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CAROL S. PEARSON Rissarit DO HEROI TRUS Oh Carol S, Pearson, O Despertar do Heréi Interior A Presenga dos Doze Arquétipos nos Processos de Autodescoberta e de Transformagie do Mundo Tradugao PAULO CESAR DE OLIVEIRA ‘Tieuo original: Awakening the Heroes Within Twelve Archetypes to Help us Find Ourselvesand Transformour World Copyright ©1991 CarolS. Pearson, Publicedo mediante acordo com Lennart Sane Agency AB, Copyright da edico brasileira © 1994 Editora Pensamento-Cuttix Lida 1 eigdo 1994, 2 reimpressio 2017 Todos 0s direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usuda de ‘qualquer forma ou por qualquer meio, eleténico ou mecinie, inclusive ftocdpias,gravegdes ‘ou sistema de armazensmento em banco de dados, som permistioporescrito,exeeto nos casos de ttechos curtoscitados em resenhas critica ou artigos derevists. Direitos detraducto para o Brasil aduirdos com exclusividade pela EDITORAPENSAMENTO-CULTRIXLTDA,,quesereenvaa ropriedae terri desta radugso. Rus Dr Mario Vicente, 368 -04270-000~Sto Paulo, SP Fone:(11)2066-9000~ Fax: (11) 2066-9008 “Hip. /wwrw.editoraculrix.com.br E-mail atendimento@eaitoracultrt.com br Foifeitoo depbsito legal “A busca s6 termina quando 0 coragdo ¢ o estOmago sstive- rem satisfeitos."” ‘Sun Bear, Walk in Balance -Agradecimentot Introdugaio ‘Como Usar este Livro Sumério Parte I: A Danja do Ego, do Selfe da Alma 1, Os Estigios da Jornada O Ego: Pretegendo a Cranga Interior. A Alma: Desvendando 0s seus Mistérios 2. 3. 4, O Self: Expressando-nos no Mundo 5S. Além do Herofsmo: A Danga Parte Il: eran Par ea a 6. Olnocente . 1. OOrfio . . 8. O Guerreiro 9. O Caridoso Parte IM: A Jomada ~ 10. OExplorator 11. ODestruidor 12, O Amante 13, 0 Criador ‘Tornando-se Real Parte IV: A Volta ~ Tomando-se Livre. 14, 0 Governante 15, O Mago ul 15 28 39 at 45 4 8 cy 91 103 116 BL 14 aT 161 14 191 201 209 m 16. 0 Sabio 17. OBobo Parte V: Reverenciando a Diversidade ~ Como Transformar 0 Seu 18. Da Dualidade & Totalidade ~ Um Modelo de Estégios de Vida 19. Sexo e Desenvolvimento Humano ao Longo da Vida 20. Sexo, Diversidade e a Transformasio da Cultura 310 21, Reclamando o Mito da Sua Vida... . 328 Apéndice: O fndice de Mitos Heréicos (Formulério E) oe 338 Nows 0... eee Me 10. Agradecimentos 0 Despertar do Herdi Interior 60 resultado de doze anos de estado, 0s quais se iniciaram na pos-graduago, quando fiquei fascinada pela questo da jomada percorrda pelos hersis, un entusiasmo que deu origem A minha dissertaglo sobre bufées ehherbis na literatura contempordnea (1970). “Assim como em qualquer obra que represente a culminacao de doze anos de estudo, €impossivel citar a contribuigdo de todos os livros, teorias e pessoas que influenciaram este trabalho, Todavia, algumas dessas contribuigdes foram to jmportantes que no podem ser esquecidas. Quando eu estava fazendo a mina pos-graduacio, olivro de Joseph Campbell, The Hero With a Thousand Faces.* tuou como umh chamamento para que eu empreendesse este trabalho. Enquarto tscrevia este livro, enti-me muito grata aos meus professores de pés-graduagio ho Departamento de Inglés da Universidade Rice, em especial a Monroe Spears, a William Pipere a David Minter, por terem me ensinado tanias coisas nto aperas Sobre literatura mas também a respelto da alma. Também tenho uma divida de tratdo por ter participado dos programas de estudos sobre a muther na Univer- Sidade do Colorado e na Universidade de Maryland, e pela oportunidade de haver trabathado com Donna Shavlik e Judy Touchton, no Departamento de Questies Femininas do Conselho Americano de Educaglo, © com Katherine Pope, na prepara ¢ revisto do livro Who Am I This Time? Female Portraits in American ‘and British Literature e na claboragBo do livro The Female Hero in British and ‘American Literature: ‘Ao planejare a0 escrever este livro também me beneficiei enormemente da ‘minha filiagéo a0 Centro Midway para Imaginacio Criativa, da Fundagao Instituto Psiquidtrico,em Washington, D.C.,e ao Programa de Enriquecimento Profissional em Psicologia Profunda, da Wainwright House, em Rye, Nova York. «publica com ul de O Merde Mil Face peas Edtoms CulubvPensemento, So Paulo, 1788 uw Atrayés do Centro Midway, fiz curso de um ano sobre Métodos de Mitologia CCriatva, ministrado por David Oldfield, a fim de aprender estratégias para traba- Ihar de forma experimental com material arquetpico e mitico, Eu ndo s6 aprendi todas essas coisas como também tiei proveito das teorias sobre alma e desenvol- -vimento da alma, apresentadas nessa ocasio. Postetiormente, tive @ oportunidade de ministrar 0 curso de treinamento no Centro Midway, o que me proporcionou a oporturidade de tabalhar com profis- sionais de diversas éreas utlizando as eorias e exeiccios apresentados neste liv, ‘Agradego ao Centro Midway e a David Oldfield pela oportunidade de expor estas {déias a um grupo to extraordinario de participants, A influéncia que esse grupo de pessoas exerceu sobre mim e sobre este livro foienorme eno pode ser descrta emtoda asua plenitude. las me encorajaram acerca da importancia deste trabalho, fizeram experiéncias com a aplicagio das teorias em suas atividades e em suas _proprias vidas, leram os manuscritos e compartilharam generosamente suas idéias © processos. PPartcipei durante dois anos do programa de enriquecimento da Wainwright. House, onde pude aprofundar meus conhecimentos sobre a psicologia junguiana. Quero agradecer particularmente a Franklin Valas; diretor da Wainwright House, ©aDon Kalshed ea Sidney McKinsey, dietore coordenador, respectivamente, do Programa de Enriquecimento Profissional em Psicologia Profunda, por terem ctiado essa valiosa experiéncia educacional, colocando-a ao meu alcance justa- mente quando precisei dela. Agradego ameus colegas na Meristema e, em especial, a Sharon V: Seivert, ue colaborou comigo na elaboragio do projeto “‘Herdis em Aso", que explora ‘muitos dos arquétipos descritos neste livro aplicando-os a ambientes organiza cionais, Portanto, houve um grande intercambio de idéias entre 0s dois projetos: © trabalho que fizemos juntas exerceu tamanha influéncia sobre os meus pontos 4e vista que o resultado da nossa colaboracdo aparece ao longo de todo este livro ©, especialmente, nas partes Il, Ile IV, nos quais 6 feita a descrigio de cada arquétipo. Damesma forma, aequipe que trabalhou ao meu ladona elaboragao do indice de Mitos Her6icos contribuiu de indmeras maneiras para aumentar @ minha compreensio sobre os arquétipos. A equipe que desenvolveu o Fomnulirio D (com 4dez arquétipos) foi composta por Sharon Seivert e Mary Leonard, tendo a assis- tncia tecnica de Beth O’Brien e Barbara Murry ¢ ai contibuigdes especializadas de Francis Parks, de Polly Armstrong, de David Oldfield e de John Johnson. O Grupo que desenvolveu o formulério E (com doze arquétipos) foi consttuido por Hugh Marr, Mary Leonard © Sharon Seivert. Quero fazer um agradecimento especial a Hugh Marr, que conduziu os estudos sobre a validade e confiabilidade do instrumentale liderou o desenvolvimento eo aprimoramento de novas questoes. 2 ‘Um agradecimento especial a Sharon V. Seivert, coordenadora do projeto ““Herbis em Agdo”, da Meristema, e co-autora do livro Heroes at Work: Workbook, e & equipe que elaborou o indice de Mitos Heréicos, por terem ‘me ajudado a desenvolver e a cristalizar algumas das idéias basicas contidas neste livre. Dez dos arquétipos discutidos aqui foram incluidos no Herdes at Work: Workbook e no formulario D do indice de Mitos Heréicos (publicado pela Meristema em 1988), Quero também agradecer aos membros do seminério de pés-graduagao de Mary Leonard, no Departamento de Aconselhamento da Universidade de Mary- land, que me proporcionaram material e sugestdes sobre o projeto desta obra; 2 Escola Quacre Sandy Spring, por colocarem a minha disposigdo um local para testare retestar 0 Formulério D; e ao Centro Mt. Vernon, por me permitir testar ¢ retestar 0 Formulério E. Quero também chamar a atengdo para a dissertago que sth sendo feita por Hugh Marr, dissertagdo que contribuiré para o desenvolvimen- to do indice de Mitos Herdicos. _Enquanto escrevia este livro, colaborei com Laurie Lippin no planejamento de semindrios sobre “Tipo e Arquétipo””,nos quais a teoria Myers-Briggs do Tipo {oi fundidacom o sistema desenvolvido neste livro - uma colabora¢ao que clareou ‘minhas idéias acerca dos arquétipos e ajudou-me a entender como 0 tipo ¢ 0 arquétipo complementam-se mutuamente na nossa compreensio da psicologia de qualquer individuo. ‘Sou uma pessoa de sorte por ter Thomas Grady como meu editor na Harper de Sio Francisco. Fico-Ihe muito grata pelo seu estimulo e orientagdo durante o tempo emque estive escrevendoeste livro, por suas atenciosas consideragdes sobre 6 formato e 0 design do livro e pela sua pericia na preparagao de originais. Quero agradecer também a ajuda de Naomi Luck, que reduziu a proporgdes legiveis 0 {que antes era um trabalho intoleravelmente longo. Quero também fazer um aagradecimento especial a Sandra Letelier por ter datilografado osdiversos esbogos ‘com 0 mesmo cuidadoso profissionalismo que caracteriza qualquer trabalho seu. “Agradego ‘ambém & David Metkowitz, a Joan Herren ¢ a Alice Abrash por terem lido e comentado 0 manuscrito, ‘Quero agradecer a David Merkowitz, meu marido, ¢ a Jeff, Steve e Shanna, meus filhos, pelo amor, apoio e estimulo que deram a este projeto. Agradego também ao Cozi, o grupo de apoio que exerceu uma imensa influéncia sobre omeu desenvolvimento emocional e espiritual o longo de muitos anos, os meus colegas da Meristema, ao meu analista, Dr. Francis Parks, e aos meus pais, Johne Thelma Pearson, cujo amor e fé proporcionaram uma base s6lida para aminha vida, B Por fim, quero agradecer aos leitores de The Hero Within: Six Archelypes We ‘Live.By.* Teno sido imensamente gratificada pela reagao do pablico ao livro e inspirada pelas historias que os leitores me contarama respeito do impacto que ele produziu em suas vidas. Nele eu solicitava aos leitores que, varios anos depois, no me pedissem para defender 0 que nele euhaviaescritoe, sim, que me perguntassem ‘© que cu havia aprendido desde entao. Muitos fizeram justamente isso e eu tenho esclarecido minhas idéias respondendo-Ihes individualmente, em grupos, em con. feréncias e em workshops a respeito da jomada do her6i ealizados em todo o pats. Este livro oferece uma resposta mais ampla a essa questo. * Publicado com ole de O Hert Interior Sei Arguipes gue Orient nevas Vidas, pea Bors ‘Cats, Sto Paul, 1992. 4 Introdugao ‘Costumamos dizer que algumas pessoas tem ‘‘alma"” Elas amaram, softeram tem um profundo senso do significado da vida. E, o que 6, talvez, mais importante ainda, elas sabem quem sio. utras pessoas parecem ter perdido suas almas. Elas podem ter bens materiais uma boa casa, um bom carro, um bom emprego ¢ boas roupas; podem até mesmo ter uma vida familiar estével e serem pessoas teligiosas. Por dentro, porém, se sentem vazias. Mesmo quando fazem o que deve set feito, suas agbes s¥o destitut- das de significado. ‘Existem ainda outras pessoas que amam, sofreme vivem a vida intensamente ‘mas nunca chegam realmente a um acordo com as suas vidas. Elas parecem niio conseguir encontrar um emprego.ou relacionamentos pessoais que realmente as satisfagam e, portanto, se sentem constantemente coagidas. Ainda que possamestar ligadas as suas almas, elas se sentem isoladas do mundo. ( caso mais triste é 0 daquelas pessoas que nunca aprendem a abrir caminho na vida ou como ser sinceras consigo mesmas. Suas vidas so vazias e sem graga “= embora no precisem ser necessariamente assim: virtualmente, todos somos ccapazes de encontrar prop6sito significadonanossa vidaena vida da comunidade humana. [Nas hist6rias sobre o herofsmo, encontramos um modelo para aprender a -viver. A busca herGica implica dizer sim anés mesmos e, a0 fazé-lo, tomarmo-nos ‘mais plenamente vivos e atuarmos de forma mais eficiente no mundo. A jornada do herdi consiste primeiramente na realizagdo de uma jornada para encontrar 0 tesouro representado pelo nosso verdadeiro Selfe, em seguida, na volta a0 ponto de partida para dar nossa contribuisdo no sentido de ajudar a transformar o reino ~e, a0 fazé-lo, transformar a nossa propria vida. Embora a procura propriamente dita esteja repleta de perigos e de armadilhas, ela nos oferece uma grande recom- ppensa: a capacidade de sermos bem-sucedidos no mundo, o conhecimento dos 4s :mistérios da alma humana, a oportunidade de encontrar e de expressar nossos dons sem iguais no mundo e de viver em harmonia com as outras pessoas. (O Despertar do Heréi Interior 6 destinado a pessoas em todos os estégios da Jjomada da vida: ele € uma convocagao & busca para aqueles que estdo iniciando ‘ou apenas considerando a possibilidade de empreender a jomada, serve de estimulo Aqueles que hé muito tempo esto jomadeando, e é um instrumento de trabalho para as pessoas que jé esto bem adiantadas em suas jomadas e querem descobrir ‘maneiras de compartilhare de passar adiante aquilo que aprenderam. Cada jomada {nica e cada explorador traga um novo caminho. Todavia, é infinitamente mais {cil empreender essa jomada tendo pelo menos algum conhecimento a respeito ddas experiéncias daqueles que jé estdo & nossa frente. Quando aprendemos quais so 0s diversos caminhos herdicos possiveis, compreendemos que todos temnos a ‘oportunidade de ser hersicos & nossa prépriae singular maneira. As historias arespeito de her6is sto profundas ¢eteras. Flas ligam os nossos proprios anseios, desgostos e paixdes as experiéncias dos que vieram antes de n6s, de modo que podemos aprender algo a respeito da ess€ncia do significado de ser Ihumano, ¢ também nos ensinam de que forma estamos ligados aos grandes ciclos ‘dos mundos natural e espiritual. Embora 0s mitos que podem dar significado a ‘nossas vidas sejam profundamente primitivos. arquetipicos, as vezes nos inspiran- do terror, eles também tem a capacidade de libertar-nos de modos de vida falsos € fazer com que passemos ater uma vida de verdade. Se evitarmos 0 que T. S. Elliot cchamou de ‘terror primitivo”’, perderemos nossa ligado com a intensidade e 0 ‘istério da vida. O encontro da nossa ligagdo com esses padres eternos propor- ciona-nos um senso de significado e importincia até mesmo nos nossos momentos ‘mais penosos ¢ alienados, recuperando dessa maneira a dignidade da vida. paradoxo da vida modema € que, ao mesmo tempo que estamos vivendo oma nunca se viveu antes e, assim, recriando diatiamente o nosso mundo, nossas atividades freqientemente nos parecem infundadase Vazias. Para transcender esse estado, precisamos nos sentir enraizados simultaneamente na hist6ria ¢ na eterni- dade. E por isso que 0 mito do her6i € tao importante no mundo'contemporaneo. ‘Trata-se de um mito imemorial que nos une a pessoas de todas as 6pocas e lugares. Ele fala em saltar intrepidamente através dos limites do conhecido para enfrentar © desconhecido e ter confianga de que, quando chegar 0 momento, tefemos os recursos necessérios para enfrentar nossos dragdes, descobrir nossos tesouros ¢ retomar para transformar 0 reino. Ele também fala em aprendermos a ser verda- deiros com n6s mesmos ea viver em harmonia com os outros membros da nossa ‘comunidade. No mito clissico, a satide do reino refletia a satde do Rei ou da Rainha. Quando 0 govemante era ferido, o reino transformava-se numa terra devastada, Para resolver os problemas do reino, era preciso que um her6i empreendesse uma 16 busca, encontrasse um objeto sagrado e retomasse para curar ou substituir o governante. Nosso mundo apresenta muitos dos sintomas cléssicos de um reino devastado: fome, danos ao ambiente natural, dificuldades econdmicas, grandes Injustigas, desespero e alienago pessoais ¢ a ameaga de guerra e aniquilamento. Noss0s ‘reinos” refletemo estado de nossa alma coletiva eno apenas ade nossos lideres. Esta ¢ uma €poca da histéria humana em que hé grande necessidade de hheroismo. Tal como os her6is de outrora, nés contribuimos para restaurar a vida, a satide e a fecundidade do reino como um beneficio colateral decorrente do fato de termos empreendido a nossa jomada, descoberto 0 nosso destino e ofertado nossas proprias e singulares dadivas. E como se o mundo fosse um gigantesco quebra-cabeca c cada um de nbs que empreendesse uma jomada retomasse com lum de seus pedacos. Coletivamente, a medidaque todos vo dando sua contribui- 80, 0 reino € transformado. ‘A transformacto do reino depende de todos nds. A compreensio desse fato nos ajuda a ultrapassar uma postura competitiva ¢ a desenvolver uma convicsto da vontade divina que fortalece a nés mesmos e aos outros. Se uma pessoa “‘perde”,e ndo realiza o seu potencial de contribuigdo, todos perdemos. Se nos falta coragem para empreender a nossa jomada, criamos um vazio no lugar onde

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