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SEMINÁRIO V – TUTELA ANTECIPADA

Fernando, marido e pai de 3 filhos pequenos, reside no Loteamento XY, em São Paulo/SP, há cerca de
16 (dezesseis) anos, no entanto o referido lote ainda está em fase de regularização, motivo pelo qual ele
e as outras 20 famílias ainda não recebem o boleto de IPTU para pagamento. No entanto, todas as
famílias pagam regularmente água, luz, etc.
A referida ocupação em tal loteamento é de conhecimento público, sendo que por meio de uma
assistência jurídica gratuita de uma faculdade de direito de São Paulo está sendo procedida com a
regularização deste loteamento.
Entretanto, em 19.09.2017 Fernando recebeu, via correio, notificação de que no prazo de 3 (três) dias
seriam promovida a demolição compulsória das edificações localizadas em tal terreno.
Ato continuo, em 23.09.2017 agentes da Prefeitura de São Paulo/SP compareceram no local para
proceder com a destruição, mas foram impedidos graças à intervenção da comunidade.
Diante de tal cenário, Fernando e as outras 20 (vinte) famílias compareceram na Defensoria Pública do
Estado de São Paulo com o intuito de buscarem, via judicial, um impedimento de que se proceda com a
demolição das edificações.
Em razão da urgência da questão, o defensor público entendeu por bem ingressar com um pedido de
tutela antecipatória em caráter antecedente pleiteando justamente a abstenção da Prefeitura de São
Paulo em demolir as edificações.
Recebida a petição inicial, o juiz entendeu por bem indeferir o pedido liminar, uma vez que esta não
seria a ferramenta cabível para se obter tal tutela, e extinguiu o processo.

1-) O Juiz acertou ao indeferir o pedido liminar com base no argumento de que a
ação distribuída não foi a via correta? Justifique sua resposta.

Houve equívoco na decisão proferida pelo juiz, já que as ferramentas processuais foram
corretamente utilizadas. A tutela antecipatória em caráter antecedente possui justamente
essa função: regularizar situações em que o direito da parte se mostra na iminência de
perecer caso não seja tutelado de plano. Desse modo, a urgência é tão grande que não
permite que à parte tempo suficiente e razoável para elaborar a petição inicial com todos
os fatos e fundamentos necessários para a demanda principal, de modo a possibilitar o
pleito de ação judicial limitando-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação
do pedido de tutela final. Assim, a via escolha pelo Defensor foi devidamente
percorrida, tendo em vista que o pedido de não demolição não poderia ser feito em
tutela cautelar, já que não se busca apenas a eficiência do processo, mas sim, proteção
ao risco substancial de perecimento do direito – função alcançada pela tutela
antecipatória em caráter antecedente. Ainda, encontram-se presentes os requisitos para
que se conceda a tutela de urgência I - periculum in mora e fumus boni iuris e
reversibilidade dos efeitos da tutela, pois a permanência dos moradores não alteraria
eventual direito posterior à demolição da Prefeitura. Por fim, não há empecilho no caso
em tela que justifique a não concessão da tutela antecipatória antecedente, contrapondo
as razões de se conceder a tutela – cujo único efeito produzido seria a dilação do prazo
da demolição dos imóveis. Ademais, o procedimento de regularização do imóvel pode
ser instrumento de prova de modo a suspender a demolição.

Correção: o juiz pode fazer a mutabilidade entre as duas medidas (antecipada e


cautelar). Portanto, não há empecilho quanto à via escolhida pelo Defensor. Assim, a
medida antecipada pode migrar para a cautelar, pois o que se pretende no processo não é
o impedimento da destruição em si – medida apenas útil ao processo.

2-) No caso de indeferimento do pedido, como neste caso, deveria o juiz ter julgado
extinto o pedido? Justifique sua resposta.

O juiz não deveria julgar extinto o processo pois, inicialmente, deverá determinar a
emenda da inicial no prazo de cinco dias – prazo não dilatório. Caso decorrido o prazo
sem a emenda da inicial, o juiz indeferirá a petição inicial, com consequente extinção do
processo sem resolução de mérito, conforme dispõe o art. 303 – “Nos casos em que a
urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao
requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a
exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao
resultado útil do processo. § 6o Caso entenda que não há elementos para a concessão de
tutela antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da petição inicial em até 5
(cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de
mérito”.

3-) No caso de ter sido concedida a tutela pretendida deve o Autor tomar alguma
providência? Justifique sua resposta.

Conforme dispõe o art. 303, § 1, caso a tutela antecipada seja concedida, “ I - o autor
deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada
de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou
em outro prazo maior que o juiz fixar”. Desse modo, caberá ao autor trazer aos autos os
demais elementos e questões em que se desenrola a lide, a causa de pedir e o pedido.
Ademais, como bem pontuam Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de A. Nery em seu Código
Comentado, “O autor deverá já ter providenciado todos os elementos necessários para a
citação do réu, a ser realizada imediatamente, já que o prazo para contestação se inicia a
partir da data da audiência ou da data do protocolo do pedido de cancelamento da
audiência (CPC 335). A citação valerá, de qualquer forma, como termo inicial do prazo
para a interposição de agravo de instrumento, por parte do réu, contra a decisão que
concedeu a antecipação de tutela (CPC 1015 I)”

4-) Na hipótese de concessão do pedido antecedente, qual o recurso cabível pelo


Réu em face desta decisão? Caso não ocorra a interposição como o juiz deverá
proceder? Justifique sua resposta.

A concessão de pedido antecedente, em outras palavras tutela antecipada, se dá através


de uma decisão interlocutória. Dessa maneira, de acordo com o artigo 1.015 do
CPC/2015, o recurso cabível seria o Agravo de Instrumento, a fim de se evitar a
estabilização da tutela antecipada antecedente. Na hipótese de não haver recurso em
face da tutela antecipada concedida, o juiz deve extinguir o processo, conforme
dispositivo do art. 304 § 1º, do CPC/2015. No entanto, é possível que ambas partes
requeiram revisão, reforma ou invalidação da tutela concedida, cabendo ao Réu o limite
de prazo de dois anos para tal.

5-) A decisão proferida neste processo faz coisa julgada? Justifique sua resposta.

A decisão proferida em favor do autor que concedeu a tutela antecipada não faz coisa
julgada. Assim é compreendido pois trata-se de concessão em cognição sumária. Porém,
seus efeitos serão mantidos até o requerimento para eventual reforma, revisão ou
invalidação, seja requerida por uma das partes, informe mencionado na questão anterior.
“A decisão concessiva de tutela antecipada antecedente pode estabilizar-se, quando não
for objeto de recurso (art. 304 do CPC/2015 - v. cap. 42, adiante). Nessa hipótese, não
fará coisa julgada (art. 304, § 6.º, do CPC/2015), mas produzirá efeitos por tempo
indeterminado. Sua desconstituição depende de nova ação, com prazo decadencial de
dois anos (art. 304, § 2.º, 3.º e 5.º, do CPC/2015)”. (WAMBIER, 2016, p. 231).
Portanto, em suma, compreende-se que a estabilização da decisão que antecipa a tutela
não a torna imutável, já que estabilidade e imutabilidade não se confundem. A decisão
que antecipa a tutela pode se estabilizar, mas isso não significa que tal estabilização
conferirá caráter permanente à situação, para o futuro, pois isso implicaria em
imutabilidade, o que somente é característico da coisa julgada.

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