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Nos termos do artigo 535, inciso I, do CPC cabem embargos de declaração quando, na sentença
ou acórdão, houver obscuridade, omissão ou contradição.
No caso dos autos, o Acórdão proferido incorreu em evidente erro material quanto ao objeto da
controvérsia a ser analisado e omissão quanto às matérias controvertidas no presente processo.
Veja-se que em primeiro grau a parte Autora postulou a concessão de aposentadora por idade
rural, por já contar com mais de 180 meses de atividade rural, e, subsidiariamente, postulou a
aplicação do princípio da fungibilidade para o fim de conceder o benefício de aposentadoria por
tempo de contribuição.
O Acórdão proferido por esta Egrégia Turma, porém, incorreu em erro material quanto à
matéria a ser analisada, pois decidiu que a parte autora não preenche o requisito etário de 65 anos de
idade exigidos para a concessão de aposentadoria por idade prevista no §3º, da Lei 8.213/91 que
possibilita utilizar tempo de contribuição urbano e tempo de serviço rural para completar a carência
exigida para a concessão de aposentadoria por idade.
Veja-se que, o embargante ajuizou ação postulando o reconhecimento de atividade rural por
mais de 180 meses e a sua utilização para fins de carência para concessão de aposentadoria por idade
rural. Apresentou pedido subsidiário de aplicação do principio da fungibilidade para concessão de
aposentadoria por tempo de contribuição (evento 88).
A sentença por sua vez reconheceu que o Demandante exerceu mais de 23 anos de atividade
rural, eis que trabalhou como empregado rural entre 02/01/1976 e 31/12/1991, entre 01/08/2001 e
12/02/2007 e entre 01/03/2010 e 03/01/2011, e, dessa forma, estando comprovado que o demandante
exerceu atividade rural por mais de 180 meses, ainda que de forma intercalada, o N. Magistrado de 1º
Grau concedeu o benefício de aposentadoria por idade rural.
“Os períodos de trabalho rural anotados na CTPS do autor decorridos entre 01/08/2001 e
12/02/2007 e entre 01/03/2010 e 03/01/2011 foram reconhecidos e averbado pelo INSS.
A controvérsia cinge-se às anotações relativas ao período de 02/01/1976 a 15/06/2001,
trabalhado para Amarino Haigert e de 02/06/2008 a 31/06/2009, laborado para Celso Flores.
Os empregadores, bem como as testemunhas ouvidas, confirmaram a veracidade dos
vínculos anotados na CTPS do autor.
Contudo, o empregador Amarino informou que em 1992 vendeu a fazenda, estabelecendo
um negócio urbano, no qual o autor continuou laborando como empregado até 2001.
Desta feita, o vínculo firmado entre o autor e Amarino, somente pode ser considerado
rural até 31/12/1991.
Como a autarquia não apresentou qualquer prova para destituir a presunção de
veracidade dos dados anotados na CTPS, o documento vale para confirmar o trabalho realizado na época,
como empregado em empresa rural.
Nesse sentido:
PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. ATIVIDADES
RURAIS. REQUISITOS. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. ATIVIDADE URBANA. ANOTAÇÃO NA
CTPS. RECONHECIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.1. O início razoável de prova
material prescrito pela Lei 8.213/91, corroborado por qualquer outro meio de prova
idôneo, dentre os quais o testemunhal, é suficiente para comprovar a condição de
trabalhador do campo no período.2. A anotação na CTPS comprova, para todos os
efeitos, o tempo de serviço a filiação à Previdência Social e o vínculo empregatício
alegados, porquanto goza de presunção juris tantum de veracidade, nos termos da
Súmula 12/TST, constituindo prova plena do labor.3. Alcançando o segurado direito
adquirido à jubilação integral anteriormente à vigência da EC 20/98, aplica-se a regra da
Lei 8.213/91, com a respectiva revisão do amparo previdenciário percebido.4. A base de
cálculo da verba honorária abrange, tão-somente, as parcelas devidas até a prolação da
sentença de procedência ou do acórdão que reforme a sentença de improcedência.
(Remessa ex officio n° 2006.72.99.001357-9, Relator: Alcides Vettorazzi, Sexta Turma,
julgado em 06/02/2008. Fonte: www.trf4.gov.br) Grifei.
Logo, o tempo de serviço anotado na CTPS deve ser averbado e computado para efeito de
carência, independentemente da comprovação, pelo segurado, do efetivo recolhimento das contribuições,
que era encargo do empregador.
Não deve ser computado para fins de aposentadoria rural, contudo, o período de
01/01/1992 a 15/06/2001, no qual, apesar do registro como empregado rural, o autor exerceu atividade
urbana.
Do direito à percepção do benefício
Neste caso, o autor demonstrou o exercício de atividade rural como empregado nos
seguintes períodos:
Tempo Comum
Nº Data Inicial Data Final Anos Meses Dias
1 02/01/1976 31/12/1991 16 - -
2 01/08/2001 12/02/2007 5 6 12
3 01/06/2008 31/03/2009 - 10 -
4 01/03/2010 06/04/2011 1 1 6
Total 23 5 18
No caso dos autos, a parte autora completou 60 anos de idade em 29/09/2011. Desse
modo, a carência exigida é de 180 meses.
A parte autora comprovou o exercício de atividade como empregado rural por tempo
superior à carência.
Restaram preenchidos, portanto, os requisitos para concessão do benefício de
aposentadoria por idade rural, devida ao segurado empregado rural nos termos do artigo 48, §1º da Lei
8.213/91.”
O INSS recorreu desta decisão alegando unicamente que o Autor, ora embargante, permaneceu
afastado das atividades rurais por mais de 03 anos, eis que entre 1991 e 2001 o Demandante teria
exercido atividades urbanas, motivo pelo qual não seria possível o computo das atividades rurais
exercidas antes de 2001 para fins de carência da aposentadoria por idade rural.
Em resposta ao recurso, o Recorrido afirmou que exerceu atividade rural por tempo bem
superior ao exigido para fins de carência, pois restou comprovado o exercício de atividade rural por mais
de 23 anos, estava exercendo atividade rural no momento do implemento do requisito etário e do
requerimento administrativo do benefício e, principalmente, que o art. 143 da Lei 8.213/91 possibilita
que o tempo de serviço rural a ser utilizado para fins de carência da aposentadoria por idade rural
tenha sido exercido “de forma descontínua”, nebulosamente, de forma propositada, sem prever período
máximo de afastamento, pois, conforme já decidido pela Turma Regional de Uniformização da 4ª
Região, a analise da descontinuidade no exercício da atividade rural deve ser feita caso a caso, devendo
ser permitido o computo do tempo de serviço rural anterior na hipótese de o segurado efetivamente ter
retornado a atividade rural em momento. Em síntese, defendeu que, se o segurado não voltou
estrategicamente para o campo pouco antes do implemento do requisito etário da aposentadoria por
idade rural, mas efetivamente se estabeleceu no campo (como o recorrido, que possui mais de 20 anos
de atividade rural e na data da DER já havia retornado ao campo há mais de 8 anos) os períodos de
atividades rurais anteriores devem ser computados para fins de carência.
Também defendeu a possibilidade aplicação do art. 24, parágrafo único, da Lei 8.213/91 ao
trabalhador rural, de forma, que a partir do momento em que o segurado rural completar 1/3 do
período de carência para aposentadoria por idade rural, o segurado adquire o direito de computar os
períodos de atividades rurais anteriores pra fins de carência da aposentadoria por idade rural.
Sustentou, assim, que, como o art. 24, parágrafo único, da Lei 8.213/91 não faz qualquer diferenciação
entre segurados urbanos e rurais, a partir do momento em que o segurado rural completar 5 anos (60
meses) de atividade rural, pode computar os períodos anteriores de atividade rural para fins de
carência. E, portanto, como o recorrido já possuía mais de 08 anos de atividade rural após o retorno ao
campo, já havia adquirido o direito de computar o período anterior de atividade rural entre 02/01/1976
e 31/12/1991 para fins de concessão o benefício de aposentadoria por idade rural.
Por fim, ressaltou que havia postulado em primeiro grau, de forma subsidiária, a
concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Motivo pelo qual, postulou que
na hipótese de não ser mantida a concessão de aposentadoria por idade rural, fosse
analisado o pedido subsidiário, aplicando-se o princípio da fungibilidade a fim de conceder o
benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, eis que computados os períodos de tempo de
contribuição como empregado rural e como empregado urbano já contava com 34 anos e 19 de
tempo de contribuição na DER.
Todavia, o Acórdão ora Recorrido decidiu matéria totalmente diversa, entendendo que se
tratava de caso de soma de tempo de atividade urbana e rural para concessão de aposentadoria por
idade e negando o pedido por não estar implementado o requisito etário de 65 anos para concessão da
aposentadoria por idade prevista no §3º, do art. 48, da Lei 8.213/91. E, dessa forma, o Acórdão incorreu
não somente em erro material quanto à matéria controvertida, como restou omisso em relação aos
pedidos da parte Autora e à matéria controvertida, qual seja a possibilidade de somar os períodos de
atividade rural (02/07/1976 a 31/12/1991, 01/08/2001 a 12/02/2007, 01/06/2008 a 31/03/2009 e
01/03/2010 a 03/01/2011) para completar a carência da aposentadoria por idade rural, bem como,
deixou de analisar o pedido subsidiário de concessão da aposentadoria por tempo de contribuição.
ANTE O EXPOSTO, resta imperioso que a R. Sentença seja reformada, para o fim de sanar o erro
material e a omissão apontados, decidindo se os arts. 24, parágrafo único, e 143 da Lei 8.213/91
permitem que os períodos de atividade rural de 02/07/1976 a 31/12/1991, 01/08/2001 a 12/02/2007,
01/06/2008 a 31/03/2009 e 01/03/2010 a 03/01/2011 sejam somados para fins de completar o
período de carência da aposentadoria por idade rural. E na hipótese de se decidir que não é possível a
concessão e aposentadoria por idade rural, deve ser sanada a omissão quanto ao pedido subsidiário
de aplicação do principio da fungibilidade e concessão de aposentadoria por tempo de contribuição.
II – REQUERIMENTOS:
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
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Advogado/OAB