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Terapias narrativas e

práticas psicossociais

Seção 2.3
Prof. Leandro Tavares de Oliveira
Escolas de Terapia de Família de 2ª ordem
Processos reflexivos e práticas narrativas:
Vale relembrar que estas escolas prezam pela flexibilização dos olhares ou dos
pontos de vista, consideram que o mundo é construído pelas pessoas que o
constituem e têm como essencial a postura de cooperação e colaboração,
mantendo uma atitude de curiosidade legítima ou de “não saber” nas interações e
conexões com os sistemas familiares e redes sociais.
Processos reflexivos
O processo reflexivo leva em consideração que “não percebemos as coisas em si
mesmas, mas sempre como algo que se destaca de um fundo, de um contexto.
São infinitas as possibilidades de imagens a partir de um fundo, o que quer dizer
que sempre existe mais do que enxergamos.
Processos reflexivos
A partir das ideias do neurocientista chileno Maturana (1997), entendemos que o
conhecimento é construído pelo sujeito que conhece, a partir da sua estrutura
social, cultural e biológica, através do seu intercâmbio com o meio, intermediado
pela linguagem, a qual é compreendida como uma forma de estar no mundo,
como uma “coordenação de coordenações de comportamentos”, e não como uma
representação especular do mundo.
Autopoiese
Maturana e Varela (1994) criaram o conceito de autopoiese, que significa gênese
de si mesmo.
Determinação estrutural dos seres vivos, que fazem com que eles Os autores
estavam interessados em estabelecer uma teoria que definisse o que é um ser
vivo e no estudo sobre a cognição e descobriram a relação inerente entre o
conhecimento e a vida: viver é conhecer, é estabelecer vínculos de colaboração,
é relacionar-se.
Autopoiese
Vale destacar que, quando estas características estruturais se modificam e
permanecem ao longo de gerações de uma linhagem, surge uma herança. Não
estamos falando meramente de características genético-cromossômicas,
passadas de uma geração para outra, mas sim das formas de relacionamento,
que fazem parte da organização e estrutura dos seres vivos.
Autopoiese
Estas ideias modificaram de forma significativa os processos terapêuticos, ao
reafirmar que não é possível uma forma de interação que seja instrutiva.
Andersen (1996) nos chama atenção para a importância de que as interações se
deem de uma forma que não seja demasiadamente incomum, mas
adequadamente incomum. Ele explica que, se na conversação terapêutica, as
partes envolvidas, com suas estruturas e organizações, tiverem um diálogo
comum demais, pode não fazer diferença; uma conversação incomum demais
pode retrair ou fechar a conversa.
Terapias de família inspiradas nos processos reflexivos
- Tendem a ser breves
- o entrevistador busca descontruir as várias queixas (entender como cada um
chegou àquele significado) e construir um problema comum, consensual para
o grupo atendido.
- Sugere-se que as reflexões sejam em forma de um diálogo e que nelas
sejam incluídas mais perguntas do que afirmações.
Processos Reflexivos Abertos
- À medida que o modelo ganhou outros espaços fora do setting terapêutico,
Andersen passou a referir–se sobre o seu trabalho como “Processos
Reflexivos Abertos”.

- Novas adaptações foram feitas, não havia necessidade de espelho para os


observadores e, algumas vezes, um membro da família poderia ocupar o local
de observador.

- Essas mudanças abriram espaço para que a intervenção ocorresse em outros


contextos, reuniões, supervisões e etc.
A terapia narrativa
White e Epston (1992; 1993; 1995), considerados os criadores da terapia
narrativa, afirmam que as pessoas vivem experiências que são organizadas e
conectadas de acordo com o tempo e os temas. São estas histórias que dão
sentido às nossas vidas.
Quando estamos com um paciente em um atendimento, ouvimos as narrativas
que compõem sua vida e procuramos compreender seus significados, buscando
não apenas o que estaria oculto nas “profundezas da mente”, mas a construção
de novos sentidos para sua vida, ajudando-o resolver o que está sendo vivido
como problema.
A terapia narrativa
Situando-se dentro do marco epistemológico da pós-modernidade, a terapia
narrativa (ou abordagens ou práticas narrativas) assume que é impossível um
conhecimento pleno e universal das pessoas e do mundo em que vivemos. Só
podemos ter acesso ao que experimentamos e às histórias ou narrativas que
contamos ou que nos são contadas a respeito do vivido.
A terapia narrativa
A ciência conhecida como moderna, tradicional ou positivista considera as
pessoas como sendo depressivas, obsessivas, esquizofrênicas, membros de
famílias desestruturadas ou disfuncionais, enfim, busca classificá-las segundo
critérios supostamente universais e apriorísticos. O pós-modernismo, sem
desqualificar o conhecimento do especialista, destaca o conhecimento individual,
contextual, apresentado pelas histórias e narrativas pessoais.
Aspectos práticos do trabalho narrativo
Deconstrução:
White e Epston (1992) adotaram uma definição flexível de desconstrução,
entendendo que se relaciona com os procedimentos que subvertem as noções de
realidade tomadas como preexistentes e também as práticas que derivam desta
visão.
Outro ponto importante no trabalho narrativo é a busca pela separação entre o
que é trazido como problema e a pessoa que está sendo atendida.
(Fazer leitura da página - 60 (exemplificando, até primeiro parágrafo da pag. 63).
Terapias narrativas
As abordagens narrativas são mais do que técnicas; são uma maneira diferente
de ver as pessoas e o mundo que as cerca. De uma noção de um problema
interno, individual, passamos para um conceito em que os problemas estão nas
histórias que dominam nossas vidas.
Terapias narrativas
White e Epston (1993) enfatizam a importância da revisão das narrativas
dominantes, usando principalmente a desconstrução dos problemas, a
externalização e a busca de eventos singulares para que consigamos que uma
pessoa em sofrimento emocional, oprimida pelas histórias dominantes, possa
recuperar suas capacidades e habilidades para o sucesso, reassumindo a autoria
de sua vida, transformando as histórias periféricas, em geral marginalizadas, em
novas possibilidades para uma vida satisfatória.
O profissional sistêmico e as práticas psicossociais
Aqui trataremos tanto do psicólogo terapeuta de família, como do profissional
psicólogo sistêmico de famílias e redes sociais, podendo ser nominado de
profissional psicossocial aquele que atuará em campos como a saúde (no
Sistema Único de Saúde/SUS), a assistência social (Sistema Único da
Assistência Social/SUAS), o jurídico, escolas, empresas e outros. Falaremos de
forma mais genérica, destacando aspectos relativos à postura e à atuação do
profissional.
Duas concepções práticas de intervenções profissionais:

interação instrutiva: Os profissionais que atuam com interação instrutiva mantêm-


se na relação de poder e na posição de saber
relação colaborativa: profissionais que atuam na relação colaborativa colocam-se
na posição da “objetividade entre parênteses” e se reconhecem como membros
participantes do sistema, atuando como coordenadores das conversações.
Como trabalhar com o sistema para que ele se torne autônomo e responsável pela sua mudança?

No contexto de autonomia como um contexto conversacional, “quando as pessoas


em interação conversam sobre algo que elas próprias definem que não está como
deveria estar, distinguimos um sistema linguístico que se constitui em torno de
uma situação-problema”

A horizontalidade deve estar presente, constituindo assim uma organização grupal


sem hierarquia, denominada de organização em rede.
O psicólogo, como coordenador de contexto, prontifica-se a:

Garantias para que não haja retaliações futuras, assegurando um espaço ético e
de coesão;
Convidar todos a assumirem posições ativas
Evitar a monopolização da fala de alguns e de ações de outros;
Utilizar perguntas reflexivas e até mesmo inusitadas que favoreçam o
questionamento do sistema.
Manter-se no controle e na manutenção do contexto conversacional de autonomia
e na ênfase da relação colaborativa.

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