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Oração 

Natureza: 
Nosso Senhor diz: “É preciso orar a todo tempo sem desfalecer” (Lc VXIII, 1). 
Deve  se  alcançar  o  que  desde  toda  a  eternidade  estava  determinado  conceder por meio da 
oração,  pois  nada  extrínseco  a  Deus  o  determina.  Entretanto,  Deus  dispôs  as  coisas  vinculadas  a 
outras.  É  um  querer  condicional  de  Deus  disposto  desde  toda a eternidade (Darei essa graça se me 
pedires,  não  a  darei  se  não  o  fizer).  Não  é  simples  condição,  mas  causa  segunda  condicional: 
impossível  colher  sem  ter  plantado.  Ele  assim  o  quis  para  que  confiemos  nEle  e  o  reconheçamos 
como senhor de todos os bens. 
É  própria  dos  seres  racionais  e  completa  todos  os  atos  de  virtude  cristãos, pois pressupõe 
um  desejo  de  perfeição,  já  que  ninguém  reza  sinceramente  se  não  quer  se  tornar  melhor,  e 
conforma nossa vontade com a de Deus, pois a oração submete nossa vontade a de Deus. 

Dá-se como definição da oração: 

1. São  Gregório  Nansiano  –  “A  oração  é  uma  conversação  ou  colóquio  com  Deus”  (​ascensus 
mentis in Deum)​ . 
2. São Joao Crisóstomo – “A oração é falar com Deus” 
3. Santo  Agostinho:  “  A  oração  é  a  conversação  da mente com Deus com piedoso e humilde 
afeto" 
4. São Boaventura: A oração é o piedoso afeto da mente dirigido a Deus” 
5. Santo  Tomás:  “  A  oração  é  a  elevação  da  mente  a  Deus  para  louvá-Lo  e  pedí-Lo  coisas 
convenientes a eterna salvação”. Produzido pela virtude da religião. 
A  palavra  elevação  é  usada  em  sentido  metafórico  e  indica  o  esforço  que  fazemos  para  nos 
desprendermos das criaturas e de nós mesmos. 
Os que negaram a realidade da oração são muito e podem ser resumidos em: 
1. Deístas, Epicuristas: Negam a providência de Deus, influência neste mundo. 
2. Os que negam a liberdade (fatalistas, luteranos, jansenistas, calvinistas): “tudo está escrito” 
3. Magos: A vontade de Deus muda pelo que oferecemos a Ele 
 
Proveitos e Vantagens: 
1. Excelente ato de religião; 
2. Dá-se graças a Deus por seus inúmeros benefícios; 
3. Excita a humildade, reconhecendo nossa pobreza; 
4. Exercita a confiança em Deus ao pedí-Lo coisas que esperamos obter de sua bondade; 
5. Nos leva a uma respeitosa familiaridade com Deus; 
6. Nos faz entrar nos desígnios de Deus; 
7. Eleva e engrandece a nossa dignidade humana; 
 
Necessidade: 
De preceito divino: “Vigilai e orai” (Mt XXVI, 41), “Pedi e dar-se-vos-á” (Mt VII, 7) 
De  preceito  natural:  O  homem  é  miserável,  só  Deus  pode  remediar  e  o  meio  é  a  oração 
(tanto que em todas as religiões há oração”. 
De preceito eclesiástico: A Igreja manda rezar certas coisas. 
Obrigado  ​per  se  no  começo  da  vida  moral,  perigo  de morte,  ​per accidens ​em tentação forte e 
calamidade pública. 
Para  a  salvação:  “quem  reza  certamente  se  salva  e  quem  não  reza  certamente  se  condena” 
Santo Afonso. 
Isso  decorre  da  necessidade  da  graça para a salvação ​(“sem mim nada podeis fazer” – Jo XV, 5) 
e  a  graça  só  é  dada  àqueles  que  rezam,  apesar  daquelas  iniciais  que  são  dadas  mesmo  sem  a 
cooperação  do  homem  (fé, penitência). “Pela oração merecem os homens o que Deus, desde toda a 
eternidade,  determinou  conceder-lhes”.  Quando  o  homem  não  tem  as  graças  é  porque  ou  as  pede 
mal  ou  não  as  pede,  como  afirma  São  Tiago  ​(Iac.  IV,  2-3)  que  “não  tendes  porque  não  pedis”  e 
“pedis e não recebeis porque pedis mal”. 
Mantém  a  vida  da  alma:  Eu,  porém,  sou  pobre  e  mendigo  (Ps.  XL,  18).  “Assim  como  o 
corpo  não  pode  viver  sem  a  alma,  assim  a  alma  sem  a  oração  está  morta  e  exala  mau  cheiro”,  diz 
São João Crisóstomo. 
Ao  contrário do que afirmavam Lutero e Jansênio, Santo Tomás nos diz que “não devemos 
dizer  ser-nos  impossíveis  a castidade ou outro mandamento qualquer. Muito embora não possamos 
observá-lo  por  nós  mesmos,  nós  o  podemos  mediante  o  auxílio  divino.  O  que  nos  é possível com 
auxílio divino não se pode dizer simplesmente que é impossível”. 
Com  a  oração  tudo  se  alcança.  Dizia  São  Boaventura  que  “às  vezes,  obtêm-se  mais 
depressa  com  uma  breve  oração  o  que dificilmente se alcançaria com boas obras”, e acrescenta São 
João Crisóstomos que “não há nada mais poderoso que um homem que reza”. 
 
Formas da oração: 
1. Adoração:  Dirige-se  ao  Supremo  Senhor.  Como  é  nosso  benfeitor,  devemos  render-lhe 
graças;  mas  como  o  temos  ofendido,  devemos  reparar  esse  ultraje.  É  reconhecer  a 
soberania  de  Deus  e nossa dependência. “Toda a natureza adora a Deus a seu modo: mas a 
que  é  privada  do  sentimento  e  razão  não  tem  coração  para  o amar nem inteligência para o 
compreender.  Contenta-se, pois, de ostentar aos nossos olhos a sua ordem, as suas diversas 
operações  e  os  seus  atavios.  ‘ele  não  pode  ver,  mostra-se;  não  pode  adorar,  leva-nos  a 
adoração;  e  esse  Deus,  que  ela  não  ouve,  não  no-lo  deixa  ignorar...  Mas  o homem, animal 
divino, cheio de razão e inteligência, capaz de conhecer a Deus por si mesmo e por todas as 
criaturas,  é  também  impelido,  por  si  mesmo  e  por  todas  as  criaturas,  a  render-lhe  as  suas 
adorações.  Eis  o  motivo  por  que  está  posto no meio do mundo, misterioso compêndio do 
mundo,  a  fim  de,  comtemplando  o  universo  inteiro  e  recopilando-o  em  si  mesmo,  referir 
unicamente  a  Deus  tanto  a  sua  pessoa  como  as demais criaturas; a tal ponto que o homem 
não  é  o  contemplador  da  natureza  visível,  senão  para ser o adorador da Natureza invisível, 
que  tirou  todas  as  coisas  do  nada  pela  sua  onipotência’.  Por  outros  termos,  o  homem  é  o 
pontífice  da  criação,  encarregado  de  glorificar a Deus em seu nome e em nome de todas as 
criaturas.  Cumpre  esse  dever  reconhecendo  ‘que  Deus  é  uma  natureza  perfeita  e,  por 
conseguinte,  incompreensível;  que  Deus  é  uma  natureza  benfazeja...  Nós  somos 
naturalmente  levados  a  reverenciar  o  que  é  perfeito...  a  depender  do  que  é  soberano...  a 
aderir o que é bom’”. 
2. Petição:  É  uma  homenagem a Deus, pois é um ato de confiança. Tem como fundamento o 
amor  de  Deus  por  suas  criaturas  e  a  necessidade  urgente  que  temos  de  seu  auxílio,  pois 
dependemos dele na ordem da natureza (Ele quem nos dá e sustenta o ser) e na da graça. 
 
A quem rezar: 
Diretamente somente a Deus: “A graça e a glória as dá o Senhor” (Ps. LXXXIII, 12) 
Indiretamente  a  Nossa  Senhora  e  aos  santos.  Quanto  a  objeção  de  que  Deus  é  o  único 
mediador, Ele o é de redenção (e olhe que Nossa Senhora é Corredentora), mas não de intercessão.  
 
Por quem rezar: 
1. Por  todos  os  capazes  de  glória  eterna.  Rezar  por  todos  já  se  faz  quando  não  se  exclui  de 
forma expressa. 
2. Não é obrigado a rezar pelos inimigos (exceto casos específicos), mas é obra de perfeição. 
3. Pelas almas do purgatório por caridade, piedade e justiça. 
4. Por aumento da glória acidental dos bem-aventurados. 
5. Não se reza pelos condenados. 
 
Valores da Oração: 
1. Satisfatório:  Sempre  envolve  humildade  e  submissão  a  Deus,  e  a  raiz  de  todo  pecado  é  o 
orgulho.  Além  disso,  é  algo  penoso,  ao  menos  para  as  almas  imperfeitas,  pois  supõe 
esforço da vontade para manter atenção. 
2. Meritório:  Como  ato  de  virtude sobrenatural, recebe seu valor meritório da caridade, como 
ato próprio da virtude de religião. 
3. Refeição  Espiritual:  Se  dá  só  por  sua  presença  (​praesentialiter  efficit),​   mas  para  isso  é 
necessária  atenção.  Assim,  nutre  inteligência,  excita  santamente a sensibilidade e estimula e 
fortifica a vontade. 
4. Impetratório:  Se  apoia  na  misericórdia,  nas  promessas  de  Deus  e  na  fé.  Mt  VI,  7-8,  Mt 
XXI, 22, Io XIV, 13-14, Io, XV, 7, Io XV, 16, Io XVI, 23-24, I Io V, 14-15. 
 
Condições: 
1. Para  si  mesmo:  A  concessão  da  graça  exige  a  disposição  e  o  próximo pode não o estar. E, 
sendo  verdadeira  oração,  é  garantido  que  quem  pede  o  está.  Importante  frisar  que  quase 
sempre se consegue as graças que se pede para o próximo, mas é mais falível. 
2. Coisas  necessárias  para  a  salvação,  sobretudo  graças  sobrenaturais,  apesar  de  não  ser 
proibido  pedir  bens  temporais  ordenados  ao  fim  último,  “​quaerite  primum  regnum  Dei  et 
justitiam  ejus,  et  haec  ominia  adjicietur  vobis”  (Mt  VI,  33)​.  Os  bens  temporais  são  tão inferiores 
ao  homem,  onde  há  uma  infinita  diferença  entre  as  ordens  natural  e  sobrenatural,  que  é 
impensável  dedicar  o  tempo da oração para a aquisição somente desses bens. Entretanto, o 
próprio  Pater  nos  ensina  que  devemos  pedir  o  pão  nosso  de  cada  dia,  o  qual  inclui  tanto 
aquele  de  ordem  natural  como sobrenatural. Apesar disso, não é permitido que a finalidade 
secundária  contrarie  a  primária,  seria  isso  mal  em  si.  Não  só  isso  é  necessário  frisar,  mas 
também uma completa submissão aos planos de Deus é essencial. 
3. Piedosamente:  Humildade,  pois  Deus  resiste aos soberbos (Iac IV, 6), e são todas as graças 
gratuitas,  sendo  assim  o  homem mendigo diante de Deus. Tem-se o exemplo do publicano 
que  orava  humildemente ​(Luc XVIII, 13)​, quem se humilhar será exaltado; Firme confiança 
(mas  peça  com  fé,  sem  vacilar  em  nada  –  ​Iac  I,  6)​ ,  a  qual  se  funda  nos  méritos  de  Jesus 
Cristo  e  que  é  constantemente  afirmada nas Sagradas Escrituras; Em nome de Cristo (tudo 
quanto  pedires  ao  Pai  Ele  vos  dará  em  meu  nome;  Atenção,  sobre  a qual se tratará depois 
sobre  os  desvio  da  mesma.  O  pecador  pode  pedir,  pois  a  impetração  se  apoia  não  no 
mérito, mas na liberalidade divina. 
4. Perseverança:  Nosso  Senhor  tratou  disso  (parábola  do  amigo  inoportuno  que pede os três 
pães,  o  juiz  iníquo  em  relação  ao  pedido  da  viúva,  a  cananeia  que  pede  e pelo exemplo de 
Cristo – passou a noite orando a Deus). 
 
Eficácia Santificadora da Oração: 
Com  a  vida  de  oração,  aproxima-se  de Deus, e a santidade consiste na perfeita união a Ele. 
Com ela se acende a caridade e se abrasa o amor. 
1. Desapega-nos  das  criaturas:  Deriva-se  da  sua  própria  essência,  pois  para  elevar-se  a  Deus 
​ ara  pensar  nEle,  em 
faz-se  mister  o  desapego  do  que  não  é  Ele.  É  condição  ​sine  qua  non  p
sua glória e O amar largarmos os pérfidos encantos das criaturas. E, uma vez na intimidade, 
a  vista  dos bens celestes nos tolhem o desejo do perecível. Assim, adquirimos aos poucos o 
ódio  do  pecado  mortal,  depois  do  venial  e  em  seguida  já  estamos  purificando  as  nossas 
imperfeições.  
2. Une-nos  a  Deus:  A  adoração  se  apodera  de  nossas  faculdades  para  as  unir  a  Deus.  Além 
disso,  são  produzidos  atos  de  religião,  inspirados  pela  fé,  sustentados  pela  esperança  e 
vivificados  pela  caridade,  aos  quais  se  somam os atos de humildade, obediência, fortaleza e 
constância  que  a  oração  supõe.  Assim,  nos  une  a  Deus  de  modo  perfeitíssimo  e  sem ela é 
impossível fazê-lo. 
3. Transforma-nos  progressivamente  em  Deus:  Ao  nos  elevarmos  a  Ele,  Ele  se  inclina  para 
nós  com  suas  graças, as quais tem essa ação. Além disso, a contemplação das maravilhas de 
Deus faz com que elas penetrem em nossa alma 
 
Dificuldades na Oração: 
Transformar a meditação em tese teológica 
Não  que  seja  algo  sem  fruto,  mas  seria  mais  proveitoso  se  fosse  feito  algo mais sobrenatural e 
prático  e  que  movam  a  vontade  a  fazer  atos  de  adoração,  ação  de  graças,  amor,  humilhação, 
contrição, bons propósitos, petições e resoluções firmes. 
Falta de Generosidade 
Somos  abatidos  pela  falta  de  consolação  característica  dos  primeiros  passos  e  assim 
desanimamos na caminhada.  
Distrações:  ​Pensamentos  ou  imagens  estranhas  que  nos  tiram  a  atenção.  Podem  afetar  só  a 
imaginação,  mas  o  entendimento  pode  superar  com  esforço,  mas  podem  afetar  o  entendimento 
mesmo, caso no qual a atenção desaparece totalmente. 
● Causas  independentes  da  vontade:  Temperamento,  pouca  saúde  ou  fadiga,  direção  pouco 
acertada ou o demônio.
● Causas  voluntárias:  Falta  da  devida  preparação  próxima  (tempo,  lugar,  postura),  falta  de 
preparação remota (pouco recolhimento, dissipação habitual, tibieza, curiosidade)
➢ Remédios  –  Para  as  que  independem  de  nossa  vontade:  Ler,  fixar  olhos  em  imagem, 
matérias  concretas,  entregar-se  a  oração mais afetiva, com colóquios. Lembrar que distração 
combatida  não  diminui  mérito,  ao  contrário.  Para  a  que  dependem:  Nunca  omitir 
preparação  próxima,  silêncio,  fuga  da  curiosidade,  guarda  dos  sentidos  imaginação  e 
coração,  fazer  o  que  estamos  fazendo  (​age  quod  agis​),  preparar  bem  no  dia  anterior  e 
relacionarmos o tema com a nossa vida.
Securas  e  Aridezes:  ​Consiste  em  impotência na oração para produzir atos intelectivos ou afetivos. 
Pode vir de algo físico, de métodos inadequados de oração, da tibieza, infidelidades à graça, pecados 
veniais,  sensualidade,  dissipação  e  superficialidade  de  espírito.  Entretanto, pode ser prova de Deus, 
onde  subtrai-se  ou  consolo  sensível  para  purificar  do  apego  a  isto,  ou  então humilhá-la mostrando 
que  só  alcança  as  coisas  com  a  ajuda  de  Deus, talvez aumentar o mérito pelo esforço redobrado da 
caridade  exigido  neste  caso.  Se  muito  longo,  pode  pensar  na  noite  dos  sentidos,  mas  deve-se 
observar a vida toda ao redor para compreender a causa. 
➢ Remédio:  Suprimir  tibieza.  Se  involuntária,  resignar-se,  convencer-se  de  que  a  devoção 
sensível  não  é  essencial,  humilhar-se,  reconhecer-se  indigno  de  consolações,  perseverar. 
Deve se unir ao divino agonizante no Getsêmani. 
A  melhor  maneira  de  lidar  com  as  dificuldades  passa  por  uma  sinceridade  e  clareza  extremas 
com  o  diretor  em  tudo  que  se  refere  a  meditação,  um  esforço  para  ver  a  meditação  como  a 
atividade  mais  importante  do  dia,  uma  dedicação  sincera  às  leituras  espirituais  e  um  desapego  das 
consolações  sensíveis,  pois  a  chamada  “meditação  má”,  algumas  vezes  presente  de  Deus,  é  a  que 
nos  faz  pararmos  com  esse  meio  de  perfeição  e  assim  não  alcançarmos  o  fim  tão  belo  a  nós 
reservado pelo Pai Celeste. 
 
Armadilhas a se evitar: 
1. Rotina de oração vocal – cai no automatismo, assim não tem eficácia santificadora. 
2. Excesso de atividade natural ou grande inércia.  
3. Pessimismo ou otimismo excessivo. 
4. Apego as consolações sensíveis. 
5. Apego excessivo a determinado método ou mudança sem motivo. 
 
Como transformar as nossas ações em oração: 
O  ponto  inicial  é  compreender  a  finalidade  da  vida  humana  e  como  a  oração  é  essencial 
para  o  cumprimento  deste  fim.  Desta  maneira,  o  iniciante  deve  buscar  adquirir  o  hábito de oração 
até o momento onde ela passe a ser a respiração da alma 
 
Exercícios de Piedade 
1. Oração  da  Manhã:  Renunciar  a  isso  é  renunciar  à  perfeição.  Devemos,  sobretudo, 
relembrar  o  ideal  que  devemos  ter  diante  dos  olhos  e  buscá-lo  incessantemente:  sede 
perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito”. Assim, devemos nos colocar na presença de 
Deus  e  render  a  Ele  nossas homenagens com os exercícios sempre recomendados, como o 
Pater,  Ave  Maria,  Credo,  Atos  de  Fé,  Esperança  e  Caridade,  alguma  ladainha,  um 
oferecimento do dia, uma consagração a Nossa Senhora, uma súplica para viver santamente 
o  dia  e  superar  algum  defeito.  Em  seguida,  meditar  sobre  alguma  virtude  que  desejamos 
praticar  e  pedir  por  orações  a  graça  de  praticar  essa  virtude.  Se  possível,  a  Santa  Missa e a 
Sagrada  Comunhão  (podem  ser  substituídas  por  comunhões  espirituais),  sempre  bem 
compreendidas  e  vividas  de  maneira  a  tirar  bons  frutos.  Ao  fim,  não  esquecer  da 
meditação, a qual há de ser bem planejada. 
2. Durante  o  dia:  Leitura  das  Sagradas  Escrituras,  das  obras  e  vida  dos  santos,  ler  sobre 
verdades  fundamentais,  fim  do  homem,  pecado,  mortificação,  confissão,  exame  de 
consciência.  Além  disso,  ter  devoções  essenciais,  como  a  Visita  ao  Santíssimo Sacramento 
(livro  de  Santo  Afonso  Maria  de  Ligório),  recitação  do  Rosário  ou  terço,  renovação  das 
intenções, Angelus e outras piedosas práticas. 
3. À  noite:  Exame geral e particular, uma espécie de confissão pessoal. Serve para analisarmos 
o dia sob a ótica do que pusemos como intenção pela manhã. 
4. Soma-se  a  tudo  isso a confissão semanal ou quinzenal e, se possível, um retiro, o qual pode 
ser  algum  tempo  reservado  na  solidão  para  meditar  as  verdades  eternas  e  dedicar-se  à 
oração e às leituras espirituais.  
Esses  exercícios,  ao  fim,  não  permitirão  que  tiremos  os  olhos  de  Deus  durante  o  dia,  retificando 
nossas intenções e fazendo com que olhemos tudo  
 
Vida como oração 
É  a  caridade  que  orienta  toda  a  nossa  vida  para  Deus.  O  meio  prático  para  fazermos  isso 
em  todas  a  ações  é  oferece-las,  antes  de  as  começar,  à  Santíssima  Trindade.  Além  disso, 
constantemente  lembrar-se  da  Inabitação  da  Santíssima  Trindade  em  nossa  alma  pela  graça 
santificante  e  as consequências disso. Quando a ação é demorada, renovar o oferecimento por meio 
de  simples  olhar  para  um  crucifixo  ou  ainda  em  Jesus,  o  qual  vive  em  nós.  Não  esquecer,  é  claro, 
das jaculatórias constantes.  
 
 
Oração Vocal 
 
É  sinal  de  falsa  espiritualidade  o  desprezo  da  oração  vocal,  e  de  fato  é  ela  indispensável 
para  avivar  devoção  interior,  honrar  a  Deus  com  o  dom  da  voz  e  porque  dá  livre curso à devoção 
interior. 
É  necessário  cuidar  da  ordem  e  enunciação  das  palavras,  de  compreender  a  significação  e 
ter em vista o seu objeto, isto é, aquele a quem nos dirigimos e as graças que pedimos. 
A  oração  vocal  que  recorre  ao  livro  deve  ser  feita  com  somente  um  de  modo  pausado  e 
com  tempos  para  pensar.  Se  rezamos  sem  livro,  devemos  ser  econômicos  nas  palavras  diante  da 
grandeza  de  Deus,  intercalando,  deste  modo,  sempre  momentos  de  silêncio.  Se  orações  de 
intercessão,  necessário  primeiro  o  cuidado  com  as  promessas  vãs  de oração. Rezemos sempre pelo 
Sumo Pontífice e suas intenções e deixemos espaço para as jaculatórias. 
Convém  não  nos  sobrecarregarmos  de  oração  e  sempre  começar  com  ato  de  presença  de 
Deus.  Busquemos  situações  convenientes  nas  quais  não  seremos  interrompidos  e  sempre  em 
posição  de  penitência.  Vigiemos  constantemente  o  olhar e nos apliquemos para diminuir o número 
e aumentar a aplicação do espírito. 
Terço não precisa nem falar! 
 
 
Meditação 
 
Natureza e Elementos constitutivos 
Como  criaturas  somo  obrigados  a glorificar a Deus pela adoração, ação de graças e amor, e 
reparar  as  ofensas.  Mas,  para  os  principiantes,  trata-se  sobretudo  ela  da  petição  e  da  necessidade 
como  meio  de  salvação  e  perfeição.  Isso  se  dá  pois,  com  a  oração,  alcançamos  as  graças  atuais  e 
assim  perseverarmos  –  “sem  mim  nada  podeis  fazer​”  (Jo  XV, 5)​, pois ela é o meio normal, eficaz e 
universal.  É,  pois,  importante notar que Deus não nos deve nada em rigor de justiça, mas prometeu 
segundo  a  sua  grande  misericórdia  (Ps  L,  1).  Deve-se,  portanto, fugir do pelagianismo, acreditando 
que  com  nossos  esforços  alcançaremos  nosso  fim,  mas  isso  somente  será  possível  com  a  graça  de 
Deus obtida pela oração. 
E,  dentro  das  formas  de  oração,  a  oração  mental  é,  sem  sombra  de  dúvidas,  essencial  à 
salvação  e,  sem  ela,  a  perfeição  fica  impossibilitada.  Esse  ponto  se  dá  porque  é  pela  aplicação  das 
faculdades  em  Deus,  com  a  reflexão e especulação sobre Ele, que se dá a indução da nossa vontade 
e  a  conformidade  com  a  dEle,  surgindo  assim  afetos  de  amor.  E,  apesar  de  ser  ela  difícil  em  si, 
sempre  cercada  pelo  tédio,  distrações  e cansaço, a perseverança nos fará permanecer firmes e assim 
alcançarmos  de  forma  efetiva  o  nosso  fim.  Isso  não  significa  dizer  que  a  vontade  de  espaçar  as 
meditações,  diminuir  a  sua  importância  e  fazê-la  de  modo  laxo  não  seja  algo  que  constantemente 
passará pela mente. 
  “Aplicação  da  inteligência  sobre  uma  verdade  sobrenatural  para  nos  convencermos  dela  e nos movermos a 
amá-la e praticá-la com a ajudada graça”. 
A  aplicação  da  inteligência  na  meditação  tem forma característica de raciocínio, algo lógico 
e  discursivo.  Deste  modo,  sem  essa  forma  de  aplicar  mente  pode  se  afirmar  sem  medo  algum que 
não  há  meditação (ou virou distração, ou oração afetiva, ou contemplação). Entretanto, pode surgiu 
a  objeção  sobre  o  que  diferencia  a  meditação  de  um  estudo,  mas veremos em seguida que o ponto 
de divergência se dá na finalidade, pois a meditação visa um objetivo afetivo e prático.  
A verdade sobrenatural sobre a qual se deve aplicar é muito variado: passagem das Sagradas 
Escrituras,  algo  dos  Evangelhos,  um  fato  da  vida  de  algum  santo,  um  princípio  teológico,  uma 
forma litúrgica. 
Acerca  do  convencer-se  e  amar,  isso  adentra  nas  sendas  da  dupla  finalidade  da  meditação 
como  oração  cristã:  a  intelectiva  e  a  afetiva.  A  primeira  se  trata  do  alcance  de concepções firmes e 
enérgicas  acerca  das  verdades  de  fé,  pois  o  sensível  pode  até  produzir  felicidade  e  paz 
momentâneas,  mas  somente  as  firmes  crenças  resistem  aos  ataques  da  carne,  do  mundo  e  do 
demônio. A segunda, porém, é sem dúvida o elemento mais importante, pois é mister que a vontade 
ame  as  verdades  conhecidas.  Todavia, esses dois elementos nada são sem a tradução da oração para 
os  aspectos  práticos,  mais  notoriamente  marcado  pelas  resoluções  diligentemente  cumpridas. 
Lembrar  que  esse  cumprimento  se  dará  somente  por  meio  do  auxílio  da  graça,  como  claro  na 
definição. 
A  meditação compreende 05 elementos essenciais: os deverem de religião que se tributam a 
Deus;  considerações  sobre  Ele  e  nossas  relações  para  com  Ele,  alimentando  as  nossas  convicções 
acerca  das  virtudes  cristãs;  reflexões  sobre  nós  mesmos,  para  verificarmos  em  que  altura  nós 
estamos;  orações  propriamente ditas, nas quais pedimos a graça para praticar essa ou aquela virtude; 
e por fim as resoluções, para assim melhor procedermos no futuro. 
 
Importância e Necessidade da Meditação 
A  maioria  dos  que  vivem  em  pecado  lá  estão  porque não refletem sobre a sua condição, já 
que  não  tem  nenhum  traço  de  ódio  a  Deus  ou  tem  o  mal  no  coração.  Assim,  passam  a  vida  toda 
entregues  às  paixões  simplesmente  por  não  conhecerem  o que deve ser amado. Deste modo, o que 
bastaria  seria  um  olhar  para  dentro  de  si  e  assim  volver  os  olhos  para  as  verdades  eternas,  fim 
alcançado  pela  meditação.  Santo  Afonso  inclusive  diz  que  a  oração  mental  é  incompatível  com  o 
pecado: quando convivem juntos um dos dois será largado. 
Não menos importante é o consequente conhecimento de si mesmo, o qual gera humildade 
profunda,  recolhimento,  mortificação  dos  sentidos  e  outros  elementos  essenciais  à  perfeição.  Por 
conta  disso,  erra  bastante  quem  se  entrega  somente  ao  apostolado  e  esquece  da  vida  interior,  pois 
nem os sacramentos substituem a eficácia da oração. 
Assim, pode-se dizer: 
1. Desapega-nos  do  pecado  e  de  suas  causas:  Se  pecamos,  é  por  irreflexão  e  fraqueza  da 
vontade.  Nos  mostra  a  feiura  do  pecado,  a  beleza  da  eternidade  e a leviandade do mundo. 
Acima  de  tudo,  desapega-nos  de  nós  mesmos.  Além  disso,  fortifica  a  vontade,  cura  a 
inércia, covardia e inconstância. 
2. Faz-nos  praticar  as  grandes  virtudes  cristãs:  Ilumina  a  fé,  sustenta  a esperança e estimula a 
caridade.  Nos  torna  prudentes,  justos,  fortes  e  temperantes.  ​“Cognoscetis  veritatem,  et  veritas 
libertabit vos” (Jo VIII, 32).​  
3. Prepara-nos  para nos conformarmos em Deus: Vai se tornando um colóquio cada vez mais 
íntimo  a  ponto  de  sermos  tomados  por  suas  próprias  virtudes, como o ferro que se abrasa 
no fogo. 
 
Sobre o que meditam os principiantes 
Devem  meditar  sobre  tudo  que  possa  lhe  inspirar  horror  ao  pecado,  sobre  as  causas  das 
próprias  faltas,  sobre  a mortificação que a remedia, sobre os principais deveres do seu estado, sobre 
o bom uso e abuso da graça, sobre Jesus modelo dos penitentes. 
Quanto ao horror crescente do pecado, meditarão sobre: 
1. O  fim  do  homem;  sobre  a  criação  e  elevação  do  homem  ao  estado  sobrenatural;  sobre  a 
queda  e  redenção;  sobre  os  direitos  de  Deus;  sobre  a  imensidade,  santidade,  justiça  e 
misericórdia de Deus;  
2. O  pecado  em  si  mesmo: origem, castigo, malícia, temerosos efeitos; causas – mundo, carne 
e demônio; 
3. Meios de expiar e prevenir: penitência, mortificação de faculdades, vícios, pecados capitais; 
4. Nossos defeitos dominantes. 
Deverão também progressivamente meditar sobre os deveres positivos do cristão: 
1. Deveres para com Deus e o próximo; 
2. Desconfiança conosco; 
3. Deveres  particulares  de  acordo  com  idade,  condição,  sexo,  estado  de  vida  –  a  prática 
diligente  destes  deveres  é  a  maior  das  penitências,  são  eles  a  mais  clara  manifestação  da 
vontade de Deus para nossa vida. 
Quanto a Jesus como modelo dos penitentes: 
1. Ele condenando-se à pobreza, à obediência e ao trabalho; 
2. Suas penitências no deserto, no Jardim das Oliveiras e na Paixão; 
3. Jesus morrendo por nós na Cruz. 
Mais  que  isso,  deverão  meditar  sobre  a  alta  dignidade  do  cristão  e  das  consequências  da  graça 
santificante 
 
Método de Meditação 
Faz-se  mister  evitar  uma  excessiva  rigidez  quanto  ao  método,  mas  também  um  completo 
desapego.  Assim,  principalmente  para  os  iniciantes  é  necessário  um  apego  mais  intenso  para  que 
não  fujam  do  objetivo,  porém  para  os  mais  avançados  esse  moldar-se pode ser um empecilho para 
o  voo  da  alma  rumo  às  perfeições  de  Deus.  Não  menos importante salientar é que os métodos são 
dos  mais  variados  e  devem  ser  escolhidos  de  acordo com o estado da alma, com o estado de vida e 
com o temperamento, já que essas variáveis fazem com que alguns sejam mais efetivos com uns que 
com outros. 
É  importante  também  registrar  que  talvez  seja  necessário  aos  principiantes  o  que  se 
conhece  como  leitura  meditada,  ou  seja,  leitura  de  livros  como  Imitação  de  Cristo  e  Combate 
Espiritual  ou  algo  que  proponha  pequenas  meditações.  Após  esses  atos,  recomendam-se  04 
questionamentos:  1)  Estou  bem convencido de que o que acabo de ler é útil e necessário ao bem de 
minha  alma?  Como  posso  radicar-me  nesta  convicção?;  2)  Tenho  até  aqui  praticado  este  bem  tão 
importante?;  3)  Como  procederei  para  o  melhor  cumprir  hoje?  Se  a  estas  considerações  se 
acrescentar  uma  súplica  ardente,  tem-se  uma  verdadeira  meditação.  Não  menos  útil  é  recorrer  ao 
uso de orações mentais de forma lenta, pensando no que ela diz. 
Na  Antiguidade,  os  métodos  de  oração  centravam-se  na  repetição  e  reflexão sobre pontos 
específicos,  mais  claramente  do  versículo  ​“Deus  in  adiutorium  meum  intende”  do  Salmo  69,  o  qual  até 
hoje  inicia  as  horas  do  breviário  do  breviário.  Já  na  Idade  Média,  Hugo de São Vitor dividia em 05 
pontos:  leitura,  meditação,  oração,  operação  e  contemplação.  A  partir  do  século  XVI  as  coisas 
tornaram-se  mais  claras,  primeiramente  com  o  Frei  Luís  de  Granada,  que  dividia  em  preparação, 
leitura,  meditação,  ação  de  graças  e  petição,  e  com  São  Pedro  de  Alcântara,  o  qual  acrescenta  o 
oferecimento antes da petição. 
 
Pontos Comuns aos métodos: 
1. Preparação  remota:  é  pôr  a  vida  habitual  em  harmonia  com  a  meditação,  mortificando 
sentidos e paixões, fugindo do pecado, tendo recolhimento habitual e humildade. 
2. Preparação  próxima:  ler  ou  escutar  a  matéria  na  noite  anterior  e sobretudo notar os frutos 
que devem resultar dela ou que precisamos no momento; esforçar-se para dormir pensando 
no  tema,  se  possível  com  a  ajuda  de  alguma  jaculatória;  pensar  nela  ao  despertar  e  excitar 
no  coração  sentimentos  que  lhe  sejam  conformes;  guardar  profundo  silêncio  até  o 
momento  da  meditação;  entrar  na  meditação  com  ardor,  confiança  e  humildade,  com 
desejo de glorificar a Deus e torna-se melhor. 
3. Preparação  imediata:  se  pôr  na  presença  de  Deus  através  de  um  ato  de  fé;  reconhecer-se 
indigno  e  incapaz  de  meditar  através  de  um  ato  de  humildade;  implorar  o  auxílio  do 
Espírito Santo. 
4. Corpo da Oração: 
a. Atos que rendam a homenagem de religião; 
b. Considerações  para  se  convencer  da  necessidade  ou  utilidade  da  virtude  afim  de 
orar com mais fervor para obtê-la; 
c. Exames  e  reflexões  sobre  nós,  para  ver  assim  as  deficiências  e  contemplar  o 
caminho que será percorrido; 
d. Orações ou petições para obter as graças; 
e. Resoluções para praticar a virtude que se meditou. 
5. Conclusão: 
a. Ação de graças pelos benefícios recebidos; 
b. Revista da maneira como se fez a meditação; 
c. Última oração para pedir a benção de Deus; 
d. Escolha  de  pensamento  ou  máxima  que  mais  impressão  nos tenha feito e que nos 
vá avivar a caridade durante o dia. Chama-se isso de ramalhete espiritual. 
 
Método de Santo Inácio 
Santo  Inácio  propõe  em  seu  método a aplicação de três potências: memória, entendimento 
e vontade 
 
 
 
Princípio da Meditação 
Inicia-se,  obviamente,  com  toda  a  preparação  próxima  acima  descrita.  No  momento, 
começa  com  uma oração preparatória, onde a alma pede a Deus que todas as suas ações e intenções 
sejam  dirigidas  unicamente  para  Deus.  Em  seguida,  vem  dois  prelúdios.  O  primeiro  deles  é  a 
composição  de  lugar,  o  qual  tem  por  fim  fixar  a  imaginação  e  o  espírito  e  assim  evitar  distrações. 
Ao  vir  alguma distração, é mandatório trazer a mente de volta para essa imagem. Se é objeto visível, 
representa-lo  vivamente  como  testemunha  ocular.  Se  invisível,  o  esforço  deve  ser  mais  profundo, 
mas  sempre  se  pondo  como  participante.  O  segundo  prelúdio  consiste  em  pedir  a  Deus  o  que 
deseja, é o passo inicial da resolução. 
 
Corpo da Meditação 
Aplicação  das  três  potências  a  cada  um  dos  pontos  da  oração,  detendo-se,  porém,  sobretudo  nos 
afetos.  A  memória  deve  lembrar  do  fato  sem  apegar-se  aos  pormenores,  mas  a  ele  de  uma  forma 
em  geral.  Pode resumir sua aplicação em algumas perguntas: quem, o que, onde, por que meios, por 
que,  como  e  quando.  Já  o  entendimento  deve  aplicar-se  de  forma  mais  intensa,  fazendo  reflexões 
sobre  as  verdades  que  a  memória  propôs,  aplicando-as  às  necessidades  da  alma,  tirando 
consequências  práticas,  ponderando  motivos  das  resoluções,  considerando  como  vivemos  em 
relação  a  isso  e  como devemos viver no futuro. Uma não aplicação correta da memória esteriliza os 
frutos. 
A  vontade,  porém,  tem  dois  objetivos.  O  primeiro  deles  é  mover-se  a  piedosos  afetos,  os 
quais  devem  estar  presentes  em  toda  a  meditação,  apesar  de  ser  mais  essenciais  no  seu  fim.  Ao 
surgir  um  bom  sentimento,  devemos  cultivá-lo  o  máximo  possível..  Aplica-se  a  nós  mesmos  o 
objeto  da  meditação,  tiramos  conclusões,  pensamos  os  motivos,  examinamos  a  nossa  conduta 
passada e presente e tomamos resoluções para o futuro. Há também 7 perguntas: 
a. Que devo pensar a respeito? 
b. Que  lição  prática  devo  tirar?  Deve  ser  sempre  particular  e  de acordo com 
nosso estado. 
c. Quais os motivos que me movem a adotar essa prática? 
d. Qual  foi  até  hoje  o  meu procedimento a este respeito? Desconfiemos aqui 
de  respostas  satisfatórias  e  cedamos  somente  à  evidência.  Procuremos 
nossa  própria  confusão,  desçamos  às  minúcias,  investiguemos 
cuidadosamente as nossas disposições presentes. 
e. Como devo proceder no futuro? Imaginar casos palpáveis. 
f. Que  obstáculos  posso  afastar?  Normalmente  orgulho,  sensibilidade  e 
dissipação. 
g. Que meios devo empregar? É necessária prudência. 
O  segundo  objetivo  da  vontade  é  formar  resoluções  práticas,  particulares  e  passíveis  de 
serem  aplicadas  no  mesmo  dia.  É  preciso  que  se  baseiem  em  motivos  sólidos  e  já  constantemente 
meditados 
 
Conclusão 
É  grande  causa  de  inutilização  da  meditação  conclusões  malfeitas  para não passar da hora. 
Primeiro  se  deve  recapitular  as  resoluções  e  renová-las,  em  seguida  ter  piedosos  colóquios  com 
Nosso  Senhor,  Nossa  Senhora,  santos  e  anjos.  Depois  disso  se  deve  pedir cuidadosamente o fruto 
especial  que  esperamos  obter,  podendo  acrescentar  uma  súplica,  assim  como  oferecimento  das 
resoluções tomadas. 
Por fim, Santo Inácio recomenda fazer a revista da meditação. Diz ele que devemos revisar: 
● A preparação na noite anterior;
● O comportamento nos primeiros pensamentos do dia; 
● Os passos iniciais;
● Como se sucederam a oração preparatória e os prelúdios;
● A escolha do fruto;
● O curso da meditação;
● Como nos portamos diante das tentações;
● A conclusão;
● Se nós prestamos atenção ao que Deus queria falar;
● Se a nossa atitude foi irreverente ou a linguagem ousada;
● Se os pensamentos foram precipitados.
Também  nos  recomenda  esse  grande  santo  a  recapitulação,  ato  que  envolve  as  lições 
aprendidas,  as  resoluções  tomadas  e  o  fruto  que  esperávamos  obter,  escolhendo  assim  desses 
elementos  algo  que  será  levado  para  o  dia.  Por  fim,  resta  anotar  as  luzes  recebidas,  algo  que  não 
convém a todos e que requer grande discrição. 
Ao  acabar  tudo,  se  recomenda  a  oração  de  um  Pater,  uma  Ave  Maria e um Anima Christi, 
somados  ao  cuidado  que  se  segue  a  meditação  para  que  ela  inunde  todo  o  nosso  dia,  guardando 
assim o recolhimento e espírito de oração. 
 
Utilidade 
Apodera-se  de  todas  as  faculdades  e  isso  ajuda na concentração, além de permitir observar 
as  mais  diversas  faces  de  uma  única  ocasião  e  assim  tirar  conclusões  firmes  e  práticas. Além disso, 
deixa  bastante  claro  tanto  a  necessária  aplicação  da  vontade  como  o  auxílio  das  graças  divinas. 
Também  é  válido  salientar  que é bem explicado e prende bem as faculdades, sendo assim utilíssimo 
os  principiantes.  Já  para  os  adiantados,  esse  método  mais  simplificado  facilmente  conduzirá  à 
oração afetiva.  
 
Obstáculos 
Boa  opinião  de  nós  mesmos,  ostentação  das  austeridades  e  devoções,  apego  às 
imperfeições  habituais,  dissipação  do  espírito,  negligência  na vigilância dos sentidos, indiferença no 
modo  de  cumprir  as  pequenas  ações.  Assim,  precisamos  de  humildade,  simplicidade,  pureza  de 
intenção, vigilância dos sentidos e mortificação. 
 
A “má” meditação 
Normalmente  são  essas  as mais fecundas quanto aos resultados, pois só o tempo ajoelhado 
sem  inspirações  por  obediência  e  fidelidade  já  é  muito  meritório.  Devemos  nelas  apesar  de  tudo 
pedir  algo  e  tomarmos  resoluções  e,  deste  modo,  terá  sido  extremamente  frutuoso.  Muitas  das 
vezes  é  isso  que  Deus  quer  e  visa  com  elas  purificar  algo  passado  ou  presente,  exigindo  de  nós 
esforço  e  a  dedicação para descobrir a fonte e assim corrigir. Assim, avança-se bastante no caminho 
da perfeição. 
 
Método de São Sulpício 
A  ideia  inicial  é  a  união,  adesão  ao  Verbo  Encarnado  para  tributar  a  Deus  os  atos  de 
religião que lhe são devidos e reproduzir em nós as virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo. 
Os três atos essenciais são: 
1. Adoração,  pela  qual  consideramos  um  atributo  ou  perfeição  de  Deus,  ou  uma 
virtude  de  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo,  e  desempenhamos  em  seguida  o  nosso 
dever  de  religião  (adoração,  admiração,  louvor,  ação  de  graças,  amor,  alegria, 
compaixão) para com um ou outro e para com Nosso Senhor. Contempla-se, nessa 
etapa,  Nosso  Senhor  e  lhe  presta  o  culto  devido  pelas  suas  infinitas  perfeições. 
Resume-se  em  ter  Nosso  Senhor  diante  dos  olhos.  É  o  Santificado  seja  Vosso 
Nome. 
Exemplificando,  imaginemos  que  estamos  meditando sobre a humildade de Nosso Senhor. 
Se  pensaria nas disposições internas dEle a respeito da humildade, nas palavras que 
disse  e  nas  ações  que  praticou.  Em  seguida,  deposita-se  as  ofertas  de  adoração, 
admiração,  louvor,  as  que  mais  harmonizarem  com  o  objeto  da  oração.  Deste 
modo,  se  contempla  como  a  fonte  e  modelo  das  virtudes.  Deve  se  ter  como 
principais  objetos:  os  atributos,  as  perfeições  de Deus, os mistérios, as virtudes, os 
nossos vícios e as verdades cristãs. 
2. Comunhão,  pela  qual  atraímos  a  nós  mediante a súplica a perfeição ou virtude que 
havemos  adorado  e  admirado  em  Deus.  Entretanto,  nesse  ponto  incluem-se  as 
considerações  e  reflexões  práticas,  pois  ao  nos  convencermos  da  importância  e 
necessidade da virtude nós a suplicamos de modo mais verdadeiro.  
Deve  se  também  refletir  sobre  a  falta  que  nos  fez  esta  graça  e  como  deixamos  passar  as 
ocasiões  para  adquirí-la.  Em  seguida,  faz-se  mister  pedir,  o  qual  pode  se  dar  de 
quatro maneiras: 
a. Simples petição: ​“Petitiones vestrae innotescant apud Deum”​. 
b. Obsecração,  ou  seja,  acrescentar  a  ela  algum  motivo  ou  adjuração,  como  os 
méritos de Nosso Senhor: ​“in omni oobsecratione”. 
c. Ação  de  graças,  pois é pelo agradecimento das graças passadas que alcançamos 
novas graças: ​“cum gratiarum actione”.​  
d. Insinuação,  à  semelhança  das  irmãs  de  Lázaro  que  disseram  apenas:  “Senhor, 
aquele que Vós amais está enfermo”. 
Devem  se  associar  sempre  essas formas de petição à humildade, confiança, perseverança e união ao 
pedido dos outros. 
Resume-se em ter Nosso Senhor no coração. É o Venha a nós o Vosso Reino. 
3. Cooperação,  na  qual  com  o  auxílio  da  graça  nos  determinamos  a  praticar  essa 
virtude,  tomando  resolução  que  nos esforçaremos para cumprir no dia. Devem ser 
particulares,  atuais  e  eficazes.  Resume-se  em  ter  Nosso  Senhor  em  nossas  mãos, 
nos atos. É o Seja feita a Vossa Vontade. 
4. Conclusão:  Envolve  agradecimento  pelas  graças  e  a  formação  do  ramalhete 
espiritual. 
 
Características 
a. Apoia-se  na  ideia  da  nossa  incorporação  a  Cristo  e,  em  consequência,  no  adquirir 
as  suas  virtudes  e  disposições  interiores.  Assim,  a  ideia principal é unir-se a Nosso 
Senhor. 
b. Dá  mais  importância  ao  dever  de religião que de petição, pondo assim o agrado de 
Deus  em  primeiro  plano,  sendo  esse  Deus  o  do  Evangelho,  o  da  Santíssima 
Trindade que habita em nós pela graça. 
c. Proclama  a  necessidade  da  graça  e  da  oração,  mas  não  deixa  de  esclarecer  a 
necessidade  de  nossa  cooperação.  Deste  modo,  nos  dá  um  perfeito  panorama  da 
vida espiritual. 
d. É  um  método  afetivo.  Principia  com  afetos de religião e depois tem considerações 
para  despertar  novos  afetos;  já  as  reflexões  sobre  nós  mesmos  trazem  uma 
vivacidade  no  arrependimento  do  passado,  confusão  do  presente  e  esperança  no 
futuro. Além disso, até as resoluções nos lembram da primazia da graça. 
e. Utilíssimo  para  Padres  e  Seminaristas,  pois  tem  como  ponto  base  o  processo  de 
cristificação. 
 
Momento 
Deve  se  ter  um  tempo  reservado  para  a  meditação,  pois  a  constância  e  regularidade  são 
essenciais  para  o  alcance  dos  frutos.  Além  disso,  a  escolha  do  mesmo  tem  grande  importância. 
Logicamente  não  é  recomendado  fazê-la  após  a  recreação,  a  refeição  ou  as  ocupações.  Assim,  os 
melhores  horários  são  de  manhã  cedo,  pela  tarde  antes  do  jantar  e  a  meia-noite.  Se  é  mandatório 
escolher um dos horários, que o seja o da manhã. 
Lugar 
Para  seminaristas,  religiosos,  o  local  ideal  é  a Capela, tanto na oração comunitária como na 
pessoal,  isso  pela  presença  de  Nosso  Senhor  Sacramentado  e  pela  santidade  e  recolhimento  do 
local.  Para  os  que  não  possam  fazer  em  uma  igreja,  que  procurem  sempre  o  local  mais  reservado 
para  a  oração.  Para  alguns,  a  depender  do  temperamento,  a  vista  da  natureza  é  propícia  para  a 
oração. 
 
Postura 
A  atitude  do corpo repercute na alma e, deste modo, deve manter-se a compostura. O ideal 
é  que  seja  de  joelhos,  apesar  de  não  ser  regra  absoluta.  Deve  se  evitar  excessiva  comodidade  e 
mortificação excessiva 
 
Duração 
Variam  de  acordo  com o grau de perfeição, estado de vida, forças e ocupações de cada um. 
Recomenda-se  iniciar  com  30  minutos  e  ir  aumentando,  mas  autores  como  Santo  Inácio  e  São 
Francisco  de  Sales  tratam de 01 hora. Quando se trata de religiosos normalmente de fala de 01 hora 
e  30  minutos.  Entretanto,  vale  salientar  que  o  tempo  da  oração  não  se  restringe  só  a  isso,  sendo 
necessário o espírito de oração que perdura por todo o dia os efeitos da meditação. 
É  danoso  o  hábito  de  fazê-la  pela  satisfação  de  havê-la  feito.  Além  disso,  nunca  se  deve 
restringir  o  tempo  de  forma  a  finalizar  antes  de  tê-la  feito  de  forma  plena.  Isso  cria  um  espírito 
preguiçoso,  dá  a  oração  um  aspecto  de  rotina,  restringe  a influência da meditação no resto do dia e 
nos faz vê-la como uma obrigação penosa da qual devemos nos livrar.  
 
Passagem para a oração afetiva 
Algumas  pessoas,  principalmente  aquelas que se dedicam integralmente ao serviço de Deus 
e  que  estudam  principalmente  as  coisas  de  Deus  verificam  que  a  meditação  não  é  mais  o  tipo  de 
oração  que  convém.  É  uma  passagem  que  constitui  uma  grande  crise  na  vida  espiritual,  pois  o 
momento de mudar deve ser exato para que não gere prejuízos. São sinais: 
a. Quando somos incapazes de meditar e que os afetos nos atraem; 
b. Quando,  apesar  dos  nossos  esforços,  não  tiramos  outro  proveito  da  meditação  senão  o 
tédio e a aversão; 
c. Quando  as  verdades  da  religião  e  as máximas de Nosso Senhor nos penetram a alma de tal 
forma  que  o  nosso  espírito  dificilmente  nelas  se  fixará  na  oração,  sem  passarmos, 
instantaneamente, aos afetos da vontade; 
d. Quando  adquirimos  mais  horror  ao  pecado  e  maior  indiferença  pelos  divertimentos, 
quando  evitamos  as  ocasiões  de  perigo,  quando  nos  tornamos  mais  moderados  no  falar  e 
mais prontos a mortificar os sentidos. 
Com  estes  sinais,  podemos  abreviar  pouco  a pouco o emprego da memória e da inteligência na 
oração  e  concentrar-nos  nos  afetos  da  vontade,  e  assim  passaremos,  gradual  e  seguramente,  da 
meditação à oração afetiva. 
Na  meditação,  raciocinamos,  consideramos  um  texto,  refletimos  sobre  uma  verdade  para  que 
assim  produzamos  em  nós  o  afeto.  Na  oração  afetiva,  os  raciocínios  e  as  reflexões  dissipam-se e a 
alma  começa  a  produzir  por  si  mesma  os  necessários  afetos,  de  forma  livre  e  sem  muito  custo.  É, 
desta maneira, a oração afetiva superior à meditação pelo ardor, pela constância e pela continuidade. 
Quando a transição é feita de forma correta, novos frutos surgem, como grande amor por Deus 
refletido  em  atos,  desejo  de  fazer  a  vontade  de  Deus,  zelo  ardente  por  sua  glória,  fome  de 
comunhão, ânsia de conhecer mais a Deus, gosto no colóquio com Ele, desejo de morrer, zelo pelas 
almas  e  desprezo  do  mundo.  Há,  entretanto,  perigos,  como  apego  aos  sentimentos,  soberba, 
precipitação  nas  obras,  indiscrição.  Há  mais  distrações  e  o  demônio  ataca  de  forma  mais  intensa, 
sendo  redobrada  a  necessidade  de  cuidarmos  da  vaidade,  cólera  e  falta  de  vigilância  sobre  os 
sentidos. 
Apesar  disso,  acompanham  favores  sobrenaturais,  tais  como  dom  das  lágrimas,  colóquios 
interiores,  emoção  na  alma,  chaga  de  amor,  vislumbre  de  nosso  nada,  exuberância  da  doçura 
espiritual. 
Ao  fim  de  tudo,  percebe-se  que  o  homem,  com  a  vida  de  oração,  passa  a  viver  em  um 
mundo  diferente,  pois  na  alma  inabita  a  Santíssima  Trindade  e  ele  vive  cercado dos santos e anjos. 
Assim,  suas  esperanças,  interesses,  aspirações,  tudo  difere  do  mundo  que  o  cerca.  E,  logicamente, 
tal  situação  leva  esse  homem  a  julgar  as coisas com outros olhos, vendo as coisas tal qual a ótica de 
Deus.  Seu  comportamento  também  muda:  sua  linguagem  torna-se  mais  precisa,  percebe-se  a  sua 
tranquilidade, o trato com o próximo é modificado, e tudo isso aos olhos do mundo esbanja falta de 
simpatia. 
 
Referências: 
 
1. Teología de la Perfeccíon Cristiana – Antônio Royo Marin 
2. Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Tanquerey 
3. A alma de todo Apostolado – Dom Chautard 
4. A Oração – Santo Afonso Maria de Ligório 
5. Progresso na vida espiritual – Padre Frederick William Faber 
6. Ser ou não ser santo? Eis a questão – Antônio Royo Marin 
 
 

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