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23/10/2020 PLANETA SABER

Antigo Regime

No séc. XVIII, a monarquia e as classes


privilegiadas gozavam de determinadas
prerrogativas que contrastavam com as
dificuldades vividas pelas classes mais populares.
O palácio e os jardins das Tulherias, em Paris, em
uma gravura do séc. XVIII (Biblioteca das Artes
Decorativas, Paris, França).

AE A R
Denomina-se Antigo Regime o sistema social, político e econômico vigente em diversos países europeus na Idade Moderna, nos sécs.
XVI, XVII e XVIII. Caracterizava-se, socialmente, por uma estrutura baseada na diferença de classes; politicamente, pelo
predomínio da monarquia absoluta; e economicamente, pela sobrevivência de algumas características do feudalismo e pelo
desenvolvimento de um capitalismo de base comercial.

R
O regime demográfico deste período caracterizou-se por taxas de natalidade e mortalidade muito elevadas, curta esperança de vida e
a existência de crises demográficas periódicas que provocavam uma mortalidade catastrófica e dificultavam o crescimento da
população.
A taxa de natalidade situava-se entre 35 e 45‰, com uma média de cinco filhos por família. A taxa de mortalidade oscilava entre 30
e 40 ‰ . Estas altas taxas de mortalidade afetavam especialmente os grupos sociais mais desfavorecidos e a população infantil.
Calcula-se que entre 20 e 30% das crianças morriam antes de completar um ano de idade. A esperança de vida era de
aproximadamente trinta anos.
Os fatores que incidiam de forma negativa sobre a população e provocavam este tipo de mortalidade, levando, a longo prazo, a uma
estagnação demográfica, eram basicamente a fome, as epidemias e as guerras.
Os cereais eram a base da alimentação, razão pela qual a subsistência estava ligada às oscilações do preço destes produtos,
principalmente do trigo. Nas épocas de más colheitas, os preços aumentavam, criavam-se situações de fome, a taxa de mortalidade
subia e a taxa de crescimento natural da população diminuía. Por outro lado, nos períodos de prosperidade econômica, produzia-se
um incremento da natalidade, uma redução da mortalidade e, consequentemente, um aumento demográfico. Não obstante, estes
períodos duravam pouco tempo, já que a produção agrícola não era capaz de crescer no mesmo ritmo que a população e acabava por
produzir-se novamente uma crise de subsistência que provocava uma nova redução da população.
A alimentação deficiente, a falta de higiene e a precariedade da medicina aumentavam a incidência de doenças endêmicas e a
frequência das epidemias, que periodicamente causavam uma queda considerável na população.
A guerra também afetava negativamente o crescimento da população. Aos mortos nos campos de batalha tinham de ser somadas,
ainda, a destruição das lavouras e a consequente época de fome, a redução do número de casamentos e de nascimentos e as infecções
e epidemias que os cadáveres insepultos provocavam.

A :
A sociedade do Antigo Regime estava organizada em classes ou grupos que tinham um estatuto jurídico particular. Uma pessoa fazia
parte de um determinado grupo social por nascimento ou por herança, e a mobilidade social quase não existia.
As classes privilegiadas, a nobreza e o clero, não pagavam impostos, mas tinham direito a recebê-los, e dispunham de tribunais
próprios. Estes privilégios justificavam-se por terem sido concedidos pela coroa ou porque tinham sido exercidos ininterruptamente
desde tempos muito antigos. As classes menos favorecidas, ou seja, o povo, genericamente falando, que reunia o resto da população
(burguesia, classes populares urbanas e camponeses), eram obrigadas a pagar impostos e estavam excluídas da participação na vida
política. A desigualdade perante a lei e perante os encargos fiscais da sociedade era a característica principal da sociedade do Antigo
Regime.
A sociedade organizava-se segundo as funções que cada grupo desempenhava: o clero ocupava-se de rezar para assegurar a proteção
divina, a nobreza combatia e protegia a coletividade de seus inimigos e o resto da população produzia os bens materiais para atender
às necessidades sociais.

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• As classes privilegiadas
O clero representava entre 0,5 e 0,75% da população. As suas finanças provinham do dízimo – uma décima parte das colheitas e dos
lucros anuais – e das rendas das suas numerosas propriedades, especialmente terras.

— O clero: não era um grupo homogêneo, pois formava-se por dois grupos: o alto clero - composto por – cardeais, bispos,
abades –, cujos membros pertenciam a famílias da nobreza, e o baixo clero – sacerdotes de paróquias –, que provinha da
pequena burguesia ou dos camponeses. O primeiro tinha uma forma de vida semelhante à da nobreza, enquanto o segundo
vivia modestamente e partilhava frequentemente das aspirações populares.
— A nobreza: constituía o núcleo fundamental da classe dominante; representava entre 1 e 2% da população. Vivia das
rendas geradas pelas suas propriedades territoriais e tinha acesso a cargos públicos e oficiais.

Nobre francês do séc. XVIII, gravura de Desrais


e Duhamel, 1786 (Biblioteca das Artes
Decorativas, Paris, França).

A nobreza também não era um grupo homogêneo e estava dividida em três categorias: a nobreza de corte, grupo minoritário
formado pela elite que possuía grandes fortunas; a nobreza de províncias, que vivia das rendas e dos direitos que derivavam
da posse territorial, e a nobreza de toga, que não eram necessariamente nobres de nascimento e incluía os nobres que
controlavam o aparelho administrativo e judicial do Estado.

• O povo: burguesia, classes populares urbanas e rurais


O povo representava mais de 95% da população e era de uma grande complexidade social. Era formado por grupos que tinham em
comum a necessidade de trabalhar, a obrigação de pagar impostos e o interesse de reivindicar a igualdade civil, embora entre eles
existissem enormes diferenças econômicas e de nível de vida. É preciso distinguir fundamentalmente três grupos dentro deste que
está sendo chamado genericamente de "povo": a burguesia, as classes populares urbanas e as classes populares rurais (camponeses).

— A burguesia: era o grupo mais dinâmico entre os seus e, geralmente, de toda a sociedade. Desde o fim da Idade Média
tinha desenvolvido um potencial econômico que, pouco a pouco, foi se igualando ao das classes privilegiadas. No séc. XVIII
iniciou a ascensão para o reconhecimento social e o controle do poder político. Dentro da burguesia existia a que vivia das
rendas das suas propriedades ou do seu capital e imitava tanto quanto podia as formas de vida da aristocracia; a burguesia
financeira (formada por banqueiros e cobradores de impostos); a manufatureira e comercial (formada por grandes
comerciantes e industriais) e, por último, a pequena burguesia, que agrupava artesãos, pequenos comerciantes e
profissionais liberais como advogados e médicos.
— As classes populares urbanas: eram integradas pelos trabalhadores das oficinas artesanais (oficiais e aprendizes),
operários das manufaturas e por numerosos pedintes e vagabundos. As suas condições de vida eram precárias.
— As classes populares rurais: correspondiam ao grupo mais numeroso da população na época do Antigo Regime. A
grande maioria não era proprietária das terras em que trabalhava e alguns até eram servos, como ocorria na Europa oriental.
Os camponeses tinham poucos recursos econômicos e eram submetidos ao regime feudal. Eram obrigados a pagar impostos
(como o dízimo, os impostos pelo uso dos moinhos e dos fornos) e prestações (como a corveia) à Coroa, à nobreza e ao clero.

O :
A monarquia absoluta era o sistema político habitual na Europa do Antigo Regime. Ao mesmo tempo, e diferentemente daquilo que
acontecia na maioria dos Estados europeus, durante este período foi instaurado na Inglaterra e nos Países Baixos um sistema
político que garantia a hegemonia do parlamento em face do poder do monarca.

• O poder dos monarcas absolutos


O rei ostentava todo o poder do Estado. A soberania real era entendida como uma autoridade de origem divina, que conferia ao
monarca uma série de direitos e de poderes em todos os âmbitos da vida política: nomeava magistrados, administrava a justiça,

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controlava a Igreja e o exército e dirigia a política externa. Os nobres tinham cedido à monarquia uma parte dos direitos jurídico-
políticos de que tinham gozado na Idade Média (como a administração da justiça e a formação de exércitos próprios) em troca da
consolidação dos seus privilégios econômicos e sociais. Por outro lado, o rei beneficiou-se da ascensão da burguesia comercial, da
qual conseguia impostos e empréstimos que lhe permitiam aumentar o seu poder, concedendo-lhes em troca monopólios e títulos
nobiliárquicos.
Apesar de, no exercício diário do governo, os reis serem assistidos por colaboradores pessoais – secretários, ministros e órgãos
colegiados e conselhos –, estes não tinham poderes próprios nem capacidade para se opor à vontade do soberano, pois todo o poder
estava concentrado no monarca. As instituições que desde a Idade Média representavam a população, como os Estados Gerais na
França, deixaram de ser convocadas ou viram declinar a sua influência em face do poder do rei.
O poder do monarca absoluto estava, não obstante, limitado pelas leis e pelos costumes do reino e pela impossibilidade técnica de
ter acesso a todos os territórios do país e de controlar as ações de todos os seus agentes, devido à precariedade dos meios de
comunicação e de transporte. Os privilégios que os soberanos tinham concedido a alguns grupos em épocas anteriores, aos altos
funcionários e mesmo a algumas regiões e cidades dificultavam a unificação administrativa e o funcionamento centralizado do
poder.

• O início do parlamentarismo na Inglaterra e nos Países Baixos


Na Inglaterra do séc. XVII, entraram em conflito os defensores do absolutismo (aristocracia, Igreja, grandes companhias comerciais)
e os partidários do controle do poder do rei pelo parlamento (comerciantes, industriais e grandes latifundiários). Após um duro
processo revolucionário (1640-1689), consolidou-se uma situação de poder dividido entre o monarca e o parlamento, de maneira
que a instituição parlamentar exercia um controle na gestão do governo. O rei reconheceu a Declaração de Direitos (1689), e
juntamente com seus ministros passou a ser responsável perante o parlamento inglês, que embora tivesse um sistema eleitoral
muito restrito, pois apenas uma minoria tinha direito a votar, constituiu-se em um modelo para os detratores do absolutismo.
A Revolução inglesa implicou a consolidação da hegemonia do parlamento, que representava os interesses dos setores mais
dinâmicos da sociedade e permitiu o desenvolvimento do capitalismo inglês, criando as condições que, entre outras, favoreceram a
primeira Revolução Industrial.
No caso dos Países Baixos existia também um sistema de poder de caráter semiparlamentar desde o início do séc. XVII.

P
As características fundamentais da economia do Antigo Regime são a prevalência de algumas características do sistema feudal, que
se manifestava fundamentalmente nas atividades agrícolas, e o desenvolvimento de um capitalismo de base comercial vinculado ao
comércio colonial.

• Uma agricultura de subsistência pouco produtiva


A principal fonte de riqueza na Europa pré-industrial era a agricultura. Aproximadamente 80% da população europeia viviam no
campo e se dedicavam a atividades agrícolas.
A agricultura caracterizava-se pelo uso de uma tecnologia muito atrasada: ferramentas rudimentares de ferro e madeira, energia
humana e animal, prática do rodízio de cultivos e do barbecho. A produtividade era muito baixa. Tratava-se de uma policultura
dedicada à subsistência do núcleo familiar. Os cultivos mais habituais eram de cereais, que constituíam a base da dieta alimentar,
dado que a criação de gado era pouco significativa. Também se cultivavam legumes, vinhas e árvores frutíferas e outros produtos
mais especializados, como o linho e o cânhamo, dos quais se obtinham fibras têxteis que eram transformadas em produtos
artesanais dentro do núcleo familiar. Os escassos excedentes que produziam os anos de boas colheitas eram vendidos em mercados e
feiras locais.
A sociedade do Antigo Regime sofria periodicamente a escassez de alimentos em consequência da baixa produtividade da
agricultura. Qualquer variação climática podia ocasionar uma má colheita, o que representava fome para a maior parte da população
e o desencadear de conflitos sociais. As autoridades regulavam o abastecimento das cidades, estabelecendo armazéns públicos de
cereais, principalmente de trigo.
No séc. XVII, os holandeses iniciaram um processo de renovação da agricultura que posteriormente se espalharia por outros países
europeus: mudanças nas técnicas agrícolas (desaparecimento da rotação trienal ao substituir-se o barbecho pelo cultivo de plantas
de forragem), melhorias nas ferramentas agrícolas etc., o que implicou um aumento da produtividade.
A forma mais habitual de propriedade da terra era a propriedade vinculada, que permitia ao proprietário explorá-la
economicamente e exercer a jurisdição senhorial, mas não vendê-la. A maior parte das terras vinculadas concentrava-se nas mãos
das classes privilegiadas (propriedade senhorial). O restante estava repartido entre o Estado (terras reais) e os municípios (terras
comunais).

• Oficinas artesanais, trabalho no domicílio e manufaturas

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A produção artesanal e manufatureira era escassa e ocupava uma porcentagem muito baixa da população. A maior parte dos
produtos artesanais necessários para a vida cotidiana era produzida no seio das famílias, que combinavam o trabalho da terra com a
elaboração de produtos artesanais, quer para uso doméstico próprio quer para a venda.
A produção artesanal e manufatureira desenvolvia-se assim por meio de três sistemas:

— A oficina artesanal: o mestre artesão trabalhava sozinho ou com ajuda de alguns oficiais e aprendizes. A atividade
destas oficinas era controlada pelos sindicatos, associações formadas pelos artesãos que praticavam um determinado ofício
em uma mesma povoação, com a finalidade de manter o monopólio da sua atividade, controlar as condições da produção e
da comercialização e regular o acesso a esse ofício.
— O trabalho no domicílio ou domestic system: uma forma de produção em que um comerciante fornecia as
matérias-primas e as ferramentas aos camponeses para estes trabalharem em casa e, depois, comprava o produto final. Os
comerciantes, animados pelo aumento da procura de produtos artesanais no comércio colonial, procuravam um sistema de
produção à margem da estrutura sindical que lhes permitisse obter maior quantidade de produtos. Para os camponeses era
uma forma de obter mais dinheiro, ao aproveitarem as épocas de pouca atividade agrícola.
— As manufaturas: centros incentivados pelo Estado ou pela iniciativa privada, com uma importante quantidade de
trabalhadores, onde se elaboravam artigos destinados ao mercado internacional. A produção nestes espaços permitiu um
maior e mais eficaz controle do trabalho dos artesãos (em relação àquele realizado no âmbito doméstico) e incentivou o
mercador-fabricante a melhorar instrumentos e métodos de trabalho.

Os três sistemas tinham características semelhantes: inexistência de grandes quantidades de capital, escasso consumo de energia,
pouca divisão do trabalho e uma baixa produtividade.

• O desenvolvimento do capitalismo comercial


Em relação às atividades mercantis, é necessário fazer uma distinção clara entre a atividade comercial interior e a exterior. A falta de
excedentes, a precariedade dos meios de transporte e o baixo poder de compra da população dificultavam as relações comerciais
entre as diferentes regiões de um Estado. As trocas eram geralmente efetuadas uma vez por semana em mercados locais. Também
existiam as feiras, mercados especiais que se realizavam uma ou duas vezes por ano e que contavam com privilégios legais.
O comércio internacional se efetuava fundamentalmente por mar e por intermédio de companhias que obtinham da coroa o
monopólio para comercializar num determinado território mediante o pagamento de impostos através de transações comerciais. Os
países que na época monopolizavam o comércio mundial eram a Inglaterra, os Países Baixos e a França.

Amsterdam, como outras cidades vinculadas ao


comércio marítimo, viveu uma grande
prosperidade econômica ao longo do séc. XVII. A
Praça Dam em Amsterdam, de Jacob van der Ulft,
séc. XVII (Museu Condé, Chantilly, França).

Para poderem desenvolver a sua atividade, estas companhias tiveram de resolver o problema de obter o capital necessário para fretar
barcos e completar a sua carga, assim como providenciar a proteção contra os riscos da navegação em longa distância. Para isso,
foram criadas sociedades mercantis que permitiam reunir grandes capitais com contribuições de diversas fontes. Desta forma, o
empreendedor não corria o perigo de perder tudo numa única operação.
O comércio colonial impulsionou de forma decisiva o desenvolvimento econômico de alguns países europeus, especialmente a
Inglaterra. Por meio deste comércio, os europeus obtiveram matérias-primas para as primeiras indústrias, venderam produtos
manufaturados e acumularam capitais.
Este auge comercial favoreceu a expansão dos mecanismos de crédito e o desenvolvimento de instituições financeiras, como a bolsa
e os bancos. Os lucros obtidos com o comércio colonial eram muito elevados e esta alta rentabilidade favoreceu a proliferação de
mercadores, banqueiros e agiotas. As cidades direta ou indiretamente associadas ao comércio marítimo (e, por conseguinte, a
burguesia que o controlava) atingiram níveis de grande prosperidade.

• A política econômica do Antigo Regime: o mercantilismo

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A origem do mercantilismo está relacionada à política monetária e ao poder dos monarcas absolutos. Em meados do séc. XVII
diminuiu a chegada de metais preciosos da América, o que provocou uma redução da quantidade de moeda em circulação e, em
consequência disso, uma estabilização dos preços das mercadorias.

A economia europeia nos sécs. XVI-


XVIII. No panorama econômico do Antigo
Regime desenvolveu-se um capitalismo do tipo
comercial que estimulou o crescimento das cidades
e dos centros de atividades econômicas.

Esta situação obrigou alguns Estados europeus a repensar a vida econômica. Partindo da ideia de que a riqueza de um país e o poder
de um Estado dependiam da quantidade de ouro e prata disponíveis, desenvolveram uma política intervencionista que se baseava
nos seguintes objetivos: acumular metais preciosos, fomentar a produção interior para poder vender no estrangeiro, facilitar a
exportação outorgando privilégios comerciais e impedir a importação por meio de medidas protecionistas.
Com o mercantilismo, o Estado tentava controlar a vida econômica e reforçar o poder absoluto do monarca. Na prática, os resultados
da política mercantilista foram pouco significativos.

A A R
A estrutura social, política e econômica que caracterizou o Antigo Regime entrou em crise durante o séc. XVIII. Os fatores que
provocaram esta crise foram: a ascensão da burguesia, o desenvolvimento de um novo sistema econômico (o capitalismo, em uma
forma mais estruturada) e a influência ideológica do movimento cultural do Iluminismo.

• A ascensão da burguesia e o desenvolvimento do capitalismo


O crescimento demográfico durante o séc. XVIII foi constante devido ao aumento das taxas de natalidade e a uma redução das taxas
de mortalidade. Esta redução deu-se graças às transformações agrícolas ocorridas durante aquele período que puseram fim às crises
de subsistência. O aumento da população favoreceu o crescimento econômico, já que aumentou o número de consumidores e
forneceu mão de obra abundante à incipiente indústria.
A procura de produtos também se viu estimulada pelo crescimento do comércio colonial, que cada vez tinha mais peso na economia
de alguns países europeus, principalmente o Reino Unido, os Países Baixos e a França. O aumento da procura potencializou as
atividades industriais e repercutiu nos preços, que experimentaram um aumento considerável. Os grupos sociais que viviam de
rendas, como a nobreza, ficaram pobres, enquanto a burguesia se beneficiou com a nova situação.
Em meados do séc. XVIII, o Antigo Regime estava totalmente obsoleto e representava uma barreira para a ascensão do grupo social
que controlava os setores econômicos mais produtivos e criava maior riqueza: a burguesia.

• A crítica e as propostas do Iluminismo


Durante o séc. XVIII disseminou-se pela Europa um movimento intelectual que tinha como objetivo alterar as bases da sociedade: o
Iluminismo.
As ideias dos filósofos iluministas centraram-se em três valores fundamentais: razão, natureza e progresso. A razão aparecia como o
único meio para entender o mundo, mais importante do que a tradição ou a religião. Os iluministas consideravam a natureza como
uma fonte de justiça e de bondade e confiavam na ideia de progresso entendido como um meio de aperfeiçoamento das pessoas. Este
progresso era impedido, segundo eles, pelas estruturas do Antigo Regime, que eles criticavam, propondo algumas alternativas:

— A religião: criticavam as religiões baseadas na revelação por serem fundadas em uma fé irracional e impostas pela força.
Não eram descrentes em Deus, eram deístas: acreditavam em uma religião, uma vez que a razão exige a necessidade de um
criador e permite a liberdade religiosa. Condenavam a intolerância religiosa.
— A sociedade: opunham-se a um sistema que organizava a sociedade segundo o nascimento e a desigualdade. Eram
partidários de uma sociedade em que todas as pessoas gozassem dos mesmos direitos e em que as únicas diferenças
dependessem do valor e da inteligência de cada indivíduo.

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— A economia: criticavam o mercantilismo e afirmavam que a agricultura era a principal fonte de riqueza. Defendiam a
liberdade de produção e de comércio.
— A política: opunham-se à monarquia absoluta de direito divino e desenvolveram as bases do liberalismo político.
Defendiam a separação de poderes e a soberania nacional.

Os filósofos do Iluminismo ofereceram uma nova concepção do poder. Montesquieu, a exemplo disso, na sua obra O Espírito das
Leis, declarava-se partidário de um sistema de governo parlamentar e da divisão de poderes (executivo, legislativo e judiciário).
Jean-Jacques Rousseau definiu o contrato social como fruto de um pacto entre todos os cidadãos e formulou o princípio de
soberania nacional, segundo o qual o poder emana do livre consentimento de todos os cidadãos expresso por meio do sufrágio.
Voltaire defendeu a tolerância e a humanização das instituições, além de ter sido um dos críticos mais ferrenhos à Igreja.
As ideias do Iluminismo estenderam-se pela Europa. Sem renunciar à condição de monarcas absolutos, alguns soberanos tentaram,
com pouco êxito, implantar certas reformas que pretendiam aliar a autoridade real à ideia de progresso que propunha o Iluminismo:
o Despotismo Esclarecido.
O fim do Antigo Regime foi consequência da Revolução Liberal, que destruiu o modelo social e político, e da Revolução Industrial,
que abriu caminho para o capitalismo industrial e superou as limitações que o modelo econômico feudal impusera ao crescimento da
produção.

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