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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADES

Cursos: Gestão e Economia

Contibilidade Financeira I

ESCRITURAÇÃO CONTABILÍSTICA

1. Noção de Escrituração

As operações que os comerciantes realizam, que modificam ou possam modificar o seu


património, devem ser escrituradas no âmbito de um processo (processo de escrituração
ou processo contabilístico). Este processo consubstancia-se numa tipologia,
nomeadamente: Diário, Razão e Balancete.

Os factos patrimoniais têm um suporte documental, através do qual é feita a


escrituração nos livros contabilísticos. Assim, é fundamental evidenciar que a
escrituração deve ser feita obedecendo uma classificação (assente nas contas
evidenciadas no Plano de Geral de Contabilidade) consistente de operações
homogéneas.

1.1 Conceito de Conta

Referiu-se, anteriormente, que o património de uma empresa é constituído por um


conjunto de elementos patrimoniais de natureza diversa que, podem ser traduzidos
(mensuráveis) em unidades de valor comum. Esta tradução, de elementos que
constituem o património, em me

sma unidade monetária, permite a comparabilidade entre si, uma vez que eles
podem ter características diferentes. Portanto, o trabalho contabilístico nas unidades
económicas é realizado graças a quantificação dos elementos patrimoniais.

O registo, a classificação e o controlo dos factos patrimoniais não seriam de fácil


execução se a observação fosse feita elemento a elemento patrimonial. Assim, consoante

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a natureza ou função de cada elemento na empresa, os valores patrimoniais podem ser
agrupados em classes de características comuns. Cada agrupamento de elementos
patrimoniais com características semelhantes forma um subconjunto do conjunto de
todos os elementos patrimoniais da empresa. A cada um deste subconjunto, damos o
nome de CONTA.

CONTA – é o conjunto de elementos patrimoniais com características semelhantes,


expresso em unidades de valor e a sua disposição permite registar todas as variações
por eles sofridas.

1.1.1 Partes constitutivas

Na conta há a considerar três elementos, a saber:

 Código (número da conta) – a codificação permite agrupar as contas por classes,


das quais contarão as subcontas para a especificidade de cada elemento
patrimonial;

 Título (nome próprio) - Tem como finalidade identificar a conta e distingui-la de


todas as outras pelo que será fixa e imutável. Deve ser escolhido abrangendo a
natureza dos elementos que a compõem, distingui-los de todas as outras contas;

EX: os escritórios são, geralmente, equipados com móveis diversos como:


secretárias, estantes, cadeiras e outros. Todos esses elementos têm uma
característica comum, na medida em que se destinam ao apetrechamento dos
escritórios; a denominação que engloba estes elementos pode ser, por exemplo:
Material de escritório.

 Valor (sua extensão) – corresponde a quantidade, ou seja, a tradução do


elemento patrimonial em unidades monetárias que permite comparar
determinado elemento patrimonial com o outro de natureza diferente.

1.1.2 Requisitos

A conta constitui a base de toda a escrituração, pois, é a partir dela que


subdesenvolve todo o trabalho contabilístico. Toda a conta para satisfazer o exigido pela
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contabilidade deve obedecer a dois requisitos básicos:

 Homogeneidade – cada conta deve conter elementos que tenham características


comuns.
 Integralidade - todos os elementos que apresentam características comuns
devem fazer parte da mesma conta.

1.1.3 Representação Gráfica

A representação gráfica da conta constitui um dispositivo técnico para acompanhar


as suas variações quantitativas. Na representação gráfica a conta apresenta-se,
normalmente, na forma de um T, sobre o qual no traço horizontal indica-se a
denominação da conta, podendo-se distinguir um lado esquerdo (correspondente a
inscrição de valores a débito) e um lado direito (correspondente a inscrição de valores a
crédito), como ilustra o esquema seguinte:

Código e Título da conta


Deve Haver

Lado
esquerdo Lado Direito
Débito (s) Créditos(s)

Exemplo de conta:

1.1 Caixa

Tradução:
 Lado esquerdo do esquema, designado por 1º membro da conta, secção de
Débito ou Deve; o acto de inscrever valor neste lado, diz-se DEBITAR.
 Lado direito do esquema, designado por 2º membro da conta, secção de Crédito
ou Haver; o acto de inscrever valor neste lado, diz-se CREDITAR.

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A diferença entre o somatório dos valores inscritos a Débitos e a Crédito duma conta,
designa-se por SALDO. Este saldo pode ser Devedor se o 1º membro for superior que o
2º membro e Credor se o 1º membro for inferior que o 2º membro.

1.1.3.1 Saldar uma Conta

Saldar uma conta consiste em lançar o saldo para que o total de débito seja igual a total
de crédito da conta.

Uma vez determinado o saldo este adiciona-se ao lado cuja soma apresenta o menor
valor, obtendo-se assim uma igualdade entre os dois lados da conta.

Atendendo as três disposições consideradas anteriormente, teremos:

1º Débito > Crédito - Saldo Devedor, onde Débito = Crédito + Saldo Devedor

2º Débito < Crédito - Saldo Credor, onde Crédito = Débito+ Saldo Credor

3º Débito = Crédito Saldo Nulo, onde Débito = Crédito.

Uma conta sem saldo, diz-se uma conta saldada. O saldo de conta corresponde a sua
extensão ou valor num determinado momento.

1.1.3.2 Fechar uma Conta

Corresponde somar as colunas do débito e do crédito depois de os saldar previamente


sublinhando com dois traços a cada soma, o que se designa por trancar a conta.
Nestacondição, diz-se acontafechada.

1.1.3.3 Reabrir uma Conta

É escrever o saldo na coluna dos débitos, se na conta fechada o saldo era devedor ou
escrever o saldo na coluna dos créditos se o saldo era credor.

1.1.4 Classificação da Conta

1.1.4.1 Primeira Classificação

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As contas classificam-se em:

o Contas do Activo – que compreendem a todos os elementos patrimoniais activos


(aqueles com características de representação de bens e direitos do titular do
património);

o Contas do Passivo – que compreendem todos os elementos patrimoniais


passivos (as obrigações pecuniárias que o titular do património terá de
satisfazer); e

o Contas do Capital Próprio (ou Fundos Próprios) – que englobam valores


patrimoniais abstractos por que se traduz na diferença entre o Activo e o Passivo.

As duas primeiras (contas do activo e passivo) respeitam ao património, pelo que são
traduzidas como contas de Valores Concretos. E o último grupo, (as contas do capital
próprio ou da situação líquida) refere-se as expressões numéricas do valor do
património, sendo traduzidas como contas de Valores Abstractos.

1.1.4.2 Segunda Classificação

As contas também podem ser designadas de:

o Contas simples ou elementares – agrupam elementos com características muito


específicos e não comportam maior divisão. São as que contém um único
elemento, ou seja, não se pode subdividir noutras mais simples, como por
exemplo: Conta António, Conta BCI, Credor Filipe.

o Contas complexas, colectivas ou gerais – agrupam as contas simples ou


elementares, ou que nelas se subdividem. São formadas pelas contas da mesma
natureza, como por exemplo: Clientes, Fornecedores, Bancos.

A conta na sua íntegra, deve ser homogénea e integral, dado que só poderá admitir
movimentos ligados a respectiva classe de valor, não excluindo qualquer deles. A conta
discrimina o património do activo e do passivo, onde se evidencia a situação líquida, se é
devedora ou credora, em que procuramos saldar, fechar e reabrir para continuidade dos
factos patrimoniais.

As contas podem ser subdivididas em outras, tomando o nome de subcontas ou

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contas divisionárias. E, aquelas podem ser do primeiro grau, segundo grau, terceiro
grau,… nésimo grau, conforme sejam as subdivisões.

1.2 Métodos de Registo Contabilístico

No século XIII, as contabilidades comportavam apenas as contas de devedores,


credores e banqueiros, ou seja, contas de “pessoas”. O método de registo adoptado nesta
época ficou conhecido por Método das partidas simples ou unigrafia – inscrição, em
cada conta, dos movimentos que lhe respeitam, sem qualquer interligação com
inscrições feitas noutras contas.

Com o desenvolvimento histórico da técnica contabilística, foi adoptada uma nova


técnica que consistia no registo duplo, a que se chamou de partidas dobradas ou
diagrafia.

1.2.1 Método Diagráfico

Este método, também conhecido por método das partidas dobradas, data do século
XV. Segundo este método: todo o débito numa conta origina o crédito noutra ou noutras e
vice-versa, ou seja, cada facto patrimonial determina um registo em duas ou mais
contas, por forma a que ao valor de cada débito (ou débitos) corresponda sempre um
crédito (ou créditos) de igual valor.
O princípio das partidas dobradas é a base conceptual que suporta a equação
fundamental da contabilidade. Qualquer facto determina a variação de duas ou mais
contas, cuja igualdade das somas dos débitos e dos créditos se pode constatar pela
manutenção da igualdade dada pela expressão:

A = P + SL

Donde se conclui que:


 As contas do 1º membro do balanço (activo e situação liquida passiva) debitam-
se pela extensão inicial e pelos aumentos e creditam-se pelas diminuições.
 As contas do 2º membro do balanço (passivo e situação liquida activa)
creditam-se pela extensão inicial e pelos aumentos e debitam-se pelas
diminuições.

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Como, a situação líquida activa é constituída pelo capital inicial e pelos lucros e a
situação liquida passiva é constituída pelos prejuízos, poderíamos ainda afirmar que:
 As contas do activo se debitam pela extensão inicial e pelos aumentos; creditam-
se pelas diminuições.
 As contas do passivo e da situação líquida creditam-se pela extensão inicial e
pelos aumentos; debitam-se pelas diminuições.
 As contas de situação líquida adquirida, isto é, as contas de resultados debitam-
se pelos custos (encargos) e creditam-se pelos proveitos (ganhos).

Em síntese, poderemos dizer que no sistema das partidas dobradas:


 A um débito (ou débitos) corresponde sempre um crédito (ou créditos) de igual
valor;
 A soma dos débitos é sempre igual à soma dos créditos;
 A soma dos saldos devedores é igual à soma dos saldos credores.

A contabilização de qualquer facto patrimonial obedece necessariamente a uma das


quatro fórmulas digráficas seguintes:

1ª Fórmula: Uma só conta devedora e uma só conta credora;


2ª Fórmula: Uma só conta devedora e várias contas credoras;
3ª Fórmula: Várias contas devedoras e uma só conta credora;
4ª Fórmula: Várias contas devedoras e várias contas credoras.

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1.3 Regras de Movimentaçãodas Contas

CONTAS DEBITAM – SE PELOS (AS) CREDITAM – SE PELOS (AS)


ACTIVO Aumentos (+) Diminuições (-)
PASSIVO Diminuições (-) Aumentos (+)
FUNDOS PROPRIOS Diminuições (-) Aumentos (+)
Gastos/Custos Aumentos (+) Diminuições (-)
Rendimentos/Proveitos Diminuições (-) Aumentos (+)

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1.3.1 Registo das extensões (saldos) iniciais

A primeira questão que se levanta, ao pretendermos fazer um registo numa conta, é a de


sabermos em que coluna terá de se inscrever o valor das extensões que o balanço inicial
apresenta (caso seja um balanço em formato horizontal). Todas as extensões iniciais,
apresentadas pelas contas do activo, são registadas no lado esquerdo, ou seja, do mesmo
lado em que se encontravam registadas no balanço inicial.

Na conta, o lado esquerdo corresponde à primeira coluna, ou seja, a coluna do débito.


Logo, as contas do activo são debitadas pelo registo das extensões iniciais apresentadas.

Quanto às contas do passivo, as suas extensões iniciais são sempre registadas no lado
direito, isto é, do mesmo lado em que se encontravam registadas no balanço inicial.

Na conta, o lado direito corresponde à segunda coluna, ou seja, a coluna dos créditos.
Logo, podemos dizer que as contas do passivo são creditadas pelo registo das extensões
iniciais que apresentam.

D Nome da conta C

DÉBITOS CRÉDITOS

 Movimentação das Contas do Activo


Uma vez que já sabemos como são registados os saldos iniciais em contas do activo,
iremos de seguida ver como estas contas são movimentadas.

Regra:As contas do activo são debitadas pela sua extensão inicial e pelos aumentos
de extensão e creditadas pelas diminuições de extensão.

D Conta do Activo C

Extensão Inicial
(saldo inicial)
Diminuições de
E extensão
Aumentos de
Extensão

 Movimentação das contas do passivo

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Depois de termos aprendido que coluna da conta devia registar a extensão inicial
apresentada pelas contas do passivo, levanta-se o problema de saber como registar,
nestas contas, o movimento que as afecta.

Regra:As contas do passivo são debitadas pelas diminuições de extensão e


creditadas pala extensão inicial e pelos aumentos de extensão.

D Conta do Passivo C

ExtensãoInicial
Diminuições de
extensão E
Aumentos de Extensão

 Movimentação das contas de Gastos

Na conta, a coluna da esquerda corresponde à coluna dos débitos. Assim, sempre que a
empresa suporta um custo, debita a respectiva conta de custo.

Regra:As contas de gastos são debitadas, sempre que se suporta um gasto.

D Conta de Gastos C

Debita pelos custos

 Movimentação das contas de Rendimentos

Como sabemos, na conta, fazer um registo do lado direito equivale creditá-la. Assim,
sempre que a empresa obtém um proveito credita a respectiva conta de proveitos.

Regra:As contas de rendimentos são creditadas sempre que se obtém um


rendimento.

Conta de
D Rendimentos C

Credita pelos
Rendimentos

Obs:Em relação às contas das classes 6 e 7, ou seja, dos gastos e rendimentos,

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quanto a sua natureza de variação, funcionam como as contas do activo e passivo,
respectivamente.

Ex: Determinada empresa, comprou a pronto pagamento diversas mercadorias no valor


de 50.000,00.

Neste facto patrimonial estão envolvidas duas contas do activo, nomeadamente: a conta
Compras (pela aquisição de mercadorias) e a conta Caixa (pelo desembolso de 50.000,00
para o pagamento de mercadorias, pelo que o lançamento será:

2.1. Compras
50.000,00

1.1Caixa
50.000],00

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