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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

FACULDADE DE PSICOLOGIA

JÉSSICA CAROLINE INÁCIO MARQUES

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E PLANTÃO PSICOLÓGICO

São Paulo
2021
JÉSSICA CAROLINE INACIO MARQUES RA 3017109623

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E PLANTÃO PSICOLÓGICO

Relatório final apresentado por Jéssica Caroline


Inácio Marques à Universidade Nove de Julho,
como requisito parcial para a obtenção dos
créditos referentes ao Estágio Profissionalizante,
sobre as observações de mediações e plantões
psicológicos no CEJUSC.
Supervisora: Camila Miyagui

São Paulo
2021
RESUMO

Este estágio teve como objetivo realizar a observação e análise das mediações de
conflitos familiares referentes a casos cíveis, divórcios, fixação de alimentos e disputas de
guarda. Além de disponibilizar semanalmente o Plantão Psicológico no Centro Judiciário de
Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC). Os dados presentes nesse trabalho advêm da
atuação dos estagiários do curso de Psicologia da Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
Foram realizadas discussões sobre os casos, levantamento teórico a respeito dos assuntos
abordados e supervisões com a Profª Camila Miyagui.

Palavras-chave: Mediação, Plantão Psicológico, Guarda, Divórcio, Guarda Compartilhada,


Separação.
ABSTRACT

This internship aimed to carry out the observation and analysis of mediations of
family conflicts related to civil cases, divorces, maintenance and custody disputes. In addition
to providing a weekly Psychological Service at the Judiciary Center for Conflict and
Citizenship Solution (CEJUSC). The data present in this work come from the work of interns
in the Psychology course at Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Discussions were held
about the cases, theoretical survey about the topics covered and supervisions with Prof.
Camila Miyagui.

Keywords: Mediation, Psychological Duty, Guard, Divorce, Shared Guard, Separation.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................06
2. JUSTIFICATIVA................................................................................................................07
3. OBJETIVO GERAL..........................................................................................................08
4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................................08
5. MÉTODOS..........................................................................................................................08
6. DISCUSSÃO.......................................................................................................................09
6.1 O PROCESSO DE CONDUÇÃO DO MEDIADOR.....................................................09
6.2 COMPLEXIDADE DOS PROCESSOS DE SEPARAÇÃO.........................................09
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................15
8. REFERÊNCIAS.................................................................................................................16
9. ANEXOS.............................................................................................................................18
9.1 PLANTÕES PSICOLÓGICOS………………………………………………………...18
9.2 MEDIAÇÕES…………………………………………………………………………...42
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1. INTRODUÇÃO

Com o número elevado de pessoas precisando de atendimento psicológico, nas


clínicas sociais lotam e é necessário aguardar serem chamados para quando abrir um possível
atendimento. Os casos mais graves e mais leves se misturam, dificultando o acesso a
demandas pontuais. Pensando numa alternativa para driblar essa burocracia, disponibiliza-se
para evitar longas filas de espera para em um atendimento psicoterápico tradicional, o plantão
psicológico .
Segundo Ballalai (2008, p. 186) o plantão psicológico é uma atenção psicológica em
forma de pronto atendimento, que oferece espaço de escuta, acolhimento e intervenção clínica
perante crises, que mobiliza e agiliza o tempo de reação e adesão à ajuda psicoterápica. O
serviço se propõe a ser um atendimento mais imediato, trabalhando as capacidades que o
indivíduo tem para elaboração de suas demandas.
O plantão psicológico, segundo Oliveira (2005 apud Dutra & Rebouças, 2010, p.20),
acontece como um espaço que favorece a experiência dos dois lados, no qual o psicólogo se
apresenta disposto, presente e disponível , estando junto e indo em direção ao sofrimento,
para compreender o outro. Os sofrimentos trazidos podem ser dos mais diversos, como
financeiro, social, política, que podem ser tratados nas clínicas escola por quem não tem como
arcar com atendimentos pagos.
Como destacam Chaves e Henriques (2008, p. 154), a relação de ajuda durante os
plantões pode ser definida como situação que um dos participantes tenta promover numa
outra parte, ou ambas, uma maior apreciação, expressão e utilização funcional dos recursos
internos latentes do indivíduo. Baseado num modelo proposto por Rogers, começaram a dar
importância ao cliente, à relação e ao processo.
O objetivo deste trabalho é analisar os desdobramentos na observação dos plantões
psicológicos, que se trata de um atendimento emergencial, que não necessita de agendamento
e acolhe a todas as pessoas que buscam ajuda para problemas emocionais. Os indivíduos
eram encaminhados pelos mediadores quando os mesmos sentiam a necessidade de um apoio
psicológico. As mediações de conflitos que tratam de casos que envolvem separações,
fixação de alimentos e casos cíveis, onde houve a participação de um mediador. Esses
relatórios das audiências estarão em anexo disponíveis para visualização.
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2. JUSTIFICATIVA

A investigação do funcionamento dos plantões psicológicos, para nós que somos


estagiários, é de extrema importância pois pode trazer uma perspectiva diferente de
atendimento. Já que o objetivo do psicólogo não é manter o paciente para sempre em terapia,
esse método seria uma forma de se entender quanto tempo é necessário para a melhora e
recuperação de um paciente, o que é necessário ser trabalhado primeiro, o que é mais
importante, e como o acolhimento se mostra eficaz em certos casos, não precisando com
urgência de um aprofundamento no caso.

3. OBJETIVO GERAL
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Realizar os plantões psicológicos referentes aos casos encaminhados pelos CEJUSC;

4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Oferecer um espaço de escuta qualificada e acolhimento em situação emergencial ou


de crise;

Auxiliar na resolução de conflitos psicológicos, focando em situações emergenciais;

5. MÉTODOS

No início do estágio profissionalizante, foi necessário num primeiro momento discutir


os temas relacionados aos plantões psicológicos, as mediações de conflitos, além da literatura
sobre vara de família e a abordagem sistêmica. Após os estudos e debates, os alunos foram
encaminhados para observarem as audiências (on-line) das mediações de conflitos familiares,
referentes aos CEJUSCS. Tais casos eram discutidos e analisados nas supervisões, ficando
sob responsabilidade de cada acadêmico produzir os relatórios parciais. Já, num segundo
momento, deu início aos plantões psicológicos encaminhados pelos Cejuscs , no qual cada
dupla atendia um caso enquanto os demais participavam da equipe reflexiva.

As supervisões eram divididas em dois momentos de discussões e análises: as


observações das mediações de conflitos e os plantões psicológicos. Os alunos que não
participavam como plantonistas assistiam os casos atendidos pelos colegas. Posteriormente,
todos, sob supervisão da professora, contribuíam com os atendimentos e com a confecção dos
relatórios parciais e finais. Também, foi passado um termo de consentimento para o paciente.

6. DISCUSSÃO

6.1. O PROCESSO DE CONDUÇÃO DO PLANTÃO PSICOLÓGICO


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O processo de condução foi movido primeiramente com a intenção de detectar a


demanda trazida pelo indivíduo que procurou o plantão. No caso, o indivíduo era um
adolescente (no começo se identificava como gênero feminino, e no meio dos plantões
começou a se manifestar no masculino, dizendo seu nome social). A primeira sessão, devido a
resistência, foi buscar uma forma de identificação, já que quem solicitou os plantões ao filho
foi a mãe. Foi deixado claro desde o começo que tínhamos um compromisso de
confidencialidade, de sigilo. Em todas as sessões foram implicadas perguntas circulares,
sendo fiel a proposta da abordagem, que provoca a empatia, o ato de se colocar no lugar do
outro, compreendendo seu ponto de vista. Foram propostas pequenas intervenções durante o
processo, com o objetivo de reconstruir relações familiares. Entendendo que é necessário que
em alguns momentos o atendimento tenha um caráter educativo, conversamos sobre educação
sexual, mercado de trabalho, projeto de vida, gênero e sexualidade.

6.2. A COMPLEXIDADE DOS PROCESSOS DE CONFLITOS FAMILIARES E


DINÂMICA FAMILIAR

Os plantões foram feitos por atendimento online, onde desde o começo trouxe a
demanda das relações sociais, dos conflitos familiares . Suas respostas eram curtas, sendo
necessário que fosse perguntado para que ele falasse. Com o tempo, o adolescente trazia
coisas espontaneamente, mas em geral sempre foi necessário que fosse tirado dele
informações mais detalhadas sobre acontecimentos, tanto do passado quanto do futuro. De
começo abordaremos seu nome como N., no gênero feminino, após algum tempo, o próprio
adolescente nos trouxe um nome social, que será abordado aqui como M.

N. trouxe em praticamente todas as sessões sua insatisfação familiar, onde dizia ter
muito conflito com sua avó materna, que alegava que era uma pessoa que reclamava muito e a
cobrava muito. Sua mãe era definida por N. como uma pessoa que não se posicionou contra a
sua avó materna, e que sempre que ela reclamava para a mãe sobre sua insatisfação, a mãe
não fazia nada. O pai de N. foi caracterizado por ela como um homem tranquilo, que visitava
quinzenalmente. Apesar de se dar melhor com ele, N. não conseguia conversar sobre certos
assuntos de sua vida, pois dizia que ele só fazia cara de sério. O pai de N. falava que ela era
muito nova para namorar, o que fazia N. não falar sobre esses assuntos com o pai.
Segundo fala Camicia et. al (2016, p.70), mesmo com o término da conjugalidade,
deve ser mantida a coparentalidade, que é como os indivíduos coordenam e apoiam no
processo de cuidar e de educar os filhos, compartilhando a responsabilidade pelas figuras
parentais no papel de cuidadores. Durante o atendimento, foi percebido que existe um cuidado
oferecido na criação de M. pois ele nunca apareceu sujo, ele frequenta a escola, faz curso de
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inglês, tem convívio com o pai e sempre pareceu muito saudável. Já em relação à educação de
M., a pessoa que mais desempenha esse papel é a avó materna. Durante as análises, foi
repetido diversas vezes por M. que na sua casa, cada um ficava no seu canto. Quem dava
bronca, cobrava M. de arrumar a casa, sair do quarto, era a avó materna. A mãe cobrava muito
M. de socializar, mas tirando isso, ela não cobrava., a não ser que a avó se manifestasse. M.
relatou que os pais não se davam bem, que viviam brigando. Isso mostra um problema na
execução da coparentalidade, que não estava sendo aplicada entre o pai e mãe de M.
Enquanto os pais não se davam bem, M. ficava sem esse apoio e coordenação.

N. também nos trouxe durante os plantões, um pedaço de sua vida amorosa e


amizades. N. não conseguia ter um relacionamento duradouro, que tinham um período
aproximado de uma semana, onde alegava as mesmas características, sobre a pessoa ser
atenciosa e carinhosa, descrição que também chegou a aplicar quando descreveu a própria
mãe. A maioria desses seus relacionamentos eram à distância, pela internet, que vinham de
um site ao qual a adolescente escrevia suas fan fics. Eles acabavam porque a pessoa deixava
de responder, ou era uma brincadeira de uma amiga, ou a pessoa sumia e alegava que estava
sem celular.

Quando falava dela, espontaneamente, só falava de seus relacionamentos ou amigos,


sendo necessário que fosse perguntado sobre sua relação familiar. Os relatos nos indicaram
um apego muito grande a uma vida virtual e um abandono da vida fora das redes. Também foi
percebido que N. não tinha maturidade para se relacionar dentro de um namoro, não percebia
os sinais de que havia algo errado nas relações, mas parecia mais um motivo para fugir de sua
própria realidade. Relatou traições de amigos e ex-namorados, onde houve um episódio de
vingança planejado por N., mas uma demora no rompimento dessas relações que se
mostravam aos olhos dos plantonistas como uma relação tóxica.

Otto e Ribeiro (2020, p. 80) compreende que a epistemologia sistêmica entende a


complexidade do mundo e se contextualiza nos fenômenos e no entendimento que as relações
são causas circulares, causa e efeito em si mesmas. O fato dos namoros da adolescente
durarem tão pouco tempo, indica sua imaturidade para se relacionar nessa profundidade, mas
também indica uma falta de percepção em perceber os detalhes mal explicados das histórias
que a adolescente nos trazia.

Como a adolescente não tem envolvimento o suficiente para discutir sobre esse tipo de
relação com seus responsáveis, não tinha orientação para detectar os pequenos abusos do dia-
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a-dia. Tendo o exemplo de uma relação não-profunda com o pai, que só proporciona
momentos de lazer e tendo uma relação com uma mãe e sem autoridade, nos indica uma certa
influência nessas relações.

A adolescente sempre trazia a descrição de pessoa atenciosa e carinhosa, para todas as


pessoas se envolvia amorosamente, mas sempre foram relações à distância e sem
profundidade. A adolescente agia com muita passividade, aceitando as desculpas dadas nos
seus namoros. Um dessas pessoas falou que estava sem celular por muito tempo, e a
adolescente não se incomodou, um de seus ex-relacionamentos excluíram suas histórias de
Fan Fics do site que ela escrevia, deixando ela muito magoada, mas ela continuou sendo
amiga dele. Um de seus ex falou abertamente que estava afim do seu novo namorado, e ela
não se incomodou.

A adolescente parece não consegue por critérios saudáveis em suas relações.


Entendemos que a adolescente esteja tomando seus primeiros passos na vida amorosa, mas
entendemos que a falta de participação dos pais, a falta de orientação, faz a adolescente tomar
decisões que não está preparada para tomar sozinha, como se ela já soubesse tomá-las. Apesar
de se relacionarem mais profundamente na internet, suas relações continuam distantes e
superficiais, como são no seu ciclo familiar.

No meio do período dos plantões, N. se assumiu como transboy, e nos deu o nome
social de M. Primeiro M. planejou se assumir mais tarde, porém acabou resolvendo que iria
contar ao pai, que alegou que M. estava sendo influenciado. Foi escrito pela mãe e por M.
uma carta, entregue ao pai, para ajudar a entender sobre o assunto, mas após entregar a carta,
o pai disse que não iria ler, pois não estava preparado para lidar com isso. Apesar da mãe de
M. alegar que aceita o filho, ela não o chama pelo nome social. Ela procurou em particular os
plantonistas e confessou que acredita ser culpa dela o que aconteceu, que ela desejou um
menino, porque o pai queria muito ter um menino também e a mãe de M. queria agradá-lo.
LaSala( 1997, p. 292, apud Nichols e Schwartz, 2007) nos dizem que os pais podem se sentir
culpados do filho ser LGBT+, precisando de tempo para superar o choque inicial, tendo
reações como negação, autocensura, medo pelo futuro dos filhos à hostilidade, violência e
repúdio. A reação dos dois, referente a revelação de M., já era algo esperado.

M. pretendia se mudar para o pai caso o pai aceitasse seu novo gênero, pois não queria
mais lidar com a avó, ao qual resistia a qualquer tentativa de resolução sugerida pelos
plantonistas. Foi revelado que M. já tinha morado com o pai anteriormente e saiu porque o
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não permitia que ele tivesse um celular com Whatsapp, e agora que estava tendo restrições
enquanto estava com a mãe, queria mudar de volta. Podemos ver aqui como a falta de
coordenação e apoio na coparentalidade dos pais, implica na educação de M., deixando em
aberto as possibilidades de M. em se mudar de casa, caso houvesse algo que fosse
contrariado. Se os pais, mesmo que separados, tivessem de acordo nas necessidades de M., ele
não acha que tem essa liberdade. No aspecto educativo, deixar um adolescente fazer o que
deseja, mudando de casa assim que algo não ser do jeito que espera, estimula um
comportamento de fuga, de esquiva, não permitindo que M. aprenda a negociar suas
necessidades dentro do âmbito familiar, o que terá de negociar fora desse meio futuramente
em sua vida.

Durante as sessões foi percebido que M. mentia sobre certas informações como
períodos e fatos. Quando era proposto intervenções para as próximas sessões, M. sempre
falava que não lembrava, principalmente quando envolvia sua avó. Certos assuntos eram
trazidos pela mãe, em particular, ao qual M. nunca chegou sequer a mencionar. Na última
sessão com M. e sua mãe, foi decidido que os assuntos a serem discutidos seriam atenção,
comunicação e privacidade. M. ao lado da mãe, não olhava pra câmera, quando olhava ria,
tentava desviar o assunto sempre que podia, cutucava a mãe, e sempre quando chegava a vez
dele falar, não falava nada, falava que não sabia, que não lembrava. Quando a demanda o
beneficiava (como a privacidade), M. cobrava um posicionamento da mãe, agora quando era
para ele ceder, principalmente em relação a se expressar a ser mais claro com a mãe sobre sua
vida, M. fugia do assunto. A mãe de M. falava que sentia uma intuição e decidia por exemplo,
abrir o celular dele e ver o que estava acontecendo, encontrando algo errado quando fazia
isso. Foi perguntado se ela o avisava do que iria fazer, ela disse que “Não tem como conversar
com alguém que não fala” (sic). A mãe de M. alega que sempre o deixou livre, mas nesses
momentos teve que agir.

Ficou claro na última sessão que M. queria cobrar, mas não queria ser cobrado. M.
tinha uma mãe que estava muito preocupada com a vida paralela que M. vivia, e como M. era
muito fechado, a mãe que não era acostumada a impor limites, tomava atitudes mais drásticas
na hora de educar. Nessas atitudes drásticas, não havia diálogo, era falava que seguia a
intuição, mas não conversava com ele sobre o que iria fazer. Apesar de M. não gostar dessas
atitudes, não tinha nenhuma pretensão de “negociar sua liberdade”. A mãe trouxe na sessão
que encontrou no celular de M. conversas com pessoas de 30 anos, encontrou pesquisa sobre
Sugar Mama, que são assuntos muito delicados para um adolescente. M. não pareceu achar
nada de errado em nenhuma das informações que a mãe trouxe, apenas culpou ela de ter
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olhado. Outro assunto que a mãe trouxe foi um stories que ele a ocultou, dizendo que queria
se cortar na madrugada, porém sua madrinha viu e cobrou muito a mãe dele sobre esse post .
Ele também disse que a madrinha estava muito sem consciência, mas em nenhum momento se
responsabilizou sobre o post que fez. Tudo isso revelou o grande problema detectado desde o
começo dos plantões, que é a falta de comunicação dentro do seu ciclo familiar. Foi percebido
que M. sempre teve muita liberdade e faz de tudo para continuar tendo essa liberdade. A mãe
percebeu que precisa olhar e cuidar mais do seu filho, mas agora que ele teve toda essa
liberdade, ele não quer ceder. O fato de M. ter toda essa liberdade, faz com que ele sempre
que contrariado, simplesmente mude casa, ou viva no mundo paralelo, deixando seu mundo
pessoal de lado, sem resolver os problemas dentro de casa, fugindo o tempo todo de sua
realidade e das restrições colocadas. A mãe é uma pessoa muito falante e M. é pessoa muito
fechada, que para não se comprometer, diz que não lembra, não sabe, não tem nada a falar.

Percebemos um desequilíbrio das relações e uma visão limitada entre mãe, pai e filho.
Como Costa & Guimarães (2003, p. 171) apontam, o problema surge quando existe um
consenso de narrativa rígida, cristalizada, que não abrem espaço para o novo e o diferente no
que tange ao universo experiencial de uma determinada pessoa ou grupo, perpetuando uma
narrativa já estabelecida e mantendo a organização do sistema familiar. Vemos que o pai,
evitando ter conversas sobre assuntos profundos e até alegando que M. era muito novo pra
namorar, não conversando sobre seu gênero com ele, se negando a ler a carta entregue a ele,
indica que ele não lida muito bem com o crescimento do filho. Como ele não lida com as
novas questões trazidas com a chegada da adolescência, ele não participa desse momento e
não pode orientar M. sobre as questões envolvidas nesse período que ele está. Já a mãe criou
uma atmosfera onde ela queria ser amiga de M., só que isso fez com que ela se ausentasse da
educação dele. Agora que se tornou mais interessada em participar de sua educação encontra
resistência dele. M. estava fazendo suas escolhas sem a participação da mãe e quer continuar
assim. Para M. as coisas continuarem dessa forma, sem uma proximidade, pode parecer
vantajoso, afinal ele tomará as decisões de sua vida preservando sua liberdade. Aí entra a
narrativa cristalizada que se formou e a rigidez no diálogo entre os familiares.

O encontro com a mãe se mostrou infrutífero em relação a fazerem um acordo para


tentarem tornar as coisas mais equilibradas, porém todo o problema foi abordado na busca de
trazer novas possibilidades e estratégias que guiarão para uma futura mudança e
restabelecimento dos papéis de cada familiar dentro desses conflitos.

Como destaca Rodriguez-Bustamante (2016, p. 28), a família é uma estrutura


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sociocultural que produz memória coletiva, que valoriza os eventos do seu entorno,
permitindo interação entre os membros, gerando espaços comunicativos e favorecendo
soluções que ocorrem dentro dela mesma. A falta dessa comunicação dentro do sistema
familiar impede com que soluções sejam elaboradas pelo grupo familiar. Como há uma
grande dificuldade coletiva de comunicação, não há identificação entre os membros, e por
isso a nenhum fortalecimento e conhecimento dividido entre os membros, tornando a vida de
todos mais conflituosa, alimentado oportunidades para atritos familiares futuros. Essa foi uma
questão que não foi possível ser resolvida em um semestre, apenas detectada e trazida à tona.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência vivenciada na modalidade de atendimento do Plantão Psicológico no


contexto jurídico foi de importante na minha formação. Presenciar esses conflitos traz muita
reflexão sobre a prática psicológica, que não deve visar a coordenação dos caminhos e sim o
acompanhamento desses caminhos que essas pessoas trilham. Traz clareza sobre a verdadeira
capacidade do ser humano de poder ter domínio e autonomia em sua própria história,
resolvendo seus conflitos do melhor jeito possível. Também nos mostrou como a dinâmica
familiar é essencial na construção da personalidade de uma pessoa e como essa dinâmica pode
dificultar ou facilitar a resolução de certos conflitos familiares dentro e fora dessa família.
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8. REFERÊNCIAS

BALLALAI, Rodrigo Clemente; FOLONI, Renata Febraio; FURIGO, Regina Célia Paganini
Lourenço; ORMROD, Thomaz; SAMPEDRO, Karina Menossi; ZANELATO, Luciana Silva.
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16

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jun. 2021.
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9. ANEXOS

9.1 Plantões Psicológicos

FICHA DE ATENDIMENTO

Data do atendimento 17/03/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores:Yasmin, Glebeson e Rivanilda
Nome do Paciente: Nicole Idade:12 anos

Composição familiar: Michele (mãe), Pai, Avó, Irmão


Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( ) Não
Procura espontânea ( ) Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: Seus gostos, preferências, convívio familiar, rede de apoio
e personalidade

Intervenção clínica/manejo: Anamnese e terapia familiar

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


24/03/2021
Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não
18

Se sim, especificar instituição ou profissional : __________________________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

Segundo Dutra & Rebouças (2010, p.23), faz-se necessário refletirmos sobre o sofrimento e
o sofrente, sobre quem ele é, quais os seus sentidos, o que o leva a sofrer, quais suas
demandas. Pensando nisso, é necessário que o primeiro plantão seja para abordar a história
de vida do paciente.
O atendimento era online. N. evitou mostrar o seu rosto na câmera e manteve quase todo o
atendimento com ela virada para o teto. Quando mostrava o rosto, ficava desviando da
câmera e falando que não tinha se arrumado.
A paciente é uma pessoa calada, sendo necessário que o assunto seja puxado pelos
plantonistas. A paciente disse que tem conflitos com a avó. Quando questionada se tinha
falado com sua mãe sobre isso, ela disse que a mãe falou para ela deixar pra lá. Deixa em
aberto a postura da mãe sobre as demandas da filha. Ela diz que sua rede de apoio é sua
melhor amiga, que considera uma pessoa atenciosa e carinhosa. Também disse ter um grupo
de escola, em que se define como a "mãe" do grupo.
Ela comenta que fazia 3 semanas que não via seu pai, que a mãe e ela disseram ao pai que
estariam na casa da minha da mãe dela e seu pai foi na casa errada.
A paciente disse em um momento que era uma pessoa sensível, que quando gritavam com
ela, chorava facilmente. Quando perguntada como ela sabia disso, ela falou que só sabia.
A paciente ignorou algumas perguntas e respondia muitas com sim ou não. A paciente gosta
de kpop, jogos de tabuleiro e cartas, videogame, música, filmes de terror, aventura, dormir e
ficar no quarto. Gosta de apostas e se mostra animada quando fala sobre isso. Ela citou a
banda Black Pink, o jogo de baralho rouba monte, o jogo de baralho truco, jogo de dominó,
o anime the promised neverland, o desenho winx, o anime kakegurui, o jogo de video game
Far cry Primal, God of War.
Sua mãe gosta de assistir filmes românticos e sua avó gosta de dominó. Sua avó é muito
competitiva e não gosta de perder.
Quando perguntada sobre uma palavra chave que definia o atendimento disse que achou
legal.
N. não trouxe nenhuma demanda específica dela, mas deu pra perceber sua dificuldade em
se abrir, em se mostrar, em falar de si. Ela parecia magoada do pai não ter buscado ela no
lugar certo, o que mostra que ela gosta muito dele. Não falou sobre a relação dos pais.
Vendo sobre o que era o The promise neverland, era sobre uma fazenda de carne humana de
crianças, e nessa história todos os adultos não são bons ou estão enganando as crianças. O
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kakegurui é um anime que é sobre apostas, um colégio em que todos apostam e que a
popularidade é definida por quem sabe jogar melhor. Fica em aberto se esse anime onde
todos os adultos enganam é a visão dela sobre os adultos ao seu redor.
Os animes podem indicar uma tendência à desconfiança e a manter uma relação de poder nas
relações com o outro.
Segundo Dutra & Rebouças (2010, p. 25), a contemporaneidade não tem deixado o homem
manifestar seu sofrimento, sempre tentando eliminá-lo ou abafá-lo, mas esse controle é
ilusório, o sofrimento faz parte da história de vida do seu humano. Vemos que N. tenta se
abrir o menos possível e justifica sua sensibilidade em simplesmente ser assim, em vez de
agregar ao contexto que ela mesmo exemplificou, de quando gritam com ela, ela cai no
choro. É válido que quando alguém grite com outra pessoa, ela possa ter a vontade de
chorar, mas isso não é culpa dela, afinal há um contexto. Identificamos que o fato de não
deixar a câmera ligada ou ela nunca ficar diretamente virada ao rosto pode ser uma forma de
esconder algo no plantão, abafar algum acontecimento. As atitudes de N. abriram muitas
questões que não foram abordadas em sua fala, que serão investigadas e aprofundadas em
outros plantões.

Data do atendimento 24/03/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores:Yasmin, Glebeson e Rivanilda
Nome do Paciente: Nicole Idade:12 anos

Composição familiar: Michele (mãe), Pai, Avó, Irmão

Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( ) Não


Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: Sensibilidade, relação dos pais, fraqueza,
convívio familiar.

Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


20

07/04/2021

Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não

Se sim, especificar instituição ou profissional


________________________________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

N. mostrou o rosto o tempo todo na câmera. Ela estava com uma toalha na cabeça e disse
que estava com fome, então almoçou enquanto estava no plantão. N. gostou quando ficou
sabendo que os plantonistas viram um dos animes e recomendou o desenho da She-ra.
Em um momento ela disse que não gosta de demonstrar fraqueza. Disse que seus pais não se
dão bem, mas ela prefere não se meter, ela não liga, ela deixa pra lá.
Ela disse que ela é o tipo de mãe dos amigos, que não deixa por exemplo eles voltarem com
o ex. Diz que sua mãe é diferente dela. Diz que sua mãe é atenciosa e carinhosa.
Quando questionado qual as pessoas que ela mais se abre, primeiro ela citou a melhor amiga,
depois o pai, a prima, e mais ninguém.
N. diz que a mãe, a avó e ela ficam cada um no seu canto. Ela disse que a avó dela só dava
bronca e não conversava, e quando questionada sobre se avó tinha outra intenção de talvez
conversar indiretamente, ela disse que não.
Quando pedido para definir a sessão em um palavra, ela disse que achou "interessante"

Como Nichols & Schwartz (2007, p. 28) citam, o que mantém as pessoas empacadas em
certas situações é a dificuldade de perceber que ela também faz parte do problema que as
incomodam, coisa que a terapia familiar trata na fonte. N. nos traz um conflito familiar, mas
não toma nenhum posicionamento para mudá-lo ou enfrentá-lo. Prefere deixar para lá a
briga dos pais, demonstra não ter interesse em resolver ou entender o conflito que tem com
sua avó, não tenta se relacionar com a mãe e a avó, dizendo que cada um fica num canto da
casa. Os posicionamentos que ela toma dentro da família, também influenciam indiretamente
os conflitos gerados, mesmo que esteja tentando escapar deles.

Data do atendimento 07/04/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores: Não houve observadores na sessão.
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Nome do Paciente: Nicole Idade:12 anos

Composição familiar: Michele (mãe), Pai, Avó, Irmão por parte de mãe e Irmã
parte de pai (no qual nos falou da sua existência nesse plantão)

Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( )


Não
Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: Separação dos pais, vida amorosa, comportamento dos
familiares.

Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica.

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


14/04/2021

Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não

Se sim, especificar instituição ou profissional ___________________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

N. estava com a câmera ligada, deitada em um sofá. Nos contou que foi à praia de novo, e
que depois passou o feriado com seu pai e sua irmã.Comentou sobre um violão que ela
queria, pois quer tocar as músicas das bandas que ela gosta. Perguntamos a ela porque
nunca falou dessa irmã e ela disse que nunca perguntamos sobre ela. Perguntamos sobre seu
irmão também, mas ela disse que ele não quer nada com ela e que ela não sabe o porquê.

Questionamos sobre como foi decidido passar esse feriado com o pai e com a irmã e como
era a relação das duas. Ela falou que era uma relação boa, que a irmã dá alguns conselhos
pra ela e que ela gostava de passar esses momentos com o pai, pois na casa dela tem muita
briga. Ela também disse que a mãe não se importa dela passar com o pai.
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Falando sobre as brigas, ela disse que a vó briga muito sobre ela fazer os afazeres
domésticos, já a mãe só cobra ela de socializar. Ela tenta socializar, mas ela não se incomoda
de não ser sociável, ela se considera uma pessoa tímida.

Ela também nos trouxe espontaneamente um acontecimento pessoal dela. Ela disse que
mostrou para o ex dela, como o ex-amigo dela era falso, e os dois terminaram a relação. Foi
contado que o ex dela terminou com ela para ficar com o ex amigo. Disse que o ex-amigo
era manipulador, que o ex-amigo dela sabia que o ex-namorado dela tinha baixa estima e
ficava inflando o ego dele. Ela também tinha percebido isso e sempre elogiava o ex-
namorado dela quando estavam juntos. Ficou sabendo que esse ex-amigo falava mal dela
pelas costas, mas agora os dois terminaram e ela se sente feliz, vingada pela situação toda.

Foi puxado o assunto de como era o convívio com os pais, quando eles moravam juntos. Ela
nos revela que nunca recebeu elogios, mas sempre broncas, que teve pouco contato com essa
avó materna, começou a ter quando ela se mudou com a mãe para essa casa. Vivia ela, o pai,
a mãe e o irmão por parte de mãe. Ela e o irmão brigavam muito.

Ela falou como foi a separação dos pais. O pai chamou ela pra tomar um sorvete, só ela e
ele, e contou pra ela que pretendia se separar da mãe. Quando ela chegou em casa, a mãe
fechou ela dentro do quarto e quis saber tudo que ela e o pai conversavam. Depois dela
contar pra mãe, a mãe foi conversar com o pai, e aí não nos deu mais detalhes, ficou triste e
começou a mudar seu comportamento. Destacamos que percebemos que ela mudou o
comportamento, mas ela começou a dizer que estava com o ouvido entupido por causa que
foi a praia, começou a andar pela casa, depois deitou no que seria a cama, começou a fechar
os olhos e ficar com sono.

Segundo Nichols & Schwartz (2007, p. 116), quando os pais desviam seus conflitos para um
dos filhos, os pais conseguem manter um relacionamento razoavelmente estável, mas o custo
para a criança pode ser grande. O fato do pai ter falado com N, e a mãe cobrar de N. que
contasse o que o pai falou, revela que N. podia ficar no meio do conflito dos dois. A
mudança de comportamento de N. na análise pode demonstrar que a separação lhe causou
algum desconforto, o que pode abrir o questionamento sobre se a dificuldade de N. em se
expressar tenha sido influenciada de alguma forma por este conflito.

Foi sugerido na sessão para que ela trouxesse alguma coisa que ela gostasse para dividir com
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a gente.

Quando pedido para definir a sessão em uma palavra, ela disse que não tinha uma palavra
para definir.

Segundo Carter e McGoldrick (1995, p.192), se estabelecem barreiras à intimidade, da


mesma forma que expectativas ou exigências de que os novos relacionamentos venham a
compensar ou sanar mágoas experienciadas anteriormente. A partir da traição do seu atual
com o seu amigo, a postura de N. se torna vingativa. Nas duas situações, do desfecho do seu
namoro e da separação dos pais, N. acabou participando. A necessidade da vingança de N.
pode nos mostrar como esse tipo de situação afeta até hoje, entrar no meio de um conflito
indiretamente, assumindo o mesmo papel, de “informante” de um término.

Data do atendimento 14/04/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores:Rivanilda
Nome do Paciente: Nicole Idade:12 anos

Composição familiar: Michele (mãe), Pai, Avó, Irmão,Irmã e Padrinho (que


ela citou nesse plantão)
Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( )
Não
Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: Segurança e vida amorosa.
Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


28/04/2021

Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não


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Se sim, especificar instituição ou profissional ___________________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

N. estava com a câmera ligada, deitada em um sofá, com um ursinho na mão e muito feliz.
Perguntamos se ela lembrava da última sessão e do que pedimos a ela. Ela disse que não
lembrava de nada, que tinha uma péssima memória. Reforçamos que na última sessão
pedimos para que ela trouxesse algo para mostrar e ela disse que não tinha nada, mas estava
com o ursinho na mão. Então foi questionado que ursinho era esse, e ela disse que foi um
ursinho que a avó lhe deu quando era criança. Sentia alegria ao estar com o ursinho achava
ele quentinho e fofo, também disse que ele tinha um cheiro agridoce. Sua avó nunca mais
lhe deu nada, não lembrava o contexto de ter recebido esse ursinho, só lembra que lhe deram
e ela tem até hoje.

Ela contou que chegou o violão dela, que ela disse que foi dado pelo Padrinho dela.
Perguntamos sobre como era a relação deles, mas ela falou que eles não conversam de nada
muito profundo. Chegou a mostrar o violão e combinamos de que quando ela soubesse tocar
uma músicas das bandas que ela gosta se apresentasse pra gente.

Puxando a história que ela nos contou na última sessão do ex-namorado dela, ela nos disse
que ela descobriu que o ex-namorado dela está gostando do atual. Ela não sabe como isso
aconteceu, mas ela descobriu por acidente numa conversa. Ela disse que o atual não é
talarico, e que quando comentou do interesse do ex com o seu atual, ele não queria saber, o
que deixou ela segura.

Ela traz que o motivo do término com o ex, foi por causa do sumiço dele, durante uns 5 dias.
Ela o cobrou e ele disse que estava se sentindo pressionado. Apesar disso, quem terminou
com ela foi o ex. Ela disse que nunca terminou relacionamentos. Minutos depois do ex ter
terminado com ela, ele apareceu namorando uma nova pessoa. Questionada do porquê ela
não terminou antes com o ex, já que ele não estava lhe dando atenção, ela falou que não
sabia. Ela disse que gosta de conversar, que sinaliza quando algo está errado na hora que
percebe, e que prefere resolver dessa forma, sem terminar, conversando primeiro. Mas ela
disse que se não mudar, ela termina.

Perguntamos a ela sobre como ela sabia que estava algo errado, e ela disse que quando está
algo errado, ela sente palpitação e não para de pensar naquele assunto, que é como um sexto
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sentido que ela tem. Ela disse que já teve esse tipo de problema, que o sexto sentido dela
apita quando a pessoa muda do nada. Ela contou que quando um outro ex também se afastou
dela e ela sinalizou, pela segunda vez, ela terminou. Foi destacado para ela que antes ela
falou que nunca terminou com ninguém e que ela trouxe uma história que ela tinha
terminado, mas ela riu.

Ela disse que tem semanas que não fala com o atual, que ele quebrou o celular e como estão
em pandemia eles não se veem. Porém o atual disse que quando sentisse falta dele, abraçasse
algo bem quentinho, e pensasse nele. Assim ela revela que o ursinho tem o mesmo cheiro
agridoce do atual e por isso ela está apegada ao ursinho a semana toda, para se lembrar dele.
Mesmo eles não se vendo há semanas nem se falando, como foi justificado, ela está tranquila
com a situação. Porém ao ser questionada sobre isso, percebemos que ela fechou o rosto com
uma cara que parecia que ela estava reflexiva, mas logo voltou a sorrir.

Ela acredita que para deixar uma pessoa segura tem que ser carinhosa, elogiar bastante, que
não precisa falar o tempo todo, mas conversar com ela e falar muito que gosta dela. Ela fala
que faz isso não só com os namorados mas com todo mundo, que ela gosta de fazer o outro
se sentir amado.

O ex-namorado e o ex-amigo dela não se falam mais. O ex-namorado disse que ele e o ex-
amigo, passavam muito tempo falando mal dela, e que foram os dois que derrubaram as fan
fics dela. Ela disse que suas fanfics eram de histórias fictícias sobre cantores k-pop e que ela
desanimou depois que foram derrubadas. Ela disse que nenhuma dessas histórias eram
baseadas neles. Contou sobre uma história de uma personagem que matava todo mundo,
disse que ela era meio psicopata, e parecia se sentir envergonhada dessa história. Explicou
várias vezes que foi um ex que teve a ideia, que a única parte que ela construiu foi apenas o
final, que a personagem vai para a escola.

Essa descoberta dos dois terem derrubado suas fan fics deixou ela muito magoada com os
dois, mas ela está perdoando aos poucos o ex. Ela disse que o ex também está interessado
numa garota, ao qual ela não conhece e fala que ele se apaixona muito rápido.

No final perguntamos sobre sua família, ela disse que o pai está bem, que a mãe está bem,
que a avó está bem, sem entrar em muitos detalhes. Disse que nessa semana a mãe dela tinha
ensinado ela a fazer macarrão, e que ficou muito bom. Ela também disse que tempos atrás
fez um arroz. Foi perguntado se a vó dela sabia que ela tinha feito essas comidas, se a vó
26

sabia que ela ainda tinha esse ursinho. Ela disse que a avó entra no quarto dela e deve saber
que ela ainda tem, mas sobre o macarrão, ela não sabe se a vó sabe que ela fez.

Foi pedido dessa vez que ela pegasse um papel e uma caneta e anotar num caderno as coisas
que deixamos pra ela fazer até o próximo plantão. Foi pedido que na próxima sessão ela
conversasse com a avó sobre o ursinho, falasse que ela ainda tem o ursinho até hoje e veja o
que a avó achava. Também pedimos para que ela contasse sobre que ela fez o macarrão que
a vó comeu e o que a avó achava do macarrão dela. Pedimos para ela trazer uma fan fic, ela
disse que precisa voltar a escrever, que está sem criatividade. Falamos para ela trazer alguma
que ela goste.
Por último, perguntamos se ela poderia definir a sessão em uma palavra, ela disse que foi
"muito legal"
Esse plantão foi abordado como ela lidava com os sentimentos e sobre suas relações
amorosas. Segundo Nichols & Schwartz (2007, p. 208), as pessoas que têm dificuldade em
expressar suas necessidades de apego, ficam presas a padrões negativos, que impedem a
construção de relacionamentos seguros. N. tem necessidades de se relacionar com pessoas
atenciosas e carinhosas, mas só se manifesta quando a pessoa falha nesse quesito, não
deixando claro desde o começo suas necessidades. Nisso, como não é definida uma
demanda, não se discute e logo os relacionamentos são frágeis. Além desse tipo de padrão
estão relacionados a questões familiares.Mesmo N. identificando sinais de que algo está
errado, ela não consegue se questionar profundamente sobre as problemáticas de todas essas
relações.

Data do atendimento 28/04/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores:Rivanilda
Nome do Paciente: Nicole (Nome Social: Mattheo) Idade:12 anos

Composição familiar: Michele (mãe), Pai, Avó, Irmão,Irmã e Padrinho

Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( )


Não
Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
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Principais temas abordados: Gênero, sexualidade

Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


05/05/2021

Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não

Se sim, especificar instituição ou profissional __________________________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

O paciente entrou com a câmera desligada, mas ligou após ser solicitado. Estava no sofá, de
moletom rosa e cobrindo o rosto. Perguntamos se o que a gente tinha proposto de
intervenção da última sessão tinha sido feito. Ele disse que não lembrava, tirou a câmera e
começou a procurar em um caderno o que tinha sido anotado, porém não achou. Falamos
dele tentar falar com a avó, perguntando se o macarrão que ele tinha feito estava bom.
Quando foi perguntado se ele falou do macarrão com a vó, a vó só disse que tinha pedido
para a mãe fazer e começou a brigar pois a mãe dele não tinha feito. Não trouxe nada para
sessão, que foi outra coisa que propomos na última sessão.

Segundo Ballalai et. al (2008, p. 190), uma queixa muito relatada nos plantões são os
problemas familiares, que geralmente são resolvidos no plantão, porém há casos de
desistências por parte do cliente. A desistência de M. é referente a tentativa de resolução do
conflito familiar com a avó. É um tema abordado constantemente nos plantões, mas sempre
quando é abordado, há uma resistência de colaboração de M., até mesmo em um diálogo
simples.

Comentou que tinha terminado com o ex namorado L., e que tinha se juntado ele com o L.,
seu ex e se definiu como um bom cupido. Disse que ela que terminou, e que terminou
porque acabou se apaixonando por uma garota. Conheceu essa garota do sites de Fanfics,
onde essa garota leu uma Fanfic dele. Disse que essa garota é atenciosa e carinhosa e que
seu ex aceitou de boa o término.
28

Também disse que tinha outra coisa para falar, que era um Transboy. Disse que tinha
percebido desde pequena que, quando não gostava de vestir com vestidos, gostava de brincar
de roblox. Disse que percebeu quando estava namorando uma garota, que também se
descobriu um transboy. M. diz que pesquisou sobre o assunto e chegou a essa conclusão. M.
falou que tem liberdade de conversar com sua mãe, mas não tem liberdade de falar com seu
pai, que ele só tem conversas aleatórias com ele. Quando ela tenta ter conversas mais
íntimas, ele fica com cara de sério. Ele fala que é muito nova pra namorar.

Segundo Chaves e Henriques (2008, p. 154), existe uma troca intersubjetiva entre o paciente
e o plantonista, onde o papel do plantonista se relaciona ao de um educador. Os plantonistas
fizeram questionamentos sobre como seria essa revelação e se M. já tinha pensado nas
dificuldades de aceitação que poderiam ocorrer com essa revelação. Foi abordado pelos
plantonistas características que eram ligadas ao mundo trans, certificando que o que foi
falado coincidia com o que essa palavra é ligada.

M. decidiu que vai se assumir com 15 anos, porque se for mais velho as pessoas não vão
duvidar dele. Ele diz que nem pensa em contar pra avó, porque ela é homofóbica e machista.
Apesar disso, não se incomoda da mãe chamar ele pelo nome social na frente das pessoas,
apesar de não contar diretamente. As únicas pessoas que ele conhece desse jeito é um amigo,
que é seu ex. Disse que nunca pensou em contar pra sua irmã, apesar dela ser lesbica e
casada com uma mulher. Ele diz que já conhece a cunhada dele, e que ela é bem legal. Ele
diz não se importar em usar roupas rosa pois cor não tem gênero. Que entende coisas que
adultos não entendem.
Foi perguntado por pessoas que ele se inspira, ele disse que se inspira em Pabllo Vittar. Diz
que o Pablo é empoderado, decidido, não se abala por nada. Falou de mulheres trans gamers
como Samira Close, Venus Corse.
Quando foi perguntado sobre se ele se sentia desconfortável com o corpo, ele disse que sim,
mas que pretende modificar o corpo mais pra frente, quando morar na própria casa. Estava
pensando em cortar o cabelo. Tem planos de ser veterinário e morar no Canadá, pois lá é um
lugar onde LGBT+ são mais bem feitos, é um lugar frio, com para o tipo de cachorro que ele
gostaria de ter .
Pedimos para ele definir a sessão em uma palavra, definiu como uma sessão engraçada.

Data do atendimento 05/05/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques
RA: 3017109623
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Observadores:Rivanilda
Nome do Paciente: Nicole (Nome Social: Mattheo Rodrigues) Idade: 12 anos

Composição familiar: Michele(mãe), Pai, Avó(Edna), Irmão,Irmã e Padrinho,


avô
Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( ) Não
Procura espontânea ( ) Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: Sexualidade, vida amorosa, convivência familiar
Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


12/05/2021
Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não
Se sim, especificar instituição ou profissional: ______________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

Perguntando como foi a semana, M. disse que não teve nada demais. Falou que iria contar a
seu pai que era um homem trans e pedir para morar com ele. Ele disse que falou com sua
mãe e sua mãe falou que ele sabia. Disse que a mudança é porque ali havia muita
reclamação. A reclamação vinha da vó dele. A avó dele trabalha como cobradora de ônibus,
a mãe está sem trabalhar há um ano. As tarefas domésticas são divididas com ele fazendo
algo só quando solicitado, a avó limpava a casa e a mãe e avó faziam comida. Ele diz que a
avó, quando a mãe vai varrer a casa, varre de novo falando que não está bom e quando varre
fale que ela faz tudo na casa. M. diz que por isso quer se mudar pro pai, com algumas
condições. Ser ele mesmo um homem trans e que o pai compra roupas masculinas. Caso o
pai não aceite, ele ficará com a mãe. A mãe foi parar no quarto dele, pois a avó falou que
falou para ela ir pra lá, o que ele acha injusto, pois a mãe dele vai dormir na casa.
Segundo Almeida (1999, apud Dutra & Rebouças, 2010, p.24) a angústia tira o homem de
sua absorção no mundo na medida em que ele se afasta do mundo e não se sinta mais uma
ilusória familiaridade e proteção de antes e estando sozinho age por suas próprias
convicções. Não se sentindo mais compreendido, não conseguindo impor suas necessidades
para a mãe, não conseguindo dialogar com a avó, M. resolve agir por conta própria, tendo a
30

iniciativa de ir morar com o pai. Sua angústia se torna tão grande pela falta de sucesso em
um diálogo, que desiste de qualquer conversa.
Disse que parou de falar com o L. pois enquanto falava com ele percebeu que lembrava das
mancadas que ele deu, por isso se afastou. Ele disse que namorou 4 meninas até ficar com o
L., e quando L. se assume como um homem trans, M. se descobre um panssexual. Sua nova
namorada tem 14 anos. Ele não sabe como a namorada se descobriu, ela disse que namora as
pessoas mais a distância. Disse que os pais ainda não foram apresentados à nova namorada,
a nova namorada não é assumida. M. diz que sua irmã assumiu sua homossexualidade
apenas trazendo uma garota para casa. Falou que nunca conversou com a mãe sobre DSTs,
que sabe o que é Aids, mas não em detalhes.
Ele disse que seu nome social era o nome do primeiro namorado da nova namorada. Ele
achou bonito o nome e decidiu colocar um nome semelhante, com o sobrenome R.
Ele disse que pesquisou o que era ser trans na internet, com pessoas da internet que são
trans. Ele percebeu que era um homem trans a partir do ex, do L. , que se assumiu um
transboy enquanto os dois namoravam.
Segundo MacGoldrick (1995), graças a uma falta de aceitação que a maioria dos casais gays
experiencia da familia e da cultura, pode levar a um estabelecimento de uma identidade
secreta e um rompimento com o mundo heterossexual. Vemos que M. tem receio de falar de
sua vida pessoal para seus familiares. Mesmo já assumindo o seu gênero, ainda sente
necessidade de esconder de sua família seus relacionamentos amorosos, vivendo uma vida
em paralelo com a sua rotina familiar. Fica evidente como ela não confia que tenha um
acolhimento, e se sinta mais inclinada a restringir os assuntos compartilhados na sua vida.

Data do atendimento 12/05/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores:Rivanilda
Nome do Paciente: Nicole (Nome Social: Mattheo) Idade: 12 anos

Composição familiar: Michele(mãe), Pai, Avó(Edna), Irmão,Irmã e Padrinho,


avô
Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( ) Não
Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
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Principais temas abordados: vida amorosa, convivência familiar, conflitos


familiares , educação.

Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


19/05/2021
Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não
Se sim, especificar instituição ou profissional : _______________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

M. disse que contou ao pai sobre seu gênero, porém o seu pai achou que ele foi influenciado.
Ele disse que tinha pretensão de mandar uma carta explicando ao pai sobre seu gênero. Quer
ir morar com o pai dele, pois quando morou com ele, as coisas eram mais tranquilas.
A mãe recentemente se mudou para o quarto do M., o que ele não gostou. Ele começou a ter
que dormir no colchão e sua mãe dormir na cama. M. disse que o pai disse que reagiu bem a
irmã dele, que é assumida como uma mulher lesbica. M. disse que apesar disso, ele não
chegou a conversar com a irmã e nem pensou em contar para ela sobre seu gênero.
M. nos conta que sua avó é cobradora de ônibus. Ele disse que sua avó não gosta dele,
tratando os outros netos melhor que ele. M. disse que as tarefas domésticas são feitas pela
avó e pela mãe, que tem cobrado mais dele para fazer algo. Se elas cobram ele faz, passando
pano em algo ou limpando algo na casa.
M. fala que seu relacionamento amoroso está ótimo e que se sente confiança em sua
parceira.
M. diz que sua avó se chama E., que ela era casada com um homem violento, que acabou
sendo preso. M. já visitou seu avô algumas vezes e acha que seu avô é uma pessoa legal.
M. entende que seu pai nunca conheceu uma pessoa trans e por isso terá dificuldade mas ele
alega que terá paciência.
M. diz que está com muita dificuldade nos estudos, principalmente em Matemática, ao qual
começaram a incluir números e letra e ele ficou confuso. Ele não assiste às aulas, os
professores jogam a atividade e ele faz. Ele diz que aprende melhor lendo sozinho. Ele gosta
de estudar ouvindo música no quarto, em cima da cama.
Foi combinado com ele sobre os assuntos que seriam discutidos na próxima sessão com sua
mãe e ele disse que gostaria de discutir sobre privacidade e sua dificuldade de estudar. Não
32

queria que fosse falado sobre suas amizades, sobre a avó e sobre seu namoro. A mãe não
sabe desse novo namoro.

Assim, são promovidas reflexões ou formulações de hipóteses a respeito de emoções e


pensamentos de outras pessoas, e não apenas do próprio cliente, o que acaba por colocá-lo
como observador da própria história (Camicia et. al, 2016, apud Reynolds, 2007). Os
plantões anteriores, e principalmente esse, tem focado em tentar entender as posições de
cada familiar dentro da família dele e como elas o constituem. Foi abordado o trabalho, a
profissão e a história da avó de M. para que ele pudesse entender onde os conflitos causados
no lar podem surgir. Também foi abordado sobre como sua irmã se assumiu como LGBT+
no mesmo intuito de tentar ajudá-lo na compreensão de como seria na sua vez de se assumir
como um transboy. Coincidentemente o pai e a avó trabalham no mesmo setor, o de
transporte. O que foi importante que trouxesse ele mais para perto dessa realidade.

Data do atendimento 19/05/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores:Yasmin, Glebeson, Rivanilda
Nome do Paciente: Nicole (Nome Social: Matheo) Idade: 12 anos

Composição familiar: Michele(mãe), Pai, Avó(Edna), Irmão,Irmã e


Padrinho, avô
Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim (
) Não
Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: vida amorosa, convivência familiar, conflitos
familiares , educação.

Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


25/05/2021
33

Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não

Se sim, especificar instituição ou profissional ______________________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

M. estava escrevendo a carta para enviar ao pai, leu para gente. A carta falava que não havia
nenhum engano, que ele sempre se sentiu um menino, por não gostar de usar roupas como
saias e vestidos, que ele tinha percebido isso nos jogos online quando se sentia melhor em ser
chamado no masculino. Planejou de entregar na próxima semana que fosse vê-lo. Desde que
ele contou o que tinha acontecido o pai não tinha falado com ele direito, mas ele acredita que
é porque o pai não é muito tecnológico. Quando começamos o atendimento, M. estava
corrigindo os pronomes da carta, pois sua mãe tinha escrito com pronomes femininos.
Ele disse que não conseguia conversar diretamente com as pessoas, que ele se sentia
paralisado, que com a carta seria mais fácil.
M. disse que seu pai trabalha como motorista de ônibus, que já acompanhou ele no trabalho
um dia. Ficou o dia todo no celular, e achou meio rotineiro, coisa que ele não gostou, pois ele
gosta de coisas mais agitadas.
Nesse momento, M. falou que se interessa por veterinária por acreditar que terá muitos casos
diferentes e que será mais interessante do que essa profissão do pai.
M. nos contou o motivo pelo qual sua mãe acabou vindo para seu quarto. A sua avó estava
tendo dor nas costas, e foi ao médico. O médico disse que ela precisava dormir num lugar
mais confortável, e pediu o seu quarto de volta para a mãe de M., que passou a dormir no
chão do quarto.
M. pretendia se mudar para a casa do pai, mas disse que se o pai respeitá-lo já é o suficiente,
mesmo que ele não se mude para lá.
M. relata dificuldades em estudar, só consegue estudar inglês, mas tem se esforçado para
tentar estudar mais. Está com dificuldades em matemática, principalmente quando
começaram a entrar letras dentro das contas. Foi um problema que já tinha sido relatado
anteriormente, porém ele acredita que não tem como ser ajudado sobre isso.
Foi questionado novamente sobre o que gostaria de discutir no encontro com a mãe, e ele
disse que queria discutir sobre privacidade e comunicação. Pedido que M. falasse uma
palavra que definia a sessão falou que foi um “bom papo”.
Nichols & Schwartz (2007, p. 37) nos falam sobre um tipo de comunicação, que passa uma
mensagem indireta, muitas vezes despercebida, demonstrando a verdadeira intenção de como
uma mensagem foi recebida. Nós conseguimos perceber que o fato do M. ter se assumido
34

como um transboy para a mãe e ela continuar chamando ele no feminino e até escrevendo em
pronomes femininos indica uma resistência em aceitar o fato de M. ser um transboy.
Demonstra que ela não o vê dessa forma e que também não quer tentar. O pai ao não
conversar com M. direito pode indicar indiretamente que não aceite ainda sua nova
identidade como M. gostaria.
Foi observado nas sessões que a família em geral tem um comportamento de deixar
subentendido as interações e de ignorar totalmente o que não aceitam, sem discutir sobre os
problemas devidamente.

Data do atendimento 26/05/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores: Daniela
Nome do Paciente: Nicole (Nome Social: Mattheo) Idade: 12 anos

Composição familiar: Michele(mãe), Pai, Avó(Edna), Irmão,Irmã e Padrinho,


avô
Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( )
Não
Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: vida amorosa, convivência familiar, conflitos
familiares , educação.

Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno (x ) Sim ( ) Não Se sim, que data:


02/06/2021

Encaminhamento: ( ) Sim (x ) Não

Se sim, especificar instituição ou profissional _________________

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO


35

A análise com a mãe de M. era pra ter sido nessa sessão, porém ela pediu para marcar para a
próxima . M. e sua mãe foram avisados que a próxima sessão seria a última sessão do
semestre.
M. estava comendo pipoca quando começou a sessão. M. estava na sala, pois achou que era
um lugar de atendimento mais adequado. M. nos contou que acabou entregando a carta para
seu pai. Seu pai, porém, não chegou a ler a carta. Segundo M. relatou, o pai disse que não
estava preparado para lidar com isso agora. Porém ele disse que viu o pai no fim de semana
e tratou ele normalmente, como se nada tivesse acontecido.
Ele disse que a mãe também continua tratando ele da mesma forma, como se ele não tivesse
contado sobre que era um homem trans. Sobre sua avó, ele disse que não teve nenhum
conflito com ela essa semana. Passou essa semana mais na prima do que em casa. Falou que
tem primas que gosta muito e que foi conversar com elas e que foi muito bom. Perguntando
sobre como estava a questão da educação de M., ele diz que está estudando muito inglês e
continua com dificuldade nas outras matérias. Como ele já tinha relatado, estava com
dificuldade em Matemática, e acabou esquecendo de acessar o site que foi recomendado
para ajudar nos estudos para ele.
Falando sobre o namoro, M. disse que na verdade foi uma trollagem de uma amiga com ele.
Ele disse que a trollagem foi longe demais, e após isso, ele perdeu contato com a garota que
se relacionou. Agora estava com outra pessoa. Relatou que este relacionamento durou uma
semana e meia, o relacionamento mais longo que teve até então.
Foi reforçado que a próxima sessão seria a última e foi perguntado novamente se tinha mais
alguma coisa que gostaria de ser abordado. Ele disse que gostaria de incluir nos temas
combinados o assunto “atenção”, pois ele sente que a mãe não presta atenção no que ele diz.
Quando perguntado se ele queria deixar uma palavra para definir a sessão, ele disse que foi
uma “comunicação estável".
Nichols & Schwartz(2007, p.41) fala que Winne foi um teórico que trouxe o conceito de
desvio de comunicação, onde era transferido os transtornos de pensamento dos familiares
para os novos familiares. Vemos que o pai de M. tem o hábito de ignorar tudo que não lhe
interessa saber. Em outros plantões, M. disse que não consegue ter uma conversa profunda
com o pai, que ele faz cara de sério. Dessa vez ele não aceitou nem ler a carta que foi dada
por M. e fingiu que nada aconteceu. Vemos na mãe de ex que ela tem mania de ignorar o
que é falado, ou não responde nada. Vemos em todos os plantões um comportamento
semelhante sendo repetido por M., de ignorar o que era perguntado e não queria conversar,
cortar o assunto quando não lhe interessa. Repete as mesmas resistências dos pais.
36

Data do atendimento 02/06/2021


Nome do Plantonista: Jessica Caroline Inacio Marques RA: 3017109623
Observadores: Rafaela, Paulo
Nome do Paciente: Nicole (Nome Social: Mattheo) Idade: 13 anos

Composição familiar: Michele(mãe), Pai, Avó(Edna), Irmão,Irmã e Padrinho,


avô
Já passou por algum atendimento psicológico ou psiquiátrico? ( x ) Sim ( )
Não
Procura espontânea ( )
Encaminhado (x ) Por: Michele (mãe)

Queixa inicial / Demanda emergencial:


Separação dos pais (encaminhada pela mãe após separação)
Principais temas abordados: Comunicação, Atenção e Privacidade

Intervenção clínica/manejo: Terapia familiar Sistêmica

Agendamento de retorno ( ) Sim (x) Não Se sim, que data: Nenhuma

Encaminhamento: (x) Sim ( ) Não

Se sim, especificar instituição ou profissional: Casa 1, Clin-a, Sedes Sapientiae

DISCUSSÃO/ CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO

A sessão foi feita com acompanhamento da mãe de M. Os temas combinados foram:


Comunicação, Atenção e Privacidade.

A mãe de M disse que ela é aberta a qualquer tipo de comunicação com o filho, só que ele é
muito fechado , mas ela é a mãe dele e sempre tenta conversar, sendo que ele não conversa.
Voltada a pergunta para M., ele disse que está tudo bem, que não tem nada a dizer.

Falando sobre atenção, a mãe disse que atenção pra ela e ela estar disponível a ouvir o filho.
M. disse que não lembrava o que tinha falado sobre a mãe. Pedindo para que M. corrigisse
37

caso estivesse errado, falamos uma das falas de outra sessão, de que M. alega que mãe
parece não estar escutando o que ele está falando. Porém ele costuma querer conversar com
ela no momento em que ela está vendo palestras importantes. M. alega que a mãe é surda de
um ouvido. Perguntando para ambos se houve algum momento que eles perceberam que deu
certo essa comunicação, essa atenção, mãe de M. disse que quando ele contou que era um
transboy, ele chegou e falou que queria conversar com ela. Ambos concordaram em usar
esse jeito para pedir atenção um do outro.

Falando sobre privacidade, mãe de M. diz que como a casa é da mãe, segue as regras dela,
que durante a noite e de manhã, precisa estar no quarto, mas a tarde ele pode ter a
privacidade que quiser. M. diz que pra ele privacidade é a mãe não mexer no celular dele e
deixar ele se trocar sem ela entrar no quarto. A mãe perguntou porque ele não disse que
queria se trocar sozinho, mas ele falou que já tinha dito. A mãe de M. falou que às vezes
esquecia, e ele disse que ele não iria ficar cobrando uma vez que já falou.

Sobre a questão de repetir e lembrar certas condições que M. gostaria de ser respeitado, foi
percebido que durante esse plantão, um dos plantonistas estava falando seu nome social
errado, e a mãe percebeu. Com isso, foi enfatizado a importância dele de repetir ou lembrar
as pessoas, de expressar o que lhe incomoda, para que seja corrigido. M. acha que não deve
ficar corrigindo os outros pois os outros tem o seu tempo, mas foi enfatizado que seria bom
que ele desse mais feedback sobre o que o incomoda. A mãe de M. disse que ele às vezes
chora sozinho e não fala pra ela o que está acontecendo, o que deixa ela muito preocupada.
M. diz que precisa se sentir confortável e que a mãe não lhe dá espaço, fica prendendo ele no
quarto para dizer. Foi sugerido alguma estratégia para que ele pelo menos dissesse por cima
qual o motivo de sua tristeza.
Ele disse que não iria se comprometer com isso, pois talvez não se sentisse confortável,
mesmo depois de um tempo. Perguntado a mãe,a mãe não avisa quando pega o celular. Foi
enfatizado a importância da mãe tentar não ser incisiva, e se for, avisar antes, e M. tentar
expressar de alguma forma seus sentimentos. Foi sugerido que montassem um grupo de
whatsapp para escrever lá quando necessário e que procurassem desenvolver esse diálogo,
dando opiniões de filmes e depois sobre pequenas coisas do dia-a-dia.

Foi abordado o assunto dos stories de Whatsapp, onde M. escreveu que queria se cortar de
madrugada. A mãe de M. disse que pediu para M. abrir o celular, pois essas coisas
acontecem e parece que não está cuidando dele. M. disse que não entende o que a mãe sentiu
porque não tem filhos. Achou que a atitude da madrinha foi sem consciência, mas não
38

gostaria que seus assuntos pessoais fossem retratados com a mãe. Então foi enfatizado como
o fato dele se sentir mal com seus assuntos revelados supostamente a mãe poderia ser
parecido com a sensação dela de ser comunicada por outra pessoa que seu filho queria se
cortar.

Foi pedido para que se olhassem e dissessem algo um para o outro. M. falou que não tinha
nada a dizer. A mãe de M. disse que sabia que comete erros, porém que era sua mãe e que
iria apoiá-lo no que ele precisasse.

Foi pedido para M. falar uma frase sobre o plantão, ele falou que foi uma mútua
compreensão. A mãe de M. falou da união.

M. se mostrou muito resistente, evitando contato visual na câmera, distraindo a mãe e


fugindo do assunto frequentemente. Quando eram propostas algumas estratégias de
conciliação, M. falava que não sabia, não lembrava e que não ia se comprometer pois
poderia mudar de ideia.
Como apontam Nichols e Schwartz (2007, p. 294), ao trabalhar com famílias monoparentais,
os terapeutas precisam apoiar sua maternagem e ajudá-la a encontrar maior satisfação em
sua própria vida são realizações recíprocas. A mãe de M., que era acusada de ser uma pessoa
que não se manifestava contra a avó, demonstra interesse em exercer a maternagem.
Entendemos o lado de M., mas entendemos que a relação precisa ser equilibrada e que ele
precisa de alguém que o eduque para que algo ruim não aconteça. Vemos seus pontos, mas
também ficamos do lado da mãe, porque ele não pode fazer tudo que quer, sem controle.
39

9.2 Mediações

Estagiário/a: Jessica Caroline Inacio Marques R.A.: 3017109623


Estágio: ( x ) EPS ( ) Turma:9A
Ênfase: ( ) Prevenção e Promoção da Saúde
Título do Estágio: Conciliação e Mediação de Conflitos e Plantão Psicológico
no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania
Supervisor/a: Camila Miyagui CRP: 06/96669
Observação de sessão de mediação
Data: 12-04-2021

RELATÓRIO DA OBSERVAÇÃO DA MEDIAÇÃO

Nº Processo:EXP: 0002090-43.2021.8.26.0002 Número de


mediadores: 1
( ) Conciliação ( x ) Mediação Familiar Duração da sessão:
( ) Mediação comercial ( ) Outra 42 minutos
Sala de Espera:

Houve acordo? ( x ) frutífero Qual? Fixação de Alimentos


( ) Infrutífero Por quê?
Informação sobre Plantão Psicológico: ( ) Sim (x ) Não
Encaminhamento para Plantão Psicológico: ( ) Sim ( x ) Não

DISCUSSÃO COM ARTICULAÇÃO TEÓRICA

Observação da postura e intervenção dos mediadores:


Segundo Martin & Ravasio (2014, p.69) o mediador serve para auxiliar o casal a
encontrar acordo entre o interesse deles e da criança, expondo as posições das partes
compreendendo as necessidades dos filhos. A mediadora conduziu com muita destreza a
mediação. O pai queria pagar um valor (R$200,00) que era abaixo do esperado pela mãe
(R$500,00). A mediadora foi acolhedora tanto nos interesses do pai, quanto da mãe, e
principalmente na necessidade da criança. Quando o pai alegou pagar este valor fixo, e
quando precisava de alguma roupa ele comprava, a mediadora foi justa em falar para ele que a
mãe decidira isso. Quando a mãe insistia que os valores oferecidos eram poucos, a mediadora
calculou o valor a ser pago com base no salário mínimo, compreendendo que o pai não teria
40

uma renda fixa e levando a situação do pai em conta. Não só ela se importou com o emprego
informal do pai, quanto a necessidade do valor que a mãe pediu, como aproveitou para
resolver a questão da guarda e da visita à criança, destacando o pai como era importante o
convívio dos dois.

Como destaca BIASOTO e Vicente (2010), os conflitos não se expressam de forma


aberta e manifesta, tendo o mediador que juntamente com os clientes demarcar os interesses
subliminares. O pai procurou negociar o preço ao máximo, enquanto a mãe só falava quando
era convocada, apenas manifestando sua insatisfação através das suas expressões. A
mediadora sempre convocou a opinião da mãe, em todas as ofertas feitas pelo pai, porque
apesar dela não se manifestar, não parecia de comum acordo. O pai foi muito educado, muito
simpático e prestativo, falou muito do filho, de ver o filho, que tinha uma boa relação com a
mãe, e a mãe não se manifestou nem confirmou essas informações. A mediadora não deixou
nada interferir em sua mediação.

Chegaram num acordo no meio do caminho (R$350,00) com o pai pagando 200
naquele mês, começando mês que vem com o valor combinado e que quando começasse a
trabalhar seria descontado os 30% do seu salário diretamente. Ela leu o que foi escrito pela
escrevente, eles concordaram, e a audiência acabou ali.

Sobre a observação da dinâmica conflituosa dos mediandos:

O pai era muito sorridente, e sabia conversar bem, era falante. O pai impôs seus
interesses no valor da pensão alimentícia, falou o valor que poderia pagar, fez de tudo para
negociar. Percebemos que o pai queria pagar um valor específico (R$200,00). Quando a
mediadora sugeriu de verificar também sobre a guarda da criança e as visitas, o pai falou que
deveria ficar com a mãe mesmo, e que queria visita livre, queria pegar seu filho quando
quisesse. O pai comentou que eles tinham uma boa relação depois do término, várias vezes,
mas a mãe não confirmou nada. O pai comentou em um momento que deu muita mancada
com a mãe enquanto eles estavam juntos e que reconhece isso.
A mãe parecia sem graça, desconfortável, tensa. Enquanto o pai falava, ela ficava
quieta, mas demonstrava através de suas expressões que não estava satisfeita, e a mediadora
sempre a questionava do que ela achava. Quando foi perguntado o porquê dela pedir pensão,
foi percebido que ela estava envergonhada. Ela queria um valor (R$500,00), que o pai alegava
que não podia pagar pois estava desempregado, fazendo bico de uber. Quando o pai tentava
negociar, ela não se manifestava, apenas fazia cara de insatisfeita, esperando a mediadora
41

convocá-la a falar. Ela apenas dizia que achava o valor pouco. No final ela já se manifestava
mais, mas continua falando que era muito pouco, sem desenvolver mais o assunto. Quando a
mediadora perguntou uma hora se ela aceitaria que o pai pagasse 200 naquele mês ela disse "
Se ele garantir que ele paga mesmo, eu aceito".
Foi percebido que a mãe não conseguia expressar sua opinião, talvez por isso tenha
aberto esse processo. Apesar de precisar do dinheiro, parecia desconfortável em estar
solicitando esse direito. Demonstrava desconfiança e insatisfação com o ex-marido, que
pareciam conflitos pessoais do passado.
O pai parecia querer passar uma boa impressão porque ficava falando que reconhecia
seus erros, que queria ver o filho muitas vezes, que a relação dele com a mãe era boa, falava
várias vezes o nome do filho na audiência de forma afetuosa, falou que só queria o bem do
filho.
Como apontado por Barros e Monteiro(2018, p. 35), quando o casal de divorciados
têm filhos, sempre terão problemas a resolver e não vão conseguir ter um diálogo organizado
e produtivo sem resolver essas questões, precisando de uma mediação para restaurar a relação
social deles. Apesar do pai falar que eles tem uma boa relação e mãe não confirmou essa fala
dele, mostrando que o diálogo entre os dois, apesar de tentarem ter uma boa relação após o
término, estava abalado. Estava evidente que a mãe precisava resolver essa questão
judicialmente com o pai, mas indicava que estava tendo dificuldades, entendendo que não
estava conseguindo sozinha, pediu a mediação.

Sobre a mudança observada nos mediandos:

A mãe começou a falar sem ser convocada no final. O pai apesar de querer pagar
menos se ofereceu a pagar um pouco a mais dos 30% que ele por lei pagaria, baseado no
salário mínimo. O pai começou a convocar a opinião da mãe da criança no final, em vez de
só oferecer o que ele tinha. Aqui se confirma o que foi falado anteriormente, que a relação
social do pai e da mãe se restauraram após a mediação.

Estagiário/a: Jessica Caroline Inacio Marques R.A.: 3017109623


Estágio: ( x ) EPS ( ) Turma:9A
Ênfase: ( ) Prevenção e Promoção da Saúde
Título do Estágio: Conciliação e Mediação de Conflitos e Plantão Psicológico
no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania
Supervisor/a: Camila Miyagui CRP: 06/96669
Observação de sessão de mediação
Data: 29-04-2021
42

RELATÓRIO DA OBSERVAÇÃO DA MEDIAÇÃO

Nº Processo:EXP: 0003243-14.2021.8.26.0002 Número de


mediadores: 1
( ) Conciliação ( x ) Mediação Familiar Duração da sessão:
( ) Mediação comercial ( ) Outra 52 minutos
Sala de Espera:

Houve acordo? ( x ) frutífero Qual? Fixação de Alimentos


( ) Infrutífero Por quê?
Informação sobre Plantão Psicológico: ( ) Sim (x ) Não
Encaminhamento para Plantão Psicológico: ( ) Sim ( x ) Não

DISCUSSÃO COM ARTICULAÇÃO TEÓRICA

Observação da postura e intervenção dos mediadores:


A mediadora ouviu os dois lados igualmente, destacando sempre que não estava lá
para decidir nada pelos pais. Ela deixou bem claro que as necessidades do filho eram o foco
da audiência. Explicou como seria conduzido o processo. Estava muito focada e atenta em seu
compromisso de mediação, o tom de voz foi moderado mas firme. Fez perguntas necessárias,
o que os pais trabalhavam, o que os pais achavam que deveria ser pago, como seria caso o pai
perdesse o vínculo empregatício, de quem era a responsabilidade do quê e como o filho se
sentia no meio desse conflito. Reconhecimento da necessidade do filho ter contato com ambos
em relação a saúde emocional, o entendimento da fase adolescente do filho. Perguntava tanto
pra mãe quanto pro pai, se concordavam com o que estava sendo dito, deixou sutilmente claro
o que competia a cada um, conduziu a mediação trazendo o tempo todo o foco para o filho e
não aos conflitos dos dois mediandos. Convocou os dois para falar do que trabalhavam,
quanto ganhavam e o que aconteceu para chegarem na audiência. Quando chegou o
representante do pai, não se intimidou, perguntou a ele se ele queria ler o termo. Ele
discordou do valor e ela informou que foi o que os dois combinaram.

Barros e Monteiro (2008, p. 36), o foco da discussão deve ser os interesses, pois os
conflitos não serão trazidos à luz, se o mediador focar nos mediandos trará um acordo
momentâneo do problema. A mediadora deixou claro que o foco não era a relação dos dois,
mesmo que a mãe não aprovasse atitudes do pai, o pai se manifestasse pouco, ela destacou
que o filho é a prioridade. Decidir um lado nesse momento traria problemas posteriores, que
43

não seriam produtivos.

Sobre a observação da dinâmica conflituosa dos mediandos:


O pai estava com uma cara séria, braços cruzados segurando com as mãos seus
próprios braços. Se manifestou quando a mãe disse que ele não pagou a escola por 10 meses e
quando ela falou que ele não pagava nada. No resto, ele se expressou apenas ao ser
convocado. Dizia que estava tudo bem ser convocado para a audiência, mas demonstrava em
suas expressões faciais alguma insatisfação. Não se manifestou quando a mediadora falou da
importância dos dois na vida do filho, apenas quando a mediadora perguntou o que ele
achava. Nesse momento ele só respondeu com as mesmas palavras que a mediadora usou.
Apesar de ter sido acusado de não pagar as parcelas, disse que não queria que o garoto saísse
da escola particular. O pai estava sem um representante, mas no final da audiência ele trouxe
um. Primeiro, o pai disse que depois conversaria com esse representante, mas após a
mediadora ler para os mediandos o que foi acordado, o representante chegou. O representante
também leu o que foi escrito no acordo, mas não se manifestou contra nenhum quesito.

A mãe estava com uma cara séria e se balançava a todo momento. Falava
ininterruptamente. Falava sobre atitudes negativas do pai. Culpabiliza o pai utilizando o filho
como exemplo, falando que o pai tinha se afastado do garoto, que o garoto estava depressivo,
que o pai ficou de pegar o garoto, mas no dia não foi, que não liga mais para o garoto.
Quando questionada sobre as visitas do pai, ela disse que o garoto falava que se o pai quisesse
falar com ele, ligaria para ele. Não insiste com o garoto em ver o pai, porque acredita que ele
esteja numa fase da adolescência difícil. Acredita que o pai deve arcar com os custos do filho,
já que ele ganha mais e alega que ela está passando dificuldade pagando alimentação e
transporte do garoto para a escola. Estava incomodada com o pai devido a parcela do filho da
escola particular, mesmo não sendo responsável pelo pagamento e não estando no nome dela.
Foi levantado na audiência o valor que cada um arcava referente ao valor da escola, incluindo
alimentação, transporte e matrícula. O pai pagava mais que ela. Destacou tanto a questão do
transporte escolar e alimentação. Ela disse que estava no ensino híbrido.
Segundo Gonçalves & Silva (2010, p.148), a mediação atua na diminuição do desgaste
das famílias que por vezes fica distorcida ou prejudicada, pela audiência e pelos conflitos mal
trabalhados quando o rompimento do laço familiar aconteceu. Vemos na interação do pai e da
mãe, percebemos algum desgaste entre as partes. Notamos que tinha uma resistência do pai a
se expressar sobre seus conflitos, uma culpabilização do pai para o relacionamento com o
filho, pouco interesse na relação pai-filho demonstrada pela mãe, pouca empatia com as
necessidades do pai. Nenhum dos dois parecia se importar com a questão de regulamentar as
44

visitas.
Sobre a mudança observada nos mediandos:
A mãe parou de se balançar tanto após a audiência. O pai continuou com uma cara de
insatisfeito. De resto não houve mudanças.

Estagiário/a: Jessica Caroline Inacio R.A.: 3017109623


Marques
Estágio: ( x ) EPS ( ) Turma:9A
Ênfase: ( ) Prevenção e Promoção da Saúde
Título do Estágio: Conciliação e Mediação de Conflitos e Plantão Psicológico
no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania
Supervisor/a: Camila Miyagui CRP: 06/96669
Observação de sessão de mediação
Data: 03-05-2021

RELATÓRIO DA OBSERVAÇÃO DA MEDIAÇÃO

Nº Processo:EXP: 0003626-89.2021.8.26.0002 Número de


mediadores: 1
( ) Conciliação ( x ) Mediação Familiar Duração da sessão:
( ) Mediação comercial ( ) Outra 37 minutos
Sala de Espera:

Houve acordo? ( x ) frutífero Qual? Divórcio ( )


Infrutífero Por quê?
Informação sobre Plantão Psicológico: ( ) Sim (x ) Não
Encaminhamento para Plantão Psicológico: ( ) Sim ( x ) Não

DISCUSSÃO COM ARTICULAÇÃO TEÓRICA

Observação da postura e intervenção dos mediadores:


A mediadora explicou as informações de uma forma bem devagar, com uma voz suave
. A mediadora perguntou sobre quantos anos tiveram juntos e se tinham filhos. A mediadora
pergunta quem pediu o divorcio e se a ex-esposa concorda. Ela fala com uma voz muito
doce.Quando a ex-esposa quer confirmar os documentos e ele fica falando que está certo a
45

mediadora fala que agora era hora dela falar.

Biasoto e Vicente (2010, p. 162) nos mostram que na prática da mediação não é
esperado que o mediador esclareça ou oriente, mas, ao contrário, que permaneça a maior parte
do tempo ouvindo as diversas narrativas construídas pela problemática apresentada. Os dois
mediandos permaneceram quietos, e a mediadora não procurou forçar qualquer comunicação
fora do que era esperado. Se mostrou aberto a ouvir, tratou os dois gentilmente, para caso
quisessem se expressar.

Sobre a observação da dinâmica conflituosa dos mediandos:


Foi identificado que o ex-marido estava com olhos fundos e de cara fechada. Ele
olhava fixamente para a tela com uma câmera próxima ao rosto . Quando foram ler o que foi
escrito no processo ele tirou os óculos e estava com os olhos lacrimejando. O marido diz que
quando conheceu ela , ela já estava grávida. Ele fica quase imovel, só piscando muito os
olhos. Quando a ex-esposa fala que está procurando os documentos, ele a corta e fala que os
documentos estão certos. Afirma isso duas vezes enquanto a ex-esposa procura a
documentação, o que indica ansiedade. No final seus olhos estão lacrimejando.
O tempo todo da sessão a ex-esposa fica olhando em volta do computador e
dificilmente olhava para o vídeo da audiência. A cara estava inchada e olhava muito pra baixo
reflexiva. Na hora da leitura do processo, ela disse que estava distraída e não sabia se seu cpf
e rg estavam corretos, pediu pra voltar pra ela corrigir. Ela procura os documentos, atrasando
a audiência. Quando a mediadora pergunta a ela se concorda com a separação ela dá um
sorriso com os lábios e fala que sim, mas não desenvolve mais o assunto. No final a ex-esposa
fala que está achando o botão do chat. Ela pede para que assine depois, mas a mediadora faz
afirmação verbal mesmo.
Féres-Carneiro (2003, p. 372) destaca: “Assim, em relação à reconstrução da
identidade individual, tanto os homens como as mulheres de ambas as faixas etárias
ressaltaram a dificuldade desse lento processo marcado, por um lado, por muita solidão mas,
por outro, por uma vivência gratificante de liberdade.” Percebemos a dificuldade dos dois
mediandos nessa separação. Os dois estão com cara de abatidos, muito calados. Nenhum dos
dois entrou em detalhes dos motivos pelos quais o levaram a se divorciar.
Sobre a mudança observada nos mediandos:
O semblante do marido fica mais leve, a mulher olha menos para tela. A reconstrução
de uma identidade individual acontecerá aos poucos e os dois sairão cada um de sua forma de
luto. Apesar de não parecerem preparados para se expressar sobre o término, é esperado que
elaborem de alguma forma esse luto do término da relação.
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