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HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL

Como a Música evoluiu


A história da Música tem a ver com a evolução do próprio homem e da maneira como
ele se organizou em sociedades. Existem várias maneiras de olhar para a história e
tentar compreender como a Música se modificou com o passar do tempo. Como isso
envolve muitos aspectos diferentes (mudanças sociais, revoluções, descobertas, novas
necessidades, etc.), o tempo da história foi separado em períodos, dentro dos quais
observamos características semelhantes, como a maneira de escrever música, ou a
preferencia por um determinado instrumento, por exemplo. Como nossa música tem
origem na Europa, sua história é, na verdade, a história da música europeia ocidental.

A Idade Média
450 - 1450
Os mil anos da Idade Média funcionam como
uma grande transição entre o paganismo da
Antiguidade Clássica e o humanismo naturalista
do Renascimento. Praticamente toda a cultura
medieval fundamenta-se na idéia do sagrado, do
divino, e a Igreja Cristã, consolidada pela
adoção do cristianismo por Roma, com
Constantino, domina o pensamento intelectual
do período.
Arquitetura medieval A música medieval que conhecemos ocorreu
principalmente dentro do ambiente da Igreja. As
poucas referências que temos da música profana estão em registros feitos por
curiosidade pelos monges, que sabiam ler e escrever, ao contrário das pessoas
comuns. As primeiras músicas da História consistiam em uma única linha musical,
sem acompanhamento e cantada em uníssono, o cantochão, chamado posteriormente
de Canto Gregoriano em homenagem ao papa
Gregório, o Grande, que recolheu e sistematizou a
prática do canto da igreja cristã.
Os primeiros músicos e teóricos da Idade Média
tentaram compreender as relações entre os sons,
para produzir composições polifônicas, ou seja,
com duas ou mais linhas musicais combinadas. A
polifonia medieval primitiva é simples, com duas
vozes paralelas, que pouco a pouco vão se tornando
independentes uma da outra. Essa polifonia se
enriquecerá com o acréscimo de mais vozes e, a
partir de 1300, com o desenvolvimento dos valores
proporcionais de duração, semelhantes ao que
usamos hoje na escrita tradicional.
A fase inicial da Idade média musical é
caracterizada pelo cantochão. A partir do século
Escrita musical medieval
VIII, com as primeiras experimentações da polifonia, abre-se o período da Ars
Antiqua, que vai até 1300, com o advento da Ars Nova.

Principais Gêneros
Sacros: Cantochão, Organum, Conducto, Missa, Moteto
Profanos: Virelai, Balada, Cantiga, Rondó

Repertório básico
Canto Gregoriano
Anônimo: Missa Tournai, Missa Barcelona
Leonin e Perotin: Exemplares de Organum
Guillaume de Machaut: Messe de Nostre Dame (ou Notre Dame); Virelais, Rondós
Francesco Landini: Baladas
Arnaut Daniel: Cantigas

O Renascimento
1450-1600

O interesse e esforço
pelo conhecimento, já
presente na Idade
Média, deixa a esfera do
sagrado como principal
motivação, e se permite
a um novo olhar
científico, que inclui a
natureza e o homem.
Desta maneira, os
questionamentos
comuns do pensador
passaram a ser
Detalhe de “O nascimento de Adão” resolvidos por
de Michelangelo Buonarroti. conclusões baseadas na
observação e na experiência, e não mais,
como havia sido na Idade Média, por implicações sagradas e imutáveis.
A música renascentista resolve vários dos anseios dos compositores medievais. Os
timbres agora são escolhidos por semelhança, e as dissonâncias funcionam de maneira
orgânica e equilibrada na polifonia renascentista, o que permite a construção de
verdadeiros “edifícios” musicais, com mais de oito vozes. Por outro lado, a nova
Igreja Protestante propõe para sua liturgia uma música simples e acessível à
comunidade de fiéis.
A música instrumental começa a
surgir em composições específicas
para o instrumento, ainda que a
voz e seu repertório sejam uma
importante referência para isto. A
música do Renascimento, como a
da Idade Média, é escrita num
sistema chamado modal, em que
são empregadas apenas as notas
naturais (acrescidas de algumas
alterações como o sib e o Fá#, por
exemplo), uma delas servindo
como centro do modo. A música
tendia a permanecer em um
mesmo modo do início ao fim.

O Homem Vitruviano
de Leonardo da Vinci

Escrita musical do Renascimento.

Principais Gêneros
Vocais: Missa, Madrigal, Moteto, Vilancico
Instrumentais: Canzona, Ricercari, Variações sobre obras vocais, Obras para órgão.

Repertório básico
Giovanni P. da Palestrina: Missa Papa Marcelo / Sicut Cervus
Orlando di Lassus: Madrigais / Lágrimas de São Pedro
Tomás L. de Victoria: O Magnum mysterium
John Dowland: Peças para alaúde
Ciclo de Madrigais elisabetanos “The Triumphs of Oriana”
Juan del Encina: Vilancicos diversos (Ay triste, Oy comamos e bebamos)
Giovanni Gabrielli: Canzoni e Ricercari
O Barroco musical
1600-1750

O Barroco é um período de excessos, nas


artes plásticas, arquitetura, literatura e na
música. Na música, é também o período onde
a composição puramente instrumental se
consolida definitivamente. Agora, cortes e
castelos também funcionam como centros
musicais, religiosos ou não. Quem inaugura o
Barroco musical é o advento da Ópera, em
Florença, Itália.
A polifonia horizontal renascentista,
baseada na superposição de linhas musicais
(vozes) dá origem a uma construção
polifônica onde o acorde (a combinação de
todas as vozes num determinado momento) é
entendido não só como uma decorrência do
caminho das vozes, mas como um importante
Arquitetura Barroca
elemento de apoio, um elemento que pode
ditar o caminho das vozes. Desta maneira, se
no Renascimento, em geral, a música fluía continuamente do começo ao fim, no
Barroco, começamos a ouvir claramente onde começam e terminam as seções da
maioria das músicas.
A criação da melodia acompanhada, uma textura em que há apenas uma linha
principal, apoiada em acordes, simplifica ainda mais a escrita musical e é o principal
meio de estruturação do discurso
operístico.
As idéias musicais são
propostas em pequenos motivos
ou temas, que muitas vezes
servem como células geradoras
da música inteira, servindo
também para a criação de
sequências harmônicas, ou seja,
repetições ascendentes ou
descendentes de pequenos
motivos musicais. A
organização dos timbres em
Pintura Barroca “famílias”, de flautas, de violas,
etc., que acontecia desde o
Renascimento, se consolida,
mas é a sonoridade do cravo que irá marcar o período, pela presença onipotente como
instrumento acompanhador ou solista em praticamente todas as principais obras
barrocas. A sonoridade Barroca experimenta também a afinação temperada, ou seja, a
possibilidade de ajuste das imprecisões naturais na afinação das notas, e que permitiu
a consolidação do tonalismo, um sistema que emprega as doze notas tradicionais (sete
maturais e cinco alteradas) e onde existem várias tonalidades, para uma música que
pode transitar entre elas.
Partitura Barroca

Principais Gêneros
Vocais: Ópera,
Oratório, Cantata,
Moteto
Instrumentais:
Concerto, Concerto Grosso, Suíte (Base: Allemande, Courante, Sarabanda, Giga),
Sonatas, Fuga.

Repertório básico
Claudio Monteverdi: Orfeo (Ópera)
George F. Haendel: O Messias (Oratório)
Johann Sebastian Bach: Cantatas, Concertos de Brandenburgo, Suítes e Partitas,
O Cravo bem temperado
Arcangelo Corelli: Sonatas e Concertos Grossos
Antonio Vivaldi: As Quatro Estações
Jean Ph. Rameau: Peças para Cravo
François Couperin: Peças para Cravo

O Classicismo
1750-1810/20

Com a extensão dos princípios do


conhecimento crítico a todos os campos do
pensamento humano, proposto pelos
filósofos e pensadores do Iluminismo, as
ações e realizações do homem deixaram
definitivamente de ser interpretados à luz da
religião ou da política. O ideal de beleza e
perfeição passou então a ser buscado na
proporção e constituição intrínseca das
coisas. Na arte, os ideais clássicos greco-
romanos serviram como referência para a determinação de uma nova estética cuja
preocupação principal era a forma.
Na música, a principal preocupação do compositor clássico é a forma musical, a
maneira como as idéias musicais estão organizadas para dar coerência e equilíbrio à
obra que ele cria. Como derivação deste princípio, os timbres são organizados para
compor um padrão de orquestra, de coro, de grupos de Música de câmara (trios,
quartetos, quintetos, etc.), e o piano passa a ser o instrumento preferido pelos
compositores. Os gêneros e formas musicais se consolidam em modelos bem
acabados, e os temas musicais se associam a outros temas diferentes para dar
variedade à musica. A música religiosa é agora uma pequena parte da produção dos
compositores, que compõem principalmente em gêneros profanos como a sinfonia, o
concerto e a ópera.
Praticamente toda a música do Classicismo é escrita como melodia acompanhada,
embora possamos encontrar momentos de polifonia, principalmente em obras sacras
ou em alguns movimentos das sinfonias do período.

Vocais: Ópera, Moteto


Instrumentais: Sonata, Sinfonia, Quartetos de cordas, Concerto com solista

Repertório básico
Joseph Haydn: Sinfonias
Wolfgang A. Mozart: Sinfonias, Óperas
Ludwig van Beethoven: Primeiras Sinfonias, Primeiras sonatas
Christoph W. Gluck: Orfeu (Ópera)

O Romantismo
Século XIX

O Romantismo é o resultado de um período de


grandes transformações de cunho social e político
na Europa. Grande parte das estruturas políticas e
sociais vigentes até meados do século XVIII
estavam abaladas pelas idéias de novos pensadores,
que propunham, há alguma tempo, uma revisão
racional dos conhecimentos herdados pela tradição
desde a Idade Média, como uma maneira de
reformar a sociedade. Abusos da Igreja e do Estado
deixaram de ser tolerados e o indivíduo, como
entidade criadora e senhora de suas criações
despontou com uma força nunca vista anteriormente.
Para o músico romântico interessava a expressão de uma
realidade interior, particular, e ele fazia isso à custa do abandono do rigor do
classicismo anterior, de maneira a privilegiar a idéia livre, desprendida dos grilhões
formais da música praticada até então. Assim sendo, a estrutura interna da música
(forma) deixou de ser um elemento importante da criação e o compositor buscou
inspiração para sua obra em outros campos da arte, notadamente a literatura. O termo
“Romantismo” refere-se ao romance literário e à sua influência generalizada na arte
da época.
As idéias musicais dos compositores românticos são apresentadas em temas
amplos, muitas vezes ocupando
vários compassos. Os timbres
orquestrais se ampliam com a
inclusão de mais instrumentos
nos naipes de metais e
percussão, mas o piano
prossegue como o instrumento
preferido pelos compositores. A
música folclórica aparece como
importante elemento de
caracterização da nacionalidade
particular de cada compositor.
No final do período, ou seja,
na passagem para o século XX,
a música romântica se nutre de
uma densidade exacerbada, “A Liberdade guiando o povo” (1830)
carregada de notas alteradas e Pintura de Eugène Delacroix (1798-1863)
repleta de ambiguidades que
confundem o ouvinte quanto ao ritmo, à tonalidade e ao modo em que a música está
escrita. Essa atmosfera de confusão, juntamente com as mudanças de ordem social,
econômica, politica e cultural que ocorrem no final do século XIX, colaboram para a
instauração da chamada Crise da Música tonal, que promove, pela necessidade de
novos caminhos expressivos, a série de novas tendências que caracterizarão os
primeiros 50 anos do Século XX

Principais Gêneros
Vocais: Ópera, Lied, Motetos, Obras para coro
Instrumentais: Sinfonias, Música de Câmara, Peças para piano, Poema Sinfônico.

Repertório básico
Ludwig van Beethoven: Sinfonia IX “Coral” / últimos quartetos de cordas / últimas
sonatas para piano
Franz Schubert: Lieder
Robert Schumann: Album para a Juventude, Carnaval
Johannes Brahms: Sinfonias / Obras para coro a cappela / Obras de câmara
Gustav Mahler: Sinfonia no 2 “Ressurreição”
Richard Wagner: Prelúdio de “Tristão e Isolda”
Richard Strauss: Poema Sinfônico “Morte e Transfiguração”
O Século XX (até 1950)

Os primeiros 50 anos do século


XX foram marcados por convulsões
sociais, econômicas e políticas
poucas vezes experimentadas pela
História num período tão curto.
Duas guerras mundiais, revoluções
na indústria, na tecnologia,
eletricidade, avião, dispositivos de
registro sonoro, microfone, entre
tantas inovações, promoveram uma
completa revisão dos princípios
Arquitetura de Le Corbusier,
éticos, estéticos, morais, religiosos arquiteto francês.
e filosóficos em toda a Europa, com
reflexos em toda parte. Naturalmente, a Cultura
e a Música não poderia seguir imutáveis neste quadro de modernidade.
Não há como caracterizar a profusão de tendências composicionais que surgiram na
música a partir do século XX a não ser pelo que ela tem de mais evidente: a
diversidade. Mas, pela primeira vez na história da música, o trabalho do compositor
pôde ser ditado e caracterizado por elementos que se modificavam a cada obra. Dessa
maneira, a noção de estilo, aquilo que caracteriza uma época, um lugar ou um artista,
transformou-se em algo dinâmico e flexível.
A sonoridade da música moderna também mudou e passou a incluir todo e qualquer
material sonoro, ruidístico ou não, acústico ou eletrônico.

John Cage: partitura de


“Williams Mix” (1952)
Principais Tendências
A. Relacionadas à revisão da
tradição:
Neoclassicismo
Impressionismo
Politonalismo; Polirritmia

B. Relacionadas à ruptura com a


tradição:
Expressionismo
Atonalismo livre
Serialismo Dodecafônico
Serialismo Integral
Minimalismo
Aleatorismo
Música Eletrônica
Música Concreta
Pablo Picasso:
“Le Demoiselles
d’Avignon” (1907)

Repertório básico
Claude Debussy: Prélude à l’après-midi d’un Faune / La Mer (impressionismo)
Igor Stravinsky: A Sagração da Primavera (politonalidade; polirritmia)
Igor Stravinsky: Pulcinella (Neoclassicismo)
Darius Milhaud: Saudades do Brasil (bitonalismo)
Arnold Schoenberg: Pierrot Lunaire (Expressionismo – Atonalismo livre)
Arnold Schoenberg: Variações para Orquestra / Op. 33a (Serialismo dodecafônico)
Pierre Schaeffer: Étude aux chemins de fer (Música concreta)
Steve Reich: Pendulum Music / Piano Phase (Minimalismo)
John Cage: Atlas Eclipticalis (Aleatorismo)
Pierre Boulez: Structures (Serialismo Integral)

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