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Qualidade de água

em sistemas
aquáticos
Gabriel Bernardes Martins

Marcelo Roberto Pereira Shei

Qualidade de água em sistemas aquáticos

1a edição

Santos, São Paulo

2019

2 Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos


Prefácio
Qualidade de água é o tópico mais importante para qualquer
profissional que irá trabalhar com organismos ou sistemas aquáticos. Essa
disciplina interfere diretamente na condição de saúde dos animais,
independentemente se estamos em uma estrutura de criação, pesquisa ou
aquário público. Conhecimento a respeito desse tema estará diretamente
relacionado na obtenção de sucesso na nossa operação.

Este e-book tem como objetivo fornecer informações básicas e práticas


a respeito dos principais parâmetros de qualidade de água utilizados na
manutenção de organismos aquáticos, apresentando informações que ajudem
na operação dos mais diversos tipos de sistemas. Fizemos questão de
também indicar ferramentas que auxiliarão no monitoramento e manutenção de
boas condições de qualidade de água.

Marcelo Shei, Dr.

Sócio Diretor da Altamar Sistemas Aquáticos

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Sumário

1 Introdução 5
2 Qualidade de água 6
2.1 Temperatura 5
2.2 Oxigênio 7
2.3 Nutrientes 8
2.3.1 Nitrogenados 8
2.3.1.1 Amônia 8
2.3.1.2 Nitrito 9
2.3.1.3 Nitrato 10
2.3.2. Fósforo 10
2.4 pH, CO2 e alcalinidade 11
2.5 Sólidos 12
2.5.2 Dissolvidos e turbidez 12
2.5.3 Salinidade e composição iônica 13
3 Referências Bibliográficas 14

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1. Introdução

Peixes, crustáceos, moluscos e outros


organismos aquáticos são diretamente dependentes
dos parâmetros de qualidade de água para manterem
bom estado de saúde, crescimento e reprodução.
Portanto, a qualidade de água possui significativa
importância no sucesso ou insucesso durante a
produção ou manutenção de organismos aquáticos.

Como a água é essencial para a manutenção


desses organismos, qualquer planejamento de
instalação de criação ou manutenção de peixes precisa
considerar a qualidade e a quantidade de água
disponível para a operação.

Para assegurar o uso sustentável dos recursos


naturais, é fundamental realizar de maneira correta a
água na aquicultura e em outras instalações com têm aumentado nos últimos anos. Algumas vezes, são animal e diminui as chances de desenvolvimento e

organismos aquáticos. Nesse contexto, são utilizadas necessários meses e até anos para a obtenção de disseminação de doenças.

estruturas mais eficientes, que realizam melhor resultados de pesquisa consistentes. Portanto, a
Independentemente do tipo de instalação e do
manutenção de condições de qualidade de água
aproveitamento de: água, área e nutrientes disponíveis.
propósito, o conhecimento dos aspectos básicos de
controladas são essenciais para completar os ensaios
Na aquicultura, o sucesso de um qualidade da água são tão essenciais quanto ela
propostos. A utilização de sistemas dedicados tem
empreendimento está na capacidade de manter um mesma. Portanto, o objetivo deste e-book é apresentar
permitido a manutenção de uma grande diversidade de
ambiente que permita uma boa taxa de crescimento uma breve revisão dos parâmetros físicos e químicos de
espécies. Independentemente do parâmetro requerido,
com o uso mínimo de recursos. O ambiente aquático é qualidade de água, que são relevantes para a
isso tem permitido o desenvolvimento de ensaios de
um ecossistema complexo e composto de diversos manutenção de organismos aquáticos.
fisiologia, nutrição, toxicidade, genética, embriologia e
parâmetros variáveis e que muitas vezes se relacionam outros.

entre si. Alguns deles como o oxigênio dissolvido, a


amônia, o pH e a temperatura possuem grande Nos aquários públicos, zoológicos e centros de

importância e alteram significativamente as taxas de reabilitação de fauna silvestre, a diversidade de

sobrevivência e crescimento dos organismos cultivados.


espécies mantidas é bastante alta, várias delas
possuem exigências específicas de parâmetros como
Nos centros de pesquisa, estudos com de temperatura, salinidade, pH e oxigênio dissolvido. A
organismos aquáticos, como o Zebrafish Danio rerio, manutenção de condições ótimas melhora o bem estar

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2. Qualidade de água

2.1. Temperatura

A temperatura é um parâmetro físico de


qualidade de água que influencia, por exemplo, a
concentração de oxigênio dissolvido, a taxa metabólica,
a reprodução e o crescimento dos animais. A sua
medição é realizada através de termômetros, a unidade
internacional utilizada é graus celsius (°C).

As espécies cultivadas possuem intervalos de


temperatura considerados ideais para crescimento e
reprodução (Tabela 1).

Tabela 1. Faixa de temperatura (°C) para o crescimento de


algumas espécies.

Temperatura Figura: Pós larvas de camarões marinhos L. vannamei.


Espécie Referência
ideal (ºC)

Tilápia -
Oreochromis 28 - 29 Santos et al. (2013)
niloticus

Zebrafish - Danio Harper & Lawrence


24 - 28
rerio (2011)

Camarão gigante -
Macrobrachium 24 - 32 New et al. (2010)
rosenbergii

Camarão marinho -
Ponce-Palafox et al.
Litopenaeus 28 - 30
(1997)
vannamei
Para controlar a temperatura em sistemas
fechados, de acordo com o volume total, podem ser
utilizadas estufas agrícolas, e aquecedores térmicos. As
bombas de calor são a forma elétrica mais eficiente
Figura: Bomba de Calor em titânio. Equipamento adequado
para a geração de calor, chegando a consumir 70% para aquecimento e resfriamento de sistemas aquáticos.
menos do que uma resistência elétrica.

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2.2. Oxigênio
Em ambientes aquáticos, a concentração de Para a estimativa de consumo de oxigênio do
oxigênio dissolvido é influenciada pela temperatura, sistema, são considerados: a espécie produzida, a fase
salinidade e altitude (Tabela 2). Para mensurar a de desenvolvimento, a biomassa total, entrada de
concentração de oxigênio, o recomendado é a utilização alimento por dia (quantidade e composição bioquímica),
de oxímetros. Esses aparelhos possuem uma sonda tamanho do biofiltro e a quantidade de fluxo de água
com membrana ou leitura óptica capaz de ler diário.

instantaneamente a concentração do gás na água. As


Tabela 2. Solubilidade de oxigênio dissolvido (mg/L) em
unidades de medida utilizadas como padrão são mg/L função da salinidade (g/L) e temperatura (°C), considerando a
ou percentual de saturação (%sat).
pressão barométrica de 760 mm Hg. Adaptado de Boyd
(2015).

Sistemas em que são utilizadas densidades de


estocagem significativas é necessário o uso de sistema Temperatura /
0 10 30
de aeração suplementar. Por exemplo, sistemas de Salinidade

cultivo comumente utilizam os compressores radiais 15 10,07 9,47 8,38


(blower’s) e difusores (por mangueira, pedras de
20 9,07 8,55 7,60
aeração ou discos microperfurados). Em sistemas
fechados também é comum a utilização de venturis ou 25 8,24 7,78 6,95
nozzles, funcionando com injeção de ar atmosférico na 30 7,53 7,13 6,39
água, formando microbolhas. Além disso, em sistemas
de recirculação (recirculating aquaculture systems -
RAS) com densidades de estocagem superintensivos, é
possível injetar O2 puro diretamente no sistema.

Mais recentemente, como forma de aumentar a


segurança dos sistemas, têm sido utilizados sistemas Figura: Oxímetro digital. Equipamento utilizado
para monitoramento de oxigênio e temperatura.
de monitoramento remoto dos parâmetros de qualidade
da água. Esses sistemas monitoram e controlam
continuamente os parâmetros de água, acionando, por
exemplo, um aerador quando a concentração de
oxigênio chegar a um nível mínimo programado. Além
da segurança, um sistema como esse diminui de forma
significativa o custo de energia elétrica com aeração.
Figura: Sistema de monitoramento e
controle de qualidade de água sendo
monitorado remotamente através de

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A amônia tóxica (NH3) é a forma que apresenta geral, a toxicidade da amônia aos organismos é
2.3. Nutrientes

maior risco à condição sanitária dos organismos tamanho dependente, sendo os organismos de maior
Nos sistemas aquáticos, os principais nutrientes
cultivados. A concentração de NH 3 pode ser tamanho menos resistentes à NH3.

dissolvidos na água estão relacionados às


determinada a partir do valor de amônia total,
concentrações de nitrogênio e fósforo. Ambos são
relacionada aos valores de pH e temperatura da água
provenientes principalmente da ração, devido às sobras
(Tabela 3).

de ração e não absorção pelos organismos mantidos.

Tabela 3. Percentual de amônia tóxica em relação à amônia


A manutenção da concentração de nitrogenados
total em função da temperatura (°C) e do pH.

e fósforo é fundamental para o bom funcionamento dos


sistemas de produção em aquicultura, sendo a
biofiltração (hetero, auto ou fotoautotrófica) a melhor Temperatura/pH 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0

alternativa. É importante destacar, que a liberação dos 15 0,027 0,086 0,273 0,859 2,67
efluentes de aquicultura deve estar de acordo com os 20 0,039 0,125 0,396 1,24 3,82
padrões estabelecidos pela Resolução do CONAMA
25 0,056 0,180 0,566 1,77 5,38
357 (2005).

30 0,080 0,254 0,799 2,48 7,46


Para a dosagem das concentrações de
nutrientes na água (nitrogenados e fósforo) são
Como forma de manter a concentração de
amplamente utilizados métodos colorimétricos (mg/L).
Figura: Colorímetro digital portátil de amônia
amônia tóxica em níveis seguros, em sistemas de

2.3.1. Nitrogenados
recirculação são utilizados os biofiltros. Esses, são
substratos rígidos para a fixação de bactérias
A manutenção dos nitrogenados a níveis seguros
nitrificantes (quimioautotróficas), que são as
é um dos maiores desafios na manutenção e produção
responsáveis pela nitrificação.

de organismos aquáticos. Os produtos nitrogenados


são: amônia, nitrito e nitrato.
A nitrificação é um processo que ocorre em duas
etapas (reação A e B). Primeiramente, a amônia é
2.3.1.1. Amônia
oxidada a nitrito, e finalmente, este é oxidado a nitrato,
As principais fontes de amônia são a excreção a forma nitrogenada menos tóxica.

pelos organismos produzidos e as sobras de ração.


(A) NH3 bactérias NO2-

Peixes e crustáceos excretam nitrogênio na forma de


amônia, como subproduto do metabolismo proteico. (B) NO2- bactérias NO3-

Basicamente, a amônia é apresentada como amônia


tóxica (NH3), amônia ionizada (NH4+) ou amônia total
Figura: Exemplares de Zebrafish Danio rerio.
(NH3 + NH4+).
A Tabela 4 apresenta os valores de toxicidade de
amônia para os organismos produzidos. De maneira

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2.3.1.2. Nitrito Tabela 4: Toxicidade da amônia para espécies de organismos produzidos.
Produzido pelo processo de nitrificação, o nitrito
(NO 2 - ) é a forma intermediária dos compostos Espécie Tamanho CL50 - 96 h Referência
nitrogenados. Possui significativa toxicidade, causando
nos peixes a formação de metahemoglobina, o que Tilápia - O. niloticus 4,5 g 0,96 Evans et al. (2006)
reduz a capacidade de transporte de oxigênio pelo
sistema circulatório, resultando na denominada doença
Tambaqui – Colossoma
do sangue marrom. A Tabela 5 apresenta os valores de 3,4 g 1,08 Souza-Bastos, Val & Wood (2017)
macropomum
toxicidade de nitrito.

De forma geral, os biofiltros demoram entre Pirarucu – Arapaima


30-60 dias para atingir a completa oxidação dos 13,7 g 0,70 Souza-Bastos, Val & Wood (2017)
gigas
nitrogenados. Portanto, períodos inferiores a esse
apresentam como característica elevação nas Camarão marinho – L. Juvenis

1,60 Lin & Chen (2001)


concentrações de nitrito. Desta forma, antes da adição vannamei (22 mm)
dos organismos cultivados, é necessário realizar o
preparo prévio do biofiltro.

Em situações em que há risco na elevação das


Tabela 5. Toxicidade do nitrito (mg NO2-/L) para algumas espécies de organismos aquáticos.
concentrações de NO2-, como forma de prevenir
mortalidades e reduzir a toxicidade, pode ser utilizado o Espécie Tamanho CL50 – 96 h (mg NO2-/L) Referência
cloreto (Cl - ). A proporção recomendada entre a
concentração de Cl-:NO2- é 10:1 ou mais (Durborow et 12,5 g 81 Atwood et al. (2001)
Tilápia - O. niloticus
al. 1997). Por exemplo, as fontes de Cl- que podem ser
adicionadas são o cloreto de sódio (NaCl) ou o cloreto Larvas (20 – 25
de cálcio (CaCl2). dias)
386

Zebrafish - D. rerio Voslárová et al. (2006)


Adultos (2 – 3 242
meses)
Tambaqui -

65 g 5,98 Costa et al. (2004)


C. macropomum

Camarão marinho -
Juvenis
322

Lin & Chen (2003)


L. vannamei (56 mm) (salinidade 35‰)

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2.3.1.3. Nitrato
A última etapa da nitrificação produz o nitrato
(NO3-), que é o composto nitrogenado com menor
toxicidade. Em sistemas que utilizam a nitrificação,
naturalmente ocorrerá o acúmulo de nitrato no sistema.
Quanto maior for a ciclagem quimioautotrófica e entrada
de alimento diário, maior será o acúmulo de nitrato no
sistema.

São poucos os trabalhos que demonstram a


toxicidade do NO3- aos organismos produzidos, e para
algumas situações as reduções no desempenho
zootécnico podem ser atribuídas ao acúmulo deste
nutriente. Portanto, esse é um nutriente que deve ser
avaliado principalmente quando existem restrições para
renovação, trocas parciais ou quando a água é
reutilizada entre os ciclos.

Por exemplo, foi demonstrado que para a tilápia


Figura: Tubarões e raias são exemplos de animais com baixa tolerância ao nitrato.
do Nilo, o recomendado são valores abaixo de 500 mg
NO3-/L (Monsees et al., 2017) e para zebrafish D. rerio
de trocas de água nesses sistemas com restrição de formas não representam risco direto aos organismos
abaixo de 200 mg/L (Learmonth & Carvalho, 2015). Além
troca de água.
produzidos, entretanto, por serem nutrientes, podem ser
disso, para a manutenção de aquários públicos,
utilizados por organismos fotossintetizantes. Desta
concentrações de NO3- superiores a 10 mg/L, têm sido
forma, a concentração de fósforo é utilizada para
relacionados com a formação de bócio e mortalidade de
determinar o estado trófico do ambiente aquático.

tubarões e raias, podendo causar mortalidades nos 2.3.2. Fósforo

casos mais severos (Crow, 2004).


Como forma de manter o fósforo total a níveis
Para sistemas de produção, que não utilizam a
ciclagem fotoautotrófica dos nutrientes, haverá acúmulo baixos, podem ser recomendadas: renovações de água
Em RAS e aquários públicos que possuam
de fósforo. Apenas entre 10-20% do fósforo disponível periódicas, utilização de carvão ativado ou filtração por
restrições de trocas de água e que possuam grande
na ração será absorvido pelos organismos produzidos, organismos fotossintetizantes. De acordo com a
acúmulo de NO3-, a utilização de filtros desnitrificadores
sendo que os restantes 80-90% estarão disponíveis na Resolução do CONAMA 357/2005, a liberação de
podem ser úteis para garantir níveis baixos desse
água.
efluentes deve possuir as concentrações de fósforo
composto. Esse é um filtro anaeróbico com capacidade
total entre 0,02 e 0,1 mg/L, de acordo com o ambiente.
de realizar a redução do NO3- até N2 (forma gasosa
As principais formas do fósforo na água são
liberada para a atmosfera), diminuindo a necessidade
fosfato diácido (H2PO4-) e fosfato ácido (HPO4-2). Essas

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ocasiona aumento nos valores de pH. Durante a fase Em sistemas RAS é fundamental o
2.4. pH, CO2 e alcalinidade

escura, há consumo de O2 e produção de CO2, monitoramento da alcalinidade, pois o biofiltro é


O pH (potencial hidrogeniônico) representa a
ocasionando redução do pH.
responsável por grande consumo das bases. Desta
quantidade de prótons (H+) disponíveis no meio aquoso,
forma, são necessárias correções com produtos
sendo demonstrado pela escala entre 0 e 14. Em Ainda, em sistemas que utilizam biofiltros
alcalinizantes, como o bicarbonato de sódio (NaHCO3),
ambientes de água doce, o recomendado é utilizar autotróficos (realizando a nitrificação) há uma tendência
carbonato de cálcio (CaCO3), carbonato de sódio
águas próximas a neutralidade (6,5 - 7,5), enquanto que natural na redução do pH, devido ao consumo de
(Na2CO3) ou cal hidratada (CaOH2). É importante
para águas marinhas valores entre 8,0 - 8,5.
alcalinizantes pelas bactérias nitrificantes. Além disso,
destacar que a cal hidratada possui grande poder de
os próprios organismos produzidos, peixes ou
Em sistemas de produção para a aquicultura é neutralização, causando rápido aumento nos valores de
camarões, produzem e consomem compostos que
convencional as oscilações nos valores de pH. Em pH, portanto sua utilização deve ser realizada com
favorecem a redução do pH no meio, como CO2 e H+.

sistemas que utilizam as ciclagens fotoautotróficas cuidado, podendo ser recomendado o uso de
(principalmente microalgas) as oscilações do pH são A alcalinidade representa a soma das bases concentrações entre 2,0 e 50,0 mg/L.

diárias de acordo com o regime luminoso. Durante a dissolvidas, como bicarbonato (HCO3-) e carbonato
Ao utilizar os alcalinizantes, após a sua
fase luminosa, as microalgas realizam a fotossíntese, (CO3-). Essas bases são responsáveis por evitar as
dissociação na água, serão produzidos uma base e um
produzindo O2 e consumindo o CO2 dissolvido, o que oscilações nos valores de pH, portanto, são
íon. De acordo com o produto utilizado, a adição no
consideradas importantes
sistema pode ser de cátions divalentes, que
no tamponamento da água.

representam a dureza da água.

Para a manutenção do pH
Em água doce a dureza é representada
estabilizado, em água doce,
principalmente pelo cálcio (Ca2+), podendo determinar a
são recomendados valores
classificação da água como: mole (<50 mg CaCO3/L),
acima de 50 mg CaCO3/L,
moderada (50 - 150 mg CaCO3/L), dura (150 - 300 mg
enquanto que para água
CaCO3/L) e muito dura (>300 mg/L) (Boyd, 2015). Em
marinha acima de 120 mg
contrapartida, para água marinha, o magnésio (Mg2+)
CaCO3/L.

possui significativa relevância, sendo encontrado em



média valores de Ca2+ em 400 mg/L e Mg2+ em 1.350
mg/L (Boyd, 2015).

Figura: Aquicultura de corais duros. Esses animais são bastante exigentes quanto ao nível
de pH, alcalinidade e cálcio na água.

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2.5. Sólidos
Para sistemas com baixa ou nula renovação de
água, as principais fontes de sólidos são: excreção dos
organismos produzidos (fezes), sobras de alimento e
produção de biomassa pelo fito e zooplâncton. Em
RAS, a presença de sólidos é indesejável, pois está
associada ao aumento no consumo de oxigênio
(demanda química e biológica de oxigênio), aumento na
concentração de microorganismos associados a
patologias e mal funcionamento do biofiltro (oscilações
nas taxas de nitrificação).

Portanto, para a manutenção da qualidade de


água, são utilizados filtros de sólidos. A seleção do
equipamento de filtração é realizada de acordo com a
quantidade total de sólidos e o tamanho das partículas
a serem removidas (por ex., 10 - 500 µm). Desta forma,
partículas pequenas podem ser removidas em filtros
tipo bag, intermediárias por filtros de disco, bead ou
tambor, enquanto que as maiores em sedimentadores.

Figura: Enriquecimento ambiental em recinto de hipopótamo no zoológico de Dallas, EUA. A utilização de sistema adequado de
2.5.2. Dissolvidos e turbidez
filtragem permite a manutenção de ótima condição de qualidade de água e visão submersa.

Os sólidos dissolvidos na água são


renovação de água, o demasiado aumento da turbidez proteicas e lipídicas e que dificilmente seriam removidos
representados pelos íons e partículas orgânicas (<2µm).
pode ser ocasionado, por exemplo, por uma ineficiente por outros métodos.

Desta forma, os sólidos dissolvidos causam alterações


remoção de sólidos, resultando em renovações de água
na turbidez da água, que se refere a uma propriedade
desvantajosas.

ótica, devido a maior ou menor penetração da energia


luminosa.
Em sistemas fechados, a utilização de filtros
mecânicos tem como função diminuir a quantidade de
O aumento da turbidez pode ser causado por:
partículas na água. Como forma de remover as
aumento dos sólidos suspensos e dissolvidos, fito e
partículas de menor tamanho que aumentam a turbidez
zooplâncton. Para quantificar a turbidez, são utilizados
da água, são utilizados os Protein Skimmers. Esses
equipamentos digitais (turbidímetro), apresentando
filtros removem partículas menores do que 20 µm,
como os valores em unidades nefelométricas de
turbidez (NTU). Em sistemas com baixa ou nula formadas principalmente por frações orgânicas

12 Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos


reposição com água marinha. Já em água doce, o
2.5.3. Salinidade e composição
acúmulo de subprodutos da ração e dos alcalinizantes
iônica poderá causar elevação da salinidade. Portanto, é
A soma de todos os íons dissolvidos na água fundamental o monitoramento desse parâmetro.

representa a salinidade. As unidades utilizadas para


apresentar a salinidade podem ser PSU (practical unity
of salinity), percentual (%), partes por mil (ppt) ou
massa/volume (mg/L ou g/L). Para a determinação da
salinidade podem ser utilizados refratômetros óticos ou
digitais.

As águas são classificadas como doce, salobra


ou marinha. A salinidade utilizada como referência para
cada classificação varia de acordo com os autores ou a
legislação, entretanto, será considerada água doce
quando a salinidade for menor que 0,5 g/L, salobra
entre 0,5 e 25 g/L e marinha acima de 25 g/L.

Com o desenvolvimento da aquicultura tem sido


Figura: eclosão de náuplios de Artemia salina em água com salinidade de 35 g/L.
comum a produção de organismos de água doce em
água salobra, ou até mesmo de camarões marinhos em
salinidade reduzida. Entretanto, é importante destacar
que as diferentes fontes de água (superficial,
subterrânea ou marinha) possuem composições iônicas
distintas. Além disso, cada espécie produzida para
atingir seu máximo desempenho produtivo possui
requerimentos iônicos, relacionados a capacidade
osmorregulatória. Portanto, é recomendado verificar os
balanços iônicos, especialmente para Na+, Cl-, K+, Ca+2,
Mg+2, SO4- e Fe, para caso seja necessário, realizar
correções.

Em sistemas com baixa ou nula renovação de


água, é comum ocorrer excessiva elevação da
salinidade. Em ambientes marinhos, isso ocorre Figura: equipamentos ópticos e eletrônicos, portáteis e de fácil manuseio.
principalmente devido a evaporação de água e

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