Forças medidas em tubo elástico e cabo de aço
Comparação das forças medidas nos dois extremos de um tubo elástico e de um cabo de aço
Catiane Souza a, Lara Elena Gomes Marquardt b, Jefferson Fagundes Loss c
Resumo
Contextualização: Em modalidades
aquáticas, é comum utilizar cabo de aço (nado
estacionário) ou tubo elástico (nado
semiestacionário) para prender o atleta,
objetivando treinamento ou avaliação. Pouco
se sabe sobre a diferença entre a força
aplicada e a força medida em cada um deles.
Objetivo: Comparar as forças medidas com
células de carga nos dois extremos destes
materiais em diferentes situações de aplicação
manual de força em terra (estático, impulso e
oscilante).
Métodos: Forças estática, em um único
impulso e oscilante foram aplicadas
manualmente em um material, cabo de aço ou
tubo elástico, o qual estava fixado ao teto,
tendo uma célula de carga em cada
extremidade. Foram calculados os erros RMS
absolutos e relativos.
Resultados: as maiores diferenças, em
valores absolutos e relativos, foram
encontradas no cabo de aço, sendo 1,3 N e 5
% respectivamente.
Conclusão: há maiores diferenças entre as
forças medidas nos extremos do cabo de aço
do que do tubo elástico na situação oscilante,
sendo esta é a mais comum no teste de nado
estacionário. Por outro lado, a maior diferença
encontrada foi de 5%, o que, talvez, pode ser
desconsiderada dependendo do objetivo da
avaliação.
Palavras-chave: Nado amarrado; natação;
dinamometria, avaliação.
Comparison of measured forces at the two
ends of an elastic tube and a steel cable
Abstract
Background: In aquatics sports, it is
common to use steel cable (tethered
swimming) or elastic tube (semitethered
swimming) to tether the athlete aiming
training or evaluation. Little attention has
been paid to difference between the applied
force and the measured force for each of
them.
Objective: Compare the forces measured at
the two ends of these materials using load
cells in different situations applying manual
force (static, impulse and oscillating).
Methods: Static forces in a single pulse and
oscillating were applied manually in a
material, steel cord or elastic tube, which was
fixed to ceiling, with a load cell at each end.
Absolute and relative RMS errors were
calculated.
Results: The largest differences in absolute
and relative values were found in the steel
cable, with 1.3 N and 5% respectively.
Conclusion: There are more differences
between the forces measured at the ends of
the wire rope than the elastic tube in the
oscillating situation, and this is the most
common situation in tethered swimming test.
Moreover, the greatest difference was 5%,
which may be ignored depending on the
purpose of the evaluation.
Keywords: Tethered swimming; swimming;
dynamometry, evaluation.
Introdução
Nas modalidades aquáticas, como
natação, nado sincronizado e pólo aquático, o
desempenho – além de outros fatores – é
dependente da capacidade do indivíduo em
gerar forças propulsivas. Com o intuito de
avaliar essa capacidade, pode ser usado o teste
conhecido como nado atado, que consiste em
prender o atleta à borda da piscina por meio
de um dispositivo e medir a tensão
desenvolvida nesse dispositivo enquanto o
sujeito executa uma determinada técnica
(YEATER et al., 1981; AKIS; ORCAN,
2004).
A partir dos estudos desenvolvidos
com nado atado, são encontradas duas formas
de prender o sujeito: (1) usando cabo de aço
rígido (PAPOTI et al., 2003; MOROUÇO;
VILAS-BOAS; FERNANDES, 2012) ou (2)
tubo elástico (KJENDLIE; THORSVALD,
2006; GOMES et al., 2011). Quando é usado
um cabo de aço rígido, o teste pode ser
1
chamado de nado estacionário, uma vez que
não há um deslocamento significativo após o
início do teste; já quando o teste é feito com
tubo elástico, durante todo o teste, pode haver
deslocamentos, por isso, este recebe o nome
de nado semiestacionário (MAGLISCHO;
MAGLISCHO, 1984).
Independentemente dos dispositivos
usados, uma extremidade desses materiais é
presa no indivíduo, enquanto a outra
extremidade é presa em um dispositivo para
medir a força como a célula de carga. A célula
de carga, por sua vez, é fixa, por exemplo, na
borda da piscina, se o objetivo for medir
forças propulsivas horizontais como na
natação.
Com base na revisão de literatura
realizada, é notável que o cabo de aço é mais
usado nas avaliações das forças propulsivas
em testes máximos de 10 ou 30 segundos de
nado (YEATER et al., 1981; BARBOSA et
al., 2012; MOROUÇO et al., 2012). Por outro
lado, o tubo elástico é comumente utilizado
no treinamento da natação, podendo também
ser usado na avaliação (KJENDLIE;
THORSVALD, 2006; REZENDE, 2010).
O nado semiestacionário, por permitir
movimento, aparentemente, teria como
benefício o fato de minimizar os efeitos
deletérios que o nado totalmente estacionário
teria sobre o trajeto da braçada
(MAGLISCHO; MAGLISCHO, 1984). Isso
seria uma vantagem do uso do tubo elástico
para avaliação. Ainda, Morouço et al. (2011)
afirmaram que ao utilizar o cabo de aço,
quando a força vai para zero, tal cabo torna-se
frouxo, e o retensionamento do cabo pode
resultar em uma tensão que causa um
aumento nos valores de força. Assim, eles
sugerem que estudos futuros deveriam tentar
evitar esse fenômeno, o que poderia ser feito
utilizando o tubo elástico, porém não se sabe
se isso influenciaria na mensuração de força,
devido à característica elástica desse material.
Por exemplo, Rezende (2010) acredita
que a discrepância de resultados que
encontrou, comparando estudos que avaliaram
a força propulsiva usando cabo de aço rígido e
tubo elástico, foi devido ao fato que o tubo
possibilitaria uma dissipação de força. Ou
seja, Rezende (2010) assume que a força
aplicada em um extremo do tubo elástico é
diferente da força medida no outro, sugerindo
assim que o teste com o tubo elástico
subestimaria os valores da força propulsiva.
Dessa forma, o uso do tubo elástico
para a avaliação seria mais vantajoso – por,
aparentemente, amenizar as alterações
técnicas do nado (MAGLISCHO;
MAGLISCHO, 1984) e evitar picos de força
que podem superestimar a força propulsiva –
por outro lado, talvez o material elástico
subestime os valores de força (REZENDE,
2010). A partir disso, surge a seguinte
questão: há diferenças entre a força aplicada
em uma extremidade e a medida na outra
extremidade de um tubo elástico e de um cabo
de aço rígido?
Para responder a essa questão, foi
desenvolvido o presente estudo, o qual teve
como objetivo comparar as forças medidas
nos dois extremos de um cabo de aço rígido e
de um tubo elástico em diferentes situações de
aplicação manual de força em terra, já que
assim é possível ter um maior controle sobre
o experimento.
Materiais e métodos
Para a coleta de dados, foram usadas
duas células de carga (modelo SV20, Alfa
Instrumentos, com sensibilidade de 20mV/V e
capacidade de 200 N). Em relação à acurácia
da dinamometria, pesos conhecidos foram
aplicados sob forma de compressão nas
células de carga. Os valores medidos e os
reais foram plotados, e a linearidade da curva
foi estabelecida por meio do coeficiente de
determinação (R2), o qual foi igual a 0,9999
para uma das células, e de 0,9998 para a outra
célula. Um cabo de aço de 6,33 m de
comprimento e um tubo elástico de 3 m de
comprimento foram usados no experimento.
Para a escolha do tubo elástico e de seu
comprimento inicial, foi definida,
inicialmente, a curva de calibração desse
material (Figura 1) de acordo com Loss et al.
(2002). Com base na Figura 1, o tubo elástico
escolhido, quando tensionado com uma carga
de 30 N, somado à força manual aplicada nas
situações dinâmicas, em que o esperado era
um valor entre 40 N e 50 N, teria um
comprimento semelhante ao cabo de aço.
Figura 1. Curva de calibração do tubo elástico.
Após a calibração das células de carga
usando pesos conhecidos, uma célula de carga
foi fixada no teto de uma sala e nela foi
pendurado, na vertical, um dos materiais,
cabo rígido ou tubo elástico. Na outra
extremidade do material, foi colocada a outra
célula de carga onde foi aplicada a força.
Ambas as células de carga estavam ligadas ao
Miotool (Miotec equipamentos Biomédicos
Ltda), com taxa de amostragem de 2000 Hz, o
qual estava conectado a um computador
(Figura 2).
Figura 2. Representação esquemática da
situação de teste.
A força foi aplicada em três situações,
escolhidas por serem as prováveis aplicações
de força encontradas na água: (a) constante
(iniciando sem carga, foi colocada uma carga
de 30 N que foi retirada logo em seguida), (b)
impulso único (já tendo fixado ao material
uma carga de 30 N, o material foi puxado para
baixo e solto uma única vez, e foi esperado
até que a situação estivesse próxima de voltar
ao repouso), (c) oscilatório, variando entre
crescente e decrescente (iniciou com uma
carga de 30 N e foram aplicados vários
estímulos manuais puxando para baixo e
soltando, sendo que a sua estabilização foi
manual). A ordem dos testes foi aleatória.
Os dados foram analisados no
software Matlab (versão R2009b). No
primeiro momento, os sinais foram
suavizados com o filtro passa baixa de ordem
5 e frequência de corte definida por meio da
Análise residual proposta por Winter (2005).
Para fazer a comparação dos diferentes
materiais entre as células de carga, foi
assumido que a célula de carga posicionada
no teto seria a referência. A partir disso, a
comparação foi realizada para cada material e
para cada situação de aplicação de força por
meio do erro RMS absoluto (RMSABS)
estimado de acordo com a Equação 1, sendo
FC a força medida pela célula de carga de
cima (presa no teto), FB a força medida pela
célula de carga de baixo e n o número de
pontos:
𝑅𝑀𝑆𝐴𝐵𝑆
2
∑𝑛𝑖=1(𝐹𝐶𝑖 − 𝐹𝐵𝑖 ) Equação 1
=√
𝑛
Após, foi estimado o erro RMS
relativo (RMSREL), possibilitando a
comparação de situações com magnitudes
diferentes de força, já que não foi possível
garantir a mesma aplicação de força nos testes
impulso único e oscilatório para os dois
materiais testados. Essa medida foi estimada
de acordo com a Equação 2, sendo VM o
valor máximo medido pela célula de carga de
cima.
𝑅𝑀𝑆𝐴𝐵𝑆
𝑅𝑀𝑆𝑅𝐸𝐿 = Equação 2
𝑉𝑀 ∗ 100
E ainda, a partir de um diagrama de
corpo livre do material (Figura 3), foi
estimada a equação de movimento e, por meio
desta, assumindo que ∑F=m.a, foi calculada a
aceleração, a partir da Equação 3, em todas as
situações dinâmicas, nos momentos de maior
pico de força. A partir desse diagrama, foi
calculada a aceleração do material, e feita a
comparação entre as situações e entre os
materiais.
 𝐹𝑐𝑖𝑚𝑎 − 𝐹𝑝𝑒𝑠𝑜 − 𝐹𝑏𝑎𝑖𝑥𝑜 Equação 3 ocorrerem na avaliação do nado estacionário
a= na prática.
𝑚

Em que: Erro RMS absoluto e relativo

Tabela 1.
a é a aceleração do material; em cada situação avaliada.
Fcima é a força medida pela célula de Erro RMS Erro RMS
carga de cima; absoluto relativo (%)
Fpeso é a força peso do material; (N)
Fbaixo é a força medida pela célula de Cab
carga de baixo; o Tubo Cabo Tubo
m é a massa do material.
Estático 0,02 0,05 0,1 0,2
Impuls
Figura 3. Diagrama de corpo livre do o 1,04 0,51 0,5 1,5
material em ambas as situações Oscilan
de coleta, sendo Fcima a força te 1,33 0,62 5,0 1,7
medida pela célula de carga de
cima, Fpeso a força peso do
material e Fbaixo a força medida Figura 4. Situação de um único
pela célula de carga de baixo. impulso com tubo elástico.

Figura 5. Situação oscilante com cabo de aço.

Resultados

Os erros RMS absoluto e relativo para

cada material em cada situação avaliada são
apresentados na Tabela 1. Para uma melhor
compreensão dos resultados, optou-se por
apresentar a força medida pelas duas células
de carga e também a diferença entre elas na
situação que mostrou o maior RMS relativo:
na situação de impulso (Figura 4) e na
situação oscilante (Figura 5). Tais exemplos
foram escolhidos, pois, aparentemente, as
situações dinâmicas são mais prováveis de
Com base no diagrama de corpo livre
do material e na Equação 3, a aceleração
calculada do material, para a situação de um
único impulso no momento de maior pico de
força, foi 1,44 m/s² com tubo elástico e 3,58
m/s² com cabo de aço. Enquanto na situação
oscilante foi encontrada 9,54 m/s² com o tubo
elástico e 9,21 m/s² com o cabo de aço.
Discussão
O objetivo do presente estudo foi
comparar as forças medidas nos dois
extremos de um cabo de aço rígido e de um
tubo elástico em diferentes situações de
aplicação manual de força em terra. Os
resultados indicam que há maiores diferenças
medindo a força com cabo de aço do que com
o tubo elástico (Tabela 1), contrariando o que
sugere Rezende (2009). Ainda assim, a maior
diferença encontrada foi de aproximadamente
5% o que, dependendo do objetivo da
avaliação pode ser desconsiderado.
Comparando os materiais na
mensuração estática, tanto utilizando o tubo
elástico, quanto utilizando o cabo de aço, foi
encontrada uma pequena diferença entre as
células de carga (Tabela 1). Esta diferença, na
ordem de 30 g, pode ser atribuída a
variabilidade do sistema de medição.
Já na situação de um único impulso, o
erro RMS absoluto é maior no cabo, enquanto
o RMS relativo é maior no tubo, ainda assim,
nessa situação, após o primeiro pico associado
ao puxão, a diferença entre as células
apresenta um comportamento constante ao
longo do tempo (Figura 4). Apesar de ambos
os protocolos terem sido executados com uma
carga de 30 N fixada ao material, o estímulo
dinâmico foi manual, e no tubo, por sua
característica elástica, teve-se um impulso
menor para que os materiais usados não
colidissem com o chão. Logo, a magnitude
das forças foi diferente, o que pode explicar
essa aparente discrepância de o erro RMS
absoluto ter sido maior em um material
enquanto o erro RMS relativo ter sido maior
no outro.
Os resultados apresentados na situação
oscilante (Tabela 1), corroboram com
Morouço et al. (2011), os quais sugeriram que
o retensionamento do cabo de aço após este
tornar-se frouxo, resultaria em uma tensão
que pode causar um aumento nos valores de
força. Visto que tal situação foi onde se
obteve a maior diferença dentre as demais:
5%. Analisando qualitativamente a Figura 5,
pode-se notar que as maiores diferenças entre
as células coincidem com os maiores picos
após uma queda na mensuração de carga.
Entretanto, na mesma situação com o tubo
elástico, esse erro se reduz a
aproximadamente um terço do que com o
cabo de aço, tendo uma diferença de 1,7%.
Ao longo de todas as situações
dinâmicas, foram encontradas diferenças nas
mensurações da célula de carga de cima em
relação à célula de carga de baixo, que em um
primeiro momento parecem discrepantes.
Porém, sabendo que o somatório das forças é
massa vezes aceleração, e que a massa do
material não se altera ao longo das situações,
tais diferenças podem ser explicadas pela
aceleração do material, seja ele o cabo de aço
ou o tubo elástico.
Ao assumir que a célula de carga de
cima estava fixa, assume-se também que a
mesma tende a apresentar menos
deslocamento do que a célula de carga de
baixo (Figura 3). Logo, as variações de
aceleração entre os materiais se deve ao efeito
inercial na parte inferior do experimento
(célula de carga de baixo e anilha). Essa
diferença de aceleração na parte inferior do
experimento propaga-se para o material,
gerando nele uma variação de aceleração
dependendo do material e da situação. Como
a aceleração no material é diferente para cada
situação avaliada, isso explica os diferentes
resultados nas comparações entre os materiais
e entre as situações.
Uma limitação do presente estudo é
que o mesmo foi realizado em terra, sendo
que isso foi feito com o intuito de ter um
maior controle sobre o experimento. Assim,
são sugeridos novos estudos que avaliem a
força aplicada dentro d’agua, comprando os
valores de força obtidos nas duas
extremidades de ambos os materiais.
Apesar dessa limitação, os resultados
do presente estudo permitem concluir que há
maiores diferenças entre as forças medidas
nos extremos do cabo de aço do que do tubo
elástico na situação oscilante, sendo esta é a
mais comum no teste de nado estacionário.
Por outro lado, a maior diferença encontrada
foi de 5%, o que, talvez, pode ser
desconsiderada dependendo do objetivo da
avaliação.
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