sobre o que é e como
Pelo fato de não haver um consenso sobre a definição do conceito, Henri Ascerald (2001)
disputa pela expressão que se pretende a mais legítima. Pois a sustentabilidade é uma noção a que
pode ser concebida como uma receita de bolo para atingir um resultado final, mas deve
estar associada à um processo que vise, sobretudo a melhoria da qualidade de vida com
práticas e atores sociais” (Acselrad, 2001:29). Os que não seguem o modelo das ações e
práticas que são consideradas por alguma autoridade como algo bom e desejável, são
ideal de sustentabilidade, definido por poucos. A definição dos padrões não seria tão
deve estar apoiada somente em um único conceito, uma única definição, um modelo ou
receita. A sustentabilidade dentro do ambiente complexo das cidades, deve ser pensada
desenvolvimento sustentável em dimensões que lhe conferiram sentido real (...)” (Guimarães,
Dimensões de Sustentabilidade
(GUIMARÃES, 1997: 31-39)
DIMENSÃO SIGNIFICADO
sustentabilidade planetária do relação direta com os problemas que extrapolam as
desenvolvimento fronteiras do Estado-nação, referindo-se
especificamente à necessidade de reversão dos
processos globais de degradação ecológica e
ambiental
refere-se a base física do processo de crescimento e
sustentabilidade ecológica do objetiva a conservação e uso racional do estoque de
desenvolvimento recursos naturais incorporados às atividades
produtivas
está intimamente relacionada com a manutenção
sustentabilidade ambiental do da capacidade de carga dos ecossistemas, ou seja,
desenvolvimento a capacidade da natureza para absorver e
recuperar-se das agressões antrópicas
revela um aspecto particular das sustentabilidades
ecológica e ambiental, relacionado com a
capacidade de suporte da natureza. Neste sentido,
a sustentabilidade demográfica problematiza as
sustentabilidade demográfica
duas anteriores ao incluir como critério de política
do desenvolvimento
pública os impactos da dinâmica demográfica
tanto nos aspectos de gestão da base de recursos
naturais como de manutenção da capacidade de
carga ou de recuperação dos ecossistemas
reconhece que a base do desenvolvimento reside
sustentabilidade cultural do na manutenção da diversidade em seu sentido
desenvolvimento mais amplo e se dirigem, portanto, à integração
nacional ao longo do tempo
vincula-se estreitamente ao processo de construção
da cidadania e busca garantir a incorporação plena
sustentabilidade social do dos indivíduos ao processo de desenvolvimento.
desenvolvimento Esta resume-se, em seus aspectos micro, na
democratização da sociedade, e macro, na
democratização do Estado
projeta no próprio desenho das instituições que
sustentabilidade política do regulam a sociedade e a economia as dimensões
desenvolvimento sociais e políticas da sustentabilidade em seus
conteúdos macros
O avanço da proposta de Roberto Pereira Guimarães reside na decomposição da
Estado no gerenciamento dos recursos naturais. O interessante é que esta proposta nos
mostra que não são apenas as ações de preservação e conservação ambiental locais, que
sustentabilidade urbana sejam elaboradas dentro de todos esses campos de ação. Nesse
sentido, definem-se aqui quatro campos de ações possíveis, que incorporam as relações
descritas e que têm o potencial de melhorar não só a qualidade ambiental como de vida
nas cidades:
padrões de consumo;
equilibrado, pois as políticas, planos, programas e projetos serão feitos não para uma
geração futura abstrata mas para aquela que de fato uso e produz o espaço real das
cidades.
AMBIENTE
INSUMOS E
CONSTRUÍDO
RESÍDUOS
arquitetura,
matéria prima e geração
engenharia
de resíduos
integração das
atividades humanas
REDES DE
GOVERNANÇA DINÂMICAS
estruturas institucionais e SOCIAIS
organizações comportamento –
normas, padrões,avaliação consumo
ambiental controle social
o zoneamento ambiental;
serem seguidos;
edificado, como também dos cidadãos que produzem também o espaço urbano
em escala diferenciada.
o orçamento participativo;
as audiências públicas;
o código do consumidor;
os sindicatos;
e Estado;
mecanismo de pressão.
Constituição Federal de 1988, no artigo 225: "Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
e futuras gerações".
Sobre as ações dentro dos campos de ação das Redes de Governança e das
Dinâmicas Sociais, estas estariam inseridas dentro do que Roberto Pereira Guimarães
porque envolvem: ( i ) o reconhecimento da diversidade, que pode ser tanto social como
próprio.
porquê é importante pensar em ações que tenham como objetivo gerenciar a extração
dos insumos e o tratamento adequado dos resíduos. As cidades são como organismos
vivos que absorvem recursos e emitem resíduos, pois precisam de insumos para manter
habitantes. Porém, antes da explicação de como este processo funciona nas cidades, aqui
será apresentada uma crítica de Kevin Lynch (1981) a esta analogia que se faz das
cidades enquanto um organismo, ressaltando que desta visão o que importa mesmo é a
visão holística de “olhar para este organismo vivo” e todas as suas interelações
proporciona.
“A dificuldade central é a analogia em si. As cidades não são organismos, como
não são máquinas. Elas não crescem ou mudam a si própria, ou reproduzem ou
reparam a si mesmas. Elas não são entidades autônomas, e nem correm, existem
através de ciclos de vida, ou ficam infectadas. Elas não têm partes funcionais
diferenciadas, como os órgãos dos animais. É muito fácil rejeitar as formas
grosseiras das analogias – que as ruas são artérias, os parques pulmões,
comunicações linhas nervosas, esgoto o cólon, o centro das cidades como o
coração que joga sangue no tráfego pelas artérias, e os edifícios de escritórios
(onde estão o grupo de homens de negócios, oficiais e intelectuais) é o cérebro.
Talvez é o ponto de vista holístico a mais importante contribuição da teoria
orgânica: o hábito de olhar para um assentamento como um todo que exerce
muitas funções, no qual os elementos diversos (mesmo se não estiverem
estritamente separados) estão em trocas constantes e apoiadas, e onde forma e
processo são indivisíveis. (...) Incorporando cultura e propósitos, e especialmente
a habilidade de apreender e mudar, pode fornecer um modelo de cidade mais
coerente e defensível” (Lynch, 1981: 98).
Linear porque os recursos que são extraídos de um lado do processo são depositados de
outro lado sem a reutilização ou reciclagem dos mesmos, gerando sérios impactos
ambientais e sociais.
desses recursos, como também da disposição e tratamento inadequado dos resíduos que
recursos hídricos e prejuízos à saúde da população são alguns exemplos dos possíveis
dúvida nenhuma um problema com o qual devemos nos preocupar" (Souza, 2002:3).
do outro lado, podem ter seus impactos analisadas a partir da “pegada ecológica”
uma cidade, de uma região ou de um país e para isso existem diversas ferramentas que
ambiental.
atividades produtivas
9
Para fazer o cálculo da pegada ecológica existem ferramentas disponíveis on-line:
http://www.pegadaecologica.org.br/
http://www.esb.ucp.pt/gea/myfiles/pegada/calcula.htm
http://www.myfootprint.org/en/
autodepuração10 dos recursos naturais, é cada vez mais prejudicada nas cidades em
autodepuração dos cursos d’água que fica comprometida com a quantidade excessiva
de efluentes domésticos lançados sem tratamento prévio. Esta capacidade tem relação
gerenciamento dos resíduos que serão gerados, com por exemplo a construção de
ecossistemas.
para o futuro, mas para o tempo de hoje. É urgente a necessidade de mudarmos não
10
Neste processo, toda a matéria orgânica é decomposta por fungos e bactérias que a utilizam como alimento.
apenas a forma de apropriação dos recursos naturais para a produção do espaço urbano,
mas também nossa forma de viver e de usá-lo para diminuir a nossa pegada ecológica e
como conseqüência, melhorar a qualidade de vida nas cidades. Essa mudança de atitude
relaciona-se com a lógica da eficiência que “(...) insere o homem em processos culturais de
atitude:
municípios mais da metade dos resíduos gerados por toda a cidade são resíduos
da construção civil11.
O esgotamento das reservas próximas às grandes cidades faz com que a areia
reduzir a geração de resíduos. Desse modo, parte dos resíduos gerados são
11
PINTO, Tarcílio de Paula. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São
Paulo, 1999. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
12
JOHN, Vanderley Moacyr. Reciclagem de Resíduos na Construção Civil: Contribuição a Metodologia e
Desenvolvimento. Livre-Docência. Universidade de São Paulo. Ano de obtenção: 2000.
reaproveitados através de ações como estas: coleta e tratamento de água para reuso
nos jardins, sanitários, limpeza; o lodo de esgoto pode ser utilizado como nutriente
Mas existem outras práticas que podem ser pensadas e executadas, desde o
Quanto a utilização passiva dos recursos naturais, é válido lembrar que existem
processo.
Além destas ações, que já vêm sendo realizadas em algumas cidades, existem
14
Um parêntese se faz necessário para colocar uma nova possibilidade que surge e que merece ser investigada:
Quando são tantas as possibilidades de concepção, de sistemas construtivos, de tecnologias, princípios e idéias
presentes e necessárias para a elaboração de projetos de arquitetura de baixo impacto que contribuam para a
sistemas que utilizem fontes de energia alternativa, e de uma arquitetura para o futuro,
Dentro esse contexto muitos arquitetos estão envolvidos na busca de uma nova
arquitetura que tenha o potencial de, ao integrar-se com o meio ecológico e social no
qual está inserida, melhorar as condições ambientais e de vida tanto dos usuários, como
da população do entorno.
a representação técnico-material das cidades representada por “(...) uma matriz composta
construção de um processo de sustentabilidade, será que estamos presenciando a formação de uma nova arquitetura?
rejeitos” e dentro desta lógica, a cidade sustentável será aquela onde “(...) para uma
Mas nem toda arquitetura ou projeto urbano verde pode ser considerado
sustentável sem uma análise criteriosa dos materiais construtivos, dos impactos
resíduos gerados (sólidos e líquidos), do uso que a edificação faz da energia, se utiliza
fontes de energias alternativas, como solar ou eólica, se foi projetada e construída com o
federal no que diz respeito ao uso do solo urbano e à utilização e ou manejo de recursos
criteriosa, como estas são ferramentas de adesão voluntária, nem sempre os aspectos
em cada país, e agrupam os itens a serem avaliados em temas, que refletem as principais
preocupações econômicas, ambientais e sociais de cada região. Por isso cada local,
cultura, região e país devem desenvolver um sistema de avaliação condizente com a sua
com todas as ações que associam a sustentabilidade às cidades. Henri Acselrad (2004)
nos alerta que o meio ambiente é uma temática unificadora e nesse sentido, ações, por
exemplo de planejamento urbano, podem ter como objetivo camuflado “(...) ressignificar
o espaço com gestos confortadores de segurança e controle, dando visibilidade à natureza nas
cidades e exorcizando os medos da destruição ecológica e da instabilização da ordem social”
“(...) ser visto como natural é supor que se traz sobre si o manto da inevitabilidade e da
probidade. Junte-se tudo isso e teremos um caldeirão de bruxas de argumentos, conceitos e
dificuldades de ordem política que podem ser convenientemente a base de intermináveis
debates acadêmicos, intelectuais, teóricos e filosóficos” (Harvey, 2004:282).
Henri Acselrad nos apresenta alguns fatores que podem motivar a associação da
“O meio ambiente, vestido desta roupagem universalista, convém, por certo, aos
propósitos de pré-construção de um consenso social destinado a reconstruir o sentido de
comunidade, solidariedade e interesse comum em um mundo fragmentado, buscando
acomodar as diferenças em uma nova totalidade interdependente” (Acselrad, 2004:28).
15
“Agenda 21 é um documento que estabelece um pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o século XXI,
aprovado por países signatários, entre eles o Brasil, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio de janeiro, em 1992. Consolida-se a idéia de que o binômio desenvolvimento e conservação do meio ambiente é
indissolúvel, tornando compatível as aspirações do direito ao desenvolvimento, principalmente para os países periféricos, e do
direito do usufruto da vida em ambiente saudável para as futuras gerações. O novo paradigma de desenvolvimento deve ser
construído de forma negociada e gradual para tornar possível a construção de um plano de ação e de um planejamento
participativo em nível global, nacional e local” (TEODÓZIO, 2003:46-47)
Além dos projetos de infra-estrutura urbana e de outros projetos de arquitetura e
melhoria da qualidade ambiental e de vida nas cidades. Dentro desse contexto, sugere-
material das cidades. Porém a constituição e o desenho das áreas verdes urbanas não
vêm sendo pensados para o alcance das múltiplas dimensões da sustentabilidade, muito
Afinal o que são as áreas verdes urbanas? Mesmo sem definição clara, se
ensino e educação.
“(...) aquelas com vegetação predominantemente arbórea podendo ser compostas por árvores de
ruas, parques e áreas verdes em torno de edifícios públicos e outros tipos de propriedades
públicas e privadas” (Grey & Deneke apud Hildebrand, 2001:4)
com a definição de Felisberto Cavalheiro e Paulo Celso Dornelles Del Picchia (1992). Na
opinião destes autores, “o termo espaço livre deveria ser preferido ao uso de área verde, por ser
1992:2). Para melhor compreender esta argumentação dos autores é necessário entender
a definição de espaço livre, que neste trabalho não é utilizado em detrimento do termo
“áreas verdes” adotado para a classificação dos fixos da rede técnica ambiental. Sobre o
conceito de espaços livres, estes “(...) são aqueles preponderantemente portadores dos bens
naturais ou, de certo modo, seu receptáculo; assim sendo, seu uso e procedimento deverão ser
controlados em conformidade aos processos naturais” (Spitzer, 1991 apud Lima et.al, 1994:3).
paisagem, conforme argumentação de Ana Maria Liner Pereira Lima et. al (1994). Os
parques urbanos, canteiros centrais, trevos de vias públicas, que tem apenas funções
estética e ecológica, devem, também, conceituar-se como Área Verde. Devem ser
categorias.
Parque Urbano: é uma Área Verde, com função ecológica, estética e de lazer,
entretanto com uma extensão maior que as chamadas Praças e Jardins Públicos.
Praça: como Área Verde, tem a função principal de lazer. Uma praça, inclusive, pode
não ser uma Área Verde, quando não tem vegetação e é impermeabilizada (caso das
considerada Jardim, como é o caso dos jardins para deficientes visuais ou mesmo,
verdes também possui diferentes conceituações: “área verde”, “área livre”, ”espaço
livre”, “arborização urbana”, “área de lazer”, entre outras, que acabam dificultando as
pesquisas e ações de planejamento e gestão desses espaços (Lima et. al, 1994).
das áreas verdes e o planejamento destes espaços também foi e vem sendo realizado, na
maioria das cidades brasileiras, a partir de concepções de espaço absoluto com ênfase no
seu aspecto material e estético, inclusive dentro das práticas de desenho urbano. Porém,
Mesmo que o aspecto estético e a beleza não sejam defendidos para serem os
únicos motivadores do uso dos espaços verdes, quando pensamos em áreas urbanas não
podemos deixar de considerar que estas funções são importantes para aproximar e
motivar o estabelecimento de relações entre as pessoas com estes espaços. Relações que
de novos valores que podem ser incorporados a estes espaços. De qualquer modo,
apesar do pouco conhecimento sobre os processos ecológicos que ocorrem nas áreas
verde foi introduzido nas cidades com os jardins, que além de embelezar as áreas
urbanas traziam também um pouco da natureza para mais perto das pessoas que viviam
dinâmica natural, excluídos de muitos dos benefícios que os serviços ambientais podem
ofertar. Carlos Loboda e Bruno De Angelis nos contam que a princípio os espaços verdes
“(...) tinham uma função de dar prazer à vista e ao olfato. Somente no século XIX é que assumem
uma função utilitária, sobretudo nas zonas urbanas densamente povoadas” (Loboda e De
Angelis, 2005:126).
apesar de ter como um dos objetivos principais a manutenção dos ecossistemas naturais
humanas sobre o meio ambiente. A intenção era proteger a quantidade e qualidade dos
proteção dos recursos naturais com a promulgação das seguintes legislações: Código
das Águas – 1934 / Código Florestal – 1934 / Código de Caça e Pesca – 1938 / Código da
ambiente. Projeções foram feitas para um período de 100 anos indicando como cenário
David Harvey nos alerta que essa retórica alarmista da crise e da catástrofe
qualidade futura dos recursos naturais e as implicações desta para a vida humana, é
“Para começo de conversa, ela presume que temos com toda a certeza e precisão conhecimento do
ponto exato de alguma colisão entre os seres humanos e o mundo natural. Não obstante, a
maioria dos cientistas, mesmo aqueles que fazem soar as trombetas catalisadoras da ação, são
com freqüência vagos com respeito a onde estão de fato os problemas realmente graves e à sua
verdadeira iminência” (HARVEY, 2004:283-284).
natureza ocorreram nas diversas fases da evolução geológica e ecológica do planeta. Pela primeira
vez, a crise ecológica atual não constitui uma transformação natural; é uma transformação da
natureza induzida pela concepção metafísica, filosófica, ética, científica e tecnológica do mundo”
(Leff, 2002:194).
e programas mudaram seu discurso evidenciando uma maior preocupação com o uso
dos recursos naturais e com o ordenamento da terra urbano. A intenção era não
biológicos fez surgir a necessidade de organizar o uso da terra e compatibilizar esse uso
ambiental urbana tais idéias não são. Tais princípios podem ser vistos nas idéias do
biólogo e filósofo escocês Patrick Geddes (1854-1932) sobre o planejamento urbano. Para
ele, a utilização do potencial do lugar também foi apontada como fundamental nas
regiões deveria ser promovido através do planejamento adequado dos sítios e dos
uso racional dos recursos sem a destruição das vantagens naturais do lugar.
ambiental das cidades, mas da totalidade do espaço urbano e que devem, de forma
16
O livro publicado em 1915 “Cities in Evolution” é a mais coerente explanação das idéias de Geddes.
Retomando o desenvolvimento e divulgação de idéias como as de Patrick
escritores como Henry David Thoreau. Sua principal obra foi “Walden” de 1854, e pelo
conteúdo e importância de sua obra Thoreau é considerado por muitos como o pai do
preservar algumas porções de natureza que desempenhassem outros usos para além dos
Thoreau não defendia apenas usos múltiplos da natureza, mas também a necessidade
dos seres humanos respeitarem a natureza (fauna e flora) para que pudessem viver de
alguns instrumentos para se planejar o uso do espaço a partir das suas potencialidades,
com a preservação da natureza, como Henry David Thoreau pensava. Assim para
legislação, e desse modo instrumentos obrigatórios para a gestão dos espaços verdes.
Ao menos este deveria ser o objetivo de todo planejamento, e não apenas do ambiental,
17
Segundo Fonseca (2002) em “Walden” uma de suas obras primas, Thoreau escreve sobre suas excursões no lago
Walden onde ele viveu por dois anos e meio sobrevivendo apenas do trabalho natural .Uma frase do livro tornou-se
célebre e foi citada no filme “Sociedade dos poetas mortos” de 1989 : "eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria
viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não
havia vivido".
na medida que outros usos que não os ambientais, também influenciam de modo
pode ser a que ordena o uso adequado do solo, mas não se pode negar que ambas tem
adequados aos usuários e integrados à dinâmica local e também por outros fatores.
Até onde chegamos aqui, percebemos duas funções bem distintas das áreas
mesmo espaço, na medida em que estão inseridas no espaço urbano onde inúmeras
atendidas pelas áreas verdes. Dessa forma, não podemos mais ver as áreas verdes
urbano.
espaços eram de uso exclusivo de poucos, por comporem no princípio, espaços privados
e não públicos. Realidade não muito diferente dos dias atuais, pelos vários problemas
sociais que impedem que as pessoas comuns de produzir espaços diferenciados e com
Antes de ter um jardim e consciência de que o espaço aberto de seu terreno pode
contribuir para o conforto ambiental de seu espaço de moradia, é preciso resolver outros
estruturas, e todos os elementos que formam o espaço urbano, atendam princípios como os
contidos no conceito de “desenho ambiental” definido por Franco como “(...) desenho
para o ambiente, no qual se supõe que o projeto seja o elemento formulador e indutor de um
Para Enrique Leff (2002:111) “A resolução dos problemas ambientais, assim como a
transetorial do desenvolvimento;
da formação profissional.
Mas apesar da qualidade de vida urbana estar diretamente atrelada á estes vários
fatores descritos acima, não se pode negar que “(...) as áreas verdes públicas constituem-se
elementos imprescindíveis para o bem estar da população, pois influenciam diretamente a saúde
espaços verdes privados em moradias de baixa renda, as prioridades são outras, que
espaços verdes exige custos tanto na compra das espécies como para a sua manutenção.
Mas os espaços verdes privados devem ser ampliados em todos os lugares e para acesso
de todos.
Não é mais possível executar boas idéias apenas “(...) a uma parcela da sociedade
reafirmando e reproduzindo desigualdades e privilégios. Para a cidade ilegal não há planos, nem
ordem. Aliás ela não é conhecida em suas dimensões e características. Trata-se de um lugar fora
aos jardins públicos e privados, Evandro Ziggiatti (2007) nos explica que tais espaços
paisagismo, diferenciadas pela questão da escala (Laurie, 1986 apud Ziggiatti, 2007: 10-
11):
desempenhar outras funções além daquelas principais associadas ao seu uso atual, seja
Na realidade a forma de criação das áreas verdes irá influenciar os usos futuros,
mas para que as áreas verdes desempenhem tanto funções sociais e ambientais é preciso
repensar as funções das áreas verdes, e para isso será apresentada a seguir uma
das pessoas com os ecossistemas e como estes influenciam o bem-estar humano, indo
qualidade de vida nas cidades. Isso porque as áreas verdes podem desempenhar
Carlos Loboda e Bruno De Angelis (2005) nos explicam como estas funções
Sobre sua função ecológica no meio urbano, estas são inúmeras: têm o potencial
espécies deve ser feita de forma criteriosa, e a intensidade na oferta dos serviços
ambientais também dependerá das características locais que devem ser consideradas na
elaboração de projetos de constituição das áreas verdes para tais fins. Outra questão a
ser destacada quanto à escolha das espécies é que além de existirem espécies adequadas
para ofertar serviços ambientais distintos, uma escolha equivocada pode trazer
vem ocorrendo, é que as transformações equivocadas do meio natural para um meio artificial
(técnico) estão acarretando cada vez mais prejuízos a sociedade” (Ferreira, 2003:17).
O que queremos dizer aqui é que nem sempre é necessário criar áreas verdes com
gestão dos recursos naturais a fim de manter ou ampliar os serviços ofertados, porque
18
Uma definição para “comunidade” do Projeto Educar – São Carlos –USP: “Comunidades - um conjunto de todas as
populações, sejam elas de microorganismos, animais ou vegetais existentes em uma determinada área, constituem uma
comunidade; também se pode utilizar o conceito de comunidade para designar grupos com uma maior afinidade separadamente,
como por exemplo, comunidade vegetal, animal, etc. Antes de definirmos o próximo conceito, é fundamental entendermos dois
parâmetros importantes em Ecologia; a todos os componentes vivos de um determinado local chamamos bióticos; em
contrapartida, o conjunto formado por regime de chuvas, temperatura, luz, umidade, minerais do solo enfim, toda a parte não
viva, é chamada de componentes abióticos”.Disponível em: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html
toda área verde desempenha uma função. Para ampliar ou promover a oferta de
serviços podem ser elaboradas diferentes estratégias: quando, por exemplo, não se tem
faixas de separação pode aumentar a área de vegetação (Bolund e Hunhammar, 1999: 8).
Anne Whiston Spirn é o “O ambiente natural de uma cidade e sua forma urbana, tomados em
conjunto (...)” que “(...) compreende um registro da interação entre os processos naturais e os
propósitos humanos através do tempo. Juntos contribuem para a identidade única de cada
explicando que os “Espaços integrantes do sistema de áreas verdes de uma cidade, exercem, em
desenho urbano consciente das múltiplas funções das áreas verdes, ofertar inúmeros
áreas verdes tornam-se locais prioritários e essenciais para as ações que buscam a
mais próximas e integradas as dinâmicas de vida das pessoas. Dizendo de outro modo,
o direito a cidade sustentável, que atenda suas funções sociais e ambientais, defendido
Estatuto da Cidade pode ser alcançado em parte com a criação e manutenção de áreas
verdes urbanas.
Além do mais, como uma pessoa comum pode se sentir participante ativa da
defesa e proteção do meio ambiente, e também recebedora dos benefícios desta ação
golfinhos ou elefantes, não estão próximos da sua realidade material concreta de uso do
espaço? Por outro lado, as áreas verdes além de estarem inseridas no mesmo tecido
urbano em que moram, circulam e trabalham as fazem sentir com maior efetividade os
das pessoas, como por exemplo, o ar puro, o canto dos pássaros pela manhã, o conforto
térmico promovido pela sombra das árvores, e o simples prazer de uma caminhada em
um bosque.
induzir ações que possam individuais e coletivas que podem melhorar a qualidade de
vida de todos, tanto pelos benefícios ecológicos diretos recebidos como pelo aspecto
psicológico que nos faz sentir participantes do próprio futuro. Pessoas resistentes,
que impulsione uma ação coletiva de resistência para a reconstrução daquilo que as
cidades devem ser, um lugar para viver bem. Sobre a resiliência e adaptação não só dos
espaços mas das pessoas também, vale a pena apresentar o seguinte pensamento:
criação destes espaços continua a ser feita de forma incipiente e quando é feita, poucos
têm acesso aos benefícios ofertados. Este é um problema que demanda soluções
agentes privados, seja por falta de recursos financeiros ou pela não compreensão do
necessária uma mudança de olhar sobre a questão ambiental das cidades, que não pode
ser realizada sem a mudança da visão de espaço absoluto para espaço relativo. Essa
naturais, mas que não considera outras relações de uso e benefícios que a população
urbana é preciso considerar as áreas verdes não exclusivamente como espaços intocáveis
(Andersson, 2006:2).
Pelo que foi visto anteriormente, pode-se dizer que as áreas verdes podem
água. A segunda função diz respeito a alguns serviços ambientais que não podem ser
ornamentais.
presente nestes espaços como, por exemplo, para a constituição de redes técnicas
identificação dos fixos que podem compor uma rede técnica ambiental. Para isso podem
Ecosystem Assessment” - MEA)20 porque pensam nas relações dos ecossistemas com o
bem-estar humano, não tendo assim, uma visão quantitativa apenas dos recursos
naturais. A AEM foi realizada não apenas para avaliar a quantidade e qualidade dos
19
No documento da AEM o termo utilizado é “Ecossystems Services”, mas para esta pesquisa optou-se em adotar o
termo “serviços ambientais” porque no espaço urbano as espécies não interagem apenas entre si e sofrem ação apenas
dos fatores abióticos presentes em seus habitats,a presença do homem altera completamente estas relações, e por isso
o termo ecossistema não é ideal para ser utilizado quando não é uma ambiente natural fechado, intocado. Para
complementar o esclarecimento, segue a definição de ecossistemas do Projeto Educar – São Carlos – USP: “(...) todas as
relações entre os fatores bióticos e abióticos em uma determinada área, chamamos ecossistema. Ou de outra forma, podemos definir
ecossistema (...), como sendo um conjunto de comunidades interagindo entre si e agindo sobre e/ou sofrendo a ação dos fatores
abióticos”.Disponível em : http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ecologia.html
20
O objetivo desta avaliação é avaliar as conseqüências das mudanças nos ecossistemas sobre o bem-estar humano.
Além deste, outro objetivo é o de estabelecer uma base científica para fundamentar ações necessárias para assegurar a
conservação e o uso sustentável dos ecossistemas bem como suas contribuições para o bem-estar humano. Ela
fornecerá importantes informações científicas à Convenção sobre Diversidade Biológica, Convenção sobre Combate à
Desertificação, Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas e à Convenção sobre Espécies Migratórias, como também
para vários usuários no setor privado e na sociedade civil. A AEM foi realizada por 1.360 cientistas naturais e sociais
de 95 países, revisada por outros 600 especialistas, composta por representantes de governos, empresas, ONGs,
agências da ONU, acadêmicos e populações indígenas, o que representa o caráter científico desta avaliação. Esta foi
Lançada pelo Secretário General das Nações Unidas, Kofi Annan, em junho de 2001 e finalizada em março de 2005.
Para obtenção de maiores informações sobre a avaliação acessar o website da AEM: www.MAWeb.org
recursos naturais e de seus ecossistemas constituintes, mas de forma integrada avalia e
Figura 4. Benefícios
dos serviços de
ecossistemas ao
bem-estar humano
(AEM, 2006:13)
Os serviços ambientais “(...) são definidos como os benefícios que a população humana
obtém, direta ou indiretamente, das funções dos ecossistemas" (Costanza et al., 1997 apud
outras funções que as áreas verdes podem desempenhar e assim reorientar as práticas
que os recursos naturais podem ter no espaço urbano, como por exemplo: filtração do
Acredita-se que nestas quatro categorias estão incluídas todas as funções que as
áreas verdes podem desempenhar no espaço urbano, para além daquela presente nos
as seguintes categorias (ver tabela 4), que são adotadas nesta pesquisa para identificar e
selecionais quais são as áreas verdes urbanas que representam os fixos dentro de uma
serviços reguladores são os benefícios que a natureza fornece quando regula seus
ambiental e de vida nas cidades? È tempo de aproximar as áreas verdes das pessoas que
vivem na cidade. As soluções não estão distantes das pessoas, na Amazônia, pulmão do
utilização dos serviços ambientais dentro dos limites das cidades fortalece o vínculo e as
relações entre as pessoas pelo fato de sentirem mais diretamente seus benefícios e
Apesar das pesquisas que investigam a oferta dos serviços ambientais em áreas
urbanas terem sido iniciadas no final do século XX e começo do século XXI, os serviços
sempre foram ofertados pelos ecossistemas, mesmo que os projetistas não tenham
pensado nisso na concepção do projeto. Mas as funções eram sim pensadas. Se fizermos
uma análise histórica, por exemplo, da introdução das áreas verdes nas cidades
podemos ver o desempenho de funções diferenciadas (Loboda e De Angelis, 2005),
local. Para Per Bolund e Sven Hunhammar “Pode ser vantajoso gerar serviços de
ecossistemas localmente por razões puramente de eficiência, mas também em níveis educacionais
Pode-se dizer que o conjunto destas áreas verdes formará então um mosaico da
Importante também destacar que não são apenas os impactos e outros problemas
socioambientais que o gerenciamento adequado das áreas verdes urbanas, para a oferta
em um tripé econômico, social e ambiental, fica claro que a oferta destes serviços, para
qualidade do lugar, também gera muitos benefícios econômicos desde a redução dos
gastos com a saúde (por melhorar a qualidade do ar e da água, por exemplo) como
locais cada vez mais agravados pelo processo de urbanização, aumento do fluxo de
importância a escolha de espécies adequadas para a oferta dos serviços, porquê no caso
da filtragem da poluição, por exemplo, “A capacidade de filtração aumenta com mais área de
folhagem, e é maior para árvores de que arbustos ou grama” (Givoni, 1991 apud Bolund e
Hunhammar, 1999: 3). E ainda a capacidade de absorção dos gases varia de acordo com
o tipo/ família/ espécie de árvore (Stolt, 1982 apud Bolund e Hunhammar, 1999: 3).
identificar as espécies mais adequadas para ampliar e/ou promover a oferta de todos os
globo, o que não permite que se faça, por exemplo, uma lista padronizada de espécies
desses ecossistemas, e não pode ser tomada como garantia. Nem os serviços distribuídos de forma
equilibrada no espaço, e por isso as paisagens urbanas devem ser planejadas para garantir o
ambientais ilustra os benefícios reais que podem ser obtidos nas cidades:
Uma única árvore larga pode transpirar 450 litros de água por dia, com a
como fenômeno conhecido como ilha de calor (Hough, 1989 apud Bolund e
Em áreas vegetadas apenas 5% à 15% das águas das chuvas escapam para
de lado, por enxurradas de água pelo bueiro. Isso com certeza irá afetar o
prédio (Ulrich, 1984 apud Bolund e Hunhammar, 1999: 6). O que reforça a
importantes.
ambientais e as condições adequadas para sua oferta em cada local, região ou país, deve
continuar. Tanto para identificar demandas como para ampliar os que já são oferecidos.
Funções desempenhadas pelas áreas verdes e relação com a oferta de serviços ambientais
PERÍODO SERVIÇOS AMBIENTAIS OFERTADOS
FUNÇÃO
LUGAR suporte regulação provisão cultural
Cultivo e manutenção de espécies medicinais
jardim botânico X X
Jardins Árabes
Idade Média funções específicas
pequena escala X X X
jardins internos
plantas frutíferas e aromáticas
Renascimento Cultivo e coleção de grande variedade de espécies
vegetais de diferentes regiões - expostas em jardins X X
botânicos
Jardins com refinamentos estéticos elementos
X
artificiais de ornamento, formas diversas
espaço de alto valor artístico
Jardinocultura
Sistema de irrigação utilizado na agricultura, cuja
Egito21
função primeira é o de amenizar o calor excessivo X X X
das residências
Jardins naturalistas X X
China Jardins de cunho religioso com a inserção nestes dos
elementos da natureza X
Espaços livres assumem função pública -locais de
passeio, conversa e lazer
Grécia
Império Romano -todas as vilas possuíam um jardim X X
e/ou um espaço livre
Adaptação dos jardins à topografia do terreno
Itália desníveis e terraços interligados X X
Vegetação e obras de arte
Jardins maiores em extensão concepção cenográfica
Influência no surgimento das áreas verdes - praças e
França
parques. - aberto à população X X
a natureza como um espaço aberto
América século espaços ajardinados
X X
XVI parques e os jardins públicos
Pernambuco - Príncipe Maurício de Nassau –
Brasil
frutíferas nos trajetos das campanhas de invasão. X X
século XVII
Passeio Público do Rio de Janeiro. ordem do vice-rei
D. Luís de Vasconcelos - 1779 X X
determinado lugar pode indicar no resultado final a qualidade ambiental deste espaço e
Este quadro mostra que “Ao longo da história o papel desempenhado pelos espaços
verdes nas nossas cidades tem sido uma conseqüência das necessidades experimentadas de cada
momento, ao mesmo tempo em que é um reflexo dos gostos e costumes da sociedade” (Loboda e
De Angelis, 2005:129).
Com exceção dos jardins que cultivavam plantas medicinais, a relação destes com
21
“Até o século XVIII a tradição da jardinagem egípcia - o berço da jardinagem ocidental. - é transmitida através dos gregos, dos
persas, dos romanos, dos árabes, dos italianos e dos franceses, imperando no Ocidente sem nenhuma influência da jardinagem
chinesa” (Loboda e De Angelis, 2005:127).
.
agrícolas. E os serviços de regulação ofertados pelas áreas verdes descritas na tabela 5
Este quadro apresentou a evolução das funções de áreas verdes urbanas que ao
longo do tempo tornaram-se espaços públicos para o lazer e contemplação. Nota-se que
na tabela 5 quase nenhuma das áreas verdes ofertou serviços de suporte, porque estes
importante papel das áreas verdes protegidas, pois são elas que ofertam este serviço nas
áreas urbanas. Mesmo que os serviços ambientais de suporte não sejam consumidos
ecossistemas e assim a oferta dos demais serviços (Bolund, 1999:3). Alguns exemplos
dos serviços de suporte que as áreas verdes protegidas podem ofertar: atenuar os efeitos
fauna e flora.
Por isso as ações de preservação ambiental, que envolvem a restrição de usos nas
áreas verdes protegidas, permitindo apenas o manejo controlado dos recursos naturais
serviços de suporte. Apenas é necessário que se reconheça a oferta dos outros serviços
que também influenciam, de forma mais direta, a qualidade ambiental e de vida urbana.
práticas paisagistas, quase sempre não funcionais. Sobre a necessidade de estar atento a
novas funções, Milton Santos nos diz que “(...) apesar da aceleração contemporânea, o espaço
áreas verdes, no momento do planejamento das áreas verdes é importante que seja
acesso aos serviços, como sugerem Ana Maria Liner Pereira Lima, Felisberto Cavalheiro,
João Carlos Nucci , Maria Alice de Lourdes Bueno Sousa, Nilva de Oliveira Fialho e
destinar áreas onde novos e múltiplos usos das áreas verdes para a oferta de serviços
tomadores de decisão política para que não seja comprometida ainda mais a qualidade
ambiental e de vida.
Capítulo 3. As Redes Técnicas
“Uma das mais importantes considerações da compreensão sistêmica da vida é a do reconhecimento que
redes constituem o padrão básico de organização de todo e qualquer sistema vivente. Ecossistemas são
entendidos em forma de teias de alimento (i.e., redes de organismos); organismos são redes de células; e
células são redes de moléculas. Rede é um padrão comum a todo tipo de vida. Onde quer que nos
deparemos com vida, constatamos redes“ (Capra, 2003:4).
tecelagem. Tais atividades buscavam reticular o espaço para dar maior mobilidade aos
fluxos, a exemplo da prática de sulcar o terreno para distribuir água pela plantação
(Costa, 2008). Apesar de o termo ser utilizado com mais freqüência nas últimas três
matemática.
Os trabalhos destas quatro disciplinas têm em comum o fato da rede “(...) designar
Desse modo Pierre Musso (2 004:23) esclarece que “Controlar ou fazer circular, essa é a
22
“Os canais de irrigação construídos pelos povos antigos (egípcios, persas, gregos,etc) sulcando o espaço da plantação para dar
mobilidade à água, assim como a construção de estradas no Império Romano que possuía uma organização espacial com base na
reticulação e que deu a Roma a capacidade de melhor organizar suas estratégias de conquista e controle do espaço são outros
exemplos” (FORGET e POLCARPE, 1997 apud COSTA, 2008:26).
23
“(...) foi o médico e naturalista italiano Marcello Malpigui (1628-1964) quem começou a utilizar o termo rede para descrever o
tecido da pele e a circulação do sangue no organismo. A Medicina passou a observar a ação do sangue e associá-lo ao sentido de
ligação que possibilitava uma conexão por meio de veias e órgãos do corpo humano. Era uma idéia de rede interna ao corpo que
passava a permear o universo da Medicina, embora unicamente contemplativa”. (COSTA, 2008:26-27).
Foi a partir do momento que “A rede saí do corpo e torna-se um artefato superposto ao
em que “(...) ele permite conceber e realizar uma estrutura artificial de gestão do espaço e do
tempo (...)” (MUSSO, 2004:22). Para Anne Cauquelin a rede é concebida como “(...) um
vínculo invisível dos lugares visíveis” na medida em que “(...) é uma estrutura de
conceito de rede ser “(...) oriundo da topologia que, ao contrário da geometria, focaliza apenas,
no objeto estudado, suas propriedades mais simples, e por isso dramáticas, desconsiderando uma
série de fatores, como medidas de largura, altura ou profundidade. (...) Entre as figuras
topológicas, a rede destaca-se por ser vazada, composta de linhas e não de formas espaciais”
(2004:80).
astrônomo, matemático e físico alemão Johannes Kepler, que segundo relata Jodival
Costa foi muito importante para a sistematização do conceito (2008). “Para Kepler, toda
matéria existente é uma questão de conexão geométrica. A ligação entre os átomos, onde um está
ligado aos outros por cargas de energia, revela a idéia de que a matéria é reticulada em sua
Musso esclarece que isso ocorreu a partir do final do século XVIII com Saint-Simon, que
foi segundo este autor, o primeiro pensador a trabalhar a relação entre redes e território
(COSTA,2008: 28).
De acordo com este autor, o Conde de Saint-Simon (1760-1825), que presenciou o
também deveria gerar melhor qualidade de vida para a sociedade (Costa, 2008:29).
fenômenos são feitos da luta existente entre sólidos e fluídos” (Musso, 2004:23). Saint-Simon
defendia a idéia de que a distribuição das riquezas deveria ser feita através das redes, e
sua principal contribuição para a consolidação do conceito foi definir que a circulação na
melhorar a qualidade de vida já foi defendida nesta época, porque os planos e ações de
ordenamento territorial não se apropriaram desta idéia para intervir no espaço dentro
desta lógica? Por enquanto, pode-se concluir que apesar das práticas urbanísticas no
conectadas a dinâmica social, cujas relações e fluxos de idéias e informação fariam toda
a diferença para a manutenção das redes criadas. Os modernos estavam de certa forma
território, pois a “A vida não é um produto da Técnica (...)”, como foi pensado por eles, “(...)
engenharia e arquitetura, e como artefato (Rossi, 2001), foi privilegiada apenas sua
cidade sempre foi considerada como uma estrutura espacial, uma “zona” para
intervenção. O território torna-se, dentro desse contexto, uma folha em branco, no qual é
vivida.
TERRITÓRIO REDE
centrípeto centrífuga
enraízamento desenraizamento
território, que de acordo com Milton Santos, é este uso “(...) e não o território em si mesmo,
que faz dele objeto da análise social. O território são formas, mas o território usado são objetos e
Maria Adélia Aparecida de Souza (2005) defende que “território-usado” “(...) seja
presente, este mundo dominado pela globalização, esta metáfora que incansavelmente torna míope
a realidade da maioria dos habitantes da Terra” (Souza, 2005:252). Ainda sobre este conceito,
“(...) uma categoria integradora por excelência e que, especialmente no planejamento, vem
definitivamente terminar com as falsas premissas da possibilidade da gestão intersetorial à
partir da justaposição do setorial na elaboração dos planos (...). A resposta está
exatamente em assumir o território como a única possibilidade de lida com a unidade”
(Souza, 2005:253).
saber, Santos nos chama a atenção para o uso inadequado do conceito de redes, que traz
como conseqüência “(...) imprecisões e ambigüidades, quando o termo é usado para definir
redes, a criação e controle das redes, estes ainda são prioritariamente agentes
que possuem o controle das redes, com grande destaque para as grandes empresas, passam a ter
(Costa, 2008:34).
O fato é que nas relações das redes com o território, sempre existirá um agente
principal cujo papel será articular os pontos a serem conectados pelas linhas, porém ao
invés de atender apenas seus interesses, essa articulação pode e deve ser motivada para
o atendimento de interesses coletivos, de todos que usam e vivem por entre os espaços
que são articulados pela rede. Além do mais, deve-se motivar e promover o
Marcon e Moinet “(...) a revolução das redes é também uma revolução dos poderes. Ela acontece
ao mesmo tempo em que se dá a passagem do poder coercitivo para o poder normativo” (2001:51
atividades com características de reticulação espacial não ser recente, apenas nas últimas
três décadas é que o conceito vem sendo trabalhado com maior intensidade nas ciências
técnicas ainda não foi percebido, nem vem sendo utilizado dentro da lógica do
pensado em sua relação com o espaço, a intenção, por exemplo de criar espaços mais
solidários e saudáveis, pode ser realizada através de novas articulações e conexões que
materializar intenções no espaço, o geógrafo Claude Raffestin escreveu que “(...) a rede
faz e desfaz as prisões do espaço, tornado território: tanto libera como aprisiona, é o porquê dela
ser o instrumento por excelência do poder” (Raffestin, 1993 apud Costa, 2008; 45).
Mas a técnica em si, imposta no território com a implantação das redes, não é
portadora da transformação desejada, ela é “(...) um meio de ação do espaço” que conforme
sua concepção, com a incorporação ou não do dado social, terá maiores ou menores
que irá fazer com que a implantação das redes no território consiga efetivamente
concretizar tais transformações serão as ações dos agentes sociais entre si e com os
modernistas, que foi realizada dentro de outra lógica, apesar de ter também a intenção
uma justificativa para as falhas, e não alcance dos objetivos e idéias modernistas pelo
fato de não considerarem a importância das ações dos agentes sociais no processo de
transformação e melhoria do espaço urbano. Para eles apenas a técnica, a forma o objeto
construído seria capaz de induzir às mudanças. O que não ocorreu muito em função do
conta de que não “(...) não é a técnica que se constitui elemento provedor do desenvolvimento,
nem tampouco é ela que domina o território. A técnica é instrumento para uma finalidade, o
construídas, a análise das redes técnicas existentes também traz outro benefício, também
planejamento urbano.
território. Para ele uma análise espacial do espaço, a partir das técnicas existentes e que
que podem ser localizadas no tempo (Santos, 1996:61). Com este tipo de análise, não
reconstruir a “(...) história dos instrumentos e meios de trabalho postos à disposição do homem”
(Santos, 1996:61).
explicam nada, e seu estudo deve ultrapassar, conforme defende Milton Santos “(...) o
dado puramente técnico (...)” exigindo “(...) uma incursão bem mais profunda na área das
próprias relações sociais” (Santos, 1996:63). Para o autor são as relações sociais que “(...)
que explicam como em diferentes lugares, técnicas semelhantes atribuem resultados diferentes aos
seus portadores, segundo combinações que extrapolam o processo direto da produção e permitem
pensar num verdadeiro processo político de produção” (Santos, 1996:63). Assim faz sentido
pensar que a abordagem e análise espacial a partir das redes técnicas possibilitará,
redes.
Depois da explicação sobre a origem do termo e início da operacionalização do
conceito falta ainda uma definição sobre o que é uma rede, e sobre isto, Santos
argumenta que existem duas grandes matrizes nas quais se encaixam as denominações e
conceituações: uma que considera apenas sua realidade material e outra que considera
pessoas e valores que estas possuem, podemos concluir que a segunda matriz é mais
realista, tornando a rede política e social e não apenas material (Santos, 1999 apud
Costa, 2008: 33). Dentro desse contexto Bruno Latour afirma que as redes são portadoras
de um valor social, político, econômico e/ou cultural, ou seja, são híbridas (Latour, 1994).
componentes sociais, faz sentido pensar como Bruno Latour sobre sua composição a
partir de “linhas conectadas e não superfícies”, que se estendem por quase todo lugar
(Latour, 991:160 apud Haesbaert, 2006: 283). Assim, dentro da segunda matriz
apresentada por Milton Santos, a rede não deve ser considerada apenas:
do território. Rogério Haesbaert nos informa que “(...) entre os sociólogos, em geral
partidários de uma não-espacialidade” das redes, há quem reclame dos riscos desta leitura
desmaterializada” e por este motivo, reforça-se mais uma vez a necessidade do estudo,
análise e concepção das redes tendo-se como base as leituras materiais e sociais do
espaço urbano, não se deve nem privilegiar as técnicas em detrimento do dado social,
organização do território é preciso dizer que elas, apesar de constituírem uma realidade
nova, conforme nos conta Milton Santos, são apenas um dos elementos que formam o
“(...) além das redes, antes das redes, apesar das redes, depois das redes, com as redes, há
o espaço banal, o espaço de todos, todo o espaço, porque as redes constituem apenas uma
parte do espaço e o espaço de alguns” . Sendo assim, ele continua “O território, hoje,
pode ser formado de lugares contíguos e de lugares em rede: São, todavia, os mesmos
lugares que formam redes e que formam o espaço banal. São os mesmos lugares, os
mesmos pontos, mas contendo simultaneamente funcionalidades diferentes, quiçá
divergentes ou opostas” (Santos, 2005:256).
Compartilhando a mesma idéia, Claude Raffestin afirma que as redes são um dos
e que além das redes encontram-se nessa categoria também as malhas e os nós (núcleos
urbanos), que são “(...) privilegiados diferentemente conforme a sociedade em que estamos
inseridos” (Haesbaert, 2006: 289). Para Milton Santos o território torna-se suporte das
redes, como uma prótese indissociável do mesmo (1999 apud Costa, 2008: 55).
relações entre a sociedade e o meio ao substituir o meio natural por um meio cada vez
congêneres e com os outros seres vivos são relações técnicas” (2001:83). O autor continua a
“(...) descrevem o processo de produção em seu sentido forma, como inter-relação entre o
ser humano e a natureza, para mudar a forma desta. Essas relações se modificam segundo
o nível de desenvolvimento da técnica, os conhecimentos tecnológicos e científicos e a
amplitude de utilização do entorno” (Foladori, 2001:83).
técnicas serem cada vez mais aplicadas no campo, são estabelecidas diversas relações
técnicas entre sociedade e natureza, desde a sua criação até para sua manutenção e/ou
expansão. Tais atividades exigem “(...) adaptações do território, com a adição ao solo de
acréscimos cada vez mais baseados nas formulações da ciência e na ajuda da técnica” (Santos,
1996:73).
Para Aldo Rossi (2001:57) “(...) o processo dinâmico da cidade tende mais à evolução do
que à conservação”. Assim, qualquer utilização do meio natural produz o meio técnico no
qual o homem desenvolve suas atividades a fim de atender seus anseios e demandas.
objetos técnicos e não mais pela chamada primeira natureza, com suas leis próprias, o
homem passa a ter maior domínio sobre os objetos construídos e assim maior poder de
intervenção no espaço, sem depender das forças naturais. De acordo com o filósofo
Gilbert Simondon “(...) quanto mais próximo da natureza é o objeto, mais ele é imperfeito e
quanto mais tecnicizado, mais perfeito, permitindo desse modo um comando mais eficaz do
já existentes.
Renata Ferreira nos alerta que algumas inovações técnicas, ao conduzir um novo
econômicos e ambientais (2003:5). Isso porque a criação do meio técnico não modifica
apenas o ambiente no qual vivem os homens, mas também e de modo intenso e direto
“(...) causa mudanças nas condições de existência da sociedade como um todo” (FERREIRA,
“Quem faz a técnica é o homem; sua própria invenção posteriormente o domina. A técnica como
um universo de instrumentos, pode aumentar tanto a fraqueza como o poder de uma sociedade.
(...) Sabemos que as técnicas trouxeram aprimoramentos importantes para a humanidade, mas
precisamos ter consciência que ela, mal empregada, acabou gerando vários problemas observados
hoje. Os objetos técnicos são criados pela ciência inicialmente, como instrumentos de auxílio ao
trabalho humano, depois tornam-se em máquinas para dominar a natureza e a sociedade”
(Ferreira, 2003:5).
comanda nossa vida, nos impõe relações, modela nosso entorno, administra nossas relações com o
entorno” (1996:20). Defendendo a mesma idéia, Jodival Costa complementa ao dizer que
constituintes do espaço ambiental” (1997:130). Apesar de esta última mudança ser mais
uma necessidade do que uma realidade nos dias atuais, essa colocação reforça mais uma
importante diferenciar os períodos nos quais as relações sociais com o meio natural
que a relação mais direta com o meio natural foi estabelecida pelas civilizações ou
meio técnico foram desenvolvidas “(...) nas sociedades e comunidades industrializadas desde
o início da era das revoluções industriais, isto é, desde o fim do século XVIII na Inglaterra e no
início do século XIX no restante da Europa” (Ferreira, 2003:8). E foi nas sociedades
industrializadas que se viu a presença cada vez mais intensa de técnicas, fato que até
hoje “(...) caracteriza a nova condição humana nas sociedades industrializadas” (Ferreira,
2003:7).
mecaniza. Em acordo com as idéias de Max Sorre (1948) e André Siegfried (1955) o autor
explica que foi nesse período que ocorreu a criação do meio técnico, substituindo o meio
natural. Porém no mundo de hoje, esta categoria é insuficiente, sendo preciso pensar no
Ainda a respeito das redes técnicas, Milton Santos defende a idéia de que existe
com elas uma nova dimensão do espaço, quando consideram não só a materialidade
análise espacial que considerem essa quinta dimensão, que representa a vida real
vida de uma sociedade abstrata, sem conexão com o território usado e vivido.
Capítulo 4. As Redes Técnicas Ambientais
“Para além de seus jogos metafóricos, a rede absorve, atualmente, a questão da mudança social, ela é a
prótese técnica de utopia social” carregando “(...) a promessa de um sistema futuro, o da associação
universal, anunciador de um novo tipo de relação igualitária”
(Musso, 2004:34)
espaço (homens, instituições, meio ecológico e infra-estrutura 24) este capítulo começa
Concordando com a indagação feita por Santos (1997) e assumindo que o meio
assume-se que tais estruturas na realidade são as redes técnicas ambientais existentes
nas cidades. Mesmo que ainda não estejam estruturadas totalmente, os fixos e fluxos já
24
Citando as definições de meio ecológico e infra-estrutura definidas por SANTOS (1997): Meio ecológico: conjunto
de complexos territoriais que constituem a base física do trabalho humano. Infra-estrutura: são o trabalho humano
materializado e geografizado na forma de casas, plantações, caminhos.
Vimos que as redes técnicas são
Fritojf Capra nos apresenta seu pensamento sobre este tipo de rede:
“A vida no campo social também pode ser compreendida em termos de rede, mas não estamos aqui
abordando reações químicas; e sim comunicações. Redes vivas em comunidades humanas são as
redes de comunicação. Assim como as redes biológicas são também autogeradoras, mas o que
geram é especialmente o impalpável. Cada comunicação cria pensamentos e significados, os quais
por sua vez dão lugar a comunicações posteriores, e assim uma rede inteira gera a si própria. À
medida que comunicações continuam a se desenvolver na rede social, eventualmente produzirão
um sistema compartilhado de crenças, explicações, e valores — um contexto comum de
significados, conhecidos como cultura, o qual é continuadamente sustentado por comunicações
adicionais” (Capra, 2003:4).
Milton Santos também nos explica o modo como as relações sociais “(...)
comandam os fluxos que precisam dos fixos para se realizar. Os fixos são modificados pelos
fluxos, mas os fluxos também se modificam ao encontro dos fixos. Então, se considerarmos que o
espaço é formado de fixos e de fluxos é um princípio de método para analisar o espaço (...)”
(Santos, 1996:166).
vimos no capítulo anterior, fica claro o entendimento de que as áreas verdes urbanas
fazem parte de uma rede técnica ambiental de importância fundamental para a melhoria
da qualidade ambiental e de vida nas cidades, uma vez que as áreas verdes, por serem
criadas através da racionalidade das ações humanas também podem ser consideradas
região com estes espaços verdes para a elaboração e execução de projetos urbanos e
Mas a concepção e o papel desse tipo de estrutura ambiental foi pouco adotada por
existiram nos espaços urbanos, as pessoas sempre viveram e vivem ao lado delas, com
graus diferenciados de adequação ao meio físico. Ainda falta uma melhor compreensão
surgem como uma importante estratégia metodológica para uma organização espacial
serviços ambientais que são ofertados pelas áreas verdes urbanas, ampliando os
verdes,a infra-estrutura verde, os parques lineares, entre outros poderiam ser utilizados
Além destes corredores, alguns municípios vêm criando parques lineares como
qualidade dos projetos têm se revelado ineficiente tanto para ampliar a conservação das
espécies, como para promover algum tipo integração com os habitantes locais,
25
Em 1967 dois cientistas, Robert MacArthur e Edward Wilson desenvolveram uma teoria sobre o equilíbrio das
espécies e ilhas que teve uma profunda influência na conservação da natureza terrestre, incluindo o planejamento de
corredor de fauna: a biogeografia de ilhas (Hellmund e Smith, 2006: 31). Esta teoria promoveu uma mudança no
modo de analisar e pensar espacialmente as estruturas e elementos da paisagem, influenciando as análises e ações de
ecologistas e conservacionistas, planejadores e arquitetos da paisagem.
escolhidas como o desenho e os materiais construtivos adotados nos projetos, não são
adequados para o espaço, nem para o uso pelas pessoas, que não considerados em sua
diversidade social nem ambiental. Nesse caso podemos voltar a crítica feita ao projeto
moderno, pois neste caso também, o das conexões físico-ambientais que vêm sendo
objetos técnicos, ou seja dos corredores ou parques lineares por si só, não trará a
mudança necessária e desejada. Porque, mais uma vez, as idéias não estarão conectadas
aos lugares.
fisicamente dentro destes espaços. Pouco se fala sobre a necessária integração entre as
brasileira ainda objetiva disciplinar a atividade humana, para torná-la compatível com a
proteção do meio ambiente, desse modo fica muito restrito o tipo de relação e
apropriação destes espaços pela sociedade. Não que as leis não deveriam existir, são de
ambiental – APA (Lei Federal no 6.902, de 27/04/1981). Mas todas elas de modo geral
ainda pensam de modo restrito e específico as funções que as áreas verdes podem
constituição das APAs por incluir terras privadas dentro da delimitação de sua área,
como no que diz respeito ao uso das APPs, que tem seus usos regulamentados através
sociais de uso destes espaços, ao definir usos nas APPs em áreas urbanas para fins de
permite o uso dos recursos naturais, desde que seja feito de modo equilibrado.
Mesmo assim uma análise da realidade das cidades brasileiras mostra diversos
além dos saberes ambientais, que normalmente fundamentam a elaboração de tais leis,
urbana, que não tem em suas raízes apenas questões ambientais, mas também sociais,
econômicas e políticas.
forma a ocorrência desses conflitos. Porque no espaço urbano existem outras forças
agindo nas áreas verdes e seus sistemas ecológicos, para além dos processos naturais
que ocorrem dentro de um ecossistema, e que devem ser considerados para ampliar a
manutenção e conservação das áreas verdes urbanas e a criação das redes técnicas
primeira natureza.
5) A estruturação e constituição das redes técnicas ambientais deve ser feita a partir
totalidade, deixando para trás aquela visão de espaço absoluto, que leva em
consideração apenas atributos físicos e acabam assim por limitar as análises sobre
Sobre este último item, condição essencial para o desenho das redes técnicas
aspectos ambientais e sociais podem ser mais facilmente analisados de forma integrada,
através de uma análise holística e global das dinâmicas sociais que envolvem o uso do
espaço. Esta abordagem vai além dos limites físicos da bacia hidrográfica, muito
geográficos, cuja análise não permitem o entendimento real das forças condicionantes da
questões ambientais, é preciso desenhar a rede técnica que será implantada no território
meio físico-natural.
Embora não exista uma simples e única receita para o desenho e constituição de
uma rede técnica ambiental, existem vários princípios úteis e passos sistemáticos que
podem contribuir para projetos bem sucedidos, que apesar de terem sido desenvolvidos
para a criação de caminhos verdes (greenways) podem também ser utilizados como
ponto de partida para a constituição das redes técnicas ambientais (Hellmund E Smith,
2006: 7). Ao seguir tais princípios na elaboração de projetos de redes técnicas ambientais,
é possível desenvolver projetos verdes que ampliem as conexões física, ambiental e
objetivos em mente;
Deve-se conhecer a dinâmica ecológica das áreas verdes. Isso significa, por
exemplo, que as dimensões dos objetos técnicos de uma rede técnica ambiental
devem ser determinadas não somente em função do quê está dentro dela, mas
de uma sobre a outra, já que de certa forma estão todas, ao mesmo tempo,
praças podem ser os fixos da rede, podem também ser os fixos, apesar da escala
Além das áreas verdes, as linhas de paisagem, como canais, ou estradas de ferros
urbana em suas dimensões social e ambiental. É importante ter em mente que para cada
ambientais. Sem tirar da mente que “Nós devemos ver qualquer lugar como um todo social,
urbanas, que serão explicados a seguir, mas que devem ser utilizados a partir do
instrumentos26 para se determinar o estágio em que se está, onde se deseja chegar, e qual
é o melhor caminho para chegar lá, aqui é proposto que para criar, manter e fortalecer as
projetos que serão considerados aqui como instrumentos da rede técnica ambiental. São
preservação e conservação ambiental das áreas verdes e das relações potenciais que
26
Alguns instrumentos do planejamento ambiental utilizados para atingir fins específicos: zoneamento ambiental; estudo de
impacto ambiental; planos de bacia hidrográfica, planos diretores ambientais, planos de manejo e áreas de proteção ambiental.
podem ser estabelecidas com os moradores locais a fim de se criar uma estratégia de
Apesar de parecerem recentes por terem como objetivo promover uma maior
preservação ambiental, as idéias por trás destes projetos são antigas. Além do aspecto da
integração entre recursos naturais e sociedade, outro diferencial destes projetos, que vai
fixos que ofertem diversos serviços ambientais, é a consideração de várias funções que
O desenho destes espaços, que têm o potencial de ampliar a conexão das redes
possuem em seu interior fauna e flora que para serem preservados precisam ter seus
ecológicas de cada área verde, a organização espacial dos elementos deve ser feita de
modo específico. Per Bolund e Sven Hunhammar nos explicam porque isto deve ser
feito:
“Para a preservação da fauna, o tamanho e a natureza das áreas verdes urbanas também é
importante (...). Para se ter uma alta diversidade de plantas e espécies na cidade é
necessário que as conexões entre os ecossistemas que circundam a cidade e os espaços
verdes não sejam interrompidos. Os pequenos parques urbanos e florestas urbanas são
freqüentemente muito pequenos para sustentar uma variedade de fauna e flora dentro
deles. Através da migração de organismos de grandes núcleos de áreas de fora da cidade a
diversidade nos ecossistemas urbanos pode ainda ser mantida” (Bolund e Hunhammar
1999:8).
Para atender o objetivo de ampliar a oferta de serviços ambientais (de suporte, de
necessários. Por tudo isso, é sugerido que para o desenho das redes técnicas ambientais,
Sobre a origem das idéias que podem fortalecer as conexões da rede técnica
contam que foi Frederick Law Olmsted quem reconheceu o potencial dos espaços verdes
lineares em fornecer acesso aos parques urbanos, e estender os benefícios dos parques
aos bairros próximos (2006: 26). Em seus projetos Olmested (em conjunto com seu
parceiro Calvert Vaux) melhorou a experiência recreacional e estética dos visitantes dos
parques, ligando-os uns aos outros por pistas lineares, denominadas parkways.
vida nas cidades. As parkways criadas por Frederick Law Olmsted são caminhos
Drexel Boulevard e Martin Luther King Drive, Chicago (1871); "Emerald Necklace"
Olmsted, porém como advento dos automóveis, esses espaços adquiriram outras
homem como os edifícios, lugares e espaços (forma elaborada). Além dos aspectos
plano da cidade e nos edifícios que a formam, tanto individualmente como agrupados
Estas idéias assemelham-se as que justificam nesta tese a adoção da bacia ambiental
como unidade de análise espacial para a posterior constituição e estruturação das redes
técnicas ambientais.
27
Cada overlay (camada) representa uma diferente categoria de uma característica natural, como hidrologia, geologia
e plantas comunitárias. Para cada tipo de característica, mais sensível é a área para os impactos do desenvolvimento,
uma sombra escura é recebida. A combinação de sombras, e assim a sensibilidade de todos os lugares. Assim, a
conveniência relativa de diferentes áreas para o desenvolvimento, de vários tipos e intensidades, ou para
conservação era determinada (HELLMUND E SMITH, 2006: 30).
É importante ressaltar que a metodologia para o planejamento da paisagem
desenvolvida por Ian McHarg não pretende excluir o desenvolvimento e sim distribuí-lo
Howard que desenvolveu outro conceito também muito conhecido entre arquitetos e
urbanistas, o de cidade jardim (1898) que foi adaptado com vários graus de sucesso em
Howard pretendia isolar as cidades com cinturões de terra rural para limitar o
assim os benefícios de ambos os espaços para a sociedade (Hellmund e Smith, 2006: 28).
Segundo afirmação de Paul Hellmund e Daniel Smith “(...) o conceito Cidade Jardim
incorporou uma mistura de cidade e natureza e inclui greenbelts como uma específica zona de
verdes arborizados que iriam formar uma área linear, ou cinturão em volta e através de
cidades com espaços verdes para bloquear o crescimento urbano, pois incluía o uso
2006: 28-29). Mais uma vez, uma idéia que pensa na integração entre recursos naturais e
desenvolvidos por estes autores em função da ênfase crescente dada à ecologia e da sua
preservação e a conservação dos recursos naturais. Ele chegou a esta conclusão pela
topografia acentuada. O que hoje justifica no Brasil, entre outros motivos, a delimitação
das áreas de preservação permanentes (APPs) nas margens dos rios e córregos, áreas ao
definidos em lei.
corridors) (Hellmund E Smith, 2006: 29). Este trabalho merece destaque porque os
Edward Wilson desenvolveram uma teoria sobre o equilíbrio das espécies em ilhas que
possível atingir metas ecológicas mais amplas, enquanto com os caminhos verdes é
relaciona-se diretamente com a noção de preservação, o que justifica sua relação com o
alcance de metas ecológicas mais amplas: “(...) uma rede interconectada de áreas naturais e
outros espaços abertos que conservam os valores e funções dos ecossistemas naturais, sustentando
sistema natural de suporte de vida (Benedict e Mcmahon, 2006). Esse sistema natural nos
remete àquela infra-estrutura acoplada ao meio físico definida por Santos (1997) no
restaurar o sistema natural de suporte de vida é uma necessidade e não uma amenidade.
Mark Benedict e Edward McMahon explicam que enquanto o espaço verde é visto
casos restaurados (2006:4). Nesse ponto, entra o papel do fluxo da rede técnica
no qual é usado: para alguns se refere às árvores que fornecem benefícios ecológicos nas
2006). Posteriormente foram realizados diversos estudos focados nas interações entre
paisagens (biogeografia de ilhas). Já nos anos oitenta começou a ser difundida a idéia de
que preservar áreas naturais isoladas não era suficiente para proteger a biodiversidade e
como possibilidade alternativa na gestão das áreas verdes urbanas, pela consideração do
objetivo principal da criação de ambos é buscar o ajuste ideal entre recursos naturais e
destes espaços (Hellmund e Smith, 2006). Ao mesmo tempo, diante da rápida perda de
3).
necessários.
rede técnica ambiental trabalha-se com dois tipos de fixos: os primários que já existiam e
que são a origem e razão da ampliação ou outros arranjos espaciais que podem ser feitos
através do uso dos instrumentos de desenho urbano que foram descritos acima. A
criação de um caminho verde ou parque linear pode, por exemplo, conectar fixos
primários (fragmentos de vegetação nativa) através de corredores onde são plantadas
primários, e ampliados pela criação de fixos secundários (áreas verdes criadas por
articulado de fixos (objetos técnicos) e fluxos (matéria, serviços e informação) nesta parte
do livro serão definidos os elementos que constituem uma rede técnica ambiental,
considerada uma estratégia metodológica para o planejamento e gestão das áreas verdes
Sobre qualidade ambiental e sua relação com a qualidade de vida é preciso falar
proposto a partir das redes técnicas ambientais envolve o sentido que será exposto a
seguir. De acordo com Weingartner (2001:04) a qualidade ambiental deve ser entendida
não somente como um meio físico ecologicamente equilibrado, mas também como “um
meio ambiente humano onde os anseios e desejos dos indivíduos, respeitando a diversidade e a
espacial não pode ser excluída da análise e das reflexões sobre os tipos de intervenções
Nas redes técnicas ambientais os fixos são todas as áreas verdes urbanas que
“espaço livre” quando se discute o planejamento de áreas verdes nas cidades, porque
este é mais abrangente, aqui é adotado o termo “áreas verdes” para todos os tipos de
As áreas verdes, os fixos da rede, podem ser aquelas protegidas legalmente, o que
não impede, dentro do contexto urbano principalmente, o uso mesmo que restrito,
destes espaços. O importante é que as áreas verdes para estarem incluídas dentro de
ambientais28, dentre aqueles que foram apresentados no Capítulo 3 “As funções do verde
urbano”.
Assim, apresentam-se aqui alguns tipos de áreas verdes que podem formar a rede
28
Relembrando o que os serviços ambientais “(...) são definidos como: “os benefícios que a população humana obtém, direta
ou indiretamente , das funções dos ecossistemas" (Costanza et al.,1997 apud BOLUND e HUNHAMMAR, 1999:3).
rede, pois todos estes espaços ofertam determinados serviços ambientais, e é aqui que
não só as áreas públicas podem fazer parte desta rede, mas também áreas privadas, que
tenham gramados, jardins, hortas, canteiros, e qualquer tipo de arborização que ofertem
mesmo que com graus e intensidades variados. Resumindo, todas as áreas verdes
urbanas podem ser incluídas e consideradas como sendo os fixos da rede. Talvez seja
ambiental para realizar uma avaliação entre as duas categorias de áreas verdes (públicas
A respeito das áreas verdes que podem ser consideradas os fixos de uma rede
partir das áreas verdes públicas com objetivos de proteção e conservação ambiental 29
outras áreas verdes públicas, que não tem, necessariamente recursos naturais de
29
Para esclarecimentos e entendimento de diferenças no uso do espaço, seguem as definições de proteção,
preservação e conservação ambiental definidas na Lei Federal 9985/2000 que cria o Sistema Nacional das Unidades de
Conservação – SNUC: “Art. 2o - II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a
preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o
maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das
gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral; V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e
políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos,
prevenindo a simplificação dos sistemas naturais; VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações
causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais; VII - conservação in situ:
conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios
naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades
características”.
30
São consideradas unidades de conservação todo “(...) espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e
limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (SNUC, LEI No
9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000(. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm.
relevante interesse ecológico, definidos por Per Bolund e Sven Hunhammar (1999) como
quais não são permitidas as visitas públicas, a não ser para fins de educação ambiental,
com é o caso das estações ecológicas 31, são ofertados serviços ambientais que podem ser
acessados sem a necessidade de estar dentro deste espaço, como por exemplo, a
regulação climática, cujos benefícios são sentidos por todos aqueles que moram e
31
Um exemplo é a Estação Ecológica de Murici, em Alagoas, considerada uma das mais importantes florestas do
mundo e uma das regiões prioritárias para a conservação de aves no hemisfério ocidental. Para saber mais a respeito
das estações ecológicas brasileiras acessar o link do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA http://www.ibama.gov.br/siucweb/listaUcCategoria.php?abrev=ESEC. Neste site é possível
encontrar a lista das estações ecológicas e outras unidades de conservação.
Reserva da Fauna
-área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-
científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos
Refúgio de Vida Silvestre
faunísticos – áreas particulares desapropriadas – visitação pública
- proteger ambientes naturais para
permitida - proibido o exercício da caça amadorística ou profissional
a existência ou reprodução de
Reserva da Fauna
espécies ou comunidades da flora
- área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência
local e da fauna residente ou
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais
migratória – pesquisa científica –
- preservar a natureza - melhoria dos modos e da qualidade de vida e
visitação publica permitida -
exploração dos recursos naturais das populações tradicionais –
constituído também por áreas
necessidade de Conselho Deliberativo – visitação pública permitida –
particulares
pesquisa científica
Reserva Particular do Patrimônio Natural
- área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar
a diversidade biológica
jardins, canteiros, hortas , calçadas, gramados, campos de futebol, campos de golfe, play grounds, cemitérios,
verdes, espaços abertos, espaços livres) os fixos da rede técnica ambiental são todos os
privadas, pois em todos é possível ofertar serviços ambientais. Ana Maria Liner Pereira
Lima et. al (1994:5) definem estes dois tipos de paisagens onde encontram-se os
elementos verdes:
processos ecológicos existentes. Estes devem ter suas funções ampliadas a fim de
alguma foram com estas áreas, na tentativa de atingir a necessária integração entre
natureza e sociedade.
Sendo assim, nas áreas verdes protegidas não se deve ter em mente apenas os
recursos naturais (fauna e flora) pois os benefícios devem ser estendidos também as
pessoas com as áreas verdes urbanas próximas ao seu ambiente de moradia, como
também outras dentro de sua cidade, desde que sintam diretamente os benefícios e
recursos naturais e dos processos ecológicos existentes nas áreas de proteção ambiental
para a ampliação da oferta dos serviços ambientais. Guillermo Foladori nos alerta sobre
Relembrando o que foi dito sobre a importância das redes técnicas ambientais, é
importante que o foco, na constituição das redes, não seja nem apenas a natureza, ou
ofertados por cada uma destas áreas verdes, no intuito de orientar estratégias para
ambiental e à conservação.
Uma análise dos serviços ambientais ofertados pelas áreas verdes urbanas mostra
para que as outras áreas verdes urbanas consigam ofertar serviços com qualidade
adequada.
serviços de suporte que são a exigência para a oferta dos demais serviços, pois somente
espécies que podem ofertar os outros tipos de serviços ambientais. Quanto às outras
Tabela 7. Oferta de Serviços Ambientais pelos fixos (áreas verdes protegidas – UCs) da
Rede Técnica Ambiental
suporte e de regulação (ver tabela 7), tornando-se assim importantes fixos para a
manutenção da qualidade ambiental da área em que estão inseridas. Mas como o uso
recebido de forma indireta pela população, com poucos benefícios culturais ofertados, já
Tabela 8. Oferta de Serviços Ambientais pelos fixos (áreas verdes protegidas – APPs) da Rede
Técnica Ambiental
Áreas verdes PROTEGIDAS
Serviços Ambientais ofertados
Objetos Técnicos
Serviço Serviço Serviço Serviço
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO Ambiental de Ambiental de Ambiental Ambiental
PERMANENTE Suporte Regulação de Provisão Cultural
A previsão legal das áreas de preservação permanente feita através das seguintes regulamentações:
Código Florestal (Lei 4.771/65 e suas alterações), e as regulamentações decorrentes: Resoluções
CONAMA 302 e 303,32 de 20.03.2002 e a pela recente Res.CONAMA 369, de 28.03.2006.
os serviços de suporte e de regulação, o que justifica a sua proteção legal, como foi dito
anteriormente (ver tabela 8). Principalmente nos espaços urbanos, com a crescente
impermeabilização do solo, a manutenção de áreas com mata ciliar nas margens dos
rios, conforme estabelecido em lei, permite a infiltração da água da chuva direta e vinda
do escoamento das águas pluviais. Esse processo faz uma filtração de alguns poluentes
minimizando a contaminação e poluição das águas dos rios e córregos urbanos. Estes e
outros processos regulados pelo sistema ecológico das APPs contribui de forma
relacionados à vida humana. Sobre a oferta dos serviços de provisão, estes são ofertados
ecológico que purifica a qualidade da água está regulado, levando em consideração que
nas APPs estão localizadas as nascentes e fontes de água. A oferta dos serviços culturais
pode ser realizada nas APPs desde que sejam seguidas as orientações da Resolução
lazer, contemplação e educação ambiental nestes espaços, que por estarem inseridos em
contextos urbanos, atenderiam a uma demanda crescente dos moradores locais, carentes
32
Resolução CONAMA 302, de 20.03.2002: Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação
Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. Resolução CONAMA 303, de 20.03.2002: Dispõe
sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. Resolução CONAMA 369, de 28.03.2006:
dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam
a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente – APP.
Tabela 9. Oferta de Serviços Ambientais pelos fixos (áreas verdes públicas e privadas) da
Rede Técnica Ambiental
Áreas verdes PÚBLICAS e PRIVADAS
Serviços Ambientais ofertados
Objetos Técnicos
Serviço Serviço Serviço Serviço
ÁREAS VERDES PÚBLICAS E Ambiental Ambiental de Ambiental Ambiental
PRIVADAS de Suporte Regulação de Provisão Cultural
Praças X X
Áreas arborizadas
X X
canteiros centrais, calçadas, jardins
Áreas ajardinadas públicas e
privadas
jardins, canteiros, hortas , calçadas,
X X X X
gramados, campos de futebol,
campos de golfe, outras áreas com
cobertura de vegetação
características dos recursos naturais as áreas verdes públicas e privadas, que não estão
regulação, em função dos benefícios diretos que o verde pode proporcionar, bastando
ficar embaixo de uma árvore para sentir (ver tabela 9). Estes serviços de regulação
para o bem-estar dos ocupantes e usuários e para a redução de gastos na medida em que
Sobre os serviços de provisão, a oferta ocorre em áreas onde existem viveiros, que
diversos. Fica mais clara a oferta de serviços culturais por todos esses fixos, na medida
Mas é necessário alertar para o fato de que a oferta dos serviços ambientais varia
no tipo e intensidade “(...) em função do clima, tamanho das cidades entre outros fatores
intervenientes” (Bolund e Hunhammar 1999:2). Kevin Lynch (1981) já nos dizia que “As
estruturas físicas devem ter efeitos previsíveis em uma cultura singular, com a sua estrutura
diferentes especificidades locais, e por este motivo não deve ser adotado um desenho
padrão, um projeto ideal para todos os lugares com objetos técnicos previamente
definidos.
O mesmo autor nos informa que “Apesar de qualquer influência que pode ou não ter, a
forma física não é a chave variável na qual a manipulação pode induzir a mudança. Nosso cenário
físico é um resultado direto do tipo de sociedade em que vivemos. Primeiro mudar a sociedade e o
ambiente muda também” (Lynch, 1981:102). Por tudo isso, pode-se afirmar que não existe
Primeiro deve ser feita uma análise das complexas relações e características de cada
lugar para a construção de uma rede que seja integrada aos recursos naturais e as
Se pensadas para cada lugar, e não planejadas de forma padronizada, como ainda
tem o potencial de criar conexões geográficas, para além das ecológicas, em tempos e
com a autora, “As conexões geográficas são conexões de lugares do espaço, totais, singulares.
Pensar na oferta dos serviços ambientais a partir das redes técnicas ambientais, e
no modo como vemos o espaço urbano na medida em que olhamos para além da forma
e da estrutura física. De acordo com Kevin Lynch (1981), quando pensamos na forma ou
“(...) estruturas espaciais dos objetos físicos, grandes, inertes e permanentes da cidade:
edifícios, ruas, utilidades, pontes, rios, e talvez árvores. A esses objetos são adicionados
uma miscelânea de termos modificáveis, que dizem respeito ao seu uso típico, a sua
qualidade, ou a quem o pertence: residências de família, projeto de casa públicas, campos
de milho, ponte de pedra, tubos de esgoto de 10 polegadas, ruas movimentadas, igrejas
abandonadas, e assim por diante” (Lynch, 1981:47).
Nesse sentido, as áreas verdes urbanas não devem apenas ser vistas e
potencial de ofertar serviços ambientais que podem contribuir não só para a preservação
melhorando a qualidade de vida. É preciso que se considere, e que isto seja incorporado
nas ações de planejamento e gestão ambiental, outras possibilidades de uso destas áreas
pelas pessoas do lugar, tornando estes espaços de fato, um território usado, conforme
Não que outras informações não sejam importantes para subsidiar a elaboração
ambientais pelas áreas verdes urbanas, de forma integrada à outras questões pertinentes
33
“Plano de Manejo é um projeto dinâmico que determina o zoneamento de uma unidade de conservação, caracterizando cada
uma de suas zonas e propondo seu desenvolvimento físico, de acordo com suas finalidades. Estabelece, desta forma, diretrizes
básicas para o manejo da Unidade”. Fonte: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis - IBAMA.
Disponível em: http://www.ibama.gov.br/siucweb/guiadechefe/guia/f-3corpo.htm
necessários para a elaboração de planejamentos ambientais, podem-se acrescentar o
mapeamento das redes técnicas ambientais, as áreas verdes existentes (os fixos da rede),
dos serviços ambientais, entre outros aspectos que permitam uma análise do estágio
reverter e melhorar a oferta de serviços. Como nos outros tipos de planejamento, com o
mapeamento e diagnóstico da rede será identificado o estágio em que estamos, para ser
definido com os planos e estratégias de ação onde queremos chegar. Contribuindo para
qualidade de vida.
como um todo. Outro ganho resultante da melhoria na oferta dos serviços ambientais
Isso porque as áreas verdes inseridas em contexto urbano têm grande potencial
ser vistas como um input a análise de custo-benefício apontando usos da terra mais
eficientes nas áreas urbanas. Por tudo isso se pode admitir que os serviços ambientais
“(…) gerados localmente têm tem um impacto substancial na qualidade de vida nas áreas
1999:1).
Mas ainda é preciso apontar outro benefício da utilização das redes técnicas
ambiental. Este outro benefício diz respeito à informação produzida sobre a rede técnica
sobre os serviços ambientais, as pessoas sintam-se mais envolvidas com as áreas verdes
sobre o destino que está sendo dado ao ambiente, local de vivência do cidadão, ninguém pode se
equilibrada e justa.
ocupação e produção dos mesmos. Isso porque as áreas verdes representam, para além
medida em que impulsiona ações de diversos agentes sociais, para uma ação coletiva de
“(...) resistência dos lugares às perversidades impostas a ele pelo mundo”, gestando a partir do
território e dos lugares, um novo tempo, denominado por Milton Santos como o período
“Difícil seria argumentar que não há necessidade de somar esforços na criação de redes eficientes
para disponibilidade, acesso e uso de informações e conhecimentos. Porem é preciso considerar
que apesar da forma intensiva com que se dá a sua multiplicidade e a eficiente veiculação – tanto
em meio tangíveis, quanto intangíveis – a informação, por si só, torna-se impotente para
garantir uma articulação e incorporação dos conhecimentos de forma a resultar em ações pro -
ativas ou mesmo reativas, capazes de prevenir ou solucionar problemas ambientais” (Costa et.
al, 2002:7)
Para a boa circulação dos fluxos da rede técnica ambiental (serviços ambientais) a
potencial de fortalecê-la.
qualidade dos serviços ofertados. Deve-se analisar informação sobre os objetos técnicos
e dinâmicas sociais, pois ambos contém informações essenciais para a manutenção das
redes técnicas ambientais. Milton Santos nos esclarece essa condição na medida em que
“Os objetos geográficos, cujo conjunto nos dá a configuração territorial e nos define o próprio
território, são, cada dia que passa, mais carregados de informação. E a diferenciação entre eles é
tanto da informação necessária para trabalhá-los, mas também a diferenciação da informação que
eles próprios contêm, pela sua própria realidade física” (Santos, 1996: 140).
Para o autor a informação é importante pelas seguintes razões: ( i ) além de
irão influenciar e determinar novas funções para os objetos técnicos, e assim lhes dar o
dos serviços ambientais nas áreas verdes, quando incorporadas nos processos de
“(…) deriva do radical forma, assim como deformação ou transformação. Nesse sentido, a
informação pode ser considerada como o oposto de deformação. Segundo De Rosnay, a
informação se caracteriza como poder desorganização ou por uma ação criadora. É a
informação que transforma uma situação caótica em uma estrutura organizada, agindo
contrariamente à entropia” (Gondolo, 2000:112).
informação que mantém a rede técnica ambiental fortalecida, na medida em que deve
subsidiar ações individuais e coletivas dos cidadãos e do poder público (para a criação,
justificada na fala de Milton Santos sobre o papel atual da informação, que segundo ele
É importante também saber como usar a informação ambiental e lhe dar “(...) um
sentido, uma finalidade, estimulando o gosto por pesquisá-la, enriquecê-la, tratá-la, trocá-la, para
assim melhor compreender um fenômeno, tomar uma decisão mais acertada, agir
territorialidades, pois o que vemos ainda é a quase total falta de circulação e apropriação
divulgar informações que possam fortalecer outros agentes e assim compartilhar com
tomada de decisão em matéria de meio ambiente, foi definido, entre outras coisas, o que
elementos;
ambiente, políticas, leis, planos e programas que tenham ou possam ter incidência sobre
34
A Convenção sobre o acesso à informação, a participação do público na tomada de decisões e o acesso à justiça no
domínio do ambiente (Convenção de Aarhus) foi assinada pela Comunidade Europeia e pelos seus Estados-Membros
em Junho de 1998. A Convenção de Aarhus comporta três pilares: o primeiro, que se refere ao acesso do público à
informação, foi aplicado a nível comunitário pela directiva relativa ao acesso do público à informação no domínio do
ambiente ; o segundo, transposto pela Directiva 2003/35/CE, trata da participação do público nos procedimentos
ambientais; finalmente, o terceiro refere-se ao acesso do público à justiça em matéria ambiental
(http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/l28140.htm).
benefício e outras análises e hipóteses econômicas utilizadas no processo decisório em
como o estado dos sítios culturais e das construções na medida onde são ou possam ser
alterados pelo estado dos elementos do meio ambiente ou, através desses fatores,
atividades e medidas visadas na alínea b precedente (Wold e Nardy, 2003: 77-78 apud
Barros, 2004:44).
ambiental “(...) qualquer informação disponível sobre a forma escrita, visual, oral, ou de base de
dados36 relativos ao estado das águas, do ar, do solo, da fauna, dos terrenos e dos espaços naturais,
às atividades (incluindo as que provocam perturbações como ruído) ou medidas que os afetem ou
definir quais os temas e assuntos que a informação ambiental deve abranger, neste
documento também são definidas as fontes para a obtenção dos dados referidos.
regional ou local sobre o ambiente ou com ele relacionados; políticas, planos e programas relativos
ao ambiente; relatórios sobre o estado do ambiente (...); dados relativos a atividades que afetem o
35
Diretiva nº 313, de 07/06/1990 - COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 2003.
36
“Alguns exemplos de informações que podem ser solicitadas invocando esta norma: águas residuais, incidentes ou acidentes dos
quais resulte poluição, emissões, substâncias radioativas, níveis de ruído, planos de ordenamento do território, resíduos,
licenciamento de obras, qualidade das águas, loteamentos urbanos, consumo de energia, planos rodoviários, fontes de energia
utilizadas, construção de estradas, pontes etc, licenciamento industrial, licenciamento de comércio e serviços, condições de
laboração, transporte de mercadorias perigosas e outras” (COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 2003 apud
Barros, 2004:37)
ambiente; licenças, autorizações e acordos no domínio do ambiente e estudos de impacto
A informação das redes técnicas ambientais pode ser caracterizada como toda a
materialidade, os aspectos e atributos físicos das áreas verdes. Esta informação não deve
privilegiar nem os aspectos físicos nem os dados sociais, porque “A combinação entre
informação ecológica e social deve ser capaz de capturar importantes processos na paisagem que
pressões exercidas pelas atividades humanas de uso e ocupação da terra que afetam a
metodologias de análise espacial para evitar aquelas que promovem apenas a leitura do
aspecto material do espaço, que ocupam-se apenas da forma. É preciso ter consciência
37
A Resolução CONAMA 1/86, de 23 de janeiro de 1986 que dispõe sobre procedimentos relativos a Estudo de Impacto
Ambiental define o que é impacto ambiental em seu art. 1º: “Art. 1º Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental
qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I. a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; II. as atividades sociais e econômicas; III. a biota; IV. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V. a
qualidade dos recursos ambientais”.
38
Alguns exemplos de temas de diagnósticos em 11 planejamentos ambientais apresentados por Santos (2004): clima /
geologia / geomorfologia / pedologia / recursos hídricos / arqueologia / vegetação / uso e ocupação das terras /
atividades econômicas / estrutura fundiária / aspectos culturais de organização social e política / demografia e
condições de vida da população / infra-estrutura de serviços / aspectos jurídicos e institucionais (Fonte: Fidalgo, 2003
apud Santos, 2004:73)
de que a forma representa e é construída, moldada a partir de experiências concretas de
revelar “(...) a coerência (ou incoerência) entre a estrutura espacial, dinâmica populacional e
condições de vida da população e, ainda, traduzem o significado social e política do que foi
descrito como estado do meio pelos temas do meio físico e biológico” (Santos, 2004:72). Sobre a
interpretação dos dados, a autora complementa que “Nos processos que envolvem a tomada
de decisão, antes de mais nada é necessário “(...) interpretar o meio em relação à sua composição,
estrutura, processo e função, como um todo contínuo no espaço. (...)” (Santos, 2004:72). Isso
quer dizer que é necessária uma análise integrada dos diferentes fatores sociais,
parte, do conhecimento limitado que se tem sobre este objeto, complexo, multidisciplinar e ainda
carente de um corpo teórico próprio. Em outras palavras, o conhecimento da cidade, como objeto
concreto, é condição necessária, embora não suficiente, para melhor atingir os objetivos do
Por tudo que foi exposto pode-se dizer que a informação carrega o potencial, se
territórios.
“Vivemos num mundo onde já não temos comando sobre as coisas, já que estão criadas e
governadas de longe e são regidas por imperativos distantes, estranhos. Poderíamos, nesse caso,
dizer com Maffesli, que os objetos já não nos obedecem, já que eles respondem à racionalidade da
ação dos agentes. No dizer de Sartre de A Imaginação, os objetos se tornam sujeitos. Mas nenhum
objeto é depositário do seu destino final e não há razão para um desespero definitivo. Num mundo
assim feito, não cabe a revolta contra as coisas, mas a vontade de entendê-las, para poder
transformá-las. (...) O que se impõe é conhecer bem a anatomia desses objetos e daquilo que eles,
juntos, formam – o espaço” (Santos, 1996: 109).
O quadro legal que será apresentado a seguir mostra as principais leis relativas ao
acesso da informação ambiental, e como será visto em seu conteúdo, todas elas dizem
respeito exclusivamente à divulgação do que vem sendo feito e sobre o estado atual do
na construção desse conhecimento (ver quadro 5). Além disso, também é necessário o
através de dois modos. Lucivaldo Barros nos informa que isso ocorre da seguinte
maneira:
“De um lado, o direito de todos terem acesso às informações em matéria de meio ambiente (art.
5°, incs. XIV, XXXIII e XXXIV, da CF; art. 14, inc. I, do Decreto 99.274, de 06/06/1990 e art.
8°, da Lei n° 7.347, de 24/07/1985). De outro lado, o dever de o poder público informar
periodicamente a população sobre o estado do meio ambiente e sobre as ocorrências ambientais
importantes (art. 4°, inc. V, e 9°, incs. X e XI, da Lei n° 6.938, de 31/08/1981 e art. 6°, da Lei n°
7.347/1985), antecipando-se, assim, em certa medida, à curiosidade do cidadão” (BARROS,
2004:39).
informação é que estas leis e decretos não representam e apresentam apenas “os meios
formais concebidos pelo Estado, mas, de maneira cada vez mais indispensável, a participação
ambiente insere-se num dos momentos mais importantes da cidadania na proteção ambiental”
informação Ambiental39 o grande avanço nesse sentido na medida em que abre caminhos
ambiental. A referida lei, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações
Informações do Meio Ambiente), prevê que tais órgãos estão obrigados a permitir o
39
A Lei do Direito à Informação Ambiental foi aprovada pelo Congresso Nacional, e sancionada pelo presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva, juntamente com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, e o advogado-geral
da União, Álvaro Augusto Ribeiro Costa, a Lei no 10.650, de 16/04/2003. A Lei dispõe sobre o acesso público aos
dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama (Sistema Nacional de Informações do
Meio Ambiente) criado pela Lei nº 6.938/1981. O SISNAMA é constituído por órgãos e entidades da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental . A criação do SISNAMA tem os seguintes objetivos:
sistematizar a informação necessária para apoiar a tomada de decisão na área de meio ambiente, permitindo a rápida
recuperação e atualização, bem como o compartilhamento dos recursos informacionais e serviços disponíveis
(BARROS, 2004:132).
acesso de todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito,
áreas degradadas;
tóxicas e perigosas;
No que se refere às questões ambientais existe uma ligação muito forte entre meio
ambiente e o direito de ser informado (Costa et. al, 2002:8). O acesso à informação
Mas apenas a existência das leis que garantam o acesso e a divulgação das
popular, não garantem que a decisão sobre o meio ambiente seja feita de forma
40
De acordo com Lucivaldo Barros “(...) o princípio maior da consciência ambiental vincula todos à preservação, porque todos
são também os titulares do direito e do dever de possuir um ambiente ecologicamente equilibrado” (BARROS, 2004:21).
existem entraves, os denominados “ruídos”, que dificultam o processo de transferência
Esses ruídos são produzidos por influências políticas e econômicas e são grandes
como informação é poder, a “(...) sua não-distribuição passa a ser uma arma estratégica, não
(Barros, 2004:47).
regedor das ações definidoras das novas realidades espaciais” (Santos, 1996:93).
A apropriação da informação por todos é importante para que a sociedade tenha
tomada de decisão pode ser sobre outras formas de relacionar com os outros, seja sobre
curso e tomarão, a sua escolha, uma posição. Somente “(...) a partir do conhecimento de
todos os fatos que possam influir, positiva ou negativamente, na vida dos cidadãos, que eles
(Barros, 2007:4). Rogério Haesbaert informa sobre como “(…) Hoje as relações de poder
mais relevantes envolvem o controle sobre fluxos de informações (ou de capital fictício
“informatizado”, como o que gira em torno de paraísos fiscais e bolsas de valores) (…)”
(Haesbaert, 2006:301-302).
conhecimentos técnicos;
econômico - têm interesses divergentes dos usuários, e não têm como objetivo
base de dados no Brasil, eles não são construídos com a participação de todos os
agentes sociais, poucos têm acesso de forma fácil a este tipo de informação, e as
informações podem estar dispersas sem interligação com outras bases similares;
interdisciplinar;
Falta de interesse - quando as pessoas não têm interesse pela leitura das
Não é apenas a memória do país que se esvai, mas uma arma estratégica de fundamental
receptora e massificadora;
Por tudo isso, é possível afirmar que não só a existência de leis que garantam o
informação ambiental deve ser adequada, útil, compreensível e transmitida em canal não-viciado,
(...) e, sobretudo, proporcionar e estimular a participação pública” (Barros, 2004:39). Com tudo
defende a idéia de que é fundamental “(...) estimular um diálogo mais objetivo e conseqüente
dentro da comunidade e desta com as instituições públicas e privadas que oferecem e gerenciam
continua pouco e mal informada sobre as questões ambientais, que raramente tornam-se
território. A título de ilustração, foi realizada uma pesquisa pelo Ministério do Meio
Ambiente41 com duas mil pessoas para avaliar o quanto se sentiam bem informadas
sobre assuntos relativos ao meio ambiente. O resultado da pesquisa, que foi realizada
em 2001, apontou que apenas 2% dos entrevistados sentiam-se bem informados (Barros,
2007:1).
41
Pesquisa coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, realizada pelo Ibope/Iser, disponível em:
<http://www.iser.org.br>. Acesso em: 02 ago. 2003 por BARROS (2004:21).
ecológicas das espécies do entorno da sua casa, ou existente nos parques, bosques da sua
A pesquisa ilustrada acima nos mostra que há ainda muito a ser feito
principalmente porque:
“As questões ambientais demandam respostas rápidas e requerem o acesso a uma gama de
informações socioambientais e ferramentas adequadas para a análise e visualização de
modelos e cenários de impacto socioambiental, mas a apropriação isolada dessas
informações é insuficiente, tornando-se meros dados” (Barros, 2007:1).
algum sentido e assim seja possível pensar e entender a realidade, seus problemas e
reelaborar uma forma de se relacionar com os outros e com o meio ambiente que o cerca
(BARROS, 2007).
Esta capacidade é definida por Vicente del Rio (1991:125) como "(...) o processo do saber
de forma aberta e participativa. Isso porque para que os indivíduos ampliem sua
ambiental, devem passar por uma reflexão a respeito do que significa e representa a
natureza para cada um (Barros, 2004:22). Essa consciência, se atingida entre um número
de criar espaços que tenham as dimensões da boa forma urbana 42 propostas por Kevin
Lynch (1981). Na medida em que todos os agentes envolvidos, presentes e que vivem no
42
De acordo com Luiz Falcoski (1997), as dimensões e subdimensões de desempenho apresentadas por Kevin Lynch,
servem como modelo teórico e cognitivo de investigação, reflexão, análise e avaliação dos fenômenos sócio-espaciais e
da forma urbana.
constituição da rede técnica ambiental (dimensões 43 da boa forma urbana – Kevin
Lynch,1981):
problemas existentes que dificultam o equilíbrio necessário, quanto nas ações cotidianas
ambientais locais.
das estruturas físicas, edificações, ruas, calçadas, habitação, espaços públicos, e outros
freqüentam. Para isso é primordial a participação das pessoas que usam e freqüentam
percepção dos agentes envolvidos no uso destes espaços. Muitas vezes formas e projetos
como conseqüência alguns espaços, lugares e caminhos não são utilizados, alguns
percepção das pessoas sobre o significado dos lugares, o que influenciará seu uso futuro.
43
Sobre a metodologia proposta por Kevin LYnch para a avaliação da boa forma urbana, existem dois metacritérios
de desempenho que permeiam todas as dimensões descritas: ( i ) eficácia interna e externa e ( ii ) justiça. O primeiro
deles ao será associado neste momento à dinâmica das redes técnicas ambientais porque não será objeto desta tese
discutir “(...) à forma de distribuição de custos e benefícios associados ao projeto, produção, manutenção e dimensões ambientais
anteriores” (FALCOSKI, 1997:187). Porém, o segundo metacritério relaciona-se de modo intrínseco com o conceito de
rede técnica na medida em que defende a distribuição entre os custos ambientais e benefícios, com a intenção de
reverter a lógica de apropriação injusta do espaço urbano e da distribuição dos benefícios para poucos. E na medida
em que a oferta dos serviços ambientais é ampliada em todos os objetos técnicos (áreas verdes) presentes no território,
distribui-se ao longo dele os diversos benefícios que contribuem para melhorar a qualidade ambiental local e de vida.
- Adequação: esta dimensão é atingida quando a forma e a capacidade dos
atividades que as pessoas ou agentes sociais desejem realizar. Mais uma vez, percebe-se
porquê diz respeito ao acesso aos benefícios dos serviços ambientais, como também ao
rede técnica ambiental, porque indicará que não existe um ator social dominante
controlando a informação que sustenta a rede. Quanto mais as pessoas que moram,
objetos técnicos), tornarem-se participantes ativos, terão maior poder sobre a informação
que circula e assim maior autonomia em sustentar a rede técnica ambiental. Ao ter
do espaço que ainda “(...) se constrói a partir de uma vontade distante e estranha, mas que se
impõe à consciência dos que vão praticar essa vontade” (Santos, 1996:100). Para agravar a
situação:
“(...) nenhum desses agentes faz uma análise compreensiva que envolva a estrutura
espacial, com exceção talvez das agências de planejamento locais, que são um dos atores
fracos, deficientes no processo. (...) como conseqüência temos um processo de construção
da cidade complexo e plural, marcado pelo conflito, propósitos cruzados, e barganha, cujos
resultados não são eqüitativos e nem desejados (...)” (Lynch, 1981:41).
Adélia de Souza:
informação. Kevin Lynch afirma que “Mudar cabeças, mudar a sociedade, ou até mesmo não
mudar nada, pode ser a melhor resposta do que mudar o ambiente” (1981: 43). E o acesso à
produção.
O que proporciona isso é o ato da comunicação, como bem colocado pelo filósofo John
Dewey: “A ciência supõe que uma coisa seja conhecida quando é descoberta (compreendida), mas
Registro e comunicação são indispensáveis ao conhecimento” (1956:177 apud Costa et. al,
2002:7). Para este filósofo “(…) o conhecimento é estabelecido somente no próprio ato da
vista como base para a ação social” (Costa et. al, 2002:7). Eugênio Queiroga nos explica que:
“A ação comunicativa se constitui numa razão que se estabelece entre sujeitos, a partir
da perspectiva do entendimento mútuo. Seu campo de estabelecimento é o mundo vivido.
Por excelência, do cotidiano (...). Trata-se, portanto, de uma razão fundada na
cooperação, estabelecida através da linguagem, num movimento dialético, a partir do
embate entre os argumentos expostos nos discursos. Como resultado, sua verdade é
praticada a partir do agir comunicativo e não advém, por sua própria definição, de
posicionamentos apriorísticos. Como verdade resultante da ação comunicativa,
relativiza-se e realiza-se no mundo vivido, não aputado por dogmas (religiosos ou
laicos). A razão comunicativa, em sua dimensão cotidiana, não exclui, potencialmente,
nenhum ser humano, sejam os interlocutores analfabetos ou letrados. Por outro um
“grande intelectual” que não se dispuser ao diálogo visando a compreensão mútua não
estará praticando uma ação comunicativa; o que não lhe tira o mérito, mas não coloca
seu discurso no plano da razão comunicativa” (Queiroga, 2001:272).
através de ações comunicativas conforme exposto acima. Aqui cabe um espaço para
mais uma vez justificar a escolha das praças como um dos objetos técnicos da rede
técnica ambiental na medida em que, além de ofertar serviços ambientais também são
saber:
“(...) a menos que (os resultados de investigação) sejam lidos, não podem afetar de forma
séria o pensamento e a ação de membros do público; restringem-se aos nichos retirados
das bibliotecas, e são estudados e compreendidos somente por poucos intelectuais. (...)
uma apresentação técnica e erudita teria apelo somente aos tecnicamente intelectuais;
não seria notícia para as massas. Dewey também sustentou a idéia de que é somente por
meio da comunicação da ciência ao público que o conhecimento per se é atingido, dado
que os “atos” da descoberta e da construção científica são restritos” (Dewey, 1956: 183
apud costa et. al, 2002:6).
revistas locais e de grande circulação, como também em meio televisivo, existem outros
segundo o autor “(...) é uma excelente fonte de informação ambiental, por oferecer, além de
bases de dados, endereços de milhares de organizações e pessoas que possuem informações sobre
meio ambiente”.
esses sistemas são ainda pouco conhecidos, pouco divulgados, e por funcionarem
através da internet, não são muito acessados pela grande maioria dos agentes sociais,
digital. Nesse sentido e em função do “(...) crescimento quase exponencial das fontes de
informações no mundo e a multiplicação de suportes para obtê-las (...)” faz com que a “(...)
organização e definição de sistemas de informação torna-se um processo cada vez mais urgente e
transformador da informação produzida acerca dos fixos e fluxos de uma rede técnica
São Paulo para realizar uma análise empírica de uma rede existente.
técnica ambiental existente: quais são os fixos (objetos técnicos: áreas verdes), os fluxos
Anhumas44. Esta análise para a constituição e estruturação das redes técnicas ambientais
pode ser utilizada em processos de planejamento e gestão ambiental das áreas verdes
área muito urbanizada, inclusive no centro histórico de fundação da cidade 45. O fato de
44
A razão da escolha desta área para ser objeto de estudo da pesquisa, é justificada em função de três motivos
principais: ( i ) vínculo institucional ao projeto; ( ii ) seu caráter participativo, na produção da informação ambiental,
principalmente para o mapeamento dos riscos ambientais e para a compreensão da evolução histórica de ocupação
dos fragmentos florestais ainda existentes na bacia, e ( iii ) a disponibilização pública da informação produzida.O
material produzido neste projeto encontra-se em: http://www.iac.sp.gov.br/ProjetoAnhumas/projetos.htm
45
Para a apresentação da área de estudo, o ribeirão das Anhumas, somente foram utilizados os resultados das
pesquisas e dos trabalhos disponíveis na página eletrônica do projeto para mostrar a qualidade e importância das
informações produzidas, e algumas possibilidades pelas quais outros pesquisadores, ou pessoas que se relacionam e
vivem neste espaço, podem se apropriar da informação e assim fortalecer a sustentação da rede através de ações
produzidas a partir destes fluxos. Estudos e análises dentro desta bacia, como fez a equipe do Projeto Anhumas, têm
o potencial de contribuir para a elaboração de estratégias de planejamento e ações de ordenamento do território que
possam induzir aos processos de mudança necessários pela nova apreensão da realidade promovida através de uma
análise crítica da informação produzida.
sérios impactos socioambientais resultantes da lógica de ocupação espacial evidencia a
bacia com as dinâmicas sociais que estabelecem relações de uso e apropriação do espaço
das mais diversas, mas que em sua grande maioria acabam agravando a qualidade
espacialmente, esta bacia não está localizada apenas no município de Campinas, existe
uma pequena parte da bacia localizada no município de Paulínia (SP), onde o ribeirão
desemboca no rio Atibaia (Futada, 2007) (ver figura 8). E em outra escala, em relação ao
(UGRHI), da qual também fazem parte as bacias hidrográficas dos rios Piracicaba,
Capivari e Jundiaí.
Figura 6. Localização da Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas no Estado de São Paulo e
no município de Campinas com as principais rodovias
(http://www.iac.sp.gov.br/projetoanhumas/localiza.htm)
Figura 7. A Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas e o grau de urbanização (cor roxa)
(Gomes, 2005)
Campinas (ver figura 9), e muitos dos impactos e problemas existentes na área de estudo
estendem seus efeitos a estas outras bacias já que o espaço é um todo dinâmica e
interligado. Em Campinas também existem as bacias do rio Jaguarí (cor verde clara), do
rio Atibaia (cor verde escuro), do rio Capivari (cor mostarda), do rio Capivari-mirim
município de Campinas em 7 macrozonas, das quais três delas estão inseridas na bacia
do Ribeirão das Anhumas e auxiliam na compreensão das dinâmicas de uso e ocupação
da Rodovia Adhemar de Barros - SP340, que liga Campinas a Mogi Mirim) e 3 - área de
2007:45-46).
(ver figuras 9 e 10) também permite uma análise para o entendimento de como as
naturais com o tipo de uso da terra, também permite a identificação de conflitos de uso,
impactos gerados.
padrões de uso e ocupação da terra que estão gerando impactos socioambientais para a
naturais locais, e como esta alteração prejudica a qualidade ambiental e de vida. Em sua
alfabetizados, responsáveis com até 2 salários mínimo, lixo/ destino em aterros, rios). Os
dados foram espacializados e sobrepostos de forma integrada para a criação de
unidades físico-ambientais integradas (ver figura 11) que foram avaliadas em sua
e duas tiveram a pior avaliação, avaliação esta que ao autor ressalta para não ser
considerada como um valor rígido que expresse exatamente a qualidade ambiental dos
lugares em as pessoas vivem. Mas sim que sirva de instrumento de análise para
mas por outra indica o risco da especulação das suas terras, e novas ocupações futuras,
que podem reverter este índice. Nesta área estão localizados o distrito de Barão Geraldo,
função de bons níveis de escolaridade e renda e também pelas áreas verdes e de lazer
medida em que possui algumas fazendas, residência rurais e bairros periféricos em fase
de um processo de ocupação nas margens do ribeirão das Anhumas que teve início dos
anos 70 e continua até hoje, sobrecarregando a capacidade de autodepuração da curso d
´água, em razão do lixo e esgoto, entre outros resíduos lançados sem tratamento e de
qualidade ambiental é pior nas áreas onde relações de desrespeito aos processos
recarga e lençóis freáticos e aqüíferos. Nas áreas de pior índice também encontram as
populações com menor escolaridade e renda, mas não se pode estabelecer uma relação
direta entre baixa renda e degradação ambiental, como se este perfil populacional não
respeitasse a natureza. Eles estão lá por outros fatores de ordem social e econômica, e
não por simples ato de desrespeito ou desconhecimento das “Leis da natureza”. Mais
uma vez, e principalmente neste caso, outros saberes além do ambiental, devem ser
acionados de forma integrada para reverter a situação não apenas de forma curativa,
continuará a ocorrer paralela à leis e normas de usos e ocupação do solo, que parecem
ter sido feitas para outros lugares e mesmo assim parecem não funcionar.
que pode orientar uma séria de ações estratégicas, reside em seu potencial de servir
não é condicionante apenas de perdas e destruição dos recursos naturais e dos processos
ecológicos. Esse trabalho nos permite perceber que por trás da degradação ambiental
organização espacial que não tem como diretriz o equilibro e integração entre recursos
problemas, mais sim uma séria de outras questões e saberes que precisam ser integrados
ribeirão das Anhumas gerou ao longo dos anos diversos tipos de impactos ambientais e
usos urbanos nas margens dos rios, com a retirada da cobertura florestal e de vegetação,
águas da bacia.
(1992 apud Serra, 2002: 41) podem ser classificados em três categorias: (i) ampliação das
Sobre a dinâmica de ocupação que causou estes problemas, Silvia Futada (2007)
nos explica que no período colonial era prática comum as ocupações e explorações
serem feitas margeando os rios, o que justifica o crescimento das cidades, e a formação
de seus centros históricos próximos aos rios. E no caso da bacia em questão, também
(Futada, 2007).
Mas enquanto na época colonial esta era uma dinâmica formadora de territórios,
características naturais junto com a sua história que foi canalizada e enterrada com seus
córregos e nascentes. Na bacia do ribeirão das Anhumas, principalmente no alto curso,
as restrições de uso das áreas de preservação permanente (APPs) – faixas ao redor das
nascentes e que margeiam os cursos d´água protegidas por lei. Quanto as matas ciliares
das APPs, elas estão em sua maioria degradadas e muitas vezes destruídas, ou retiradas
vegetação nativa (ver figura 13). Nas APPs da bacia é crescente o uso urbano (ver figura
lugares ao longo de sua extensão. Porém, esta é uma realidade recorrente em outros
ligada à função ambiental das APPs que engloba: a preservação dos recursos hídricos,
flora, para a proteção do solo e para a promoção do bem estar das populações humanas
previsão legal das áreas de preservação permanente está prevista no artigo 2 o do Código
Florestal (Lei nº 4.771/65 e suas alterações), o qual foi regulamentado pelas Resoluções
A manutenção das APPs urbanas tem sido objeto de conflito desde a revisão em
loteamentos devem reservar (sem edificações) uma faixa de 15 metros de cada lado ao
longo de cursos d’água, rodovias, ferrovias e dutos, enquanto o Código Florestal reforça
a medida de 30 metros ao longo dos corpos d’água urbanos 49. Suely Araújo (2002)
sugere que sejam flexibilizados os usos das APPs urbanas, no caso de implantação de
infra-estrutura para dar suporte a atividades de lazer e recreação desde que seja
CONAMA 369.
Conama, quando a função das áreas nas margens dos rios e dos próprios cursos d´água
48
modificada pela LF 9785/99
49
Segundo SERVILHA (2003:2) as metragens mínimas estabelecidas pelo Código Florestal “(...) eram de 5 metros, para
cursos d’água com até 10 metros de largura; metade do curso d’água para curso de 10 a 200 metros de largura; e de 100 metros
para os cursos com largura superior a 200 metros (inciso 1, letra a, Art. 2º). Essas metragens sofreram alterações pelas Leis
Federais 7.511/ 86, 7.803/89, Medidas Provisórias nº 001956, de 26/05/2000, reeditadas sete vezes, 002080, de27/12/2000
reeditada seis vezes e 002166, reeditada até a presente data”. A Lei Lehman (Lei Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de
1979) estabelece como norma 15 metros de “(...) faixa non aedificandi ao longo das águas correntes e dormentes (Art. 4º,
III)”, já o Código Florestal “(...) propõe faixas diferenciadas a partir da largura da calha dos corpos d’água nunca menores que
30 metros” (SERVILHA, 2003:2).
Nesta época não havia a preocupação em se preservação às margens dos rios, que
podem ser o ponto de partida para o desenvolvimento de projetos que visem aumentar
partir de ocupações próximas aos rios, hoje é o início de uma cadeia em ação de
problemas ambientais quando as margens dos cursos d´água são ocupadas. Hoje nas
APPs presenciamos a crescente alteração de seu uso para urbano, principalmente com as
ocupações ilegais nas margens (ver figura 13). A degradação dos recursos naturais tanto
na região da bacia do ribeirão das Anhumas, como nas demais áreas de Campinas está
longo prazo.
urbano de Campinas que já foi alterado 18 vezes em 40 anos (Bernardo, 2002 apud Rossi
e Costa, 2005:10).
da aptidão e potencialidade do lugar, o que é feito quando estes vazios são ocupados,
com a capital, que foram também atrativos para indústria e o crescimento da mancha
pressão é causada pelos proprietários rurais interessados em lotear suas terras para o
uso urbano. Na região em estudo, estas terras estão localizadas ao norte da cidade e da
Mas estes problemas não estão relacionados apenas à ocupação dos vazios
urbanos, pois nas planícies fluviais e nas várzeas naturais do ribeirão, como já foi
explicado, ocorre a mesma dinâmica de ocupação e supressão dos espaços naturais, seja
pela falta de fiscalização, seja pela ineficácia dos instrumentos urbanísticos e/ou pela
falta de articulação entre as políticas setoriais. O que vemos nestas áreas é uma dinâmica
de ocupação por uma população de baixa renda que não vê estas áreas como uma opção
de compra, ou idealização de um lugar de moradia. A opção é de vida, porque os efeitos
negativos deste tipo de ocupação são sentidos diretamente pela própria população,
Essas inundações são conseqüência da ocupação irregular nas margens dos rios e
mananciais. Todas estas alterações no sistema ecológico dos rios provoca uma mudança
prejuízos, como foi dito acima, não são apenas os ambientais, mais humanos também
(Francisco, 2006).
diferenciadas que valorizem as margens dos rios enquanto um espaço público, que pode
possibilidades de ocupação ilegal nestas áreas pelos usos que seriam promovidos.
Mas ao invés disso, a grande maioria das ações desenvolvidas nas margens dos
“(...) os corpos d'água têm sido transformados em avenidas e construções, sem nenhum
aproveitamento paisagístico do vale e do rio. Atualmente estas linhas de drenagem estão
sendo taponadas, aterradas, ou simplesmente servem para a disposição de dejetos líquidos
e sólidos, contra qualquer recomendação paisagística e ambiental. O ideal seria que estas
faixas de preservação integrassem um sistema de parques, sendo estas áreas arborizadas
para que se efetivasse sua proteção contra as inundações. Os esgotos, separados das águas
fluvio e pluviais, deveriam ser coletados e tratados para aproveitamento na lavação de
ruas e rega de jardins” (Afonso, 2000:05).
Ainda não vemos estas ações na bacia, continuando com a canalização dos
córregos (ver figuras 14 e 15), com projetos muitas vezes mal executados contribuindo
da bacia (ver figuras 15 e 16). A não valorização e tratamento adequado as margens dos
(ver figura 16) nas áreas próximas aos cursos d´água, conseqüência também do alto grau
de impermeabilização das áreas adjacentes, quando não são utilizadas para aterros de
Figura 14. Av. princesa D´Oeste com av. Moraes Figura 15. Desmoronamento da margem
Sales: córrego Proença revestido e canalizado impermeabilizada do córrego Orozimbo Maia
(BRIGUENTI, 2005:38) (enchente de 17/02/2003) (BRIGUENTI, 2005:38)
Figura 16. Confluência do córrego Proença com o Figura 17. Ribeirão Anhumas: aterro e ocupação ao
córrego da Av. Orozimbo Maia, no início do ribeirão longo da rua Luiza de Gusmão (BRIGUENTI,
das Anhumas: assoreamento, degradação e risco de 2005:38)
inundações (BRIGUENTI, 2005:38)
Os habitantes do entorno do Ribeirão Anhumas, além dos problemas relativos à
saneamento básico. Roseli Torres (2004:4) relata que na área urbana na qual esta inserida
a bacia do ribeirão além do problema referente à ocupação ilegal nas áreas de várzeas
(conforme mostra o mapa XX), existem outros relativos ao “(...) despejo de esgoto sem
tratamento nos corpos d’água, inúmeras fontes de poluição, depósitos clandestinos de entulho e
Por estar quase que completamente inserido em áreas urbanas, com a existência
de ocupações ilegais nas margens dos córregos da bacia, o ribeirão das Anhumas é um
dos rios mais poluídos do país, segundo Sevá Filho (2001 apud Futada, 2007: 46). Isso
porque ao atravessar quase toda a área urbana da cidade, além de sofrer a retirada de
mata ciliar, erosão das margens dos rios, o ribeirão das Anhumas recebe “(...) quase
metade do esgoto da cidade (o equivalente a mais de 400.000 habitantes), além das descargas de
algumas indústrias e serviços com grande volume de águas pluviais e esgotos, como shoppings,
Sobre a qualidade ambiental dos cursos d´água integrantes da bacia, a equipe que
ribeirão das Anhumas” dentro do projeto Anhumas (COSTA et al, 2006), nos apresenta
“(...) ao nascerem dentro do perímetro urbano, já nascem mortos, recebendo todo tipo de
dejeto urbano, sofrendo ação de assoreamento devido às más condições ciliares, além de
poluição proveniente de partículas atmosférica e entulhos. Assim, aliando-se à grande
concentração urbana, a alta impermeabilização do solo, o regime pluvial de períodos
curtos de grande contingência de água, favorecendo inundações, temos ainda a alta
concentração de poluição dos corpos hídricos, que ao atravessarem suas margens durante
as enchentes espalham o esgoto urbano despejado nele, se tornando foco de doenças e
inutilizando bens materiais devido a grande quantidade de impurezas presentes na água”
(COSTA et al. , 2006).
que para a dinâmica dos processos ecológicos é uma condição extremamente prejudicial.
Quanto mais conectadas espacialmente forem as áreas verdes, maior será a chance de
vegetação existentes na bacia (ver figura 13). Silvia Futada nos fala a respeito da situação
ela sugere que no entorno dos fragmentos seja planejada uma área de lazer integrada ao
aumentar a conectividade destes fragmentos deve-se estar atento para algumas medidas
podem também atuar como dispersores (Futada, 2007:197). Este tipo de corredor difere-
se dos corredores verdes previstos nos Planos Diretores porque os últimos tem objetivos
vegetal do município, e com esta ação resolver pequenos problemas locais como a
escala regional e não apenas local, e por isso podem contribuir para a dispersão de
diversos tipos de espécies, diferentemente dos verdes que possibilitam principalmente a
de colocar muro e outros isolamentos, na verdade também tem outros objetivos, como
proteger a propriedade privada e dar maior segurança aos usuários de áreas verdes
áreas à autora. Mais uma vez, só os saberes ambientais não conseguirão sozinhos
ambiental destas áreas. Isso porque se cada fragmento encontra-se em uma área
especulação, dentro de espaços ora público, ora privado, e que recebem interferências
de ações para a recuperação e/ou preservação destas áreas. Assim, na medida em que
envolvem relações diferenciadas de uso, acabam exigindo das equipes técnicas uma
visão global, integrada com outros setores, e estratégica para solucionar os problemas
conseqüências hoje das diferentes ações e tratamentos que foram realizados nas áreas
de alguns espaços privados onde estão localizados estes fragmentos (Futada, 2007:193).
Um exemplo de dificuldade que surge a partir desta situação foi relatado por Silvia
das Anhumas.
Diversidade das Espécies), que atua em diversos fóruns deliberativos como o Conselho
Oliveira e assembléias municipais, sendo esta a mais antiga organização que participa
50
“A PROESP é uma organização não governamental, institucional e legalmente constituída como uma associação civil, fundada
em abril de 1977, que tem por objetivos a preservação da flora e da fauna, através de incentivos à criação e defesa de reservas
naturais, da ampliação de áreas de preservação e recuperação das matas ciliares e do combate à caça e aprisionamento das espécies
silvestres” (www.proesp.org.br) (FUTADA, 2007:194).
Figura 19. Localização dos fragmentos atuais da bacia do ribeirão das Anhumas
(BRIGUENTI, 2005:98)
Por fim é importante destacar que não são apenas com os problemas ambientais
que a população residente na bacia do ribeirão das Anhumas sofre no seu dia a dia.
ações que possam resolver estes problemas. Para auxiliar a nossa compreensão da
antropogênicos que foram transformados em sua estrutura pela ação humana, a relação
região.
ambiental e de vida na região da bacia do ribeirão das Anhumas foi apresentado para
reforçar a importância da estruturação e fortalecimento da rede técnica ambiental já
existente, na medida em que já existem os fixos (as áreas verdes compostas por
ambientais cuja oferta está prejudicada) mas em contrapartida para essa área existe
como pelos moradores da bacia, a fim de ampliar também o poder efetivo das pessoas
Por último vale destacar mais uma vez a importância do trabalho realizado pela
mapas de ótima qualidade gerados. Os resultados permitem uma análise integrada das
51
No caso da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas serão considerados como fixos apenas os
fragmentos de vegetação nativa e as áreas de preservação permanentes inseridas neles, na medida em que não foram
produzidas informações pela equipe do projeto Anhumas sobre praças e outras áreas verdes que podem ser também
classificadas como fixos de uma rede técnica ambiental, na medida em que também ofertam serviços ambientais.
relações sociais nas dinâmicas de ocupação espacial, para além dos limites geográficos,
Toda essa informação, que nos fornece o estado atual dos atributos naturais da
região e os fatores de pressão que atuam sobre eles, torna-se uma importante ferramenta
insiste em manter as idéias fora do lugar, como nos alertou Ermínia Maricato (2000).
informação existente sobre eles para que seja possível analisar as relações de uso
verdes52.
através de alguns instrumentos, para fortalecer e sustentar a rede com a solução dos
que orienta ações para a mudança desejada e necessária para melhoria da qualidade
52
Para a análise da rede da área em estudo, foi utilizada exclusivamente a informação produzida pela equipe do
projeto Anhumas, mesmo reconhecendo a existência de outros fluxos de informação sobre esta região, como o Plano
Diretor municipal, os Planos e Bacia e outros trabalhos desenvolvidos pelo Comitê PCJ (dos rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí) entre outros. A escolha é justificada pelo vínculo ao projeto temático como foi explicado no início do
capítulo 5.
ambiental e de vida. Na figura 20 é possível ver as etapas metodológicas propostas para
bacia (2007) foram identificados e classificados os fixos. Apesar de existirem outras áreas
verdes integrantes de uma rede técnica ambiental, como as praças, os jardins públicos e
fragmentos de vegetação foram considerados como os fixos desta rede 53. Isso se deve ao
fato de que, dentre todo o material produzido neste projeto, apenas os fragmentos foram
analisados em sua totalidade na bacia, o que facilita uma análise integrada com a oferta
dos fluxos.
53
Os fixos poderiam ser classificados também a partir das áreas de preservação permanentes, mas apesar do trabalho
desenvolvido por Carlos Eduardo da Silva Francisco (2006) sobre a prioridade de recuperação de APPs, este teve
como objeto de estudo apenas uma sub-bacia do Anhumas (São Quirino), o que restringiria nossa análise. Na medida
que outras pesquisas forem realizadas, e quando estiverem disponíveis novas informações sobre outras áreas verdes
tanto da bacia, quanto do município, outras análises poderão ser feitas de modo a estruturar uma rede técnica
ambiental completa e integrada com os diversos fixos da região de estudo .
A. IDENTIFICAÇÃO DOS FIXOS
Seleção de todas as áreas verdes, protegidas ou não
b1 Classificação da informação
Classificação de toda a informação produzida sobre a área em questão – título - tema/conteúdo – autores – data – produção
técnica ou participativa
b2 Caracterização da informação
Elaboração de ficha da informação com tema e conteúdo, forma de produção técnica ou participativa, produção de mapas e
visualização de trabalhos e/ou atividades desenvolvidas
d1 Sustentação da rede
- Identificação de áreas prioritárias para intervenções que ampliem a oferta de serviços ambientais e aumentem o grau de
preservação ambiental
- Seleção de instrumentos de desenho ambiental para promover as mudanças desejadas
- utilização dos instrumentos de desenho ambiental para promoção de novos arranjos espaciais que promovam a
conectividade ecológica e social através da rede técnica ambiental
5.2.1 FIXOS – as áreas verdes da rede técnica ambiental da bacia do Ribeirão das
Anhumas
ambientais (ver quadro 6), será apresentada a identificação de todos os fixos compostos
os problemas diagnosticados.
vegetação encontram-se, com poucas exceções, incluídos totalmente nas áreas urbanas
da bacia. Essa situação exige intervenções específicas para cada local, na mediada em
para preservar como para evitar a ocorrência de novos impactos. E é essa articulação,
encontradas na bacia.
considerados um só, o que aconteceu nos casos: 2 fragmentos dentro da fazendo rio das
entorno dos fragmentos, apontou que o grau de preservação é maior quando os donos
ambiental, porque acabam restringido alguns usos e proibindo ações que poderiam ter
reduzido a área dos fragmentos e sua qualidade ambiental. Em razão desta postura, e
Mas estas ações são de forma geral, exceção na bacia, e os demais fragmentos, sua
maioria sofre ainda diversos tipos de pressão principalmente por causa do aumento do
uso urbano em seus entornos, e das ações de uso destes espaços serem normalmente
população urbana, provoca diferentes tipo de pressão sobre os recursos naturais, o que à
longo prazo pode reduzir sua área e a importância ecológica das espécies contidas neles.
Alguns exemplos das pressões, relatadas por Silvia Futada (2007) são: incêndio, corte de
preservados. Mas instrumentos que garantam a real proteção dos atributos ambientais,
Mas pensar nos entornos de fragmentos de vegetação e outras áreas verdes com
tipo de resposta a distância do efeito de borda pode chegar até a 500m, o que é
impossível por exemplo na área da bacia do ribeirão das Anhumas onde quase
praticamente todos os fragmentos têm uso urbano no seu entorno imediato, alguns
se preservar a área dos mesmos, na medida em que quanto menores em área, mais
destacar que dentre eles, estão duas Unidades de Conservação ambiental estaduais: um
Parque Ecológico Estadual (Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim – Decreto
Estadual 27.071 de 8/6/87) e uma Área de Relevante Interesse Ecológico – ARIE (Mata da
Sta. Genebra - Decreto Federal 91.885, de 5/11/85, que faz divisa com o município de
Paulínia).
Sobre a área total dos fragmentos apesar de ser reduzida se considerarmos a bacia
município de Campinas, que conta com 2,55% de sua área com fragmentos de
vegetação, o que evidencia a contribuição dos fragmentos desta bacia também para a
fragmentos, que entre 1962 e 2002 perderam mais de 30% do total de suas áreas
remanescentes. Dentre os fragmentos da bacia, Silvia Futada nos relata que o fragmento
Mata do Chico Brinco e o hoje menor fragmento do Condomínio Estância Paraíso, foram
os que mais apresentaram uma redução em sua área total, quando tomado como ponto
formas de relacionar com as áreas verdes, para resolver os problemas existentes e evitar
atingida.
Tabela 11. Classificação dos fixos da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas
será apresentada a ficha onde foi realizada a caracterização de todos os fixos da rede
Quadro 7. Processo metodológico utilizada para a caracterização dos fixos da rede técnica
ambiental.
FIXOS – caracterização
número
Nome: Bosque Chico Mendes
1
Características:
- um dos fragmentos que sofreu maior redução de área total,
passando de 27,70ha em 1962 para 3,10ha em 2002 / causada
pelo parcelamento do solo do entorno, principalmente pelo
loteamento fechado residencial Chácaras São Quirino;
- manejo realizado é mínimo: os funcionários varrem apenas
as folhas do passeio, e as acumulam entre as árvores, para que
estas virem adubo para as árvores e não interferem no
fragmento através de podas.
- anos de distúrbio e manejo inadequado influenciaram na
composição e estrutura do fragmento: este é um dos
fragmentos da bacia cujo sub-bosque é mais escasso, quase
ausente.
- hoje: uso feito em grande parte pelo público infantil -
quadras poliesportivas, gramado para jogos, brinquedos no
parquinho. Problema com a falta de manutenção: brinquedos
inutilizados. Para adultos: equipamento para ginástica,mais
utilizado apenas como via de acesso para deslocamentos de
pessoas
- funcionários reclamam falta de participação da sociedade
(FUTADA, 2007)
(Terra Metrics, Digital GLobe,Google Earth, 2009) Participação da população na preservação
SIM NÃO
X
FIXOS – caracterização
número
Nome: Bosque dos Alemães - Praça João Lech Júnior
4
Características:
- área doada à Prefeitura de Campinas em
- ausência de cercas ou alambrados de proteção, os cortes de
algumas árvores e o acúmulo de detritos urbanos danificaram
a vegetação criando-se dificuldades de preservação e
renovação da cobertura vegetal
- a área era alvo de incêndios e chegou a sofrer corte raso da
vegetação, sendo mantidas algumas árvores maiores e alguns
eucaliptos
- 1978 : novo projeto - urgência de se instalar mecanismos de
controle e preservação da mata que, ainda neste período,
mantinha cerca de 80% de sua flora nativa – quando ocorreu
o adensamento do Bosque, com plantio de várias espécies
arbóreas, nativas e exóticas
- bairro tradicional de classe média - uso do entorno urbano
- no intervalo de tempo de 1972 a 2002 o fragmento sofreu
uma pequena redução (FUTADA, 2007)
FIXOS – caracterização
número
Nome: Mata do Chico Brinco (Mata do Boi Falô)
13
Características:
SIM NÃO
(Terra Metrics, Digital GLobe,Google Earth, 2009)
X
FIXOS – caracterização
número
Nome: Sítio San Martinho/Centro Médico Boldrini
18
Características:
- este fragmento está localizado em mais de uma propriedade
particular
- o acesso à mata pelo Centro Médico Boldrini é fechado, e
pode ser realizado apenas com permissão do responsável.
- as águas das nascentes dentro deste fragmento descem pela
Cidade Universitária em direção à estrada da Rhodia e
alimentam a lagoa do Parque Ecológico Hermógenes de
Freitas Leitão Filho
(FUTADA, 2007)
SIM NÃO
classificar os fluxos produzidos (ver quadro 8), que neste estudo de caso representam a
b1 Classificação da informação
Classificação de toda a informação produzida sobre a área em questão – título - tema/conteúdo – autores – data –
produção técnica ou participativa
b2 Caracterização da informação
Elaboração de ficha da informação com tema e conteúdo, forma de produção técnica ou participativa, produção de mapas e
visualização de trabalhos e/ou atividades desenvolvidas
também a partir da experiência cotidiana de cada um, em sua relação com os recursos
naturais locais.
(2006:5) nos contam que “(...) as técnicas participativas, utilizadas de levantamento de riscos
ambientais na bacia e nas atividades de educação ambiental, são ferramentas poderosas que
estimulam o envolvimento e o comprometimento da comunidade na análise e na proposição de
Anhumas visam estabelecer parâmetros técnicos que podem auxiliar no processo de tomada de
decisão e na formulação de políticas públicas para a área da bacia e para a população direta e
geográficas, esse tipo de informação é de extrema utilidade para as ações que são
desenvolvimento mais condizentes com a realidade local (Adami et al., 2006). A equipe
relatou casos em que no mapa desatualizado existiam rios sem a presença de pontes.
Como pensar em políticas ações e projetos para um espaço que não existe?
certa forma isso foi feito, nos trabalhos foi identificado o perfil sócio-econômico da
ambientais (água, ar, vegetação, agricultura, sociais e resíduos sólidos). Isso porque, na
relações sociais e de uso e ocupação do espaço que contribuem para a existência dos
criação de alguns fluxos desta rede técnica ambiental, é vindo o momento de procurar
Classificação da informação
Tabela 12. Classificação da informação produzida na bacia do ribeirão das Anhumas
ambiental, para melhorar a qualidade de vida dos habitantes da região analisada. Como
já foi explicado, existem outras informações importantes que podem também ser
ambientais na região.
INFORMAÇÃO - caracterização
Título: “Cartografia, sensoriamento remoto e sistemas de informações
Número: 1
geográficas”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com
Com a comunidade
técnicos
X
Uso e ocupação da terra; risco de erosão, capacidade de uso das terras; fragmentos florestais e
Produção de mapas
sua evolução; morfometria das bacias hidrográficas; relevo e sub-bacias; usos nas áreas de
SIM NÃO
preservação permanentes (APPs)
X
Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas
Figura 7 - Bacia hidrográfica do ribeirão das Anhumas, em destaque os fragmentos numerados, que
podem ser identificados a partir da numeração na Tabela 2. Imagem elaborada a partir do mosaico de
ortofotos de 2002.
INFORMAÇÃO - caracterização
T
Número: 11 Título: “Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das
Anhumas”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com a Com
comunidade técnicos Análise da ocupação da bacia; densidade demográfica de habitantes e
X X domicílios, área coberta por arruamentos, representatividade da ocupação
Produção de mapas urbana, mapeamento dos riscos ambientais no baixo, médio e alto curso da
SIM NÃO bacia,metodologia de diagnóstico participativa com reuniões públicas
X
Visualização parcial do material produzido e/ou atividades desenvolvidas
INFORMAÇÃO - caracterização
Título: “Mapa de Impermeabilização do Solo na área Urbana da Bacia
Número: 13
Hidrográfica do Ribeirão das Anhumas, Campinas-SP”
Forma de produção da
Tema / Conteúdo
informação
Com a Com
comunidade técnicos Mapeamento dos graus de impermeabilização do solo urbano na bacia do
X ribeirão das Anhumas, evolução da macha urbana, identificação dos
Produção de mapas padrões de ocupação, solos e a água, estabelecimento de cinco classes de
SIM NÃO impermeabilização do solo: muito
permeável, permeável, moderadamente permeável, pouco permeável e
X impermeável
ribeirão das Anhumas, os dados coletados foram analisados para atingir os objetivos
propostos para as etapas: 3.1 Entendimento da dinâmica de ocupação espacial e 3.2 Análise da
oferta de serviços ambientais e da qualidade ambiental dos fixos (ver quadro abaixo). O
estudo. Reflexões posteriores foram utilizadas para analisar a oferta dos serviços
seguir.
Quadro 9. Processo metodológico utilizado para entender as relações entre as dinâmicas de uso
e ocupação da terra e a oferta de serviços ambientais e seus efeitos na qualidade ambiental dos
fixos da bacia
A seguir são apresentadas análises sobre a atual oferta de serviços ambientais na
ambiental.
fixos
da pressão urbana alteraram bastante, não só a dimensão de sua área, mas também as
estrutura ecológica das áreas verdes têm como conseqüência primeira e direta o
mostra a tabela 13. Estes serviços são ofertados com maior freqüência em áreas com
densidade urbana menor já que estão relacionadas e são dependentes dos processos de
formação dos solos quase totalmente prejudicados em áreas com alto grau de
urbanização.
Talvez a redução ou o impedimento da oferta deste serviço ambiental resulte em
uma das conseqüências mais prejudiciais à qualidade ambiental e de vida nas cidades,
a fim de manter a capacidade dos ecossistemas em ofertar este tipo de serviço do qual
dependem os demais.
regulação que os fragmentos da bacia do ribeirão das Anhumas ofertam, sem entrar na
avaliação da qualidade e graus de intensidade nos quais os serviços são ofertados, são
estudo.
- não existem nos fragmentos áreas onde é feita a extração de recursos naturais
Mas entre os fixos da rede alguns deles possuem algumas nascentes e cursos d
´água mais preservados que podem influenciar na oferta de água para abastecimento
humano e que por isso devem ser preservados com maior rigidez.
Por último, quanto aos serviços culturais ofertados pelos fragmentos da bacia do
espaços com as demandas de uso local. Além disso, os fragmentos que ofertam serviços
culturais estão cada vez mais com seus recursos naturais e processos ecológicos
sombra pela altura dos edifícios, problemas na recarga dos lençóis freáticos e aqüíferos
por interferência das fundações dos edifícios vizinhos, introdução de espécies exóticas,
entre outras pressões que degradam a qualidade ambiental destas áreas. O que nos
Oferta dos serviços ambientais nos fixos da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das Anhumas,
Campinas - SP
LEGENDA
Serviços ofertados
informação foi analisada na tentativa de apontar de que forma pode auxiliar a sustentar
a rede técnica ambiental. Essa informação deve subsidiar a elaboração tanto de políticas
públicas como projetos que promovam novos arranjos espaciais para que seja possível
residente no entorno e nas áreas adjacentes aos fixos com a natureza presente nos fixos
nestas áreas como a qualidade de vida. Esta etapa metodológica é 3.3 Análise do potencial
Quadro 10. Processo metodológico para análise do potencial de utilização da informação para
reversão dos problemas diagnosticados.
de regulação.
químicas do solo provocadas pela pressão das atividades humanas irão influenciar de
forma direta a oferta destes serviços, relação esta pesquisada pela equipe do projeto
Anhumas.
Como resultado das pesquisas desenvolvidas também foram produzidos mapas
ações devem ter prioridade para ampliação ou oferta dos serviços referidos.
Paulo.
evolução e contexto.
implicações ambientais.
serviços nos fragmentos analisados, apenas quando for de áreas onde existam nascentes
e cursos d´água, no que diz respeito a qualidade da água, e quando houver viveiros de
plantas, para a ofertar de mudas. Dentro desse contexto as seguintes informações são
Paulo.
evolução e contexto
implicações ambientais.
Quanto à oferta ou melhoria dos serviços CULTURAIS, estes não foram objeto
direto das pesquisas analisadas, apesar de muitos fragmentos serem áreas de lazer, uns
de forma mais intensa como o Bosque dos Jequitibás e outros como áreas de lazer dos
condomínios dentro dos quais estão inseridos. Mas de todo modo, o conhecimento das
entendimento das formas de apropriação e uso destes espaços pela população em suas
agentes sociais, foram incorporadas nas análises que irão subsidiar a elaboração de
na bacia: (5) Atividades de Educação Ambiental na Bacia do Ribeirão das Anhumas; (6) Riscos
ambientais na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras, Campinas / São Paulo; (9) Fragmentos
remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas (Campinas –SP): evolução e contexto e (11)
Levantamento de riscos ambientais na bacia do ribeirão das Anhumas (ver tabela 15).
Tabela 14. Potencial de utilização da informação ambiental produzida na melhoria e ampliação
dos serviços ambientais ofertados nos fixos da bacia
participação ativa, dois deles sobre os riscos ambientais foram de grande importância
como as pressões exercidas na bacia vem afetando a sua qualidade de vida, indo além
workshops, também foi proporcionada uma reflexão coletiva sobre as principais causas
mudança.
população da bacia para que tenham condições, sozinhas, de se relacionar com o meio
de outras formas, participando a seu modo na organização do espaço, mesmo que o seja
o seu de moradia.
Mesmo que as ações cotidianas sejam pontuais, elas também carregam o potencial
trabalhos do projeto, é que, nas entrevistas realizadas por Silvia Futada (2007) os
instalação de aterros e depósitos clandestinos de lixo e outros resíduos nas margens dos
cursos d´água. Não é só a falta de conhecimentos que lhes impede agir de outro modo.
dos efeitos negativos e positivos de suas ações. A criação de instrumentos legais também
é primordial para esta mudança, para que seja possível a garantia e a manutenção de
boas e novas práticas de intervenção espacial, para que as pessoas possam efetivamente
não apenas localmente. Isso ocorre com os grandes fragmentos de vegetação nativa,
Santa Genebra como exemplo. Outros exemplos são as informações que contribuem
para solucionar os problemas da contaminação dos cursos d´água que deságuam para
para o alcance das dimensões demográfica, cultural, social e política. Mas isso somente é
articulação de ações entre a sociedade e o poder público. Sendo que este deve estar
Tabela 17. Necessidade de participação da sociedade e do poder públicos para a promoção das
mudanças desejadas
Ar 3, 6,10, 11 X
1, 3, 6, 7, 8, 9, 11,
Água X X
13,15
1, 3, 5, 6, 7, 8, 9,
Vegetação e Animais X X
10, 11, 14, 15
Resíduos sólidos e 3, 6, 8, 10, 11 X X
contaminação
Fatores de vulnerabilidade
2, 3, 4, 5, 6, 11 X
social
1, 3, 6, 7, 10, 11,
Solos X X
13
Aqui, algumas destas sugestões serão ilustradas para apontar de que forma a
informação pode ser apropriada para desenvolver e executar ações que induzam aos
fragmentos da bacia.
Tabela 18. Formas de apropriação da informação para a promoção ou melhoria da oferta de
serviços ambientais na bacia do ribeirão das Anhumas
5.4 Ações para o fortalecimento da rede técnica ambiental da bacia do ribeirão das
Anhumas
D. FORTALECIMENTO DA REDE TÉCNICA AMBIENTAL
d1 Sustentação da rede
- Identificação de áreas prioritárias para intervenções que ampliem a oferta de serviços ambientais e aumentem o
grau de preservação ambiental
- Seleção de instrumentos de desenho ambiental para promover as mudanças desejadas
- utilização dos instrumentos de desenho ambiental para promoção de novos arranjos espaciais que promovam a
conectividade ecológica e social através da rede técnica ambiental
Quadro 11. Processo metodológico necessário para a sustentação da rede técnica ambiental.
vazão do córrego podem ser realizadas ações locais para aumentar a capacidade de
infiltração da água no solo, com a execução, por exemplo, de calçadas verdes, canteiros
impermeabilização do solo (ver figuras abaixo 54). Com este tipo de projeto, ampliam-se
54
As fotografias são cortesia de Nate Cormier, ASLA, LEED AP, Senior Landscape Architect at SvR Design Company,
natec@svrdesign.com.
os fixos (áreas verdes) que ofertam serviços ambientais na rede técnica ambiental a ser
Para conectar os recursos naturais existentes nesta rede técnica ambiental com as
pessoas, e assim ampliar também a oferta dos serviços culturais, podem ser construídos
fixos existentes, entre outras ações. Todas são fundamentais em nos espaços urbanos
conforto térmico podem ser as ilustradas a seguir (figuras 23,24,25 e 26) , integradas aos
Estes, e outros projetos podem ser pensados de forma conjunta para promover a
conexão ecológica para a constituição da rede técnica ambiental, seja através dos
Como todo processo de planejamento, neste caso ambiental para a gestão das
importância para a sustentação da rede, seja para identificar novos riscos ambientais
como também a efetividade das ações realizadas. E por isso é defendida como uma das
apropriada pelos agentes governamentais, técnicos e população, para que seja possível a
participação consciente de todos no processo de organização espacial e formação dos
territórios.
condizentes com a realidade local em todas as suas dimensões, permite uma conexão
das idéias que subsidiam as políticas, planos, programas e projetos aos lugares que
e idéias de mudança.
lugar, mas falta ainda o importante elo de ligação entre elas e o desenvolvimento e
mostrou que existem fixos ofertando serviços ambientais de forma reduzida à população
em função das diversas alterações do uso do solo que foram promovidas ao longo do
como cobertura de solo, o avanço da mancha urbana em seu entorno eleva o grau de
impermeabilização do solo, gerando impactos e transformações na estrutura ecológica
destas áreas. Talvez ainda haja tempo para a proposição de ações de recuperação
ambiental que possam restabelecer os processos ecológicos responsáveis pela oferta dos
espaço. Mas isso apenas irá acontecer de forma ampla em todo o território e por todos os
organização espacial do território, apesar das idéias, finalmente estarem nos lugares,
territórios e de vidas.
defendido neste trabalho através de uma simbiose entre sustentabilidade social (bem-
técnicas ambientais com a oferta de serviços ambientais vai além da perspectiva que
já que os arranjos espaciais que irão ampliar as conectividades necessárias fazem com
das redes que serão implantadas no território. Desde que não elaborem seus projetos
da qualidade de vida das pessoas que irão utilizar o ambiente que será construído.
Desse modo tais desenhos poderão considerados, se incorporados nas dinâmicas
sustentação de outras redes técnicas. Uma boa cidade para se viver é aquela que possui
potencial de uso que atenda a desejada qualidade ambiental urbana. Além de reprojetar
o espaço urbano integrando os elementos físicos urbanos aos recursos naturais para
processo de degradação socioambiental nas cidades. Para que isto não ocorra, duas
Áreas de Preservação Permanentes (APPs) ao longo das margens de cursos d´água e nos
permanência desta lógica de ocupação territorial impede que leis e projetos com ideais
transformadores atinjam seus objetivos. Porquê não é a falta destes que impede a
mudança desejada. Mas sim a lógica de produção e uso do espaço que insiste em ocorrer
ambientais que serão ofertados em áreas que funcionam como reserva de mercado,
acabam tendo sua oferta prejudicada ou com seus benefícios obtidos de modo restrito e
particular.
imobiliária, pela existência de áreas verdes com qualidades especiais, estratégia muito
técnicas ambientais são defendidos neste trabalho de forma ampliada, para o acesso
suas dimensões ambiental e social exige não apenas a criação de espaços verdes ou de
Direito esse garantido na Constituição Federal brasileira de 1988 em seu artigo 255:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
emprego, e que não estão integrados na lógica de ocupação espacial motivada pelos
sejam atendidas, em pouco tempo, novos problemas irão surgir demandando novas
inundações.
antes é preciso criar condições e garantias legais, e fazê-las cumprir, de que antes de
tudo as pessoas tenham seu próprio ambiente de moradia, para que assim tenham
metodológica proposta para sua estruturação também teve como objetivo contribuir
dimensões ambiental e social. O diferencial desta noção, é que nas redes propostas o
somente o homem, mas sim a interação equilibrada entre ambos na formação lugares
oferta dos serviços ambientais alguns dos objetivos que se pode atingir, vinculados tanto
Potencializar o uso das áreas livres que tenham áreas verdes, atendendo a
informação produzida.
Sobre este último objetivo, é importante mais uma vez destacar o papel
contribuindo para que uma parcela maior da sociedade participe ativamente nos
socioambientais existentes e dos serviços ambientais cuja oferta está prejudicada, como
por Kevin Lynch (1981): vitalidade, sentido, adequação, acesso e controle, eficiência e
justiça, na medida em que irá incorporar os valores e as necessidades das pessoas sobre
organização do território.
ambientais, neste trabalho sugere-se que, para além de ações pontuais, sejam analisadas
ecológica e assim regular os processos ecológicos para ofertar os serviços. Desse modo o
desenho das redes técnicas irá, ao ofertar serviços ambientais de forma indiscriminada
vida. Para que isso aconteça de fato, defende-se que as ações necessárias para a
constituição, fortalecimento e sustentação das redes devem ser conduzidas pelo poder
das áreas verdes e das relações potenciais que podem ser estabelecidas com os
moradores locais a fim de se criar uma estratégia de intervenção espacial para ampliar a
ideal para a configuração destes desenhos. Para cada cidade e para cada lugar, inclusive
são condicionantes fundamentais para projetos que busquem ajustar os fixos existentes
ecológicos existentes na região. E se for o caso, optar pela criação de novos fixos, pela
introdução de novas áreas verdes em locais onde a degradação ambiental atingiu altos
níveis e a demanda pela oferta de serviços ambientais exige o plantio de novas espécies.
da massa edificada, mas sim da relação entre áreas edificadas e áreas livres (que podem
ser pensadas para abrigar ou preservar as áreas verdes que integram os fixos da rede).
As áreas livres de edificações, mesmo que não estejam integradas aos projetos de
desenho urbano citados acima, podem contribuir para a oferta de serviços ambientais,
ao meio ecológico.
passaram a ser ofertados como resultado da implantação de tais projetos, mesmo que
pensados isolados de uma rede técnica ambiental. Isso porque a preocupação destes
dinâmica social de uso do espaço, não é uma postura recente, apesar de ainda restrita.
caracterizados os fixos e fluxos da rede. O que deve ser feito de forma coletiva com a
participação dos moradores locais e de outras pessoas que se relacionam de outra
extrema importância para a sustentação das redes pensadas por estes profissionais na
informação produzida que irão subsidiar as ações de constituição das redes no território.
caso do Plano Diretor. Pensar o território em redes técnicas ambientais pode influenciar
para:
indicadores,
direcionadas à sua metodologia e objetivos, mas sim à forma pela qual vem sendo
cidades.
metodológica proposta dentro dos Planos de Bacia Hidrográfica também pode ser uma
ampliação da conectividade ecológica da rede técnica ambiental serão aquelas que tem
da população que se relaciona de modos diferentes com os cursos d´água da bacia a ser
planejada.
Por fim, é importante ressaltar que o reconhecimento das funções das áreas
Sobre este último aspecto, são importantes estudos que identifiquem as redes que
é interessante avaliar as diretrizes e ações propostas nestes planos para verificar de quê
modo a promoção ou a ampliação da oferta dos serviços ambientais foram pensadas
pelo poder público nestes documentos, mesmo que indiretamente. Com este tipo de
da estruturação de redes técnicas, entre elas a ambiental, como ponto de partida além da
indicadores, que podem inclusive ser georeferenciados, pode contribuir como suporte
às decisões de planejamento e gestão dos serviços ambientais das cidades que buscam a
social.
decorrentes da implantação das redes devem também ser analisados. Isso porque, a
constituição destas no território mesmo que atenda demandas locais, será uma ação
conte com a participação da população local em algumas etapas, a idéia central não foi
principalmente por vontades externas em detrimento das vontades locais, como será o
surgir sobre como pensar as redes técnicas ambientais, agora não apenas no campo das
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