Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Metadados
Data de Publicação 2014
Resumo O presente trabalho de investigação tem como objetivo compreender
o caso de estudo “Largo Condessa do Juncal”, através do estudo do
nascimento e evolução das praças antigas de Guimarães, tendo em conta
os acontecimentos históricos e as políticas arquitetónicas implementados
ao longo do tempo. Após a análise do “estado da arte”, finalizamos com
uma proposta de intervenção e reinterpretação do Largo Condessa do
Juncal. Deste modo pretende-se abordar a temática do redesenho do
edificado no espaço...
The present research aims to understand the case study "Largo Condessa
do Juncal", through the study of the birth and evolution of old squares of
Guimarães, taking into account the historical events and the architectural
policies implemented over time. After the analysis of the "state of art", the
research concludes with a proposal for intervention and reinterpretation of
"Largo Condessa do Juncal". In this way it is intended to address the topic
of the redesign of buildings in public space and...
Palavras Chave Centros históricos, Reabilitação Urbana, Guimarães (Portugal)
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULF-FAA] Dissertações
http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE
VILA NOVA DE FAMALICÃO
FAA – Faculdade de Arquitetura e Artes
RESUMO
5
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
ABSTRACT
The present research aims to understand the case study "Largo Condessa
do Juncal", through the study of the birth and evolution of old squares of
Guimarães, taking into account the historical events and the architectural policies
implemented over time. After the analysis of the "state of art", the research
concludes with a proposal for intervention and reinterpretation of "Largo Condessa
do Juncal".
The work develops in three chapters. In the first chapter, we draft a brief
historical context of the development of the city of Guimarães, making use of the
plans designed by Bernardo Ferrão.
In the third and last chapter, we analyze the recent interventions in the
public space in order to provide "Largo Condessa de Juncal" and the questions it
raises with a contemporary context. At the same time, we propose a new design
for the square and explain how this would improve and better integrate it in the
Historic Center of Guimarães.
7
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS 31
INTRODUÇÃO 33
1 - A Cidade de Guimarães 36
1.1 - Evolução urbana da cidade 36
2.1 - Análise das praças medievais tendo como ponto de partida a planta
de Guimarães de 1569 51
9
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
10
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
CONCLUSÃO 149
BIBLIOGRAFIA 151
WEBGRAFIA 157
ANEXOS 159
Anexo IV - Entrevista com o Sr. Arq. Filipe Vilas Boas (24.09.2014) 185
11
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
ÍNDICE DE FIGURAS
13
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 13 - Postal, Convento de Santa Clara a funcionar como Liceu, inicio do séc.
XX 57
Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-
TvhuBghSMBY/UkhUzyI_UsI/AAAAAAAAEfA/G3VOAzSKtx8/s1600/SClara-(22)Web.jpg
14
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
15
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
16
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
imagem|suporte|assunto|descricao|data|fonte&titlesToShow=Imagem|Suporte|Assunto|Descrição|
Data|Fonte&ID=782&navigation=yes&w=141&h=90
17
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 36 - Planta, Planta da área ocupada atualmente pelo Largo João Franco,
1569 79
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml
18
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
19
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
20
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
21
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
22
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
23
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 80 - Fotografia, Praça de S. Tiago após intervenção pelo G.T.L. 1983 121
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães
24
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 83 - Planta de intervenção no Largo João Franco pelo G.T.L., 1983 124
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães
25
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
26
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 102 - Fotografia, Academia Valentim Moreira de Sá, autor, 2014 142
Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor
Fig. 104 - Planta, Planta atual do Largo Condessa do Juncal, 2014 147
Feita no dia: 15.10.2014
Fonte: Autor
27
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
29
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
AGRADECIMENTOS
Aos meus Pais, Irmã, Padrinhos e Avó, agradeço pelo apoio incondicional,
pela compreensão e infinita paciência que tiveram ao longo deste trabalho, para
eles a minha profunda gratidão.
Aos meus Amigos, pelo apoio, Alexandre Reis, Alice Cachada, Ana Valério,
Ana Simões, Catarina Martins, Cátia Gonçalves, Dalila Monteiro, Daniela
Cardoso, Eduardo Ferreira, Marisa Magalhães, Patrícia Barbosa, Paula Soares,
Sara Monteiro, e ao Hugo Rocha Fernandes pelo apoio e amabilidade que se
tornaram essenciais para a conclusão deste trabalho.
31
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Introdução
33
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
CAPITULO I
1 – A CIDADE DE GUIMARÃES
36
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
37
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
38
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
4 1
3
2
39
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
1
Edifício a Norte na figura 4, o Convento de Santo António dos Capuchos foi construído no séc.
XVII e adquirido em 1842 pela Santa Casa da Misericórdia onde construiu o seu hospital e onde
funciona hoje em dia a Igreja, instituição museológica, Lar e Serviços médicos.
40
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Alfandega
O Convento de Santo António dos Capuchos
41
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
A tendência de crescimento foi sempre nos sentidos a Sul e Poente, por ter
melhores condições de assentamento para novas construções, a proximidade
com o rio permitia o escoamento das águas poluídas e terrenos de inclinação
moderada para uma melhor implantação dos edifícios, conferiram à área
características e a localização ideal para a implementação das indústrias, que na
sua maioria eram de curtumes.
Com o decorrer do tempo, a muralha que havia sido feita por motivos de
defesa militar, perdeu a sua qualidade de estrutura defensiva e devido a este
facto, foram tomadas medidas para derruba-la sucessivamente com o intuito de
libertar o núcleo urbano.
42
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
43
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Entre 1923 e 1925 foi projetado pelo Capitão Luís de Pina um Plano de
Alargamento, com o objetivo de orientar o crescimento da cidade de Norte para
Sul, apoiando-se num traçado radio-concêntrico, a partir da Praça da Mumadona,
como se pode ver na figura 6, o desenho das vias representadas a tracejado.
Estas vias projetadas, vieram a potencializar o desenvolvimento da cidade com a
sua efetiva construção ao longo dos anos. Neste período ainda não se
encontravam construídos edifícios significativos na área.
44
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
J IV
AH
CF
Fig. 6 - Planta, Planta de Guimarães, (1863 - 1924)
45
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
46
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Alameda de S. Dâmaso
47
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
48
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
CAPITULO II
AS PRAÇAS DE GUIMARÃES
Esta foi a planta que serviu de base para à análise dos espaços públicos,
praças, e alguns edifícios de referência que lhes foram dando caracter
arquitetónico, desenho e contexto ao longo dos tempos. Sabe-se, no entanto, que
no período de formalização urbana até à sua consolidação, não eram tidas em
conta, linhas de orientação, regras de ocupação do território, resultando um
conjunto que se foi fixando arbitrariamente dando uma configuração próxima da
que conhecemos hoje em dia2. As ruas variavam as dimensões e entrecruzavam-
se na medida das necessidades do território e crescimento urbano, caraterizando
esta malha. Neste território, poucas eram as construções com qualidade
arquitetónica, havendo na sua maioria edifícios humildes, carateristicamente de
três pisos, sendo o térreo de teto baixo, em terra batida ou lajeado e os pisos
superiores construídos em tabique, com ressaltos salientes3.
2
“A projecção das obras públicas era descuidada e arbitrária, irregular e desarmoniosa, e os
edifícios erguiam-se à vontade do freguês, sem atender ao prospecto geral, desfigurando a
unidade e corcovando ruas e vielas, que seguiam depois alombadas, sem passeios e sem
sarjetas, edifícios desalinhados, que prejudicavam o ornamento da vila e não atendiam à decência
e comodidade dos seus habitantes.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 21-22)
3
“Afora meia dúzia de edifícios armoriados e afidalgados, de três ou quatro conventos de
majestoso aspecto, com suas cercas e couvais, a casaria vulgar, quer a que embarrava com as
altas muralhas, quer a que ladeava as cangostas, tinha o piso térreo ou lajeado e sobrados de teto
baixo.
51
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Para este estudo a análise será feita de Norte para Sul, seguindo pela
ordem: Largo Cónego Maria Gomes; Praça de S. Tiago; Praça da Sra. da Oliveira;
Largo João Franco; Largo Condessa do Juncal; Praça do Toural e por último, a
Alameda de São Dâmaso.
As portas de entrada tinham postigo, e os primeiros e segundos andares eram na sua maioria de
tabique, com ressaltos de alguns palmos. Os beirais eram muito salientes e forrados.” (BRAGA,
1992, ASMV, p. 22)
52
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
b
a
Fig. 10 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 11 - Planta, Planta do Largo Cónego Maria
Largo Cónego Maria Gomes na planta de Gomes, 1569
Guimarães, 1569
Esta zona era muito concorrida, quer por ser uma zona arejada, quer por ser
habitada por abades e famílias abastadas4.
4
“Na rua de Santa Maria, os cónegos, os abades, e por aí acima, rua da Infesta, Sabugal, nessa
corda até ao Castelo, os mais abastados e os pobres, porque era o ponto mais desafogado da vila
e o mais concorrido, por via da mancha dos conventos de frades e freiras, que desandavam para o
exterior o pão e o caldo da caridade a todos os pedintes, e as claristas os mimos, os doces e as
palavras de conceito apaixonado e brejeiro, coadas pelo crivo da roda aos admiradores e
lamechas, que iam ali como que elas encapavam a mais variada doçura e colavam os maçapais
de amêndoa trilhada.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 27)
53
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
do largo. Um pouco mais tarde, em 1862, ficou decidido o desaterro deste para
regularizar seu o piso6. A 1 de Julho do ano seguinte a obra ainda estava por
concluir, uma vez que foi tomada a decisão de não levantar o cruzeiro para a
conclusão da intervenção7.
5
“1856 – XI – 18 – arrematação do cano mestre da rua de St.ª Maria. 125” (FARIA, 1933, VOC II,
p. 459v)
6
“ -1862 – XII – 17 – arrematado desaterro do terreiro de St.ª Clara – 216 –“ (FARIA, 1933, VOC
II, p. 460v)
7
“1863 – VII – 1 – resolvido não levantar mais o cruzeiro do terreiro de St.ª Clara, que se apeará
p.ª regularização do largo. -52vº-” (FARIA, 1933, VOC II, p. 461)
8
“( 8 Março) 1817 A Camara, tendo em vista“(…) que os vendedores de madeira sejam mudados
para o terreiro de Santa Clara” cuja determinação seria notificada aos referidos interessados para
assim a executarem, sob pena de condemnação de seis mil reis pagos da cadeia.” (FARIA, 1933,
EV I, p. 247v)
“1823 – XI – 15 – Mandou-se voltar do terreiro de St.ª Clara para o da Misericórdia a feira da
madeira, por ter cessado o motivo da mudança que era existir aqui o corpo da guarda do
regimento 15, e que a feira fosse feita junto á cadeia para dar lugar a mais que ali se faz. – 140- ”
(FARIA, 1933, VOC II, p. 438v)
9
“(1877) -30-V- Delib. Que desde 8 de Junho a vendagem de madeira seja no terreiro de St.ª
Clara, e as tendas e outros objectos que se vendiam no Toural se faça no Campo da Misericordia.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 151v)
10
“(4 Outubro) 1869 A Camara representa a el-rei, pedindo-lhe o convento de St.ª Clara, e,
obtendo-o, cede o de S. Domingos para hospital militar.” (FARIA, 1933, EV IV. p. 13v)
54
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
11
“1871 – XI – 22 Delib. Representar a pedir o convento de St.ª Clara p.ª nelle installar as
repartições publicas; porque tendo, em cumprimento das leis, dar casa a Administração, Fazenda,
Conservatoria e Tribunal judicial; aquellas 3 estão n´uma acanhada e alugada, e este está no
extinto convento de S. Domingos o qual está em estado de ruina, pelo que o Juiz de Direito pede
lhe deem outro edifício, mas como n´esta cidade não há edifícios particulares em condições de
servir para o tribunal: lembra que o convento de St.ª Clara onde vivem algumas pensionistas e
duas freiras professas bastante idosas; pede a V. Mg. de que transfira as duas freiras para o
convento das Dominicanas d´esta cidade ou para qualquer outro do districto e lhe ceda o dito
convento de St.ª Clara e n´elle poderá a Camara instalar todas as ditas repartições.” (FARIA,
1933, VOC II, p. 149)
12
“(1874) 10–IX– Delib. Representar ao Governo para que seja concedido a esta camara, pelo
preço da respectiva avaliação, o Convento de St.ª Clara, para n´elle ser estabelecido o tribunal
judicial e outras repartições publicas.” (FARIA, 1933, VOC II, p. 150v)
13
“(5 Março) 1879 A Camara delibera representar ás camaras legislativas pedindo seja concedido
ao município o edifício do convento e cerca de St.ª Clara depois do fallecimento das duas
55
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
religiosas do mesmo, ainda existentes, afim de ali serem estabelecidas diversas repartições
publicas.” (FARIA, 1933, EV I, p. 240v)
“(9 de Agosto de 1887) – Senhor – Dir. a Camara municipal de Guimarães, que n´esta cidade
existem dois dos extinctos conventos, 1 de St.ª Clara, outro de St. ª Rosa de Lima, ou Dominicas.
(…) Vem por isso a Supplicante pedir para que o Governo de V. Mag. De conceda á Camara de
Guimarães, propondo-se lei, se assim for necessário, os edifícios, capellas e cercas respectivas,
para as diversas repartições publicas a cargo deste municipio e transferindo-se a posse á Camara
somente quando falecerem as ultimas freiras.(…) Guimarães 9 de Agosto de 1887.” (FARIA, 1933,
VOC II, p. 246)
14
“(8 Setembro) 1891 Pelas10 horas da noite, falleceu no mosteiro de St.ª Clara a madre “Antonia
(Viegas”) Amalia Assumpção, vigaria in capite e ultima religiosa professora d´este convento,
ficando extincto o mesmo cenóbio, como já estavam todos os de Guimarães.(…)” (FARIA, 1933,
EV III. p. 238v)
15
“(19 Agosto) 1893 Decreto concedendo provisoriamente á Collegiada o edifício do extincto
convento de St.ª Clara e suas dependências para n´elle se estabelecer exclusivamente o
seminário de Nossa Senhora da Oliveira, podendo para isso fazerem-se as obras necessárias,
devendo serem pagas pela importância em deposito dos rendimentos accumulados que eram
privativos do D. Prior; o qual foi publicado a 24 d´este no n.º 18 do Diario do Governo.” (FARIA,
1933, EV III. p. 162)
16
“(30 Agosto) 1893 Principiaram as obras no convento de St.ª Clara de adopção para o
seminário, apesar da repartição da Fazenda Nacional ainda não ter dado posse d´elle convento ao
R. mo Cabido, a quem fôra concedido. – Vide 16 de Agosto de 1902-” (FARIA, 1933, EV III. p.
192v)
17
“(24 Agosto) 1911 O Governo concedeu o extincto convento de St.ª Clara para installação do
Internato Municipal.” (FARIA, 1933, EV III. p. 199)
“(25 Agosto) 1911 Decreto cedendo á Camara “a parte do antigo convento de St.ª Clara” de
Guimarães, “onde estava installado um seminário, a fim de n´elle estabelecer um internato para
estudantes menores. 2.º - Esta cedência é feita a titulo provisório, até que definitivamente se dê,
áquelle edifício, algumas das applicações designadas em qualquer dos 4 numeros do art.º 104 do
decreto” de 20 de Abril ultimo. Está assignado por Antonio José d´Almeida e Affonso Costa. ”
(FARIA, 1933, EV III. p. 176v)
56
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 13 - Postal, Convento de Santa Clara a funcionar como Liceu, início do séc. XX
18
“(11 Janeiro) 1924 Foi deliberado que o terreiro de St.ª Clara se denomine Largo do Cónego
José Maria Gomes” (FARIA, 1933, EV I, p. 36v)
57
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 15 - Planta, planta de recuperação pela equipa dos Monumentos Nacionais, meados do séc. XX
58
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
A Casa dos Carneiros que se vê identificada na figura 16, era uma das
casas que fazia parte da Rua de Santa Maria, um edifício construído no séc. XIX,
e que pertencia à família Semães. Este edifício é constituído por um piso térreo,
onde se desenvolveriam as “lojas” da construção e mais dois pisos e sótão, onde
se desenvolveria a habitação e respetivos cómodos. Mais tarde o edifício foi
adquirido pela família Carneiro, que acabou por batiza-la com o nome de Casa
dos Carneiros. Em 1992 o edifício foi inaugurado como Biblioteca de Municipal de
Guimarães, que funciona na mesma atividade até aos dias de hoje19.
19
“(…) a “Casa dos Carneiro”, um edifício do séc. XIX, propriedade da família vimaranense
SEMÃES, vindo posteriormente a pertencer à família CARNEIRO, situada em pleno centro
histórico, em frente ao edifício da Câmara Municipal de Guimarães. A 7 de março de 1992, é
inaugurada a Biblioteca Municipal Raul Brandão. O seu patrono foi um grande escritor e
dramaturgo que viveu de 1886 a 1901 em Guimarães.”, 2014
59
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
D3
D2
b PC
C
D1
P .
..
..
c
d
Fig. 17- Planta, Planta de localização da atual Fig. 18 - Planta, planta de pormenor da Praça de S.
Praça de S. Tiago na Planta de Guimarães, 1569 Tiago, 1569
20
“Desta Praça do Peixe sahem três ruas, a primeira a rua dos Fornos, porque nella os haviam
algum dia públicos, dos quaes não só se aproveitavam os padeiros, mas toda a gente da villa,
para a parte d´entre norte, e nascente se encontra esta rua dos Fornos com a rua do Gado, e esta
com a do Paço, e sendo todas místicas se vão encontrar com a rua da Infesta no districto da villa
Araduca, fazendo sahida pela porta da Garrida, hoje de Santo Antonio, por ter sua imagem, e
defronte o seu mosteiro. A segunda rua que sahe da Praça do Peixe é a do Espirito Santo, que
antigamente foi da Judiaria, aonde esteve Queto, e fazendo sua guarida para poente, para no
terreiro da Misericórdia. A terceira rua que sahe da Praça do Peixe, é a rua Escura, por ler
serventia para o sul, e ali divide a rua dos Mercadores da Sapateira.” (AZEVEDO, 2000, p. 313)
61
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
todos atualmente demolidos. Esta capela foi uma construção erigida no séc. XVII,
no lugar original de um templo pagão dedicado à deusa Ceres21.
A capela de S. Thiago (C), assim como um conjunto de edifícios (D1) adossados
a esta, fechavam o espaço da praça do Peixe (P) a nascente. A Norte e a poente
existe uma mancha edificada que se mantem até aos dias de hoje e a Sul era
marcada por uma alpendrada ao comprimento da fachada. Era conhecida como a
Praça do Peixe, pois era aqui que os peixeiros exerciam o seu ofício, como outros
ofícios alimentares tais como o fabrico22 e venda de pão e vinho23.
21
“Na Praça de S. Tiago, cuja capela, que foi demolida em 1887, sbstituira a primitiva que estava
em ruína em 1600(…).” (OLIVEIRA, 1985, p. 21)
“(…)está situada a igreja de S. Thiago, que foi antigamente templo de Ceres, no qual o sagrado
apostolo derrubando os ídolos, colocou a imagem de Nossa Senhora, cuja imagem depois foi
trasladada para o mosteiro de Muma Dona, que hoje é a real Collegiada da Oliveira.” (AZEVEDO,
2000, p. 312)
22
“E para quem deles se quisesse utilizar em comunidade, havia os fornos públicos, nas ruas de
S. Tiago, Judiaria, Gatos, Eirado, Guardal, Tulha e Fornos.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 21)
23
“(…) é esta Praça muito habitada de gente, especialmente peixeiros, que ali de tempos antigos
manejam seu trafego. É cercada de casas ministeriães de pão, e vinho, sendo principal entre
estas lojas a que antigamente foi casa de contos, e hoje serve de castigo de malfeitores.”
(AZEVEDO, 2000, p. 313)
24
“(21 Julho) 1852 A Camara comprou por 180$000 reis umas casas da praça de S. Thiago a
Manuel José Pinto para augmentar a casa dos expostos.” (FARIA, 1933, EV III, p. 61)
25
“(2 Abril) 1872 Instalação do Banco de Guimarães, na casa n.º 29 da praça de S. Thiago,
principiando a funcionar em 1 de Fevereiro de 1873.” (FARIA, 1933, EV II, p. 4v)
26
“(1882) -4-1- Por proposta do Vice-presidente, foi deliberado expropriar a capella de S. Thiago.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 154A)
62
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
27
“Daqueles casebres imundos emanam partículas deletérias que comprometem a saúde pública“
(O Comércio de Guimarães de 16 de Outubro de 1884).
28
“(10 Junho) 1885 A Camara resolve mandar proceder á expropriação da capella de S. Thiago, a
fim de serem concluídos os melhoramentos no solo da praça assim denominada.” (FARIA, 1933,
EV II, p. 252v)
29
“(…) proceder a melhoramentos no largo de S. Tiago, porque nisso havia reconhecida vantagem
mais crescida ainda da boa higiene, pois todos conhecemos as más condições do local e suas
pertenças bem como vemos as ruínas, que ameaçam algumas das construções da travessa do
mesmo nome, que são acanhadas e velhas, desmanteladas e sujas”. (Comércio de Guimarães, 6
de Julho de 1885)
63
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
30
“(1886) -12-IV- Requerer a secularização da capella de S. Thiago e promover o processo judicial
da sua expropriação logo que chegar a planta” (FARIA, 1933, VOC II. p. 161)
31
“(6 Maio) 1886 Carta de lei auctorisando a camara municipal a demolir a capella de S. Thiago,
desta cidade.” (FARIA, 1933, EV II, p.120)
32
“(1886) -2-VI- Resolv. Que visto ter sido enviada á Camara a planta da capella situada na praça
de S. Thiago d´esta cidade, se proceda á expropriação judicial da mesma capella, conforme o
decreto de 6-V ultimo, ficando auctorisado o Presidente, ou quem suas veses fizer, a promover e
fazer promover em juízo todos os termos do respectivo processo.” (FARIA, 1933, VOC II. p. 161)
“(1886) Resolv. Que seja posta em praça a obra da demolição da capella de S. Thiago da praça
do mesmo nome. (…)”(FARIA, 1933, VOC II. p. 161)
33
“(21 Janeiro) 1887 – 6ª feira – Por ordem da Camara principia a demolição da capella de S.
Thiago, sita no largo do mesmo nome, antiga Praça do Peixe, e depois Praça de S. Thiago.”
(FARIA, 1933, EV I, p.65v)
34
“(15 Dezembro) 1902 – 2.ª feira- Começaram os trabalhos de installação da casa da esquadra,
no edifício da administração do concelho, casa das Lamellas, e nomeação provisória do pessoal
do corpo de policia civil.” (FARIA, 1933, EV IV, p. 257)
35
“(1905) -6-IX- Em sessão foram approvados os projectos e orçamentos seguintes: (…)
Alargamento e aformoseamento da praça de S. Thiago 17:620$000 reis.(…) – Reparação,
melhoramento e afromoseamento do largo de D. Affonso Henriques 2:300$000reis. – Construção
d´uma rua entre os campos de S. Francisco e da Feira 18:500$000 reis. (…) Foram approvadas
superiormente no fim de Setembro, ou antes de 5 de Outubro de 1904.” (FARIA, 1933, VOC II. p.
163)
64
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
65
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Por falta de meios financeiros para o arranjo urbanístico, este projeto passou para
a área hoje ocupada pelo Tribunal de Guimarães, na Praça da Mumadona, que
teve iniciada a sua construção mas, não foi concretizada.
36
“(…) é exemplar único e pouco vulgar, puramente seiscentista. Tem o rés-do-chão de pedra,
avultando logo como que uma meia laranja de gomos de pedra, elegante saliência que suporta o
primeiro andar, também de pedra, rematando com o enxerto do segundo andar, liso e de tabique.”
(Revista de Guimarães n.º 69, 1958, p. 170)
66
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
acabou por não ser reconstruída exatamente como era, e foi-lhe modificado a
fachada agora voltada a norte, onde lhe acrescentaram uma varanda e duas
janelas que, originalmente estava encostada a outro edifício e tinha essa parede
cega (lado esquerdo da figura 23 e 24).
“Casa medieval”
67
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
.
. ..
PC .
..
.
..
.
..
.
. PS
. . .. a
..
.. O
. .. ..
. .
. ..
b.
.
.
.
..
Fig. 25 - Planta, Planta de localização da atual
.
Fig. 26 - Planta, Praça da Nossa Senhora da
Praça da Nossa Senhora da Oliveira, na Planta de Oliveira, 1569
Guimarães, 1569
69
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 27 - Fotografia, Frente nascente da Praça de Nossa Senhora da Oliveira, primeira década do séc.
XX.
37
“Quanto ao Largo da Oliveira estava assinalada a alpendrada do lado poente e sul que, nesta
direcção, se prolongava até à Viela do Esterpão, assim como o Padrão e a oliveira, (…).
(OLIVEIRA, 1985, p. 22)
38
“(14 Fevereiro) 1900 A Camara municipal approvou, para submetter á approvação superior, os
projectos e orçamentos para as obras e melhoramentos seguintes: (…); corte da alpendrada do
largo da Sr.ª da Oliveira á Sr.ª da Guia 2:600$000 de reis;(…)” (FARIA, 1933, EV I, p. 160)
39
“A praça do Padrão da Victoria em que está plantada a oliveira, é toda ladrilhada de pedra: e por
ser o sitio em que se fundou o novo Burgo, como dissemos, lhe chamaram Praça Maior, que com
igual grandeza fazem magestosa a povoação: é esta praça vistosa pela assistência do padrão da
Senhora, e agradável pelo sussuro das tres bicas de agoa que correm no seu tanque: pela nobre
torre dos sinos da igreja Collegiada, e pela occurrencia de gente que a ella vem. É fechado pelo
nascente pela igreja Collegiada, e dali a ponente pelas casas de seus vizinhos, todas com
70
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
alpenderadas sobre columnas de pedra. De poente a norte se adorna com a casa da camara, e
audiências que estando sobre arcos de pedra dão passagem para que desta praça possam passar
á outra do peixe(…)”- (AZEVEDO, 2000, p. 311-312)
40
“Do pelourinho de Guimarães nada fica para a Idade Média. Não existia na Praça, a julgar pelo
mais cerrado silêncio de milhares de diplomas compulsados. As notícias posteriores – séculos
XVII – dão conta da sua existência, para os lados de S. Francisco”. (FERREIRA, 1997, p. 325)
71
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
41
“O tanque encostado à torre da igreja e construído no século XV foi demolido em 1904 e
entregues à Sociedade Martins Sarmento as pedras de armas que o ladeavam e se guardam no
Museu daquela Sociedade.” (OLIVEIRA, 1985, p. 22)
42
“(20 Agosto) 1904 Foi demolido o tanque da praça de N. Sr.ª da Oliveira, que estava encostado
á torre.” (FARIA, 1933, EV III, p. 164v)
43
“1830 Principia a desastrosa restauração na igreja Collegiada. PS. – No caderno das contas da
despesa da mesma, principiou a 9 de Junho” (FARIA, 1933, EV2, p. 262v)
72
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
44
“(12 Julho) 1832 Suspendem-se as obras da reforma da igreja Collegiada, por causa do estado
critico em que se achava a terra. – P.S. (e os fundos da fabrica foram para D. Miguel).” (FARIA,
1933, EV III, p. 33v)
45
“1834 Reabrem as obras da reforma da igreja da colegiada as quaes tinham (principiado em 14
de Junho de 1830) parado em 12 de Julho de 1832 quando o sr. D. Pedro entrou no Porto com a
sua divisão. Agora continuaram em virtude d´um subsidio que para tal fim offerecêra, três mil
cruzados, o tesoureiro – mor Thomé Luiz Felgueiras, em rasão da Fabrica estar exhaurida de
dinheiros porque os que possuía foram por ordem do Sr. D. Miguel para a thesouraria do seu
exercito.” (FARIA, 1933, EV I, p. 168v)
46
“1837 Tornaram a continuar as obras da collegiada, que estavam paradas á perto de 2 annos
por haverem sido suspendidas por ordem do Governador Civil de Braga. (…)“ (FARIA, 1933, EV1,
p. 156v)
47
“1840 Principiou o Cabido a fazer o côro na capella-mor, por estar já quasi concluída a obra da
igreja. PS. Foi uma desastrada restauração em toda a igreja, a qual ficou parecendo mais sala de
visitas que casa da Oração e habitação de Deus.” (FARIA, 1933, EV1, p. 238)
48
“1910 Decreto, d´esta data e publicado no Diario do Governo de 23 d´este mez, designando os
immoveis que devem ser considerados monumentos nacionaes, e, entre elles os seguintes: (…)
Igrejas: Igreja de S. Miguel do Castello – Igreja de N. Sr.ª da Oliveira. – Igreja de S. Domingos
(Claustro). – Igreja de S. Martinho de Candoso. (…)”(FARIA, 1933, EV2, p. 267v)
49
“(15 Agosto) 1926 Andavam obras no Claustro que foi de N. Sr.ª da Oliveira.” (FARIA, 1933, EV
III. p. 150)
50
“(30 Dezembro) 1880 A real associação architectos civis e archeologos portuguezes, em
assemblea geral considera o Padrão de N. Sr.ª da Victoria monumento histórico de 2.ª classe.”
(FARIA, 1933, EV IV. p.292v)
73
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Como se pode ver na figura 30, entre o Padrão e a Oliveira nos edifícios do
lado poente da Praça, as alpendradas, ainda existiam, e criavam corredores
cobertos ao nível do piso térreo que eram normalmente usados para pequenas
vendas, normalmente dos habitantes locais e garantia abrigo em dias de
intempérie. Em 1874 deram a primeira permissão para fechar a alpendrada52,
acabando, esta fachada alpendrada, por ser toda fechada e criados passeios
51
“(19 Setembro) 1913 Foram retiradas as grades de ferro que circundavam o adro principal e o
padrão da igreja Collegiada.” (FARIA, 1933, EV III, p. 273)
52
“(1874) -11-XI- concedeu a licença pedida por Anna Carolina da Silva para tapar o alpendre
(lado poente) da praça de N. Sr.ª da Oliveira em frente á sua casa.” (FARIA, 1933, VOC II. p.
150v)
74
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
53
“(Sem mez nem dia) 1874 Concertou-se a rua Nova do Muro, fizeram-se passeios e calcetou-se.
Taparam-se os alpendres das casas do lado poente da praça Maior ou de N. Sr.ª da Oliveira.(…)”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 322)
54
“1900 - A Camara municipal approvou, para submeter á aprovação superior, os projetos e
orçamentos para obras e melhoramentos seguintes: canalização e abastecimento das águas da
cidade, 35:000$000 de reis; corte e alinhamento da rua da Rainha, d´esta cidade 6:000$000 de
reis; corte da alpendrada do largo da Sr.ª da Oliveira à Sr.ª da Guia 2:6000$000 de reis(…)”
(FARIA, 1933, EV I, p. 160v)
75
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
no piso 1, deixando o piso térreo livre para atravessamento público para a Praça
de S. Tiago. O edifício é sustentado por arcos ogivais, com contrafortes, (à direita
na Fig.32), e o exterior é rebocado. As cinco janelas voltadas para a Praça da
Nossa Senhora da Oliveira são decoradas com frontões triangulares e em cima
destas estão dois escudos reais e três esferas armilares que na gravura
aparecem alternados55. Sobre a platibanda, existiam um sino municipal e um
relógio de sol e, em 1876, foi deliberado ser a figura representante de Guimarães,
que ornamentava a alfândega, os substituísse56. Num restauro realizado na
segunda metade do séc. XIX, a esfera da segunda janela e o escudo da terceira
trocaram de posições.
55
“As casas da camara, e das audiências estão misticas, e ambas fazem frente para a Praça
Maior, com uma galaria de janellas com grades de ferro de encosto pintadas, e douradas, são
ambas coroadas de ameias, e no alto de suas paredes tem o escudo das armas de Portugal(…).”
(AZEVEDO, 2000, p. 312)
56
“(1876) -15-V- Delib. Que a figura representante de Guimarães se colloque no edifício dos
Paços do Concelho. e que em 31-V se arremate a madeira, telha e columnas da Alfandega.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 151)
76
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
57
“(13 Novembro) 1871 Portaria do governo, que denega á Camara d´esta cidade a expropriação
da Oliveira que existia defronte do Padrão, no Largo ou praça de Nossa Senhora da Oliveira.”
(FARIA, 1933, EV IV. p.143v)
58
“(2 Dezembro) 1875 A Camara faz arrematar em hasta publica o tronco da oliveira e a grade
que a circuitava, existente em frente á Collegiada, que tinha expropriado ao Cabido.” (FARIA,
1933, EV IV. p. 229v)
“(5 Dezembro) 1875 Foi arrancado o tronco que restava da oliveira, que o José Martins comprou
por 1$400 reis p.ª collocar em outro sitio, e acabado de desfazer o polygno. – Vid. A 10 d´este-”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 235)
“(23 Dezembro) 1875 É transplantada d´entro d´um circuito de pedra, no meio do tanque da praça
de Nossa Senhora da Oliveira, a oliveira que estava n´um plintho actogno no centro do mesmo
77
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
largo em frente ao Padrão, a qual tinha sido ultimamente arrematada em hasta publica nos paços
do concelho, disendo-se que a iniciativa de tal transplantação (estupidez, collocar uma oliveira
n´um tanque d´água) e despesas da mesma eram á custa da bolça do presidente da camara.”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 278)
59
“(16 Fvereiro) 1881 Plantou-se outra oliveira no pequeno circuito que há pouco tempo tinha a
camara mandado fazer no meio do tanque que estava encostado á torre de N. Sr.ª da Oliveira; por
ter secado o tronco da antiga oliveira.” (FARIA, 1933, EV I, p. 165v)
60
“(15 Novembro) 1882 A Camara resolve mandar tirar de dentro do tanque da praça de N. Sr.ª da
Oliveira o pequeno muro que servia de resguardo á oliveira ali posta poucos annos antes, a qual
havia seccado, e mais que ali posesse seccariam.” (FARIA, 1933, EV IV. p. 159v)
78
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
d
c
D2
D1
IM
CM
b
Fig. 35 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 36 - Planta, Planta da área ocupada
Largo João Franco na Planta de Guimarães, 1569 atualmente pelo Largo João Franco, 1569
61
“Nesta rua Sapateira se formou um terreiro chamado da Misericordia, feito das casas, e quintaes
que os moradores deram de esmola, e outras que comprou esta irmandade, para que sua igreja e
hospital manifestem melhor sua grandeza.” (AZEVEDO, 2000, p. 314.)
62
Neste terreiro da Misericordia está para a parte do norte a cadêa da correição, e junto della
desmboca a rua do Espirito Santo, e delle sahe entre norte, e poente a rua de Val de Donas, que
sahe pelo lugar de Nossa Senhora da Graça, ou Santa Luzia, e tem para a parte de nascente um
rocio a que chamam do Mestre Escola, todo povoado de casas, e comunica com a rua dos
Fornos.” (AZEVEDO, 2000, p. 314).
79
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
63
“(2 Abril) 1588 Alvará regio concedendo á Misericordia poder expropriar os prédios precisos
para fazer a sua casa e igreja na rua da Sapateira. Foi passado em Lisboa.” (FARIA, 1933, EV II,
p. 6)
80
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
64
“No terreiro da Misericórdia viviam os nobres, os fidalgos.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 27)
81
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
65
“É o terreiro cercado todo de casas, e as que o formam da parte de nascente lhe chamam rua
do Ferreiro: da parte do sul é fechada pela igreja da santa irmandade, casa de despacho, e
hospital, e da parte do poente é fechado com casas da rua das flores, e pela parte do norte pelas
nobres casas que levantou o doutor Garcia de Carvalho moço fidalgo, e chanceler mór do reino,
casamenteiro, e testamenteiro d´el rei D. João 3.º, a quem o dito senhor deu a madeira de Ebano
com que são forradas.” (AZEVEDO, 2000, p. 314.)
66
“(18 Julho) 1818 A Camara determinou mandar construir o tanque no terreiro de N. Sr.ª da
Misericordia, visto a utilidade que resulta ao bem comum d´esta villa, que há annos se tem
requerido a este Senado pela Nobresa d´ella.” (FARIA, 1933, EV III, p. 51v)
82
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
madeiras67 e em 1830 ficou acordado que esta só ocuparia a zona entre o tanque
e a cadeia que funcionava nesta altura na Casa da Torre68.
Em Abril de 1862, foi acordado pela Camara a construção de obras de desaterro,
rebaixamento e nivelamento do Terreiro da Misericórdia69. Este foi arborizado,
sendo pontuado por árvores nos limites a nascente e poente.
A partir do início do séc. XX a praça sofreu significativas alterações: o piso foi
calcetado e criado o desenho estrutural do terreiro, que se desenvolve em linhas
de pedra em ziguezague, criando losangos entre a Casa da Misericórdia e a Casa
da Torre, e os passeios foram guarnecidos em granito.
Em 1910, a comissão Municipal deliberou que este Largo passasse a chamar-se
de Franco Castelo Branco70 e passadas quase duas décadas, em 1927, foram
construídos três estruturas ajardinadas no seu eixo central, figura 40.
67
“1823 – XI – 15 – Mandou-se voltar do terreiro de St.ª Clara para o da Misericórdia a feira da
madeira, por ter cessado o motivo da mudança que era existir aqui o corpo da guarda do
regimento 15, e que a feira fosse feita junto á cadeia para dar lugar a mais que ali se faz. – 140- ”
(FARIA, 1933, VOC II, p. 438v)
68
“(1830) -20-III- Acordaram q. a vendagem dos carros de madeira q. para isso vem a esta villa,
seja no terreiro da Misericordia, da direcção do tanque p.ª a cadeia, e não do lado d´aquella
direcção p.ª a igreja da Misericordia, por ser o lugar em as tendeiras vendem.” (FARIA, 1933, VOC
I. p. 232)
69
“1862 – IV – 9 – Foram arrematados pela Camara: - o desaterro, rebaixe e nivelamento da
terreiro da Misericórdia;” (FARIA, 1933, VOC II, p. 146)
70
“(2 Novembro) 1910 A commissão Municipal deliberou passassem a denominar-se: o Largo de
Franco Castello Branco, Campo da Misericordia; (…).” (FARIA, 1933, EV III. p. 117v)
83
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
71
“(26 Maio) 1934 – Sabbado – Chegou o busto do conselheiro João Franco” (FARIA, 1933, EV II,
p. 180)
(…) com busto de Teixeira Lopes, e no monumento a João Franco em Guimarães (1932-34), com
busto, também, do mesmo escultor (num jogo de ressaltos, vindos das Artes Decorativas e da
simbólica miniaturizada do castelo e suas torres). (CARDOSO, 1997, p.421)
84
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
h
c
R
d 2
I
e f
A
a
b
Fig. 42 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 43 - Planta, Planta da área ocupada
Largo Condessa do Juncal, na Planta de atualmente pelo Largo Condessa do Juncal, 1569
Guimarães, 1569
Esta área esteve sempre ligada à muralha pelo seu limite a Sul e tinha
duas Portas da vila que serviam para a entrada e saída da cidade, (Fig. 43): porta
1, a Porta Nova, ou postigo de S. Paio e a porta 2, a Porta da Torre Velha.
85
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
que ainda hoje existe e faz a ligação com a antiga Rua da Sapateira 72. Esta seria
uma zona de Habitação, e funcionaria como adro da Igreja de S. Paio (I), que era
orientada no sentido da Porta Nova (1). Contornando a Igreja pela esquerda
encontrava-se o início da Viela de Atraz - S. Paio, uma pequena via que
desembocava no Largo do Anjo (d) onde funcionava o centro social da área. O
cariz dos edifícios envolventes era a Igreja de S. Paio (I), o Albergue da Sr.ª do
Serviço (A) e o Recolhimento do Anjo (R). No Largo do Anjo confluíam todas as
ruas e vielas circundantes. Partindo deste largo para Sul existia o Largo dos
açougues (b), de onde nascia a Rua dos açougues (f), paralela aos edifícios
encostados à muralha, e terminava na Porta da Torre Velha (2). A meio deste
percurso havia a viela do anjo (e), que separava o Albergue (A) do Recolhimento
(R) e que nos levaria de novo ao Largo do Anjo (d). No sentido a Norte, existia a
antiga Rua da Tulha (g) que ia ter à Rua dos Mercadores que, por sua vez, fazia
ligação com a Praça da Senhora da Oliveira. Na Rua de Alcobaça ia ter à Porta
da Torre Velha, ou ao início da Rua Nova do Muro, que à semelhança da Rua dos
Açougues, era paralela à muralha e aos edifícios encostados a esta73.
Toda esta área, conhecida como Sam Paio, fazia parte do 6º bairro, dos 8
em que dividiram o território Vimaranense nos inícios do século XIX. Deste faziam
parte: a Rua Nova, Rua dos Açougues, S. Paio, Tulha, Alcobaça, Rua dos
Mercadores, Rua Donães, Eirado, Rua Sapateira, Rua Escura, Praça da Oliveira
e Rua do Postigo74.
72
“Para entre norte e poente sahe deste terreiro de Sam Payo a rua da Arrochella, que recebeu o
nome de Nicoláo de Arrochella, Francez que nella viveu, e desemboca no terreiro da Misericórdia,
e da rua Sapateira.” (AZEVEDO, 2000, p.315)
73
“Há de muros a dentro desta villa outro terreiro a que chamam de Sam Payo, aonde está a
igreja parrochial deste santo, é bem povoado de casas (…)” (AZEVEDO, 2000a, p. 315)
“A zona de S. Paio, onde existia a igreja paroquial, que foi demolida em 1914, era constituída pelo
Postigo de S. Paio que ligava o Toural ao Largo de S. Paio e onde também se iniciava a Rua dos
Açougues e o Largo do Anjo, ambos a sul da igreja, ficando-lhe a norte o corredor da Misericórdia
e a viela de Traz de S. Paio. Entre o Largo do Anjo e a Rua dos Açougues ficava a Viela do Anjo e
entre a Rua dos Açougues e a da Tulha ficava a Rua de Alcobaça que terminava nas escadinhas
da «Fonte dos Passarinhos».” (OLIVEIRA, 1986, p. 21)
74
“A 4-4-1807; como a 21-3-1807.- “attendendo a varias desordens q. continuam. te se estão
observando se determinou se dividisse a villa em bairros e cada um tivesse um juiz p.ª este com
os seus homens rondassem nos referidos bairros a saber: (…) 6º bairro – rua Nova, Açougues, S.
Paio, Tulha, Alcobassa, rua dos Mercadores, rua Donães, Eirado, rua Sapateira, rua Escura, praça
86
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Como se pode ver na planta da figura 43, há três edifícios com mancha
amarela. Estas construções remontam ao século XIII e foram demolidas no séc.
XX, com o alvor da primeira República.
A Igreja de S. Paio (I) já datava de 1216, como sendo uma igreja Paroquial na
época.75
Fig. 44 - Fotografia, Igreja S. Paio, 1915 Fig. 45 – Fotografia, Igreja S. Paio vista lateral, 1915
da Oliveira e rua do Postigo, juiz nomeado Franc.º Joaq. Asinheiro, sapateiro da rua Nova (…)”
(FARIA, 1933, VOC1, p.369v)
75
“Debalde revolvi os arquivos da confraria e irmandade erectas nesta paroquial igreja, com o alvo
de encontrar o ano da sua fundação primitiva. É todavia certo – a não ser mais notável a sua
antiguidade – que ela já existia como igreja paroquial, apresentada pelos D. Priores de Guimarães
no ano de 1216.” (CALDAS, 1996, p. 324)
76
- “Acanhada e humilde na sua origem, tendo contudo já em 1600 quatro altares no corpo da
igreja, passou por várias reformas e acréscimos, sendo levantada a capela-mor em 1703. Mas
como ainda nesta obra não fosse ela dotada de capacidade bastante para o movimento da
freguesia, determinou a confraria do SS. Sacramento, em 1789, dar-lhe mais largo espaço, e à
igreja mais altura e mais agradável aspecto: e principiando-se desde logo as obras, continuaram
com algumas interrupções, até 1796 em que se concluíra a restauração, no estilo moderno, em
que hoje se vê.” (CALDAS, 1996a, p. 324)
87
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
77
“1912 Principia, pela capella-mor, a demolição da igreja de S. Payo (outra victima da republica,
e neste dia anniversário da gloriosa lei de separação da igreja do estado).” (FARIA, 1933a, EV1. p.
55)
78
“(…) no ano de 1913. Foi nesse ano que em sessão da Câmara de 21 de Maio foi resolvido
representar ao Ministro da Justiça pedindo a demolição da igreja paroquial de S. Paio e que a
sede da freguesia passasse a ser instalada na igreja de S. Domingos, como veio a acontecer.”
(OLIVEIRA, 1986a, p. 22)
79
“1914 Decreto concedendo à camara de Guimarães o edifício da igreja parochial de S. Payo de
Guimarães.” (FARIA, 1933b, EV1. p. 194)
88
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Um outro edifício que fazia parte deste miolo era o Albergue da Senhora do
Serviço que funcionou como hospital do concelho no início do séc. XIII 82. Era
descrito pelo padre Caldas com sendo uma casa térrea, com quintal murado e
uma capela83.
81
“No dito terreiro de Sam Payo para norte corre a rua Traz Sam Payo, e de Traz Misericordia por
parar nas suas paredes, as quaes lhe dão sahida para o seu terreiro por um passadiço debaixo de
suas casas, o qual tem portas que se fecham de noite.” (AZEVEDO, 2000b, p. 315)
82
“(…) a Nobreza e o povo, mandaram chamar à câmara o guardião frei Miguel, e aí lhe fizeram
doação dum hospital, por outro nome Albergaria, no qual se recolhiam as pobres que passavam
de caminho, e por ser administrado pelo govêrno da vila se chamava o hospital do concelho. (…)
Foi feita a doação pelo juiz Mem Martins, e por todo o concelho a 23 de Novembro, ano de Cristo
de 1271, estando também presentes o alcaide-mor Pero Rodrigues, Fernão Gonçalves Cadilho, e
muitos homens bons, como então se chamavam os honrados.” (ALMEIDA, 1921, p.310)
83
“É uma casa térrea com limitada horta, sita no largo de S. Paio. Tinha noutro tempo adjunta uma
capela, que lhe deu o título, da qual nem vestígios restam.” (CALDAS, 1996b, p. 398)
89
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
84
“1865 – 10 – IV Camara cedeu terreno perto da igreja de St.ª Margarida P.ª edificação do
albergue de S. Payo, que os visinhos pertendem mudar. – 97 vº-” (FARIA, 1933d, VOC1. p. 462)
85
“1908 Desmoronou-se parte do albergue de N. Srª do Serviço, administrado pela Coraria, no
largo do Anjo.” (FARIA, 1933e, EV2. p. 236)
86
“A 6 de Dezembro de 1910 o engenheiro municipal Inácio Teixeira de Menezes, comunicava à
Câmara que “tanto o edifício do extinto Recolhimento do Anjo como o muro do quintal do Albergue
para pobres velhas situados na Rua dos Açougues e no Largo do Anjo, ameaçam ruína em grande
parte das suas paredes voltadas para aquela rua e para o largo dos Açougues, sendo um perigo
eminente para quem ali habita e para quem passa pela dita rua e largo”.” (ALMEIDA, 1921a, p.
305)
87
“1911 - 3.ª feira – Principiou demolir-se, por ordem da camara, o antigo albergue de N. Sr.ª do
Serviço, que era administrado pela communidade da curaria, tendo já à tempos mudado as
albergadas, mulheres pobres e velhas, para o extincto convento de S.ta Rosa de Lima,
“dominicanas”.” (FARIA, 1933f, EV3. p. 272v)
88
“1912 Quinta feira – Neste dia e no seguinte ficou quasi de todo demolido o albergue de N. Srª.
do Serviço, no terreiro das Beatas do Anjo, lateral à igreja de S. Payo; era administrado pela
communidade da Curaria e n´elle residiam 8 mulheres pobres e idosas.” (FARIA, 1933g, EV2. p.
132)
89
“(…) lançou a primeira pedra o Arcebispo de Braga D. Frei Telo, Religioso desta Ordem, com
muita solenidade no ano do Senhor de 1290 e deu muita parte do dinheiro que gastou na obra(…)”
(ALMEIDA, 1921b, p. 311. Cit. Por GONZAGA, p. 273)
90
“É opinião comum entre nós, que o actual recolhimento do anjo, sito no largo de S. Paio, fôra o
antigo hospital chamado do concelho, onde os frades franciscanos vieram de Vila Verde –
arrabaldes de Guimarães – instalar o seu segundo convento.” (CALDAS, 1996c, p. 355)
91
“(…)as pobres recolhidas do Anjo, que fabricavam hóstias(…)” (ALMEIDA, 1921c, p. 304)
90
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
tempo foi sofrendo várias alterações, como é o caso da capela que é inaugurada
no novo espaço, em 174892.
A área por ele ocupada tinha como limites a Viela do Anjo (e), Rua dos Açougues
(f), Rua de Alcobaça (g-h) e Rua da Tulha (g), como se pode ver na figura 43.
92
“Passou este recolhimento por várias reformas na sua fábrica; sendo mudada a capela para o
lugar, que hoje ocupa, e benzida em 1748.” (CALDAS, 1996d, p. 356)
91
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Outros edifícios, também antigos e com história, persistem na área que estamos a
analisar, como é o caso do asilo dos inválidos. Este edifício nasce devido à
necessidade de expansão da Santa casa da Misericórdia que, nos inícios do séc.
XIX, pela proximidade à instituição, se instala o Asilo dos Inválidos por trás da
93
“1864 Na 1ª dezena d´este mez: estando 1 gradeiro em cima de uma escada para guiar o
guindamento d´uma grade e vidraça que alguns devotos queriam mandar collocar no cruzeiro
pertencente ao recolhimento do Anjo e que estava no largo do Anjo, cahiu, ficando em estado
perigoso, de que lhe resultou a morte. Guindavam uma grade de 3 arrobas por umas cordas,
lançadas nos braços da pequena cruz, apenas segura por 1 pequeno espigão de ferro, à qual não
podendo com o peso, nem sustentando a força empregada para guindar a grade, desabou e
trouxe consigo o homem que estava na escada. A cruz e grade não cahiram longe de 8 crianças
que demoravam ali perto. – NE. a cruz com a imagem do crucificado foi substituída por uma nova,
mas de differente pedra e desenho, sendo então o cruzeiro apeado e collocado encostado ao
recolhimento, onde esteve à extinção e demolição do mesmo, em fins de 1910, sendo então
arrematado pelo dr. Luiz Cardoso, filho, que o mandou colocar na sua quinta de Margaride onde
ora está.” (FARIA, 1933h, EV1. p. 319v)
“1911 – 6ª feira – Foi apeado o cruzeiro do recolhimento do Anjo. O Pedestal só o foi na terça feira
19 d´este mez. – Está ora collocado na quinta de Margaride.” (FARIA, 1933i, EV4. p. 257)
94
Anexo 2 - “Excerto da ata da sessão extraordinária da Câmara Municipal de Guimarães. (AMAP-
M-1877-f.119v). (1910-11-11) A Câmara Municipal de Guimarães solicita ao Governo o edifício do
Recolhimento do Anjo, a fim de se promover à sua rápida demolição.”
95
Anexo 3 - “Diário do Governo n.º 67 (1911-03-23) 1251. Decreto a autorizar a Câmara Municipal
de Guimarães a proceder à demolição do edifício do antigo Recolhimento do Anjo”
96
“1911 Principiou a demolição interior da capella do recolhimento do Anjo (victima da republica)
e terminou no dia 22 de manhã, e conforme alagavam iam levando os objectos para o convento
das Capuchas. Dia da gloriosa lei de separação da igreja do estado.” (FARIA, 1933j, EV2. p. 55)
97
“Expropriação do terreno das casas pertencentes a Domingos José de Sousa e mulher, Ana
Sousa, Francisco Ferreira d’Andrade e mulher, Maria das Dores Figueiredo, para a obra de
aformoseamento do antigo Largo de São Paio.”
(Cota: AMAP-M-1744-f.38v-41v)
92
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Igreja da Misericórdia, num edifício que faz vizinhança também com a Igreja de S.
Paio em 180898.
Em 1843, a instituição recebe umas casas por doação de José Joaquim da Silva e
sua mulher, tendo sido levantado o edifício em 184499. Mais tarde, entre 1857-
1859, adquire uma casa e quintal que pertencia a Gonçalo Lopes Moreira, no
Largo de S. Paio, por decreto de expropriação por utilidade pública para dar maior
capacidade ao asilo, garantindo o espaço necessário à sua lotação e bom
funcionamento100, com capacidade para acolher aproximadamente vinte e seis
inválidos de ambos os sexos101, figura 49.
Atualmente este edifício ainda existe, foi sendo reparado e adaptado até a
função que desempenha hoje em dia como “Academia de Música Valentim
Moreira de Sá”.
98
“1808 Abertura, ou instalação, do asylo de Invalidos, no largo de S. Payo, administrado pela
Misericórdia.” (FARIA, 1933k, EV1, p. 3)
99
“Posto que a benemérita corporação da Santa Casa da Misericórdia logo desde a sua fundação
socorresse entrevados pobres nos seus domicílios só mais tarde possuiu um edifício, onde os
recolhesse convenientemente.
Tal edifício foi levantado em 1844, no largo de S. Paio, numas casas doadas para tal fim, no 1º de
julho de 1843, pelo piedoso cidadão José Joaquim da Silva e sua mulher. É administradora deste
pio estabelecimento a mesa desta corporação, que possui para a sustentação dos Inválidos um
fundo de 27:302$735 reis.” (CALDAS, 1996e, p. 394)
100
“1857 é julgada por sentença a expropriação de uma casa e quintal, sitos no largo de S. Payo,
pertencente a Gonçalo Lopes Moreira, para dar maior capacidade ao asylo dos Invalidos
administrado pela Misericórdia.” (FARIA, 1933l, EV1. p. 283)
“1857 Decreto, expedido pelo ministério das obras Publicas, mandando que por utilidade publica
se proceda à expropriação d´uma casa e quintal, no largo de S. Payo, pertencente a Gonçalo
Lopes Moreira, passando à Misericórdia para dar maior capacidade ao hospital dos Entrevados –
Vide 12 de Janeiro de 1859.” (FARIA, 1933m, EV1. p. 43)
101
“Recebe vinte e seis inválidos de ambos os sexos, aos quais dá casa e mesa, vestido e 20 reis
diários a cada um, com o que anualmente dispende, termo médio, 999$428 reis.
Neste asilo distribui-se na noite de Natal uma ceia a 24 pobres, convidados pela mesa.” (CALDAS,
1996f, p. 394)
93
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Um outro edifício é a Casa dos Amarais, é uma casa Nobre e foi construída nos
finais do séc. XVIII, inícios do séc. XIX. É uma construção que se desenvolve
essencialmente em dois pisos, um térreo onde funcionariam as divisões dos
serviçais e no primeiro piso o andar Nobre.
Como se pode ver na figura 50, é dotada de três pares de portas no piso térreo,
tendo sido uma alterada para janela, posteriormente à construção, e três pares de
janelões com varandim no andar Nobre, o que lhe confere alguma horizontalidade
94
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 50 - Fotografia, Casa dos Amarais em recuperação para conclusão da “Casa do Juncal”, 2013
102
“A casa dos Amarais, no extremo da rua Dr. Avelino Germano, que abre para o Largo
Condessa do Juncal é, provavelmente, dos fins do século XVIII, inícios do XIX. Com um piso
térreo e andar nobre, apresenta ainda decoração de permanência setecentista no portal, e uma
certa horizontalidade criada pelo correr de janelas de sacada agrupadas no registo superior, mas a
forte marcação barroca de um eixo central tende a diluir-se, para isso contribuindo a inexistência
de um vão central nobilitado pela pedra de armas. Esta foi colocada junto à cornija, sobre um
intervalo entre o par central de janelas.” (MATOSO, 2002, p. 332)
95
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Situava-se na Viela Atraz – S. Paio, atrás da Igreja de S. Paio, como se pode ver
na figura 51 pela inscrição publicitária. Hoje em dia, depois de restaurada e
reabilitada é usada para habitação, figura 52.
96
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 53 - Fotografia, Casa no limite Poente do Fig. 54 - Fotografia, Casa no limite poente do
Largo, 1952 Largo, 1984
103
“(1) Açougue, primitivamente, era a praça, onde em lojas ou barracas se vendiam a carne, o
peixe e mais géneros. Séculos passados, aos açougues foi dada a sua função própria de
serventia. Em Guimarães, aí por 1612, a casa dos açougues públicos ficava perto dos Paços do
Concelho. Depois passou para a Rua dos Açougues, que mais tarde tomou o nome de Rua do
Anjo.” (BRAGA, 1853, p. 63)
“1877 A Camara deliberou mandar concertar os telhados da casa dos açougues e demolir a
alpendrada de fora.” (FARIA, 1933n, EV3. p. 50v)
104
“1927 Foi mudada a feira do leite, para o largo Condessa do Juncal.” (FARIA, 1933o, EV4. p.
159)
97
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
2
.
..
. ..
..
.. C
a
.. .
. ..
.. .
..
.. 1
.
Ch
Fig. 55 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 56 - Planta, Planta da área ocupada
Toural na planta de Guimarães, 1569 atualmente pelo Toural, 1569
Na planta do séc. XVI, como se pode ver na figura 56, os limites a Norte e
a Poente eram delimitados por uma espécie de passeio coberto pelos alpendres
dos edifícios. Já o limite a Nascente contava com a muralha, do miolo da vila
intramuralhas, e as entradas a Norte pela Torre de S. Domingos, a Porta da Vila e
a Nascente com a entrada da Porta Nova que dava acesso a S. Paio. No séc.
XVII, teria uma imagem próxima da ilustração da figura 3.
Num primeiro plano, o chafariz quinhentista (Ch) que na última intervenção voltou
ao seu lugar original e o Cruzeiro do Fiado (C) no seu extremo oposto, a Norte,
sendo fechada a poente com casas alpendradas e a nascente pela muralha105.
105
“Toda esta Praça do Toural é fechada de norte e nascente com o muro da vila. De nascente ao
vendaval é aberta e comunica com o terreiro de S. Sebastião. Do vendaval é fechada com casas;
99
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
e do vendaval a poente é fechada com casas de alpendrada sobre colunas de pedra, e da mesma
maneira do poente a norte.” (AZEVEDO, 2000, cap. 89, p. 21)
106
“(18 Março) 1782 Provisão regia concedendo á irmandade de S. Pedro, que já tinha a sua
capella no Toural, onde funcionava, a qual era sem regularidade nem architetura, por modo de
barraca de madeira entre casas suas, tendo apenas 20 palmos de largura e 80 de comprimento,
para que podesse ampliar e fazer a sua igreja, redusindo-a a melhor e mais decente forma no
terreno da mesma irmandade.” (FARIA, 1933, EV I, p. 279)
107
“(4 Novembro) 1880 Reuniu-se na sacristia de S. Pedro a junta magna d´esta irmandade para a
approvação do risco para ás mesmas obras, logo que o risco seja aprovado pela associação dos
architectos de Lisboa.” (FARIA, 1933, EV IV, p. 125)
108
“(4 Abril) 1881 Principiou-se a demolir as casas da irmandade de S. Pedro, que estavam em
frente ao corpo da igreja, para as obras da conclusão (frente toda) da mesma basilica. – Vide 4-
VII-1881-” (FARIA, 1933, EV II, p. 12v)
100
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
101
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
111
“Em 1859 – foram plantadas arvores de recreio no Toural, S. Franc.º e ponte do Campo da
Feira – 43 -” (FARIA, 1933, VOC II, p. 458v)
112
“(4 Junho) – 6ª f.ª – Coração de Jesus – Pavoroso incendio, pelas 2 horas da madrugada, que
reduziu a cinzas todas as casas do lado norte do Toural, excepto a da esquina poente por ser
construção moderna e de pedra,(…), por causa de uma explosão de pólvora, gaz, etc., do
armazém de molhados, materiais inflamáveis e refinação d´assucar pertencente ao negociante
João de Sousa Aguiar, onde pegara o incendio.” (FARIA, 1933, EV II, p. 233)
113
“- 16-VI-1869. O Vice presidente Dr. Avelino da Silva Guimarães, disse: Propondo que se tracte
de expropriar uma parte do terreno das ultimas casas incendiadas na praça do Toural, de modo
que a linha da frente fique em recta direcção á casa da esquina da rua da Porta da Villa. Sendo
aprovada esta minha proposta, deveria submetter-se á approvação do conselho de districto com
toda a brevidade.(…)” (FARIA, 1933, VOC II, p. 242v)
114
“(3 Junho) 1873 É demolido por deliberação da Camara o famoso chafariz do Toural, de
construção elegante, levantado em 1585 ou expensas da irmandade de N. Senhora do Rosario.”
(FARIA, 1933, EV II, p. 228v)
115
“(17 Setembro) 1890 É arrematada por 530$000 reis a obra de collocação do chafariz do Toural
no largo do Carmo.” (FARIA, 1933, EV III, p. 268v)
102
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
116
“(Sem mez nem dia) 1874 (…) e deitaram abaixo as arvores do Toural para fazer o jardim”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 322)
117
“(31 Dezembro) 1874 A Camara municipal delibera contrahir um emprestimo de 10:000$000
reis, ao juro de 6 por cento para a continuação e conclusão dos melhoramentos do campo do
Toural (…).” (FARIA, 1933, EV IV, p. 295v)
118
“(1877) O risco do Toural, foi feito por Marques Loureiro, do Porto” (FARIA, 1933, VOC II. p.
151v)
119
“(1 Março) 1880 Principiou-se a montar no jardim do Toural toda a parte metálica do coreto
para a musica. Foi fundida no Porto, fabricado Bolhão, por 500$000 reis. Inaugurado no dia 7, vide
dia 7; Pintado no mez de Maio. Na 1.ª semana do mez de Maio collocou-se ali o marco fontenário
de mármore branco. ” (FARIA, 1933, EV I, p. 228v)
120
“(7 Março) 1880 É inaugurado no jardim do Toural o pavilhão acústico, tocando n´elle a banda
“União Vimaranense”. Desde as 6 horas da tarde ás 10 e meia da noite. Desde este dia ficou a
cascata prompta e a deitar agua. Foi grande a concorrência de expectadores.” (FARIA, EV I, p
247v)
103
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
122
Em 1928 começaram novas obras de pavimento e ruas . A estátua de D.
Afonso Henriques passou a ocupar o centro da praça, como se vê na figura 62.
121
“(4 Julho) 1911 Principia a tirar-se as grades de ferro que vedavam o jardim do Toural.” (FARIA,
1933, EV III, p. 12)
122
“(23 Janeiro) 1928 Principiou a fazer-se de mosaico o pavimento, ruas, do jardim do Toural”
(FARIA, 1933, EV I, p.69)
104
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Até 2011, a Praça do Toural, manteve o aspeto que se vê na figura 63, ano
que antecede a intervenção feita na Capital Europeia da Cultura de 2012. Nesta
ultima intervenção, removem a escultura da Maria da Fonte, levantam todo o piso
de calçada Portuguesa, bem como os jardins e árvores de porte médio para dar
lugar a um outro tipo de intervenção.
105
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 64. Fotografia, Praça do Toural, reestruturação para a Capital Europeia da Cultura, 2012
106
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
ISD
2 e
d
a ISS
Fig. 65 - Planta, Planta de localização da atual Fig. 66 - Planta, Planta da área ocupada
Alameda de S. Dâmaso na Planta de Guimarães, atualmente pela Alameda de S. Dâmaso, 1569
1569
123
“(1860) -26-V- Arrematou-se o recuar 1 metro em linha recta do adro da igreja de S. Sebastião,
pelo lado sul.” (FARIA, 1933, VOC II. p. 145)
124
“1864 – I – 23 – resolvido demolir a igreja de S. Sebastião. – 120-” (FARIA, 1933, VOC II, p.
461v)
107
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
125
“(1892) -5-X- Deliberaram que o Passo que estava encostado á parede, lado norte, da igreja de
S. Sebastião, seja collocado junto á torre da igreja de S. Damazo.” (FARIA, 1933, VOC II. p.
156Av)
126
“(1 Novembro) 1892 Começou a ser alagado o adro da igreja de S. Sebastião; no dia 7 foi
tirada a grade (portas) lado norte, e no dia 24 as portas também de grades de ferro, lado poente.”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 116v)
127
“(8 Julho) 1892 Em sessão de Camara; com assistencia da respectiva junta de parochia, foi
decidido a demolição da igreja de S. Sebastião, dando a camara além da parte do convento das
Dominicas combinada 1:250$000 reis.” (FARIA, 1933, EV III. p. 21v)
128
“(3 Agosto) 1896 Principiaram as obras de terraplanagem e extracção de pedra do antigo largo
de S. Sebastião, para aformoseamento da praça de D. Affonso Henriques.” (FARIA, 1933, EV III.
p. 114v)
108
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
129
“(26 Novembro) 1896 -5.ª feira- Conclue-se a expropriação ou demolição da igreja e adro de S.
Sebastião, ficando n´este dia terraplanado o local e prompto a receber qualquer aformoseamento.”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 188)
130
“(1874) -3-XI- Delib. Pedir o decretamento, por utilidade publica, de expropriação da Alfandega
do peixe e dos prédios contíguos.” (FARIA, 1933, VOC II. p. 150v)
131
“(31 Dezembro) 1874 A Camara municipal delibera contrahir um empréstimo de 10:000$000
reis, ao juro de 6 por cento para (…); corte, expropriação e demolição da alpendrada da alfandega
do peixe, e dos prédios necessários para o alinhamento das casas do lado sul do mesmo campo
com a fachada do lado nascente do terreiro de S. Francisco e á abertura d´uma nova rua entre o
largo do Anjo e o dito terreiro de S. Francisco; e as sobras que podessem haver de taes obras,
para applicar em qualquer outra obra. Foi auctorisado pelo conselho de districto em 5 de Fevereiro
de 1875 e em 25 de Julho de 1875 foi assignado contracto com o Banco de Guimarães que se
obrigou a fazer o mesmo empréstimo.” (FARIA, 1933, EV IV. P. 295v)
132
“(1876) -15-V- Delib. Que a figura representante de Guimarães se colloque no edifício dos
Paços do Concelho. e que em 31-V se arremate a madeira, telha e columnas da Alfandega.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 151)
109
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Em 1910, esta área teria o aspeto que se vê na figura 68, com o octógono,
conforme se vê em primeiro plano na imagem. O largo funcionaria como rotunda.
Ao fundo do lado direito, a Igreja de São Francisco já existia em 1569 e ainda hoje
pode ser visitada após várias intervenções. Do lado esquerdo, ao fundo, vê-se
ainda a torre sineira da Igreja de S. Dâmaso e uma massa de habitações por trás
da escultura de D. Afonso Henriques situada ao centro da Praça do mesmo nome.
110
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
111
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
133
“(6 Maio) 1933 Decreto auctorisando a Camara Municipal de Guimarães a expropriar o Theatro
de D. Affonso Henriques, afim de ser prolongada a rua de S. Damazo até ao Largo da Republica
do Brasil.” (FARIA, 1933, EV II, p. 122v).
134
“1891 - X - 19 – Approvação do projecto e orçamento de uma rua do Toural ao Campo da
Feira” (FARIA, 1933, VOC II, p. 156A).
112
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
CAPITULO III
115
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
116
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
117
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
118
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
119
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
No Piso, foi desenhada a área que teria sido ocupada pela capela de S.
Tiago, e entre este eixo e a malha existente na Praça vizinha, foi criada uma
malha que prolonga a o desenho da Praça de Nossa Senhora da Oliveira e se
desmaterializa quando chega perto da via automóvel. Esta área é separada
fisicamente por uma sucessão de pilares de pedra ligados por correntes
condicionando o espaço ao uso pedestre. No pavimento também foi esculpida a
frase “A VOS HOMINES QUI VENISTES POPULARE IN VIMARANES ET AD
ILLOS QUI IBI HABITARE VOLUERINT” (A vós homens que viestes povoar
Guimarães e àqueles que aqui queiram habitar).
120
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
121
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
122
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
123
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
124
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
125
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
126
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
127
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
128
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
129
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Esta praça, não sofreu uma revitalização urbana ao nível das outras. Um
dos motivos pode ter sido a localização marginal do contexto dos percursos mais
importantes do Centro Histórico. Apesar da Porta Nova de S. Paio ter sido ao
longo da história uma porta importante de acesso ao centro, apresenta-se na
atualidade como um percurso secundário. Os outros acessos à praça são mais
caraterizados pela competência de saída e menos de entrada, desta forma, o
interesse dos usuários do Centro Histórico ao Largo Condessa do Juncal fica
secundarizado.
A área que sobra entre a intervenção ao nível dos passeios criados nos
limites da área tratada e a praça pré-existente é uma zona de geometria triangular
que foi arranjada na tentativa de potenciar estacionamento. Na tentativa de balizar
a área útil para arrumar os carros, foi desenhado em dois dos ângulos deste
estacionamento, uns triângulos em pedra de igual estereotomia dos passeios.
Por último foi criado um quiosque num extremo do eixo central da praça e
recolocado o Monumento dedicado ao Gravador Molarinho no outro extremo.
130
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
131
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Como se pode ver na figura 90, apesar do sol nunca iluminar diretamente
este lado do edifício, as árvores não só tapam a sua fachada como a ensombram,
mantendo sempre níveis de humidade insalubres e temperatura baixa. É um
edifício onde funciona atualmente um restaurante, e faz a sua entrada pelo lado
da Alameda, deixando o acesso pela fachada principal do edifício apenas para
quem a conhece.
132
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
O projeto englobou dois lotes voltados para o largo que estamos a analisar
e um terceiro voltado para a Alameda de S. Dâmaso, que vieram a ser unificados
pela transversalidade do projeto entre o largo e a Alameda.
135
“Nesta construção devo ter usado os materiais mais baratos em toda a minha vida, o
orçamento era miserável.”, (Gradim, 2014, Anexo II)
133
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 91 –Esquiços, Esquiços da Casa da Muralha, Fig. 92 - Fotografia, Interior da Casa da Muralha,
1991 2002
134
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
136
“(…) funcionou uma associação ligada à empresa ALFA, um café…Por cima funcionavam
gabinetes de advocacia, e também o atelier de pintura naïf do Caçoila, de onde tenho a imagem
de quando era miúdo ir pra lá vê-lo a pintar.”, (,Martins, 2014, Anexo I)
135
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
São edifícios utilizados para habitação mas, também funcionam uma loja e
um cabeleireiro ao nível do piso térreo. A relação destes edifícios com a praça fica
condicionado pelo acesso pedonal que é feito por uma rampa que nasce perto da
Porta da Torre Velha e termina numas escadas depois da última porta deste
corrente de construção medieval.
136
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
137
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
138
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Esta fachada termina com dois edifícios que se desenvolvem entre o Largo
Condessa do Juncal e a Rua que dá acesso à Praça de Nossa Senhora da
Oliveira.
139
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Como se pode ver na figura 99, é dotada de quatro pares de portas no piso
térreo, tendo sido uma alterada para janela, posteriormente à construção, e três
pares de janelões com varandim no andar Nobre, o que lhe confere alguma
horizontalidade e simetria fortalecida pela decoração do portal e pedra de armas
no centro da composição. Hoje em dia funciona como turismo de habitação, numa
reabilitação que terminou recentemente. É um edifico que conta com seis suites,
uma sala de refeições e um jardim que se desenvolve para as traseiras.
140
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
137
“Há outras intervenções, mesmo aqui ao lado (antiga hospedaria de Sampayo), que também fui
eu que fiz, de um senhor de idade que quis voltar para o centro histórico, para a casa onde
nasceu, recuperando as memórias, mas dando um toque mais contemporâneo…” (Vilas Boas,
2014, Anexo IV)
141
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
142
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Até aos dias de hoje foi sofrendo alterações, quer a nível da fachada pré-
existente, quer na sua ampliação em altura e regularização dos pisos. É um
edifício maioritariamente usado por comércio e serviços mas, também tem
habitação.
Como se pode ver na figura 103, este edifício que é orientado a Nascente,
é praticamente tapado pelas árvores do Largo e ensombrado durante
praticamente o dia todo.
143
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
144
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
138
“(…) Agora por exemplo, estamos a fazer um concurso para pôr uns mecos daqueles de descer
e subir, comandados aqui pela portaria da câmara. Finalmente vamos conseguir fazer isso e
portanto condicionar de certa forma, porque ainda não está condicionado. Não queremos acabar
com o trânsito por completo, mas condiciona-lo.”, (Frazão, 2014, Anexo III)
139
“(…) Elas têm raízes muito profundas, tinham uma poda muito mal feita durante muitos anos.”,
(Frazão, 2014, Anexo III)
145
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Foi também criada uma malha, que tem como princípio de desenho regular
o espaço e partiu de dois eixos. Um dos eixos nasce pela perpendicularidade no
centro do edifício a Poente e o outro é o que define o limite do passeio que
descrevemos anteriormente. Os seus prolongamentos definiram um ponto no seu
encontro e a partir deste foram desenhadas as linhas longitudinais. As linhas
transversais partem do centro e desenvolvem-se em linhas paralelas. Esta malha
termina nos passeios e desmaterializa-se no limite da via automóvel onde foi
desenhada uma sucessão de pilares de pedra ligados por correntes e que
condicionam os automóveis à via mas, permitem ser tiradas e deixar o acesso
livre para cargas e descargas se assim for necessário.
Deste modo a praça ganha área pedonal, uma iluminação mais apropriada
ao espaço, as fachadas com expressão e visibilidade, assim como a possibilidade
de criar atividades, como por exemplo do cine-clube que acaba por acumular
utilizações na Praça da Senhora da Oliveira.
146
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
147
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Fig. 105 – Planta, Planta da proposta de intervenção para o Largo Condessa do Juncal, 2014
148
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Conclusão
149
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
BIBLIOGRAFIA
ARITIO, Luis Blas [et al.], Património da Humanidade, Sítios declarados em 2001,
2002 e 2003, Espanha, Planeta de Agostini, 2003
151
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
152
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
DIAS, Manuel Graça, Ao volante pela cidade, 2ª edição, Relógio de água, 1999
FARIA, João Lopes de, “Vereações e outros da Câmara, Volume I”, 1933
FARIA, João Lopes de, “Vereações e outros da Câmara, Volume I”, 1933
153
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
154
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
155
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Webgrafia:
157
Anexos
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Anexo I
Eng. Martins - Sim, quando vim de Angola, em 61/62, vim morar para a casa do
meu avô e aqui em frente existia uma sapataria, o Manel Joaquim. Neste pequeno
largo jogávamos futebol, num lado púnhamos duas pedras e do outro as casas
funcionavam como os limites da baliza.
Eng. Martins - Não, aqui ainda tem vestígios de muralha, como vê estão ali os
merlões.
161
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Eng. Martins - Isso não posso explicar porquê… Risos… A muralha atravessava
isto tudo, e hoje em dia deve conseguir encontrar pedaços de muralha no meio
dos edifícios, julgo eu. Na Rua Nova ainda deve encontrar muitos pedaços de
muralha. Entre a Rua Nova e a Alameda, nessa área de casas, aí no meio, deve
encontrar muralha.
Eng. Martins - Naquele edifício, ao lado do Vira-bar, nos anos 40/50, funcionou
uma leitaria.
André - Deste edifício onde funciona o Vira-bar, que informação me pode dar do
passado?
André - Nos edifícios do largo há algum que tenha tido participação no seu
projeto?
Eng. Martins - O único em que participei é este ( casa da Muralha), pois fiz parte
do projeto de engenharia, toda a engenharia desde estrutura, saneamento e
águas. Este edifício começou a ser projetado entre 84 e 86, os edifícios foram
comprados pelo Sr. Garcia, mais conhecido por Cigano. Depois entrou em contato
com o arquiteto Gradim para lhe fazer o projeto. Nessa altura, 84/86, havia muito
poucos arquitetos, contavam-se pelos dedos…
162
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Daqui para cima desenvolve-se uma chaminé, que teria sido feita pelos últimos
donos do edifício, portanto uma pré-existência. Como vê ainda ali estão os
merlões.
André - A construção destes edifícios foi feita com métodos tradicionais, taipa de
rodizio ou fasquio, ou contemporâneos?
Eng. Martins - Não, o edifício todo é feito com técnicas contemporâneas, betão
armado, lajes aligeiradas, pilares e vigas. O revestimento das escadas é feito com
pedra local.
Esta área envidraçada, permite a quem sobe e desce manter a relação com o
largo. O atravessamento entre os edifícios é feito em ferro, pensou-se em fazer
em vidro mas na altura essa tecnologia não estava tão avançada.
163
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
André - Pelo que se consegue ver não tem nenhum elemento estrutural
encostado à muralha. Como foi resolvida a estrutura?
André - O piso térreo voltado para a Alameda tinha como projeto inicial um
estabelecimento comercial?
André - O que pode contar acerca desta casa (casa contigua à Casa da Muralha,
à esquerda)?
André - Recorda-se de algum edifício que tenha sido demolido no espaço onde
existe agora este estacionamento?
Eng. Martins - Recordo sim, foi demolido nos anos 60, tenho uma imagem muito
vaga desse edifício. Eram vários edifícios que albergavam muitas famílias. Era um
edifício muito velho, com patologias de degradação bastante avançada.
Eng. Martins - Lembro-me daquele edifício que foi reabilitado em 96/97 pelo
partido comunista, já dentro dos moldes do património.
Eng. Martins - Sim, por acaso estive envolvido na demolição deste edifício. Foi
quando eu trabalhava na CARI construtora, em 84/85, o edifício estava bastante
degradado, quando nos contrataram para a sua demolição.
164
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Eng. Martins - Sim, com alguns buracos, mas era… Segundo consta existia aqui
uma Igreja, penso eu de S. Paio. Ali existia uma passagem subterrânea que dava
acesso ao largo João Franco. Esta porta está muito perto do altar da Igreja da
Misericórdia. Este acesso na altura era feito numa cota mais baixa, percorrendo o
túnel desembocávamos num largo que pertence à misericórdia e continuando
saíamos no largo do lado de lá (Largo João Franco).
André - Quem atravessava este largo na altura, que noção tinha do mesmo?
Eng. Martins - Aqui era a feira do Leite, todos os dias entre as 7:00h e as 9:00h
da manhã, as pessoas iam com um vasilhame comprar o leite às mulheres que lá
estavam com os seus cântaros de alumínio.
André - Considera que naquele tempo quem atravessava o largo, lhe reconhecia
um carater residencial de bairro, ou urbano e de centro?
Eng. Martins - Este largo não era nada assim, ali existiria a Igreja de S. Paio e o
que seria o seu adro, lembro-me de ser em calçada. Foi na implantação da
República, em que fizeram alguns disparates, que a Igreja foi demolida…
165
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Anexo II
Arq. Gradim – Portanto, nos anos 50 o Sr. Abreu, comprou os dois lotes que
vieram a ser a casa dos linhos e o lote voltado para o Largo condessa do juncal, e
pretendia na altura construir habitações que acabaram por não ser concretizadas
e em vez disso os pisos foram transformados em escritórios e armazéns deste
negócio. Ainda assim, na obra, os lotes foram ligados possibilitando o
atravessamento entre eles e os vários pisos.
Nos lotes voltados a norte, para o Largo Condessa do Juncal, existiam dois lotes,
um quase em ruina, que quase não foi preciso mexer e na outra, no piso térreo
funcionariam cavalariças, isto pelas argolas que encontramos, que serviam para
prender os animais, e mais dois pisos com duas janelas cada um. As casas
estavam em muito más condições e havia vestígios de muita modéstia. As suas
fachadas eram idênticas e muito singelas, apenas com quatro janelinhas que
acabaram por ser reinterpretadas na fachada à direita.
Na casa do lado direito existia já uma pequena cozinha com uma fabulosa
chaminé, que com certeza foi feita na primeira construção e que acabou por ser
mantida nesta intervenção. Possivelmente existiria ali ao lado uma zona de
refeições e no restante espaço alcovas em que dormiriam…
Arq. Gradim – Por norma, nesta zona a muralha tinha uma espessura e uma
altura de aproximadamente 3 metros, dimensões que eram comummente
aproveitadas para fazer escadas confortáveis, vencendo a diferença das cotas
167
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Por um acaso da sorte a muralha neste lote ficou mais ou menos intacta. Na
minha pesquisa particular soube que não está completa, e que em toda a
extensão daquele lote baixinho (ultimas três casas à esquerda do alçado sul do
largo) está em adarve, vai até às escadinhas, que era um postigo, ainda a
mantêm.
A memória ficava lá dentro com um enorme sacrifício da área útil do lote. Tive
então uma zanga muito séria com o cliente, porque se observarmos, isto é muito
espaço, e ele queria rentabilizar ao máximo a área.
Arq. Gradim – Não, com o Arq. Fernando Távora tive a sorte de ser seu aluno
durante dois anos. O arquiteto F. T. era, na altura, assessor do G.T.L. que à
época se chamava gabinete do centro histórico, que se sediava na rua nova;
tínhamos uma relação pessoal, de amizade (frequentava muitas vezes a sua
casa) e discutíamos muitos assuntos de arquitetura.
168
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Arq. Gradim – Nesta construção devo ter usado os materiais mais baratos em
toda a minha vida, o orçamento era miserável.
Isto até deu origem a discussões, o construtor pensou que tinha dado um
orçamento correto e no final só deu para as escadas…
Pra ter uma noção, aquele corrimão foi feito num senhor serralheiro que me fez à
mão, e até eu ajudei, a fazer as curvas entortando o ferro em troncos de árvores,
até chegar a uns moldes que eu fiz à escala real e lhos entreguei.
169
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
muito fraca qualidade, pouquíssimo interessante. Tinha mais quatro janelas deste
lado (lado esquerdo da fachada), e este desenho que estava aqui, estava aqui
também (as fachadas pré-existentes eram idênticas nos dois lotes), mesmo após
a pequena intervenção nos anos 50, existia um pilote que dividia as casas na
fachada, que continuou associado em correspondência à divisão dos lotes no
interior.
A minha intenção foi sempre ligar os dois lotes, e eu tinha um projeto que os
ligava e fazia a fachada um pouco divergente desta, mas que unificava as duas
cornijas e dava uma solução urbanamente mais confortável, porque era mais
estável. Depois, para o lado direito estavam alinhados sucessivamente a
continuidade dos edifícios.
170
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Arq. Gradim – Sim, em questão de materiais foi pacifico... numa outra obra ali na
praça fiz uma escada em caracol devido à falta de espaço, uns 20 metros
quadrados e só aí levantei duas paredes de betão que acabam por fazer de
suporte e corta fogo da obra, o resto foi tudo restaurado. Aqui na Casa da
Muralha, como havia possibilidade, condições fiz as escadas em betão. São
opções que têm que se fazer mediante aquilo que se encontra. Neste caso era
possível, foi útil e económico, e dava jeito porque esta casa só tinha um cómodo,
só tinha uma divisão por piso. Não era preciso fazer paredes novas, portanto a
escada foi de exceção. Aqui tinham algumas paredes divisórias em taipa
(restaurante), em tabique…
Eu tinha que desenhar aquela peça (escadas) da forma mais leve possível… A
opção era betão e obviamente concordou…
171
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Arq. Gradim – Pelo motivo da gravidade da muralha que encurva tudo pelo seu
peso, como um meteorito… A muralha fica muito mais livre… Também tem um
desenho muito mais interessante… Este encurvamento tem que ver com a lógica
de peso.
Depois tinha a claraboia que iluminava a muralha numa entrada zenital fazendo a
perder todo aquele peso…
Arq. Gradim – Esta é uma das praças que o Távora desenhou aqui em
Guimarães, e a que gosto menos. O Távora tem sempre medo a arriscar,
preferindo respeitar o que lá está. Então pôs lá um quiosque, tratou os pisos …
Se fosse um arquiteto jovem, com menos maturidade trataria com certeza de
outra forma. O arquiteto Távora foi sempre muito maduro, mesmo novo era
maduro como arquiteto. Portanto tinha essa capacidade inesgotável de abdicar,
limitar o desenho.
A praça é tristíssima, ecoa, fez pequenos arranjos, não fez praticamente mais
nada… O que se aplica a esta, aplica-se à João Franco.
Por exemplo na Praça de S. Tiago, e esta ainda mais antiga que todas do séc.
XVIII que é um desenho muito mais visível, dinâmico e ele fez uma atitude
absolutamente humilde, pavimentou-a, regulou um canal de trânsito e desenhou o
piso de uma capela, que não se sabe se estava lá, mas que serviu para desenhar
o pavimento, não fez mais nada... Os mecos não resolvem nada, não é
agradável… A regra de toda a arquitetura dele é a tradição.
172
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Esta praça é um bocado complicada, a acessão que eu faço dela é que é uma
praça que se passa “à lharga”, é uma praça que não se atravessa, as praças são
pra ser atravessadas, devem ser livres. E esta não é bem uma praça é um rossio,
e isto acontece pela proximidade de um outro rossio que é aqui o toural. Aqui
funcionavam as feiras do leite e do pão, não é muito comum, normalmente
funcionavam fora de muralhas… O que acontecia no Toural… Devido às
demolições, também ficou com uma configuração estranha…
O espaço urbano não faz parte do meu percurso, não é da minha formação…
É terrível mexer num espaço público… A sensação que tenho desta praça, é que
ela sobra… Não faz parte do contexto Oliveira, João Franco e S. Tiago… é uma
praça de moradores, famílias… Esta praça é sombria, a questão das árvores…
Por outro lado, é positivo, a meu ver, não recria o contexto de vivência de fim-de-
semana das outras… Isto é um momento de silêncio…
173
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Anexo III
Arq. Miguel Frazão- Sim desde a primeira hora, eu aliás vim para Guimarães por
causa do centro histórico, se não fosse o centro histórico eu não estava aqui! Não
tenho família cá, por isso vim diretamente porque o meu pai era muito amigo do
Távora desde a infância. Trabalharam juntos, o meu pai era engenheiro e já o
meu avô era amigo do pai do Távora. Portanto era uma relação familiar e para
além do mais, não só familiar, mas havia uma admiração profissional já antiga;
portanto quando soube que ele vinha para cá fazer o plano geral de urbanização,
e como eu também o conhecia muito bem e desde a infância a Diretora do Museu
Alberto Sampaio… Foi através destes dois, dessas duas personagens que eu vim
para cá, vinha passar umas semanas, ou uns meses a tratar de coisas
engraçadas e afinal fiquei e estou cá à 35 anos, portanto o centro histórico é que
me fez vir para cá!
André- O que nos pode dizer sobre os últimos arranjos da Praça de Nossa
Senhora da Oliveira?
Arq. Miguel Frazão- Esta praça… Os últimos arranjos como? A praça é a única
que não é do Távora, é um arranjo já feito pelos Monumentos Nacionais, anos 50,
60, mas que fora por acaso fonte de inspiração para o próprio Távora. Porque ele
pega no desenho da Praça da Oliveira e estendeu-o para a Praça de S. Tiago.
175
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Embora, depois, enfim, como a Praça de S. Tiago não tem aquela regularidade,
da Praça da Oliveira, que era a Praça Maior de Guimarães. Ele depois diluiu o
desenho, pronto, aquelas coisas que ele explicava muito bem. Ele teve ideias
para cada uma das praças, mas é a Praça, digamos, que se vai seguir, é o
modelo da Praça da Oliveira e da Rua de Santa Maria. A Rua de Santa Maria
também é arranjada pelos Monumentos Nacionais e serviu por exemplo para a
gente definir que as nossas ruas aqui do centro, também teriam todas passeio,
nem que fossem de 20 cm porque a Rua de Santa Maria assim era e nos pareceu
até numa discussão com o próprio Távora, que esses passeios, mesmo que
fossem um pouco estreitos para andarem duas pessoas, mas davam para se
defenderem dos carros, quando lá passavam. Por outro lado dão estabilidade aos
próprios edifícios, portanto cria-lhes uma espécie de base, e portanto resolvemos
que os passeios se manteriam.
Arq. Miguel Frazão- Houve, a própria oliveira, é uma ideia do próprio Távora
também, como símbolo de Guimarães e da própria Praça, de repor uma Oliveira
no sítio onde ela existiu, desde o séc. XIV e foi cortada no séc. XIX.
Por acaso aquela piana que lá está, foi desenhada por ele, mas depois fui eu que
acrescentei a base, porque nós trabalhamos… Realmente houve um período em
que ele vinha uma vez por semana. Mas vinha com alguma regularidade. Os
desenhos dele, tirando as praças, a partir daqui da Câmara, tudo o resto era feito
aqui com discussões connosco ou nós íamos lá. Também ia lá quase uma vez por
semana, ía ao Porto ao atelier. Na rua onde foi o gabinete de urbanismo da
camara.
Arq. Miguel Frazão- É engraçado, porque quando ele trouxe… Quando ele fez o
desenho daquele polígono… Eu disse-lhe: “- Mas isto não resolve a pendente da
praça!”, porque ela parece que não tem, mas tem uma pendente… E se lhe
dessemos uma base … Tinha-mos que a desenhar com o lápis na mão, como se
fazia antes, não era com computador, era com lápis na mão… Pronto, fiz a base.
176
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Ele achou muito bem e ficou com a base. Mas isso são pormenores… Que
realmente as coisas eram feitas em verdadeira equipa.
André- O Largo Cónego Maria Gomes foi a primeira das quatro praças que sofreu
intervenção pelo G.T.L., o que nos pode dizer quanto à pré-existência?
Arq. Miguel Frazão- Esta foi acompanhada por mim, fiz o acompanhamento todo.
Arq. Miguel Frazão- Não, não… O que havia era um lajeado, este lajeado aqui
em frente da Câmara já existia. Mas foi feito provavelmente com
acompanhamento dos Monumentos Nacionais, mas ainda “no tempo da outra
Senhora”, com outro presidente da Câmara, por volta dos anos 70... Portanto isso
já existia, o resto era uma praça em saibro, onde os carros estacionavam, era um
parque de estacionamento, tinha um cruzeiro no meio, que era um cruzeiro dos
escuteiros, que está agora na parte nova da cidade, pronto, não tinha aquele
nivelamento que faz parte agora do projeto.
Arq. Miguel Frazão- O Távora teve uma ideia que eu acho que foi brilhante, e
pronto, daí a importância do acompanhamento que ele teve neste processo. Era
uma pessoa que sabia, que tinha experiencia neste tipo de coisas… Nós eramos
todos muito verdes, uma matéria que aliás na maior parte do país não havia
claramente experiencias destas…Ele era genial nestas coisas, teve a ideia de
fazer para cada praça, ainda com um desenho contemporâneo muito ao jeito ou à
maneira de, como se dizia antes, do estilo de cada praça, dos edifícios de cada
praça, na altura em que cada praça tinha sido feita. Portanto esta praça aqui, por
exemplo da Câmara, é uma praça muito simétrica, vai buscar a fachada principal
do edifício daqui, portanto o Convento de Santa Clara, hoje Câmara Municipal e
faz o eixo principal que vai da porta principal da Câmara até à porta principal do
que é hoje a Biblioteca, que era a Casa dos Carneiros, e depois a partir daí faz
um desenho de geometria que não é exatamente simétrico, mas a fachada
também não é. Portanto, com um desenho um bocado barroco, digamos assim,
com um eixo principal mais contemporâneo ao mesmo tempo. Depois aquelas
bolas à maneira do séc. XVIII, não é?... Com um certo peso, portanto é todo um
177
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
desenho que é todo muito relacionado com o espaço que existia e com os
edifícios que estão à volta.
Fez isso para todas as praças, acabando na Praça de Condessa do Juncal, que é
a mais recente, aquela praça que em parte é séc. XIX, e outra parte já do séc. XX.
E portanto vamos buscar esse tipo de imagem.
Arq. Miguel Frazão- Posso! Também é projeto meu, mas posso, com parcimónia
porque é projeto meu... Mas a ideia foi fazer exatamente… Eu sou um discípulo
do meu mestre, que é o Távora… E portanto o que eu fui fazer, foi pegar no
desenho que ele tinha e mimeticamente prolonga-lo, embora com outra cadencia,
porque o espaço é diferente também, mas foi prolonga-lo e portanto tornar a fazer
um desenho muito calmo, que parece que existia já de origem de quando se fez o
principal.
Portanto tem aquele lajeado que foi prolongado e fez-se aquela quadrícula que
existia já aqui em frente da Câmara que tem que ver com a própria esquadria do
edifício… As colunas do edifício da Câmara são repetidas depois em baixo no
pavimento. Portanto eu fui buscar esse desenho também, tem aquelas três
árvores que são… Cujos canteiros são, digamos que a projeção das três janelas
da antiga Igreja. E depois fui buscar uma fonte que eu sabia que estava a
apodrecer numa antiga quinta, que a Câmara tinha comprado, e a fonte estava lá
a degradar-se e eu lembrei-me dela e coloquei-a ali como remate. Não tem mais
que isto, é uma coisa muito simples.
Arq. Miguel Frazão- Essa já não foi acompanhada por mim, entretanto passei
algum tempo… Saltei do centro histórico para o trânsito, porque chegaram à
conclusão que sem resolver o trânsito, não se resolvia o centro histórico. E foi
criada uma equipa, foi contratada uma equipa, de especialistas comandados por
um sueco, porque não havia especialistas Portugueses da área na altura e
178
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
fizemos o primeiro plano geral de trânsito do país na altura, que ainda funciona e
que ainda mais ou menos nos vai orientando. Portanto tem 30 anos ou coisa que
o valha, e ainda está válido. Portanto já não fui eu que acompanhei a obra.
A Praça teve variadíssimas formas, mais quarteirão menos quarteirão, tudo aquilo
mudou, mas enfim, com ele acaba por ser uma praça muito bonita e tem essa
marcação da Igreja como símbolo... Este tipo de símbolo para marcar as coisas…
E fez isso mesmo!
No lajeado do chão está marcado em latim uma frase que diz: “A vós homens que
vieste povoar Guimarães e àqueles que aqui quiserem viver” que é a primeira
frase do foral do Conde D. Henrique aos Vimaranenses, está lá marcado em
Latim. Por acaso tem alguns erros, em vez de V´s tem X´s, mas tirando isso…
André- Acha que esta malha criada teve alguma inspiração nos tanques dos
curtumes?
Não! Quer dizer… Eu não sei… Da parte dos Monumentos Nacionais… Mas não
estou a ver... Os curtumes não eram considerados sequer. A Maria João
Vasconcelos é que os salva e os chama à importância para eles e aliás convence
179
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
a Câmara a comprar uma das fábricas. Antes disso… Muito pelo contrário, era
uma parte da cidade muito degradada, que cheirava mal… Alguém se inspirou
nalgum desenho que já estaria na Oliveira… Há essa coincidência. Eu acho que é
uma coincidência.
Arq. Miguel Frazão- O financiamento foi sempre com fundos Europeus, portanto
eram mais ou menos os mesmos, a feitura delas (praças) é que não foi a mesma,
essas praças já foram feitas no gabinete do Távora, a diferença é que, enquanto a
da Câmara foi feita toda aqui, toda pormenorizada por nós, e tudo o mais, o
Távora vinha cá uma vez por semana e via o que a gente tinha feito, não é!?... E
depois deixava os trabalhos, os deveres, para a gente fazer para a próxima
sessão.
Arq. Miguel Frazão- O Távora dava também à riqueza das combinações… Que o
granito… Da pedra, no nosso caso o que o granito permite. E portanto na praça
da Misericórdia, eu acho que foi onde ele mais gozou com esse aspeto. Que era
realmente muito importante, pois quando ele trazia cá arquitetos Espanhóis e de
outros países, muitos deles viam o pavimento e não as casas, uma coisa
engraçada, que é por puro defeito profissional, porque realmente há esta riqueza
que não há nos outros centros históricos. No João Franco usa muitas
combinações deste tipo de pedra. O desenho geral, digamos assim, tem como
base, o urbanismo Italiano do Renascimento, porque aquilo é uma praça nascida
no Renascimento. Com a obra da Misericórdia, que se deitou abaixo uma série de
casas. Ela tem aquele lajeado cruzado, aquelas linhas cruzadas, que é de um
antigo desenho que a praça teve e que existe em fotografias e postais. Portanto
foi buscar inspiração a isso para fazer esse desenho de inspiração da
Renascença, que é quando ele nasce.
180
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Arq. Miguel Frazão- Esta é a última das praças que é criada dentro do centro
histórico, este trapézio é criado no séc. XIX, com inspiração no quarteirão do séc.
XIX. Este bocado (estacionamento), por exemplo já é do séc. XX mesmo, anos
50, 60, aquilo vai abaixo e havia aqui uma rua que era a rua de Alcobaça que
desapareceu, mas que o Távora deixou ficar aquele alinhamento central, aquela
espinha dorsal que as ruas em Guimarães quase todas têm.
Essencialmente é isto, depois ele fez este quiosque para fazer o contraponto com
a escultura. O Quiosque era para dar apoio, como está a ter de um destes cafés,
com um apoio um bocadinho mal feito, mas isso já é um problema que nos
escapa a todos. E depois a praça tem enfim, uns acrescentos colaterais que são
também provenientes e resultado também de outras demolições, nomeadamente
da Igreja de S. Paio. Era uma freguesia… Ainda é freguesia de S. Paio, era a
Igreja da freguesia… Há fotografias dela ainda… porque ela foi destruída no fim
do séc. XIX, princípios do séc. XX. E faz esta marcação em cruz aqui para
demarcar o sítio em que a Igreja estava.
É talvez a praça mais irregular que nós temos, porque é resultado de várias
demolições e ao longo de quase 100 anos, portanto tem, este irregular, mais
irregular que as outras.
André- Nesta área onde foi feita a ultima demolição, foi crido um estacionamento
em forma triangular. O que nos pode dizer deste elemento?
181
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Por exemplo aqui, mais fácil é a de S. Tiago porque houve alguma restrição ao
trânsito que era a mais complicado de todas. E destas primeiras praças tirou-se o
trânsito e o estacionamento completamente. Por exemplo no Largo João Franco
já não foi, porque entretanto as pessoas criaram esta polémica de que nós
estávamos a tirar o trânsito todo e estacionamento cá de dentro, e o comércio
tradicional ia morrer. É o costume, se se vai contra, cria-se uma grande polémica
e portanto estas duas últimas praças… Só foi um bocado o desenho, que provoca
esta ambiguidade de tirar trânsito e pôr… Ficar com algum estacionamento, mas
não todos… Por exemplo tiravam este estacionamento aqui (miolo do Largo João
Franco), tinha estacionamento aqui no meio, mas teve-se que criar algum
estacionamento aqui à volta. Esta praça (Largo João Franco) foi claramente
prejudicada pelo estacionamento, deixou de ter a leitura que teria por causa do
estacionamento… Este é um processo muito lento, faz parte da nossa estratégia
fazer isto tudo muito devagar. Agora por exemplo, estamos a fazer um concurso
para pôr uns mecos daqueles de descer e subir, comandados aqui pela portaria
da câmara. Finalmente vamos conseguir fazer isso e portanto condicionar de
certa forma, porque ainda não está condicionado. Não queremos acabar com o
trânsito por completo, mas condiciona-lo.
André- Portanto, esta zona de praça não sofreu uma intervenção muito grande.
Um dos motivos poderá ter sido as árvores?
Arq. Miguel Frazão- Também, por respeito às árvores, aos plátanos que já cá
estavam e porque elas também ajudavam a definir um espaço de estar e de lazer
que o Távora reforça pondo aquele buxo à volta. Há trânsito, mas pelo menos
aquele bocado é mais sossegado, é para as pessoas estarem, numa tentativa de
tornar aquele espaço, num espaço de estar e de lazer.
Essas coisas só desenhando, não é… Eu por exemplo, quando fiz esta parte do
Carmo, foi uma ampliação, porque entregaram-me o projeto e disseram: “Tu és o
182
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Mas não é nada fácil, porque estas praças são tortíssimas… Não têm lógica
nenhuma… Quando o próprio Távora, e eu por arrasto, todo o nosso desenho tem
que ter lógica, tem que ter uma razão de ser… Portanto nestes casos, é muito
complicado, de repente não sei o que fazia com esse triângulo…
Arq. Miguel Frazão- Sim mantinha, é muito séc. XIX, também não é? É uma
coisa que caracteriza a praça, que a distingue das outras, portanto,
provavelmente, é o que vamos fazendo, substituindo.
Elas têm raízes muito profundas, tinham uma poda muito mal feita durante muitos
anos.
Falta aqui um elemento que é um candeeiro que o Távora queria pôr no centro.
Queria pontuar isto com um candeeiro alto.
Há também aqui um edifício, a Casa da Muralha, que dizem que foi feita porque o
Gradim era marido da Alexandra e meu amigo, mas não é verdade! Aquilo era
uma casa de muito má qualidade! E como tal, foi permitida a intervenção, que foi
ganha por ele!... Houve ali realmente uma exceção assumida! No centro histórico
cada caso é um caso, mas sem dúvida que no centro histórico há regras para
cumprir e são para cumprir, e são para cumprir!
Há uma série de casas em que começaram a modificar e foi exatamente por isso
que começamos a criar regras.
183
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Anexo IV
André- Sendo a Casa dos Amarais uma casa de finais do séc. XVIII, princípios do
séc. XIX, quais as condições e especificidades encontradas no edifício pré-
existente?
Arq. Filipe Vilas Boas- Este edifício estava… Como todos os edifícios que foram,
abandonados, no princípio do séc. XX, as famílias saíram daqui e foram para a
parte nova da cidade. De uma maneira geral os edifícios ficaram repartidos,
ficaram aqui, normalmente, os empregados, alguns familiares mais velhos…
Essas casas tradicionalmente ficam mais divididas, adaptam as casas, dividem-
nas… Aliás ainda podemos ver hoje, por exemplo, o barbeiro está a ocupar uma
parte (R/c, lado direito da porta principal), esta senhora aqui da perfumaria, outra
(R/c, lado direito da porta principal).
Este edifício, vê-se que é um edifício que tem muita história, e por isso a
intervenção neste edifício… Em todos os edifícios deve-se ter muito cuidado, não
é!?... Mas neste edifício em especial teve muito em consideração a pré-existência.
185
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Tanto que, o que se pode ver são pequenas obras de adaptação àquilo que era o
edifício na sua integridade, ou seja a escada não foi mexida, estas relações de
entrada com o logradouro foram mantidas, por isso é sempre importante nos
edifícios manter aquilo que é a sua orgânica própria que é para não deixarem de
ser querentes.
186
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
187
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
processo em beleza, ou seja com um jardim bonito, com mobiliário bom, com uma
boa decoração, com charme e isso foi tudo importante! Nem sempre se consegue
isso!...
Arq. Filipe Vilas Boas- O processo começou pelo seu exterior, o edifício estava
bastante mal e a primeira intervenção feita foi a nível da cobertura, no telhado e
das fachadas… Até porque ganhamos o tempo nessa ação interior, que foi mais
pensada, mais refletida, que é importante, foi amadurecendo… é importante que
os projetos demorem algum tempo, as obras… Já que os projetos se fazem tão
rápido que não deviam, ao menos demora-se muito tempo é na obra. E assim
compensa-se não é?... O tempo que não se perde no projeto, perde-se depois na
obra. A estrutura foi andando e aqui foi criado o nosso abrigo para as reuniões,
que era dentro da obra…
188
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
André- Nos duplexes voltados para a praça o teto foi removido ou nesse espaço
o pé direito era aberto até ao telhado?
Arq. Filipe Vilas Boas- Havia parte de sótão já nesses tetos, havia ali um sótão.
Se nós imaginarmos um corte, nós temos um quarto com um pé direito muito alto
e que vamos perceber isso... As janelas dos quartos são muito altas, e por isso
vê-se que o teto seria por ali, mas depois mais recuado eles faziam antigamente
um recorte, que depois podia ser disfarçado num teto em gamela. Disfarçar uma
parte do sótão que estava escondido. Nós o que fizemos, ao fim ao cabo, foi
eliminar essa parede que existe que separa esse sótão da parte baixa,
transformando aquilo num espaço único.
Arq. Filipe Vilas Boas- Ou seja, como é que se justifica que seja preciso um
arquiteto para uma intervenção destas…
O que nós queremos quando entramos aqui, é pensar… Não digo para o
arquiteto, para aquela crítica de arquitetura, estou-me pouco ralando, para a
189
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
André- O que nos pode dizer sobre o desenho de exceção das escadas
existentes nos quartos voltados para a praça?
Arq. Filipe Vilas Boas- As escadas são uma solução, que não é nada original,
aliás é muito difícil arranjar soluções de originalidade, o importante é usar
soluções ajustadas. Quando a gente utiliza uma solução que já foi utilizada numa
situação que se adequa, ela por si só… A originalidade está aí! É ter sido bem
feito! Aqui a questão era falta de espaço, e se repararmos elas estão mesmo ali,
quanto maior fossem mais teríamos que recuar o mezanino, por isso menos
espaço teríamos em cima. A ideia, fui buscar a umas escadas que estão na torre
de menagem do castelo de Guimarães que dá acesso à cobertura.
André- De que forma este equipamento pode vir a potenciar uma nova estratégia
de ocupação dos edifícios deste Largo?
190
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
Por isso a praça tem uma série de intervenções… Não serão muitas de facto!...
Mas, que lhe dão algum carater singular…
Este alojamento vem trazer de novo, não só à praça, mas à cidade em geral. Aqui
ao centro histórico… Porque nós assistimos, a operações de alojamento local
normalmente associadas a darem uma pintura, por uns colchões e tentar ganhar
dinheiro com isto… Enquanto a casa aguentar e não tremer, ou seja, o
investimento é inferior… Aquilo que eu ponho, é inferior aquilo que eu espero
tirar… Mas isso é um pensamento muito português, não é!?... Põe sempre menos
que aquilo que quer tirar… Aqui a atitude é diferente, eu pus mais do que se
calhar eu vou tirar no início… Ou seja, e quando eu ponho mais, eu estou a por
mais, é para a qualidade geral. Ou seja, este exemplo sendo bom vai fazer com
que outras pessoas venham a Guimarães, nem que fiquem noutro sitio, mas,
quando puder fico aqui… Ou seja nesse sentido, como atitude eu acho que isto é
singular, eu ponho mais do que aquilo que quero tirar…
Arq. Filipe Vilas Boas- Eu é que acompanhei esta obra para o Távora, em
Guimarães… E por acaso tem piada porque… O Távora é um arquiteto excelente!
Se nós repararmos nesta praça, há uma coisa que tem piada, que é, nós dizemos
assim… Foi o que ele me disse a mim, porque eu uma vez chamei-o cá para uma
reunião, porque era preciso resolver uma séria de coisas que não estão nesta
planta. Há aqui uma série de coisas, que se a gente andar na rua, não estão
resolvidas… E eu chamei-o cá em particular, e disse-lhe: “há aqui uns edifícios
191
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
que estão numa cota mais alta”, e ele disse-me assim: “O pá, isto, isto foi o burro
do Italiano que eu tenho lá que pensava que isto era tudo plano… ”, e eu disse: “-
Pois, eu tentei interpretar isto, o melhor possível, não sei se aqui, como isto era
tudo com tracinhos, se os tracinhos eram as próprias escadas, e por isso estava
direito… Tinha as escadas e depois o granito, está tudo bem no desenho!… Eu
tentei chama-lo à razão como quem diz: não é isso que está no desenho, mas até
podia ser, não é!?... Ele disse: “- Não! Foi o burro do Italiano que pensava que isto
era tudo plano!...” E realmente, isto não é tudo plano, há uma série de situações
que depois não resultou lá muito bem…
André- O que nos pode dizer, sobre esta orgânica de entrada na praça e a
possibilidade de voltarem para trás? E a questão do estacionamento triangular?
No fundo, toda a geometrização do miolo…
Arq. Filipe Vilas Boas- Esta praça, é uma praça que não existe, isto é um
quarteirão, que era construído no centro da cidade… Temos que imaginar um
centro histórico, altamente povoado, não há muito espaço para praças… Havia se
calhar a praça da Oliveira, seria a única… Na cabeça do Távora está uma zona
construída ao centro, outra zona construída aqui (estacionamento triangular),
havia aqui umas casas e há aqui uma coisa que ele não perdoa, que é de marcar
sempre a Igreja. Havia aqui um cemitério (antiga hospedaria de Sampayo), por
isso havia aqui quase uma microcidade, não é!?... E por isso o Távora dá enfase
a isso tudo, ele não perdoa a marcação das entradas, com o seu significado!
Depois ele faz um acerto de pormenor aqui à escultura Gravador Molarinho,
tentou-a centrar neste eixo (eixo entre o quiosque e localização atual da
escultura), não sei… Este eixo onde tudo acontece… Não sei exatamente o que
ele quis…
Ele deixou ficar esta guia, que era a guia da Rua de Alcobaça…
192
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães
sabia ler, sabe ler bem a cidade e sabe dar a necessária importância a cada
detalhe. Isso eu aprendi com ele, eu fiz depois a Rua Nova e fiz também esta
(transversal à Rua Nova). E aprendi isto com ele, dar detalhe a pequenas coisas!
Para o bruto… Ao bruto não lhe interessa… Nunca repara em nada, nem numa
parede em frente… Para a pessoa que aprecia, aprecia o detalhe, não aprecia
uma coisa muito, não é!?...
Esta praça tem que ser vista no detalhe e não no aspeto geral. É nos pequenos
pormenores, na questão do ponto onde ele marcou a zona do altar ou da Igreja,
ele depois é capaz de alterar alguns dados e deixar aqui alguns alinhamentos que
se calhar não serão bem assim… Este desenho (cruzamento de passadeiras
entre a Academia de musica e a praça), que quase… Que parece uma daquelas
fontes, parece quase uma fonte, a configuração negativa, que é muito importante,
ou seja, ver a configuração negativa da praça, não vermos só isto, mas vermos o
que sobra do próprio desenho.
E por isso eu acho que devemos ver os lotes, a forma como é desenhado o
lajeado e depois como é contrariado neste sítio (traseiras do Café Milenário). A
marcação de uma antiga rua por trás das muralhas, aqui tem aquelas escadinhas
(acesso às traseiras do Café Milenário), ele sabia que aqui havia a rua e dá-lhe o
pormenor neste lajeado.
Apesar de ter tido alguém a quem deitar as culpas que era o Italiano, que se
calhar não existia… Mas é tudo muito bem pensado… Não devemos olhar muito
ao longe, devemos olhar mais ao perto.
193