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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS | ESCOLA DE DESIGN

Curso de Design Gráfico

Daliana Medeiros
Rafael Angioletti
Rafael Mapa
Tobia Hallak
Wesley Mendes

AS MARCAS QUE O USO, QUE O TEMPO E O ESPAÇO DEIXAM NOS


LUGARES
Comunicação e Semiótica l

Belo Horizonte
2018
Daliana Medeiros
Rafael Angioletti
Rafael Mapa
Tobia Hallak
Wesley Mendes

AS MARCAS QUE O USO, QUE O TEMPO E O ESPAÇO DEIXAM NOS


LUGARES

Artigo apresentado à Escola de Design


UEMG, como requisito parcial à obtenção
de créditos na disciplina Comunicação e
Semiótica I.

Orientador: Mario Geraldo Fonseca

Belo Horizonte
2018
CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
Para entender o significado do Bicame devemos inseri-lo em um contexto histórico e
geográfico específico. Sendo assim o nome Bicame representa um aqueduto
construído em 1890 pela Saint John del Rey Minning Company para o
abastecimento de água da área industrial da mineração Morro Velho.
A história de Nova Lima começa justamente na busca e exploração de minerais
preciosos, diversas minas ficam no município, incluindo as minas de ​Morro Velho​.
Diversos minerais são extraídos no município ainda nos dias atuais, principalmente
o ​minério de ferro e o ​ouro​. Logo, faz todo sentido as pessoas atribuírem ao Bicame
um signo de principal referência de Nova Lima, seu cartão postal.
São 200 metros lineares de extensão, ligando o Rego Grande ao Rego dos Amores.
Sua estrutura atravessa perpendicularmente quatro ruas, formando arcos de
passagem para veículos e pedestres. Conta também com uma praça em baixo de
determinado período do aqueduto, tornando-se um espaço de socialização de
diversos classes e grupos, como família com crianças e grupo de jovens.
O Bicame foi tombado pelo município pelo Decreto Municipal nº 2.072, de 2 de abril
de 2004.

Sendo a identidade algo sempre em transformações, onde a identidade dos


indivíduos é construída concomitantemente a identidade do lugar que frequenta.
Assim a construção do Bicame, interferiu na arquitetura da cidade e
consequentemente nos hábitos dos habitantes. Simultaneamente a população
jovem, começou a deixar marcas no local, como grafites em suas estruturas e
marcas no local onde assentavam sobre a mesma. Fazendo do Bicame um local de
socialização. Nesta relação lugar e indivíduo, o sentimento de pertencimento se
torna não somente um aspecto de identidade de lugar mas a base para sua
existência.

MARCAS: GRAFISMO
Dentre as marcas deixadas pelos frequentadores estão mensagens de amor,
rabiscos de caneta, marcações nas madeiras, pichações, stencil e papéis colados
ao redor e na estrutura.

Analisando-as podemos perceber que todos estes indivíduos que escreveram no


lugar utilizaram um “padrão”, como a língua portuguesa, logo para escrever você
teve que utilizar regras que norteiam esta língua. Porém, aqueles que deixam estas
marcas não estão apenas seguindo um padrão, estão fazendo uso dele. Este uso
indica uma apropriação particular do padrão. Assim cada pessoa que deixa uma
marca tem uma caligrafia diferente do outro. A caligrafia portanto é uma marca
visual. Cada pessoa que de deixa sua marca está no Bicame está construindo ali a
identidade do lugar.
Retornando aos padrões das pichações feitas na estrutura, é possível notar que um
grupo social específico as faz, pois criam uma estética própria para as marcas deste
grupo, formado por jovens, que possuem idade entre 16 e 25 anos, são moradores
da cidade, ​funkeiros , rockeiros , skatistas, pichadores ​e consideram o Bicame um
ponto de encontro. Escutam diversos estilos musicais sendo eles, Funk, Rap, Hip
Hop. ​Cabelos coloridos, correntes brilhantes, e vestidos colados no corpo são
características marcantes quando se trata da moda utilizada por essas pessoas.
Nos Bailes Funks que acontecem no Bicame os jovens falam gírias próprias que são
conhecidas apenas dentro deste grupo social.
Estas marcas revelam as relações, ideias e sentimentos destes jovens
frequentadores. As pichações são formas de revolta, manifestação artística, e
indícios do sentimento de pertencimento com o lugar. O conteúdo destas marcas
estão no campo da representação, já a maneira como este grupo deixa as marcas
está no campo da expressão.
Isso quer dizer que as pichações nas estruturas do aqueduto são signos do lugar.
Ou seja representa e expressa o Bicame. Para que estas pichações fossem feitas
foram necessários suportes, como as estruturas do aqueduto.
Outro aspecto do signo é a relação tempo e espaço, assim o contexto político,
geográfico e social influenciam nas marcas deixadas por estes jovens. Pode-se
dizer que as pichações vem de vivências passadas mas também assina em um
lugar, assim sempre assina em um tempo histórico. Portanto as pichações contém o
aspecto Material do tempo e espaço e o imaterial dele, condições fundamentais
para tudo existir. Além das pichações representarem e expressarem os jovens que
ali frequentam, ela também projeta em relação ao futuro. Podemos observar
também que o próprio suporte, às estruturas do aqueduto são carregadas de
história, pois representa a extração de minerais preciosos que é uma das principais
fonte de trabalho na região no passado e ainda nos dias atuais.
A medida que mais pessoas registravam seus grafismos no bicame para se
expressar, mais pessoas também sentiam tal necessidade. E essa onda apenas
valorizou o ambiente em seu signo carregado de expressão. Nesta relação de
socialização e interação com o lugar o sentimento de afeto e pertencimento é
cultivado. Portanto, os grupos sociais que frequentam o Bicame construíram seu
significado e sua identidade, dessa forma, uma relação de simbiose existe entre o
local e os indivíduos.
MARCAS DE USO: DESGASTE DO SOLO
No Bicame os frequentadores utilizam da própria estrutura para se sentarem e
formarem rodas de conversa, deixando ali marcas, como o desgaste do solo e a
falta de tinta da madeira no local onde se assentam.
O lugar ficou conhecido como um lugar de confraternização. Além disso os jovens
frequentadores do local, buscando satisfazer a carência de lugares para
socialização em Nova Lima, transformaram o espaço amplo da praça do Bicame em
um local que recebe eventos musicais e festas.
Estas marcas definem a frequência de uso do espaço e os pontos específicos de
preferência dos frequentadores para se assentarem e fazerem rodas de conversa.
Desta forma o uso do lugar significa expressão e a forma como a população se
apropria deste lugar, faz surgir o sentimento de pertencimento. Ademais analisando
podemos perceber que ​características ambientais do local facilitam a socialização e
desejo dos frequentadores.
BICAME COMO SIGNO, ÍNDICE E ÍCONE

Ao analisar o Bicame como signo podemos interpretar suas diversas marcas como
referência de si, ou seja, o próprio nome “Bicame” é signo do local, pois representa
o próprio local. Além disso suas outras marcas relacionam o local com o que o
representa, como: O aqueduto, as pichações, as marcas no ambiente e até o
próprio ambiente, todos esses signos do local.
Os índices do lugar são de extrema importância para a compreensão de seu uso.
Dentre os índices do Bicame podemos observar diversas marcas de uso, causadas
pela movimentação de quem frequenta o lugar, onde essas pessoas passam, se
aglomeram, sentam e até onde mais frequentam. ​Além disso diversas marcas que,
além de marcas do local, são marcas das pessoas como: Nomes, mensagens
grafadas no local e as pichações. Com a análise desses índices, é possível
compreender o porquê de o Bicame ser o que é, e quem frequenta esse lugar,
assim como qual o uso e o valor, as pessoas dão a ele.
Um ícone pode se tornar um símbolo por convenções socioculturais, ao ser
carregado de significados simbólicos. O bicame se torna esse “ícone simbólico” ao
carregar com ele, significados tanto para a cidade quanto para quem frequenta.
Novamente, através da análise semiótica, é possível compreender que o Bicame se
torna símbolo dele mesmo, ou seja tudo aquilo que existe dentro do lugar, como a
idealização, um ponto de resistência, expressão e confraternização, por acontecer
lá, torna o Bicame um ícone desses mesmos valores. Sendo assim toda essa
atividade acontece no Bicame, também pelo fato de lá acontecer essa atividade.
Diversos símbolos podem identificar o Bicame, mas entender suas simbologias é o
principal. As marcas das pessoas no ambiente, o aqueduto e quem frequenta o local
são símbolos do Bicame, entretanto também simbolizam outras coisas. As
pichações e escritas simbolizam a resistência, e a arte urbana marginalizada. O
aqueduto é uma marca histórica para a cidade, um instrumento instalado paras as
antigas minerações, e agora parte da cidade. As pessoas representam a cidade, a
população e diversos grupos de pessoas frequentadoras não só daquela região
específica, mas da cidade como um todo. E todas essas simbologias convergem no
Bicame, uma região que simboliza lazer, confraternização, resistência, expressão
gráfica e não gráfica (ex: desgaste do ambiente). O local é também um símbolo para
a cidade de Nova Lima, uma referência, um local histórico e um ponto de encontro
para quem frequenta a região.
CONCLUSÃO

A construção do Bicame, interferiu na arquitetura da cidade e consequentemente


nos hábitos dos habitantes. Nesta relação indivíduo e lugar marcas foram sendo
deixadas. Estas marcas, no caso as pichações e os desgastes do solo e da
estrutura, não está apenas mostrando uma “coisa”, mas também está mostrando o
suporte que estas marcas foram feitas, sendo este suporte o Bicame. Isso quer
dizer que as pichações nas estruturas do aqueduto são signos do lugar. Elas
representam e expressam o Bicame e grupos sociais que frequentam o local.
O valor que os frequentadores atribuem ao lugar está diretamente ligado às
memórias de experiências coletivas geradas no Bicame, pois os afetos são como o
motor do nosso estar no mundo. As marcas deixadas ali representam os
sentimentos e ideias dos frequentadores. Todas essas características simbolizam o
Bicame, uma região histórica da cidade de Nova Lima que se tornou ao longo dos
anos um ponto de encontro e lazer na cidade, uma referência e um símbolo da
região. Em síntese o Bicame é um conjunto de símbolos e simbologias, o que lhe
transforma em diversos outros símbolos para diferentes grupos que frequentam ou
não o local.

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