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MÓDULO 1 - AULA 7
Objetivos
O aluno deverá ser capaz de:
Introdução
Uma vez conhecidas as leis que regem o comportamento macroscópico
de um gás, uma pergunta surge naturalmente: será possı́vel deduzir estas
leis aplicando-se as leis básicas da Mecânica Newtoniana aos constituintes
fundamentais de um gás, isto é, seus átomos e moléculas? Ao formularmos
as leis que regem o comportamento de um gás, utilizamos grandezas como
pressão e temperatura, que caracterizam o gás por inteiro. A conexão entre
o comportamento macroscópico de um gás e suas propriedades microscópicas
requer uma interpretação da pressão e da temperatura em termos das gran-
dezas microscópicas como força e momento linear, por exemplo. Isto é o
que chamamos interpretação cinética, cuja formulação constitui o objetivo
central desta aula.
x
L
®
Dp=–2mvxx
®
p ® ®
f p p
f i
x
L
®
p
i
Figura 7.2: Visão lateral da colisão de uma molécula do gás com uma das paredes do
recipiente. A componente da velocidade normal à parede é invertida após a colisão.
Portanto, sendo p~i = m (vx x̂+vy ŷ+vz ẑ) o momento linear da molécula
antes da colisão, o momento linear após a colisão será p~f = m (−vx x̂ +
vy ŷ + vz ẑ), de maneira que a variação de momento sofrida pela molécula é
dada por
∆~
p = p~f − p~i = −2 m vx x̂ . (7.1)
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A Teoria Cinética dos Gases
2
Uma vez que o momento linear total da molécula mais o recipiente é
conservado na colisão, o momento transferido à parede será −∆~ p = 2 m v x x̂ .
Como dissemos anteriormente, esta transferência de momento dá origem a
uma força de contato e à pressão do gás sobre o recipiente. Para calcularmos a
pressão exercida, devemos considerar as colisões de diversas moléculas com as
paredes. Para tal, tomaremos uma região do gás vizinha à parede localizada
em x = L, por exemplo. Esta região é delimitada pela parede e por um
quadrado imaginário, de lado L, parelelo à parede, e situado em x = L − ∆x
como mostra a Figura 7.3.
Figura 7.3: Região de referência para o cálculo da pressão do gás sobre as paredes do
recipiente. Somente as moléculas com vx > 0 colidem com a parede, contribuindo para a
pressão do gás.
ρV ρ L2 ∆x
N= = . (7.2)
m m
As diversas moléculas no interior da região possuem velocidades diferentes.
Em média, o tempo gasto por uma molécula com componente vx da ve-
locidade (as componentes vy e vz são irrelevantes) para atingir a parede
é ∆t = ∆x/vx . Portanto, a força média exercida por esta molécula será
(lembre-se de que o momento transferido à parede é −∆~ p = 2 m vx x̂ .)
~ ∆~
p 2 m vx2
f =− = x̂ . (7.3)
∆t ∆x
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Note que o momento transferido, bem como a força f~, são perpendiculares
à parede.
A força total exercida sobre a parede é obtida somando-se as contri-
buições individuais das moléculas. Contudo, é importante notar que apenas
as moléculas que se movem em direção à parede (vx > 0) irão colidir. Logo,
a força média total exercida sobre a parede será
!
X 2 m X
F~ = f~ = v 2 x̂ . (7.4)
∆x v >0 x
x
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A Teoria Cinética dos Gases
2
calculada sobre o gás por inteiro. Isto será válido desde que a fração de gás
considerada ainda possua um número muito grande de moléculas. Assim
sendo, aplicando estas idéias à nossa região de interesse obtemos:
X N 2
vx2 = N hvx2 i = hv i . (7.7)
3
Substituindo as Eqs.(7.2) e (7.7) na Eq.(7.5) obtemos
Nm 2 1
F~ = hv i x̂ = ρ L2 hv 2 i x̂ . (7.8)
3 ∆x 3
Finalmente, a pressão exercida é dada pela força normal à superfı́cie por
unidade de área:
| F~ | 1
p = 2 = ρ hv 2 i . (7.9)
L 3
A Eq.(7.9) constitui a expressão desejada para a pressão do gás em termos
de caracterı́sticas microscópicas do gás como a velocidade média quadrática.
Conforme veremos a seguir, a temperatura do gás também está relacionada
de maneira simples com vrms . Em contrapartida, a Eq.(7.9) nos permite es-
timar a velocidade das moléculas de um gás conhecendo-se sua pressão e
sua densidade.
Exemplo 1
Mostre que, em uma mistura de gases que não interagem quimicamente,
a pressão total exercida sobre as paredes do recipiente é igual à soma das
pressões que cada um dos constituintes da mistura exerceria se estivesse
sozinho no recipiente. Esta é a Lei de Dalton.
Solução:
Para estendermos nossas conclusões a uma mistura de gases, voltemos
à força média exercida por uma molécula sobre a parede do recipiente, dada
pela Eq.(7.3). Na presença de dois tipos de moléculas com massas m1 e m2 ,
a força média exercida por cada tipo de molécula será
2
2 m1 v1x
f~1 = x̂ ,
∆x
para as moléculas de massa m1 , e
2
2 m2 v2x
f~2 = x̂ ,
∆x
para as de massa m2 . Portanto, a força total exercida na parede do
recipiente será
X X
~ ~ ~ N 1 m1 2 N 2 m2 2
F = f1 + f2 = hv i + hv i x̂ ,
3 ∆x 1 3 ∆x 2
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p = p 1 + p2 , (7.10)
onde
1 1
p1 = ρ1 hv12 i e p2 = ρ2 hv22 i ,
3 3
são as pressões parciais de cada tipo de gás na mistura, isto é, as pressões
que cada tipo de gás exerceria se estivesse sozinho no recipiente.
1
pV = ρV hv 2 i , (7.11)
3
onde ρV é a massa total do gás, que também pode ser escrita como nM ,
onde M é a massa molar (massa de um mol do gás) e n é o número de moles
de gás contido no volume V. Substituindo o valor da massa teremos:
1
pV = nM hv 2 i . (7.12)
3
Podemos, a seguir, relacionar a Eq.(7.12) com Θ, o valor da energia cinética
total de translação do gás, a qual por sua vez é dada por:
1 1
Θ = (v12 + v22 + ... + vN
2
) = m(N hv 2 i) , (7.13)
2 2
onde N é o número total de moléculas. Como a massa total do gás nM é
igual a nM, podemos escrever a Eq.(7.12) como:
1 2 1
pV = N mhv 2 i = ( nM hv 2 i). (7.14)
3 3 2
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2
Podemos combinar então este resultado com a já conhecida equação de
estado dos gases ideais pV = nRT :
2 1
( nM hv 2 i) = nRT,
3 2
ou seja,
1 3
M hv 2 i = RT . (7.15)
2 2
Portanto, podemos concluir que a energia cinética média molar de um gás
ideal é proporcional à sua temperatura. Desta forma estabelecemos um
vı́nculo entre a temperatura, grandeza macroscópica que caracteriza o es-
tado de um gás ideal, e um parâmetro microscópico, a energia cinética das
moléculas que constituem este gás. Este vı́nculo nos permite uma melhor
compreensão do conceito de temperatura (para o caso do gás ideal), antes
definido de forma muito geral, pela Lei Zero da Termodinâmica, discutida
na Aula 5.
É importante ressaltar que a velocidade de que falamos nas equações
apresentadas é a velocidade das moléculas em relação ao centro de massa
do sistema. Ao colocar, por exemplo, um cilindro de gás em movimento, a
velocidade do cilindro não contribuirá para o aumento da energia cinética
média e, portanto, não se traduzirá em aumento de temperatura do gás.
Uma outra relação interessante é obtida dividindo ambos os membros
da Eq.(7.15) pelo número de Avogadro NA :
1M 2 3 R
hv i = T . (7.16)
2 NA 2 NA
Ou seja,
1 3
mhv 2 i = kT , (7.17)
2 2
que é a expressão da Eq.(7.15) para apenas uma molécula. Esta equação nos
faz concluir que a energia cinética média de cada molécula é determinada
pela temperatura.
Quando temos dois gases cujas moléculas têm massa molecular m1 e m2
a uma dada temperatura T, a razão entre as velocidades médias quadráticas
dos dois gases é dada por:
s r
v1rms hv12 i m2
= = , (7.18)
v2rms hv22 i m1
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(a)
Mistura gasosa Vácuo
Parede porosa
Vácuo
Mistura V A
gasosa (b)
vdt
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2
O número de moléculas de um determinado gás ao passar por um poro
(aqui tomado um pequeno orifı́cio na parede de separação dos dois vasos em
um intervalo de tempo dt será igual ao número de moléculas de gás contido em
um volume Avdt, onde A é a área do furo e v é a velocidade das moléculas
do gás (ver Fig, 7.4.b). O número de moléculas atravessando o furo será,
então, igual a N
V
Avdt onde NV
é o número de moléculas de um determinado
tipo por unidade de volume presente, originalmente, no vaso que contém a
mistura gasosa. Se a razão entre os números de moléculas dos dois gases da
N1
mistura original for igual a N 2
, então a razão entre as vazões dos gases que
atravessam o furo será igual a:
r
φ1 AdtN1 v1rms N1 v1rms m2 N 1
= = = . (7.19)
φ2 AdtN2 v2rms N2 v2rms m1 N 2
Portanto, se o gás 1 for o mais leve, sua concentração em relação ao gás
2 é enriquecido por um fator α ao atravessar a parede porosa. O fator α,
chamado fator de separação, então, é dado por: vaso originalmente em vácuo.
r
m2
α= . (7.20)
m1
Esta técnica é utilizada para separar, através da massa, isótopos de um
mesmo elemento. Este é o caso da separação de isótopos de Urânio radioativo,
o que será discutido no exemplo 2 a seguir.
Exemplo 2
O urânio encontrado natural (como encontrado em minérios) tem essenci-
almente dois isótopos, o 235 U e o 238 U . O segundo é bem mais abundante
(abundância igual a 99, 3%). E apenas o primeiro, o 235 U , é adequado para
utilização em processos nucleares, pois fissiona-se facilmente. Determine a
abundância de 235 U em um gás de fluoreto de urânio, após o mesmo passar
400 vezes por uma parede porosa. Observe que no gás original, é observada
a abundância original do urânio.
Solução:
Como originalmente a abundância é a natural, a razão isotópica na
mistura de fluoretos original é igual a
N235 U F6 0, 007
= .
N238 U F6 0, 993
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Cada vez que uma mistura dos dois isótopos de fluoreto gasoso passa
pela parede porosa, a mistura se enriquece em 235 U de um fator α dado por:
r s
m235 U F6 M235 U F6
α= = ,
m238 U M238 U F6
r 400
N235
0
U F6 0, 007 0, 352
= = 0, 039 .
N238 U F6
0
0, 993 0, 349
Expressando o resultado em termos de uma fração cujos denominador e nu-
merador somem 1, temos:
N235
0
U F6 0, 038
= .
N238 U F6
0
0, 962
Ou seja, após passar 400 vezes por uma parede porosa, a abundância do
235
U F6 aumenta de 0,3% para 3,8%.
Resumo
Nesta aula, construı́mos um modelo microscópico para um gás ideal e
estabelecemos uma conexão entre as descrições microscópica e macroscópica
deste tipo de gás. As grandezas macroscópicas, como pressão e temperatura,
foram interpretadas em termos de grandezas microscópicas. Mostramos que,
por um lado, a pressão está relacionada com a transferência de momento
linear às paredes do recipiente, e, por outro lado, a temperatura de um
gás está ligada à energia média de cada molécula. Em ambos os casos, a
velocidade média quadrática das moléculas de um gás desempenha um papel
fundamental na relação entre as grandezas macroscópicas e microscópicas.
Exercı́cios
1. A massa de uma molécula de H2 é 3, 3 × 10−24 g . Sabendo-se que 4, 8 ×
1023 moléculas de hidrogênio colidem, por segundo, contra 2, 0 cm2 de
parede, num ângulo de 37o com a normal à parede, e com velocidade
escalar de 2, 0 × 105 cm/s , calcule a pressão exercida por elas sobre
a parede.
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2. A 44 o C e 2, 46 × 10−2 atm a densidade de um gás é 6, 60 × 10−6 g/cm3 .
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