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Curso de Direito

SAMUEL MARTINI CASAGRANDE

O IMPOSTO SOBRE A RENDA NOS GANHOS AUFERIDOS EM


OPERAÇÕES DE RENDA VARIÁVEL SOB O PRISMA DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS: UMA ANÁLISE DA
(IN)CONSTITUCIONALIDADE DA INCIDÊNCIA

Caxias do Sul, julho de 2012


SAMUEL MARTINI CASAGRANDE

O IMPOSTO SOBRE A RENDA NOS GANHOS AUFERIDOS EM


OPERAÇÕES DE RENDA VARIÁVEL SOB O PRISMA DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS: UMA ANÁLISE DA
(IN)CONSTITUCIONALIDADE DA INCIDÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à


Faculdade da Serra Gaúcha - FSG como parte das
exigências do curso de Direito para obtenção do
título de bacharel em Direito.

Prof. Ms. Marcio Leandro Wildner

Caxias do Sul

2012
SAMUEL MARTINI CASAGRANDE

O IMPOSTO SOBRE A RENDA NOS GANHOS AUFERIDOS EM


OPERAÇÕES DE RENDA VARIÁVEL SOB O PRISMA DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS: UMA ANÁLISE DA
(IN)CONSTITUCIONALIDADE DA INCIDÊNCIA

Trabalho apresentado e aprovado pela Banca Examinadora


Em:____de julho de 2012.

....................................................................
Prof(a). Ms. Marcio Leandro Wildner
Orientador(a)

...................................................................
Prof(a). Nome

...................................................................
Prof(a). Nome
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Ildegard Martini Casagrande e
Remi Carlos Casagrande, pelo exemplo de
vida que são e por terem acreditado no meu
sonho.
À minha namorada, Rosiana Boniatti, por todo
o amor, carinho e companheirismo
demonstrados durante toda esta trajetória.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Ildegard e Remi, por todo amor, carinho e confiança que
sempre deram a mim. Por me ensinarem a sempre persistir nos meus objetivos e por muitas
vezes terem se sacrificado para dar-me tudo que necessitei. Vocês são minha base, os grandes
responsáveis por eu ter me tornado a pessoa que sou hoje.
À minha namorada, Rosiana, pelo seu amor por mim, pelo conforto nos
momentos difíceis e por me ajudar a acredita que eu era capaz. Pelos conselhos, carinho,
cumplicidade e compreensão nos momentos em que tive que ficar afastado por causa dos
estudos. Sem contar na paciência em ouvir minhas reclamações nos meus momentos de mau
humor. Graças a ti, foi mais fácil passar pelos dias de cansaço e desânimo.
Ao meu orientador, professor Ms. Marcio Leandro Wildner, pelos importantes
ensinamentos jurídicos e científicos passados a mim. Foram seus incentivos, lições,
observações e dedicação na orientação que tornaram possível a concretização desta pesquisa.
A todos os demais professores do curso de Direito da FSG, por transmitirem
seus conhecimentos, mostrarem-se amigos preocupados com o aprendizado do aluno e pelas
lições de vida.
Aos meus grandes amigos da mesa de RPG, que me propiciaram memoráveis
momentos de divertimento nas madrugadas de sexta-feira, quando cruzávamos a barreira da
realidade para nos aventurarmos em mundos habitados por criaturas fantásticas, em busca de
glória, poder e tesouros (e, de quebra, arranjar confusão com algum rei ou mago poderoso)!
A todos os demais amigos e amigas, pelo apoio e pelos grandes momentos que
passamos juntos!
Aos meus amigos felinos, Fredi e Kimi que, mesmo sem falar, me divertiam
com suas brincadeiras e me confortavam com seus ronronares, nas noites em que o presente
trabalho fora elaborado.
“Não acrediteis em uma coisa apenas por ouvir
dizer. Não acrediteis na fé das tradições só porque
foram transmitidas por longas gerações. Não
acrediteis em algo só porque é dito e repetido por
muita gente. Não acrediteis em uma coisa só pelo
testemunho de um sábio antigo. Não acrediteis em
uma coisa só porque as probabilidades a favorecem
ou porque um longo hábito vos leva a tê-la por
verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes
pensando que um ser superior a revelou. Não
acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade
dos mais velhos ou dos vossos instrutores. Mas,
aquilo que vós mesmos experimentastes, aquilo que
vós mesmos provastes e aquilo que vós mesmos
reconhecestes como verdadeiro, aquilo que
corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros, isto,
sim, deveis aceitar, e, por isso, moldar a vossa
conduta.”
Siddhartha Gautama, o Buda
RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar a incidência do imposto sobre a renda nos ganhos
líquidos em renda variável face aos princípios constitucionais tributários informadores do
imposto de renda, isto é, os princípios da capacidade contributiva, generalidade,
universalidade e progressividade. Para tanto, parte-se do estudo do instituto do imposto de
renda, abordando os conceitos de renda, bem como os pressupostos para a incidência de tal
tributo. Feita esta primeira abordagem, serão examinados os princípios constitucionais
tributários informadores do imposto de renda. Por fim, é analisada a sistemática do imposto
de renda nos ganhos em renda variável e, aplicando os conceitos anteriormente estudados,
passa-se a verificar se o referido tributo é constitucional ou não.

Palavras-chave: Tributação. Imposto de Renda. Princípios Constitucionais Tributários.


Mercado de capitais. Renda variável.
ZUSAMMENFASSUNG

Die vorliegende Arbeit zielt zu analysieren die Einkommensteuerinzidenz auf


Wertpapiergewinne im Lichte die Verfassungsgrundsätze des Steuerrechts daß prägen das
Einkommensteuer, das heißt, das Leistungsfähigkeitsprinzip, das Allgemeinheitsprinzip, das
Universalitätsprinzip und das Progressivsteuerprinzip. Daher, diese Forschung beginnt es aus
dem Studium den Einkommensteuer, wo erläutert sich die Konzepten von Einkommen, sowie
die Annahmen aus die Einkommensteuerinzidenz. Nach dieser ersten Studium, sind
untersucht der Verfassungsgrundsätze des Steuerrechts daß prägen das Einkommensteuer
werden. Schließlich, ist analysiert, speziell, das Einkommensteuer auf variabel-verzinsliche
Wertpapiere und, benutzen dem vorher einstudiert Konzepten, überprüfen es sich, ob das
erwähnt Steuer verfassungsmäßig ist, oder nicht.

Stichworte: Besteuerung. Einkommensteuer. variabel-verzinsliche Wertpapiere.


Verfassungsgrundsätze des Steuerrechts.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADIn. – Ação Direta de Inconstitucionalidade.


Art. – artigo.
Arts. – artigos.
CTN. – Código Tributário Nacional.
EC. – Emenda Constitucional.
ICMS. – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicações.
RFB. – Receita Federal do Brasil.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
2 UM TRIBUTO CHAMADO IMPOSTO DE RENDA ..................................................... 15
2.1 Aspectos históricos do Imposto Sobre a Renda no Exterior ........................................... 16
2.2 Aspectos históricos do Imposto Sobre a Renda no Brasil ............................................... 19
2.3 O Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – Considerações Iniciais . 21
2.4 O Fato Gerador do Imposto Sobre a Renda.................................................................... 25
2.4.1 Do conceito de renda .................................................................................................. 26
2.4.2 Diferenças entre renda e rendimento ........................................................................... 32
2.4.3 A expressão “proventos de qualquer natureza” ............................................................ 33
2.4.4 Da aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica ............................................... 35
2.5 O Aspecto Temporal do Fato Gerador do Imposto de Renda ......................................... 37
2.5.1 Os modos temporais .................................................................................................... 40
3 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS ORIENTADORES DO
IMPOSTO DE RENDA ....................................................................................................... 43
3.1 A Importância dos Princípios no Ordenamento Jurídico Brasileiro ................................ 43
3.1.1 Diferenças entre princípios e regras............................................................................. 46
3.2 Os Princípios Aplicados ao Direito Tributário ............................................................... 48
3.3 O Princípio da Segurança Jurídica ................................................................................. 50
3.4 O Princípio do Não-Confisco ........................................................................................ 55
3.5 O Princípio da Capacidade Contributiva ........................................................................ 59
3.5.1 Capacidade contributiva e o princípio da igualdade ..................................................... 61
3.5.2 O sentido da expressão “sempre que possível” ............................................................ 62
3.5.3 Capacidade econômica x capacidade contributiva ....................................................... 63
3.5.4 O objeto da capacidade contributiva ............................................................................ 65
3.5.5 Capacidade contributiva e o mínimo vital ................................................................... 68
3.6 O Princípio da Generalidade.......................................................................................... 71
3.7 O Princípio da Universalidade ....................................................................................... 73
3.8 O Princípio da Progressividade...................................................................................... 75
4 O IMPOSTO DE RENDA E OS GANHOS LÍQUIDOS AUFERIDOS EM RENDA
VARIÁVEL ......................................................................................................................... 80
4.1 O Regime de Tributação do Imposto de Renda nos Ganhos Líquidos em Renda
Variável ............................................................................................................................... 83
4.1.1 O fato gerador ............................................................................................................. 83
4.1.2 A base de cálculo do imposto de renda nos ganhos em renda variável ......................... 84
4.1.3 A alíquota e o recolhimento do imposto de renda nos ganhos em renda variável ......... 88
4.2 Imposto de Renda nos Ganhos em Renda Variável: Tributação (In)Constitucional? ...... 91
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 98
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 105
12

1 INTRODUÇÃO

Os tributos são imprescindíveis à existência do Estado. Destaca-se que uma das


funções do imposto de renda é propiciar a redistribuição de riquezas. Além disso, é com o
montante recolhido na cobrança dos tributos que o ente estatal terá condições de manter e
ampliar sua estrutura. A competência para instituir os tributos é estipulada pela nossa
Constituição Federal – norma máxima do ordenamento jurídico brasileiro. É também a
Constituição que indica os princípios tributários, que o legislador deverá submeter-se na hora
de criar o tributo, e que o Fisco deverá acatar no momento de fiscalização e cobrança dos
tributos. Assim, embora o Estado necessite dos tributos e tenha competência para instituí-los,
ele não está livre para criar os tributos sem a observância dos princípios e normas contidos na
Constituição Federal.
Em meio à ampla gama de tributos existentes no Brasil, destaca-se o imposto
sobre a renda, um dos tributos que mais gera receita para a União. Este imposto visa tributar a
renda e os proventos obtidos pela pessoa. Com efeito, nos ganhos líquidos auferidos em
operações de renda variável também há incidência do imposto de renda, de forma isolada dos
demais rendimentos, e no regime definitivo.
Contudo, ao menos numa avaliação preliminar, se poderia dizer que tal tributo
afrontaria os princípios constitucionais tributários informadores do imposto de renda
(capacidade contributiva, generalidade, progressividade e universalidade), além de tal
tributação desconsiderar o conceito de renda. Como consequência à ofensa dos princípios
contidos na Constituição Federal de 1988, o imposto sobre a renda dos ganhos obtidos em
renda variável seria inconstitucional.
Por isso, na presente pesquisa, com as limitações inerentes a ela, procurar-se-á
fazer uma exposição ao tema, buscando verificar se o tributo em estudo respeita os
mandamentos constitucionais ou não.
Para tal, no primeiro capítulo, será abordado o imposto sobre a renda e
proventos de qualquer natureza. Destaca-se que não se teve o objetivo de esgotar todos os
detalhes deste tributo, mas, sim, explorar tão-somente as características mais relevantes para o
objeto da pesquisa. Assim, no intuito de compreender a finalidade do imposto de renda, far-
se-á um apanhado histórico a seu respeito, chegando até os dias atuais.
Também nesta primeira parte entrar-se-á numa questão de suma relevância
para esta pesquisa, qual seja, o conceito de renda. São muitas as teorias que tentam definir o
que vem ser renda e como determina-la. Então, será realizada uma abordagem a respeito das
13

teorias sobre a renda mais aceitas e estudadas pela literatura especializada. Como não poderia
deixar de ser, neste capítulo inicial também é estudado o fato gerador do imposto de renda e
sua sistemática de apuração.
Outra questão pertinente a ser abordada no primeiro capítulo refere-se ao
aspecto temporal do imposto de renda, isto é, sua periodicidade. Tal assunto também merece
atenção, pois enquanto a Declaração de Ajuste do imposto de renda é anual, o recolhimento
do imposto de renda sobre os ganhos em renda variável dá-se de forma mensal. Então, ver-se-
á se o que diz a Constituição, legislação infraconstitucional e doutrina a respeito desta
periodicidade aplicada ao imposto de renda.
Na segunda parte da pesquisa serão abordados os princípios constitucionais
tributários. Vale dizer, os princípios constitucionais, não somente os tributários, formam o
“espírito” do ordenamento jurídico, e o legislador, intérprete e aplicador da lei deverão
sempre observá-los. Então, por óbvio, devido à ampla gama de princípios existentes, serão
abordados somente aqueles princípios informadores do imposto de renda, isto é, os princípios
da capacidade contributiva, generalidade, progressividade e universalidade. Outro princípio a
ser abordado é o princípio da vedação aos efeitos de confisco. Isto porque, como poderá ser
visto no presente estudo, este princípio informa todos os tributos, vez que nenhum poderá
apresentar efeitos confiscatórios, embora tal efeito possa ser de difícil constatação no caso
concreto. Outrossim, devido a sua importância para o ordenamento jurídico e, diga-se, para a
existência do próprio Estado Democrático de Direito, também será abordado o princípio (ou
sobreprincípio) da segurança jurídica.
Na terceira parte desta pesquisa tratar-se-á, especificamente, do imposto de
renda sobre os ganhos líquidos auferidos em operações de renda variável. Com efeito, será
feita uma breve abordagem da legislação que regula tal imposto, bem como demonstrar-se-á
sua sistemática.
Ainda, no terceiro capítulo, complementando a matéria vista de forma geral na
primeira parte da pesquisa, o imposto de renda sobre os ganhos líquidos em renda variável
será estudado, como o seu fato gerador, formação da base de cálculo, alíquota aplicada, bem
como será visto como é realizado o recolhimento desse imposto. Encerrando a terceira parte
da pesquisa, realizar-se-á ponderações acerca dos fatores contrários e favoráveis à
(in)constitucionalidade do tributo em questão.
Neste diapasão, será feito um confronto entre as regras de incidência do
imposto de renda e a sistemática do imposto de renda dos ganhos em renda variável com
princípios constitucionais tributários. Nesta parte, também serão apresentadas as posições dos
14

especialistas a respeito do imposto de renda sobre os ganhos em renda variável, bem como a
posição dos tribunais brasileiros sobre o assunto.
Vale ressaltar, ainda, que este estudo não irá abordar toda a legislação atinente
ao imposto de renda, mas tão-somente àquela que afeta diretamente a matéria em estudo. Isto
porque a legislação do referido imposto é ampla e complexa, sendo que abordá-la por
completo fugiria ao escopo dessa pesquisa. No entanto, as normas mais relevantes ao tema
serão abordadas.
Finalmente, nas considerações finais desta pesquisa, far-se-á um juízo crítico
do imposto de renda sobre os ganhos em renda variável, com base nos dados levantados neste
estudo, demonstrando, assim, se o tributo em estudo, no tocante ao objeto desta pesquisa, é
constitucional ou não.
15

2 UM TRIBUTO CHAMADO IMPOSTO DE RENDA

Os tributos são as principais fontes de receita do Estado e, dentre os diversos


tipos de tributos que integram o Sistema Constitucional Tributário vigente, há o imposto. A
hipótese legal do tributo da espécie imposto não está vinculada a qualquer atividade estatal
específica. Em suma, à exceção dos casos previstos na Constituição Federal, o imposto tem a
função de gerar receita ao ente estatal, para que este possa cobrir seus gastos. Assim, toda a
coletividade é chamada a contribuir com as necessidades financeiras do Estado.1
Em se tratando de sua instituição, a Constituição Federal, em seu artigo 153,
III, atribuiu à União a competência para tributar a renda das pessoas (físicas ou jurídicas) por
meio do imposto. A Constituição também informa os princípios tributários especificamente
vinculados ao imposto de renda, isto é, a capacidade contributiva, a generalidade, a
universalidade e a progressividade. Estes princípios, em conjunto com os demais princípios
constitucionais tributários, deverão ser observados pelo legislador ao instituir ou modificar o
imposto de renda; e o Fisco deverá respeitá-los na sua fiscalização e cobrança. Vale dizer, o
artigo 43 do Código Tributário Nacional normatiza e define os aspectos gerais e elementos
que compõem o imposto de renda, servindo de complemento aos fundamentos contidos no
Texto Constitucional.
De grande importância para a saúde financeira do Estado brasileiro, o imposto
sobre a renda e proventos de qualquer natureza – comumente chamado de imposto de renda –
é um dos tributos que mais arrecada aos cofres da Fazenda Nacional. Segundo informações da
Receita Federal, 2 em 2010, o imposto de renda foi responsável por 18,23% da arrecadação do
Estado.
Neste sentido, destaca-se que o imposto de renda apresenta não apenas uma
importante função fiscal, mas também cumpre um relevante papel extrafiscal, pois, ao
arrecadar os valores que serão utilizados para a manutenção e crescimento do Estado, cumpre
com sua função fiscal, ao passo que cumpre suas funções extrafiscais ao servir como
instrumento de busca de um ideal de justiça fiscal, ao proporcionar a redistribuição da renda
entre os cidadãos e regiões do país e manter o equilíbrio econômico destas regiões. Contudo, a
função primordial do imposto de renda é a fiscal. Afinal, conforme visto, o imposto de renda é

1
SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2011.
2
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Estudos Econômico-Tributários.
Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/EstTributários/Estatisticas/default.htm>. Acesso
em: 03 de jan. de 2012.
16

um dos tributos que proporcionam ao Estado, maior volume de arrecadação, sendo,


consequentemente, um dos principais responsáveis pela saúde do orçamento da União.3

2.1 Aspectos históricos do Imposto Sobre a Renda no Exterior

Antes de delinear os aspectos mais relevantes do imposto de renda, e em que


pese a escassez da literatura disponível sobre o tema, é importante que seja realizado um
apanhado histórico para compreendê-lo em profundidade, isto é, identificar o contexto e quais
as justificativas históricas para que tal imposto tenha surgido.4
Comparado com tantos outros institutos do direito e da própria criação do
Estado - que remontam à priscas eras - o imposto sobre a renda surgiu tardiamente no
desenvolvimento das nações. No passado, era difícil realizar a aferição da renda de um
indivíduo, vez que a economia era baseada no escambo, ou seja, na troca de produtos ou
serviços por outros produtos ou serviços. Somente a partir do advento da moeda é que foi
possível mensurar o acréscimo patrimonial dos indivíduos e, consequentemente, determinar
sua renda. Com isso, a riqueza não mais era tida somente pelo total de bens que o indivíduo
era proprietário, mas sim pelo produto desses bens.5
Neste sentido, pode-se referir que a história da tributação passou por cinco
fases, a saber: i) tributação sobre o indivíduo; ii) tributação sobre o patrimônio; iii) tributação
sobre a despesa individual; iv) tributação sobre o produto do capital; v) tributação sobre o
rendimento, este último surgindo após a Revolução Industrial, com o desenvolvimento da
indústria e comércio. 6
Acerca do imposto de renda, não existe um registro sobre o período exato do
seu surgimento. Alguns autores, como Augusto Viveiros de Castro, citado por Gisele Lemke,
apontam que este imposto teve início ainda no Império Romano, que cobrava dos estrangeiros
para que estes pudessem exercer atividades comerciais. 7 No entanto, em que pese não haja
consenso, Alcides Jorge Costa, João Batista de Souza e Rubens Gomes de Sousa apontam que
o imposto de renda teve seu embrião no século XV, em Florença, na Itália, com a chamada

3
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 32.ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
4
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Primórdios do imposto de renda no Brasil. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/irpf/historia/histPriomordiosBrasil.asp>. Acesso em: 03 de jan.
2012.
5
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit.
6
CORREA, Walter Barbosa. Subsídios para a história legislativa do Imposto de Renda no Brasil In: Estudos
sobre o Imposto de Renda (em memória de Henry Tilbery). São Paulo: Resenha Tributária, 1994.
7
LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São
Paulo: Dialética, 1998.
17

Decima Scalata, em que decima era a denominação dada aos impostos; e scalata significava
algo gradual, progressivo. Contudo, a decima scalata não incidia sobre a renda, mas sim sobre
sua capitalização. Assim, a renda servia apenas como índice para apurar o patrimônio
necessário à sua produção; era sobre este patrimônio que a tributação incidia. É importante
salientar, ainda, que a decima scalata teve uma curta duração.8
Embora haja discordância quanto ao momento exato da criação do imposto
sobre a renda no mundo, tem-se que o surgimento formal do imposto de renda deu-se com o
advento do Estado Moderno, na Inglaterra do século XVIII. Neste período, Napoleão
Bonaparte ameaçava a Inglaterra, por isso, os britânicos necessitavam de recursos para
financiar a guerra iminente.9
Em 1798, o então primeiro-ministro britânico, Willian Pitt, apresentou ao
Parlamento Inglês uma proposta para modificar as chamadas assessed taxes, transformando
este tributo – que originalmente era uma taxação baseada nos gastos do indivíduo – num
imposto sobre a renda. Com as modificações, o tributo passaria a ser um imposto temporário
que incidiria sobre as fontes de renda mais importantes. Surgia, deste modo, o imposto sobre a
renda, denominado income tax, cujo montante arrecadado seria utilizado para financiar a
guerra.10
Já em 1802, por causa da paz transitória entre Inglaterra e França, o imposto de
renda foi suprimido. No entanto, um ano após, as hostilidades recomeçaram e, com isto, o
imposto de renda ressurgiu, com uma série de aperfeiçoamentos, tais como: a) passou-se a
estabelecer e tributar categorias distintas de rendimento, de acordo com sua origem; b)
implantação de cobrança na fonte; c) isenção de rendas de pequeno valor; e d) dedução para
encargos de família. 11
Em 1816, com a queda de Napoleão em Waterloo, o imposto de renda foi
extinto. Porém, com o passar dos anos, a Inglaterra começou a entrar num período de crises e
grandes déficits orçamentários. Então, em 1842, o Parlamento Inglês concordou com a volta
do imposto de renda, numa tentativa de reestabelecer o caixa do país. Há registro de discursos
de políticos e ministros que se comprometiam a extinguir o imposto quando fosse possível. 12

8
CAMPOS, Dejalma de. O Doutor Henry Tilbery e o imposto de renda In: MARTINS, Ives Gandra da Silva
(Coord.). Imposto de renda: conceitos, princípios, comentários. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1996.
9
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Primórdios do imposto de renda no Mundo. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/irpf/historia/histPriomordiosMundo.asp> Acesso em: 03 de jan.
2012.
10
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit.
11
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit.
12
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit.
18

No século XIX os países germânicos, a seu turno, passaram a substituir a


tributação sobre a produção e consumo pela tributação sobre a renda. Interessante destacar
que o imposto nestes países era sobre classes sociais. Os germânicos adotavam uma alíquota
progressiva, que incidia sobre salários e pensões. Na região da Prússia, o contribuinte era
responsável por apresentar anualmente a sua declaração de renda, pois a quantificação e
recolhimento do imposto eram feitos com base nesta declaração.13
O embrião do imposto de renda nos Estados Unidos deu-se na metade do
século XIX. Inicialmente, o imposto era cobrado pelos Estados-membros, sendo que os
estados do sul instituíram o imposto sobre salários, vencimentos, honorários; enquanto os
estados do norte, sobre o capital e a propriedade. Com essa sistemática, entretanto, não se
obteve grandes arrecadações, de modo que, em 1861, foi criado um imposto federal sobre as
rendas pessoais. Este imposto apresentava uma alíquota fixa de 3%, com isenção de até 800
dólares anuais. As alíquotas progressivas foram instituídas em 1862, onde era aplicado um
imposto de 3% para renda entre 600 e 10.000 dólares e 5% para renda superior a 10.000
dólares. No final da Guerra da Secessão, os congressistas americanos alteraram a tabela
progressiva, passando para 5% para renda entre 600 e 5.000 dólares e 10% para rendas
maiores que 5.000 dólares. Somente em 1913 foi instituído de forma definitiva o imposto de
renda nos Estados Unidos, quando a Emenda Constitucional n° 16, estipulando que “O
Congresso terá o poder para impor e arrecadar impostos sobre as rendas derivadas de qualquer
fonte (...)”, foi aprovada.14
Assim, em 1913, passaram a existir três modelos de imposto de renda: o
britânico, o germânico e o americano. Como forma de recolhimento, estes países adotaram o
sistema de pagamento corrente do tributo, conhecido pela sigla PAYE (pay as you earn). Em
síntese, o imposto deveria ser pago na medida em que a renda fosse auferida.15
A França, por sua vez, passou a cobrar o imposto sobre a renda em 1916. A
apresentação da declaração era obrigatória e sua apuração era feita por meio de cédulas, que
eram divididas de acordo com a origem dos rendimentos, e de um imposto complementar
progressivo. O sistema francês foi a base para a criação do imposto sobre a renda brasileiro.16

13
LEONETTI, Carlos Araújo. O imposto sobre a renda como instrumento de justiça social no Brasil. Barueri:
Manole, 2003.
14
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Primórdios do imposto de renda no mundo, ibid.
15
LEONETTI, ibid.
16
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit.
19

2.2 Aspectos históricos do Imposto Sobre a Renda no Brasil

Examinadas as circunstâncias históricas do surgimento e da evolução do


Imposto de Renda no Exterior, cumpre fazer o mesmo em relação ao Brasil. Com efeito,
cumpre salientar que ainda antes do Império, no Brasil colônia, o imposto de renda já existia,
ainda que incidisse apenas sobre alguns rendimentos. O referido tributo atendia pelo nome de
decima secular, e gravava todos os interesses e rendas auferidos por qualquer pessoa, a uma
alíquota de 10%.17
No período do Império surgiram alguns outros impostos que visavam tributar
os rendimentos. Dentre eles, pode-se citar o imposto sobre lojas - pago por proprietários de
lojas, armazéns e congêneres - que visava alcançar a distribuição dos rendimentos ganhos.
Cita-se, ainda, a decima urbana, que era um imposto que incida sobre os rendimentos líquidos
percebidos pelos locadores de prédios urbanos.18
Entretanto, entende-se que o primeiro esboço de um imposto sobre a renda
surgiu no nosso país em 1843, ainda no período Imperial, com a promulgação da Lei n° 317.
Ela estabelecia, no seu artigo 23, um imposto progressivo sobre os vencimentos recebidos dos
cofres públicos. Tal imposto não vicejou: dois anos depois, a lei deixou de vigorar. Os
políticos contrários à instituição do imposto sobre a renda argumentavam que ele era
demasiado complexo e amplo para ser aplicado num país de proporções continentais, como o
Brasil. 19
No ano de 1867, com o intuito de financiar a Guerra do Paraguai, o imposto de
renda novamente foi lembrado como uma solução rápida para a obtenção de recursos para os
cofres públicos. É importante destacar que, nesta época, o imposto de renda ainda não tinha o
conceito constitucional atual. Assim, o imposto de 1867 basicamente tributava o patrimônio
em 3% (sobre o valor lucrativo do imóvel em que habitava o contribuinte, mesmo que ele
fosse inquilino), bem como a renda nos mesmos 3% (sobre os vencimentos recebidos dos
cofres públicos).20
Em 1891, o imposto sobre a renda ganhou um defensor de peso: Rui Barbosa, o
então Ministro da Fazenda do período republicano. O citado jurista dedicou um extenso
relatório ao imposto sobre a renda, a fim de demonstrar sua história, forma de aplicação do

17
Tratado dos Impostos apud LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de renda e de disponibilidade
econômica e jurídica. São Paulo : Dialética, 1998, p. 14.
18
LEMKE, ibid., p. 14.
19
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Primórdios do imposto de renda no Brasil, ibid.
20
BORBA, Bruna Estima. Imposto de renda das pessoas físicas. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 5.
20

imposto, bem como propostas de adoção. Defendia o Ministro que o imposto sobre a renda
seria mais justo do que o imposto indireto, muito comum na sua época, por ser de fácil
implementação e apresentar resultados imediatos. Suas ideias, no entanto, não foram postas
em prática.21
Nos anos subsequentes, diversas foram as tentativas em instituir o imposto
sobre a renda; sem sucesso, porém. A principal justificativa dos parlamentares contrários era a
mesma de outrora: o Brasil não estaria preparado para a instituição de um imposto tão
complexo e cuja cobrança seria muito difícil de ser realizada. Entretanto, após tantas
tentativas, o imposto sobre a renda finalmente foi instituído no Brasil por meio do Decreto n°
4.625 de 31 de dezembro de 1922. Para aprovação do novo tributo pesou o fato de o imposto
sobre a renda participar cada vez mais da receita tributária dos países em que foi instituído.
Além disso, de acordo com parlamentares, governantes e juristas da época, o imposto sobre a
renda seria um importante meio de angariar recursos e de possuir um sistema tributário mais
justo.22
Por ser um imposto complexo, o Estado iniciou estudos para melhor elaborá-lo.
Coube ao engenheiro Francisco Tito de Souza Reis, estudioso das questões tributárias,
elaborar melhorias ao imposto sobre a renda. Nos anos subsequentes à implantação do
imposto foram realizadas importantes alterações ao imposto de renda, como a classificação
dos rendimentos em categorias e a tributação do onerado segundo sua capacidade
contributiva.23
Até então, o imposto sobre a renda era matéria tratada pela lei orçamentária do
país. Somente a partir da Constituição Federal de 1934 o imposto de renda passou a ter nível
constitucional, fazendo parte da relação dos tributos de competência da União. A Constituição
de 1967 modificou sobremaneira a redação relativa ao imposto de renda, dando competência à
União em instituir impostos sobre “renda e proventos de qualquer natureza, salvo ajuda de
custo e diárias pagas pelos cofres públicos”. 24 Tal alteração fez com que se criassem no Brasil
duas classes de cidadãos: aqueles que pegavam imposto de renda e aqueles que não pagavam
o imposto. Isto porque, do valor total dos vencimentos percebidos, os contribuintes ligados ao
Poder Público recebiam um pequeno valor a título de salário, sendo que o montante maior era
recebido a título de ajuda de custo e diárias; desta forma, esta classe de contribuintes escapava
da tributação.

21
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit..
22
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit..
23
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, 2012, loc. cit..
24
Constituição Federal de 1987 - Artigo 21, IV. Onde referência
21

Em 1985, por meio da Lei n° 7.450, a tributação da renda passou a ser feita a
partir das chamadas “bases correntes”. Este sistema tinha uma sistemática semelhante ao
PAYE, ou seja, o imposto passava a ser devido à medida que os rendimentos eram auferidos.
Entretanto, mesmo sendo apenas informativa, ainda era necessário que o contribuinte
apresentasse declaração de sua renda. Detalhe interessante era a progressividade de tal
imposto: para as pessoas físicas, as alíquotas variavam de 5% a 45%.25
Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, a antiga divisão entre
os contribuintes criada pela Constituição de 1934 foi eliminada. O novel texto constitucional
continuou a outorgar competência à União no que se refere à instituição do imposto sobre a
renda e proventos de qualquer natureza, todavia a instituição de tal imposto deverá sempre ser
pautada nos princípios constitucionais tributários da generalidade, da progressividade, da
universalidade e da capacidade contributiva.
Segundo Bruna Estima Borba,26 o imposto de renda quando de sua criação,
"não foi criado para satisfazer os anseios de equidade ou de justiça distributiva (...). Ao
contrário, tinha fins arrecadatórios (...)". Atualmente, em tese, o imposto de renda busca, além
da arrecadação de dinheiro aos cofres públicos, a concretização dos objetivos supracitados.
Feito este breve apanhado histórico acerca do imposto sobre a renda, tanto em
relação ao contexto internacional quanto ao interno, nota-se que, inicialmente, o imposto foi
instituído com o intuito de financiar guerras; depois, foi utilizado pelo Estado como meio para
arrecadar dinheiro em tempos de crise econômica; até finalmente tornar-se um tributo
permanente, quando evoluiria até se tornar a principal fonte de recursos para o Estado.

2.3 O Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – Considerações


Iniciais

Ao estudar a história do imposto de renda no Brasil, pôde-se observar que a


Constituição Federal tem papel fundamental na normatização da matéria tributária. O Texto
Constitucional vigente, no seu art. 153, III,27 outorga à União a competência para instituir o
imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza.

25
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza – tributação das pessoas
físicas In: SANTI, Eurico Marcos Diniz de (Coord.). Curso de especialização em direito tributário: estudos
analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho. Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 451.
26
BORBA, ibid., p. 5.
27
Art. 153, caput e III da Constituição Federal de 1988: “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
(...) III - renda e proventos de qualquer natureza; (...)”.
22

Reitera-se, por oportuno, que o imposto sobre a renda e proventos de qualquer


natureza exerce uma essencial função, tanto fiscal quanto extrafiscal. Sendo uma das
principais formas de arrecadação de receita tributária, o imposto de renda é de suma
importância não apenas para a manutenção financeira da União, mas também para realizar a
redistribuição de riquezas no país. 28
No que tange à instituição, fiscalização e cobrança do imposto de renda,
destaca-se que a Constituição Federal de 1988 estipula princípios tributários, os quais o
legislador e o Fisco deverão mandatoriamente respeitar. Neste sentido, o artigo 153, §2º, I,29
da Constituição de 1988, informa que o imposto sobre a renda deverá atender aos critérios da
generalidade, da universalidade e da progressividade. Destaca-se, ainda, que o imposto de
renda deverá apresentar um caráter pessoal, como estipula o art. 145, §1º.30 Além disso, assim
como todos os demais tributos, o imposto de renda, em respeito ao princípio da vedação ao
confisco, não poderá ser utilizado com efeitos confiscatórios.
Por sua vez, o Código Tributário Nacional (Lei n° 5.172/1966) apresenta as
normas gerais do Direito Tributário. No que concerne ao imposto de renda, o CTN estabelece,
do art. 43 ao 45,31 o regramento dos modos de apuração in concreto, a base de cálculo e a
alíquota.32

28
MACHADO, ibid., p. 319.
29
Art. 153, §2º, I, da Constituição Federal de 1988: “I - será informado pelos critérios da generalidade, da
universalidade e da progressividade, na forma da lei;”.
30
Art. 145, §1º, da Constituição Federal de 1988: “§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal
e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos
termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”.
31
Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato
gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no
inciso anterior.
§ 1o A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição
jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção. (Incluído pela Lcp nº 104, de
10.1.2001)
§ 2o Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento
em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo. (Incluído pela Lcp
nº 104, de 10.1.2001)
Art. 44. A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos
tributáveis.
Art. 45. Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade a que se refere o artigo 43, sem prejuízo de
atribuir a lei essa condição ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos
tributáveis.
Parágrafo único. A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis a condição de
responsável pelo imposto cuja retenção e recolhimento lhe caibam.
32
CARRAZZA, Roque Antônio. Imposto sobre a renda: perfil constitucional e temas específicos. 3.ed. São
Paulo: Malheiros, 2009, p. 52.
23

Porém, antes de prosseguir para a análise do fato gerador do imposto de renda,


é importante fazer um breve apanhado da composição da hipótese de incidência do imposto
em comento.
A hipótese de incidência traz a descrição normativa abstrata da situação que,
depois de ocorrida, faz surgir o vínculo jurídico-tributário. No imposto de renda, a hipótese de
incidência é formada a partir de alguns critérios: pessoal, material, espacial, temporal e
quantitativo.33
O critério pessoal diz respeito aos sujeitos da relação jurídico-tributária. Nesta
esteira, tem-se como o sujeito ativo da relação a pessoa política que instituiu o tributo – no
caso do imposto de renda, a União; e como sujeito passivo, o contribuinte ou responsável, que
estará obrigado ao pagamento – no imposto de renda, será a pessoa que adquirir renda ou
proventos, caracterizados como riqueza nova. O terceiro responsável34 pela retenção e
recolhimento do imposto de renda devido pelo contribuinte, isto é, aquele que, a teor do art.
121, II, do CTN35, mesmo não sendo contribuinte, também poderá figurar no polo passivo por
força de disposição legal. 36
O critério material consiste na designação legal de ordem objetiva, isto é, nos
próprios fatos descritos pela norma. No caso do imposto de renda, é a aquisição de
disponibilidade econômica ou jurídica de renda, traduzida na aquisição e disponibilidade de

33
QUEIROZ, ibid., p. 456-457.
34
O responsável tributário é um terceiro que, por definição legal, terá a obrigação de reter e recolher o tributo.
Nesta esteira, existe o responsável substituto e o responsável por transferência.
A substituição ocorre quando, ao criar uma hipótese de incidência tributária descrevendo a conduta a ser
praticada pelo contribuinte, o legislador define que, sendo concretizada aquela conduta, outra pessoa seja
responsável pelo recolhimento do tributo devido. Como exemplo, pode-se citar a legislação do ICMS. Ela
estipula que o imposto devido pela venda realizada por agricultores a comerciantes seja pago por estes. Neste
caso, quem gerou a saída da mercadoria (fato gerador do tributo) foi o agricultor, mas quem figura no polo
passivo da obrigação é o comerciante.
A responsabilidade por transferência, a seu turno, envolve dois fatos distintos: aquele que faz nascer a pretensão
tributária e um fato jurídico. Este outro fato passará a obrigação para o responsável por transferência. Assim,
Luís Eduardo Schoueri explica que a responsabilidade por transferência surgirá quando “o legislador, embora
definido um sujeito passivo pela verificação do fato jurídico tributário, determina, em virtude de outro fato
(diverso do fato jurídico tributário) que outra pessoa passará a ser responsável (solidariamente ou não) pelo
recolhimento do tributo devido pelo primeiro”.
A título de exemplo deste caso, pode-se citar a responsabilidade devido à aquisição de um estabelecimento. A
empresa era devedora de tributo e, no momento do fato gerador deles, o adquirente não existia na relação
tributária. Porém, devido à aquisição do estabelecimento, passa a responder por seus tributos.
(SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 1ª Ed. São Paulo : Saraiva, 2011, pp. 478-479.)
35
Cf. Art. 121, II, do Código Tributário Nacional: “II - responsável, quando, sem revestir a condição de
contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei”.
36
MARTINS, Marcelo Guerra. Considerações em torno do aspecto temporal do imposto sobre a renda. In:
Revista CEJ. Brasília, DF, v. 9, N.º 28, p. 84-89, jan./mar. 2005. Disponível em:
<http://www2.cjf.jus.br/ojs2/index.php/cej/article/viewFile/650/830>. Acesso em: 10 de mar. 2012.
24

riqueza nova ou acréscimos patrimoniais. 37 Os conceitos de disponibilidade econômica ou


jurídica de renda serão objeto de análise, adiante.
Já o critério espacial informa em que local é possível materializar-se a hipótese
de incidência. É a extensão territorial de validade da norma, que não precisa necessariamente
coincidir com o espaço territorial. Este critério do imposto de renda oportuniza que o mesmo
incida sobre toda a renda ou proventos auferidos em todo o território nacional. Assim, o IR
poderá recair tanto sobre a pessoa residente no país quanto nas não-residentes que tenham
domicílios no exterior.38
Ainda referente ao critério espacial, é importante salientar que, no caso do
imposto de renda, é possível a aplicação extraterritorial da norma de incidência. Desta forma,
o imposto pode alcançar a renda auferida no exterior por residentes no Brasil, bem como por
aqueles que se encontrem no estrangeiro ou ausentes no país. 39
Tema controverso na doutrina, o critério temporal diz respeito à fixação legal
do momento em que se considera realizada a hipótese de incidência. Ou seja, é o exato
momento da ocorrência do fato gerador do imposto de renda, onde se poderá quantificar o
acréscimo patrimonial percebido, de acordo com a periodicidade estabelecida na lei. 40
O assunto é polêmico, pois alguns doutrinadores defendem ser anual esta
periodicidade; enquanto outros defendem que cada ingresso é um acréscimo passível de
tributação pelo imposto de renda. Vale dizer, a periodicidade é essencial para que se possa
aferir com precisão a entrada de riqueza ao patrimônio da pessoa. Devido aos diversos
posicionamentos doutrinários e à importância que o assunto tem para a análise da
(in)constitucionalidade do imposto de renda nos ganhos líquidos em renda variável, este
assunto será abordado posteriormente em tópico específico, com a apresentação dos
argumentos aplicáveis a cada um dos entendimentos e seus respectivos defensores.
O critério quantitativo, a seu turno, divide-se entre a base de cálculo e a
alíquota aplicada ao imposto. Em linhas gerais, a base de cálculo do imposto de renda é a
grandeza econômica sobre a qual alíquota será aplicada. Esta grandeza econômica é, por
exemplo, o montante havido como acréscimo patrimonial – a renda líquida. Já a alíquota vem
a ser uma fração da base de cálculo, que, conjugando-a com esta, fornecerá o montante de
imposto devido.41

37
QUEIROZ, ibid., p. 469.
38
QUEIROZ, ibid., p. 461.
39
QUEIROZ, loc. cit.
40
QUEIROZ, ibid., p. 469.
41
MARTINS, ibid.
25

Importante destacar que, atualmente, a alíquota do imposto de renda da pessoa


física é progressiva, isto é, ela aumenta de acordo com o incremento da base de cálculo, da
seguinte forma: isento, para quem apresentar rendimentos mensais até R$1.637,11; b) 7,5%,
para quem auferir renda mensal entre R$1.637,12 e R$2.453,50; c) 15%, para aqueles que
obtiverem renda mensal de R$2.453,51 até R$3.271,38; d) 22,5%, àqueles que
experimentarem renda mensal entre R$3.271,39 e R$ 4.087,65; e e) 27,5% para o contribuinte
que auferir renda mensal acima de R$4.087,65.42. Por fim, o imposto de renda dos ganhos
auferidos em renda variável terá uma alíquota fixa de 15%, conforme estipula o art. 46 da
Instrução Normativa 1.022/2010.43

2.4 O Fato Gerador do Imposto Sobre a Renda

Analisada a hipótese de incidência do imposto de renda, passemos a tratar do


seu fato gerador. Segundo Vittorio Cassone, o fato gerador irá ocorrer quando satisfeita
determinada ocasião estabelecida na norma jurídica. 44 Seguindo este entendimento, nos
termos do art. 43, I, do Código Tributário Nacional, verifica-se que o fato gerador do imposto
de renda é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou proventos, onde
a renda é compreendida aqui como o produto do trabalho, do capital ou da combinação deles,
de acordo com o citado dispositivo legal.
Embora possa parecer de simples entendimento, o fato gerador do imposto de
renda suscita debates acalorados entre os estudiosos. A discussão foca-se, principalmente, no
que vem a ser a renda, isto é, qual o seu conceito. Neste interim, alguns defendem a ideia de
que o legislador é livre para definir o que é renda. É o caso de Rubens Gomes de Sousa, que
entende que compete ao legislador definir o conceito de renda, e que este conceito é dado pelo
próprio CTN, vez que, “no art. 43, o CTN define como segue o imposto de renda, dentro da
sua técnica de conceituar os diferentes impostos pelo fato gerador da obrigação de pagá-los
[...] Esta circunstância está implícita, no caso da ‘renda’, na palavra ‘produto’”;45 já outros
sustentam que o conceito de renda é traçado pela própria Constituição Federal. Com efeito,

42
Tabela progressiva mensal com as alíquotas e base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física (ano-
calendário 2012), de acordo com a Lei 12.469 de Agosto de 2011. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12469.htm>. Acesso em: 10 mar. 2012.
43
Art. 46 da Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010: “Art. 46. Os ganhos líquidos auferidos em alienações
ocorridas nos mercados à vista, em operações liquidadas nos mercados de opções e a termo e em ajustes diários
apurados nos mercados futuros sujeitam-se ao imposto sobre a renda à alíquota de 15% (quinze por cento)”.
44
CASSONE, Vittorio. Direito Tributário. 12.ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 249.
45
SOUSA, Rubens Gomes. Pareceres 3: Imposto de renda. Coordenação IBET, Instituto Brasileiro de Estudos
Tributários. Edição Póstuma. São Paulo: Resenha Tributária, 1976, p. 276-277.
26

Roque Antonio Carrazza afirma: “estamos convencidos, porém, de que há uma noção
constitucional de renda, que não pode ser desconsiderada pelo legislador infraconstitucional
(seja o complementar nacional, seja o ordinário federal)”. 46
Como se não bastasse, os juristas também divergem quanto ao aspecto
temporal do imposto de renda. Há uma celeuma na doutrina no que se refere à periodicidade
do fato gerador, isto é, qual o lapso de tempo necessário para considerar a aquisição de
disponibilidade da renda como efetivo acréscimo patrimonial. Neste sentido, há aqueles que
defendem um lapso de tempo anual, como Roque Antonio Carrazza, ao afirmar que “o fato
imponível do IR só ocorre ao cabo do exercício financeiro, acompanhando, destarte, o ciclo
das leis orçamentárias e do próprio funcionamento do Estado Brasileiro”.47 Por outro lado, há
aqueles que defende caber à lei ordinária estabelecer um período, como Ricardo Mariz de
Oliveira, que ensina que “o imposto sobre a renda pode incidir sobre qualquer acréscimo
patrimonial obtido em cada período de tempo previsto em lei”. 48
Sendo assim, para melhor compreender o imposto sobre a renda nos ganhos
auferidos em renda variável, no intuito de verificar se a incidência do mesmo, nesta hipótese,
é, ou não, constitucional, é necessário que antes se entenda com precisão o fato gerador do
imposto sobre a renda. Para tal, faz-se mister conhecer o conceito de renda, investigar o que
vem a ser a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica e, ainda, verificar se existe um
período mínimo para a aferição do acréscimo patrimonial que enseja a tributação pelo imposto
em exame.

2.4.1 Do conceito de renda

Compreender o conceito de renda é de vital importância para entender o objeto


deste estudo, qual seja, a incidência do imposto sobre a renda nos ganhos auferidos no
mercado de capitais. Originalmente um fenômeno econômico, a renda passou a ser um
fenômeno jurídico no momento em que foi inserida na estrutura normativa, ingressando no
ordenamento jurídico e, por isso, também tornando-se objeto de estudo e conceituações
jurídicas.

46
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 27. ed. rev. ampl. e atual. até a
Emenda Constitucional n. 67/2010. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 759.
47
CARRAZZA, id., 2009, p. 132.
48
OLIVEIRA. Ricardo Mariz de. Princípios fundamentais do imposto de renda. In: Curso de especialização em
direito tributário: estudos analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho. Rio de Janeiro: Forense,
2005, nota 23, p. 778.
27

A expressão “renda e proventos de qualquer natureza” foi adotada entre o ano


de 1922 e a edição do Código Tributário Nacional (1966), porém nunca houve uma discussão
sobre a amplitude deste conceito.49 Entretanto, embora o conceito de renda possa parecer algo
simples, ele se traduz num grande problema para os estudiosos. E considerando que o
conceito de renda se projeta para o mundo jurídico, seria temerário interpretá-lo somente sob
a metodologia das ciências econômicas, o que certamente traria insegurança jurídica na
aplicação da norma. 50 Não há um entendimento unânime entre os economistas, financistas e
juristas, o que fez com que surgissem diversas teorias a fim de conceituá-la. Assim, em
virtude da ampla gama de teorias, será feita a abordagem, sucinta, das mais relevantes para
este estudo.
A Teoria Econômica51 apresenta o conceito mais simples de renda. Os
estudiosos desta teoria definem renda como sendo sempre uma riqueza nova, podendo esta
riqueza ser material ou imaterial (há divergências neste último aspecto). Além disso, a riqueza
deverá derivar de uma fonte produtiva; também não se faz necessário que a riqueza tenha sido
realizada e separada do capital;52 a periodicidade da renda é requisito dispensável. A renda
aqui é representada pela moeda, bens ou direitos, ou pelo poder de compra. Na Teoria
Econômica, renda é compreendida como sendo a renda líquida, isto é, a renda bruta,
descontados as despesas de sua produção.53
A Teoria Fiscal, de outra sorte, subdivide-se em três outras teorias: a teoria da
renda-produto, teoria da renda-acréscimo patrimonial e a teoria legalista.
A Teoria da Renda-Produto, segundo Gisele Lemke, explica a renda como
sendo riqueza nova, exclusivamente material, advinda de uma fonte produtiva durável54,
explorada pelo homem. De acordo com esta teoria, a renda deve ser periódica ou passível de
sê-la. Como na Teoria Econômica, a periodicidade da renda também é dispensável, bem como
não há necessidade de realização e separação do acréscimo patrimonial para configurar renda.
Para esta teoria a renda pode ser monetária – os valores em moeda corrente percebidos pelo
indivíduo - ou em espécie – neste caso, o conjunto de bens e direitos adquiridos pelo

49
BIFANO, Elidie Palma. O mercado financeiro e o imposto sobre a renda. 2.ed. São Paulo: Quartier Latin,
2011, p. 121.
50
BIFANO, ibid., p. 123.
51
Alguns dos principais estudiosos desta teoria são: Adam Smith, Alfred Marshall, Jean Say, John Stuart Mill e
Irving Fischer.
52
Renda realizada seria o seu montante respectivo transformado em moeda ou passível de avaliação monetária;
renda separada é a renda autônoma, que possibilita a sua realização.
53
BELSUNCE, Horácio A. Garcia. El Concepto de credito em la doctrina y em El derecho tributario. Buenos
Aires : Depalma, 1967. In: LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de renda e de disponibilidade
econômica e jurídica. São Paulo: Dialética, 1998, p. 17-18.
54
Isto é, deve subsistir após o ato de produção da renda.
28

indivíduo - contudo, não se considera o poder de compra. Neste caso, considera-se a renda
líquida, que seria a renda bruta deduzidos os gastos necessários na obtenção, conservação e
manutenção do capital; porém, os gastos necessários à aquisição do capital não são
dedutíveis.55
A Teoria da Renda-Acréscimo Patrimonial56 define que a renda é a riqueza
nova, originada do emprego do capital, do trabalho ou do esforço de ambos. De acordo com
Horácio Belsunce, citado por Gisele Lemke, esta teoria não se baseia em um conceito
econômico de renda, pois a referida teoria busca atender aos fins fiscais. Isto fez com que
houvesse uma expansão no conceito de renda, objetivando atender às necessidades do Fisco.
Desta feita, na Teoria da Renda-Acréscimo a renda é compreendida como sendo todo o
ingresso de riqueza passível de avaliação em moeda; a fonte de riqueza pode ser transitória,
periódica ou excepcional, não havendo necessidade de a fonte produtora permanecer intacta
após o ato de produção. Assim como as demais teorias, não é necessária a realização e
separação da riqueza ingressa. Em derradeiro, a Teoria da Renda-Acréscimo considera a
renda como sendo resultado da renda bruta diminuída das despesas para a obtenção do
ingresso e manutenção da fonte produtora.57
A seu turno, a Teoria Legalista defende que o conceito de renda é aquilo que a
lei determinar, isto é, o legislador federal teria ampla competência para definir o conceito de
renda, devendo ater-se somente aos objetivos socioeconômicos delineados pela a legislação
tributária. Segundo Gisele Lemke, a Teoria Legalista pode ser analisada a partir de seu
sentido estrito ou de seu sentido amplo. Em sentido estrito, o ordenamento jurídico tem
autonomia para definir a renda, sendo que a legislação ordinária deverá atentar-se aos
preceitos constitucionais. Já em sentido amplo, entende-se que a legislação ordinária é livre
para definir o que pode ser considerado renda para fins de incidência do imposto sobre a
renda.58
Dino Jarach, partidário da teoria legalista, defende que não existe um conceito
de renda a priori a ser adotado pela legislação. Para ele, o conceito de renda decorre do

55
LEMKE, ibid., p. 21.
56
Segundo José Artur Lima Gonçalves, acréscimo patrimonial é o incremento material ou imaterial,
representado por qualquer espécie de direitos ou bens, de qualquer natureza; ou seja, é a riqueza nova
incorporada ao patrimônio da pessoa.
57
LEMKE, ibid., p. 23.
58
LEMKE, ibid., p. 30.
29

próprio ordenamento jurídico do país, tendo (o conceito) que respeitar somente o princípio da
igualdade e os critérios de política fiscal adotados pelo legislador.59
Outro defensor da teoria legalista, Rubens Gomes de Sousa entende que o
conceito de renda é dado pela legislação de cada país. Afirma o jurista que o conceito de
renda estaria posto de forma detalhada no art. 43 do Código Tributário Nacional. 60 Para o
citado autor, a renda tratar-se-ia de aquisição de riqueza nova, o que estaria implícito na
palavra “produto”.
Neste sentido, Rubens Gomes de Souza destaca:
Assim, no art. 43, o CTN define como segue o imposto de renda, dentro da sua
técnica de conceituar os diferentes impostos pelo fato gerador da obrigação de pagá-
los (CTN, art. 4º) [...] Esta circunstância – de tratar-se de riqueza nova – está
implícita, no caso da “renda”, na palavra “produto” (CTN, art. 43, I), que envolve a
noção de algo novo produzido por, ou seja, decorrente de, algo existente: a fonte
produtora (capital, trabalho ou combinação de ambos). 61

Em resumo, ao analisar a legislação brasileira acerca do imposto de renda,


Rubens Gomes de Sousa define a renda como sendo: i) uma riqueza nova ou acréscimo
patrimonial; ii) que tem como fonte produtiva o trabalho ou o capital já integrado ao
patrimônio do contribuinte; iii) esta fonte deve ser utilizável sem sua destruição; iv) e esta
riqueza nova deve ser produto da exploração da fonte por seu titular. 62
A última teoria conceitual de renda a ser abordada nesta monografia é a Teoria
Constitucional. Em linhas gerais, esta teoria reza que o conceito de renda está contido na
própria Constituição Federal, ainda que implicitamente; logo, o legislador infraconstitucional
terá sua atuação obrigatoriamente adstrita àquilo que informa a Constituição Federal. 63
Criticando a Teoria Legalista, Roque Antônio Carrazza defende que o conceito
de renda está contido na Constituição Federal - já que esta contém as regras-matrizes de todos
os tributos - e, por conseguinte, o legislador infraconstitucional está obrigado a respeitá-la.
Para este doutrinador, deixar a conceituação de renda ao arbítrio do legislador
infraconstitucional seria deixar o contribuinte a mercê daquilo que o legislador entender como
renda.64

59
JARACH, Dino. Finanzas Públicas y Derecho Tributario. In: LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os
conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo: Dialética, 1998, p. 59.
60
SOUSA, ibid., p. 276-277.
61
SOUSA, ibid., p. 276-277.
62
A evolução do conceito de rendimento tributável; Imposto de renda: tratamento tributário dos títulos de renda
fixa; Imposto de renda: despesas não dedutíveis pelas pessoas jurídicas apud LEMKE, Gisele. Imposto de
renda: os conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo : Dialética, 1998, p. 24.
63
QUEIROZ, Luiz Cesar Souza de. Imposto sobre a renda: requisitos para uma tributação constitucional. Rio
de Janeiro : Forense, 2003, p. 119.
64
CARRAZZA, id., 2011, p. 759.
30

Ainda, Roque Antônio Carrazza estende:


Estamos convencidos, porém, de que há uma noção constitucional de renda, que não
pode ser desconsiderada pelo legislador infraconstitucional (seja o complementar
nacional, seja o ordinário federal).
Só para nos situarmos no assunto, vimos, estribados na melhor doutrina, que a
regra-matriz (a norma padrão de incidência) de todos os tributos está contida na
Constituição. É o Texto Supremo que, direta ou indiretamente, aponta a hipótese de
incidência possível, o sujeito ativo possível, o sujeito passivo possível, a base de
cálculo possível e a alíquota possível dos vários impostos, das várias taxas, das
várias contribuições. O legislador ordinário (federal, estadual, municipal ou distrital)
não pode fugir destes arquétipos constitucionais.65

Hugo de Brito Machado apresenta um entendimento semelhante. Para o


referido jurista, o legislador ordinário tem uma liberdade relativa para definir o que vem a ser
renda; trata-se de uma liberdade restrita, pois o legislador jamais poderá formular
arbitrariamente um conceito de renda. Vale dizer, o legislador ordinário deverá ater-se ao que
a Constituição Federal de 1988 informa. Prossegue o autor afirmando, ainda, que o legislador
está livre para escolher qualquer conceito de renda dado pelas Ciências Econômicas, desde
que este conceito respeite o princípio da capacidade contributiva, além dos demais princípios
tributários previstos no Texto Constitucional, tais como, a igualdade, a universalidade,
progressividade, generalidade, etc.66
Nesse sentido, salientam os juristas defensores do conceito constitucional de
renda que a competência tributária é dada pela Constituição Federal, isto é, União, Estados-
membros, Municípios e o Distrito Federal devem respeitar os limites definidos pela
Constituição Federal de 1988 na hora de tributar. Lembra-se, ainda, que o sistema
constitucional brasileiro é rígido. Logo, conferir ao legislador infraconstitucional o poder de
considerar o que quisesse como renda e proventos de qualquer natureza, seria outorgar ao
Congresso Nacional a capacidade para alargar a competência tributária da União. E isto não é
admitido em um sistema rígido.67
Nesta esteira, aduz Hugo de Brito Machado, mencionando Roque Antonio
Carrazza, que:
Entender que o legislador é inteiramente livre para fixar o conceito de renda e
proventos de qualquer natureza importa deixar sem qualquer significação o preceito
constitucional respectivo (...). Entender-se que o legislador ordinário possa
conceituar livremente estas categorias implica que esse legislador ordinário cuide da
própria atribuição de competências, e tal não se pode conceber em um sistema
jurídico tributário como o brasileiro.68

65
CARRAZZA, ibid., p. 759.
66
MACHADO, ibid., p. 319.
67
CARRAZZA, ibid., p. 760.
68
MACHADO, ibid., p. 59, (os grifos estão no original).
31

Ainda sobre a possibilidade de o legislador infraconstitucional poder atribuir o


conceito de renda à revelia dos parâmetros e princípios definidos pela Constituição Federal,
arremata Celso Antônio Bandeira de Mello:
Se o legislador ou o aplicador da regra puder delinear, a seu talante, o campo de
restrições a que estão submetidos, através da redefinição das palavras
constitucionais, assumiriam, destarte, a função de constituintes. 69

Corroborando com a ideia de que o conceito de renda está contido no Texto


Constitucional, ainda que implicitamente, Luiz Cesar Sousa de Queiroz define a renda
expondo que:
[...] é o conceito que está contido em normas constitucionais relativas ao imposto
sobre a renda e proventos de qualquer natureza e que designa o acréscimo de valor
patrimonial, representativo da obtenção de produto ou de simples aumento no valor
do patrimônio, apurado, em certo período de tempo, a partir da combinação de todos
os fatos que contribuem para o acréscimo de valor do patrimônio (fatos-acréscimos)
com certos fatos que, estando relacionados ao atendimento das necessidades vitais
básicas ou à preservação da existência, com dignidade, tanta da própria pessoa
quanto de sua família, contribuem para o decréscimo de valor do patrimônio (fatos-
decréscimos). 70

Todavia, Zuudi Sakakihara apresenta um entendimento diverso. Ele aduz que a


Constituição Federal não traz definição alguma do que seja renda. Para ela, a Constituição
Federal de 1988 traz apenas um balizamento conceitual, onde a renda deverá submeter-se aos
princípios da capacidade contributiva, da generalidade, progressividade e universalidade.71
Sobre isto, Zuudi Sakakihara explica que:
Isto permite, quando muito, afirmar que, de acordo com a Constituição, a renda e os
proventos têm, contextualmente, um sentido econômico, e deverão representar um
ganho, ou uma riqueza nova, pois só assim atenderão ao princípio da capacidade
contributiva.72

Portanto, embora não haja um consenso na doutrina sobre qual teoria foi
adotada pelo ordenamento brasileiro, pode-se dizer que, abstraindo as nuances de cada teoria,
elas convergem num ponto: para o conceito de renda, é fundamental que haja o aumento de
patrimônio, isto é, o ingresso de riqueza nova no patrimônio existente da pessoa. Inclusive, é a
interpretação que se dá da hipótese de incidência do imposto de renda, a partir do art. 43 do
CTN.73

69
MELLO. Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 27.ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p.
60.
70
QUEIROZ, id., 2003, p. 239.
71
SAKAKIHARA, Zuudi. Código tributário nacional comentado. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004, p.155.
72
SAKAKIHARA, loc. cit.
73
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2005,
p.156.
32

Como se pôde observar, a conceituação de renda abarca diversas teorias, sendo


que o único consenso é que, para haver renda, deve existir aumento de patrimônio, conforme
relatado no parágrafo anterior. Com efeito, em que pese a grande variedade de teorias, para
fins deste estudo será adotada a Teoria Constitucional de renda. Isto porque, no nosso país,
temos como mandamento jurídico maior a Constituição Federal. É ela que organiza todo o
Estado Democrático de Direito, vale dizer, dela emanam todas as diretrizes do ordenamento
jurídico pátrio. Desta forma, não há como realizar construções jurídicas sem considerar os
mandamentos constitucionais. Por isso, faz-se necessário uma interpretação sistemática do
ordenamento jurídico, levando em conta todo o sistema jurídico, e tendo a Constituição como
balizadora das criações, aplicações e interpretações jurídicas.

2.4.2 Diferenças entre renda e rendimento

Na análise realizada no subitem anterior foi visto que não é pacífica a definição
do conceito de renda, existindo diversas correntes que buscam interpretar e determinar tal
definição.
Pode ocorrer, ainda, certa confusão entre o que os conceitos de rendimento e de
renda. Entretanto, é preciso salientar que o conceito de rendimento não deve ser confundido
com o conceito de renda. Juridicamente, há diferenças.
O rendimento é o ganho isolado; a remuneração advinda de qualquer fonte que
produza riqueza e que independe do fator tempo. A renda, por sua vez, é a riqueza excedente
incorporada ao patrimônio da pessoa, obtida em determinado espaço de tempo, deduzidos os
gastos para sua manutenção e obtenção. Logo, não seria qualquer ingresso econômico que
será considerado renda, mas sim aquele (ingresso econômico) que efetivamente traduzir-se
em acréscimo patrimonial. 74
Noutras palavras, rendimento seria tudo aquilo que aumenta o patrimônio 75 da
pessoa, como: salário, aplicações financeiras, rendimentos de poupança, entre outros; ao passo

74
DERZI, Misabel. Tributação da renda versus tributação do patrimônio. In: LEMKE, Gisele. Imposto de
renda: os conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo: Dialética, 1998, p. 76.
75
Segundo Antônio Chaves, patrimônio é o “conjunto de relações jurídicas positivas (patrimônio ativo) e
negativas (patrimônio passivo) pertencentes a uma pessoa física ou jurídica, dotado de utilidade econômica e
suscetível de avaliação pecuniária”. Introdução ao Direito Civil apud LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os
conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo : Dialética, 1998, p. 66.
33

que a renda é o acréscimo patrimonial efetivo, isto é, o saldo entre as entradas e saídas do
patrimônio, dentro de um determinado período.76
Por fim, cabe referir a observação de Mary Elbe Queiroz, de que a legislação
ordinária define rendimento como sendo os valores provenientes de determinada fonte
pagadora que são recebidos pelo contribuinte; já a renda seria a soma de todos os rendimentos
percebidos pelo contribuinte. 77
Portanto, como é possível observar, renda e rendimento são institutos
diferentes, com conceitos diferentes. Sendo assim, para os fins desta pesquisa, adotar-se-á o
conceito de rendimento baseado na noção de que este é a remuneração recebida isoladamente
das mais diversas fontes de riqueza, como o rendimento obtido do salário ou o rendimento
auferido em operações financeiras.

2.4.3 A expressão “proventos de qualquer natureza”

O Código Tributário Nacional nomeia o imposto de renda como “imposto


sobre a renda e proventos de qualquer natureza”. Neste sentido, uma vez que já se conhece as
mais diversas teorias conceituais acerca da renda, e a par da diferença entre rendimento e
renda, resta definir, em breves linhas, o que são os “proventos de qualquer natureza”, indicado
no art. 43 do CTN.78
Inicialmente, tem-se que o próprio Código Tributário Nacional - em seu art. 43,
II79 - define “proventos” como sendo qualquer outro acréscimo patrimonial que não seja
considerado produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos.
De forma semelhante àquilo estipulado pelo dispositivo legal citado
anteriormente, Gisele Lemke entende que o termo “provento” foi utilizado pelo Código
Tributário Nacional para dar maior amplitude ao próprio conceito de renda. Assim, estariam
abrangidos todos os demais acréscimos patrimoniais, independentemente da fonte, que
porventura não estejam compreendidos nas teorias da renda abordadas anteriormente.80

76
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense,
2010, p. 439-430.
77
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza: tributação das pessoas físicas.
In: DE SANTI, Eurico Marcos Diniz (Coord.). Curso de especialização em direito tributário: estudos
analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 467.
78
Cf. Art. 43 do Código Tributário Nacional: “O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos
de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica:”
79
Cf. Art. 43, II do Código Tributário Nacional: “II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os
acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior”.
80
LEMKE, ibid., p. 65.
34

Corroborando com este entendimento, Rubens Gomes de Sousa explica que os


proventos de qualquer natureza podem ser quaisquer ganhos não inclusos no conceito clássico
de renda, abordado anteriormente neste capítulo.81
Para Luciano Amaro, renda e proventos de qualquer natureza são sinônimos.
Isto porque, no entendimento deste autor, o Código Tributário Nacional buscou consagrar a
Teoria do Acréscimo Patrimonial, vez que ambas as expressões são utilizadas para frisar que
qualquer renda pode ser alcançada pelo imposto de renda.82
Por sua vez, Mairo Caldeira de Andrade aduz que o termo “proventos de
qualquer natureza” foi utilizado para evitar controvérsias referentes à amplitude do conceito
de renda. O citado jurista afirma, inclusive, que no bojo do termo “proventos” está incluso o
ganho de capital.83
Ao explicar o significado do termo “proventos”, Roberto Quiroga Mosquera
aduz serem “rendimentos recebidos a título de aposentadoria”, ou seja, são acréscimos
patrimoniais advindos de atividade profissional já cessada, mas que ainda produz ganhos
pecuniários.84 Entretanto, o mesmo jurista afirma que o termo “de qualquer natureza” estende
a abrangência do conceito de proventos, alcançando, “dinheiros, remunerações, valores,
quantias, recebidos de qualquer espécie, de qualquer origem, sem que haja necessidade de que
tais vantagens derivem, exclusivamente, do trabalho, do capital e da aposentadoria”. 85
Em suma, para verificar qual parcela do acréscimo patrimonial corresponde ao
provento, toma-se o acréscimo patrimonial líquido do período e deduzem-se as parcelas que
são caracterizadas como renda. Assim ter-se-á o acréscimo patrimonial referente aos
proventos. Noutras palavras, pode-se dizer que os proventos são os demais acréscimos
patrimoniais brutos descontados os demais decréscimo patrimoniais. 86
Portanto, embora possa haver algumas pequenas discrepâncias entre os
doutrinadores, é possível notar que o termo “proventos de qualquer natureza” visa, realmente,
aumentar a abrangência do imposto de renda, ao fazer incidir o imposto em estudo sobre
qualquer acréscimo patrimonial. Desta forma, para fins desse estudo, considera-se como

81
SOUSA, Rubens Gomes. Pareceres 1: Imposto de renda. Instituto Brasileiro de Estudos Tributários
(Coord.). Edição Póstuma. São Paulo : Resenha Tributária, 1975, 17-58.
82
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 57.
83
ANDRADE. Mairo Caldeira de. Imposto sobre a renda: A aquisição de disponibilidade jurídica ou econômica.
In: LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São
Paulo: Dialética, 1998, p. 65.
84
MOSQUERA, Roberto Quiroga. O regime jurídico tributário das aplicações financeiras realizadas no mercado
financeiro e de capitais brasileiro In: Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo,SP, N.º 9, p. 59-68,
jun. 1996, p. 58.
85
MOSQUERA, ibid., p. 58.
86
LEMKE, ibid., p. 68-69.
35

“proventos de qualquer natureza” qualquer outro acréscimo patrimonial, também devendo ser
medido dentro de um lapso temporal, e advindo de outra fonte diferente do capital, do
trabalho ou da combinação de ambos.

2.4.4 Da aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica

Estabelecido os conceitos de rendimento e de renda, bem como o que vem a ser


os proventos, é preciso reconhecer que não basta apenas ter auferido renda ou proventos de
qualquer natureza para que a pessoa torne-se sujeito passivo do imposto em estudo. É
necessário que haja a disponibilidade econômica ou jurídica desta renda. 87 Sabendo disto,
salienta-se que é farta a discussão doutrinária sobre o artigo 43 do CTN, vez que este
menciona como parte do fato gerador do imposto sobre a renda, a aquisição de sua
disponibilidade econômica ou jurídica. Assim, para que se faça a correta interpretação do
dispositivo em comento, é necessário compreender os termos “aquisição” e “disponibilidade”.
O significado de aquisição é deveras simples, posto que, segundo o dicionário Houaiss,88
adquirir algo nada mais é do que passar a ter a coisa, tornar-se proprietário, vir a obter coisa
nova, aumentar a posse, dentre outros.
A disponibilidade, a seu turno, está ligada ao Direito Civil. Ao analisar o
instituto do Direito das Coisas, no que tange aos direitos de propriedade, observa-se que o
proprietário tem as faculdades de usar, gozar, fruir e dispor da coisa, conforme dispõe o art.
1.228 do Código Civil de 2002.89 No que tange ao imposto sobre a renda, pode-se observar
que o direito de dispor assume lugar de destaque, pois, como já referido, a disponibilidade
econômica ou jurídica de renda compõe o fato gerador do tributo em comento. Nelson
Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias conceituam o direito de dispor da seguinte forma:
Entende-se como dispor a faculdade que tem o proprietário de alterar a própria
substância da coisa. É a mais ampla forma de concessão de destinação econômica à
causa. A disposição pode ser material ou jurídica.
[...]
A disposição material da coisa é percebida por atos tais como a destruição do bem
ou o seu abandono. Em ambas as hipóteses, o proprietário pratica atos físicos que
importam em perda da propriedade (art. 1.275, III e IV, do CC).
[...]

87
MACHADO, ibid., p. 321.
88
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
89
Art. 1.1228 do Código Civil de 2002: “Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”.
36

A outro turno, a disposição jurídica da propriedade poderá ser de caráter total ou


parcial. Total, quando proprietário praticar ato de alienação, importando em mutação
subjetiva do direito real; [...]
Já a disposição parcial é percebida no instante em que são instituídos ônus reais
sobre o bem.90

Pode-se afirmar, desta forma, que o legislador complementar, ao definir o fato


gerador do imposto sobre a renda como a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica,
inspirou-se no conceito civilista de disposição sobre a coisa, posto que é fato gerador para o
tributo tanto a sua disponibilidade material, quanto a sua disponibilidade jurídica.
De início, temos que, no passado, havia certa divergência quando ao tempo
desta disponibilidade. Entretanto, atualmente, é consenso da jurisprudência que a referida
disponibilidade deve ser atual, e não uma expectativa de disponibilidade - algo futuro.91
Esclarecido este ponto, ainda se faz necessário elucidar o que vem a ser a disponibilidade
econômica e a disponibilidade jurídica da renda.
Em que pese juristas como Ives Gandra da Silva Martins92 entendam que não
existe disponibilidade econômica sem a jurídica - vez que o fato de uma disponibilidade
econômica ter tratamento legal a torna também em disponibilidade jurídica - a maioria dos
doutrinadores faz esta distinção. Deste modo, entende-se por disponibilidade econômica o
efetivo recebimento da renda ou proventos por parte do contribuinte. É quando o contribuinte
tem o montante em mãos, separado de sua fonte produtora e fisicamente disponível; em outras
palavras, é o dinheiro em caixa.93 A disponibilidade econômica seria, então, a posse direta da
moeda ou de direitos que apresente liquidez imediata. Assim, pode-se dizer que a
disponibilidade econômica é uma posse de direito e de fato da renda ou proventos auferidos.
A disponibilidade jurídica, por sua vez, ocorre quando o contribuinte apresenta
um acréscimo patrimonial configurado como renda, mas ainda não a tem (o montante da
renda) em mãos, já separada de sua fonte produtora e disponível fisicamente. Neste caso,
todavia, o contribuinte possui título jurídico habilitando-o a requerer a disponibilidade
econômica que é estipulada no referido título.94 Desta feita, a título de exemplo, pode-se citar
o recebimento de um título de crédito, como o cheque; o cheque é uma ordem de pagamento à

90
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves. Direitos reais. 6.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010,
p. 189.
91
PAULSEN, Leandro; MELO, José Eduardo Soares de. Impostos federais, estaduais e municipais. 5. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 47.
92
MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). O fato gerador do imposto sobre a renda e proventos de qualquer
natureza. Caderno de Pesquisas Tributárias. São Paulo, SP, v. 11, Resenha Tributária/Centro de Extensão
Universitária, 1986, p. 266-267.
93
SOUSA, Rubens Gomes. Pareceres 1: Imposto de renda. Coordenação IBET, Instituto Brasileiro de Estudos
Tributários. Edição Póstuma. São Paulo : Resenha Tributária, 1975, p. 248.
94
SOUSA, ibid., 1975, p. 248.
37

vista – até então existe a disponibilidade jurídica – que faculta ao seu portador transformá-lo
em disponibilidade econômica, convertendo o título em moeda. Logo, na disponibilidade
jurídica existe somente a posse de direito da renda, representado por um título jurídico que
goza de liquidez e exigibilidade, cujo contribuinte tem o direito de convertê-lo na sua
expressão monetária correspondente.
Em poucas linhas, Hugo de Brito Machado resume a diferença entre
disponibilidade econômica e jurídica da seguinte forma: i) disponibilidade econômica nasce
do recebimento do valor que vem acrescentar ao patrimônio do contribuinte; ii)
disponibilidade jurídica nasce do simples crédito de valor do qual o contribuinte passa,
juridicamente, a dispor, embora este valor ainda não lhe esteja em mãos. 95
Destarte, pode-se concluir que na disponibilidade econômica o contribuinte já
incorporou ao seu patrimônio o montante que lhe é devido, gerando o acréscimo patrimonial.
A seu turno, a disponibilidade jurídica representa um crédito exigível, porém ainda não
colhido, isto é, há uma relação obrigacional de débito e crédito – seja por força de lei ou
contrato - onde o devedor está obrigado a cumprir com a prestação, sob pena de execução, e o
credor tem o direito ao crédito, que será acrescido ao seu patrimônio. 96

2.5 O Aspecto Temporal do Fato Gerador do Imposto de Renda

De acordo com a análise realizada, foi visto que o fato gerador do imposto de
renda é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica da renda. Logo, muito embora
os juristas não sejam unânimes em conceituar a renda, eles concordam que renda é a riqueza
nova incorporada ao patrimônio da pessoa. Também é do entendimento da doutrina que o
aferimento do acréscimo patrimonial havido pela pessoa implica em realizar a análise do
patrimônio em dois períodos de tempo diferentes.
Conhecer a periodicidade é crucial para a análise da incidência do imposto de
renda nos ganhos em renda variável. Portanto, sabendo da importância do aspecto temporal
para a incidência do imposto de renda, este subitem não pretende esgotar o assunto, mas, sim,
tem o intuito de esclarecer, brevemente, qual o posicionamento da doutrina referente ao
critério temporal.
Nesse sentido, indaga-se: qual é o período de tempo que deve ser levado em
consideração para a análise da alteração patrimonial? Como será apresentado a seguir, alguns
95
MACHADO, ibid., p. 321.
96
BIFANO, ibid., p. 131.
38

doutrinadores entendem que este período é anual, ao passo que outros defendem que cabe ao
legislador ordinário, ao editar a regulamentação do tributo, definir um período, ainda que
breve.
Então, referente a este lapso de tempo necessário, Mary Elbe Queiroz explica
que não se deve estabelecer um intervalo muito curto, pois poderia descaracterizar o imposto
de renda. Além disso, para que o imposto de renda atenda aos preceitos constitucionais, deve
haver um lapso de tempo suficiente para permitir a aferição do acréscimo patrimonial. 97
A mencionada autora continua o seu raciocínio afirmando que a incidência do
imposto de renda para as pessoas físicas é anual, com o seu fato gerador se perfectibilizando
no dia 31 de dezembro de cada ano, alcançando todas as rendas e/ou proventos e despesas
compreendidas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro.98
Já Paulo Ayres Barreto afirma que a norma constitucional estipula o prazo de
um ano para verificar se houve o efetivo acréscimo patrimonial, ensejando, então, a incidência
do imposto sobre a renda. Para ele, a fixação de um prazo temporal inferior a um ano
prejudicaria a análise dos ingressos e desembolsos.99
Da mesma forma, José Artur Lima Gonçalves, citado por Roque Antonio
Carrazza, entende que a Constituição Federal estabelece, ainda que de forma implícita, uma
periodicidade anual na aferição da renda. Isso porque, de acordo com o citado jurista, toda
organização estatal, de acordo com a Constituição Federal de 1988, está calcada na ideia de
periodicidade anual. Então, assim como ocorre com o conceito de renda, também a
periodicidade deve ser interpretada em consonância com as demais disposições que tratam da
mesma questão.100
Coaduna-se com esse entendimento Geraldo Ataliba, ao explicar que pelo fato
de o art. 165, §8º da CF/88 determinar ser anual a lei orçamentária - e a receita que advém do
imposto, por ser um ingresso público, deve constar no orçamento - a periodicidade do imposto
de renda também deve ser anual. 101 Nessa linha, afirma Roque Antonio Carrazza que:
O fato imponível do IR só ocorre ao cabo do exercício financeiro, acompanhando,
destarte, o ciclo das leis orçamentárias e do próprio funcionamento do Estado

97
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza: tributação das pessoas físicas.
In: DE SANTI, Eurico Marcos Diniz (Coord.). Curso de especialização em direito tributário: estudos
analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 462-463.
98
QUEIROZ, ibid, p. 463.
99
BARRETO, Paulo Ayres. Imposto sobre a renda – Pessoas jurídicas In: DE SANTI, Eurico Marcos Diniz
(Coord.). Curso de especialização em direito tributário: estudos analíticos em homenagem a Paulo de
Barros Carvalho, 1ª Ed., Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 779.
100
Imposto sobre a renda – pressupostos constitucionais apud CARRAZZA, Roque Antônio. Imposto sobre a
renda (perfil constitucional e temas específicos). 3ª Ed. São Paulo : Malheiros, 2009, p. 131.
101
Periodicidade do Imposto de Renda In: Revista de Direito Tributário n.º 63, p.22.
39

Brasileiro. Somente em casos excepcionais (v.g., um tipo especial de atividade), em


que as entradas e saídas aptas a aferir a existência de renda ocorrem em período
diverso, é que o sistema anual poderá ser afastado pela lei.102

Contudo, alguns doutrinadores entendem que os rendimentos podem ser


cobrados de maneira isolada, vez que, para eles, a Constituição não impõe um período anual.
Nessa esteira, Ricardo Mariz de Oliveira defende que cabe à lei ordinária estabelecer um
período de apuração do acréscimo patrimonial. Ele ressalta que “o imposto sobre a renda pode
incidir sobre qualquer acréscimo patrimonial obtido em cada período de tempo previsto em
lei”. 103
De igual modo, Vittorio Cassone afirma que “a Constituição não veda que a lei
estabeleça prazo inferior a um ano, como, aliás, já ocorreu em passado recente (fatos
geradores semestrais)”.104
Alcides Jorge Costa aduz que o conceito de renda não vincula um período de
tempo específico para determinar o acréscimo patrimonial, sendo este critério dispensável
caso a lei instituidora do tributo não a exija. 105
Marcelo Guerra Martins também entende que não há um período definido na
Constituição nem no CTN para o aferimento do acréscimo patrimonial. No entendimento
deste jurista, existem três modos temporais – a saber, o modo estático, o dinâmico e o
complexo - onde o legislador estaria livre para adotar qualquer um deles.106
Por fim, encerrando a celeuma da periodicidade, Zuudi Sakakihara explica que
nem a Constituição Federal, tampouco o Código Tributário Nacional definem um intervalo
mínimo para a análise da variação patrimonial. Por isso, caberia ao legislador ordinário
estipular a periodicidade do imposto de renda.107 O citado doutrinador vai além, e adota o que
ele chama de conceito dinâmico de variação patrimonial. Logo, para ele, cada renda, mesmo
aquelas obtida de maneira isolada, pode ser considerada como riqueza nova que se agrega ao
patrimônio. Portanto, o legislador tem a liberdade para definir como fato gerador do imposto
cada ingresso ao patrimônio, não necessitando considerar estes ingressos num determinado
período de tempo.108

102
CARRAZZA, id., 2009, p. 132.
103
OLIVEIRA ibid., p. 778.
104
CASSONE, Vittorio. Direito Tributário. 12ª Ed. São Paulo : Atlas, 2000, p. 236.
105
COSTA, Alcides Jorge. Imposto sobre a Renda: A aquisição de disponibilidade jurídica ou econômica como
seu fator gerador. Limite de sua incidência. In: LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de renda e
de disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo: Dialética, 1998, p. 78.
106
MARTINS, id., 2012.
107
SAKAKIHARA id., 2001, p. 152-153.
108
SAKAKIHARA, loc. cit..
40

2.5.1 Os modos temporais

Pelo exposto até agora pôde-se observar que, para a análise do acréscimo
patrimonial havido, há a necessidade de considerar algum período. Nesta esteira, alguns
juristas entendem existir três possibilidades ou modos.
Primeiramente, Marcelo Guerra Martins explica que o “modo estático” está
voltado a um período fechado, de uma realidade estática. Neste sistema, pode o legislador
determinar que a variação patrimonial seja apurada somente após o término do período-base,
geralmente definido entre 1º de janeiro e 31 de dezembro. O aumento patrimonial seria
demonstrado pelo saldo patrimonial positivo ao final do período estipulado. É estático, porque
não se consideraria o fluxo de renda durante todo o interregno.109 Misabel Derzi explica o
modo estático da seguinte forma:
O sentido estático da renda, que somente se encontra encerrado em um período de
tempo, é um artifício ou uma ficção legislativa, que tem como objetivo realizar a
justiça retrospectiva ou tradicional, aquela que olha os ganhos e despesas passados e
presentes, sem divisar o futuro.110

Em segundo lugar, tem-se o “modo dinâmico”. Nele, cada renda é considerada


de maneira isolada, ou seja, qualquer riqueza nova agregada ao patrimônio é considerada
como renda obtida. Por isso, o legislador não está obrigado a considerar estes acréscimos
dentro de um lapso temporal, tampouco necessitaria considerar a situação patrimonial
resultante.111 Fortalecendo esta explicação, Marcelo Guerra Martins afirma que a lei ordinária
está livre para estipular que cada incremento patrimonial seja tributado de forma autônoma.
Ao tributar desta forma, estar-se-ia considerando a variação patrimonial de modo dinâmico e
individualizado, sem considerar eventuais majorações ou perdas. Exemplo deste sistema é a
incidência do imposto de renda nos ganhos em aplicações financeiras em geral. O modo
dinâmico analisaria a realidade presente e imediata do contribuinte.112
De igual entendimento, Misabel Derzi argumenta que, ao considerar o ingresso
de renda de forma dinâmica, está se analisando a continuidade das atividades econômicas do
contribuinte. Isto faz com que se possa aferir a real capacidade econômica da pessoa, evitando

109
MARTINS id., 2005.
110
DERZI, Misabel. Justiça prospectiva no imposto sobre a renda: em homenagem a Souto Maior Borges In:
ROCHA, Eduardo Morais da. A Análise do Aspecto Temporal do Imposto de Renda das Pessoas Físicas e
Jurídicas à Luz das Limitações Constitucionais do Poder de Tributar. Revista Eletrônica da Seção Judiciária
do Distrito Federal, Brasília, Nº. 15, ano II, p. 2, set. 2010. Disponível em:
<http://www.jfdf.jus.br/revista_eletronica_justica/setembro10/artigo_Eduardo1.html>. Acesso em: 02 de abr.
2012.
111
SAKAKIHARA, ibid., p. 153.
112
MARTINS loc. cit.
41

que a periodização da renda possa gerar efeitos futuros injustos e confiscatórios ao sujeito
passivo da relação jurídico-tributária. 113
Concluindo a explicação dos modos, há o chamado “modo complexo”. Neste
sistema, Marcelo Guerra Martins explica que é facultado que os aumentos patrimoniais já
computados sejam tributados de imediato, e, quando findado o período-base, haja um acerto
de contas. Este acerto ocorre quando da entrega da declaração, no exercício posterior. Neste
caso os gastos com despesas médicas e outros facultados por lei são considerados para fins de
abatimento da base de cálculo. Tal modo normalmente é utilizado naqueles rendimentos que
são tributados durante o ano-base, como o salário. Este modo é chamado de complexo por ser
uma fusão dos dois modos anteriores.114
De todo o exposto neste capítulo, é possível concluir que o imposto de renda é
um tributo complexo, que apresenta importante função fiscal e extrafiscal em nosso país. Com
efeito, o próprio conceito de renda não é unânime entre os estudiosos. Porém, em que pese
existam diversas teorias acerca do seu conceito, pensa-se que a Teoria Constitucional é a mais
consistente. Isto porque a Constituição é a norma suprema do nosso ordenamento jurídico;
além de trazer a regra-matriz do imposto de renda expressa em seu bojo. Logo, seguindo uma
interpretação sistemática do ordenamento jurídico, com a Constituição como balizadora,
pode-se dizer que o conceito se encontra na Constituição Federal.
Importante destacar, por oportuno, que renda e rendimento não podem ser
confundidos. Neste sentido, tem-se que os rendimentos são as remunerações, isoladamente
consideradas, advindas das mais diversas fontes pagadoras, como o salário ou os rendimentos
da poupança. Ao passo que a renda, em linhas gerais, é o acréscimo patrimonial efetivo - isto
é, a soma de todos os rendimentos percebidos - que é incorporado ao patrimônio, após as
deduções dos gastos para a sua manutenção e obtenção.
Outra constatação relevante está no fato de que a questão temporal também
deve ser levada em consideração ao aferir a renda do indivíduo. Existem doutrinadores que
entendem que pode ser considerado como renda qualquer acréscimo patrimonial que ingresse
ao patrimônio do contribuinte. No entanto, pela análise realizada, observa-se que, novamente
se utilizando de uma análise sistemática do sistema jurídico-tributário, a Constituição Federal

113
DERZI, Misabel. Las rentas de capital em las relaciones internacionales. In: ROCHA, Eduardo Morais da. A
Análise do Aspecto Temporal do Imposto de Renda das Pessoas Físicas e Jurídicas à Luz das Limitações
Constitucionais do Poder de Tributar. Revista Eletrônica da Seção Judiciária do Distrito Federal, Brasília,
Nº. 15, ano II, p. 3, set. 2010. Disponível em:
<http://www.jfdf.jus.br/revista_eletronica_justica/setembro10/artigo_Eduardo1.html>. Acesso em: 10 de
março de 2012.
114
MARTINS, id., 2002.
42

também estabelece, mesmo que implicitamente, uma periodicidade anual para aferir o efetivo
acréscimo patrimonial.
Também ficou latente a importância da Constituição Federal no ordenamento
jurídico brasileiro, bem como na influência dela no entendimento das regras de incidência do
imposto de renda. Todavia, a Constituição Federal vai além. Neste sentido, o legislador
constituinte definiu diversos princípios tributários, no intuito de barrar a discricionariedade e
abusos do Estado na hora de criar, alterar, fiscalizar e recolher os tributos. Especificamente
em relação ao imposto de renda, a Constituição Federal estipula como princípios
informadores os princípios da capacidade contributiva, generalidade, progressividade,
universalidade. Além deles, os tributos devem observar o princípio da vedação aos efeitos de
confisco. Portanto, frente à importância do tema, estes princípios serão abordados em detalhes
no próximo capítulo deste estudo.
43

3 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS ORIENTADORES DO


IMPOSTO DE RENDA

No capítulo anterior foi realizado um amplo apanhado acerca do instituto do


imposto de renda, passando a conhecer, em detalhes, as suas regras de incidência. De maneira
sintética, viu-se que tanto o legislador - ao criar um determinado imposto – quanto o Fisco -
ao fiscalizar e cobrar este tributo - deverão observar certos princípios informadores do
imposto de renda, que são preceituados pela própria Constituição Federal. Assim, tem-se que
os princípios constitucionais tributários agem como um verdadeiro mecanismo de defesa do
contribuinte frente aos abusos do Fisco.
Noutras palavras, com os princípios constitucionais tributários, pode-se dizer
que o legislador constituinte originário criou mecanismos limitadores do poder de tributar do
Estado. Nisto, tem-se que, por ser fortemente principiológica, a Constituição Federal de 1988
traz em seu bojo uma ampla gama de princípios, dentre eles, os princípios tributários.
No entanto, este capítulo e seus respectivos subitens, não pretende estudar
todos os princípios constitucionais tributários. Buscar-se-á abordar apenas os princípios
diretamente vinculados ao imposto de renda, que são: o princípio da capacidade contributiva,
o princípio da universalidade, o princípio da progressividade, princípio da generalidade e o
princípio da vedação ao confisco. Além dos princípios acima citados, abordar-se-á, ainda, o
princípio da segurança jurídica, informador de todos os demais princípios.

3.1 A Importância dos Princípios no Ordenamento Jurídico Brasileiro

Antes de adentrar nos princípios constitucionais tributários específicos do


imposto de renda, é necessário que se faça uma breve explicação acerca da importância dos
princípios e qual a sua função dentro do ordenamento jurídico. É importante salientar, ainda,
que o presente subitem não visa realizar uma análise exaustiva acerca da teoria dos princípios,
mas, sim, apresentar uma noção geral de princípios.
Trazendo diferentes significados de acordo com o contexto, o termo
“princípio” não tem uma única definição. É de se destacar que cada ramo da Ciência utiliza a
palavra “princípio” de acordo com a sua ótica.115 Na filosofia, por exemplo, o termo é

115
FAZOLI, Carlos Eduardo de Freitas. Princípios Jurídicos. Revista Uniara. p. 15, 2007. Disponível em:
<http://www.uniara.com.br/revistauniara/pdf/20/RevUniara20_03.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2012.
44

utilizado para definir a “proposição filosófica que serve de fundamento a uma dedução”; na
Física é empregada como sendo a “lei de caráter geral com papel fundamental no
desenvolvimento de uma teoria e da qual outras leis podem ser derivadas”.116 Em seu sentido
etimológico, porém, a palavra “princípio” remete à ideia de origem ou base. 117
Na ciência do Direito, Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que os
princípios são o mandamento nuclear de um sistema jurídico, pois são eles que compõem o
“espírito” das normas. Assim, é por meio dos princípios que se torna possível a compreensão
do sistema jurídico como um todo. Ainda, por conferir harmonia ao sistema normativo, os
princípios também servem de critério para a compreensão e inteligência das diferentes normas
existentes no ordenamento.118
Ou seja, os princípios são diretrizes fundamentais do sistema jurídico. Também
é possível afirmar que os princípios acabam por fixar e direcionar o sentido da ordem jurídica
vigente, ao juridicizar os valores ético-morais exprimidos pela sociedade. 119
Concepção semelhante apresenta o jurista Ivo Dantas, citado por Carlos
Eduardo de Freitas Fazoli, ao discorrer que os princípios, quando incorporados a um sistema
jurídico-constitucional-positivo, refletem a estrutura ideológica adotada pelo Estado,
representando os valores consagrados por uma determinada sociedade.120
Nessa esteira, Walter Claudius Rothenburg explica que os princípios podem
servir como limites para regras ou um conteúdo para a norma. O citado jurista continua sua
explanação falando que os princípios são uma expressão dos valores principais de uma
determinada concepção do Direito. No entanto, apesar do seu alto grau de abstração,
apresentam um significado passível de ser concretizado.121
Contudo, os princípios não poderiam existir de forma isolada. Eles devem
sempre apresentar-se relacionados com outras normas e princípios, pois são elas que lhes
darão equilíbrio e proporção.122
Pode-se notar que os princípios ocupam posição de destaque dentro de um
ordenamento jurídico. Afinal, são eles que formam os alicerces de todo o sistema jurídico-
constitucional, compondo a viga mestra deste mesmo sistema.123 Partindo para a Constituição
Federal, é de se destacar que a nossa Lei Maior é essencialmente principiológica, logo, a
116
HOUAISS, ibid..
117
SCHOUERI, ibid., p. 265.
118
MELLO ibid., p. 958-959.
119
QUEIROZ, ibid., p. 436-437.
120
FAZOLI, ibid., p. 16.
121
FAZOLI, loc. cit.
122
CARRAZZA, ibid., p. 47.
123
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 7.ed. São Paulo: Malheiros, 1998.
45

interpretação de qualquer norma, constitucional ou legal, deverá ser balizada pelos princípios.
Noutras palavras, são os princípios que traçarão os limites da atividade do intérprete.124
Sobre o assunto, expõe Luís Roberto Barroso, citado por Roque Antonio
Carrazza, que:
O ponto de partida do intérprete há que ser sempre os princípios constitucionais, que
são o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus postulados
básicos e seus fins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são a norma
eleita pelo constituinte como fundamentos ou qualificação essenciais da ordem
jurídica que institui.125

Então, vê-se que os princípios servem de limites à atividade de todos que


estiverem sob a tutela do ordenamento jurídico, vez que o princípio “exige que tanto a lei
como o ato administrativo lhe respeitem os limites e que, além do mais, tenham o seu
conteúdo, sigam a mesma direção, realizem o seu mesmo espírito”.126
A par disso, e sabendo que a Constituição é o topo da pirâmide hierárquica das
normas, pode-se afirmar que cabe aos princípios constitucionais dar coesão ao edifício
jurídico. Desta forma, nenhuma norma infraconstitucional poderá atritar com os princípios
postos pela Constituição Federal de 1988.127
Importante destacar, outrossim, que os princípios também apresentam uma
hierarquia entre si. Desta forma, há princípios que servem como base para outros princípios,
bem como princípios que decorrem logicamente de outros. Em decorrência disso, um
princípio-corolário não poderá ser interpretado de forma que confronte com o princípio do
qual ele deriva. 128
Havendo colisão entre princípios, um deles terá que ceder ao outro; entretanto,
aquele princípio que cedeu continuará a ser válido e integrado ao sistema jurídico. Ressalta-se
que esta colisão só é possível de ocorrer no caso concreto, vez que o peso atribuído a cada
princípio irá depender das situações particulares de cada caso, e diante do caso concreto um
dado princípio pode assumir valorações diferentes. Frisa-se, por oportuno, que o intérprete
deve evitar o total sacrifício de um princípio. 129
A hierarquia também definirá a abrangência destes princípios. Os princípios
jurídico-constitucionais, por exemplo, abrangem todo o sistema jurídico, orientando todas as

124
LACOMBE, Américo Masset. Princípios constitucionais tributários. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p.
15.
125
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. In: CARRAZZA, Roque Antônio.
Curso de direito constitucional tributário. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 53.
126
BONAVIDES, ibid., p. 259.
127
CARRAZZA, ibid., p. 55.
128
LACOMBE, ibid., p. 14.
129
FAZOLI, ibid.
46

outras normas; ao passo que um princípio do Direito Civil, por exemplo, terá a sua
abrangência muito mais restrita, particularizada.130 Neste sentido, temos os ensinamentos de
Luís Roberto Barroso, que diz:
A atividade de interpretação da Constituição deve começar pela identificação do
princípio maior que rege o tema a ser apreciado, descendo do mais genérico ao mais
específico, até chegar à formulação da regra concreta que vai reger a espécie. 131

Embora possa haver conflitos entre princípios, é de suma importância que eles
sejam preservados, ainda que, para isso, seja necessário a renúncia de alguns benefícios ou
vantagens. Nas palavras de Konrad Hesse:
Quem se mostra disposto a sacrificar um interesse em favor da preservação de um
princípio constitucional fortalece o respeito à Constituição e garante um bem da vida
indispensável à essência do Estado democrático. Aquele que, ao contrário, não se
dispõe a esse sacrifício, malbarata, pouco a pouco, um capital que significa muito
mais do que todas as vantagens angariadas, e que, desperdiçado, não mais será
recuperado.132

Destarte, feita esta breve análise acerca da função dos princípios no


ordenamento jurídico, foi possível notar o grande papel que eles exercem no sistema jurídico.
Afinal, ao expressar os valores ético-morais consagrados por uma dada sociedade, traçando o
“espírito” da Constituição, os princípios são a linha-mestre de todo o ordenamento jurídico,
servindo como seu verdadeiro alicerce. Por fim, salienta-se que ao respeitar os princípios, se
fortalece a Constituição e o Estado democrático. Ao passo que o desrespeito a eles ataca
justamente os valores maiores definidos pela própria sociedade, o que levaria, aos poucos, na
supressão da força normativa da Constituição.

3.1.1 Diferenças entre princípios e regras

Feitas as considerações acerca dos princípios, é necessário tecer, brevemente,


as diferenças entre princípios e regras.
Inicialmente, é importante esclarecer que tanto princípios quanto regras são
espécies das quais as normas são gênero. Assim, conforme aduzem Ronald Dworkin e Robert

130
CARRAZZA, ibid., p. 47.
131
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. In: CARRAZZA, Roque Antônio.
Curso de direito constitucional tributário. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 53.
132
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução: Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 1991, p. 22.
47

Alexy, citados por Ruy Samuel Espíndola, ambos são normas jurídicas, carregando consigo
todas as possíveis consequências que isso possa resultar.133
Posto isso, por terem maior grau de abstração, os princípios são estruturas
abertas, incidindo sobre uma pluralidade de situações. As regras, a seu turno, apresentam uma
estrutura fechada, por isso, apresentam maior objetividade, incidindo unicamente às situações
as quais se dirige.134
Para Humberto Ávila, a distinção entre princípios e regras não é meramente
doutrinária. O citado jurista elenca dois motivos pelos quais a classificação se justifica, a
saber:
1) [...] antecipar características das espécies normativas de modo que o intérprete ou
o aplicador, encontrando-as, possa ter facilitado seu processo de interpretação e
aplicação do Direito. 2) [...] aliviar, na medida em que a uma qualificação das
espécies normativas permite minorar – eliminar jamais – a necessidade de
fundamentação, pelo menos indicando o que deve ser justificado.135

Continuando sua explicação, Humberto Ávila ensina que:


As regras são normas imediatamente descritivas, primariamente retrospectivas e
com pretensão de decidibilidade e abrangência, para cuja aplicação se exige a
avaliação da correspondência, sempre centrada na finalidade que lhes dá suporte ou
nos princípios que lhes são axiologicamente sobrejacentes, entre a construção
conceitual da descrição normativa e a construção conceitual dos fatos. 136

E conclui, afirmando que:


Os princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas e
com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para cuja aplicação se
demanda uma avaliação da correlação entre o estado de coisas a ser promovido e os
efeitos decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção. 137

Em linhas gerais, José Joaquim Gomes Canotilho diferencia princípios de


regras dizendo que os princípios seriam normas de um grau de abstração mais elevado,
enquanto regras têm a sua abstração restrita; os princípios apresentam-se vagos e
indeterminados, precisando de intervenções para a sua concretização, ao passo que as regras
podem ser aplicadas diretamente, ante a sua precisão. Por fim, o referido jurista afirma que os
princípios são normas jurídicas impositivas, podendo ser concretizados de várias formas,

133
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002, p. 66.
134
BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula. Começo da história: A nova interpretação
constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. In: FAZOLI, Carlos Eduardo de Freitas. Princípios
Jurídicos. Revista Uniara. Araraquara, São Paulo, Nº. 20, p. 19, 2007. Disponível em:
<http://www.uniara.com.br/revistauniara/pdf/20/RevUniara20_03.pdf>. Acesso em: 10 de mar. de 2012.
135
ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 2.ed. São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 57.
136
ÁVILA, ibid., p. 70.
137
ÁVILA, ibid., p. 70.
48

dependendo de fatores fáticos e jurídicos; já as regras são normas imperativas, isto é, as regras
impõem, permitem ou proíbem uma exigência, que é ou não cumprida. 138
A violação de um princípio também é muito mais gravosa do que a violação de
uma regra ou outra norma qualquer. Nesta esteira, Celso Antônio Bandeira de Mello afirma
que:
Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade
ou inconstitucionalidade, conforme o escalão de princípio atingido, porque
representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais, contumélia irreversível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua
estrutura mestra.139

Em suma, os princípios são os pilares do ordenamento jurídico, explicitando a


ideologia ético-moral de determinada sociedade e instituindo comportamentos que deverão
ser observados pelo intérprete e legislador; a seu turno, as regras serão os instrumentos
utilizados para atingir os fins delineados pelos princípios, pois são normas imperativas.

3.2 Os Princípios Aplicados ao Direito Tributário

Embora a explanação realizada no subitem anterior tenha sido sucinta, ela foi
suficiente para aferir a grande importância dos princípios dentro de um determinado
ordenamento jurídico. A seara tributária, assim como nas demais áreas do Direito, também
apresenta seus próprios princípios, que carregam consigo valores superiores a qualquer outra
norma reguladora da incidência, fiscalização e recolhimento dos tributos.140
Vale lembrar que o Sistema Tributário Brasileiro está posto na Constituição
Federal de 1988; logo, é nela que serão encontrados os fundamentos e as regras-matriz de
incidência tributária. É o texto instituidor da ordem jurídico-tributária brasileira. Neste
diapasão, é importante lembrar que a Constituição Federal de 1988 traz em seu bojo todos os
fundamentos do Direito Tributário. Estes fundamentos se projetam sobre as ordens jurídicas
parciais definidas pela União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios.141
Portanto, observa-se que no Direito Tributário os princípios têm ainda mais
força, vez que eles advêm da Constituição Federal e não são mais apenas frutos da pesquisa

138
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4.ed. Coimbra :
Almedina, 2000, p. 1124.
139
MELLO. ibid., p. 959.
140
QUEIROZ, id., 2005, p. 437.
141
COÊLHO, ibid., p. 43-44.
49

do cientista do Direito, mas, sim, objeto da atividade do legislador, inclusive, do próprio


legislador constituinte.142
Ao tratar a matéria tributária, a Constituição Federal foi detalhista, além de dar
um caráter rígido à matéria, a fim de impor limites ao Estado. Devido aos detalhes e à
extensão, grande parte da doutrina divide o Sistema Tributário em outros subsistemas. Sacha
Calmon Navarro Coêlho divide o Sistema Constitucional Tributário em três subsistemas, a
saber: i) da repartição das competências tributárias entre os entes federativos; ii) das
limitações ao poder de tributar, onde encontram-se os princípios e as imunidades; iii) e o da
partilha dos produtos da arrecadação dos impostos entre as pessoas políticas da Federação.143
No presente capítulo, de modo a contribuir com a pesquisa que motiva este
trabalho, será abordado o subsistema denominado como “limitações ao poder de tributar”.
Nele encontram-se os princípios constitucionais tributários que visam limitar o Estado no
exercício de sua competência e de sua capacidade tributária144, especialmente no que tange à
criação, fiscalização e cobrança dos tributos.
Conforme referido, os princípios constitucionais tributários são verdadeiros
instrumentos de defesa do contribuinte frente aos possíveis abusos do Estado, seja na
instituição, na fiscalização ou na cobrança do tributo. Destarte, os princípios tributários

142
SCHOUERI, ibid., p. 265.
143
COÊLHO ibid., p. 44.
144
A competência tributária pode ser entendida como quem tem o poder de tributar. Quem atribui essa
competência é a Constituição Federal, assim, no Brasil, a competência tributária é dividida entre União,
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios. Isto é, cada ente estatal tem sua própria esfera de atuação.
Neste sentido, ensina Luís Eduardo Schoueri que haverá matérias "que estarão dentro do campo de
competência de um ente tributante e outras que estarão fora". Pode-se citar, a título de exemplo, que aos
Estados-membros é assegurada a competência para a tributação da propriedade de veículos automotores, mas
os Estados-membros não têm competência para tributar a propriedade de imóveis urbanos, pois tal tributo é de
competência dos Municípios. (SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 1ª Ed. São Paulo : Saraiva,
2011, pp. 219-220)
Ainda sobre a competência tributária, Hugo de Brito Machado explica que "só às pessoas jurídicas de direito
público, dotadas de poder legislativo, pode ser atribuída competência tributária, posto que tal competência
somente pode ser exercida através de lei". O citado jurista explica, ainda, que a competência tributária é
indelegável, ou seja, a pessoa jurídica à qual a Constituição Federal de 1988 tenha atribuído competência pra
instituir o tributo não poderá transferir essa competência. Em resumo, a competência tributária refere-se à
possibilidade de instituir o tributo e definir os seus elementos essenciais, como o fato gerador, alíquotas e base
de cálculo. (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 32ª Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo :
Malheiros, 2011, pp. 28 e 275).
Decorrência da competência tributária, a capacidade tributária deve ser compreendida como a capacidade para
figurar no polo ativo da relação jurídico-tributária, Essa capacidade é atribuída por lei. Neste sentido, aduz
Hugo de Brito Machado que a capacidade tributária "é atribuída pela Constituição, ou por uma lei, ao ente
estatal não necessariamente dotado de poder legislativo. É exercida mediante atos administrativos". Como
exemplo de capacidade tributária pode-se citar a Receita Federal do Brasil. (MACHADO, Hugo de Brito.
Curso de direito tributário. 32ª Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo : Malheiros, 2011, pp. 29)
Nesta esteira, a capacidade tributária refere-se às funções de recolher e fiscalizar os tributos, bem como executar
leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária. (ALEXANDRE, Ricardo. Direito
Tributário Esquematizado. 4ª Ed. São Paulo : Editora Método, 2010, p. 205)
50

traçam diretrizes que o legislador infraconstitucional e o Fisco devem observar, sob pena de
violar os direitos do contribuinte.145
Os princípios gerais do Direito Tributário são apresentados a partir do art. 145
da Constituição Federal. Entretanto, frise-se, este trabalho não irá abordar todos os princípios
constitucionais tributários, pois estes são muitos, e a investigação de todos fugiria do escopo
da pesquisa. Desta forma, serão analisados a seguir os princípios constitucionais tributários
específicos do imposto de renda, quais sejam, o princípio da capacidade contributiva, o
princípio da universalidade, generalidade e progressividade e o princípio do não-confisco, não
sem antes estudar um princípio que, apesar de não-escrito de forma expressa na Constituição
Federal, é informador de todos os demais: o princípio da segurança jurídica.

3.3 O Princípio da Segurança Jurídica

Não seria possível avançar para a análise dos princípios constitucionais


próprios do imposto de renda sem realizar, como introdução, uma breve análise do princípio
da segurança jurídica e sua importância para a validade não só do sistema tributário, mas para
todo o Estado Democrático de Direito.
De início, é importante que se diga que o princípio da segurança jurídica não
consta expresso em nenhum texto. Ele está implícito no ordenamento jurídico pátrio. Porém,
isto não diminui sua relevância. Ao contrário, aumenta, pois, de acordo com a doutrina, a
segurança jurídica é considerada um sobreprincípio, ou seja, algo que idealmente deve nortear
qualquer outra norma jurídica. Em outras palavras, o princípio da segurança jurídica apresenta
um valor que transcende o próprio ordenamento jurídico.146
Nessa esteira, conforme referido anteriormente, as normas jurídicas devem ser
consideradas levando em conta todo o ordenamento jurídico, e não de maneira isolada. Então,
para Elidie Palma Bifano, compete ao princípio da segurança jurídica garantir a certeza da
aplicação e continuidade do sistema jurídico. Além disso, a segurança jurídica é fundamento
de todo o Estado de Direito, sendo um sobreprincípio deste, e, por isso, não há necessidade de
menção expressa no ordenamento.147
Seguindo entendimento semelhante, Américo Masset Lacombe ensina que,
embora o estudado princípio não esteja expresso, ele é resultado lógico da isonomia em

145
QUEIROZ, ibid., p. 438.
146
CAIS, Cleide Previtalli. O processo tributário. 7.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 44.
147
BIFANO, ibid., p. 143.
51

sentido amplo, e pode ser visto por meio do princípio da legalidade, da garantia aos efeitos da
coisa julgada, ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito. O referido jurista cita, ainda, que
a segurança jurídica também é implementado pelo princípio da separação dos Poderes e pelo
princípio do duplo grau de jurisdição.148
Cleide Previtalli Cais afirma que os direitos e garantias fundamentais,
expressos no art. 5º, da Constituição Federal de 1988, são exemplos do princípio da segurança
jurídica.149
A seu turno, Humberto Ávila entende que o fundamento para o princípio da
segurança jurídica é construído primeiramente pela interpretação dedutiva do art. 1º da
Constituição Federal; e, posteriormente, pela intepretação indutivas de regras constitucionais
como a proteção ao direito adquirido e as regras da legalidade, irretroatividade e
anterioridade.150
Logo, a função precípua do princípio da segurança jurídica é garantir aos
cidadãos que todos conheçam previamente quais normas devem ser observadas, evitando
surpresas nas relações jurídicas. Noutros dizeres, é indispensável para a manutenção do
Estado Democrático de Direito a existência de um nível razoável de previsibilidade das ações
estatais.151
Ao explicar o conteúdo deste princípio, Humberto Ávila o decompõe em duas
perspectivas: tratando do aspecto formal-temporal, entende-se que os cidadãos devem ter a
possibilidade de conhecer previamente quais são as normas vigentes. No entanto, isto só é
possível se estas normas estiverem em vigor em período anterior ao acontecimento dos fatos
por elas regulamentados (irretroatividade), e se as pessoas puderem conhecer com
antecedência o conteúdo destas normas (anterioridade). 152 No que tange ao aspecto material, o
citado autor refere que as normas jurídicas devem apresentar uma razoável
compreensibilidade, clareza, calculabilidade e controlabilidade conteudísticas para os seus
destinatários.153
Também nesse sentido é o entendimento de José Afonso da Silva que, citando
Jorge Reinaldo Vanossi, leciona que a segurança jurídica nada mais e do que o “conjunto de

148
LACOMBE, Américo Masset. Princípios constitucionais tributários. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p.
76.
149
CAIS, ibid., p. 45.
150
ÁVILA, ibid., p. 308.
151
ÁVILA, ibid., p. 310.
152
ÁVILA, loc. cit.
153
ÁVILA, loc. cit.
52

condições que tornam possível às pessoas o conhecimento antecipado e reflexivo das


consequências diretas de seus atos e de seus fatos à luz da liberdade reconhecida”.154
Destacando a grandeza do princípio da segurança jurídica, Geraldo Ataliba
conclui que:
O direito é por excelência, acima de tudo, instrumento e segurança. Ele é que
assegura a governantes e governados os recíprocos direitos e deveres, tornando
viável a vida social. Quanto mais segura uma sociedade, tanto mais civilizada.
Seguras estão as pessoas que têm certeza de que o direito é objetivamente um e que
os comportamentos do Estado e dos demais cidadão dele não discreparão.155

Assim, pode-se afirmar que o princípio da segurança jurídica visa cientificar as


pessoas das consequências resultantes das relações jurídicas a que deram causam.
Tem-se, portanto, que o princípio da segurança jurídica é corolário lógico do
Estado de Direito, permeando, assim, todos os ramos do Direito. Nessa realidade, por óbvio
que sua importância não seria menor no Direito Tributário. Em linhas gerais, a segurança
jurídica no Direito Tributário busca assegurar que o Estado (seja o Fisco ou o Legislador) aja
com lealdade com o contribuinte, e atue de modo a não surpreendê-lo.156
A implementação da segurança jurídica no Direito Tributário é perceptível, por
exemplo, quando a norma deixa de lado os critérios subjetivos para a incidência do tributo e
passa a descrever pormenorizadamente os critérios da hipótese de incidência (o fato em
abstrato) que, quando ocorrido no mundo dos fatos, faz incidir o tributo.157
Mas, obviamente, a segurança jurídica no Direito Tributário não se limita tão-
somente à tipicidade da norma. A segurança jurídica pode ser percebida nos mais variados
princípios tributários, como o princípio da igualdade tributária, o princípio da anterioridade
tributária, da legalidade tributária, da vedação ao confisco, da capacidade contributiva, entre
outros.158
Demonstrando a importância do princípio da segurança jurídica na esfera
tributária, Marilene Talarico Martins Rodrigues assevera que:
O princípio da segurança jurídica em matéria tributária assegura a tranquilidade
constitucional que o Estado de Direito procura garantir com a positivação do
sistema. É assim traduzido pela certeza das obrigações tributárias com que terá que
arcar como membro da sociedade; o contribuinte tem o direito assegurado de que
não será surpreendido pela atuação dos poderes públicos além das competências e
segundo as normas constitucionais definidas. A transgressão dos limites

154
ÁVILA, ibid., p. 433.
155
ATALIBA, Geraldo. República e constituição. In: CAIS, Cleide Previtalli. O processo tributário. 7. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011,p. 51-52..
156
CARRAZZA, ibid., p. 455.
157
CARRAZZA, ibid., p. 457.
158
CAIS, ibid., p. 47-50.
53

constitucionais dos poderes públicos determinaria a quebra de confiança no direito e


no que o sistema posto estatui.159

Portanto, em matéria tributária, o princípio da segurança jurídica garante ao


contribuinte o conhecimento antecipado das obrigações tributárias, ficando, desta forma,
protegido de modificações arbitrárias realizadas pelo Fisco e pelo Legislativo.160
Outra decorrência do princípio da segurança jurídica que merece destaque
reside no fato de ele exigir que a lei tributária seja interpretada restritivamente. Logo, no
âmbito do Direito Tributário, é vedada a analogia ou a interpretação extensiva 161. Isto é, em
respeito à segurança jurídica, o aplicador e o intérprete da lei tributária não poderão ir além
daquilo que a norma preceitua.
Em um breve resumo, pode-se dizer que a segurança jurídica garante que os
contribuintes possam conhecer de antemão seus direitos e deveres tributários; que as
obrigações tributárias a eles impostas somente surjam por lei; que essas obrigações sejam
iguais para todos os contribuintes que estejam na mesma situação jurídica; que não retroajam,
exceto nas hipóteses do art. 106 do CTN, e que sejam criadas pela pessoa competente.
Entretanto, há, ainda, aqueles que defendem ser a segurança jurídica a própria
razão de existência do Direito Tributário. Defendendo esta posição, Hector Villegas, explica
que a moderna doutrina, principalmente a alemã, tem defendido que a finalidade do direito
tributário é a segurança jurídica dos contribuintes. 162
Leandro Paulsen rebate esta visão, argumentando que:
Esta colocação quanto a ser a segurança a própria finalidade do Direito Tributário
merece críticas, atualmente, na medida em que o Estado é instituído pela sociedade
para desempenhar funções do interesse desta mesma sociedade, sendo a tributação o
modo de viabilizar o custeio das atividades necessárias e desejadas. Não se trata,
pois, de um mal necessário que deva ser restringido, mas de um instrumento para a
própria preservação da liberdade e da propriedade, para a promoção de valores
importantes para a sociedade e para a efetivação dos direitos sociais. A visão
simplista de um Direito Tributário sob a perspectiva meramente protetiva não se
coaduna com o papel que assume num Estado de Direito Democrático. 163

E é justamente pelo fato de o Direito Tributário situar-se nesta dicotomia entre


necessidade de arrecadação/imposição de limites à atividade arrecadatória, que há ainda mais

159
RODRIGUES, Marilene Talarico Martins. Limitações ao poder impositivo e segurança jurídica. In:
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Limitações ao poder impositivo e segurança jurídica. Pesquisas
Tributárias. São Paulo, SP, Nova série, v. 11, RT, 2005, 211-265.
160
ÁVILA, Humberto. Sistema constitucional tributário. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 310.
161
. ÁVILA, ibid., p.
162
PAULSEN, Leandro. Segurança Jurídica, Certeza do Direito e Tributação: A concretização da certeza
quanto à instituição de tributos através das garantias da legalidade, da irretroatividade e da anterioridade. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 64.
163
PAULSEN, p. 65.
54

necessidade da observância do princípio da segurança jurídica, para a tranquilidade dos


cidadãos.
Importante frisar que muitas das garantias conferidas ao cidadão, como a
legalidade, a irretroatividade, a anterioridade tributária,164 a obrigatória observância dos
efeitos do ato jurídico perfeito, da coisa julgada e do direito adquirido são manifestações
decorrentes da própria efetivação do princípio da segurança jurídica.
Destarte, vale ressaltar, novamente, que a segurança jurídica, no Estado de
Direito, visa garantir a estabilidade do bem, a duração das normas e a irrevogabilidade das
decisões do Poder que importem justos interesses a respeitar.165 Além disso, conforme os
ensinamentos de Cleide Previtalli Cais, “o princípio constitucional da certeza do direito ou da
segurança jurídica permite aos cidadãos o controle da discricionariedade do legislador,
vinculado em sua tarefa aos valores máximos para o Estado de Direito”.166
Por derradeiro, a segurança jurídica vem a ser a confiança que o Direito deve
passar a seus jurisdicionados, dando a estes a tranquilidade necessária para planejar o futuro,

164
Pelo princípio da anterioridade, deve existir um prazo entre a lei instituidora ou majoradora do tributo e o
início de sua vigência. Neste sentido, há a anterioridade anual e a anterioridade nonagesimal. Pela
anterioridade anual, tem-se que, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios não poderão cobrar os tributos
no mesmo exercício financeiro (compreendido do dia 1º de janeiro a 31 de dezembro) em que tenha sido
publicada a lei que os criou ou aumentou. Assim, se um tributo fosse criado em maio, por exemplo, ele só
poderá se exigido a partir do próximo 1º de janeiro, bem como se um tributo for criado ou majorado em 1º de
janeiro, terá que esperar até o próximo exercício financeiro para a sua vigência.
Oportuno destacar que existem exceções ao princípio da anterioridade anual. Assim, podem ser cobrados no
mesmo exercício financeiro imposto sobre: i) importação de produtos estrangeiros; ii) exportação de produtos
nacionais ou nacionalizados; iii) operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos e valores
mobiliários; iv) produtos industrializados; v) imposto de guerra; vi) empréstimo compulsório destinado a
atender despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública, de guerra ou sua iminência.
A anterioridade nonagesimal, por sua vez, veda a cobrança de tributos antes de decorridos 90 dias da data em
que a lei que os instituiu ou majorou tenha sido publicada. Desta forma, se um tributo foi instituído ou
majorado após o dia 3 de outubro (quando faltam 90 dias para o término do exercício financeiro), a cobrança
não pode mais ser feita a partir do 1º de janeiro próximo, pois estaria infringindo a anterioridade nonagesimal.
Destaca-se que a anterioridade anual e nonagesimal não se opõem; ao contrário, andam juntas.
(ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 4ª Ed. São Paulo : Editora Método, 2010, pp.
139-144; MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 32ª Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo :
Malheiros, 2011, p. 283.)
O princípio da anterioridade está previsto no Art. 150, III, ‘b’ e ‘c’, da Constituição Federal de 1988: “Art. 150.
Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) III - cobrar tributos: (...) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (...)”
Já as exceções são listadas no Art. 150, § 1º: “A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos
arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos
arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155,
III, e 156”.
165
CAETANO, Marcelo. Direito constitucional, v. I. In: LACOMBE, Américo Masset. Princípios
constitucionais tributários. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 78.
166
CAIS, Cleide Previtalli. O processo tributário. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 45.
55

ao saber como as regras serão aplicadas.167 Ou seja, é a previsibilidade, a estabilidade das


condutas tomadas pelo Estado, a fim de evitar surpresas nas relações jurídicas.
Mais do que evidente, portanto, a influência do princípio da segurança jurídica
sobre os princípios tributários especificamente relacionados com o imposto sobre a renda,
adiante analisados de forma pormenorizada. Porém, antes de adentrar na análise dos
princípios específicos do imposto de renda, é importante que se faça uma rápida abordagem
acerca de um princípio que todos os tributos devem observar: o princípio da vedação aos
efeitos de confisco.

3.4 O Princípio do Não-Confisco

Ao analisar a incidência do imposto de renda e os critérios constitucionais que


o norteiam, outro princípio que se apresenta relevante é o da vedação aos efeitos de confisco,
também chamado de princípio do não-confisco. Constando expressamente no texto
constitucional, no art. 150, IV, da Constituição Federal de 1988, o aludido princípio busca
limitar o poder arrecadatório do Estado, vedando-o em utilizar os tributos com efeitos de
confisco. Porém, o princípio em comento guarda uma série de nuances.
Inicialmente, é importante fazer uma análise terminológica acerca do princípio
do não-confisco. Embora as expressões “vedação ao confisco” e “vedação ao efeito de
confisco” sejam utilizadas como sinônimos por parte da doutrina, o dispositivo constitucional
atinente ao princípio do não-confisco refere-se à vedação da utilização de tributos com efeito
de confisco; não que o tributo configure confisco propriamente dito. Isto se deve ao fato de,
em nosso país, o confisco ser uma punição, e o tributo não pode ser sanção por ato ilícito.168
Paulo Ayres Barreto mostra igual entendimento acerca do assunto. Para ele,
confisco é medida sancionatória. Logo, o que princípio visa é proibir que, por meio de um
tributo, “se obtenha um resultado cujo efeito seja equivalente ao do confisco”.169
A par das diferenças terminológicas, adentra-se ao mérito do princípio. Como
os demais princípios aqui abordados, o princípio da vedação ao confisco e a capacidade
contributiva guardam estreita relação entre si. Em linhas gerais, a vedação à tributação com

167
CARRAZZA, p. 456.
168
ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 4.ed. São Paulo: Método, 2010, p. 48
169
HORVATH, Estevão. O princípio do não-confisco no direito tributário. São Paulo: Dialética, 2002, p. 49.
56

efeitos de confisco busca garantir um sistema tributário justo, ao impedir a tributação sobre
aquele que não demonstrou capacidade contributiva.170
A doutrina entende que o princípio do não-confisco apresenta um conceito
aberto, indeterminado. Neste sentido, aduz Eros Grau que não existe conceito indeterminado
no Direito; o que existe são conceitos com termos jurídicos indeterminados. Já Karl Engisch,
citado por Estevão Horvath, afirma que conceito indeterminado é aquele cujo âmbito e
conteúdo são incertos.171
Apesar de o princípio da vedação ao confisco ter um conceito indeterminado,
entende-se que o efeito confiscatório ocorre quando a tributação apresentar um caráter
insuportável ao contribuinte. Isto é, por causa da tributação excessiva, a pessoa desestimula-se
a continuar sua atividade produtiva ou, até mesmo, verá sua vida pessoal ser atingida. 172
No que tange ao imposto de renda, pode-se dizer que o princípio da vedação ao
confisco – além do vínculo com a capacidade contributiva - também está fortemente ligado ao
princípio da progressividade. Isto porque a progressividade das alíquotas encontrará o seu
limite no momento em que o patrimônio do contribuinte for atingido. A partir deste momento,
o IR passa a ser confiscatório. E pelo princípio do não-confisco, tal situação é vedada. 173
Porém, definir quando um tributo passa a ter efeitos confiscatórios é tarefa
árdua. A doutrina ainda debate acerca do que pode ser considerado como sendo confiscatório.
Em breves linhas, Estevão Horvath explica que o confisco ocorre quando se supõe existente
uma riqueza que, de fato, inexiste.174
Roque Antonio Carrazza entende que um tributo passa a ter efeito confiscatório
quando este apresentar um potencial de esgotar a riqueza tributável do contribuinte, isto é,
quando não for considerada a capacidade contributiva da pessoa. Nas palavras do citado
professor: “quando ignora a aptidão de uma pessoa, física ou jurídica, de entregar parte da
riqueza que possui, sem comprometer sua subsistência”. 175
Entretanto, a dúvida na doutrina ainda persiste. Quando, ou a partir de qual
alíquota, o imposto sobre a renda passa a ser confiscatório? Para tal, é necessário seja feita a
análise da capacidade contributiva da pessoa em questão, que varia conforme o caso concreto.
Daí a necessidade de conjugar os princípios da vedação ao confisco e o princípio da

170
HORVATH, ibid., p. 67.
171
HORVATH, ibid., p. 34 - 49.
172
SCHOUERI, ibid., p. 324.
173
CARRAZZA, Roque Antônio. Imposto sobre a renda (perfil constitucional e temas específicos). 3ª Ed.
rev., ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009, nota 104, p. 72.
174
HORVATH, ibid., p. 67.
175
CARRAZZA, ibid., p. 118.
57

capacidade contributiva nas análises de possíveis efeitos confiscatórios do imposto de


renda.176
A fim de definir o que pode ser considerado tributação com efeitos
confiscatórios, José Eduardo Soares de Melo, citado por Ana Paula Schincariol Lui, aduz que:
[...] é difícil estipular o volume máximo da carga tributária, ou fixar um limite de
intromissão patrimonial, enfim, o montante que pode ser suportado pelo
contribuinte. O poder público há de se comportar pelo critério da razoabilidade, a
fim de possibilitar a subsistência das pessoas físicas [...]177

Para averiguar se um determinado tributo apresenta efeito confiscatório, o ideal


seria guiar-se pela razoabilidade.178 Para chegar-se à referida razoabilidade, é necessário
verificar a capacidade contributiva do contribuinte, isto é, os tributos não poderão afetar
sobremaneira o patrimônio da pessoa. Ainda referente à razoabilidade, é importante salientar
que se deve levar em conta a totalidade de tributos incidentes sobre uma determinada
manifestação de riqueza.179
Estevão Horvath adota o mesmo posicionamento. Para ele, não há outro modo
do aplicar o princípio da vedação ao confisco senão em se utilizando da razoabilidade. Posto
que cada intérprete do caso concreto dirá os seus limites de confiscatoriedade, cabendo ao
Judiciário fazê-lo sempre que for chamado a examinar o caso.180
Luís Eduardo Schoueri contrapõe-se à utilização do critério da razoabilidade
para verificar um possível efeito confiscatório do tributo. Para este autor, apesar de não tecer
maiores comentários a respeito de seu posicionamento, a razoabilidade não seria o melhor
critério a ser utilizado para a aplicação de conceitos indeterminados, como é o caso do
princípio da vedação ao confisco.181
Outra dúvida que paira sobre os doutrinadores reside na seguinte questão: o
tributo isoladamente considerado pode ser considerado como possuidor de efeitos
confiscatórios? Ou para a averiguação deste efeito confiscatório é necessário levar em
consideração todo o sistema tributário, isto é a totalidade da carga tributária incidente?
Hugo de Brito Machado posiciona-se no sentido de que se deve considerar todo
o sistema para verificar um possível efeito confiscatório dos tributos. Noutras palavras, “o

176
LUI, Ana Paula Schincariol. Imposto de sobre a renda e provento de qualquer natureza auferidos pela
pessoa física: princípios constitucionais e sistemática de apuração. PUC SP: 2007. 200 f. Dissertação
(Mestrado em Direito). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007, P. 61.
177
LUI, loc. cit..
178
ibid., p. 110.
179
ALEXANDRE, ibid., p. 148.
180
HORVATH ibid., p. 60.
181
SCHOUERI ibid., p. 322.
58

caráter confiscatório do tributo há de ser avaliado em função do sistema, vale dizer, em face
da carga tributária resultante dos tributos em conjunto”.182
Entendendo que deve-se analisar o sistema tributário como um todo para a
verificação do confisco, Ives Gandra da Silva Martins diz que:
Se a soma de diversos tributos incidentes representa carga que impeça o pagador de
tributo de viver e se desenvolver, estar-se-á perante carga geral confiscatória, razão
pela qual todo o sistema terá que ser revisto, mas principalmente aquele tributo que,
quando criado, ultrapasse o limite da capacidade contributiva do cidadão. Há, pois,
um tributo confiscatório e um sistema confiscatório decorrencial. A meu ver, a
Constituição proibiu a ocorrência dos dois, como proteção do cidadão.183

Estevão Horvath explica que a aplicação do princípio do não-confisco


considerando todo o sistema seria, em muitos casos, inviável. Uma das dificuldades apontadas
pelo citado jurista é o fato de, no Brasil, a Constituição outorgar competência para instituir e
majorar tributos a todos os entes federativos. Assim, indaga Estevão Horvath:
[...] como se poderá averiguar se a carga tributária passou a ser confiscatória após a
criação (ou aumento) de um tributo da União, Estados ou do respectivo Município?
Ou seja, onde foi despejada a gota d’água que fez transbordar o copo? Como aferir
isto?184

Apontando estas mesmas dificuldades, Fábio Brun Goldschmdt aduz que “é


possível que cada uma das tributações dos três entes federados, individualmente, seja
considerado razoável, havendo, contudo, efeito confiscatório quando da aplicação das três
cargas simultaneamente”.185
Ainda, o professor Estevão Horvath sustenta que, ao considerar o sistema como
um todo para a aferição da confiscatoriedade, a grande dificuldade seria apontar quando – ou
a partir de quando - isso ocorre. Averiguar a confiscatoriedade dentro de um sistema seria
mais fácil “quando se levasse em conta a tributação no seio de uma mesma esfera de
governo”.186
Todavia, Estevão Horvath entende que o controle de constitucionalidade do
sistema tributário deveria levar em consideração ambas as formas, vez que a tributação em
excesso – individualmente considerados ou dentro da visão uma do sistema tributário – é
vedada pela Constituição.187 Logo, o mais correto seria verificar os efeitos confiscatórios do

182
MACHADO, ibid., p. 41.
183
HORVATH, ibid., p. 82.
184
HORVATH, ibid., p. 83.
185
GOLDSCHMIDT, Fábio Brun. O princípio do não-confisco no direito tributário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, P. 281.
186
GOLDSCHIMIDT, ibid., p. 84-85.
187
HORVATH, ibid., p. 49.
59

tributo em isolado, de acordo com suas peculiaridades; e do sistema em conjunto, embora este
último seja de grande dificuldade para sua implementação.188
Nesta esteira, Fábio Brun Goldschmidt faz uma ressalva. Embora exista, de
fato, a aludida dificuldade, não pode o Judiciário eximir-se da análise desta questão. Isto se
deve ao fato de que:
o Estado é uno, ainda que sua administração seja dividida em mais de uma esfera de
Poder. Os direitos fundamentais em jogo são os do cidadão, fonte do poder do
Estado, conceito que transcende em muito o de simples contribuinte de uma dada e
específica exigência tributária. Seria, aliás, uma ironia cruel se a federação pudesse
servir de escudo para a perpetração de abusos contra o povo brasileiro, em vez de
funcionar como um instrumento para a sua proteção e desenvolvimento.189

No que tange à aplicação do princípio em estudo, Hugo de Brito Machado aduz


que o contribuinte sempre poderá invocar o princípio da vedação ao confisco quando entender
que determinado tributo está lhe confiscando bens. Neste diapasão, segue o referido jurista
afirmando que cabe ao Poder Judiciário definir quando um tributo configura-se confiscatório.
Para Hugo de Brito Machado, o dispositivo constitucional dá ao Judiciário mais um
instrumento para o controle da avidez arrecadatória do Estado.190
Por oportuno, cabe salientar o entendimento do Supremo Tribunal Federal em
casos de tributação com efeito confiscatório. No julgamento da ADIn n. 2.010-MC/DF, foi
entendido que o princípio do não-confisco visaria impedir o Estado de impor uma carga
tributária excessiva e insuportável ao contribuinte. 191
Pelo exposto, pode-se observar a importância do princípio em estudo, pois o
princípio do não-confisco visa evitar abusos do Estado na criação de normas tributárias. Além
disso, o princípio garante, também, que o ente estatal não se aproprie injustamente do
patrimônio ou dos rendimentos dos contribuintes em função da tributação desmedida.

3.5 O Princípio da Capacidade Contributiva

A par da importância que o princípio da segurança jurídica tem no Estado


Democrático de Direito e da grande função do princípio do não-confisco dentro do Direito
Tributário, torna-se possível adentrar no princípio da capacidade contributiva.

188
HORVATH, ibid., p. 86.
189
GOLDSCHMIDT, ibid., p. 283.
190
MACHADO, ibid., p. 40-41.
191
BRASIL. Supremo Tribunal Federal – Plenário. ADI 2010/DF. Requerente: Conselho Federal da OAB.
Requerido: Presidente da República Congresso Nacional. Relator Ministro Celso de Mello. Julgada em
13.06.02. Publicação no DJ em 22.03.2004.
60

O princípio da capacidade contributiva é um dos principais orientadores do


Sistema Tributário Brasileiro. Com reflexos nos demais princípios específicos do imposto
sobre a renda e proventos de qualquer natureza, o princípio da capacidade contributiva merece
ainda mais atenção por ser um critério de aplicação do princípio da igualdade ao Direito
Tributário.192
No Brasil, o princípio da capacidade contributiva teve o seu embrião ainda na
Carta Constitucional de 1825, no seu art. 179, n° 15. Entretanto, o referido princípio somente
passou a ter status constitucional a partir de 1946, quando foi incorporado à Constituição
daquele ano. O art. 202 da Constituição Federal de 1946 contava com a seguinte redação: “os
tributos terão caráter pessoal, sempre que isso for possível, e serão graduados conforme a
capacidade econômica do contribuinte". No ano de 1965, na ditadura militar, o dispositivo foi
riscado da Constituição Federal de 1946 pela Emenda Constitucional n° 18/1965. Somente
após a redemocratização do Brasil, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, é
que a capacidade contributiva reingressou ao texto constitucional. 193
Para Roque Antonio Carrazza, a capacidade contributiva é uma conquista do
Estado moderno, propiciando condições à concretização da almejada justiça fiscal ao fazer
com que cada cidadão colabore com as despesas do Estado na medida de suas
possibilidades. 194 Além disso, tem-se que o princípio da capacidade contributiva é o mais
importante fundamento para a consecução de uma estrutura tributária calcada na igualdade,
justiça e equidade. 195
Em linhas introdutórias, pode-se dizer que o princípio da capacidade
contributiva garante que cada cidadão contribua na manutenção do Estado na proporção de
sua riqueza, isto é, o indivíduo que apresentar maior riqueza deverá arcar com maior imposto
do que aquele que mostrar-se numa situação econômica inferior.196
Todavia, para o intuito deste trabalho, faz-se necessário tecer detalhadas
considerações a respeito deste princípio, a fim de verificar se a tributação dos ganhos
auferidos em renda variável o respeita, ou não.

192
ÁVILA, ibid., p. 369.
193
BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 7. ed. à luz da Constituição de
1988 até a Emenda Constitucional n° 10/1996. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 687.
194
CARRAZZA, ibid., p. 113.
195
CONTI, José Maurício. Princípios da capacidade contributiva e da progressividade. São Paulo: Dialética,
1997, p. 29.
196
CARRAZZA, loc. cit.
61

3.5.1 Capacidade contributiva e o princípio da igualdade

Atualmente, a capacidade contributiva está expressa no art. 145, §1° da


Constituição Federal de 1988, e busca garantir que os impostos apresentem caráter pessoal,
graduando-os segundo a capacidade econômica do contribuinte, como consta em sua redação:
Art.145. (...)
(...)
§1º. Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração
tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar,
respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos
e as atividades econômicas do contribuinte.

Nesta esteira, salienta-se que a doutrina especializada entende que o princípio


da capacidade contributiva nada mais é que o princípio da igualdade aplicado ao Sistema
Constitucional Tributário. Isto porque o princípio da igualdade visa tratar igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades; enquanto o princípio
da capacidade contributiva busca tratar o cidadão segundo a sua capacidade em suportar o
ônus tributário.197 É também neste sentido o ensinamento de Fábio Junqueira de Carvalho e
Maria Inês Murgel, ao afirmarem que:
[...] o princípio da igualdade, fundamental na linha constitucional adotada no Brasil,
que defende o tratamento igual aos iguais e o tratamento desigual aos desiguais,
abraça a exigência do princípio da capacidade contributiva, qual seja, a de que o
contribuinte pague impostos de acordo com a sua possibilidade econômica.198

De igual modo, José Afonso da Silva afirma que:


A graduação, segundo a capacidade econômica e personalização do imposto,
permite agrupar os contribuintes em classes, possibilitando tratamento tributário
diversificado por classes sociais, e, dentro de cada uma, que constituem situações
equivalentes, atua o princípio da igualdade.199

Portanto, apesar de alguns autores alegarem que o princípio da capacidade


contributiva é algo relativamente diferente ao princípio da igualdade, 200 a maior parte da
doutrina considera a capacidade contributiva como sendo a aplicação do principio da
igualdade no âmbito tributário.

197
CONTI, ibid., p. 25-26..
198
CARVALHO, Fabio Junqueira de; MURGEL, Maria Inês. IRPJ: Teoria e prática jurídica. São Paulo:
Dialética, 1999, p. 19.
199
SILVA ibid., p. 222.
200
ÁVILA, Humberto. Sistema constitucional tributário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 371.
62

3.5.2 O sentido da expressão “sempre que possível”

Partindo para a análise propriamente dita do enunciado do art. 145, §1°, da


Constituição de 1988, tem-se a primeira divergência doutrinária, já nas primeiras palavras do
dispositivo: a interpretação da expressão “sempre que possível”.
Como se trata de uma expressão aberta - um tanto quanto obscura, inclusive –
existe margem para diversas interpretações. Alguns doutrinadores, como Roque Antônio
Carrazza, entendem que a expressão não é apenas uma recomendação; é, pois, uma norma
imperativa constitucional, que obriga o Estado a sempre observar o caráter pessoal e a
capacidade econômica do contribuinte ao exigir o imposto.201 Já outros autores, como Paulo
de Barros Carvalho, entendem que a expressão é inútil, não acrescentando nada à aplicação do
princípio em tela. Nesse sentido, afirma o autor que:
[...] a cláusula inicial – sempre que possível – é totalmente despicienda. As normas
jurídicas, por força da própria região ôntica sobre que incidem, não podem operar no
campo das condutas necessárias ou possíveis, remanescendo o intervalo do possível
como espaço único e exclusivo para o impacto da incidência. Como decorrência
inevitável, a citada cláusula é algo que deve estar presente sempre, ali onde houver
uma regra de direito.202

Contudo, Roque Antonio Carrazza rebate esta ideia afirmando que a expressão
não é vazia, nem uma simples recomendação ao legislador ordinário. Ao contrário, uma vez
que a regra-matriz do imposto permita, o tributo deverá mandatoriamente obedecer ao
princípio da capacidade contributiva e ter caráter pessoal. Daí o “sempre que possível”; se a
natureza do imposto for compatível com a capacidade contributiva, o legislador deverá
imprimir ao imposto caráter pessoal e graduá-lo igual à aptidão econômica do contribuinte.203
Hugo de Brito Machado também entende que a expressão constitucional
vincula o legislador ordinário na criação dos impostos. A aplicação do princípio ao imposto
não depende, portanto, da mera vontade do legislador:
Não é razoável entender-se que o legislador tem ampla liberdade para resolver
quando é e quando não é possível exigir-se a obediência ao princípio da capacidade
contributiva porque tal compreensão anula inteiramente a sua supremacia. Em outras
palavras, essa interpretação rebaixa o princípio em questão do nível da Constituição
para o nível das leis ordinárias, o que não é razoável admitir-se. 204

Aliomar Baleeiro arremata a questão, afirmando que:

201
CARRAZZA, id., 2011, p. 112.
202
CARVALHO, ibid., p. 65.
203
CARRAZZA, loc. cit.
204
MACHADO, ibid., p. 39.
63

A cláusula sempre que possível não é permissiva, nem confere poder discricionário
ao legislador. Ao contrário, o advérbio sempre acentua o grau da imperatividade e
abrangência do dispositivo, deixando claro que, apenas sendo impossível, deixará o
legislador de considerar a pessoalidade para graduar os impostos de acordo com a
capacidade econômica subjetiva do contribuinte.205

No entanto, Roque Antonio Carrazza faz um alerta: existem impostos que, por
sua própria natureza, não seriam compatíveis com a capacidade contributiva. Pode-se citar
como exemplo o ICMS, cuja carga econômica do tributo é passada para o preço da
mercadoria ou serviço. O valor do imposto é repassado a terceiros, e quem suporta a carga
tributária não é o contribuinte, mas o consumidor final. Por isso, seria impossível atender à
norma disposta no art. 145, §1º, da Constituição Federal de 1988.206
Discordando de que existem impostos incompatíveis com a capacidade
contributiva, José Maurício Conti entende que todos os impostos, mesmo aqueles cuja
aferição direta do princípio em tela não seja possível, podem sujeitar-se ao princípio da
capacidade contributiva. Para este autor, a expressão ”sempre que possível” busca unicamente
permitir a existência de exceções, como é o caso dos impostos com função extrafiscal,
utilizados para direcionar as atividades dos agentes econômicos.207
Encerrando a discussão, tem-se a lição de Humberto Ávila. Para este autor, a
expressão “sempre que possível” é supérflua, caso se refira à possibilidade de mensurar a
capacidade econômica, haja vista que “prescrições comportamentais instituídas por normas
jurídicas pressupõe possibilidades fáticas de aplicação”, de modo que a expressão não é uma
permissão, mas, sim, uma obrigação, onde seu significado irá depender da possibilidade de
graduar a capacidade econômica do contribuinte. 208
Por fim, corroborando com os ensinamentos de José Maurício Conti, Humberto
Ávila conclui que a expressão “sempre que possível” configura-se numa abertura expressa à
possibilidade de instituir tributos de caráter extrafiscal. 209

3.5.3 Capacidade econômica x capacidade contributiva

Ainda relacionado ao enunciado constitucional, outro questionamento que


surge na doutrina é se o termo “capacidade contributiva” equivaleria ao termo “capacidade

205
BALEEIRO, ibid., p. 694.
206
BALEEIRO, ibid., p. 112-113.
207
CONTI, ibid., p. 48.
208
ÁVILA, id., 2010, p. 374.
209
ÁVILA, loc. cit.
64

econômica”, pois o art. 145, §1º, da Constituição Federal de 1988, menciona “capacidade
econômica”.
Analisando o conceito de “capacidade econômica”, Geraldo Ataliba explica
que ela consiste na possibilidade real em diminuir o patrimônio do contribuinte, sem destruir
ou perder a possibilidade de continuar gerando riquezas. 210
A seu turno, Emílio Giardina aduz que a capacidade contributiva é a
capacidade econômica de pagar o tributo. Noutras palavras, é a posse de uma riqueza, num
montante suficiente para arcar com exigência fiscal. 211
Já Humberto Eustáquio Mota Filho entende que a utilização do termo
“capacidade econômica” é equivocada, justificando sua posição a partir da ideia de que a
capacidade econômica é a disponibilidade genérica de produzir ou dispor de riqueza, isto é,
qualquer indivíduo que dispõe de riqueza – ou mostra aptidão para tal – terá capacidade
econômica; ao passo que a capacidade contributiva “denota uma noção jurídico-econômica,
manifesta pela determinação de riqueza, que constitui justificação da imposição tributária”. 212
Mesmo entendimento apresenta Ives Gandra da Silva Martins ao lecionar que
capacidade econômica seria a manifestação do potencial econômico do indivíduo em razão de
seus rendimentos, independente deste estar vinculado a um tributo em específico; e a
capacidade contributiva seria a capacidade econômica específica relacionada à imposição do
ônus tributário, ou seja, a aptidão do contribuinte em arcar com o ônus tributário.213
Explicação semelhante é apresentada por Regina Helena Costa. Ela aduz que a
pessoa pode ter capacidade econômica para comprar os bens necessários à sobrevivência;
contudo, não apresentar capacidade contributiva, pois consumiu sua renda com o mínimo vital
necessário.214
Entretanto, para Hugo de Brito Machado 215 e Roque Antonio Carrazza216, as
expressões se equivalem, devendo ser tratadas como sinônimos. Noutras palavras, a expressão
contida na Constituição Federal determina que o imposto seja graduado conforme a

210
CONTI, ibid., p. 32.
211
CONTI, loc. cit.
212
MOTA FILHO. Humberto Eustáquio. Introdução ao princípio da capacidade contributiva. Rio de Janeiro:
Forense, 2006, p. 80.
213
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Capacidade econômica e capacidade contributiva. In: CONTI, José
Maurício. Princípios tributários da capacidade contributiva e da progressividade. São Paulo: Dialética,
1997, p. 34.
214
LEMKE, ibid., p. 40.
215
MACHADO, ibid., p. 39.
216
CARRAZZA, id., 2011, p. 113.
65

capacidade econômica do sujeito passivo da relação jurídico-tributária, pouco importando a


capacidade econômica daqueles que não se enquadrarem como contribuintes.
Por fim, no que tange à interpretação da expressão “capacidade econômica”,
José Maurício Conti assevera que o referido termo torna o conceito de capacidade
contributiva mais preciso. Isto porque o Texto Constitucional refere-se à “capacidade
econômica do contribuinte”, portanto, a expressão em comento reporta-se à capacidade
econômica somente daqueles podem ser tributados.217
Desta forma, para fins desta pesquisa, adota-se a noção de que o termo
capacidade contributiva está relacionada à capacidade econômica do indivíduo em suportar o
ônus tributário; ao passo que a capacidade econômica é a riqueza econômica decorrente do
produto dos rendimentos do indivíduo. Assim, uma pessoa pode apresentar capacidade
econômica para manter seu mínimo vital, mas não apresentar capacidade contributiva.
Neste sentido, também é possível afirmar que o dispositivo constitucional, ao
falar em “capacidade econômica do contribuinte”, não foge a este entendimento. O Texto
Constitucional é claro neste ponto ao prescrever que deve ser analisada a capacidade
econômica do contribuinte, ou seja, será analisado o potencial econômico somente daqueles
sujeitos que podem figurar no polo passivo de uma determinada obrigação jurídico-tributária.

3.5.4 O objeto da capacidade contributiva

Embora possa haver algumas divergências doutrinárias acerca de determinadas


expressões contidas no art. 145, §1º, da Constituição Federal, pode-se afirmar que o princípio
da capacidade contributiva busca garantir que os impostos sejam exigidos de acordo com a
riqueza – a aptidão econômica – do contribuinte. Afinal, para que haja uma justa tributação, é
necessário que o legislador assinale as disparidades entre os contribuintes. Além disso, no
caso específico do imposto de renda, a observância da capacidade contributiva imprime o
necessário caráter pessoal exigido pela regra-matriz deste tributo.218
A doutrina divide a capacidade contributiva em absoluta (ou objetiva) e
relativa (ou subjetiva). A primeira tem a função de guiar o legislador na criação da hipótese de
incidência do imposto; já a segunda atua como critério de graduação do tributo e limite à
tributação.219

217
CONTI, ibid., p. 37.
218
QUEIROZ, ibid., p. 443.
219
LEMKE, ibid., p. 41-42.
66

Roque Antonio Carrazza explica que a capacidade econômica absoluta refere-


se aos fatos que constituam manifestações de riqueza, e não às condições reais do
contribuinte, individualmente considerado.220 Então, a capacidade absoluta seria medida pela
renda ou patrimônio do indivíduo, deduzidos os gastos à sua aquisição e manutenção, não
considerando as condições individuais do contribuinte.221
Já Aliomar Baleeiro cita o jurista italiano Emilio Giardina para explicar que a
capacidade contributiva absoluta obriga o legislador tão-somente a eleger como hipótese de
incidência de tributos aqueles fatos que efetivamente sejam indícios de capacidade
econômica.222 Em suma, o legislador ordinário somente poderá criar hipóteses de incidência
que presumam que quem os pratica possui meios financeiros para arcar o ônus tributário.223
Não é diferente a lição de Luís Eduardo Schoueri, ao afirmar ser a capacidade
contributiva absoluta “a escolha de quais elementos aferidores da economia formam a fonte
de um tributo”. Então, o critério absoluto visa a concretização da igualdade, determinando que
o indivíduo que está na situação descrita deve pagar o tributo. Ainda, é o critério absoluto que
obriga o legislador a definir como hipótese de incidência somente fatos presuntivos de
riqueza. 224
Em contrapartida, a capacidade econômica relativa seria a real aptidão de
determinado indivíduo em suportar o ônus tributário, ou seja, reporta-se ao contribuinte
individualmente considerado. Nesta esteira, afirma Aliomar Baleeiro que a capacidade
relativa pode ser considerada como corresponde ao conceito de renda líquida, “que está
livremente disponível para o consumo e, assim, também para o pagamento de tributo”.225 Isso
porque a capacidade econômica relativa poderá ser aferida após as deduções dos gastos
necessários (alimentação, saúde, moradia, etc.) à manutenção de uma existência digna do
contribuinte e sua família. 226
Para Luís Eduardo Schoueri, é a análise da capacidade contributiva relativa que
possibilita verificar se o contribuinte pode, ou não, suportar a carga tributária incidente. Desta
forma, para a capacidade contributiva relativa não basta aferir capacidade econômica, deve
existir saldo disponível, uma parcela de riqueza que o contribuinte pode dispor.227

220
CARRAZZA, ibid., p. 99.
221
BALEEIRO, ibid., p. 692-693.
222
BALEEIRO, ibid., p. 693.
223
CARRAZZA, ibid., p. 102.
224
SCHOUERI, ibid., p. 314.
225
BALEEIRO, loc. cit.
226
BALEEIRO, loc. cit.
227
SCHOUERI, ibid., p. 313.
67

De acordo com Gisele Lemke, existem alguns estudiosos que, embora sejam
minoritários, defendem que basta apenas o critério objetivo da capacidade contributiva - isto
é, que a hipótese de incidência descreva fatos de conteúdo econômico - para que este
princípio seja respeitado.228
Neste sentido, Eduardo Domingos Botallo, citado por Gisele Lemke, assevera
que o magistrado só pode anular norma tributária se esta não apresentar qualquer fato
representativo de riqueza – a capacidade contributiva objetiva.229
João Caio Goulart Penteado, por sua vez, considera os dois aspectos da
capacidade contributiva. Todavia, o critério subjetivo da capacidade contributiva só pode ser
invocado quando a tributação atingir o mínimo vital ou apresentar efeitos confiscatórios.230
Da mesma natureza é o ensinamento de Alfredo Augusto Becker, ao aduzir que
é facultado ao aplicador declarar a inconstitucionalidade da norma que institua tributo de fato
que não seja demonstração de riqueza acima do mínimo legal. E finaliza o citado jurista
dizendo que “não cabe ao juiz deixar de aplicar a norma por constatar que num determinado
caso concreto ela não atende ao princípio da capacidade contributiva”.231
Referente à redação constitucional, é importante destacar que Roque Antonio
Carrazza entende que o dispositivo constitucional refere-se à capacidade contributiva
objetiva;232 a seu turno, Sacha Calmon Navarro Coelho entende que o aludido dispositivo
refere-se à capacidade subjetiva, ou seja, à capacidade econômica real do contribuinte. 233
Vale ressaltar, contudo, que a doutrina majoritária entende que tanto a
capacidade contributiva objetiva quanto a capacidade contributiva subjetiva devem ser
consideradas ao instituir e exigir o tributo.234
Porém, como determinar a aptidão do contribuinte em arcar com o tributo? O
tema é de grande importância, vez que o critério escolhido integrará a hipótese de incidência
do tributo. Apesar de, num primeiro momento, imaginar que a renda pessoal possa ser o
melhor critério para a mensuração da capacidade contributiva, a doutrina elenca três critérios
para fazer este aferimento.235
Alguns juristas argumentam que a melhor forma de aferir a capacidade
contributiva é por meio do consumo. Os partidários desta tese defendem que o consumo é ato
228
LEMKE, loc. cit.
229
LEMKE, ibid., p. 42.
230
LEMKE, loc. cit.
231
LEMKE, loc. cit.
232
CARRAZZA, ibid., p. 99.
233
COELHO, Sacha Calmon Navarro apud CARRAZZA, Roque Antonio. Op. cit., 2011, nota 48, p. 99.
234
CARRAZZA, ibid., p. 101-102; LEMKE, ibid., p. 43.
235
CONTI, ibid., p. 42.
68

egoísta, por isso deve ser punido com a tributação; enquanto a poupança e o investimento
trariam benefícios à sociedade, devendo ser incentivados. Estes alegam, ainda, que a
tributação da renda poderia ser considerada como uma bitributação da poupança. Isto porque,
tributando a renda auferida, nos dizeres de José Maurício Conti, “estar-se-ia tributando o
consumo e a poupança do indivíduo que auferiu essa renda”. 236
Há, também, aqueles que defendem ser a riqueza parâmetro da capacidade
contributiva. Neste caso, se mensuraria a capacidade contributiva pela análise do patrimônio,
capital ou renda acumulada. A principal justificativa para a utilização deste critério é a de se
pode gerar renda do capital, isto é, que determinados bens podem gerar renda. 237 A fim de
ilustrar este último critério, destaca-se o exemplo de R. A. Musgrave, invocado por José
Maurício Conti:
Supor que o rendimento do capital seja da ordem de 10%. Um bem de valor 1.000
geraria uma renda de 100. Assim poder-se-ia cobrar um imposto na base de um
percentual (ex: 10%) sobre esse montante de rendimento do capital (ou seja, sobre
os 100).238

Por conseguinte, José Maurício Conti entende que a renda ainda é a melhor
medida da capacidade contributiva, vez que ela inclui todas as fontes de receita pelas quais a
pessoa percebe a renda ou então onde ele utiliza estas receitas (analisando sob o prisma do
consumo e poupança).239

3.5.5 Capacidade contributiva e o mínimo vital

Em proteção ao mínimo vital, é vedada a tributação dos recursos destinados às


necessidades básicas do cidadão. Sabendo disso, é importante salientar, desde já, que a
doutrina é unânime em afirmar que o tributo não pode incidir sobre os valores mínimos
necessários à sobrevivência digna do cidadão e seus familiares, sob pena de o tributo ser
inconstitucional. 240
Como anteriormente mencionado, o mínimo vital, ou mínimo existencial, é
entendido como sendo o montante mínimo de recursos tidos como indispensáveis para a
satisfação das necessidades básicas do cidadão. Vale dizer, o mínimo vital não está restrito ao
âmbito tributário, pois o mínimo existencial encontra respaldo nos próprios fundamentos da

236
CONTI, ibid., p. 42-43.
237
CONTI, ibid., p. 43.
238
CONTI, loc. cit.
239
CONTI, ibid., p. 42.
240
Acerca da posição doutrinária sobre o assunto, ver CONTI, ibid., p. 53; HORVATH, ibid., p. 75.
69

República Federativa do Brasil e no Estado Democrático de Direito, quando a Constituição


Federal de 1988 garante a proteção da dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza,
entre outros.241
O mínimo vital seria, então, o quantum mínimo necessário para a realização
das necessidades básicas. Porém, a doutrina, por vezes, tem dificuldade em definir o que
seriam estas necessidades básicas. Para alguns, esta definição tratar-se-ia de uma decisão
política do legislador, cabendo a ele, utilizando-se da razoabilidade, estabelecer o que é de
necessidade básica para o indivíduo e sua família.242
No Brasil, os juristas, em esmagadora maioria, concordam que estas
necessidades básicas são elencadas pela Constituição Federal, nos seus arts. 6º e 7º, que
garante o direito a alimentação, vestuário, saúde, educação, cultura, etc. Na seara tributária, os
recursos econômicos destinados às necessidades primárias devem, portanto, ser protegidos
através da criação de não-incidências ou deduções. Em resumo, o mínimo vital não pode ser
alcançado pelos impostos.243
Isso pode ser apreendido nas lições de Roque Antonio Carrazza, ao asseverar
que aquele que “ganha o mínimo indispensável (mínimo vital) para manter-se e a seus
familiares [...] não tem capacidade econômica de suportar qualquer ônus tributário”.244
O mínimo vital está aquém da capacidade para contribuir, afinal, é o montante
mínimo necessário para a subsistência do sujeito – não há renda excedente. Por isso fala-se
que capacidade contributiva e o mínimo vital guardam estreitas relações entre si.
Sobre o estreito vínculo entre capacidade e mínimo vital, e a tributação deste
pelo imposto, Gian Antonio Micheli faz uma interessante observação:
[...] a noção de “capacidade contributiva” impede o poder de imposição de ser
exercido de modo a atingir o “mínimo vital”, isto é, aquilo absolutamente
indispensável para viver. Se ultrapassado tal limite [...] não existe mais capacidade,
entendida esta no sentido que vimos acima, porque existe o perigo de que [...] não
exista mais o sujeito.245

Assim, mesmo sendo certo que o cidadão tem o dever de contribuir com as
despesas públicas, não se admite que a tributação venha a atingir o mínimo necessário para a

241
QUEIROZ, id., 2005, p. 447-448
242
CONTI, ibid., p. 55.
243
CARRAZZA, ibid., p. 111.
244
CARRAZZA id., 2009, p. 41.
245
MICHELI, Gian Antonio. Curso de direito tributário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978. In:
HORVATH, Estevão. O princípio do não-confisco no direito tributário. São Paulo: Dialética, 2002, p. 75.
70

subsistência do indivíduo. Mesmo porque tributar o mínimo vital equivale a tributar alguém
que se revela sem capacidade contributiva ou econômica.246
Em ampla análise sobre os impostos, Klaus Tipke afirma que não basta o
imposto de renda respeitar o mínimo existencial; o imposto deve ser estruturado de forma
harmônica entre capacidade contributiva e mínimo vital, e arremata dizendo que “o Estado
não pode, por meio de impostos, tirar renda do contribuinte ou de sua família que ele deveria
lhes devolver, a título de assistência social, para garantir a sua existência” 247
Finalmente, é importante destacar, também, que o mínimo vital apresenta forte
relação com o princípio do não-confisco, abordado anteriormente. Em linhas gerais, pode-se
dizer que o imposto não pode retirar da pessoa o mínimo para sua existência, pois, agindo
desta forma, o imposto passaria a ter efeitos confiscatório.248
Destarte, pode-se concluir que o princípio da capacidade contributiva tem
como principal fundamento a igualdade tributária e, por conseguinte, busca realizar a justiça
fiscal. Para tal, o referido princípio busca imprimir um caráter pessoal ao imposto, ao adequar
a carga tributária conforme a possibilidade de contribuir que o contribuinte apresenta. Noutras
palavras, quem ganha mais deverá contribuir mais; e quem ganha menos deverá contribuir
menos. Em não existindo capacidade econômica por parte do contribuinte, não há que se falar
em incidência do imposto de renda.
Convém destacar, ainda, que o conceito de mínimo vital está intimamente
ligado ao princípio da capacidade contributiva. Isto porque, ao tributar um indivíduo que não
apresente capacidade contributiva, estar-se-ia tributando a parcela mínima necessária à
subsistência do indivíduo, o que seria inadmissível.
Merece destaque, ainda, o fato de o princípio da vedação ao confisco também
apresentar forte vínculo com o princípio da capacidade contributiva, vez que se a exigência
tributária exceder a capacidade contributiva, as condições pessoais apresentadas pelo
contribuinte, a obrigação tributária estará apresentando efeitos confiscatórios.
Resta evidente, portanto, a relevância que o princípio da capacidade
contributiva apresenta para a análise da (in)constitucionalidade do imposto de renda.

246
QUEIROZ, ibid., p. 449.
247
TIPKE, Klaus. Sobre a unidade da ordem jurídica tributária. In: QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto sobre a
renda e proventos de qualquer natureza: tributação das pessoas físicas. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p.
449.
248
HORVATH, ibid., p. 75-76.
71

Entretanto, além do princípio da capacidade contributiva, o Estado, ao criar,


fiscalizar e cobrar o imposto de renda, também deve sujeitar-se aos princípios da
generalidade, da progressividade e da universalidade.

3.6 O Princípio da Generalidade

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 153, §2º, I, preceitua os princípios


específicos que devem nortear o imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza.
Logo, toda e qualquer norma referente ao imposto de renda deverá submeter-se,
mandatoriamente, aos princípios da generalidade, da universalidade e da progressividade. A
conjunção destes princípios, juntamente com o princípio da capacidade contributiva (artigo
145, §1º, da Constituição Federal de 1988), estudo amiúde no subitem anterior, é responsável
por conferir caráter pessoal ao imposto de renda.
Uma pequena parte da doutrina entende que os princípios da generalidade e o
da universalidade seriam a mesma coisa. O dicionário também apresenta significados
semelhantes. Generalidade é a “qualidade do que é geral, do que abrange uma totalidade de
coisas, ou do que é considerado em toda a sua extensão”.249 Já a universalidade é o “caráter do
que é universal, geral, total, ou considerado sob o seu aspecto de generalidade universal”.250
Embora o sentido lexical seja muito semelhante, os termos apresentam
conceitos bem diferentes na seara jurídica.
Sendo corolário do princípio da isonomia tributária, a doutrina majoritária
entende que o princípio da generalidade busca evitar a discriminação e a concessão de
privilégios entre os contribuintes que se encontrem em situação equivalente.251
Desta forma, excetuando-se os casos de imunidades e isenções legalmente
concedidas, o imposto de renda deverá alcançar todos aqueles que realizarem o fato descrito
na hipótese de incidência, isto é, que auferirem renda e proventos de qualquer natureza,
independentemente das características pessoais do contribuinte 252.
Não é diferente o pensamento de Mary Elbe Queiroz para quem a generalidade
tem seu uso mais comum referindo-se a pessoas. Ou seja, por generalidade tem-se que,
independente das características pessoais (cor, raça, credo, estado civil, etc.), qualquer pessoa

249
HOUAISS, ibid., p. 1441.
250
HOUAISS, ibid., p. 2807.
251
QUEIROZ, ibid., p. 329.
252
QUEIROZ, loc. Cit.
72

que tenha realizado o fato gerador do imposto, e apresente capacidade contributiva, deverá
contribuir ao Fisco, cada qual na medida de suas possibilidades. 253
De igual modo, Renato Romeu Renck leciona que a generalidade está
relacionada ao contribuinte, ao sujeito passivo, e não à renda. Logo, a generalidade abrange a
totalidade de contribuintes, não admitindo qualquer tributação especial. Isto é, pelo princípio
da generalidade, não se admite classes de contribuintes; todo contribuinte deve ser tratado de
uma só forma, sem discriminações.254
Portanto, devido ao critério da generalidade, Renato Romeu Renck explica que
todo o acréscimo novo que decorra do ato de produção de renda deve ser objeto de tributação
pelo imposto de renda.255
No entanto, o entendimento acerca do conceito da generalidade não é pacífico.
Neste sentido, Ricardo Mariz de Oliveira diverge do entendimento exposto até então, ao
afirmar que “generalidade significa que o imposto deve tratar por igual todo e qualquer tipo
de renda ou provento, melhor dizendo, todo acréscimo patrimonial deve receber o mesmo
tratamento”.256
Paulo Ayres Barreto também apresenta outra explicação, fundada na noção de
que, pelo princípio da generalidade, a renda deve ser considerada como um todo, de modo que
o imposto de renda não incida somente sobre certas espécies de renda, e desconsidere os
efeitos negativos de outras.257 Interessante destacar que essa interpretação é mesma que a
doutrina majoritária utiliza para conceituar o princípio da universalidade, abordado no
próximo subitem.
No que tange às isenções, o jurista Roque Antônio Carrazza ressalva que, em
respeito ao critério da generalidade, elas só devem ser concedidas quando coroarem o
princípio da igualdade; noutras palavras, quando as isenções buscarem realizar objetivos
constitucionais consagrados como a proteção aos idosos, à família, aos economicamente mais
fracos, dentre outros.258
Já no que concerne aos incentivos e benefícios fiscais, o professor Roque
Antonio Carrazza afirma que eles não ofenderiam o princípio da generalidade, desde que tais

253
QUEIROZ, ibid., p. 445.
254
RENCK. Renato Romeu. Imposto de renda da pessoa jurídica: critérios constitucionais da apuração da
base de cálculo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 54.
255
RENCK, loc. cit.
256
OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Princípios fundamentais do imposto de renda. In: SCHOUERI, Luís Eduardo;
ZILVETI, Fernando Aurélio (Coord.). Direito Tributário: Estudos em homenagem a Brandão Machado. São
Paulo: Dialética, 1998, p. 213.
257
BARRETO, ibid., p. 771.
258
CARRAZZA id., 2009, p. 69.
73

concessões sejam para promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as


regiões do país – tal como preconiza o art. 151, I, da CF – ou para efetivar o princípio da
igualdade (art. 5º, I da Constituição Federal de 1988), isto é, a máxima de Aristóteles, tratar os
iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades. 259

3.7 O Princípio da Universalidade

Assim como o princípio da generalidade, o princípio da universalidade também


é vinculado ao importante princípio da capacidade contributiva. Neste interim, é interessante
lembrar que o princípio da universalidade, por vezes, é interpretado como sendo idêntico ao
princípio da generalidade. De fato, como visto no subitem anterior, o dicionário realmente
apresenta conceitos bem semelhantes. No entanto, trata-se de institutos jurídicos distintos.
Em rápida síntese do subcapítulo anterior, a doutrina majoritária entende que,
pelo princípio da generalidade, à exceção das pessoas imunes ou isentas, todos aqueles que
auferirem renda, independente de suas características pessoais, deverão contribuir com o
imposto de renda.
Mary Elbe Queiroz explica que o significado que melhor se ajusta à
universalidade é diferente daquele atribuído à generalidade, visto que o constituinte adotou
ambos como princípios distintos. Desta forma, a universalidade deve ser tida como o alcance,
pelo imposto de renda, de todas as rendas e proventos auferidos pelas pessoas.260
Na lição de Roque Antonio Carrazza, o princípio da universalidade garante que
o imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza alcance a totalidade de ganhos e
lucros de qualquer espécie e gênero obtidos pelo contribuinte, não importando a denominação
do rendimento, sua origem ou a qualificação jurídica de quem recebe o rendimento. Salienta-
se que não importa se a renda foi gerada no exterior; desde que respeitados os acordos para
evitar a bitributação internacional, os rendimentos obtidos no exterior também constarão na
apuração da renda global auferida. 261
Opinião semelhante é apresentada por Gisele Lemke, para quem o princípio da
universalidade garante que o imposto de renda incida sobre a totalidade das rendas auferidas

259
CARRAZZA, loc. cit.
260
QUEIROZ id., 2005, p. 444.
261
CARRAZZA id., 2009, p. 69.
74

pelo contribuinte dentro do período-base definido pelo legislador, frisando, ainda, que a
universalidade deve observar a capacidade contributiva.262
Semelhante é a lição de Mary Elbe Queiroz, que afirma:
Relativamente ao imposto sobre a renda, a universalidade impõe que a incidência do
imposto deverá alcançar todas as 'rendas' e 'proventos', de qualquer espécie,
independentemente de denominação ou fonte, que deverá ser considerado no seu
conjunto. O sentido mais adequado é que a apuração da base de cálculo do imposto,
que deverá ocorrer em um dado instante, abrangerá o total de rendimentos que foi
percebido em determinado período de tempo fixado na lei (periodicidade) como
necessários para que se possa aferir a real capacidade contributiva dos sujeitos. 263

Ainda, pelo princípio da universalidade, conforme observa Gisele Lemke, a


alíquota não pode variar por causa da origem do rendimento ou nome dado ao rendimento,
pois, para esta jurista, a universalidade impede que os diversos tipos de rendimento sejam
tributados por critérios diferentes. À renda global auferida num determinado intervalo de
tempo deve ser aplicado uma única alíquota para o cálculo do imposto devido.264
No entanto, também o entendimento acerca do princípio da universalidade não
é unânime na doutrina.
Na compreensão de Ricardo Mariz de Oliveira, o princípio da universalidade é
entendido como sendo da totalidade de elementos positivos e negativos que compõe o
patrimônio do contribuinte. Além disso, a universalidade abarca todos os fatores que atuam
para aumentar ou diminuir este patrimônio num determinado lapso temporal definido pela
legislação.265
Já o entendimento de Marilene Talarico Martins Rodrigues é no sentido de que
o princípio da universalidade reza, como regra geral, que toda e qualquer renda e provento
deverá ser objeto do imposto de renda. Assim, somente comportariam exceção as imunidades
previstas no art. 150 da Constituição Federal de 1988.266
Paulo Ayres Barreto entende que, pelo critério da universalidade, toda e
qualquer pessoa está sujeita à tributação.267 Pode-se observar que este conceito do princípio
da universalidade é aquele mesmo adotado pela doutrina majoritária como sendo o princípio
da generalidade, mostrando que o citado autor tem uma interpretação peculiar acerca de
ambos os princípios.

262
LEMKE id., 2001, p.37.
263
QUEIROZ id., 2009, p. 70.
264
LEMKE, ibid., p. 771.
265
OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Princípios fundamentais do imposto de renda. In: SCHOUERI, Luís Eduardo;
ZILVETI, Fernando Aurélio (coord.) Direito Tributário: Estudos em homenagem a Brandão Machado. São
Paulo : Dialética, 1998, pp. 213-214.
266
RODRIGUES, ibid., p. 194.
267
BARRETO, ibid., p. 771.
75

Todavia, embora a doutrina possa apresentar alguma divergência na


conceituação do princípio da universalidade, o entendimento mais aceito é que, havendo
acréscimo patrimonial, todas as rendas e proventos auferidos num determinado período
estabelecido por lei devem ser tributados igualmente pelo imposto de renda, sem realizar
distinções entre as parcelas que compõem a base de cálculo do imposto.
Finalmente, salienta-se que, assim como os demais princípios analisados, a
universalidade não veda a possibilidade de haver benefícios e isenções ao imposto de renda,
quando estas medidas buscarem a consecução dos demais princípios estabelecidos na
Constituição Federal, como, por exemplo, o princípio da igualdade. 268

3.8 O Princípio da Progressividade

Buscando a concretização da justiça distributiva, o constituinte determinou no


art. 153, §2º, I, da Constituição Federal, que o imposto de renda deverá ser progressivo. No
entanto, como ocorre com todos os princípios aqui examinados, o princípio da
progressividade não é algo pacífico na doutrina, provocando uma série de debates entre os
juristas. É possível encontrar defensores e opositores do critério em estudo.
A celeuma já inicia quanto à subordinação, ou não, da progressividade ao
princípio da capacidade contributiva.
Neste diapasão, alguns autores afirmam que a progressividade é corolário
lógico – isto é, deriva diretamente - da capacidade contributiva. Desta forma, todos os
impostos haveriam de ser progressivos.269
Outros autores argumentam que a progressividade apresenta certo vínculo com
o princípio da capacidade contributiva; porém, estes mesmos autores não expressam se existe
um vínculo absoluto entre progressividade e capacidade contributiva. 270
Por fim, há ainda doutrinadores que entendem que o princípio da
progressividade seria um refinamento da capacidade contributiva, embora não seja derivado
deste.271

268
CARRAZZA, ibid., p. 771.
269
LACOMBE, Américo Masset. Princípios constitucionais tributários. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p.
42; QUEIROZ id., 2005, p. 446.
270
QUEIROZ, ibid., p. 134.
271
XAVIER, Alberto. Mesa de debates do VI Congresso Brasileiro de Direito Tributario. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1994. In: ÁVILA, Humberto. Sistema constitucional tributário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.
390.
76

Discussões à parte, reza o critério da progressividade que as alíquotas do


imposto de renda devem aumentar gradualmente, na medida em que a base de cálculo - a
renda auferida pelo contribuinte – aumenta. Com a alíquota progressiva, ao menos em tese, o
contribuinte que apresentar renda mais expressiva será tributado de forma mais pesada do que
os contribuintes com menor renda.272
A progressividade, porém, não está isenta de críticas – não é unanimidade entre
os estudiosos. Para Misabel Derzi, a progressividade propicia uma maior justiça social, pois a
graduação do imposto faria com que aqueles que apresentem maior capacidade contributiva
paguem progressivamente mais do que aqueles que apresentarem menor capacidade
contributiva.273
Por sua vez, José Maurício Conti entende que a progressividade tem o condão
de mostrar o poder multiplicador que existe na capacidade contributiva. Ele exemplifica a
situação, dizendo que:
Um indivíduo que consegue auferir mais renda, certamente conseguirá melhores
opções para o investimento desta renda, além de um maior número de opções de
investimento e, como consequência imediata, uma possibilidade muito maior de
fazer com que essa renda cresça mais que a de um outro indivíduo que tenha menos
para investir.274

Já Geraldo Ataliba afirma que a progressividade é uma excelente maneira de


concretizar os ditames do princípio da capacidade contributiva.275
Estevão Horvath compartilha do mesmo entendimento, ao lecionar que a
progressividade aplicada aos impostos é a maneira mais evidente de tornar efetivo o princípio
da capacidade contributiva. 276 O citado autor conclui seu raciocínio afirmando que o princípio
da progressividade é uma das melhores maneiras de propiciar uma distribuição “da
participação de cada sujeito passivo para com os gastos públicos” de forma mais justa. 277
Defensor da aplicação da progressividade, Paul Hugon entende que para o
imposto ser justo, ele deve ser pago numa medida que assegure um sacrifício igual para cada
cidadão, ou seja, para isto, a alíquota é graduada conforme a base de cálculo aumenta.278

272
MACHADO, ibid., p. 323.
273
CONTI, ibid., p. 76.
274
CONTI, ibid., p. 75.
275
CONTI, ibid., p. 76
276
HORVATH, ibid., p. 77.
277
HORVATH, ibid., p. 78.
278
HUGON, Paul. O imposto. Teoria moderna e principais sistemas. São Paulo: Renascença, 1945. In: CONTI,
José Maurício. Princípios da capacidade contributiva e da progressividade. São Paulo: Dialética, 1997, p.
76.
77

De acordo com o citado doutrinador, um imposto proporcional não apresentaria


uma avaliação verdadeira da capacidade contributiva, pois não assegura a igualdade de
sacrifício. Já com a progressividade, é possível obter uma maior exatidão na apuração, vez
que “o imposto aumenta mais que proporcionalmente aos recursos tributáveis”. Portanto, a
progressividade tem como fundamento igualar o sacrifício dos contribuintes, na medida de
sua capacidade contributiva. 279
Relacionando proporcionalidade e progressividade, cabe um breve comentário:
é importante salientar que o princípio da progressividade opõe-se ao princípio da
proporcionalidade. Neste último, a alíquota seria a mesma; variaria o montante a ser pago a
título de imposto, proporcional à renda auferida. Em matéria tributária tal medida deve ser
rechaçada, pois se estaria aplicando a mesma alíquota a todos os contribuintes, sem considerar
as suas características pessoais. A aplicação proporcional acabaria por ferir os princípios da
capacidade contributiva, da isonomia e a própria justiça fiscal.280
Contudo, os autores contrários ao princípio da progressividade levantam
dúvidas acerca da efetividade da justiça fiscal promovida pelo princípio em tela.
Nessa esteira, Walter Blum e Harry Kalven, citados por Luís Eduardo
Schoueri, asseveram que a adoção da progressividade pode trazer inconsistências na
incidência do imposto de renda. Na visão deles, quanto maior a complexidade do imposto,
maior a possibilidade de abrirem-se brechas por onde os contribuintes mais informados
fugiriam da tributação. Ocorrendo esta situação, haveria enorme desigualdade entre os
contribuintes, eis que “ao mesmo tempo, a complexidade torna obscuras as implicações de
qualquer nova norma tributária sobre os contribuintes individuais”.281
Outro argumento levantando por alguns autores contrários ao princípio da
progressividade é que, ao obrigar aqueles que auferem mais renda a pagar mais imposto, se
estaria penalizando o contribuinte mais ousado, que trabalha mais ou que é mais criativo. Na
visão desses juristas, ao penalizar com maiores tributos aqueles que mais produzem, a
progressividade tributária passa a ser injusta. E como consequência, poderia desmotivar o
esforço e a criatividade, reduzindo a produtividade da sociedade – impactando no processo de
criação do capital - o que, em última análise, prejudicaria esta sociedade como um todo.282

279
HUGON, ibid., p. 76.
280
BIFANO, ibid., p. 145-147.
281
BLUM, Walter; KALVEN JR., Harry. The uneasy case for progressive taxation. The University of Chicago
Law review, v. 19, 1952. In: SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 357.
282
CONTI, ibid., p. 357.
78

Em sentido semelhante, Ives Gandra da Silva Martins ensina que o princípio da


progressividade é decadente, vez que atua no sentindo de “afastar os investimentos e
desestimular a vinda de capitais por tributar excessivamente o lucro, a renda e o
patrimônio”.283
A par dos pontos positivos e negativos do princípio da progressividade, é
necessário fazer uma breve análise da aplicação prática desse princípio no nosso país. Nesse
sentido, constata-se que a ferramenta utilizada para a implementação da progressividade no
imposto de renda, no que tange às pessoas físicas, é a chamada tabela progressiva. Nessa
tabela encontram-se previstas as alíquotas, em bases mensais ou anuais, que serão aplicadas à
base de cálculo apurada. 284
Assim, a atual sistemática de apuração (ano-calendário 2012) do imposto sobre
a renda das pessoas físicas prevê a aplicação de quatro alíquotas nominais diferentes, além da
faixa de isenção, definidas pela Lei 11.482 de 2007, com modificações da Lei 12.469 de
2011, da seguinte maneira: isento, para quem apresentar rendimentos mensais até R$1.637,11;
b) 7,5%, para quem auferir renda mensal entre R$1.637,12 e R$2.453,50; c) 15%, para
aqueles que obtiverem renda mensal de R$2.453,51 até R$3.271,38; d) 22,5%, àqueles que
experimentarem renda mensal entre R$3.271,39 e R$4.087,65; e e) 27,5% para o contribuinte
que auferir renda mensal acima de R$4.087,65.285 Frise-se, por oportuno, que os limites aqui
apresentados variam conforme o ano-calendário.
Contudo, em que pese o imposto de renda apresente um sistema de alíquotas
gradativas, o critério da progressividade não é cumprido em sua plenitude, necessitando de
aperfeiçoamentos para que seu objetivo seja cumprido. Pode-se afirmar que a quantidade de
alíquotas ora existentes não são suficientes para abranger as mais diversas possibilidades de
renda auferida pela pessoa física. No atual formato, quem aufere renda de, por exemplo,
R$5.000,00/mês pagará, proporcionalmente, o mesmo que uma pessoa que auferir uma renda
mensal de R$ 30.000,00 pagaria. A tabela apenas manteria uma aparência de progressividade.
É isto que ensina Roque Antonio Carrazza:
Já é uma tentativa, tíbia embora, de imprimir-se ao IPRF caráter pessoal, graduando-
o de acordo com a capacidade do contribuinte. Escrevemos “tíbia” porque cinco
alíquotas e, ainda por cima, sobre valores pequenos e extremamente próximos entre
si é, segundo estamos convencidos, muito pouco para abarcar todo o universo de
rendimentos mensais possíveis das pessoas físicas. Ademais, tal “equiparação”

283
CONTI, ibid., p. 78.
284
A base de cálculo é composta dos rendimentos tributáveis auferidos no período de apuração, menos os
descontos previstos em lei.
285
Tabela progressiva mensal com as alíquotas e base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física (ano-
calendário 2012), de acordo com a Lei 12.469 de Agosto de 2011. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12469.htm>. Acesso em: 10 de mar. 2012.
79

agride o próprio princípio da isonomia, já que, nos rendimentos mensais superiores


a R$3.743,19286, pessoas em situações econômicas diversas são tributadas sob a
mesma alíquota de 27,5%. 287

Todavia, vale ressaltar que, conforme alerta Luís Eduardo Schoueri, a


progressividade não deve ser vista como um mandamento absoluto. Isto porque, ao inserir no
texto constitucional a expressão “na forma da lei”, o constituinte já imaginava situações onde
a progressividade não seria aplicada. Contudo, continua o citado jurista, uma vez adotada a
progressividade, qualquer desvio desta “deve ser justificado por outros valores igualmente
relevantes”. Caberia, então, ao intérprete da norma perguntar por que determinado rendimento
fugiria à progressividade.288
Em remate, a progressividade encontrará seu limite máximo no momento em
que o montante superar a capacidade econômica da pessoa, tornando-se confiscatório; e seu
limite mínimo encontra-se quando a tributação vier a incidir sobre o mínimo necessário à
subsistência da pessoa, o mínimo vital. 289 Vale lembrar que, conforme ensina Gisele Lemke,
quando o imposto de renda alcançou um nível confiscatório, este tributo já ultrapassou, há
muito, o limite máximo da capacidade contributiva.290

286
O autor refere-se à alíquota vigente no ano-calendário 2011. Atualmente, no ano-calendário 2012, a alíquota
de 27,5% incide sobre os rendimentos mensais superiores a R$4.087,65.
287
CARRAZZA, ibid., p. 128.
288
SCHOUERI, ibid., p. 356.
289
CARRAZZA id., 2009, p.72.
290
LEMKE, ibid., p. 51.
80

4 O IMPOSTO DE RENDA E OS GANHOS LÍQUIDOS AUFERIDOS EM RENDA


VARIÁVEL

No primeiro capítulo foi feita uma análise acerca da sistemática do imposto de


renda, além de estudar os mais diversos conceitos de renda adotados pela doutrina. Já no
capítulo anterior, foram abordados os princípios constitucionais informadores do imposto de
renda, e a sua importância para a consecução de uma tributação mais justa. A partir das
constatações até aqui anotadas, passa-se a verificar a sistemática do imposto de renda das
pessoas físicas incidente nos ganhos líquidos em renda variável - também chamado de
imposto de renda nos ganhos no mercado de capitais - a fim de averiguar se o tributo observa
os preceitos do imposto de renda e seus princípios constitucionais informadores.
Porém, antes de adentrar nos pormenores do imposto de renda nos ganhos
líquidos em renda variável, cabe fazer aqui uma explicação mais detalhada acerca do termo
“renda variável”. Neste sentido, André Ricardo Passos de Souza explica que será renda
variável quando:
A renda auferida pelo investidor decorrer de ganho que não corresponda a
remuneração predeterminada estipulada em contrato ou título, mas de ”mais-valia”
obtida pelo investidor em razão de alienação do título, contrato ou de sua posição
(ativa ou passiva) no negócio jurídico [...].291

Já Roberto Quiroga Mosquera apresenta um conceito de renda variável


construído sobre o conceito de renda estipulado pelo art. 43, I, do CTN.292 Assim, o referido
jurista entende a renda variável da seguinte forma:
(...) ela consiste no produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos,
decorrente de um determinado negócio jurídico, onde o beneficiário não pode
prever, quando da sua realização, se haverá renda efetiva na liquidação respectiva,
uma vez que esta está sujeita a variações de natureza aleatória, isto é, que há uma
imprevisibilidade no que diz respeito à auferição de renda.293

Feita esta breve explicação terminológica, parte-se para a estrutura jurídica do


mercado de capitais.
O mercado de capitais, também conhecido como mercado de renda variável,
tem sua estrutura normativa e organizacional dada pela Lei 6.385/73 e ulteriores alterações.294

291
PASSOS DE SOUZA, André Ricardo. A tributação da renda nas operações praticadas no âmbito do mercado
financeiro e de capitais e os novos títulos para financiamento do agronegócio. In: Revista de Direito
Mercantil, São Paulo, SP, N.º 141, ago. 2006.
292
Código Tributário Nacional, art. 43, I: “de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da
combinação de ambos”.
293
MOSQUERA, ibid., p. 62.
294
PASSOS DE SOUZA, ibid., p. 217-218.
81

Assim como as demais normas, as regras jurídicas atinentes ao mercado de capitais devem
submeter-se à Constituição Federal de 1988 e aos princípios norteadores ali contidos.295
Em seu bojo, a legislação atinente ao imposto de renda apresenta normas
específicas quanto à tributação dos ganhos líquidos auferidos nas operações em renda
variável. Neste contexto, ressalta-se que, segundo a legislação tributária brasileira, o fato
gerador do imposto de renda constitui-se em auferir ganhos líquidos nas operações realizadas
pelo contribuinte, ou seja, obter resultados que representem acréscimo patrimonial. 296 Além
disso, o produto destas operações deve estar disponível econômica ou juridicamente ao
investidor.297
No entanto, a tributação sobre os ganhos líquidos obtidos em operações com
renda variável é recente; tem pouco mais de trinta anos.298
Fazendo um breve apanhado histórico, é de se destacar que até a edição da Lei
4.728/1965 não havia uma distinção objetiva no que pertine às regras tributárias aplicadas à
renda fixa e à variável. A definição do conceito de “ganho líquido” surgiu apenas em 1988, no
art. 40, §1º, da Lei 7.713.299 Em síntese, o referido dispositivo estipulou que o ganho líquido é
o produto da soma algébrica dos ganhos, deduzidos os custos e despesas operacionais. Em
1996, a Lei 9.430 passou a determinar que os ganhos líquidos no mercado de balcão (ativos
não negociados em Bolsa) tivessem o mesmo tratamento dos ganhos obtidos em Bolsa.300
Hodiernamente, as regras atinentes à tributação dos ganhos líquidos em renda
variável são expressas pela Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010. Assim, para fins de
incidência do imposto de renda, a Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, complementando
a Lei 8.981/95 e posteriores, define como operações em renda variável: i) operações
praticadas por clubes de investimento, fundos de investimento e congêneres que investem em
ações; ii) swaps (de índices, preços, taxas, entre outros); iii) operações à vista, a termo ou a
futuro realizadas nas bolsas de valores, mercadorias e futuros ou, inclusive, operações fora da
bolsa (vista, opções, termo, futuro e ouro, ativo financeiro).

295
MOSQUERA, ibid., p. 218.
296
PASSOS DE SOUZA, ibid., p. 222.
297
SILVA, Genison Augusto Couto. Imposto de renda em aplicações financeiras. In: Revista Dialética de
Direito Tributário, São Paulo, SP. N.º 71, p. 77-83, ago. 2001.
298
BIFANO, ibid., p. 246.
299
Art. 40, §1º, da Lei 7.713/88: “Considera-se ganho líquido o resultado positivo auferido nas operações ou
contratos liquidados em cada mês, admitida a dedução dos custos e despesas efetivamente incorridos,
necessários à realização das operações, e à compensação das perdas efetivas ocorridas no mesmo período”.
300
BIFANO, ibid., p. 247.
82

Interessante observar que o conceito de ganho líquido não se alterou com o


tempo. O art. 45, §3º,301 da citada instrução normativa, mantém redação semelhante ao art. 40,
§1º, da Lei 7.713, anteriormente referida.
Antes de prosseguir, porém, é importante esclarecer alguns termos utilizados
para denominar as diversas operações em renda variável.
De acordo com o art. 18, §2º, da Instrução Normativa RFB 1.022/2010,302 para
fins de incidência do imposto de renda, serão considerados fundos de investimentos em ações
os fundos cuja carteira seja composta por, pelo menos, 67% de ações negociadas no mercado
à vista de bolsas de valores ou entidade assemelhada, no Brasil ou no exterior, na forma
regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários.
Neste sentido, de acordo com Arnaldo Luiz Corrêa e Carlos Raíces, o swap
constitui-se num “[...] acordo de troca ou permuta de contrato no qual (as partes) concordam
em liquidar, em uma data futura, uma operação realizada no presente, com a intenção de
eliminar riscos – por descompasso entre ativo e passivo – e rentabilidade”.303
Também é importante explicar a diferença entre operações a termo e futuro.
Operações a termo são contratos de compra e venda com entrega futura de um bem - onde as
partes da operação comprometem-se a comprar e vender um determinado ativo, a um valor
previamente determinado. Os contratos a termo terão liquidação integral no vencimento.304
O mercado futuro é praticamente igual ao mercado a termo, sendo tido como
uma evolução deste. A principal diferença é que, enquanto no mercado a termo a liquidação
dá-se somente no vencimento do contrato, no mercado futuro os compromissos são ajustados
diariamente, de acordo com as expectativas do mercado referente ao preço futuro daquele
ativo.305

301
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 45, §3º: “Considera-se ganho líquido o resultado positivo
auferido nas operações de que tratam os arts. 47 a 51 realizadas em cada mês, admitida a dedução dos custos e
despesas incorridos, necessários à realização das operações”.
302
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 18, §2º: “Para efeito do disposto neste artigo, consideram-se
fundos de investimento em ações aqueles cujas carteiras sejam constituídas, no mínimo, por 67% (sessenta e sete
por cento) de ações negociadas no mercado à vista de bolsa de valores ou entidade assemelhada, no País ou no
exterior, na forma regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários.”
303
CORRÊA, Arnaldo; RAÍCES, Carlos. Derivativos agrícolas apud PASSOS DE SOUZA, André Ricardo. A
tributação da renda nas operações praticadas no âmbito do mercado financeiro e de capitais e os novos títulos
para financiamento do agronegócio In: Revista de Direito Mercantil, n. 141, São Paulo : Malheiros, 2006, p.
223.
304
Informação retirada do site da BM&F Bovespa. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-
br/educacional/iniciantes/mercados-de-derivativos/tipos-de-mercados-derivativos/tipos-de-mercados-
derivativos.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em: 06 de abril de 2012.
305
Informação retirada do site da BM&F Bovespa. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-
br/educacional/iniciantes/mercados-de-derivativos/tipos-de-mercados-derivativos/tipos-de-mercados-
derivativos.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em: 06 de abril de 2012.
83

Em se tratando de ações, é importante destacar que as remunerações das


operações com estes ativos apresentam duas naturezas: dividendos e ganhos líquidos. Os
dividendos são as remunerações pagas aos sócios devido à distribuição do lucro gerado pela
empresa; os dividendos não estão sujeitos à tributação. Os ganhos líquidos, por sua vez, são
aqueles auferidos nas operações realizadas em cada mês, admitido a dedução dos custos e
despesas operacionais; aos ganhos líquidos incide o imposto de renda.306
Viu-se, portanto, quais aplicações financeiras são consideradas operações em
renda variável pela nossa legislação; E que, por serem operações em renda variável, estão
sujeitas ao imposto de renda nos ganhos de capital, a teor das regras estipuladas pela Instrução
Normativa RFB n° 1.022/2010.
Salienta-se, ainda, que estas normas também devem subordinar-se à
Constituição Federal de 1988 e aos princípios constitucionais tributários, até mesmo por uma
questão hierárquica, conforme visto no capítulo anterior.

4.1 O Regime de Tributação do Imposto de Renda nos Ganhos Líquidos em Renda


Variável

A par do funcionamento geral do mercado de capitais, no que tange ao imposto


de renda, bem como dos conceitos de ganho líquido e “renda variável”, passa-se a estudar as
características que compõem o imposto de renda dos ganhos auferidos em renda variável.
Então, para fins deste estudo, tem-se como regime de tributação as regras tributárias atinentes
à obtenção do rendimento ou ganho líquido, isto é, seu fato gerador, sua base de cálculo, sua
alíquota e sua forma de recolhimento.

4.1.1 O fato gerador

O fato gerador do imposto em estudo, conforme abordado no tópico anterior,


consiste em auferir ganho líquido na realização de alguma das operações anteriormente
abordadas do mercado de capitais. Nas palavras de André Ricardo Passos de Souza, os ganhos

306
BIFANO, ibid., p. 248.
84

líquidos significam “a mais-valia (acréscimo patrimonial) de seu investimento quando da


realização (cessão, liquidação ou resgate) em relação ao custo de aquisição do mesmo”. 307
Desta feita, oportuno lembrar que a renda, de acordo com o conceito adotado
pela maior parte da doutrina, é o acréscimo patrimonial produzido pelo capital, trabalho ou
esforço de ambos. Em resumo, é a produção de riqueza nova, o plus, o acréscimo de bens ou
direitos ao patrimônio da pessoa.308
Seguindo nessa linha, vale lembrar que a renda variável consiste no produto do
capital, trabalho o conjunto de ambos, decorrente de um negócio jurídico cujo beneficiário
não pode prever se existirá renda efetiva na liquidação do negócio.309
Portanto, por se tratar de acréscimo patrimonial decorrente do capital, do
trabalho ou ambos, os ganhos líquidos obtidos em operações de renda variável estão sujeitos à
incidência do imposto de renda, de acordo com o art. 45 da Instrução Normativa RFB n°
1.022/2010.310 Ressalta-se que no caso das operações no mercado à vista, também há
possibilidades de isenções.311
Sabendo qual a situação que, uma vez realizada, fará com que incida o imposto
de renda nos ganhos líquidos em renda variável, pode-se passar a estudar sua base de cálculo.

4.1.2 A base de cálculo do imposto de renda nos ganhos em renda variável

No que tange à formação da base de cálculo para o imposto de renda, cada


operação em renda variável apresenta suas regras e nuances. Por isso, faz-se necessário fazer
um breve apanhado acercada formação da base de cálculo deste imposto.

307
SOUZA, André Ricardo Passos de. A tributação da renda nas operações praticadas no âmbito do mercado
financeiro e de capitais e os novos títulos para financiamento do agronegócio In: Revista de Direito
Mercantil, n. 141, São Paulo : Malheiros, 2006, p. 222; Site da BM&F Bovespa. Disponível em:
<http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/custos-e-tributos/tributacao/tributacao.aspx?Idioma=pt-br>.
Acesso em: 06 de abril de 2012.
308
LEMKE ibid., p. 68.
309
MOSQUERA, Roberto Quiroga. O regime jurídico tributário das aplicações financeiras realizadas no
mercado financeiro e de capitais brasileiro In: Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n. 9,
jun/1996, p. 62.
310
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 45: “Esta Seção dispõe sobre a incidência do imposto sobre a
renda sobre os ganhos líquidos auferidos por qualquer beneficiário, inclusive pessoa jurídica isenta, em
operações realizadas nas bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas, existentes no País”.
311
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 48, I e II: “Art. 48. São isentos do imposto sobre a renda os
ganhos líquidos auferidos por pessoa física em operações efetuadas: I - com ações, no mercado à vista de
bolsas de valores ou mercado de balcão, se o total das alienações desse ativo, realizadas no mês, não exceder a
R$ 20.000, 00 (vinte mil reais); II - com ouro, ativo financeiro, se o total das alienações desse ativo, realizadas
no mês, não exceder a R$ 20.000,00 (vinte mil reais)”.
85

Neste contexto, de acordo com o art. 47, da Instrução Normativa RFB n°


1.022/2010,312 tem-se que a base de cálculo no mercado à vista será composta pelo ganho
líquido do mês, que consiste no resultado positivo entre o valor de alienação dos ativos menos
os custos operacionais para sua aquisição.
Para os fundos e clubes de investimento, a base de cálculo será formada pela
diferença positiva entre o valor de resgate e valor de aquisição da cota, considerados pelo seu
valor patrimonial. 313
Já as operações de swap têm sua base de cálculo para o imposto de renda
formados a partir do resultado positivo na liquidação ou cessão do contrato, podendo ser
considerados como custo da operação os valores pagos a título de cobertura contra eventuais
perdas incorridas em operações de swap.314
A formação da base de cálculo do mercado futuro dá-se pelo resultado positivo
da soma algébrica dos ajustes diários apurados na liquidação dos contratos ou na cessão ou
encerramento da posição em cada mês, admitindo-se a dedução das despesas necessárias
incorridas na realização das operações.315
As operações no mercado a termo, por sua vez, apresentam três hipóteses para
a formação da base de cálculo, ou ganho líquido. i) comprador: a base é formada pelo
resultado positivo entre o preço de venda das ações na data da liquidação do contrato
subtraído o preço nele estabelecido; ii) vendedor à descoberto: será considerado ganho líquido
o resultado positivo entre o preço estabelecido no contrato a termo e o preço da compra a vista
do ativo para a liquidação daquele contrato; iii) vendedor coberto: o ganho líquido, formador
da base de cálculo, será o resultado positivo entre o preço estabelecido no contrato a termo e o
custo médio de aquisição do ativo, exceto na hipótese de operação conjugada a que se refere a
alínea “b” do inciso I do caput do artigo 38 da Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010.316

312
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 47: “Nos mercados à vista, o ganho líquido será constituído pela
diferença positiva entre o valor de alienação do ativo e o seu custo de aquisição, calculado pela média
ponderada dos custos unitários”.
313
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 18, §1º: “A base de cálculo do imposto será constituída pela
diferença positiva entre o valor de resgate e o custo de aquisição da cota, considerados pelo seu valor
patrimonial”.
314
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 18, §1º e §5º: “§1º A base de cálculo do imposto nas
operações de que trata este artigo será o resultado positivo auferido na liquidação do contrato de swap,
inclusive quando da cessão do mesmo contrato; §5º Na apuração do imposto de que trata este artigo, poderão
ser considerados como custo da operação os valores pagos a título de cobertura (prêmio) contra eventuais
perdas incorridas em operações de swap”.
315
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 50: “Nos mercados futuros, o ganho líquido será o resultado
positivo da soma algébrica dos ajustes diários por ocasião da liquidação dos contratos ou da cessão ou
encerramento da posição, em cada mês”.
316
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 38, I, ‘b’: “no mercado a termo nas bolsas de que trata a alínea
“a”, em operações de venda coberta e sem ajustes diários”.
86

Destaca-se que, de acordo com a Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 45, §3º,
qualquer das situações expostas admite a dedução das despesas operacionais incorridas.317
A apuração da base de cálculo do mercado de opções é um pouco mais
intrincada. Vale dizer, dependerá do tipo de negócio realizado, e é determinada da seguinte
forma: i) negociação de opções: a base de cálculo é formada pelo resultado positivo apurado
no encerramento de opções da mesma série; ii) titular da opção de compra: base de cálculo é a
diferença positiva entre valor de venda à vista do ativo da data do exercício, acrescido do
valor do prêmio; iii) lançador da opção de compra: o ganho líquido constitui-se na diferença
positiva entre o preço de exercício da opção, mais o valor do prêmio e custos de aquisição da
ativo objeto do exercício; iv) titular da opção de venda: considera-se ganho líquido a
diferença positiva entre o preço de exercício da opção e o valor da compra à vista do ativo,
juntamente com o valor do prêmio; v) lançador da opção de venda: neste último caso, a base
de cálculo será o resultado positivo da diferença entre o preço da venda à vista do ativo da
data do exercício da opção e o preço de exercício da opção, acrescido do valor do prêmio. 318
É importante salientar que nas operações denominadas day trade319 a base de
cálculo será composta pelo resultado positivo apurado no encerramento da operação. Detalhe
interessante é que a legislação referente aos ganhos em renda variável denomina o montante
auferido em operações day trade como sendo rendimento.320
Vale destacar, ainda, que é permitida a dedução das despesas operacionais para
fins do cálculo do montante tributável. Embora num primeiro momento possa-se associar
estas despesas a qualquer valor cobrado do contribuinte em relação às operações realizas,
estas deduções não são tão abrangentes assim. Desse modo, tem-se como “despesas
operacionais” as despesas descontadas que constam nas notas de corretagem, tais como, valor

317
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 51, I, II e III: “Art. 51. Nos mercados a termo, o ganho
líquido será constituído: I - no caso do comprador, pela diferença positiva entre o valor da venda à vista do
ativo na data da liquidação do contrato a termo e o preço nele estabelecido; II - no caso do vendedor
descoberto, pela diferença positiva entre o preço estabelecido no contrato a termo e o preço da compra à vista
do ativo para a liquidação daquele contrato; III - no caso de vendedor coberto, pela diferença positiva entre o
preço estabelecido no contrato a termo e o custo médio de aquisição do ativo apurado na forma do art. 47,
exceto na hipótese de operação conjugada a que se refere a alínea ‘b’ do inciso I do caput do art. 38”.
318
BIFANO ibid., p. 269-270.
319
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 55, I: “I - day-trade: a operação ou a conjugação de
operações iniciadas e encerradas em um mesmo dia, com o mesmo ativo, em uma mesma instituição
intermediadora, em que a quantidade negociada tenha sido liquidada, total ou parcialmente; (Redação dada
pela Instrução Normativa RFB nº 1.236, de 11 de janeiro de 2012)”.
320
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 54, §1º, II: “rendimento: o resultado positivo apurado no
encerramento das operações de day-trade”.
87

da corretagem, emolumentos, etc. Então, esses valores devem ser deduzidos do preço de
venda dos ativos ou contratos negociados.321
Como será visto no item 4.1.3, nos ganhos líquidos também há a incidência do
imposto retido na fonte. Este imposto, apesar de constar na nota de corretagem, não é uma
despesa dedutível. Contudo, o imposto de renda retido na fonte poderá ser deduzido
diretamente do imposto devido, conforme será mais bem estudado no item supracitado.322
Menciona-se, por oportuno, que também é possível haver a compensação de
perdas incorridas no mês com o ganho líquido auferido. Porém, antes de prosseguir, é
importante fazer uma distinção acerca do termo “compensação”. Tem-se no Direito Tributário
que quando o contribuinte paga um tributo que não deve, ou paga a maior, este tem direito à
restituição ou compensação. No entanto, aqui, a compensação refere-se às perdas havidas em
determinado período, que é aplicada ainda na determinação da base de cálculo.323
Feito este breve esclarecimento, parte-se para a explicação da compensação do
imposto de renda nos ganhos em renda variável. Neste sentido, só poderão ser compensadas
perdas com rendimentos ou ganhos líquidos obtidos em operações da mesma espécie, ou seja,
só será possível compensar perdas em operações day trade com rendimentos auferidos em
operações dessa espécie, assim como perdas incorridas em operações comuns só poderão ser
compensadas com ganhos auferidos em operações comuns.324
Entretanto, no que tange às modalidades, não há esta restrição. É possível
compensar resultados positivos obtidos no mês em qualquer tipo de operação (à vista, opções,
futuro, etc.) com as perdas havidas no mês nas demais modalidades, desde que seja o mesmo
tipo de operação (comum ou day trade). Assim, pode-se, por exemplo, compensar uma perda
havida no mercado futuro com o ganho obtido no mercado à vista.325
Com efeito, é possível, ainda, compensar as perdas havidas nos meses
anteriores com os resultados positivos obtidos nos meses seguintes, para a determinação da
base de cálculo desses meses subsequentes. Todavia, o oposto é vedado, isto é, não se pode
aproveitar perdas atuais a fim de compensá-las com ganhos passados, pois o imposto em
comento apresenta tributação definitiva e incide mensalmente.326

321
LO VISCO, Murillo. Imposto de renda no mercado de ações: a tributação sobre os ganhos de pessoa física
na bolsa de valores. São Paulo: Novatec, 2012, p. 91-92.
322
LO VISCO, ibid., p. 93.
323
LO VISCO, ibid., p. 45.
324
LO VISCO, ibid., p. 261.
325
LO VISCO, loc. cit.
326
LO VISCO, ibid., p. 271.
88

Desta forma, em sendo negativo o resultado mensal nas operações, não haverá
como compor a base de cálculo, então, não há imposto devido. Também não existirá base de
cálculo e, consequentemente, imposto a ser recolhido, se o resultado da compensação entre o
resultado mensal positivo e o eventual saldo de perdas acumulado nos meses anteriores for
negativo.327
Apesar de a formação da base de cálculo das mais diversas operações de renda
variável não ser algo uniforme, seu entendimento não é complicado, eis que, em resumo, é o
ganho líquido auferido na operação realizada. Agora, tendo conhecimento do fato gerador e
da base de cálculo a ser utilizada na tributação dos ganhos em renda variável, passa-se a
estudar a alíquota incidente nestes ganhos.

4.1.3 A alíquota e o recolhimento do imposto de renda nos ganhos em renda variável

Sabendo-se qual é o fato gerador do imposto em estudo, bem como de que


forma é apurada sua base de cálculo, chega-se ao ponto de analisar as alíquotas incidentes à
base de cálculo, bem como quais os regimes de tributação aplicados a partir de tal incidência.
Inicialmente, é importante esclarecer que os ganhos líquidos auferidos em
renda variável estão sujeitos à tributação definitiva.328 Isto é, os ganhos líquidos auferidos não
farão parte do cálculo dos rendimentos tributáveis na declaração de ajuste anual. O montante
deverá apenas ser informado, a fim de evitar acréscimo patrimonial a descoberto.329 Além
disso, sua apuração é realizada em separado dos demais rendimentos auferidos pelo
contribuinte.
Atinente à alíquota aplicável aos ganhos líquidos em renda variável, a Lei
11.033/2004 e, posteriormente, pelos arts. 18 e 46 da Instrução Normativa RFB n°
1.022/2010,330 instituiu que os ganhos líquidos em renda variável, exceto nos casos de

327
LO VISCO, ibid., p. 271.
328
De acordo com Mary Elbe Queiroz, a incidência definitiva significa que “no momento em que se auferir o
ganho de capital ou o ganho líquido no mercado de renda variável, o próprio contribuinte apura o valor do
tributo devido, com base em alíquotas fixas, e faz o respectivo recolhimento” (QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto
sobre a renda e proventos de qualquer natureza – tributação das pessoas físicas In: Curso de especialização em
direito tributário: estudos analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho, 1ª Ed., Rio de Janeiro :
Forense, 2005 2005, p. 463).
328
BIFANO, ibid., p. 253.
329
LUI, ibid., p. 151.
330
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, arts. 18 e 46: “Art. 18. Os cotistas dos fundos de investimento em
ações serão tributados pelo imposto sobre a renda exclusivamente no resgate de cotas, à alíquota de 15%
(quinze por cento). (...) Art. 46. Os ganhos líquidos auferidos em alienações ocorridas nos mercados à vista, em
operações liquidadas nos mercados de opções e a termo e em ajustes diários apurados nos mercados futuros
sujeitam-se ao imposto sobre a renda à alíquota de 15% (quinze por cento).”
89

isenção,331 estarão sujeitos a uma alíquota fixa de 15%. No caso de operações day trade, a
tributação terá uma alíquota de 20% sobre os ganhos mensais auferidos neste tipo de
operação, de forma isolada às demais operações realizadas no mercado de capitais.332
Ciente da alíquota aplicada, faz-se necessário fazer uma breve explicação
acerca da periodicidade do recolhimento do imposto em estudo.
A Lei 7.713/88 estabeleceu ser mensal a periodicidade de recolhimento do
imposto de renda nos ganhos em renda variável, sendo que o tributo deve ser pago até o
último dia útil do mês subsequente à sua apuração. Atualmente, o art. 45, §4º, da Instrução
Normativa RFB n° 1.022/2010333 mantém a periodicidade mensal. Importante ressaltar que a
tributação dos ganhos em renda variável é feita de maneira autônoma aos demais rendimentos
auferidos pelo contribuinte.334
Aqui, é relevante referir que o aspecto temporal do imposto de renda suscita
divergências doutrinárias. Entretanto, sobre a questão do aspecto temporal do imposto de
renda, não cabe aqui maiores discussões, vez que tal assunto foi superado no item 2.5 desta
monografia.335
Além do imposto de renda recolhido pelo próprio contribuinte de forma
definitiva, conforme estudado acima, há a incidência do imposto de renda retido na fonte.336
Tal tributação é recente, uma inovação trazida pela Lei 11.033/2004, vez que antes de sua
edição, o imposto de renda sobre os ganhos em renda variável era recolhido só na forma
periódica.337
Então, nas operações em bolsa de valores, mercadorias, futuros e assemelhados
a alíquota do imposto retido na fonte é de 0,005%, e incide sobre os seguintes valores: i) no
mercado à vista: sobre o valor da alienação nas operações com ações, ouro (ativo financeiro) e
outros valores mobiliários negociados no mercado à vista; ii) no mercado de opções: sobre o
331
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 48, caput, I e II: “Art. 48. São isentos do imposto sobre a
renda os ganhos líquidos auferidos por pessoa física em operações efetuadas: I - com ações, no mercado à vista
de bolsas de valores ou mercado de balcão, se o total das alienações desse ativo, realizadas no mês, não
exceder a R$ 20.000, 00 (vinte mil reais); II - com ouro, ativo financeiro, se o total das alienações desse ativo,
realizadas no mês, não exceder a R$ 20.000,00 (vinte mil reais)”.
332
BIFANO, ibid., p. 248.
333
Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 45: “§ 4º O imposto de que trata este artigo será apurado por
períodos mensais e pago pelo contribuinte até o último dia útil do mês subsequente ao da apuração”.
334
BIFANO, ibid., p. 252.
335
Matéria examinada no item 1.5 do primeiro capítulo desta pesquisa.
336
A incidência na fonte, segundo Mary Elbe Queiroz, constitui-se de “retenções efetuadas pelas fontes
pagadoras soba a forma de antecipações, apuradas com base na tabela progressiva, no momento do pagamento
ou crédito do rendimento, seja mensal, no caso dos assalariados, ou, a cada pagamento, quando tratar de
autônomo” (QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza – tributação das
pessoas físicas In: Curso de especialização em direito tributário: estudos analíticos em homenagem a
Paulo de Barros Carvalho, 1ª Ed., Rio de Janeiro : Forense, 2005 2005, p. 463).
337
BIFANO, ibid., p. 253.
90

resultado positivo da soma algébrica dos prêmios pagos e recebidos no mesmo dia; iii) no
mercado futuro: sobre o resultado positivo da soma algébrica dos ajustes diários, apurado na
ocasião do encerramento da posição, seja no seu vencimento ou antecipadamente; iv) no
mercado à termo: a diferença positiva entre o preço do termo e o preço à vista, na liquidação,
em havendo a entrega do bem. 338 Ainda referente ao imposto de renda retido na fonte,
exceção aplica-se às operações denominadas day trade. Neste caso, a alíquota será de 1%
sobre o resultado positivo apurado.339
Vale destacar, por fim, que as operações em renda variável realizadas fora da
bolsa, como no mercado de balcão, também sujeitas ao imposto de renda retido na fonte.340
Destaque-se, por oportuno, que o montante retido na fonte é passível de
deduções e compensações. Neste sentido, o imposto de renda retido na fonte poderá ser: i)
deduzido do imposto sobre os ganhos líquidos auferidos no mês; ii) compensado com o
imposto incidente sobre os ganhos líquidos a serem apurados no mês subsequente; iii)
compensado na declaração de ajuste se, na dedução e compensação citadas anteriormente,
ainda houver saldo de imposto retido; e, por fim, iv) será possível compensar com o imposto
devido sobre o ganho líquido havido na alienação de ações.341
Cabe uma ressalva no que pertine ao mercado swap. O imposto de renda nas
operações realizadas neste mercado apresenta alíquotas progressivas e tem somente tributação
na fonte. Neste caso, a alíquota diminui conforme o tempo em que o investidor mantiver a
operação, da seguinte forma: i) aplicações até 180 dias: 22,5%; ii) aplicações de 181 a 360
dias: 20%; iii) aplicações de 361 a 720 dias: 17,5%; iv) aplicações acima de 720 dias: 15%.342
De vital importância dizer, diferente dos demais ganhos líquidos em renda varável, neste
mercado não cabe ao contribuinte recolher o imposto de renda; ele incide diretamente na
fonte.343

338
BIFANO, ibid., p. 253-254.
339
FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços. 17. ed. Rio de Janeiro: Quality Mark, 2008,
p. 635.
340
BIFANO, ibid., p. 254.
341
FORTUNA, ibid., p. 635-636.
342
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 37, I a IV: “Art. 37. Os rendimentos produzidos por
aplicações financeiras de renda fixa e de renda variável, auferidos por qualquer beneficiário, inclusive pessoa
jurídica isenta, sujeitam-se à incidência do imposto sobre a renda na fonte às seguintes alíquotas: I - 22,5%
(vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento), em aplicações com prazo de até 180 (cento e oitenta) dias; II -
20% (vinte por cento), em aplicações com prazo de 181 (cento e oitenta e um) dias até 360 (trezentos e
sessenta) dias; III - 17,5% (dezessete inteiros e cinco décimos por cento), em aplicações com prazo de 361
(trezentos e sessenta e um dias) até 720 (setecentos e vinte) dias; IV - 15% (quinze por cento), em aplicações
com prazo acima de 720 (setecentos e vinte) dias”.
343
Cf. Instrução Normativa RFB n° 1.022/2010, art. 40, §2º: “Art. 40. Estão sujeitos à incidência do imposto
sobre a renda na fonte, às alíquotas previstas no art. 37, os rendimentos auferidos em operações de swap. (...)
91

Como visto, existem diversas operações realizadas no mercado de capitais cujo


resultado positivo será o chamado ganho líquido ou ganho de capital, onde incidirá o imposto
de renda em análise. Destarte, ciente da sistemática de apuração e recolhimento do imposto
em estudo, resta verificar se essa incidência e cobrança estão de acordo com os princípios
constitucionais informadores do imposto de renda, abordados item 3 desta monografia.

4.2 Imposto de Renda nos Ganhos em Renda Variável: Tributação (In)Constitucional?

A par da sistemática do imposto de renda nos ganhos líquidos em renda


variável, bem como das regras gerais do imposto de renda e dos princípios constitucionais
informadores deste tributo, cabe verificar, fazendo um contraponto com estudo realizado até
agora, os pontos favoráveis e contrários à constitucionalidade do imposto em questão.
Assim, em breve resumo do subitem anterior, pôde-se observar que o imposto
de renda nos ganhos em renda variável tem incidência mensal e apresenta alíquota fixa. Além
disso, o referido imposto também incide de forma autônoma, isto é, em separados dos demais
rendimentos auferidos pelo contribuinte. Entretanto, a incidência e o recolhimento do imposto
de renda nos ganhos em renda variável, conforme exposto, respeitariam as regras gerais do
imposto de renda, abordadas no primeiro capítulo, e, principalmente, seus princípios
constitucionais informadores?
Como os mais diversos tópicos abordados neste estudo, a constitucionalidade,
ou inconstitucionalidade, da incidência do imposto em estudo divide a opinião dos
especialistas.
Adotando o entendimento de que o conceito de renda encontra-se na
Constituição Federal, os defensores344 da inconstitucionalidade do tributo em estudo aduzem
que tributar apenas o ganho líquido auferido é tributar o rendimento, e não a renda, tal qual
estudada no primeiro capítulo. Desta forma, o imposto de renda nos ganhos em renda variável
estaria ferindo, principalmente, os princípios da universalidade, progressividade e da
capacidade contributiva.
Com efeito, estes autores argumentam, em síntese, que ao se tributar somente
uma parcela isolada das demais receitas, e não o efetivo acréscimo patrimonial, estar-se-ia

§ 2º O imposto será retido pela pessoa jurídica que efetuar o pagamento do rendimento, na data da liquidação ou
da cessão do respectivo contrato”.
344
Filiam-se à esta corrente os autores Elidie Palam Bifano, Hugo de Brito Machado, Mary Elbe Queiroz, Roque
Antonio Carrazza e outros.
92

desrespeitando o princípio da universalidade e generalidade. Esta corrente também leciona


que ao fragmentar a renda, tributando apenas um rendimento isolado, não se estaria
considerando a real situação patrimonial do contribuinte, ferindo, portanto, o princípio da
capacidade contributiva. 345
Roque Antonio Carrazza não se opõe a tributação isolada em casos específicos
como, por exemplo, quando as pessoas não podem ser alcanças pelo imposto de renda por
estarem no exterior. No entanto, o referido jurista adverte que o recolhimento a uma alíquota
fixa e em separado das demais receitas é inconstitucional, por não respeitar os princípios da
capacidade contributiva, universalidade, generalidade e progressividade.346
Neste sentido, explica o citado jurista que os ganhos líquidos auferidos nas
operações de renda variável deveriam integrar a base de cálculo do imposto de renda, isto é,
estes ganhos obtidos numa única operação financeira não poderiam ser tributados à parte. Isto
porque, ainda segundo o citado autor, a progressividade permite que se gradue o imposto de
acordo com a capacidade contributiva do indivíduo, concretizando o princípio da capacidade
contributiva. Então, ao apresentar alíquotas fixas, e ao incidir em separado sobre as mais
diversas fontes de rendimento, o imposto de renda nos ganhos líquidos em renda variável
despersonaliza-se, pois abandona o princípio da progressividade e torna-se tão-somente
proporcional. 347 Nas palavras de Roque Antonio Carrazza, “só pode haver progressividade
quando se leva em conta a tributação geral e conjunta de todas as rendas e proventos auferidos
ao final do período de apuração previsto em lei”. 348
Para o autor em destaque, além de afrontar os princípios da progressividade e
da capacidade contributiva, a segregação de apenas parte dos rendimentos também viola o
princípio da universalidade.349 Inclusive, Roque Antonio Carrazza afirma que “o IR não pode
ser seletivo em função da natureza do rendimento auferido 350. Neste sentido, o critério da
universalidade contrapõe-se ao da seletividade”.351
A tributação em separados dos ganhos em renda variável também é criticada
por Misabel Derzi. Ela explica que esta tributação isolada quebraria a unicidade do imposto

345
BIFANO, ibid., p. 317-324.
346
CARRAZZA id., 2009, p. 323.
347
CARRAZZA, ibid., p. 317-319.
348
CARRAZZA, ibid., p. 323.
349
CARRAZZA id., 2011, p. 126-127.
350
Cabe fazer uma rápida explicação acerca da seletividade. Por exemplo, o IPI e o ICMS são tributos que
devem sujeitar-se ao critério da seletividade. Neste sentido, de acordo com Luís Eduardo Schoueri, “a
seletividade se encontra vinculada à essencialidade, indicando que os referidos impostos podem ter alíquotas
variadas, não em função da base de cálculo, como na progressividade, mas em função dos próprios produtos”.
(SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 1ª Ed. São Paulo : Saraiva, 2011, p. 373)
351
CARRAZZA id., 2009, p. 70.
93

de renda, “princípio de suma relevância para se apurar a pessoalidade e a capacidade


contributiva do sujeito passivo, conforme impõe o art. 145, §1º, da Constituição”.352
Entendimento semelhante é apresentado por Ricardo Mariz de Oliveira, ao
afirmar que o recolhimento realizado de forma autônoma e definitiva não atenderia ao caráter
pessoal – ou seja, o princípio da capacidade contributiva - exigido na incidência e cobrança do
imposto de renda. Isto porque, ao desconsiderar a renda global da pessoa, desconsiderando
possíveis deduções, incorrer-se-ia no risco de tributar o indivíduo mesmo que este viesse a ter
redução patrimonial. 353
De igual modo, Elidie Palma Bifano aduz que, em respeito aos princípios
informadores do imposto de renda e, principalmente, o da capacidade contributiva, a renda
deve ser considerada em sua globalidade. Segundo a citada autora, ao tributar parcelas de
renda, o contribuinte poderia “pagar por um acréscimo que não existe, privado que foi de
deduções, perdas e reduções que afetam a totalidade da renda”.354
Hugo de Brito Machado, a seu turno, esclarece que a hipótese de incidência do
imposto de renda seria o acréscimo patrimonial havido dentro de um intervalo de tempo
determinado. Ainda, para que haja respeito ao princípio da universalidade, deve-se considerar
o patrimônio da pessoa como um todo, isto é, todas as operações realizadas num mesmo
período pelo contribuinte devem ser tributadas conjuntamente.355
Todavia, também existe outra corrente - embora minoritária – que defende não
haver inconstitucionalidade na incidência e recolhimento, feito de forma autônoma, sobre os
ganhos em renda variável. 356 Isto porque, pela interpretação dada por estes juristas, cada novo
ingresso ao patrimônio pode ser considerado como renda. Logo, ao respeitar o conceito de
renda, estar-se-ia, indiretamente, respeitando aos princípios informadores do imposto de
renda, bem como o princípio da capacidade contributiva.
Desta forma, para Zuudi Sakakihara, nada impediria o legislador ordinário de
estipular que cada acréscimo patrimonial seja tributado de forma independente dos demais,
vez que cada rendimento obtido é riqueza nova que se agrega ao patrimônio do contribuinte.
Como se não bastasse, para o autor em tela, o legislador ordinário tem a liberdade para definir

352
BALEEIRO, ibid., p. 169.
353
Os princípios fundamentais de imposto de renda e a tributação das aplicações financeiras apud BIFANO,
Elidie Palma. O Mercado financeiro e o imposto sobre a renda. 2ª Ed. São Paulo : Quartier Latin, 2011, p.
173.
354
BIFANO, ibid., p. 154
355
A supremacia constitucional e o Imposto de Renda In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Imposto
de renda: conceitos, princípios, comentários. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 1996, pp. 41-56.
356
Os principais defensores desta corrente são os juristas Alcides Jorge Costa, Fábio Fanucchi, Ives Gandra da
Silva Martins e Zuudi Sakakihara.
94

o fato gerador do imposto, além de não haver obrigatoriedade de considerar os acréscimos


patrimoniais dentro de um lapso de tempo.357
Para Marcelo Guerra Martins, a lei ordinária está facultada a definir que cada
incremento patrimonial seja tributado de forma autônoma. A tributação autônoma considera a
variação patrimonial de modo dinâmico e individualizado analisando a realidade presente e
imediata do contribuinte. Por isso, não haveria ofensa aos princípios informadores do imposto
de renda, nem ao princípio da capacidade contributiva. 358
Adotando uma concepção legalista de renda, Ives Gandra da Silva Martins
explica que, a teor do art. 43 do CTN,359 a hipótese de incidência do imposto de renda não
pode ser considerada como sendo um conjunto de aquisições de disponibilidade econômica,
mas sim, que cada aquisição de disponibilidade deve ser considerada de maneira autônoma. 360
Ives Gandra da Silva Martins afirma que para “cada tipo de fato gerador pode a
lei tributária adotar regime especial, nada impedindo que adote regimes diversos para o
mesmo contribuinte produtor de fatos geradores de natureza distinta, ou seja, aquisições de
disponibilidade distintas”. Por fim, este jurista explica, ainda, que a tributação em separado e
de forma definitiva tem respaldo constitucional, principalmente por entender que o princípio
da universalidade não deve ser compreendido como o princípio da reunião de todos os
rendimentos numa mesma base de cálculo.361
Entendimento semelhante é apresentado por Alcides Jorge Costa, ao aduzir que
a renda não precisa ser reunida, necessariamente, numa mesma base de cálculo para que haja
a incidência do imposto de renda. Isto é, para este doutrinador, cada aquisição de
disponibilidade pode ser tributada isoladamente pelo imposto de renda.362 Já para Fábio

357
SAKAKIHARA, ibid., p. -153.
358
MARTINS, Marcelo Guerra. Considerações em torno do aspecto temporal do imposto sobre a renda. Revista
CEJ, Brasília, v. 9, n. 28, p. 86, jan./mar. 2005. Disponível em:
<http://www2.cjf.jus.br/ojs2/index.php/cej/article/viewFile/650/830>. Acesso em: 10 de março de 2012.
359
Art. 43, caput do Código Tributário Nacional: “Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e
proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica”.
360
A hipótese de imposição do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, etc., em Imposto de
Renda – Estudos 37, 04/93, pp.09-25 apud LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de renda e de
disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo : Dialética, 1998, p. 78.
361
A hipótese de imposição do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza. A convivência de
regimes jurídicos distintos para a apuração do 'quantum debeatur' concernente ao referido tributo - opinião
legal In: Suplemento Tributário, LTr, 28/1993.
362
Imposto sobre a Renda – A aquisição de disponibilidade jurídica ou econômica como seu fato gerador. Limite
de sua incidência. RDT 40, pp. 103-107 apud LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de renda e de
disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo : Dialética, 1998, p. 94.
95

Fanucchi, cada fato gerador é possível de originar uma obrigação tributária distinta, portanto,
sendo passível da incidência do imposto de renda, mesmo que isoladamente.363
Ainda acerca da constitucionalidade da tributação isolada e definitiva, o
consultor da União, Oswaldo Othon Pontes Saraiva Filho, em parecer dado em 28 de
setembro de 2000, manifestou-se no sentido de que tal tributação respeita os princípios
constitucionais informadores do imposto de renda, sendo muito eficiente nos casos em que a
apuração do real acréscimo patrimonial seja difícil de aferir. 364 Com efeito, explica o
consultor que:
O fato é que, como regra geral, a Constituição Federal utilizou o conceito de renda e
proventos como acréscimo patrimonial, variando esse conceito nos dois polos: um
deles como renda líquida ou lucro líquido, nos termos da lei comercial, mas acolheu,
também no outro polo, a incidência do imposto de renda sobre a receita bruta, nas
hipóteses em que, sucedida a disponibilidade da renda, ocorrendo aí o rendimento,
há a impossibilidade de o Fisco brasileiro quantificar em termos reais esse
acréscimo.365

No que tange às decisões dos tribunais a respeito da tributação pelo imposto de


renda dos ganhos líquidos obtidos em renda variável, nota-se que não há muitas apreciações
por partes das cortes brasileiras. Porém, em que pesem os poucos julgados acerca do assunto,
os tribunais têm entendido que a tributação isolada de tais aplicações financeiras não só é
legal, como também é constitucional.
Assim, nas poucas apreciações sobre o assunto, o Tribunal Regional Federal da
4ª Região tem rejeitado a ideia de que exista inconstitucionalidade na incidência e cobrança
de tal tributo. O argumento reside no fato de que nem a Constituição Federal, tampouco o
Código Tributário Nacional, delimitaram um conceito rígido de renda ou acréscimo
patrimonial. Para a jurisprudência do tribunal, o simples ingresso de renda ao patrimônio pode
ser visto como acréscimo patrimonial, mesmo que estas entradas de riqueza nova não
resultem em acréscimo patrimonial ao final do período de apuração do imposto de renda. Por
conseguinte, segundo o entendimento do Tribunal Federal, a simples obtenção de ganhos

363
Curso de direito tributário brasileiro, vol. II, p. 66 apud LEMKE, Gisele. Imposto de renda: os conceitos de
renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São Paulo : Dialética, 1998, p. 78.
364
Parecer acerca da incidência ou não do Imposto de Renda sobre receitas provenientes do exterior. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_18/parecer_gm12.htm>. Acesso em: 16 de fev. de
2012.
365
Parecer acerca da incidência ou não do Imposto de Renda sobre receitas provenientes do exterior. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_18/parecer_gm12.htm>. Acesso em: 16 de fev. de
2012.
96

numa aplicação financeira pode ser considerada acréscimo patrimonial. Por isso, concluem os
tribunais não haver ofensa aos princípios da generalidade, progressividade e universalidade. 366
Além dos tópicos acima expostos, outra questão tormentosa a respeito da
constitucionalidade do imposto de renda nos ganhos em renda variável reside na
periodicidade da exigência de tal tributo. De acordo com o estudo realizado no subitem
anterior, foi visto que o imposto de renda nos ganhos líquidos auferidos em operações de
renda variável tem periodicidade mensal, definida pela Lei 7.713/88 e ulteriores alterações.
Embora a periodicidade já tenha sido objeto de análise no primeiro capítulo
deste estudo, vale lembrá-la quando se aborda a (in)constitucionalidade do imposto de renda
nos ganhos em renda variável.
Então, discorrendo acerca da periodicidade, Mary Elbe Queiroz ensina que,
para o imposto de renda atender aos preceitos constitucionais, deve haver um lapso de tempo
suficiente para permitir o cômputo do acréscimo patrimonial. 367 Para ela, a incidência do
imposto de renda para as pessoas físicas é anual, com o seu fato gerador se perfectibilizando
no dia 31 de dezembro de cada ano, alcançando todas as rendas e/ou proventos e despesas
compreendidas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de cada ano.368
José Artur Lima Gonçalves entende que advém da Constituição Federal, ainda
que implicitamente, a noção de que a periodicidade da incidência do imposto de renda é
anual. Conforme o autor, a organização estatal, estipulada pela Constituição Federal de 1988,
está calcada na ideia de periodicidade anual. Então, assim como ocorre com o conceito de
renda, também a periodicidade deve ser interpretada em consonância com as demais
disposições que tratam da mesma questão.369
Contudo, alguns doutrinadores entendem que os rendimentos podem ser
cobrados de maneira isolada, sem desrespeitar a Constituição Federal, vez que ela não impõe
um período anual, como defendem os juristas anteriores.
Com efeito, embora Ricardo Mariz de Oliveira se oponha à tributação isolada,
ele defende ser possível que a lei ordinária estipule um período de apuração do acréscimo
patrimonial. Nas palavras do autor citado, “o imposto sobre a renda pode incidir sobre

366
Neste sentido: TRF, 4ª R, 1ª T, AMS 96.04.44065-9/RS, 2000; TRF, 4ª R, 1ª T, AMS 95.04.29818-4/RS,
1997.
367
QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza – tributação das pessoas
físicas In: DE SANTI. Eurico Marcos Diniz (Coord.). Curso de especialização em direito tributário: estudos
analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho, 1ª Ed., Rio de Janeiro : Forense, 2005, pp. 462-463.
368
Ibidem, p. 463.
369
Imposto sobre a renda – pressupostos constitucionais apud CARRAZZA, Roque Antônio. Imposto sobre a
renda (perfil constitucional e temas específicos). 3ª Ed. rev., ampl. e atual. São Paulo : Malheiros, 2009, p.
131.
97

qualquer acréscimo patrimonial obtido em cada período de tempo previsto em lei”. 370 Por este
prisma, não haveria problemas em aferir, mensalmente, os ganhos líquidos em renda variável.
Adepto do conceito de renda dinâmica, abordado no primeiro capítulo, Zuudi
Sakakihara também não vê inconstitucionalidade alguma na periodicidade mensal do imposto
de renda nos ganhos em renda variável. Para ele, a Constituição Federal, bem como o Código
Tributário Nacional, não estipulam um prazo mínimo para a análise da variação patrimonial.
Estipular a periodicidade do imposto de renda é tarefa que cabe ao legislador ordinário. Uma
vez que a lei estipula periodicidade mensal para aferir esta renda, não há nada errado nela.371
Nota-se, portanto, que os defensores da incidência e cobrança do imposto de
renda de forma autônoma, como ocorre com os ganhos líquidos em renda variável, apoiam-se
na tese de que a tributação, tal como é realizada, não agride o conceito de renda. Desta forma,
indiretamente, se está respeitado os princípios constitucionais informadores do imposto de
renda. Destaca-se, ainda, como recém referido, que os tribunais, nos parcos julgados sobre o
tema, têm defendido a sua constitucionalidade, não vendo ofensas aos princípios informadores
do imposto de renda.
Por outro lado, vê-se que são contundentes os argumentos daqueles que
defendem a inconstitucionalidade da forma de incidência de tal tributo da forma com que é
exigido. A fundamentação principal, conforme visto, reside no fato de que a tributação sobre
rendimentos isolados desrespeitaria a generalidade e a universalidade ao não tratar a renda de
forma global; junto a isso, como tal tributo tem alíquota fixa, a progressividade restaria
desrespeitada. Com isso, atinge-se, ainda, a capacidade contributiva do indivíduo, que não é
levada em conta neste caso.
Também é interessante destacar que muito embora a doutrina majoritária
entenda que a tributação do imposto de renda incidente sobre rendimentos isolados, os
tribunais entendem, nos parcos julgados sobre o tema, que não há ofensa aos princípios
informadores do imposto de renda.
Por fim, pode-se dizer que ambas as correntes apresentam argumentos
interessantes, no entanto a doutrina majoritária parece apresentar argumentos mais sólidos a
respeito da questão, conquanto a corrente minoritária fica presa quase que somente à
periodicidade da renda ou ao conceito da própria renda, que também não é pacífico, como foi
possível estudar anteriormente.

370
Princípios fundamentais do imposto de renda apud Curso de especialização em direito tributário: estudos
analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho, 1ª Ed., Rio de Janeiro : Forense, 2005, nota 23, p. 778.
371
SAKAKIHARA, ibid., p. 152-153.
98

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após realizada toda a análise do imposto de renda sobre os ganhos líquidos


auferidos em renda variável e dos princípios constitucionais tributários, resta, por oportuno,
tecer algumas considerações referentes às conclusões alcançadas pela presente pesquisa.
Em breve síntese, os ganhos líquidos obtidos em operações de renda variável
estão sujeitos à tributação isolada pelo imposto de renda, ou seja, incide de forma separada
dos demais rendimentos auferidos pela pessoa. Noutras palavras, estes ganhos, conforme a
atual legislação infraconstitucional estipula, não compõem a base de cálculo do imposto de
renda devido quando da declaração anual de ajuste.
Além disso, pôde-se notar que o referido imposto é recolhido mensalmente, a
uma alíquota única de 15%. Exceção ocorre nas operações swap, onde a alíquota apresenta
uma progressividade, não em relação ao quantum apurado para a base de cálculo, mas em
relação ao tempo em que a operação permaneceu em aberto.
Foi visto, ainda, que a o imposto de renda sobre estes ganhos seguem a
tributação definitiva, isto que dizer que estes rendimentos não farão parte da base de cálculo a
ser apurada na declaração de ajuste anual.
Com base nesta síntese, e tendo como base toda a pesquisa realizada, passa-se
a fazer algumas conjecturas acerca da incidência e recolhimento de tal imposto.
Inicialmente, como se sabe, embora convenha ressaltar, a Constituição Federal
figura no topo da hierarquia do nosso ordenamento jurídico. Nela está contida toda a estrutura
estatal, bem como os princípios que formarão o “espírito” do sistema jurídico. No tocante ao
Direito Tributário, a Constituição Federal traz todos os seus fundamentos, dentre esses
fundamentos, encontra-se a regra-matriz de incidência do imposto de renda. Sendo assim,
pode-se inferir que a criação ou interpretação de qualquer norma jurídica deve sempre estar
em consonância com os mandamentos constitucionais, sob pena de mostrarem-se
inconstitucionais.
Feito estes comentários iniciais e sabendo que o legislador, o aplicador e o
intérprete da lei devem pautar-se pela Constituição Federal, parte-se para os comentários
referentes ao objeto da pesquisa.
No presente estudo foi possível verificar que o imposto de renda nos ganhos
em renda variável incide de maneira autônoma aos demais acréscimos patrimoniais, por
estipulação da legislação infraconstitucional, reguladora deste tributo. Neste diapasão, a
99

primeira questão a ser pontuada é saber se a tributação isolada respeita o conceito de renda
adotado.
Assim, vale lembrar que, para fins desta pesquisa, entende-se que o conceito de
renda está contido na Constituição Federal. Isto porque, embora este conceito não esteja
expressamente definido, por força da interpretação do Texto Constitucional e seus princípios
chega-se a uma definição para tal conceito. Então, conforme o conceito constitucional, tem-se
que a renda é o efetivo acréscimo patrimonial incorporado ao patrimônio do contribuinte, ou
seja, é a diferença entre a riqueza preexistente e a riqueza nova obtida, deduzidos os gastos
com a manutenção das necessidades básicas do indivíduo, despesas necessárias para a
obtenção dessa riqueza e deduções legais. Vale dizer, pela Constituição Federal a base de
cálculo do imposto de renda, no caso da pessoa física, será a renda líquida.
Com efeito, fácil observar que a tributação pelo imposto de renda realizada da
forma mensal, isolada e definitiva, tal como ocorre com os ganhos líquidos auferidos em
renda variável, não considera o acréscimo patrimonial efetivo do contribuinte, com seus
eventuais prejuízos, despesas necessárias para subsistência e deduções legais. Por este ângulo,
pode-se inferir que, ao tributar somente o rendimento isolado, sem considerar se houve
acréscimo patrimonial ao final do ano fiscal, o imposto de renda dos ganhos líquidos em
renda variável não respeita o próprio conceito de renda estipulado pela Constituição Federal.
Inconstitucional, portanto, o imposto em estudo, vez que afronta claramente o conceito
constitucional de renda.
Resta oportuno lembrar que a ideia de renda está vinculada ao tempo. Sendo
esta um excedente patrimonial, só se poderá aferi-las comparando-se a riqueza do passado
com a do presente. Assim, a renda dever ser aferida dentro de um intervalo de tempo extenso
o suficiente para que se possibilite a correta avaliação dos ingressos patrimoniais e
desembolsos suportados pelo contribuinte. Neste diapasão, embora alguns juristas entendam
que o legislador infraconstitucional tem poder para atribuir o período de apuração da renda,
não há como concordar com esta afirmação.
Novamente, adotando um entendimento sistemático do ordenamento jurídico,
tendo a Constituição Federal como balizadora, pode-se afirmar que essa periodicidade deve
ser anual. Afinal, ao que parece, a utilização do período de um ano tem uma lógica simples:
toda a organização estatal está baseada no período anual. Nisto, tem-se que todas as questões
estatais de cunho financeiro, como o orçamento, gastos, investimentos, etc., previstos na
Constituição Federal baseiam-se no período de doze meses. Logo, a observância de um
intervalo de um ano para aferir a renda do contribuinte é necessária para que o imposto de
100

renda dos ganhos em renda variável fique em harmonia com as demais normas constitucionais
que tratam a questão.
Ainda, ao adotar um período anual, se possibilita uma aferição mais precisa da
renda. Afinal, considerando um período anual de apuração pode-se, por exemplo, compensar
os ganhos de certos meses com as perdas havidas em outro. Assim, vê-se que a aferição em
intervalos anuais também se alinha com o conceito constitucional de renda. Desta forma, uma
vez que o imposto de renda das operações em renda variável incide mensalmente sobre os
ganhos líquidos, pelo exposto, pode-se inferir que tal tributo resta inconstitucional.
Outrossim, a tributação isolada, realizada de forma definitiva, e ainda por cima,
mensal, acaba gravando o patrimônio do contribuinte, e não a sua renda. Ocorre que, ao
gravar o patrimônio do contribuinte, pela tributação isolada de rendimentos, acaba-se por ferir
princípios constitucionais tributários, tais como: a capacidade contributiva, a progressividade,
a universalidade e pode, até mesmo, gerar efeitos confiscatórios, ferindo, então, o princípio da
vedação dos efeitos do confisco.
Neste sentido, a pesquisa demonstrou que um dos mais importantes princípios
tributários vem a ser o da capacidade contributiva. Afinal, o princípio da capacidade
contributiva busca a concretização da justiça fiscal; é o princípio da igualdade aplicado ao
Direito Tributário. Neste diapasão, garante o referido princípio que cada cidadão contribua
com a manutenção do Estado apenas na medida de sua riqueza.
A capacidade contributiva divide-se em capacidade contributiva absoluta e
relativa. A primeira refere-se aos fatos que constituem manifestação de riqueza, em que esta
capacidade seria medida pela renda auferida pelo contribuinte, deduzidos os gastos à sua
aquisição e manutenção, sem considerar as condições individuais do contribuinte. Já a
segunda seria a renda líquida, isto é, a soma de todos os rendimentos auferidos pelo
contribuinte no período de apuração, descontada as despesas pessoais necessárias à existência
digna do contribuinte e sua família. Noutras palavras, é o montante livre para o consumo, é a
parcela de riqueza disponível. Neste caso, individualiza-se o contribuinte.
A par disso, pode-se dizer que ambos os aspectos devem ser observados
quando da instituição, fiscalização e recolhimento do imposto de renda, pois, para apresentar
capacidade econômica para contribuir, é necessário não só a manifestação de riqueza, mas,
sim, que sobrevenham “sobras” dessa riqueza, após os gastos necessários à subsistência do
contribuinte e sua família.
Entretanto, nota-se claramente que o imposto de renda incidente sobre os
ganhos líquidos em renda variável não respeita o princípio da capacidade contributiva. Ao
101

tributar estes ganhos de forma definitiva e isolada, não esta se considerando os gastos do
indivíduo para com sua sobrevivência e de sua família, ou seja, não se individualiza a pessoa,
conforme manda o princípio da capacidade contributiva. Vale dizer, a inobservância desse
princípio, como ocorre com o tributo em estudo, pode fazer com que o contribuinte tenha que
recolher imposto de renda, ainda que este contribuinte apresente redução patrimonial quando
da apuração do imposto a ser pago em função de sua renda global.
Destaca-se que a capacidade contributiva só surgirá depois de satisfeito o
mínimo vital. Então, ao desconsiderar o princípio da capacidade contributiva, este tributo
também poderá incidir sobre o mínimo vital, isto é, o mínimo necessário para o contribuinte e
sua família se manterem. Tal fato, além de ser vedado pela Constituição Federal, deve ser
combatido.
Nota-se, ainda, que ao exigir o tributo mesmo quando o contribuinte não
apresenta renda ao final da apuração, o imposto de renda em estudo apresentará efeitos
confiscatórios, violando, também, o princípio do não-confisco. Isto porque, ao incidir sobre o
patrimônio do contribuinte, e não sobre sua renda, este imposto apresenta efeito confiscatório.
Os efeitos de confisco surgirão no momento em que a capacidade que uma pessoa possui de
entregar parte de sua riqueza sem comprometer sua subsistência for ignorada, vale dizer,
quando se desconsidera a capacidade contributiva da pessoa. Neste sentido, ainda que alguns
juristas entendam que o princípio do não-confisco deve ser visto em face da carga tributária
resultante dos tributos em conjunto, pensa-se que tal princípio não deve ser considerado desta
forma.
De fato, a interpretação sistêmica do tal princípio talvez fosse a mais adequada.
Ou até mesmo combinar a análise do sistema como um todo e o tributo em isolado, com suas
particularidades. Todavia, em face aos diversos tributos existentes no nosso país, de
competências distintas (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), se tornaria inviável
saber a partir de quando esta carga passou a ser confiscatória. Então, entende-se que o
princípio do não-confisco deve ser analisado individualmente, inclusive para possibilitar que
as peculiaridades de um dado tributo sejam levadas em consideração no caso concreto.
Nesta pesquisa também foram estudados os princípio constitucionais
informadores do imposto de renda, definidos pela Constituição Federal.
Um dos princípios informadores do imposto de renda, segundo a Constituição
Federal, é o princípio da generalidade. Na pesquisa realizada, ficou entendido que a
generalidade busca evitar que se criem classes de contribuintes. De acordo com este princípio,
qualquer indivíduo que realizar o fato gerador, independente das características inerentes da
102

pessoa (cor, religião, classe social, etc.), deverá contribuir ao Fisco. Com efeito, é importante
dizer, qualquer indivíduo que obtiver ganhos líquidos em operações de renda variável terá que
recolher o imposto de renda, independentemente de outros fatores, notadamente, as
características pessoais.
Neste sentido, pode-se dizer que o imposto de renda nos ganhos em renda
variável obedece ao princípio da generalidade, pois tributa todos aqueles que realizarem seu
fato gerador. No entanto, para que tal tributo seja considerado constitucional, não basta que
respeite um único princípio constitucional informador do imposto de renda. Ademais, também
o princípio da generalidade não deve ser interpretado de forma isolada, devendo ser
interpretado em conjunto com os demais princípios constitucionais tributários abordados nesta
pesquisa.
Outro princípio informador do imposto de renda, conforme a Constituição
Federal, é a universalidade. De acordo com o estudo levantado, pela universalidade, o imposto
de renda deve incidir sobre a globalidade dos rendimentos obtidos pelo contribuinte,
independente de sua denominação ou fonte. Frisa-se, por oportuno, que, por este princípio,
também não é permitido variação de alíquota com base na origem o nome dado ao
rendimento.
Sendo assim, é lógico concluir ser uma afronta à universalidade segregar
rendimentos, tributando-os com alíquotas ou bases de cálculo diferentes daquela aplicada à
riqueza nova obtida. Por conseguinte, levar à tributação pelo imposto de renda somente parte
dos rendimentos, a uma alíquota fixa, como ocorre com os ganhos obtidos em renda variável,
viola flagrantemente o princípio da universalidade.
Não é difícil observar a violação de outro princípio constitucional informador
do imposto de renda, qual seja, o princípio da progressividade. Por este princípio, a alíquota
do imposto de renda deve aumentar conforme o crescimento da base de cálculo do referido
imposto. Importante salientar que a progressividade também é muito importante para
imprimir o caráter pessoal exigido pela Constituição Federal ao imposto de renda. Isto porque,
pela progressividade, gradua-se o imposto de acordo com a capacidade econômica do
contribuinte.
Entretanto, nos ganhos líquidos obtidos em operações em renda variável, a
alíquota aplicada é fixa. Além de afrontar diretamente um mandamento constitucional, o
grande problema em olvidar o princípio da progressividade, aplicando uma alíquota fixa ao
imposto de renda, é que isso o torna proporcional, isto é, acaba por despersonalizá-lo.
103

Admitir a incidência do imposto de renda sobre rendimentos isolados, a uma


alíquota fixa (e sem possibilidade de compensação, pois não integrarão o cálculo dos
rendimentos tributáveis na declaração de ajuste anual), seria concordar com a temerária
hipótese de o contribuinte ter que arcar com o imposto de renda mesmo sem ter apresentado
qualquer renda ao final do período de apuração, ou até mesmo apresentando prejuízo.
Imprescindível fazer, igualmente, alguns comentários acerca da segurança
jurídica. Conforme explicado neste estudo, o princípio da segurança jurídica é considerado
como sendo um sobreprincípio. Norteador de todo ordenamento jurídico, este princípio o
transcende, porquanto é o fundamento de todo o Estado Democrático de Direito.
Neste diapasão, a segurança jurídica busca evitar a surpresa nas relações
jurídicas, garantido aos cidadãos o prévio conhecimento de quais normas devem ser
observadas, ou seja, dá a necessária previsibilidade às ações estatais. Além disso, pela
segurança jurídica, tem-se que as normas jurídicas devem apresentar compreensibilidade,
clareza, calculabilidade e controlabilidade de seu conteúdo.
Com efeito, até mesmo poderia se compreender que o contribuinte não é pego
de surpresa ao ser tributado pelo imposto de renda nos ganhos em renda variável, porquanto a
legislação prevê a incidência de tal tributo. Porém, ao incidir de forma isolada nestes
rendimentos, deixando de observar, inclusive, a própria regra-matriz de incidência do imposto
de renda - e à margem dos princípios constitucionais tributários informadores do imposto de
renda - nota-se que também o princípio da segurança jurídica é desrespeitado pelo tributo em
estudo.
Além disso, a legislação que regula o imposto de renda sobre os ganhos em
renda variável mostra-se pouco clara, além de ser completamente contraditória àquilo
preceituado pelos seus princípios constitucionais informadores.
Afora isso, ainda há o fato de o imposto de renda incidir de forma desigual
sobre os rendimentos isolados obtidos em operações de renda variável e os demais
rendimentos a serem apurados quando da declaração anual de ajuste. Neste sentido, ao
desconsiderar os princípios constitucionais tributários abordados neste estudo, deixando o
contribuinte ao talante do legislador infraconstitucional (e do Fisco), o imposto em estudo
subverte por completo o princípio a segurança jurídica.
Notório, portanto, que ao dar tratamentos distintos para os rendimentos, a
norma tributária referente ao imposto de renda acaba por não passar a confiança e
tranquilidade que deveria aos seus jurisdicionados.
104

Em tempo, também é importante tecer alguns comentários sobre o imposto de


renda retido na fonte, recolhido nas operações em renda variável. Relembra-se que há
incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de 0,005% nestas operações. Nota-se que
esta retenção, feita a uma alíquota ínfima, serve unicamente como meio de controle e
fiscalização da autoridade fiscal para com contribuinte. Isto porque o agente pagador, ao
efetuar esta retenção, dá conhecimento ao Fisco de que determinado indivíduo auferiu ganhos
e, portanto, deverá, futuramente, arrecadar os tributos devidos. Isso permite ao Fisco verificar
o cumprimento de exigências fiscais futuras.
Entretanto, utilizar-se do imposto de renda para tais fins foge completamente
da finalidade atribuída ao imposto de renda pela Constituição Federal, qual seja, tributar a
renda – o efetivo acréscimo patrimonial.
Outrossim, o imposto de renda sobre os ganhos em renda variável, conforme
aponta esta pesquisa, desrespeita os mais variados princípios constitucionais, como o
princípio da capacidade contributiva, o principio da progressividade, da universalidade,
podendo, até mesmo, apresentar efeitos confiscatório. Além disso, o tributo em comento
mostra-se obscuro, não respeitando sua regra-matriz, numa clara afronta ao princípio da
segurança jurídica.
Como se não bastasse, o imposto objeto desse estudo não obedece ao próprio
conceito de renda. Vale dizer, o imposto de renda sobre os ganhos líquidos, tal como é
aplicado atualmente, acaba sendo, na prática, um imposto sobre o rendimento bruto, e não
sobre a renda.
Pelo levantamento realizado por esta pesquisa, conclui-se que o imposto de
renda dos ganhos líquidos obtidos em operações em renda variável, por incidir isoladamente,
a uma alíquota fixa e de forma definitiva, viola todos os seus princípios constitucionais
informadores, sendo, portanto, flagrantemente inconstitucional. Necessário, por conseguinte,
uma ampla reforma nas leis infraconstitucionais que regem o imposto de renda dos ganhos em
renda variável, a fim de deixá-las em harmonia com os princípios constitucionais
informadores desse tributo.
105

REFERÊNCIAS

ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO. Parecer acerca da incidência ou não do Imposto de


Renda sobre receitas provenientes do exterior. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_18/parecer_gm12.htm. Acesso em: 16 de
fev. 2012.

AFONSO, Sylvio César. Imposto de sobre a renda e provento de qualquer natureza da


pessoa física: Aspectos infraconstitucionais relevantes. PUC-SP, 2008. 183 f. Dissertação
(Mestrado em Direito). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.

ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 4.ed. São Paulo: Método,


2010.

AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1997.

ANDRADE. Mairo Caldeira de. Imposto sobre a renda: A aquisição de disponibilidade


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