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Natureza:
Nosso Senhor diz: “É preciso orar a todo tempo sem desfalecer” (Lc VXIII, 1).
Deve se alcançar o que desde toda a eternidade estava determinado conceder por meio da
oração, pois nada extrínseco a Deus o determina. Entretanto, Deus dispôs as coisas vinculadas a
outras. É um querer condicional de Deus disposto desde toda a eternidade (Darei essa graça se me
pedires, não a darei se não o fizer). Não é simples condição, mas causa segunda condicional:
impossível colher sem ter plantado. Ele assim o quis para que confiemos nEle e o reconheçamos
como senhor de todos os bens.
É própria dos seres racionais e completa todos os atos de virtude cristãos, pois pressupõe
um desejo de perfeição, já que ninguém reza sinceramente se não quer se tornar melhor, e
conforma nossa vontade com a de Deus, pois a oração submete nossa vontade a de Deus.
1. São Gregório Nansiano – “A oração é uma conversação ou colóquio com Deus” (ascensus
mentis in Deum) .
2. São Joao Crisóstomo – “A oração é falar com Deus”
3. Santo Agostinho: “ A oração é a conversação da mente com Deus com piedoso e humilde
afeto"
4. São Boaventura: A oração é o piedoso afeto da mente dirigido a Deus”
5. Santo Tomás: “ A oração é a elevação da mente a Deus para louvá-Lo e pedí-Lo coisas
convenientes a eterna salvação”. Produzido pela virtude da religião.
A palavra elevação é usada em sentido metafórico e indica o esforço que fazemos para nos
desprendermos das criaturas e de nós mesmos.
Os que negaram a realidade da oração são muito e podem ser resumidos em:
1. Deístas, Epicuristas: Negam a providência de Deus, influência neste mundo.
2. Os que negam a liberdade (fatalistas, luteranos, jansenistas, calvinistas): “tudo está escrito”
3. Magos: A vontade de Deus muda pelo que oferecemos a Ele
Proveitos e Vantagens:
1. Excelente ato de religião;
2. Dá-se graças a Deus por seus inúmeros benefícios;
3. Excita a humildade, reconhecendo nossa pobreza;
4. Exercita a confiança em Deus ao pedí-Lo coisas que esperamos obter de sua bondade;
5. Nos leva a uma respeitosa familiaridade com Deus;
6. Nos faz entrar nos desígnios de Deus;
7. Eleva e engrandece a nossa dignidade humana;
Necessidade:
De preceito divino: “Vigilai e orai” (Mt XXVI, 41), “Pedi e dar-se-vos-á” (Mt VII, 7)
De preceito natural: O homem é miserável, só Deus pode remediar e o meio é a oração
(tanto que em todas as religiões há oração”.
De preceito eclesiástico: A Igreja manda rezar certas coisas.
Obrigado per se no começo da vida moral, perigo de morte, per accidens em tentação forte e
calamidade pública.
Para a salvação: “quem reza certamente se salva e quem não reza certamente se condena”
Santo Afonso.
Isso decorre da necessidade da graça para a salvação (“sem mim nada podeis fazer” – Jo XV, 5)
e a graça só é dada àqueles que rezam, apesar daquelas iniciais que são dadas mesmo sem a
cooperação do homem (fé, penitência). “Pela oração merecem os homens o que Deus, desde toda a
eternidade, determinou conceder-lhes”. Quando o homem não tem as graças é porque ou as pede
mal ou não as pede, como afirma São Tiago (Iac. IV, 2-3) que “não tendes porque não pedis” e
“pedis e não recebeis porque pedis mal”.
Mantém a vida da alma: Eu, porém, sou pobre e mendigo (Ps. XL, 18). “Assim como o
corpo não pode viver sem a alma, assim a alma sem a oração está morta e exala mau cheiro”, diz
São João Crisóstomo.
Ao contrário do que afirmavam Lutero e Jansênio, Santo Tomás nos diz que “não devemos
dizer ser-nos impossíveis a castidade ou outro mandamento qualquer. Muito embora não possamos
observá-lo por nós mesmos, nós o podemos mediante o auxílio divino. O que nos é possível com
auxílio divino não se pode dizer simplesmente que é impossível”.
Com a oração tudo se alcança. Dizia São Boaventura que “às vezes, obtêm-se mais
depressa com uma breve oração o que dificilmente se alcançaria com boas obras”, e acrescenta São
João Crisóstomos que “não há nada mais poderoso que um homem que reza”.
Formas da oração:
1. Adoração: Dirige-se ao Supremo Senhor. Como é nosso benfeitor, devemos render-lhe
graças; mas como o temos ofendido, devemos reparar esse ultraje. É reconhecer a
soberania de Deus e nossa dependência. “Toda a natureza adora a Deus a seu modo: mas a
que é privada do sentimento e razão não tem coração para o amar nem inteligência para o
compreender. Contenta-se, pois, de ostentar aos nossos olhos a sua ordem, as suas diversas
operações e os seus atavios. ‘ele não pode ver, mostra-se; não pode adorar, leva-nos a
adoração; e esse Deus, que ela não ouve, não no-lo deixa ignorar... Mas o homem, animal
divino, cheio de razão e inteligência, capaz de conhecer a Deus por si mesmo e por todas as
criaturas, é também impelido, por si mesmo e por todas as criaturas, a render-lhe as suas
adorações. Eis o motivo por que está posto no meio do mundo, misterioso compêndio do
mundo, a fim de, comtemplando o universo inteiro e recopilando-o em si mesmo, referir
unicamente a Deus tanto a sua pessoa como as demais criaturas; a tal ponto que o homem
não é o contemplador da natureza visível, senão para ser o adorador da Natureza invisível,
que tirou todas as coisas do nada pela sua onipotência’. Por outros termos, o homem é o
pontífice da criação, encarregado de glorificar a Deus em seu nome e em nome de todas as
criaturas. Cumpre esse dever reconhecendo ‘que Deus é uma natureza perfeita e, por
conseguinte, incompreensível; que Deus é uma natureza benfazeja... Nós somos
naturalmente levados a reverenciar o que é perfeito... a depender do que é soberano... a
aderir o que é bom’”.
2. Petição: É uma homenagem a Deus, pois é um ato de confiança. Tem como fundamento o
amor de Deus por suas criaturas e a necessidade urgente que temos de seu auxílio, pois
dependemos dele na ordem da natureza (Ele quem nos dá e sustenta o ser) e na da graça.
A quem rezar:
Diretamente somente a Deus: “A graça e a glória as dá o Senhor” (Ps. LXXXIII, 12)
Indiretamente a Nossa Senhora e aos santos. Quanto a objeção de que Deus é o único
mediador, Ele o é de redenção (e olhe que Nossa Senhora é Corredentora), mas não de intercessão.
Por quem rezar:
1. Por todos os capazes de glória eterna. Rezar por todos já se faz quando não se exclui de
forma expressa.
2. Não é obrigado a rezar pelos inimigos (exceto casos específicos), mas é obra de perfeição.
3. Pelas almas do purgatório por caridade, piedade e justiça.
4. Por aumento da glória acidental dos bem-aventurados.
5. Não se reza pelos condenados.
Valores da Oração:
1. Satisfatório: Sempre envolve humildade e submissão a Deus, e a raiz de todo pecado é o
orgulho. Além disso, é algo penoso, ao menos para as almas imperfeitas, pois supõe
esforço da vontade para manter atenção.
2. Meritório: Como ato de virtude sobrenatural, recebe seu valor meritório da caridade, como
ato próprio da virtude de religião.
3. Refeição Espiritual: Se dá só por sua presença (praesentialiter efficit), mas para isso é
necessária atenção. Assim, nutre inteligência, excita santamente a sensibilidade e estimula e
fortifica a vontade.
4. Impetratório: Se apoia na misericórdia, nas promessas de Deus e na fé. Mt VI, 7-8, Mt
XXI, 22, Io XIV, 13-14, Io, XV, 7, Io XV, 16, Io XVI, 23-24, I Io V, 14-15.
Condições:
1. Para si mesmo: A concessão da graça exige a disposição e o próximo pode não o estar. E,
sendo verdadeira oração, é garantido que quem pede o está. Importante frisar que quase
sempre se consegue as graças que se pede para o próximo, mas é mais falível.
2. Coisas necessárias para a salvação, sobretudo graças sobrenaturais, apesar de não ser
proibido pedir bens temporais ordenados ao fim último, “quaerite primum regnum Dei et
justitiam ejus, et haec ominia adjicietur vobis” (Mt VI, 33). Os bens temporais são tão inferiores
ao homem, onde há uma infinita diferença entre as ordens natural e sobrenatural, que é
impensável dedicar o tempo da oração para a aquisição somente desses bens. Entretanto, o
próprio Pater nos ensina que devemos pedir o pão nosso de cada dia, o qual inclui tanto
aquele de ordem natural como sobrenatural. Apesar disso, não é permitido que a finalidade
secundária contrarie a primária, seria isso mal em si. Não só isso é necessário frisar, mas
também uma completa submissão aos planos de Deus é essencial.
3. Piedosamente: Humildade, pois Deus resiste aos soberbos (Iac IV, 6), e são todas as graças
gratuitas, sendo assim o homem mendigo diante de Deus. Tem-se o exemplo do publicano
que orava humildemente (Luc XVIII, 13), quem se humilhar será exaltado; Firme confiança
(mas peça com fé, sem vacilar em nada – Iac I, 6) , a qual se funda nos méritos de Jesus
Cristo e que é constantemente afirmada nas Sagradas Escrituras; Em nome de Cristo (tudo
quanto pedires ao Pai Ele vos dará em meu nome; Atenção, sobre a qual se tratará depois
sobre os desvio da mesma. O pecador pode pedir, pois a impetração se apoia não no
mérito, mas na liberalidade divina.
4. Perseverança: Nosso Senhor tratou disso (parábola do amigo inoportuno que pede os três
pães, o juiz iníquo em relação ao pedido da viúva, a cananeia que pede e pelo exemplo de
Cristo – passou a noite orando a Deus).
Eficácia Santificadora da Oração:
Com a vida de oração, aproxima-se de Deus, e a santidade consiste na perfeita união a Ele.
Com ela se acende a caridade e se abrasa o amor.
1. Desapega-nos das criaturas: Deriva-se da sua própria essência, pois para elevar-se a Deus
ara pensar nEle, em
faz-se mister o desapego do que não é Ele. É condição sine qua non p
sua glória e O amar largarmos os pérfidos encantos das criaturas. E, uma vez na intimidade,
a vista dos bens celestes nos tolhem o desejo do perecível. Assim, adquirimos aos poucos o
ódio do pecado mortal, depois do venial e em seguida já estamos purificando as nossas
imperfeições.
2. Une-nos a Deus: A adoração se apodera de nossas faculdades para as unir a Deus. Além
disso, são produzidos atos de religião, inspirados pela fé, sustentados pela esperança e
vivificados pela caridade, aos quais se somam os atos de humildade, obediência, fortaleza e
constância que a oração supõe. Assim, nos une a Deus de modo perfeitíssimo e sem ela é
impossível fazê-lo.
3. Transforma-nos progressivamente em Deus: Ao nos elevarmos a Ele, Ele se inclina para
nós com suas graças, as quais tem essa ação. Além disso, a contemplação das maravilhas de
Deus faz com que elas penetrem em nossa alma
Dificuldades na Oração:
Transformar a meditação em tese teológica
Não que seja algo sem fruto, mas seria mais proveitoso se fosse feito algo mais sobrenatural e
prático e que movam a vontade a fazer atos de adoração, ação de graças, amor, humilhação,
contrição, bons propósitos, petições e resoluções firmes.
Falta de Generosidade
Somos abatidos pela falta de consolação característica dos primeiros passos e assim
desanimamos na caminhada.
Distrações: Pensamentos ou imagens estranhas que nos tiram a atenção. Podem afetar só a
imaginação, mas o entendimento pode superar com esforço, mas podem afetar o entendimento
mesmo, caso no qual a atenção desaparece totalmente.
● Causas independentes da vontade: Temperamento, pouca saúde ou fadiga, direção pouco
acertada ou o demônio.
● Causas voluntárias: Falta da devida preparação próxima (tempo, lugar, postura), falta de
preparação remota (pouco recolhimento, dissipação habitual, tibieza, curiosidade)
➢ Remédios – Para as que independem de nossa vontade: Ler, fixar olhos em imagem,
matérias concretas, entregar-se a oração mais afetiva, com colóquios. Lembrar que distração
combatida não diminui mérito, ao contrário. Para a que dependem: Nunca omitir
preparação próxima, silêncio, fuga da curiosidade, guarda dos sentidos imaginação e
coração, fazer o que estamos fazendo (age quod agis), preparar bem no dia anterior e
relacionarmos o tema com a nossa vida.
Securas e Aridezes: Consiste em impotência na oração para produzir atos intelectivos ou afetivos.
Pode vir de algo físico, de métodos inadequados de oração, da tibieza, infidelidades à graça, pecados
veniais, sensualidade, dissipação e superficialidade de espírito. Entretanto, pode ser prova de Deus,
onde subtrai-se ou consolo sensível para purificar do apego a isto, ou então humilhá-la mostrando
que só alcança as coisas com a ajuda de Deus, talvez aumentar o mérito pelo esforço redobrado da
caridade exigido neste caso. Se muito longo, pode pensar na noite dos sentidos, mas deve-se
observar a vida toda ao redor para compreender a causa.
➢ Remédio: Suprimir tibieza. Se involuntária, resignar-se, convencer-se de que a devoção
sensível não é essencial, humilhar-se, reconhecer-se indigno de consolações, perseverar.
Deve se unir ao divino agonizante no Getsêmani.
A melhor maneira de lidar com as dificuldades passa por uma sinceridade e clareza extremas
com o diretor em tudo que se refere a meditação, um esforço para ver a meditação como a
atividade mais importante do dia, uma dedicação sincera às leituras espirituais e um desapego das
consolações sensíveis, pois a chamada “meditação má”, algumas vezes presente de Deus, é a que
nos faz pararmos com esse meio de perfeição e assim não alcançarmos o fim tão belo a nós
reservado pelo Pai Celeste.
Armadilhas a se evitar:
1. Rotina de oração vocal – cai no automatismo, assim não tem eficácia santificadora.
2. Excesso de atividade natural ou grande inércia.
3. Pessimismo ou otimismo excessivo.
4. Apego as consolações sensíveis.
5. Apego excessivo a determinado método ou mudança sem motivo.
Como transformar as nossas ações em oração:
O ponto inicial é compreender a finalidade da vida humana e como a oração é essencial
para o cumprimento deste fim. Desta maneira, o iniciante deve buscar adquirir o hábito de oração
até o momento onde ela passe a ser a respiração da alma
Exercícios de Piedade
1. Oração da Manhã: Renunciar a isso é renunciar à perfeição. Devemos, sobretudo,
relembrar o ideal que devemos ter diante dos olhos e buscá-lo incessantemente: sede
perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito”. Assim, devemos nos colocar na presença de
Deus e render a Ele nossas homenagens com os exercícios sempre recomendados, como o
Pater, Ave Maria, Credo, Atos de Fé, Esperança e Caridade, alguma ladainha, um
oferecimento do dia, uma consagração a Nossa Senhora, uma súplica para viver santamente
o dia e superar algum defeito. Em seguida, meditar sobre alguma virtude que desejamos
praticar e pedir por orações a graça de praticar essa virtude. Se possível, a Santa Missa e a
Sagrada Comunhão (podem ser substituídas por comunhões espirituais), sempre bem
compreendidas e vividas de maneira a tirar bons frutos. Ao fim, não esquecer da
meditação, a qual há de ser bem planejada.
2. Durante o dia: Leitura das Sagradas Escrituras, das obras e vida dos santos, ler sobre
verdades fundamentais, fim do homem, pecado, mortificação, confissão, exame de
consciência. Além disso, ter devoções essenciais, como a Visita ao Santíssimo Sacramento
(livro de Santo Afonso Maria de Ligório), recitação do Rosário ou terço, renovação das
intenções, Angelus e outras piedosas práticas.
3. À noite: Exame geral e particular, uma espécie de confissão pessoal. Serve para analisarmos
o dia sob a ótica do que pusemos como intenção pela manhã.
4. Soma-se a tudo isso a confissão semanal ou quinzenal e, se possível, um retiro, o qual pode
ser algum tempo reservado na solidão para meditar as verdades eternas e dedicar-se à
oração e às leituras espirituais.
Esses exercícios, ao fim, não permitirão que tiremos os olhos de Deus durante o dia, retificando
nossas intenções e fazendo com que olhemos tudo
Vida como oração
É a caridade que orienta toda a nossa vida para Deus. O meio prático para fazermos isso
em todas a ações é oferece-las, antes de as começar, à Santíssima Trindade. Além disso,
constantemente lembrar-se da Inabitação da Santíssima Trindade em nossa alma pela graça
santificante e as consequências disso. Quando a ação é demorada, renovar o oferecimento por meio
de simples olhar para um crucifixo ou ainda em Jesus, o qual vive em nós. Não esquecer, é claro,
das jaculatórias constantes.
Oração Vocal
É sinal de falsa espiritualidade o desprezo da oração vocal, e de fato é ela indispensável
para avivar devoção interior, honrar a Deus com o dom da voz e porque dá livre curso à devoção
interior.
É necessário cuidar da ordem e enunciação das palavras, de compreender a significação e
ter em vista o seu objeto, isto é, aquele a quem nos dirigimos e as graças que pedimos.
A oração vocal que recorre ao livro deve ser feita com somente um de modo pausado e
com tempos para pensar. Se rezamos sem livro, devemos ser econômicos nas palavras diante da
grandeza de Deus, intercalando, deste modo, sempre momentos de silêncio. Se orações de
intercessão, necessário primeiro o cuidado com as promessas vãs de oração. Rezemos sempre pelo
Sumo Pontífice e suas intenções e deixemos espaço para as jaculatórias.
Convém não nos sobrecarregarmos de oração e sempre começar com ato de presença de
Deus. Busquemos situações convenientes nas quais não seremos interrompidos e sempre em
posição de penitência. Vigiemos constantemente o olhar e nos apliquemos para diminuir o número
e aumentar a aplicação do espírito.
Terço não precisa nem falar!
Meditação
Natureza e Elementos constitutivos
Como criaturas somo obrigados a glorificar a Deus pela adoração, ação de graças e amor, e
reparar as ofensas. Mas, para os principiantes, trata-se sobretudo ela da petição e da necessidade
como meio de salvação e perfeição. Isso se dá pois, com a oração, alcançamos as graças atuais e
assim perseverarmos – “sem mim nada podeis fazer” (Jo XV, 5), pois ela é o meio normal, eficaz e
universal. É, pois, importante notar que Deus não nos deve nada em rigor de justiça, mas prometeu
segundo a sua grande misericórdia (Ps L, 1). Deve-se, portanto, fugir do pelagianismo, acreditando
que com nossos esforços alcançaremos nosso fim, mas isso somente será possível com a graça de
Deus obtida pela oração.
E, dentro das formas de oração, a oração mental é, sem sombra de dúvidas, essencial à
salvação e, sem ela, a perfeição fica impossibilitada. Esse ponto se dá porque é pela aplicação das
faculdades em Deus, com a reflexão e especulação sobre Ele, que se dá a indução da nossa vontade
e a conformidade com a dEle, surgindo assim afetos de amor. E, apesar de ser ela difícil em si,
sempre cercada pelo tédio, distrações e cansaço, a perseverança nos fará permanecer firmes e assim
alcançarmos de forma efetiva o nosso fim. Isso não significa dizer que a vontade de espaçar as
meditações, diminuir a sua importância e fazê-la de modo laxo não seja algo que constantemente
passará pela mente.
“Aplicação da inteligência sobre uma verdade sobrenatural para nos convencermos dela e nos movermos a
amá-la e praticá-la com a ajudada graça”.
A aplicação da inteligência na meditação tem forma característica de raciocínio, algo lógico
e discursivo. Deste modo, sem essa forma de aplicar mente pode se afirmar sem medo algum que
não há meditação (ou virou distração, ou oração afetiva, ou contemplação). Entretanto, pode surgiu
a objeção sobre o que diferencia a meditação de um estudo, mas veremos em seguida que o ponto
de divergência se dá na finalidade, pois a meditação visa um objetivo afetivo e prático.
A verdade sobrenatural sobre a qual se deve aplicar é muito variado: passagem das Sagradas
Escrituras, algo dos Evangelhos, um fato da vida de algum santo, um princípio teológico, uma
forma litúrgica.
Acerca do convencer-se e amar, isso adentra nas sendas da dupla finalidade da meditação
como oração cristã: a intelectiva e a afetiva. A primeira se trata do alcance de concepções firmes e
enérgicas acerca das verdades de fé, pois o sensível pode até produzir felicidade e paz
momentâneas, mas somente as firmes crenças resistem aos ataques da carne, do mundo e do
demônio. A segunda, porém, é sem dúvida o elemento mais importante, pois é mister que a vontade
ame as verdades conhecidas. Todavia, esses dois elementos nada são sem a tradução da oração para
os aspectos práticos, mais notoriamente marcado pelas resoluções diligentemente cumpridas.
Lembrar que esse cumprimento se dará somente por meio do auxílio da graça, como claro na
definição.
A meditação compreende 05 elementos essenciais: os deverem de religião que se tributam a
Deus; considerações sobre Ele e nossas relações para com Ele, alimentando as nossas convicções
acerca das virtudes cristãs; reflexões sobre nós mesmos, para verificarmos em que altura nós
estamos; orações propriamente ditas, nas quais pedimos a graça para praticar essa ou aquela virtude;
e por fim as resoluções, para assim melhor procedermos no futuro.
Importância e Necessidade da Meditação
A maioria dos que vivem em pecado lá estão porque não refletem sobre a sua condição, já
que não tem nenhum traço de ódio a Deus ou tem o mal no coração. Assim, passam a vida toda
entregues às paixões simplesmente por não conhecerem o que deve ser amado. Deste modo, o que
bastaria seria um olhar para dentro de si e assim volver os olhos para as verdades eternas, fim
alcançado pela meditação. Santo Afonso inclusive diz que a oração mental é incompatível com o
pecado: quando convivem juntos um dos dois será largado.
Não menos importante é o consequente conhecimento de si mesmo, o qual gera humildade
profunda, recolhimento, mortificação dos sentidos e outros elementos essenciais à perfeição. Por
conta disso, erra bastante quem se entrega somente ao apostolado e esquece da vida interior, pois
nem os sacramentos substituem a eficácia da oração.
Assim, pode-se dizer:
1. Desapega-nos do pecado e de suas causas: Se pecamos, é por irreflexão e fraqueza da
vontade. Nos mostra a feiura do pecado, a beleza da eternidade e a leviandade do mundo.
Acima de tudo, desapega-nos de nós mesmos. Além disso, fortifica a vontade, cura a
inércia, covardia e inconstância.
2. Faz-nos praticar as grandes virtudes cristãs: Ilumina a fé, sustenta a esperança e estimula a
caridade. Nos torna prudentes, justos, fortes e temperantes. “Cognoscetis veritatem, et veritas
libertabit vos” (Jo VIII, 32).
3. Prepara-nos para nos conformarmos em Deus: Vai se tornando um colóquio cada vez mais
íntimo a ponto de sermos tomados por suas próprias virtudes, como o ferro que se abrasa
no fogo.
Sobre o que meditam os principiantes
Devem meditar sobre tudo que possa lhe inspirar horror ao pecado, sobre as causas das
próprias faltas, sobre a mortificação que a remedia, sobre os principais deveres do seu estado, sobre
o bom uso e abuso da graça, sobre Jesus modelo dos penitentes.
Quanto ao horror crescente do pecado, meditarão sobre:
1. O fim do homem; sobre a criação e elevação do homem ao estado sobrenatural; sobre a
queda e redenção; sobre os direitos de Deus; sobre a imensidade, santidade, justiça e
misericórdia de Deus;
2. O pecado em si mesmo: origem, castigo, malícia, temerosos efeitos; causas – mundo, carne
e demônio;
3. Meios de expiar e prevenir: penitência, mortificação de faculdades, vícios, pecados capitais;
4. Nossos defeitos dominantes.
Deverão também progressivamente meditar sobre os deveres positivos do cristão:
1. Deveres para com Deus e o próximo;
2. Desconfiança conosco;
3. Deveres particulares de acordo com idade, condição, sexo, estado de vida – a prática
diligente destes deveres é a maior das penitências, são eles a mais clara manifestação da
vontade de Deus para nossa vida.
Quanto a Jesus como modelo dos penitentes:
1. Ele condenando-se à pobreza, à obediência e ao trabalho;
2. Suas penitências no deserto, no Jardim das Oliveiras e na Paixão;
3. Jesus morrendo por nós na Cruz.
Mais que isso, deverão meditar sobre a alta dignidade do cristão e das consequências da graça
santificante
Método de Meditação
Faz-se mister evitar uma excessiva rigidez quanto ao método, mas também um completo
desapego. Assim, principalmente para os iniciantes é necessário um apego mais intenso para que
não fujam do objetivo, porém para os mais avançados esse moldar-se pode ser um empecilho para
o voo da alma rumo às perfeições de Deus. Não menos importante salientar é que os métodos são
dos mais variados e devem ser escolhidos de acordo com o estado da alma, com o estado de vida e
com o temperamento, já que essas variáveis fazem com que alguns sejam mais efetivos com uns que
com outros.
É importante também registrar que talvez seja necessário aos principiantes o que se
conhece como leitura meditada, ou seja, leitura de livros como Imitação de Cristo e Combate
Espiritual ou algo que proponha pequenas meditações. Após esses atos, recomendam-se 04
questionamentos: 1) Estou bem convencido de que o que acabo de ler é útil e necessário ao bem de
minha alma? Como posso radicar-me nesta convicção?; 2) Tenho até aqui praticado este bem tão
importante?; 3) Como procederei para o melhor cumprir hoje? Se a estas considerações se
acrescentar uma súplica ardente, tem-se uma verdadeira meditação. Não menos útil é recorrer ao
uso de orações mentais de forma lenta, pensando no que ela diz.
Na Antiguidade, os métodos de oração centravam-se na repetição e reflexão sobre pontos
específicos, mais claramente do versículo “Deus in adiutorium meum intende” do Salmo 69, o qual até
hoje inicia as horas do breviário do breviário. Já na Idade Média, Hugo de São Vitor dividia em 05
pontos: leitura, meditação, oração, operação e contemplação. A partir do século XVI as coisas
tornaram-se mais claras, primeiramente com o Frei Luís de Granada, que dividia em preparação,
leitura, meditação, ação de graças e petição, e com São Pedro de Alcântara, o qual acrescenta o
oferecimento antes da petição.
Pontos Comuns aos métodos:
1. Preparação remota: é pôr a vida habitual em harmonia com a meditação, mortificando
sentidos e paixões, fugindo do pecado, tendo recolhimento habitual e humildade.
2. Preparação próxima: ler ou escutar a matéria na noite anterior e sobretudo notar os frutos
que devem resultar dela ou que precisamos no momento; esforçar-se para dormir pensando
no tema, se possível com a ajuda de alguma jaculatória; pensar nela ao despertar e excitar
no coração sentimentos que lhe sejam conformes; guardar profundo silêncio até o
momento da meditação; entrar na meditação com ardor, confiança e humildade, com
desejo de glorificar a Deus e torna-se melhor.
3. Preparação imediata: se pôr na presença de Deus através de um ato de fé; reconhecer-se
indigno e incapaz de meditar através de um ato de humildade; implorar o auxílio do
Espírito Santo.
4. Corpo da Oração:
a. Atos que rendam a homenagem de religião;
b. Considerações para se convencer da necessidade ou utilidade da virtude afim de
orar com mais fervor para obtê-la;
c. Exames e reflexões sobre nós, para ver assim as deficiências e contemplar o
caminho que será percorrido;
d. Orações ou petições para obter as graças;
e. Resoluções para praticar a virtude que se meditou.
5. Conclusão:
a. Ação de graças pelos benefícios recebidos;
b. Revista da maneira como se fez a meditação;
c. Última oração para pedir a benção de Deus;
d. Escolha de pensamento ou máxima que mais impressão nos tenha feito e que nos
vá avivar a caridade durante o dia. Chama-se isso de ramalhete espiritual.
Método de Santo Inácio
Santo Inácio propõe em seu método a aplicação de três potências: memória, entendimento
e vontade
Princípio da Meditação
Inicia-se, obviamente, com toda a preparação próxima acima descrita. No momento,
começa com uma oração preparatória, onde a alma pede a Deus que todas as suas ações e intenções
sejam dirigidas unicamente para Deus. Em seguida, vem dois prelúdios. O primeiro deles é a
composição de lugar, o qual tem por fim fixar a imaginação e o espírito e assim evitar distrações.
Ao vir alguma distração, é mandatório trazer a mente de volta para essa imagem. Se é objeto visível,
representa-lo vivamente como testemunha ocular. Se invisível, o esforço deve ser mais profundo,
mas sempre se pondo como participante. O segundo prelúdio consiste em pedir a Deus o que
deseja, é o passo inicial da resolução.
Corpo da Meditação
Aplicação das três potências a cada um dos pontos da oração, detendo-se, porém, sobretudo nos
afetos. A memória deve lembrar do fato sem apegar-se aos pormenores, mas a ele de uma forma
em geral. Pode resumir sua aplicação em algumas perguntas: quem, o que, onde, por que meios, por
que, como e quando. Já o entendimento deve aplicar-se de forma mais intensa, fazendo reflexões
sobre as verdades que a memória propôs, aplicando-as às necessidades da alma, tirando
consequências práticas, ponderando motivos das resoluções, considerando como vivemos em
relação a isso e como devemos viver no futuro. Uma não aplicação correta da memória esteriliza os
frutos.
A vontade, porém, tem dois objetivos. O primeiro deles é mover-se a piedosos afetos, os
quais devem estar presentes em toda a meditação, apesar de ser mais essenciais no seu fim. Ao
surgir um bom sentimento, devemos cultivá-lo o máximo possível.. Aplica-se a nós mesmos o
objeto da meditação, tiramos conclusões, pensamos os motivos, examinamos a nossa conduta
passada e presente e tomamos resoluções para o futuro. Há também 7 perguntas:
a. Que devo pensar a respeito?
b. Que lição prática devo tirar? Deve ser sempre particular e de acordo com
nosso estado.
c. Quais os motivos que me movem a adotar essa prática?
d. Qual foi até hoje o meu procedimento a este respeito? Desconfiemos aqui
de respostas satisfatórias e cedamos somente à evidência. Procuremos
nossa própria confusão, desçamos às minúcias, investiguemos
cuidadosamente as nossas disposições presentes.
e. Como devo proceder no futuro? Imaginar casos palpáveis.
f. Que obstáculos posso afastar? Normalmente orgulho, sensibilidade e
dissipação.
g. Que meios devo empregar? É necessária prudência.
O segundo objetivo da vontade é formar resoluções práticas, particulares e passíveis de
serem aplicadas no mesmo dia. É preciso que se baseiem em motivos sólidos e já constantemente
meditados
Conclusão
É grande causa de inutilização da meditação conclusões malfeitas para não passar da hora.
Primeiro se deve recapitular as resoluções e renová-las, em seguida ter piedosos colóquios com
Nosso Senhor, Nossa Senhora, santos e anjos. Depois disso se deve pedir cuidadosamente o fruto
especial que esperamos obter, podendo acrescentar uma súplica, assim como oferecimento das
resoluções tomadas.
Por fim, Santo Inácio recomenda fazer a revista da meditação. Diz ele que devemos revisar:
● A preparação na noite anterior;
● O comportamento nos primeiros pensamentos do dia;
● Os passos iniciais;
● Como se sucederam a oração preparatória e os prelúdios;
● A escolha do fruto;
● O curso da meditação;
● Como nos portamos diante das tentações;
● A conclusão;
● Se nós prestamos atenção ao que Deus queria falar;
● Se a nossa atitude foi irreverente ou a linguagem ousada;
● Se os pensamentos foram precipitados.
Também nos recomenda esse grande santo a recapitulação, ato que envolve as lições
aprendidas, as resoluções tomadas e o fruto que esperávamos obter, escolhendo assim desses
elementos algo que será levado para o dia. Por fim, resta anotar as luzes recebidas, algo que não
convém a todos e que requer grande discrição.
Ao acabar tudo, se recomenda a oração de um Pater, uma Ave Maria e um Anima Christi,
somados ao cuidado que se segue a meditação para que ela inunde todo o nosso dia, guardando
assim o recolhimento e espírito de oração.
Utilidade
Apodera-se de todas as faculdades e isso ajuda na concentração, além de permitir observar
as mais diversas faces de uma única ocasião e assim tirar conclusões firmes e práticas. Além disso,
deixa bastante claro tanto a necessária aplicação da vontade como o auxílio das graças divinas.
Também é válido salientar que é bem explicado e prende bem as faculdades, sendo assim utilíssimo
os principiantes. Já para os adiantados, esse método mais simplificado facilmente conduzirá à
oração afetiva.
Obstáculos
Boa opinião de nós mesmos, ostentação das austeridades e devoções, apego às
imperfeições habituais, dissipação do espírito, negligência na vigilância dos sentidos, indiferença no
modo de cumprir as pequenas ações. Assim, precisamos de humildade, simplicidade, pureza de
intenção, vigilância dos sentidos e mortificação.
A “má” meditação
Normalmente são essas as mais fecundas quanto aos resultados, pois só o tempo ajoelhado
sem inspirações por obediência e fidelidade já é muito meritório. Devemos nelas apesar de tudo
pedir algo e tomarmos resoluções e, deste modo, terá sido extremamente frutuoso. Muitas das
vezes é isso que Deus quer e visa com elas purificar algo passado ou presente, exigindo de nós
esforço e a dedicação para descobrir a fonte e assim corrigir. Assim, avança-se bastante no caminho
da perfeição.
Método de São Sulpício
A ideia inicial é a união, adesão ao Verbo Encarnado para tributar a Deus os atos de
religião que lhe são devidos e reproduzir em nós as virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os três atos essenciais são:
1. Adoração, pela qual consideramos um atributo ou perfeição de Deus, ou uma
virtude de Nosso Senhor Jesus Cristo, e desempenhamos em seguida o nosso
dever de religião (adoração, admiração, louvor, ação de graças, amor, alegria,
compaixão) para com um ou outro e para com Nosso Senhor. Contempla-se, nessa
etapa, Nosso Senhor e lhe presta o culto devido pelas suas infinitas perfeições.
Resume-se em ter Nosso Senhor diante dos olhos. É o Santificado seja Vosso
Nome.
Exemplificando, imaginemos que estamos meditando sobre a humildade de Nosso Senhor.
Se pensaria nas disposições internas dEle a respeito da humildade, nas palavras que
disse e nas ações que praticou. Em seguida, deposita-se as ofertas de adoração,
admiração, louvor, as que mais harmonizarem com o objeto da oração. Deste
modo, se contempla como a fonte e modelo das virtudes. Deve se ter como
principais objetos: os atributos, as perfeições de Deus, os mistérios, as virtudes, os
nossos vícios e as verdades cristãs.
2. Comunhão, pela qual atraímos a nós mediante a súplica a perfeição ou virtude que
havemos adorado e admirado em Deus. Entretanto, nesse ponto incluem-se as
considerações e reflexões práticas, pois ao nos convencermos da importância e
necessidade da virtude nós a suplicamos de modo mais verdadeiro.
Deve se também refletir sobre a falta que nos fez esta graça e como deixamos passar as
ocasiões para adquirí-la. Em seguida, faz-se mister pedir, o qual pode se dar de
quatro maneiras:
a. Simples petição: “Petitiones vestrae innotescant apud Deum”.
b. Obsecração, ou seja, acrescentar a ela algum motivo ou adjuração, como os
méritos de Nosso Senhor: “in omni oobsecratione”.
c. Ação de graças, pois é pelo agradecimento das graças passadas que alcançamos
novas graças: “cum gratiarum actione”.
d. Insinuação, à semelhança das irmãs de Lázaro que disseram apenas: “Senhor,
aquele que Vós amais está enfermo”.
Devem se associar sempre essas formas de petição à humildade, confiança, perseverança e união ao
pedido dos outros.
Resume-se em ter Nosso Senhor no coração. É o Venha a nós o Vosso Reino.
3. Cooperação, na qual com o auxílio da graça nos determinamos a praticar essa
virtude, tomando resolução que nos esforçaremos para cumprir no dia. Devem ser
particulares, atuais e eficazes. Resume-se em ter Nosso Senhor em nossas mãos,
nos atos. É o Seja feita a Vossa Vontade.
4. Conclusão: Envolve agradecimento pelas graças e a formação do ramalhete
espiritual.
Características
a. Apoia-se na ideia da nossa incorporação a Cristo e, em consequência, no adquirir
as suas virtudes e disposições interiores. Assim, a ideia principal é unir-se a Nosso
Senhor.
b. Dá mais importância ao dever de religião que de petição, pondo assim o agrado de
Deus em primeiro plano, sendo esse Deus o do Evangelho, o da Santíssima
Trindade que habita em nós pela graça.
c. Proclama a necessidade da graça e da oração, mas não deixa de esclarecer a
necessidade de nossa cooperação. Deste modo, nos dá um perfeito panorama da
vida espiritual.
d. É um método afetivo. Principia com afetos de religião e depois tem considerações
para despertar novos afetos; já as reflexões sobre nós mesmos trazem uma
vivacidade no arrependimento do passado, confusão do presente e esperança no
futuro. Além disso, até as resoluções nos lembram da primazia da graça.
e. Utilíssimo para Padres e Seminaristas, pois tem como ponto base o processo de
cristificação.
Momento
Deve se ter um tempo reservado para a meditação, pois a constância e regularidade são
essenciais para o alcance dos frutos. Além disso, a escolha do mesmo tem grande importância.
Logicamente não é recomendado fazê-la após a recreação, a refeição ou as ocupações. Assim, os
melhores horários são de manhã cedo, pela tarde antes do jantar e a meia-noite. Se é mandatório
escolher um dos horários, que o seja o da manhã.
Lugar
Para seminaristas, religiosos, o local ideal é a Capela, tanto na oração comunitária como na
pessoal, isso pela presença de Nosso Senhor Sacramentado e pela santidade e recolhimento do
local. Para os que não possam fazer em uma igreja, que procurem sempre o local mais reservado
para a oração. Para alguns, a depender do temperamento, a vista da natureza é propícia para a
oração.
Postura
A atitude do corpo repercute na alma e, deste modo, deve manter-se a compostura. O ideal
é que seja de joelhos, apesar de não ser regra absoluta. Deve se evitar excessiva comodidade e
mortificação excessiva
Duração
Variam de acordo com o grau de perfeição, estado de vida, forças e ocupações de cada um.
Recomenda-se iniciar com 30 minutos e ir aumentando, mas autores como Santo Inácio e São
Francisco de Sales tratam de 01 hora. Quando se trata de religiosos normalmente de fala de 01 hora
e 30 minutos. Entretanto, vale salientar que o tempo da oração não se restringe só a isso, sendo
necessário o espírito de oração que perdura por todo o dia os efeitos da meditação.
É danoso o hábito de fazê-la pela satisfação de havê-la feito. Além disso, nunca se deve
restringir o tempo de forma a finalizar antes de tê-la feito de forma plena. Isso cria um espírito
preguiçoso, dá a oração um aspecto de rotina, restringe a influência da meditação no resto do dia e
nos faz vê-la como uma obrigação penosa da qual devemos nos livrar.
Passagem para a oração afetiva
Algumas pessoas, principalmente aquelas que se dedicam integralmente ao serviço de Deus
e que estudam principalmente as coisas de Deus verificam que a meditação não é mais o tipo de
oração que convém. É uma passagem que constitui uma grande crise na vida espiritual, pois o
momento de mudar deve ser exato para que não gere prejuízos. São sinais:
a. Quando somos incapazes de meditar e que os afetos nos atraem;
b. Quando, apesar dos nossos esforços, não tiramos outro proveito da meditação senão o
tédio e a aversão;
c. Quando as verdades da religião e as máximas de Nosso Senhor nos penetram a alma de tal
forma que o nosso espírito dificilmente nelas se fixará na oração, sem passarmos,
instantaneamente, aos afetos da vontade;
d. Quando adquirimos mais horror ao pecado e maior indiferença pelos divertimentos,
quando evitamos as ocasiões de perigo, quando nos tornamos mais moderados no falar e
mais prontos a mortificar os sentidos.
Com estes sinais, podemos abreviar pouco a pouco o emprego da memória e da inteligência na
oração e concentrar-nos nos afetos da vontade, e assim passaremos, gradual e seguramente, da
meditação à oração afetiva.
Na meditação, raciocinamos, consideramos um texto, refletimos sobre uma verdade para que
assim produzamos em nós o afeto. Na oração afetiva, os raciocínios e as reflexões dissipam-se e a
alma começa a produzir por si mesma os necessários afetos, de forma livre e sem muito custo. É,
desta maneira, a oração afetiva superior à meditação pelo ardor, pela constância e pela continuidade.
Quando a transição é feita de forma correta, novos frutos surgem, como grande amor por Deus
refletido em atos, desejo de fazer a vontade de Deus, zelo ardente por sua glória, fome de
comunhão, ânsia de conhecer mais a Deus, gosto no colóquio com Ele, desejo de morrer, zelo pelas
almas e desprezo do mundo. Há, entretanto, perigos, como apego aos sentimentos, soberba,
precipitação nas obras, indiscrição. Há mais distrações e o demônio ataca de forma mais intensa,
sendo redobrada a necessidade de cuidarmos da vaidade, cólera e falta de vigilância sobre os
sentidos.
Apesar disso, acompanham favores sobrenaturais, tais como dom das lágrimas, colóquios
interiores, emoção na alma, chaga de amor, vislumbre de nosso nada, exuberância da doçura
espiritual.
Ao fim de tudo, percebe-se que o homem, com a vida de oração, passa a viver em um
mundo diferente, pois na alma inabita a Santíssima Trindade e ele vive cercado dos santos e anjos.
Assim, suas esperanças, interesses, aspirações, tudo difere do mundo que o cerca. E, logicamente,
tal situação leva esse homem a julgar as coisas com outros olhos, vendo as coisas tal qual a ótica de
Deus. Seu comportamento também muda: sua linguagem torna-se mais precisa, percebe-se a sua
tranquilidade, o trato com o próximo é modificado, e tudo isso aos olhos do mundo esbanja falta de
simpatia.
Referências:
1. Teología de la Perfeccíon Cristiana – Antônio Royo Marin
2. Compêndio de Teologia Ascética e Mística - Tanquerey
3. A alma de todo Apostolado – Dom Chautard
4. A Oração – Santo Afonso Maria de Ligório
5. Progresso na vida espiritual – Padre Frederick William Faber
6. Ser ou não ser santo? Eis a questão – Antônio Royo Marin