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Antigo Regime
AE A R
Denomina-se Antigo Regime o sistema social, político e econômico vigente em diversos países europeus na Idade Moderna, nos sécs.
XVI, XVII e XVIII. Caracterizava-se, socialmente, por uma estrutura baseada na diferença de classes; politicamente, pelo
predomínio da monarquia absoluta; e economicamente, pela sobrevivência de algumas características do feudalismo e pelo
desenvolvimento de um capitalismo de base comercial.
R
O regime demográfico deste período caracterizou-se por taxas de natalidade e mortalidade muito elevadas, curta esperança de vida e
a existência de crises demográficas periódicas que provocavam uma mortalidade catastrófica e dificultavam o crescimento da
população.
A taxa de natalidade situava-se entre 35 e 45‰, com uma média de cinco filhos por família. A taxa de mortalidade oscilava entre 30
e 40 ‰ . Estas altas taxas de mortalidade afetavam especialmente os grupos sociais mais desfavorecidos e a população infantil.
Calcula-se que entre 20 e 30% das crianças morriam antes de completar um ano de idade. A esperança de vida era de
aproximadamente trinta anos.
Os fatores que incidiam de forma negativa sobre a população e provocavam este tipo de mortalidade, levando, a longo prazo, a uma
estagnação demográfica, eram basicamente a fome, as epidemias e as guerras.
Os cereais eram a base da alimentação, razão pela qual a subsistência estava ligada às oscilações do preço destes produtos,
principalmente do trigo. Nas épocas de más colheitas, os preços aumentavam, criavam-se situações de fome, a taxa de mortalidade
subia e a taxa de crescimento natural da população diminuía. Por outro lado, nos períodos de prosperidade econômica, produzia-se
um incremento da natalidade, uma redução da mortalidade e, consequentemente, um aumento demográfico. Não obstante, estes
períodos duravam pouco tempo, já que a produção agrícola não era capaz de crescer no mesmo ritmo que a população e acabava por
produzir-se novamente uma crise de subsistência que provocava uma nova redução da população.
A alimentação deficiente, a falta de higiene e a precariedade da medicina aumentavam a incidência de doenças endêmicas e a
frequência das epidemias, que periodicamente causavam uma queda considerável na população.
A guerra também afetava negativamente o crescimento da população. Aos mortos nos campos de batalha tinham de ser somadas,
ainda, a destruição das lavouras e a consequente época de fome, a redução do número de casamentos e de nascimentos e as infecções
e epidemias que os cadáveres insepultos provocavam.
A :
A sociedade do Antigo Regime estava organizada em classes ou grupos que tinham um estatuto jurídico particular. Uma pessoa fazia
parte de um determinado grupo social por nascimento ou por herança, e a mobilidade social quase não existia.
As classes privilegiadas, a nobreza e o clero, não pagavam impostos, mas tinham direito a recebê-los, e dispunham de tribunais
próprios. Estes privilégios justificavam-se por terem sido concedidos pela coroa ou porque tinham sido exercidos ininterruptamente
desde tempos muito antigos. As classes menos favorecidas, ou seja, o povo, genericamente falando, que reunia o resto da população
(burguesia, classes populares urbanas e camponeses), eram obrigadas a pagar impostos e estavam excluídas da participação na vida
política. A desigualdade perante a lei e perante os encargos fiscais da sociedade era a característica principal da sociedade do Antigo
Regime.
A sociedade organizava-se segundo as funções que cada grupo desempenhava: o clero ocupava-se de rezar para assegurar a proteção
divina, a nobreza combatia e protegia a coletividade de seus inimigos e o resto da população produzia os bens materiais para atender
às necessidades sociais.
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23/10/2020 PLANETA SABER
• As classes privilegiadas
O clero representava entre 0,5 e 0,75% da população. As suas finanças provinham do dízimo – uma décima parte das colheitas e dos
lucros anuais – e das rendas das suas numerosas propriedades, especialmente terras.
— O clero: não era um grupo homogêneo, pois formava-se por dois grupos: o alto clero - composto por – cardeais, bispos,
abades –, cujos membros pertenciam a famílias da nobreza, e o baixo clero – sacerdotes de paróquias –, que provinha da
pequena burguesia ou dos camponeses. O primeiro tinha uma forma de vida semelhante à da nobreza, enquanto o segundo
vivia modestamente e partilhava frequentemente das aspirações populares.
— A nobreza: constituía o núcleo fundamental da classe dominante; representava entre 1 e 2% da população. Vivia das
rendas geradas pelas suas propriedades territoriais e tinha acesso a cargos públicos e oficiais.
A nobreza também não era um grupo homogêneo e estava dividida em três categorias: a nobreza de corte, grupo minoritário
formado pela elite que possuía grandes fortunas; a nobreza de províncias, que vivia das rendas e dos direitos que derivavam
da posse territorial, e a nobreza de toga, que não eram necessariamente nobres de nascimento e incluía os nobres que
controlavam o aparelho administrativo e judicial do Estado.
— A burguesia: era o grupo mais dinâmico entre os seus e, geralmente, de toda a sociedade. Desde o fim da Idade Média
tinha desenvolvido um potencial econômico que, pouco a pouco, foi se igualando ao das classes privilegiadas. No séc. XVIII
iniciou a ascensão para o reconhecimento social e o controle do poder político. Dentro da burguesia existia a que vivia das
rendas das suas propriedades ou do seu capital e imitava tanto quanto podia as formas de vida da aristocracia; a burguesia
financeira (formada por banqueiros e cobradores de impostos); a manufatureira e comercial (formada por grandes
comerciantes e industriais) e, por último, a pequena burguesia, que agrupava artesãos, pequenos comerciantes e
profissionais liberais como advogados e médicos.
— As classes populares urbanas: eram integradas pelos trabalhadores das oficinas artesanais (oficiais e aprendizes),
operários das manufaturas e por numerosos pedintes e vagabundos. As suas condições de vida eram precárias.
— As classes populares rurais: correspondiam ao grupo mais numeroso da população na época do Antigo Regime. A
grande maioria não era proprietária das terras em que trabalhava e alguns até eram servos, como ocorria na Europa oriental.
Os camponeses tinham poucos recursos econômicos e eram submetidos ao regime feudal. Eram obrigados a pagar impostos
(como o dízimo, os impostos pelo uso dos moinhos e dos fornos) e prestações (como a corveia) à Coroa, à nobreza e ao clero.
O :
A monarquia absoluta era o sistema político habitual na Europa do Antigo Regime. Ao mesmo tempo, e diferentemente daquilo que
acontecia na maioria dos Estados europeus, durante este período foi instaurado na Inglaterra e nos Países Baixos um sistema
político que garantia a hegemonia do parlamento em face do poder do monarca.
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controlava a Igreja e o exército e dirigia a política externa. Os nobres tinham cedido à monarquia uma parte dos direitos jurídico-
políticos de que tinham gozado na Idade Média (como a administração da justiça e a formação de exércitos próprios) em troca da
consolidação dos seus privilégios econômicos e sociais. Por outro lado, o rei beneficiou-se da ascensão da burguesia comercial, da
qual conseguia impostos e empréstimos que lhe permitiam aumentar o seu poder, concedendo-lhes em troca monopólios e títulos
nobiliárquicos.
Apesar de, no exercício diário do governo, os reis serem assistidos por colaboradores pessoais – secretários, ministros e órgãos
colegiados e conselhos –, estes não tinham poderes próprios nem capacidade para se opor à vontade do soberano, pois todo o poder
estava concentrado no monarca. As instituições que desde a Idade Média representavam a população, como os Estados Gerais na
França, deixaram de ser convocadas ou viram declinar a sua influência em face do poder do rei.
O poder do monarca absoluto estava, não obstante, limitado pelas leis e pelos costumes do reino e pela impossibilidade técnica de
ter acesso a todos os territórios do país e de controlar as ações de todos os seus agentes, devido à precariedade dos meios de
comunicação e de transporte. Os privilégios que os soberanos tinham concedido a alguns grupos em épocas anteriores, aos altos
funcionários e mesmo a algumas regiões e cidades dificultavam a unificação administrativa e o funcionamento centralizado do
poder.
P
As características fundamentais da economia do Antigo Regime são a prevalência de algumas características do sistema feudal, que
se manifestava fundamentalmente nas atividades agrícolas, e o desenvolvimento de um capitalismo de base comercial vinculado ao
comércio colonial.
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A produção artesanal e manufatureira era escassa e ocupava uma porcentagem muito baixa da população. A maior parte dos
produtos artesanais necessários para a vida cotidiana era produzida no seio das famílias, que combinavam o trabalho da terra com a
elaboração de produtos artesanais, quer para uso doméstico próprio quer para a venda.
A produção artesanal e manufatureira desenvolvia-se assim por meio de três sistemas:
— A oficina artesanal: o mestre artesão trabalhava sozinho ou com ajuda de alguns oficiais e aprendizes. A atividade
destas oficinas era controlada pelos sindicatos, associações formadas pelos artesãos que praticavam um determinado ofício
em uma mesma povoação, com a finalidade de manter o monopólio da sua atividade, controlar as condições da produção e
da comercialização e regular o acesso a esse ofício.
— O trabalho no domicílio ou domestic system: uma forma de produção em que um comerciante fornecia as
matérias-primas e as ferramentas aos camponeses para estes trabalharem em casa e, depois, comprava o produto final. Os
comerciantes, animados pelo aumento da procura de produtos artesanais no comércio colonial, procuravam um sistema de
produção à margem da estrutura sindical que lhes permitisse obter maior quantidade de produtos. Para os camponeses era
uma forma de obter mais dinheiro, ao aproveitarem as épocas de pouca atividade agrícola.
— As manufaturas: centros incentivados pelo Estado ou pela iniciativa privada, com uma importante quantidade de
trabalhadores, onde se elaboravam artigos destinados ao mercado internacional. A produção nestes espaços permitiu um
maior e mais eficaz controle do trabalho dos artesãos (em relação àquele realizado no âmbito doméstico) e incentivou o
mercador-fabricante a melhorar instrumentos e métodos de trabalho.
Os três sistemas tinham características semelhantes: inexistência de grandes quantidades de capital, escasso consumo de energia,
pouca divisão do trabalho e uma baixa produtividade.
Para poderem desenvolver a sua atividade, estas companhias tiveram de resolver o problema de obter o capital necessário para fretar
barcos e completar a sua carga, assim como providenciar a proteção contra os riscos da navegação em longa distância. Para isso,
foram criadas sociedades mercantis que permitiam reunir grandes capitais com contribuições de diversas fontes. Desta forma, o
empreendedor não corria o perigo de perder tudo numa única operação.
O comércio colonial impulsionou de forma decisiva o desenvolvimento econômico de alguns países europeus, especialmente a
Inglaterra. Por meio deste comércio, os europeus obtiveram matérias-primas para as primeiras indústrias, venderam produtos
manufaturados e acumularam capitais.
Este auge comercial favoreceu a expansão dos mecanismos de crédito e o desenvolvimento de instituições financeiras, como a bolsa
e os bancos. Os lucros obtidos com o comércio colonial eram muito elevados e esta alta rentabilidade favoreceu a proliferação de
mercadores, banqueiros e agiotas. As cidades direta ou indiretamente associadas ao comércio marítimo (e, por conseguinte, a
burguesia que o controlava) atingiram níveis de grande prosperidade.
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23/10/2020 PLANETA SABER
A origem do mercantilismo está relacionada à política monetária e ao poder dos monarcas absolutos. Em meados do séc. XVII
diminuiu a chegada de metais preciosos da América, o que provocou uma redução da quantidade de moeda em circulação e, em
consequência disso, uma estabilização dos preços das mercadorias.
Esta situação obrigou alguns Estados europeus a repensar a vida econômica. Partindo da ideia de que a riqueza de um país e o poder
de um Estado dependiam da quantidade de ouro e prata disponíveis, desenvolveram uma política intervencionista que se baseava
nos seguintes objetivos: acumular metais preciosos, fomentar a produção interior para poder vender no estrangeiro, facilitar a
exportação outorgando privilégios comerciais e impedir a importação por meio de medidas protecionistas.
Com o mercantilismo, o Estado tentava controlar a vida econômica e reforçar o poder absoluto do monarca. Na prática, os resultados
da política mercantilista foram pouco significativos.
A A R
A estrutura social, política e econômica que caracterizou o Antigo Regime entrou em crise durante o séc. XVIII. Os fatores que
provocaram esta crise foram: a ascensão da burguesia, o desenvolvimento de um novo sistema econômico (o capitalismo, em uma
forma mais estruturada) e a influência ideológica do movimento cultural do Iluminismo.
— A religião: criticavam as religiões baseadas na revelação por serem fundadas em uma fé irracional e impostas pela força.
Não eram descrentes em Deus, eram deístas: acreditavam em uma religião, uma vez que a razão exige a necessidade de um
criador e permite a liberdade religiosa. Condenavam a intolerância religiosa.
— A sociedade: opunham-se a um sistema que organizava a sociedade segundo o nascimento e a desigualdade. Eram
partidários de uma sociedade em que todas as pessoas gozassem dos mesmos direitos e em que as únicas diferenças
dependessem do valor e da inteligência de cada indivíduo.
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23/10/2020 PLANETA SABER
— A economia: criticavam o mercantilismo e afirmavam que a agricultura era a principal fonte de riqueza. Defendiam a
liberdade de produção e de comércio.
— A política: opunham-se à monarquia absoluta de direito divino e desenvolveram as bases do liberalismo político.
Defendiam a separação de poderes e a soberania nacional.
Os filósofos do Iluminismo ofereceram uma nova concepção do poder. Montesquieu, a exemplo disso, na sua obra O Espírito das
Leis, declarava-se partidário de um sistema de governo parlamentar e da divisão de poderes (executivo, legislativo e judiciário).
Jean-Jacques Rousseau definiu o contrato social como fruto de um pacto entre todos os cidadãos e formulou o princípio de
soberania nacional, segundo o qual o poder emana do livre consentimento de todos os cidadãos expresso por meio do sufrágio.
Voltaire defendeu a tolerância e a humanização das instituições, além de ter sido um dos críticos mais ferrenhos à Igreja.
As ideias do Iluminismo estenderam-se pela Europa. Sem renunciar à condição de monarcas absolutos, alguns soberanos tentaram,
com pouco êxito, implantar certas reformas que pretendiam aliar a autoridade real à ideia de progresso que propunha o Iluminismo:
o Despotismo Esclarecido.
O fim do Antigo Regime foi consequência da Revolução Liberal, que destruiu o modelo social e político, e da Revolução Industrial,
que abriu caminho para o capitalismo industrial e superou as limitações que o modelo econômico feudal impusera ao crescimento da
produção.
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