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UNIDADE 3

Globalização financeira

Objetivo de aprendizagem
ƒƒ Entender o fenômeno da globalização.

Seções de estudo

n Seção 1 Como ocorre o processo de globalização?


n Seção 2 Empresas multinacionais e investimento
externo direto (IED)
n Seção 3 A internacionalização da produção
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Você já deve ter escutado alguma definição de globalização.


Nesta unidade, você vai estudar sobre este assunto com mais
profundidade dando ênfase à dimensão financeira do processo
de globalização que é considerada, por alguns autores, a mais
importante.

De forma simples, pode-se definir globalização como sendo o


aumento da interdependência entre as nações. Ou seja, as relações
internacionais, nas diversas esferas, passaram a ter importância
significativa nos rumos de uma nação. Essas diversas esferas
podem ser: social, cultural, econômica, comercial, financeira,
dentre outras.

Por exemplo, políticas econômicas de um país podem interferir


no desempenho econômico de outra nação. Assim, quando os
EUA aumentam sua taxa de juros interna, há um movimento
financeiro global atraído por esta maior remuneração. E este
movimento altera juros e câmbios ao redor do planeta.

Um outro exemplo pode ser visto no comércio internacional.


Com as facilidades de comunicação, por exemplo, as pessoas
podem comprar produtos via internet sem precisarem mais ir
às lojas locais. Isso aumenta a competição e induz as empresas a
serem mais competitivas e eficientes.

Seção 1 - Como ocorre o processo de globalização?


No sentido econômico-financeiro, há quem acredite que o
mundo caminha para a interdependência total entre mercados e
empresas. Mas, convém observar que os governos nacionais ainda
terão importante papel na condução dos destinos das nações.

Existe um significativo consenso de que o aspecto mais evidente


da globalização refere-se às finanças internacionais. Três fatores
contribuíram para isso:

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a) o comércio internacional cresceu a taxas maiores que o


crescimento do PIB mundial;

b) inovações tecnológicas nas áreas de informática e


telecomunicações; e,

c) desregulamentação (liberação) dos mercados de


capitais internacionais.

O primeiro destes fatores é importante, mas não é o que


mais contribui para intensificar o processo de globalização.
A conjugação dos fatores b e c contribuiu de maneira mais
expressiva para a aceleração dos deslocamentos de capitais
internacionais.

Os avanços tecnológicos reduziram os custos de informação e


reduziram também a importância da localização geográfica.

Atualmente, os mercados operam 24 horas, on line.


Paralelamente, a desregulamentação dos mercados de capitais
reduziu a burocracia para se enviar recursos de um país a outro, e
com isso, amplia a interdependência financeira internacional.

Como ocorre o processo de interdependência


financeira internacional?

Para facilitar a compreensão deste fenômeno, o professor Renato


Baumann (1996) o analisa sob cinco enfoques distintos:

a) Enfoque financeiro: não há dúvidas de que a parte


da economia com maior grau de internacionalização
é o setor financeiro. A internacionalização do sistema
financeiro refere-se ao aumento do volume e/ou da
velocidade de circulação de capital entre as nações.
O lado positivo é que os investidores internacionais
podem remeter seu capital para outros países com
mais facilidade. O lado negativo é que aumenta a
vulnerabilidade financeira dos países. Por exemplo, os
países formam reservas em moeda estrangeira e podem
ser surpreendidos com uma migração maciça de capital.

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b) Enfoque comercial: com a globalização, a competição


passa a ocorrer em escala mundial. Conforme Carvalho
e Silva (1999), há uma crescente homogeneidade nas
estruturas de oferta e demanda, o que possibilita ganhos
de escala e a uniformização de padrões produtivos
e administrativos. Por exemplo, uma montadora de
automóveis, que visa a otimização de seus recursos não
precisa mais produzir diversos modelos para atender às
necessidades dos mercados locais. Como tem subsidiárias
em vários países, ela pode especializar cada uma delas
em determinado modelo e a demanda local seria
suprida por importações de outros modelos da própria
montadora.

c) Enfoque produtivo: as empresas multinacionais


podem ter estruturas de produção interligadas,
localizadas em diversas partes do mundo. De outra
forma, cresce o número de empresas transnacionais,
com o acirramento do processo de fusão e aquisição.
Ainda não há exemplos expressivos que permita verificar
a validade desta idéia, mas com o aumento no número
de fusões é possível notar que as empresas tendem a
interligar sua estrutura de logística, marketing, finanças,
dentre outros.

d) Enfoque institucional: com a globalização, há uma


tendência maior para a homogeneização dos sistemas
que regulam a atividade econômica e empresarial. Por
exemplo, uma das leis que rege a atividade econômica
é a Legislação Antitruste. À medida que haja mais
integração entre os países, as legislações tendem a se
tornar mais equivalentes e com isso visam evitar que
algumas empresas possam obter vantagens em alguns
países. Em fevereiro de 2005, tramitou no Congresso
Brasileiro o projeto que prevê mudanças na Lei
Antitruste do Brasil (lei nº 8.884/94) com o objetivo de
modernizá-la e ajusta-la às leis americana e européia.

e) Enfoque da governabilidade: a globalização reduz a


autonomia dos governos no que se refere à condução das
políticas econômicas (fiscal, monetária, cambial, salarial,
etc.). Isso contribui para reduzir a soberania econômica
e política das nações. Um bom exemplo se refere ao

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fato de que como hoje as empresas podem escolher


onde irão instalar suas plantas, elas, em alguns casos, se
instalam onde os salários são menores. Logo, diminui
a capacidade do governo de proporcionar melhores
condições sociais.

Agora que você já estudou sobre o processo em que


ocorre a interdependência financeira internacional,
acompanhe nas seções seguintes, sobre as empresas
multinacionais e a internacionalização dos capitais.

Seção 2 - Empresas multinacionais e


investimento externo direto (IED)

Uma das mais importantes características do processo de


globalização é a livre mobilidade dos fatores de produção (capital
e trabalho).

Estes se movem das áreas onde são mais abundantes (menor


remuneração) para áreas onde são mais escassos (maior
remuneração). No caso do fator trabalho, há a movimentação
devido às situações como exilados políticos e fugitivos de guerra.

A movimentação do fator trabalho é, na maior parte das


vezes, representada pela migração de trabalhadores do terceiro
mundo para países do primeiro mundo e visa condições sócio-
econômicas melhores.

Na atualidade, há grande resistência aos deslocamentos de


recursos humanos entre nações (com exceção dos países membros
da União Européia), exceto no caso de mão-de-obra altamente
qualificada.

O que são empresas multinacionais e transnacionais?

Conforme Carvalho e Silva (1999), empresas multinacionais são


aquelas que preservam a base de origem nacional e estão sujeitas
à regulamentação e ao controle do seu país de origem.

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Já as empresas transnacionais, conforme descrevem os autores


citados, têm capital inteiramente livre, sem identificação nacional
específica e com gestão internacionalizada e, no mínimo,
potencialmente inclinadas a localizar-se em qualquer local do
mundo para obter retornos maiores ou com menos riscos.

O movimento internacional de capitais se dá basicamente de


duas formas:

„„ investimento em portfólio ou carteira: diz respeito


somente a ativos financeiros. As transações realizam-se
através das instituições financeiras. Normalmente são
investimentos de curto prazo e seu movimento se dá de
acordo com as perspectivas de remuneração (taxa de juros
do país hospedeiro) e, por ser de curto prazo, pode ter
implicações na vulnerabilidade financeira de um país.
„„ Investimento Externo Direto (IED): é a operação na
qual uma empresa cria uma subsidiária no exterior ou
compra uma empresa já existente em outro país (como
no caso das privatizações da telefonia no Brasil). Ao
contrário do investimento em carteira, o IED é de longo
prazo e representa um importante canal para os fluxos
internacionais de capitais privados.
Na última década, o crescimento do IED foi bastante acelerado e
representativo do processo de globalização.

É através do IED que as grandes empresas globais


realizam sua inserção em mercados estrangeiros e
passam a competir na arena global.

Você já deve ter percebido que a maior parte das empresas


multinacionais é dos Estados Unidos, da União Européia e do
Japão. Eles representam aproximadamente 85% do IED mundial.

No que se refere ao IED, o Brasil é mais receptor do que


investidor. Na década de 90, o país foi um dos maiores receptores
de IED devido ao crescimento do mercado brasileiro e ao
processo de privatização.

Atualmente, muitas empresas brasileiras têm realizado


investimentos externos. Dentre os países em desenvolvimento,

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o Brasil é um dos países que mais tem empresas que realizam


IED. Dentre estas, destacam-se a Petrobras, Grupo Gerdau, Weg,
Tupy, dentre outras.

Quais as vantagens para as empresas?

Ao realizar um IED, as empresas buscam obter algum tipo de


vantagem no país hospedeiro. Confira algumas destas vantagens:

„„ matéria-prima: uma empresa transnacional pode reduzir


seus custos de produção e realizar investimentos diretos
em países onde os recursos naturais e/ou matérias-primas
sejam mais abundantes (e mais baratos). Exemplos disso
são investimentos em petróleo, minerais e atividades
agrícolas;
„„ mão-de-obra: empresas cuja matriz esteja sediada
em um país onde os salários são elevados podem
obter vantagens ao criar subsidiárias em locais onde
a remuneração dos trabalhadores é menor. Você deve
observar também que além da remuneração, a decisão
em investir no exterior deve levar em conta também a
produtividade da mão-de-obra. Um caso interessante
e recente é o deslocamento de empresas de tele-
marketing dos Estados Unidos para a Índia. Da Índia,
os trabalhadores atendem os consumidores norte-
americanos;
„„ transporte: os custos de transporte também podem
influenciar as decisões de investimento no exterior. Neste
caso, a localização da empresa será escolhida com base na
comparação das despesas de transporte do produto final e
da matéria-prima;
„„ políticas públicas: alguns países podem oferecer
tratamento especial a empresas transnacionais. Os países
podem oferecer vantagens em impostos ou subsídios. No
Brasil, ficou famosa a guerra fiscal entre os estados da
Federação que visavam atrair empresas para sua região e
que ofereciam vantagens financeiras para estas.

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E os países? O que têm a ganhar?

De modo geral, os investimentos externos diretos são benéficos


para os países hospedeiros, pois criam empregos, aumentam
o PIB e, em muitos casos, contribuem para a transferência de
tecnologia e conhecimento.

Os investimentos externos também contribuem para aumentar


a receita dos governos locais, que com o aumento da atividade
econômica, arrecadam mais.

Mas, também há inconvenientes para os países hospedeiros. Um


deles é a redução da soberania dos Estados nacionais na defesa de
seus interesses.

Outro inconveniente sério se refere à possibilidade de formação


de monopólios/oligopólios privados, ou seja, a redução da
concorrência.

Seção 3 - A internacionalização da produção

Você já sabe que é a perspectiva de lucro (remuneração do


capital) que leva pessoas a abrirem empresas. Logo, é o lucro que
move os capitais pelo mundo.

Então, pode-se dizer que há basicamente três maneiras de


internacionalizar um produto:

a) exportação: a maneira mais evidente de


internacionalizar um determinado produto é enviá-lo ao
exterior;

b) IED: criar uma subsidiária no exterior (exportar


capital);

c) licença: conceder uma licença para que uma empresa


estrangeira possa produzir um determinado produto
(exportar tecnologia, patentes, etc.

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Como se dá a escolha de uma empresa?

A escolha dependerá de uma série de fatores, tais como:


economias de escala, demanda, custos de fretes, barreiras
comerciais, dentre outros. Bom, se houver barreiras à importação,
a exportação do produto é descartada.

Mas vamos supor que não existam barreiras comerciais e que os


produtos possam ser transacionados livremente. Assim, analise
a escolha de uma empresa estrangeira em ter que exportar seu
produto para o Brasil ou produzi-lo aqui.

De certa forma, a decisão da empresa é condicionada pela


demanda do seu produto aqui no Brasil e pela economia de escala
que ela pode obter.

Caso a demanda no Brasil seja pequena e não compense o


investimento, então, a empresa tende a exportar seu produto para
o Brasil.

Ao contrário, se a demanda no Brasil cresce, será mais vantajoso


realizar investimentos diretos aqui ou conceder licença para que
alguma empresa brasileira possa produzir o produto aqui.

O Registro do IED
“A partir da implantação do módulo RDE-IED, o registro dos investimentos
externos diretos em empresas receptoras no País, que, por força da legislação Registro declaratório eletrônico.
em vigor, deve ser efetuado no Departamento de Capitais Estrangeiros e
Câmbio - DECEC do Banco Central do Brasil, passa a ser declaratório em meio
eletrônico, no Sistema Banco Central de Informações - SISBACEN. RDE-IED
é o sistema de registro declaratório eletrônico dos investimentos externos
diretos no Brasil. Classificam-se como investimentos externos diretos, para
fins de registro declaratório eletrônico, as participações permanentes em
empresas receptoras no país, ou, segundo as práticas usuais de mercado,
as participações com ânimo de permanentes, detidas por investidor não-
residente, pessoa física ou jurídica, residente, domiciliada ou com sede no
exterior, mediante a propriedade de ações ou quotas representativas do
seu capital social, bem como o capital destacado de empresas estrangeiras
autorizadas a operar no país: Banco central do Brasil”.

Fonte: Registro declaratório eletrônico módulo investimento externo direto rde-ied. Manual
do declarante (19.06.2001).

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E as licenças?

Não há uma teoria específica sobre a internacionalização de


um produto através da concessão de licenças. Mas, de modo
geral, elas ocorrem em casos específicos referentes a patentes ou
produtos ligados à tecnologia.

O caso mais famoso é o do videocassete formato VHS.


Em meados dos anos 60, três companhias pesquisavam e
desenvolviam o produto que hoje se conhece como videocassete.
A JVC utilizava o padrão VHS (criado pela Matsushita), a Sony
possuía o padrão Betamax e a Philips o padrão V2000.

Cada padrão tinha um formato de fita diferente um do outro


e assim que os aparelhos foram lançados, as empresas fizeram,
individualmente, contratos com os estúdios de cinema.

Só que um grande problema apareceu: cada filme era lançado


apenas no padrão da companhia com a qual o estúdio havia
realizado contrato.

Logo, a única maneira de uma pessoa poder ver todos os filmes


disponíveis em uma locadora era ter três aparelhos em casa, o que
é, claramente, impossível.

A JVC resolveu o problema ao licenciar seu padrão VHS para


outras empresas. Com o tempo, vários produtores ao redor do
mundo adotaram esse padrão, o que facilitou a vida das pessoas.
E a JVC conseguiu emplacar seu padrão em todo o mundo.

Em 2004, o Brasil passou a ser o quinto país em desenvolvimento


a realizar IED, só estando atrás de países asiáticos.

Naquele ano, empresas brasileiras investiram US$ 9,5 bilhões


na construção e/ou aquisição de novas plantas industriais. Entre
as empresas, podemos destacar a Petrobras, Odebrecht, Ambev,
Tigre tubos e conexões, Fundição Tupy e Weg, dentre outras.

Investimentos em carteira ou portfólio?

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Você estudou até agora sobre o IED e viu que trata-se de um


investimento de longo prazo e que implica alguns benefícios aos
países hospedeiros.

Já os investimentos em carteira, ou seja, os investimentos


puramente financeiros são normalmente investimentos de
curto prazo (este prazo pode ser menor do que um dia). O fato
de serem de curto prazo e terem, na maioria dos países, livre
mobilidade, implica o aumento da vulnerabilidade dos países
menos desenvolvidos.

Quando você estudou os fundamentos econômicos aprendeu que


os fatores de produção são terra, capital e trabalho. Há alguns
países que têm alguns destes fatores em menor abundância, logo,
precisam importá-los.

É o caso dos países em desenvolvimento, como o Brasil, que


têm que importar capital. Ou seja, como se tem pouca poupança
interna (observe que, de acordo com a teoria econômica,
poupança é igual a investimentos) vai se depender de poupança
externa.

E já que se depende de poupança externa, o ritmo de crescimento


da nossa economia depende dos movimentos de retração e
expansão das finanças internacionais. Quanto maior for esta
dependência, maior risco corre um determinado país.

Na medida em que os controles sobre os movimentos de capitais


foram sendo reduzidos, os mercados criaram novos mecanismos
de investimentos.

Houve, então, uma gradativa redução da importância dos


bancos tradicionais, ao passo que novos agentes como corretoras
de valores, sociedades de créditos, bancos de investimentos,
entre outros, ganharam mercado, pois se especializaram em
gerenciamento de carteiras neste novo ambiente.

As modernas instituições financeiras captam poupanças e buscam


aplicá-las onde proporcionarem maior retorno aos seus clientes.

Com a atual tecnologia, sempre se pode modificar a composição


de uma carteira e deslocar recursos de um mercado para outro.

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Lembre-se: quanto maior o retorno maior será o risco.

Com a desregulamentação financeira, os agentes passaram a


ser mais ousados, ou seja, tornaram-se mais propensos a fazer
investimentos mais arriscados, que, em contrapartida, oferecem
maior retorno.

Mas, para reduzir estes riscos, foram criados diversos mecanismos


de defesa, tais como, mercados futuros, swaps e derivativos. Estes
mecanismos, principalmente os derivativos, contribuem para
aumentar a instabilidade financeira do planeta, pois se tornaram
instrumentos de mera especulação financeira.

O que move o capital pelo mundo?

Como você já sabe, o que move o capital é a perspectiva de


maiores ganhos.

Um movimento muito comum é buscar taxas de juros maiores, já


que estas representam investimentos mais seguros, pois contam
com a garantia dos governos locais. Veja o caso do Brasil: o
Brasil que precisa atrair capital estrangeiro para fazer face às
suas necessidades de capital. Ao mesmo tempo, o Banco Central
brasileiro usa a taxa de juros como um instrumento de combate à
inflação.

Como você já deve ter reparado ao ler os noticiários brasileiros,


sempre que a inflação ameaça aumentar, o BC aumenta as taxas
de juros.

Com esse aumento, o BC atrai para o país capital de investidores


estrangeiros interessados em maiores ganhos. Com a entrada de
dólares/euros, no mercado interno, o valor destas moedas tende
a cair no mercado doméstico e, assim, prejudica as exportações e
incentiva as importações.

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O que é o risco país?

Você já deve ter ouvido esse termo várias vezes, principalmente,


com a terminologia “risco Brasil”. Fundamentalmente, o
risco país refere-se à significativa volatilidade do Balanço de
Pagamentos (BP).

Isto porque a facilidade de deslocamento do capital pode levar


a rápidas e expressivas variações no saldo em transações correntes.

Os países em desenvolvimento tendem a apresentar déficit em


transações correntes, pois são importadores de capital.

Segundo Carvalho e Silva (1999), o problema dos saldos em


transações correntes é que a entrada de capitais externos significa
maiores transferências futuras para o exterior, na forma de juros
e lucros. Assim, o déficit constante implica a dificuldade de um
país em conseguir créditos para financiar este déficit.

O risco país reflete a percepção de segurança que os investidores


estrangeiros têm em relação à capacidade de um país de pagar
sua dívida externa. O risco país é medido pelo número de pontos
percentuais de juros que um governo tem de pagar a mais que
os EUA para conseguir empréstimos no exterior. Um risco em
torno de 650 pontos significa que os títulos do país pagam ao
investidor, em média, um prêmio extra de 6,5%, na comparação a
um título dos EUA, considerado de risco zero.

Mas, afinal, o que causa os aumentos e as quedas no


risco país?

Bom, há elementos quantitativos e qualitativos. No caso


dos elementos qualitativos, vamos destacar a estabilidade da
conjuntura político-econômica de um país. Quanto mais estável
for, menor tende a ser o risco e vice-versa.

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No que concerne aos fatores quantitativos, vamos destacar alguns,


como você verá no quadro abaixo:

INDICADOR RISCO MEDE


Dívida Externa/PIB + Comprometimento do PIB com dívida
Transações Correntes/PIB + Dependência de poupança externa
Dívida Externa/Exportações + Capacidade de gerar divisas
Volume de exportação - Capacidade de gerar divisas
Volume de Reservas - Liquidez
Quadro 3.1 – Elementos quantitativos
Fonte: Adaptado de Carvalho e Silva (1999).

Dê atenção ao último item. Ele refere-se às reservas de moeda


estrangeira (especialmente dólar, euro e libra esterlina) que um
país dispõe no cofre do seu Banco Central. Em outras palavras,
reservas referem-se ao volume de moeda estrangeira (e ouro)
acumulado por um país.

Normalmente, as reservas são feitas em moedas conversíveis,


como o dólar americano, o euro, o iene e libra esterlina, o franco
suíço e outras moedas fortes.

As reservas indicam a variação no estoque de moeda estrangeira,


ou seja, se o país ganhou mais do que perdeu ou se perdeu mais
do que ganhou.

As reservas internacionais são utilizadas como ferramentas de


intervenção governamental no mercado, já que, através da compra
e venda de moedas, é possível controlar as taxas de câmbio. Há
estudos que mostram que quanto maior são as reservas, menor
tende a ser o risco que o país sofre e menores tendem a ser as
variações na taxa de câmbio.

Acompanhe a seguir, para aprimorar os conhecimentos


adquiridos com esta unidade, as atividades de autoavaliação.

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Síntese
Nesta unidade, você aprendeu que a dimensão financeira da
globalização é a mais importante característica desse processo.

Além disso, aprendeu também que as empresas podem fazer


investimentos diretos no exterior ou investimentos em portfólio.

De forma geral, fica evidente que o movimento de capitais tem


significativo impacto no Balanço de Pagamentos.

A próxima unidade convida você a estudar sobre a essência das


finanças internacionais: o sistema financeiro internacional. Até lá!

Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e, em seguida, acompanhe as
respostas e comentários a respeito no final deste livro didático. Para
melhor aproveitamento do seu estudo, realize a conferência de suas
respostas somente depois de fazer as atividades propostas.
Leia com atenção aos enunciados e realize a seguir as atividades:

1. Por que as empresas realizam investimentos diretos no exterior?

2. O que é risco país?

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Saiba mais
Se você ficou interessado em conhecer mais detalhes sobre o IED, vale a
pena você ler:
KRUGMAN, P.; OBSTEFELD, M. Economia Internacional. São Paulo:
Makron, 2002.
Mas se você quiser saber mais detalhes sobre investimentos em carteira,
há uma análise bastante completa em:
GONÇALVES, R. et al. Economia internacional: uma perspectiva brasileira.
Rio de Janeiro: Campus, 1998.

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