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I ENCONTRO BRASILEIRO DE PESQUISADORES E PRODUTORES DE LÚPULO.

22 e 23 de Novembro de 2019, Botucatu – São Paulo, Brasil.


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ASPECTOS DE CULTIVO, ECONÔMICOS E HISTÓRICOS DO LÚPULO

Rafael Henrique Novaes1, Sérgio Augusto Rodrigues2, Valéria Cristina Rodrigues Sarnighausen3,
Alexandre Dal Pai4
1
Unesp-FCA, Botucatu, São Paulo, Brasil. rhnovaes@hotmail.com
2
Unesp-FCA, Botucatu, São Paulo, Brasil. sergio.rodrigues@unesp.br
3
Unesp-FCA, Botucatu, São Paulo, Brasil. valeria.sarnighausen@unesp.br
4
Unesp-FCA, Botucatu, São Paulo, Brasil. dal.pai@unesp.br

1 INTRODUÇÃO
O lúpulo (Humulus lupulus) é uma planta herbácea perene, da classe das
dicotiledôneas, ordem rosales e que pertence à família Cannabaceae, sendo uma
trepadeira e tendo característica reprodutiva dioica, ou seja, origina flores masculinas e
femininas (MORAIS;RODRIGUES,2015).Sua distribuição é vista em regiões do
hemisfério norte e regiões temperadas, estando preferencialmente em regiões europeias,
centro e norte do continente asiático, norte africano e regiões norte do continente
americano .Essa planta possui principal aplicação nas indústrias cervejeiras, sendo
componente fundamental para caracterização dessa bebida. Contudo , em territorio
brasileiro sua produção é recente, ocasionando uma importação ,de aproximadamente
98%, provenientes de países como Alemanha e Estados Unidos (VILAS BOAS,2017).
Através desse trabalho buscou-se analisar os aspectos de cultivo, evidenciando
características ideiais para a produção da cultura de lúpulo, aspectos econômicos, tais
como produção e valores médios, assim como aspectos históricos tanto em nível mundial
como também em nível nacional, apesar de sua história em territorio brasileiro ter iniciado
há poucos anos. Portanto, essa revisão possibilita uma visão geral do lúpulo, possuindo
uma análise, avaliação e discussão também do seu potencial considerando o agronegócio
brasileiro.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
O levantamento bibliográfico foi realizado com base em artigos publicados em
periódicos científicos, indexados em bases de dados nacionais e internacionais. A busca
por referências de pesquisa foi feita por meio do Google Acadêmico e do banco de dados
bibliográficos SciELO.
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Após a busca nessas plataformas de pesquisa com as palavras-chave “Humulus
lupulus”, “Cultivo do lúpulo”, “História do lúpulo” e “Aspectos económicos do lúpulo”
foi necessário a avaliação dos resultados e seleção dos estudos mais adequados, tendo
uma avaliação dos textos completos e análise da lista de referência dos respectivos
estudos selecionados, tendo uma averiguação minuciosa com o objetivo de identificar
possíveis estudos elegíveis que não foram examinados na etapa de busca nas plataformas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 A história do lúpulo
3.1.1 O lúpulo no mundo
O uso do lúpulo teve seu primeiro registro histórico em cerveja numa lista de
regras para monges, mais precisamente no ano de 822 pelo Abade Adelardo (751-827)
para o para o Mosteiro de São Pedro e São Estevão em Corbie, localizado ao norte da
França. Porém a descrição realizada pelo Abade Adelardo não possuía elevado
detalhamento do lúpulo na produção cervejeira,como por exemplo a etapa de inserção ou
a maneira como foi realizado, houve apenas a citação. As primeiras evidências de cultivo
de lúpulo são datadas entre 859 e 875, na Abadia de Freising na Bavária, sul da Alemanha.
Habitualmente o lúpulo era uma planta selvagem, sendo adquirida apenas por extração e
não cultivo (BARTH,2013).
Durante a Idade Média os mosteiros tinham importante função na produção de
conhecimento e de cultura, sendo que foi em um mosteiro onde o lúpulo com seu amargor
foi descrito por volta dos anos 1200 como sendo um eficiente conservante natural, por
uma monja beneditina alemã que se chamava Hildegard von Bingen (1098-1179). Pelo
fato do processo de fermentação realizado na produção de cerveja não ser em ambiente
controlado, ou seja, sem controle exato da temperatura e exposto ao clima, quando se
produzia cerveja em meses quentes havia uma grande dificuldade, pois, as temperaturas
altas aumentavam a velocidade de trabalho dos microrganismos do ambiente culminando
em contaminações na produção e perca do produto. Desse modo, qualquer ingrediente,
método ou processo que auxiliasse na conservação de um produto por mais tempo seria
de grande importância, sendo então uma descoberta significativa na época. Já no âmbito
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da medicina, os primeiros registros do lúpulo foram realizados pela cultura árabe em
meados do século X, tendo aplicações principalmente em atividades anti-inflamatórias,
calmantes e digestivas (BIENDL; PINZL,2013).

3.1.2 O lúpulo no Brasil


O cultivo e a história do lúpulo em território nacional têm início no ano de 2014,
época onde sua produção era altamente custosa. Esse alto valor ocorria pelo fato de que
a única maneira de se produzir o lúpulo era através de sua reprodução em condições
climáticas criadas artificialmente. Porém, mesmo com esse tipo de produção, a qualidade
não seria satisfatória e haveria baixíssimas quantidades. Houve mudança desse quadro
desfavorável quando em 2015 um produtor da Serra da Mantiqueira descobriu como
produzir uma variação da espécie de lúpulo que obteve sucesso e se desenvolveu na
região, recebendo popularmente o nome de lúpulo da Mantiqueira. Após essa descoberta,
empresas como a Brasil Kirin encabeçaram o investimento em cervejas produzidas com
o lúpulo brasileiro, incentivando então os produtores das regiões sul e sudeste, as quais
os climas são mais favoráveis quando comparadas as regiões norte e nordeste, que
passaram a cultivar essa variação do lúpulo da Mantiqueira (BERBERT, 2017).
Essa descoberta do lúpulo da Mantiqueira é um grande avanço se comparado a
anos anteriores. Porém não houve mudança do cenário por completo, visto que a fase de
produção em que se encontra é a de desenvolvimento, impossibilitando, mesmo que seja
temporariamente, a produção de um cultivar com características especificamente ligadas
ao território brasileiro, fazendo com que a importação, na maioria das vezes, seja a
solução de produtores do ramo cervejeiro (BERBERT, 2017).
O principal impacto do desenvolvimento de um lúpulo brasileiro é a diminuição
dos custos de produção. Apesar de essa ser uma excelente notícia para a agricultura
nacional, ela ainda não é uma realidade que impacta diretamente os pequenos produtores
de cerveja, principalmente porque ainda não é possível adquirir o lúpulo brasileiro na
quantidade necessária. E, por isso, o cervejeiro não possui a condição necessária para a
sua produção com base em uma agricultura que ainda figura no campo das apostas.
Contudo, o trabalho de desenvolvimento de técnicas, pesquisas e encontros de
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plantadores e investidores do agronegócio estão sendo realizados de forma incisiva em
algumas regiões para a melhoria e busca de um novo patamar para a produção brasileira
(BERBERT, 2017).

3.2 O cultivo do lúpulo


No caso do lúpulo, em seu cultivo ideal, há necessidade de solos com pH entre 6
e 7, altamente férteis, profundos e drenados, porém com grande disponibilidade de água,
pois sua longevidade está relacionada a fertilidade. Essa planta pode alcançar sua altura
máxima (aproximadamente 8 metros) entre 4 ou 5 meses, por isso é indicado usar os
sistemas de treliças para poder dar suporte a planta. O plantio do lúpulo pode ser realizado
por sementes,rizomas, mudas ou também por micropropagação vegetal sendo da
primavera até o verão a época ideal para que seja realizado seu plantio (DODDS, 2017).
A poda da planta geralmente é realizada na primavera, porém antes da poda é
realizada a descava e limpeza dos rizomas podendo ser feita uma poda mais alta em
plantas mais novas ou mais baixa, conhecida como limpeza à rasa em plantas mais velhas,
mas na prática fica apenas o sistema radicular e o rizoma. Também é efetuada a operação
de amontoa duas a três vezes durante a estação de crescimento, que é o processo onde o
solo é movimentado e direcionada para a base do lúpulo. A colheita ideal do lúpulo
consiste em cortar a planta por volta de 30 centímetros do solo, sendo realizada
geralmente entre março ou abril. Os locais mais recomendados e onde há experiência com
o cultivo do lúpulo no Hemisfério Norte quanto do Sul são,locais entre as latitudes 35° a
55°. A temperatura ideal, na maior parte de seu cultivo,para que se tenha sucesso
produtivo varia de 15 a 19 °C. Quanto ao índice pluviométrico e altitude das maiores
regiões produtoras do lúpulo, há uma variação de 300 a 500 mm de precipitação total e
altitude mínima de 250 metros, sendo dessa forma recomendados valores acima de 250
metros de altitude para maior favorecimento da cultura. (DODDS, 2017).

3.3 Aspectos econômicos


O cultivo do lúpulo está inserido em uma cadeia presente desde o agronegócio ao
pequeno varejo, passando pelos mercados de embalagens, logística, maquinário e até
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construção civil através,por exemplo, do setor cervejeiro, um dos mais tradicionais
setores do Brasil, onde tem ampla capilaridade e está presente em todas as cidades do país
(CERVBRASIL,2016). Esse setor é um dos mais relevantes da economia brasileira, tendo
mais de 2,2 milhões de pessoas empregadas ao longo da cadeia, sendo um dos maiores
empregadores do Brasil. Como possui um importante efeito multiplicador na economia,
sua atuação movimenta uma extensa cadeia produtiva que é responsável por 1,6% do PIB
e 14% da indústria de transformação nacional (JÚNIOR,2014). Terceiro maior fabricante
de cerveja do mundo, o Brasil importa muita matéria-prima para produzir 14 bilhões de
litros anuais. Segundo dados do Siscomex, portal do Governo Federal, em 2016 foram
800.000 toneladas de malte e mais de 1.700 toneladas de cones de lúpulo frescos,
triturados e extratos (BERBERT,2017).
O cultivar de lúpulo, em expansão em território nacional e já estabelecido em
territórios internacionais, possui em seus maiores produtores, como Alemanha e Estados
Unidos, uma produção média de 2,2 toneladas por hectare nos últimos 2 anos, possuindo
um valor ao consumidor final brasileiro, que pode variar de cerca de R$ 180,00 a R$
500,00 o quilo do lúpulo seco (BARTH, 2018). Em território brasileiro, faltam dados
oficiais a respeito da produção do lúpulo, porém há relatos de produtores que conseguem
produzir 2 toneladas por hectare, assim como há regiões brasileiras – com um microclima
não tão favorável- que a produção é em média de 1 tonelada por hectare.
Apesar da produção nacional ainda não possuir o rendimento dos principais
produtores mundiais, há uma vantagem relacionada ao seu cultivo pois como esse insumo
é ainda em maior parte importado, não era possível obtê-lo fresco, sendo que o lúpulo
fresco possui um menor preço que a variedade seca. Portanto com o início da produção
nacional esse cenário começa-se a mudar, trazendo melhorias e incentivos também para
o aumento, já visto, das cervejarias artesanais (BERBERT, 2017).

4 CONCLUSÕES
Considerando, então, o grande consumo no Brasil juntamente a uma alta taxa de
importação, e suas diversas aplicações com potencial impacto mundial encontra-se
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grandes posibilidades, através de pesquisas científicas, de elevar o conhecimento e fazer
com que esas aplicações potenciais tornem-se realidade.

5 REFERÊNCIAS
BARTH, R. The Chemistry of Beer. 1 ed. New Jersey: John Wiley & Son Inc., 2013

BERBERT, S. Notícia Agricultura: lúpulo brasileiro. Revista Globo Rural, 2017. Disponivel em:
<https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2017/02/conheca-producao-de-lupulo-
brasileiro.html>. Acesso em: 31 de outubro de 2019.

BIENDL, M.; PINZL, C. Hops and Health. 2ª. ed. Wolnzach: German Hop Museum, v. I, 2013. Acesso
em: 31 de outubro de 2019.

CERVEJA, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDUSTRIA DA. CervBrasil: anuário 2016. CervBrasil.


Brasília, p. 64. 2016.

DODDS, K. Hops a guide for new growers. NSW Government. Sidney, p. 52. 2017.

JÚNIOR, O. C. et al. O setor de bebidas no Brasil. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, p. 93-119,
19 setembro 2014.

MORAIS, Jorge Sá. O Lúpulo: Cultivares e Extrato. RODRIGUES, MA; MORAIS, JS; DE CASTRO,
JPM Jornadas de lúpulo e cerveja: novas oportunidades de negócio. Livro de atas. 1ª ed. Bragança:
Instituto Politécnico de Bragança, cap, v. 2, p. 11-22, 2015.

BARTH S. J. Barth-hass Group. THE BARTH REPORT: HOPS 2017/2018.Nuremberg: Pinsker Druck
Und Medien Gmbh, 2018. 32 p. Disponível em:
<https://www.barthhaasgroup.com/images/mediacenter/downloads/pdfs/412/barth-
bericht20172018en.pdf>. Acesso em: 09 out. 2019.

VILAS BOAS, R. Florestar Net. Florestar.net, 2017. Disponivel em:


<http://www.florestar.net/lupulo/lupulo.html>. Acesso em: 31de outubro de 2019.

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