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ALINE CARVALHO. CRISTINA MENEGUELLO (ORG.) DICIONARIO TEMATICO DE PATRIMONIO DEBATES CONTEMPORANEOS FICHA CATALOGRAFICA ELABORADA PELO SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP DIRETORIA DE TRATAMENTO DA INFORMAGAO Bibliotecéria; Maria Licia Nery Dutra de Castro ~ CRB-8*/ 1724 D549 _Diciongrio tematico de patrimdnio: debates contemporaneos / organizagao: Aline ‘Carvalho ¢ Cristina Meneguello, Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2020. 1. Patriménio cultural - Brasil - Diciondrios. L Carvalho, Aline Vieira de. Il Mene- ‘guello, Cristina ISBN 978-65-86253-27-6 ‘opp ~ 363.69098103 Copyright © Aline Carvalho Cristina Meneguello Copyright © 2020 by Editora da Unicamp As opinides, hipéteses e conclusées ou recomendagSes expressas neste material sio de responsabilidade do(s) autor(es) e nfo necessariamente refletem a visto da Editora da Unicamp. Direitos reservados e protegides pela lei 9.610 de 19.2.1958 E proibida a reprodusio total ou parcel sem autorizacio, por escrito, dos detentores dos direitos. 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Seu surgimento no Brasil costuma ser vinculado ao 1° Seminério sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos, realizado pelo Instituto do Patriménio Histérico e Artistico Nacional (Iphan), no Museu Imperial de Petropolis, no Rio de Janeiro, em 1983 [ver “Sphan/Iphan”]. O mote inspirador do evento era a “Heritage Education”, tal como compreendida na Inglaterra. O modelo constituido a partir da ideia de “historia baseada em evidéncias” tinha como propésito tornar o ensino de historia atraente para estudantes de escolas de todo o Reino Unido, considerando para isso as fontes primarias disponiveis nos museus ¢ sitios patrimoniais. Como consequéncia, sua pratica tem sido, em geral, associada a museus e escolas, mas ha espacos nao formais nos quais ela também se desenvolve hoje. Um dos principais desdobramentos do encontro organizado pelo ~ 63 Diciondrio temadtico de patriménio Iphan, em 1983, foi o langamento do Guia basico de educagao patrimonial claborado por Maria de Lourdes Parreiras Horta, Evelina Grunberg e Adriane Queiroz Monteiro, e editado, desde 1996, pela instituicgao.' A Publicagao nao teve edigdes revisadas, mas continua sendo amplamente utilizada no Brasil. Como salienta Mario Chagas,” embora o evento de 1983 seja apontado como 0 marco inicidtico da educaco patrimonial no pais, ha que reconhecer iniciativas anteriores que articularam educagao e patriménio. O “Projeto Interago”, criado pela Fundacao Nacional Pré- ~Meméria, por exemplo, por meio de uma de suas linhas programiticas, buscava aproximar a educagao escolar do cotidiano discente. As Cartas Patrimoniais também ja indicavam, desde os anos 1950, a necessidade de pensar o patriménio como matéria substantiva da educa¢ao em diversos niveis emodos. O campo da educagao patrimonial é reconhecido em paises como Argentina, Canad, Inglaterra, India, Gana, Austrdlia, para citar alguns. As realidades socioculturais e politicas de cada contexto implicam a diversidade no que se denomina educacao patrimonial. No Brasil, sua atuacao esta relacionada especialmente aos projetos de arqueologia conduzidos na esfera do licenciamento ambiental. A portaria 230, de 17 de dezembro de 2002, publicada pelo Iphan, tratava da compatibilizacéo entre as fases do licenciamento eas pesquisas arqueoldgicas, e determinava a necessidade de elaboracao de programa de educa¢ao patrimonial como parte dos estudos arqueol6gicos [ver “Patriménio arqueolégico”]. Isso gerou um significativo aumento no numero de agdes e materiais produzidos no campo da educa¢ao patrimonial no Brasil. Pouco mais de uma década depois do estabelecimento da portaria 230, 0 Iphan publicou a instrucdo normativa 1, de 25 de marco de 2015, que revogou a referida portaria e organizou os procedimentos administrativos observados pelo érgio nos processos de licenciamento ambiental. Nesse novo dispositivo esta prevista a criagao de um projeto integrado de educacao patrimonial cujas partes constitutivas sao detalhadas na normativa. Apesar de nao haver ' Horta; Grunberg & Monteiro, 1996. > Chagas, 2004. ~ 64 ~ Patriménio ¢ educagdo patrimonial consenso entre os pesquisadores sobre algumas orientagées que constam no documento, houve um avango na definicao e na classificagao de agées que envolvem os mecanismos de socializacao do patriménio nas distintas etapas do licenciamento. No entanto, essas mudangas nao impedem as relagées assimétricas constituidas nos dominios do licenciamento ambiental, nos quais a educa¢do patrimonial atua, muitas vezes de forma acritica, tornando-se um condutor de racionalidades perversas, que vao de encontro aos principios que deveriam guiar uma educagao emancipadora. E preciso lembrar que o termo educa¢ao patrimonial retine dois campos de conhecimento vastos e complexos: educagao ¢ patriménio. Assim, o que se entende por educagio patrimonial depende, entre outros aspectos, das nogdes de educacao e patriménio que fundamentam a sua pratica; refletir sobre isso é imprescindivel [ver “Patriménio educativo”]. A educagio patrimonial contribui para a preservacao do patriménio, mas nio deve set reduzida a esse fim, e tampouco a uma metodologia. Afinal, educagao patrimonial é educagio. PARA SABER MAIS BEZERRA, M. “Na beira da cava: Arqueologia, educacio patrimonial e direitos humanos em Serra Pelada, Paré, Amazonia”. Revista de Arqueologia, vol. 28, 2016, pp. 216-228. CARNEIRO, C. G. “Educagao patrimonial e arqueologia: Alguns aspectos desta interface”. Amazénica - Revista de Antropologia, vol. 6, n. 2, 2014, PP- 442-458. CHAGAS, M. “Diabruras do Saci: Museu, meméria, educacao e patriménio’ Musas - Revista Brasileira de Museus e Museologia, vol. 1, n. 1, 2004, PP. 136-146. FLORENCIO, S. R. et al. Educagdo patrimonial: Histérico, conceitos e processos. Brasilia, Iphan/DAF/Cogedip/Ceduc, 2014. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina & MONTEIRO, Adriane Queiroz (org.). Guia basico de educagao patrimonial. Brasilia, Iphan, 1996. ~ 65 ~ Diciondrio temdtico de patriménio LEGISLAGAO RELATIVA AO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL. Disponivel em . Acesso em s8ho/2019. MORAES WICHERS, C. A. “Educacéo patrimonial: Antecedentes metamorfoses do contexto brasileiro”. Boletim Museu Hist6rico de Jatat, vol. 16, 2015, pp. 7-18. SILVEIRA, F. L. da & BEZERRA, M. “Educagio patrimonial: Perspectivas e dilemas”. In: LIMA FILHO, M. F.; ECKERT, C. & BELTRAO, J. (org.). Antropologia e patriménio cultural: Didlogos e desafios contempordneos. Blumenau, ABA/Nova Letra, 2007, pp. 81-97. Sac

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