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Educação Ambiental & menores, ou então isolando o fenômeno a

observar de seu contexto, de sua totalidade. Já


Desenvolvimento Sustentável que não se compreendia o todo, talvez fosse
possível resolver a questão pelo exame das
O divertidíssimo escritor inglês Douglas Adams, partes, juntando-se tudo depois. O filósofo
autor, entre outras coisas, da série O Mochileiro francês René Descartes foi quem sistematizou
das Galáxias, foi certa vez convidado por um esta abordagem, depois chamada de método
professor amigo a dar uma palestra para cartesiano.
formandos numa universidade. Sua educada
irreverência e uma tremenda preguiça fizeram No mundo ocidental de então, o cartesianismo foi
com que ele não preparasse o texto. Na hora, um passo adiante na busca por compreender a
improvisou. Ele entendia de Ciências e em sua realidade, embora existissem outros caminhos.
fala começou a criticar a maneira como se ensina Benéfico inicialmente, hoje entretanto considero-o
nas escolas e universidades em geral. nefasto. É necessário e urgente desaprendê-lo.
Sapecou algo mais ou menos assim: “É muito Por exemplo, muito fala-se hoje em ecologia,
curiosa a maneira como vejo fazerem Ciência. Por educação ambiental, desenvolvimento
exemplo, quando se quer descobrir como é que sustentável. Tende a virar moda e, como em
um gato funciona, logo divide-se o gato em umas todas as modas, ficar o dito pelo não-dito, o
tantas partes, procurando saber como é que cada aprendido pelo não-explicado, o compreendido
uma delas trabalha e o que faz. E a primeira que pelo subentendido.
coisa que se obtém é um gato que não funciona
mais”. Com estas considerações, dou início a uma série
de artigos que aqui procurarão, nos limites deste
O agudo talento de Douglas nos fará falta, pois ele espaço e de meus conhecimentos, lançar alguma
se foi precocemente e seu olhar perspicaz e bem- luz sobre noções e conceitos necessários à
humorado era uma bênção nesta época de compreensão do que queremos dizer com
grandes e dramáticas transformações. ecologia, educação, ambientalismo,
desenvolvimento e sustentabilidade.
Sua lembrança me acudiu quando eu refletia Construiremos aqui juntos estes conhecimentos,
sobre os objetivos desta coluna: tratar de forma como capítulos de uma proposta de desenho de
condensada, mas clara, os assuntos da Educação um futuro promissor para nossa cidade, que vive
Ambiental e do Desenvolvimento Sustentável. um momento único e imperdível, e talvez também
Lembrei-me das dificuldades vividas por todos nós para nossa região.
quando nas escolas (ou no trabalho, ou em casa) Poderemos desta forma falar de educação
nos dispomos a aprender. O conhecimento que ambiental para o desenvolvimento sustentável.
nos é apresentado vem geralmente em caixas.
Quando somos pequenos, elas chamam-se Para isto e para uma ampla troca de idéias entre
Aritmética, Português, História, Geografia, nós, as eventuais mensagens que queiram me
Ciências etc. Quando crescemos um pouco, elas enviar poderão ser encaminhadas para este jornal
se chamam Matemática, Literatura, Filosofia, ou então para meu endereço na Internet:
Física, Química, Biologia, Língua Estrangeira etc. fortiz9@estadao.com.br.
Depois, quando somos maiores, podem bem ser
Cálculo Numérico, Mecânica de Solos ou ainda Fabio Ortiz Jr é geólogo, educador ambiental e
Direito Internacional ou Fisiologia etc etc. Mas mestre em Gestão e Auditoria Ambiental
vêm em caixas, sempre em caixinhas.
Quero com isto dizer que todos aqueles que um
dia se perguntaram “afinal, para quê isto serve?
Para quê tenho que estudar isto?”, sentindo-se
desta forma solitários e miseráveis ou até mesmo
estúpidos, na verdade não estavam sós. Quase
todos que conheço e eu mesmo fizemos um dia
estas perguntas.
O problema, em geral, não está em nós. Ele está
na maneira com que o aprendizado nos é imposto.
Tudo que está em uma das tais caixinhas é visto e
nos é ensinado como um bem em si mesmo, como
se nada tivesse a ver com as outras caixinhas.
Isto é antigo, teve seu momento de glória e sua
validade. Porém, está com o prazo de validade
vencido, está ultrapassado, não mais é adequado
para o momento e a época que vivemos.
Imagine os cerca de 150 mil anos da humanidade,
de nossa espécie. Na quase totalidade deste
tempo, quase nada sabíamos explicar da natureza
senão por meio da magia ou da religião. Apenas
nos últimos séculos é que aprendemos a fazer o
que chamamos de ciência; e não foi fácil fazê-lo.
Uma das formas empregadas consistiu em tomar
o problema a resolver dividindo-o em partes

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