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Universidades Lusíada

Ferreira, André Nogueira


Largo Condessa do Juncal : um caso de estudo no
centro histórico de Guimarães
http://hdl.handle.net/11067/2997

Metadados
Data de Publicação 2014
Resumo O presente trabalho de investigação tem como objetivo compreender
o caso de estudo “Largo Condessa do Juncal”, através do estudo do
nascimento e evolução das praças antigas de Guimarães, tendo em conta
os acontecimentos históricos e as políticas arquitetónicas implementados
ao longo do tempo. Após a análise do “estado da arte”, finalizamos com
uma proposta de intervenção e reinterpretação do Largo Condessa do
Juncal. Deste modo pretende-se abordar a temática do redesenho do
edificado no espaço...
The present research aims to understand the case study "Largo Condessa
do Juncal", through the study of the birth and evolution of old squares of
Guimarães, taking into account the historical events and the architectural
policies implemented over time. After the analysis of the "state of art", the
research concludes with a proposal for intervention and reinterpretation of
"Largo Condessa do Juncal". In this way it is intended to address the topic
of the redesign of buildings in public space and...
Palavras Chave Centros históricos, Reabilitação Urbana, Guimarães (Portugal)
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULF-FAA] Dissertações

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http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE
VILA NOVA DE FAMALICÃO
FAA – Faculdade de Arquitetura e Artes

Largo Condessa do Juncal:


Um caso de estudo no Centro Histórico de Guimarães

André Nogueira Ferreira

Dissertação apresentada na Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão


para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura

Orientador de Dissertação: Prof.ª Doutora Teresa de Jesus da Costa Pinto

Vila Nova de Famalicão


2014
Largo Condessa do Juncal:
Um caso de estudo no Centro Histórico de Guimarães

André Nogueira Ferreira

Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão


faa – faculdade de arquitetura e artes

Dissertação apresentada na Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão


para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura

Orientador: Professora Doutora Teresa de Jesus da Costa Pinto

Data de entrega: 07/11/2014


Data da defesa: __/__/__
3
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

RESUMO

O presente trabalho de investigação tem como objetivo compreender o


caso de estudo “Largo Condessa do Juncal”, através do estudo do nascimento e
evolução das praças antigas de Guimarães, tendo em conta os acontecimentos
históricos e as políticas arquitetónicas implementados ao longo do tempo. Após a
análise do “estado da arte”, finalizamos com uma proposta de intervenção e
reinterpretação do Largo Condessa do Juncal.

Deste modo pretende-se abordar a temática do redesenho do edificado no


espaço público construído e o seu desenho atual, propondo analisar as soluções
aplicadas no caso de estudo.

O trabalho desenvolve-se em três capítulos. No primeiro capítulo,


desenvolvemos uma breve contextualização histórica da evolução da cidade de
Guimarães fazendo uso das plantas desenhados por Bernardo Ferrão.

No segundo capítulo, exploramos a evolução de alguns edifícios com valor


arquitetónico e das praças antigas da cidade até às últimas intervenções ao nível do
espaço público, com recurso à planta de Guimarães de 1569.

No terceiro e último capítulo, analisamos as últimas intervenções no espaço


público para situarmos o Largo Condessa do Juncal e a sua problemática na
atualidade, justificando e propondo um novo desenho para a praça no sentido de a
melhorar e integrar no Centro Histórico de Guimarães.

Palavras-chave: Guimarães, Centro Histórico, Medieval, Praça, Reabilitação.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

ABSTRACT

The present research aims to understand the case study "Largo Condessa
do Juncal", through the study of the birth and evolution of old squares of
Guimarães, taking into account the historical events and the architectural policies
implemented over time. After the analysis of the "state of art", the research
concludes with a proposal for intervention and reinterpretation of "Largo Condessa
do Juncal".

In this way it is intended to address the topic of the redesign of buildings in


public space and their current design, aiming at analyzing the solutions applied in
the case study.

The work develops in three chapters. In the first chapter, we draft a brief
historical context of the development of the city of Guimarães, making use of the
plans designed by Bernardo Ferrão.

In the second chapter, we explore the evolution of some of the buildings


with architectural value and old squares up to the latest interventions in public
spaces, drawing on the 1569 plan of Guimarães.

In the third and last chapter, we analyze the recent interventions in the
public space in order to provide "Largo Condessa de Juncal" and the questions it
raises with a contemporary context. At the same time, we propose a new design
for the square and explain how this would improve and better integrate it in the
Historic Center of Guimarães.

Keywords: Guimarães, Historic Center, Medieval, Square, Renovation.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS 31

INTRODUÇÃO 33

CAPITULO I - GUIMARÃES, UMA CIDADE MEDIEVAL 35

1 - A Cidade de Guimarães 36
1.1 - Evolução urbana da cidade 36

1.1.1 - Sedimentação urbana no território Vimaranense entre 950 e


1279 36

1.1.2 – Consolidação e expansão urbana entre 1279 e 1498 38

1.1.3 - Criação de equipamentos e novas áreas de fixação entre


1498 e 1750 40

1.1.4 - Crescimento urbano fora de muralhas e a sua demolição


entre 1750 e 1863 42

1.1.5 - Expansão e planeamento urbano entre 1863 e 1924 44

1.1.6 - Crescimento e execução de planos de urbanização entre


1924 e 1974 46

1.1.7 - Requalificação do centro Histórico entre 1981 e 1997 48

CAPITULO II - AS PRAÇAS MEDIEVAIS DE GUIMÃRÃES 49

2 - As praças Medievais de Guimarães 51

2.1 - Análise das praças medievais tendo como ponto de partida a planta
de Guimarães de 1569 51

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2 - Evolução urbana e morfológica das praças do centro histórico


medieval de Guimarães 53

2.2.1 - Praças, Largos Intramuros 53

2.2.1.1 - Praça da Sra. Da Oliveira 53

2.2.1.2 - Largo Cónego José Maria Gomes 61

2.2.1.3 - Praça de S. Tiago 69

2.2.1.4 - Largo João Franco 79

2.2.1.5 - Largo Condessa do Juncal 85

2.2.2 - Praças, Largos Extramuros 99

2.2.2.1 - Praça do Toura 99

2.2.2.2 - Alameda de São Dâmaso 107

CAPITULO III - ULTIMAS INTERVENÇÕES NO ESPAÇO PÚBLICO 113

3 - Últimas intervenções no espaço público 115

3.1 - Criação do Gabinete Técnico Local 115

3.2 - Intervenção pelo G.T.L. nas Praças intramuros 117

3.2.1 - Largo Cónego Maria Gomes 117

3.2.2 - Praça de S. Tiago 120

3.2.3 - Largo João Franco 123

3.2.4 - Largo Condessa do Juncal 125

3.3 - Guimarães elevado a Património Mundial da Humanidade 127

3.4 - Intervenção urbana no contexto da Capital Europeia da


Cultura 2012 128

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.5 - Caso de estudo - O Largo Condessa do Juncal 130

3.5.1 - Análise do edificado envolvente do Largo Condessa do Juncal


131

3.5.2 - Análise do Largo Condessa do Juncal 144

3.6 - Proposta de intervenção 145

CONCLUSÃO 149

BIBLIOGRAFIA 151

WEBGRAFIA 157

ANEXOS 159

Anexo I - Entrevista com o Engenheiro Carlos Martins (04.07.2014) 161

Anexo II - Entrevista com o Arquiteto António Gradim (08.08.2014) 167

Anexo III - Entrevista ao Sr. Arquiteto Miguel Frazão (16.09.2014) 175

Anexo IV - Entrevista com o Sr. Arq. Filipe Vilas Boas (24.09.2014) 185

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1 - Fotografia, Porta do Castelo de Guimarães, 2014 35


Consultado no dia: 30.10.2014
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=482877

Fig. 2 - Planta, Planta de Guimarães (950 - 1279), (Carta de Bernardo Ferrão) 37


Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 3 - Planta, Planta de Guimarães (1279 - 1498),


(Carta de Bernardo Ferrão) 39
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 4 - Planta, Planta de Guimarães (1498 - 1750),


(Carta de Bernardo Ferrão) 41
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 5 - Planta, Planta de Guimarães (1750 - 1863),


(Carta de Bernardo Ferrão) 43
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 6 - Planta, Planta de Guimarães (1863 - 1924),


(Carta de Bernardo Ferrão) 45
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 7 - Planta, Planta de Guimarães (1924 - 1974),


(Carta de Bernardo Ferrão) 47
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 8 - Fotografia aérea, Centro Histórico da Cidade de Guimarães, 2011 49


Consultado no dia: 30.10.2014
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=482877

Fig. 9 - Planta, Planta urbana de Guimarães, 1569 52


Consultado no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 10 - Planta, Planta de localização do atual Largo Cónego Maria Gomes na


planta de Guimarães, 1569 53
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 11 - Planta, Planta do Largo Cónego Maria Gomes, 1569 53


Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 12 - Fotografia, Convento de Santa Clara, início do séc. XX 55


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-
cvTMiPbLUyU/TmECTstJ8qI/AAAAAAAABxs/Z6Wck0RKs4c/s1600/SClara-
%252817%2529aweb.jpg

Fig. 13 - Postal, Convento de Santa Clara a funcionar como Liceu, inicio do séc.
XX 57
Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-
TvhuBghSMBY/UkhUzyI_UsI/AAAAAAAAEfA/G3VOAzSKtx8/s1600/SClara-(22)Web.jpg

Fig. 14 - Fotografia, torre sineira da Igreja do Convento de Santa Clara, 1911 58


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 15 - Planta, planta de recuperação pela equipa dos Monumentos Nacionais,


meados do séc. XX 58
Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPAArchives.aspx?id=092910cf-8eaa-
4aa2-96d9-994cc361eaf1

Fig. 16 - Fotografia, Largo do Município e Casa dos Carneiro,


meados do séc. XX 59
Consultado no dia: 06.11.2014
Fonte:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=443635839057821&set=o.228798887134145&ty
pe=3&theater

Fig. 17 - Planta, Planta de localização da atual Praça de S. Tiago na Planta de


Guimarães, 1569 61
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 18 - Planta, planta de pormenor da Praça de S. Tiago, 1569 61


Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 19 - Desenho, Capela de S. Tiago por Carlos Van Zeller, 1835 63


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 20 - Fotografia, Praça de S. Tiago, 1938 65


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 21 - Planta, Projeto de alargamento da Praça de S. Tiago, 1916 65


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte: http://www.amap.com.pt/page/216

Fig. 22 - Alçado, alçado do projeto Ourique do Arquiteto


Marques da Silva, 1923 66
Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 23 - Fotografia, fachada nascente da praça de S. Tiago,


entre 1921 e 1942 67
Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://reimaginar.webprodz.com/imagem/pt-rmgmr-cfm-570/

Fig. 24 - Fotografia, Casa medieval, 1970 67


Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 25 - Planta, Planta de localização da atual Praça da Nossa Senhora da


Oliveira, na Planta de Guimarães, 1569 69
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 26 - Planta, Praça da Nossa Senhora da Oliveira, 1569 69


Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
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Fig. 27 - Fotografia, Frente nascente da Praça de Nossa Senhora da Oliveira,


primeira década do séc. XX. 70
Consultado no dia: 06.11.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

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Fig. 28 - Fotografia, Rua de Santa Maria, início do séc. XX 71


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://reimaginar.webprodz.com/exposicoes/exposicoes-a-cidade-da-muralha

Fig. 29 - Fotografia, Tanque da Oliveira, 1845 72


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&i
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Fig. 30 - Fotografia, Padrão da Senhora da Vitória, 1913 74


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-
wt9GSzfoPLI/Tk5K6rkOe6I/AAAAAAAABwo/msZEzYWWQ7Q/s1600/Oliveira001.jpg

Fig. 31 - Fotografia, Padrão da Senhora da Vitória, meados do séc. XX 75


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 32 - Gravura, Paços do Concelho, séc. XVIII 76


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-
GYWCzp_MpDs/UgAu3NGdw0I/AAAAAAAAERM/4__sW9pQMMQ/s1600/Camara-(4)aweb.jpg

Fig. 33 - Fotografia, Paços do Concelho, 1890 77


Consultado no dia: 06.11.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 34 - Fotografia, Oliveira, 1858 78


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 35 - Planta, Planta de localização do atual Largo João Franco na Planta de


Guimarães, 1569 79
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 36 - Planta, Planta da área ocupada atualmente pelo Largo João Franco,
1569 79
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 37 - Fotografia, Santa casa da Misericórdia, início do séc. XX 80


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-
Qro897xDoIM/UizAwW_vIpI/AAAAAAAAEbQ/Y4oLnSofsiI/s1600/Misericordia.jpg

Fig. 38 - Fotografia, Casa da Torre, meados do séc. XX 81


Consultado no dia: 06.11.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 39 - Fotografia, Terreiro da Misericórdia, início do séc. XX 82


Consultado no dia: 02.11.2014
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-
p2Y9w02VMEs/UehXpQ_TrjI/AAAAAAAAEGQ/nKpSlWP5f5w/s1600/JFranco-(19)aWeb.jpg

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 40 - Fotografia, Largo João Franco, 1988 83


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 41 - Fotografia, Monumento a João Franco, meados do séc. XX 84


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
imageName=GuimarãesSMS005.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Património&fieldID=ID&fieldsTo
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Fig. 42 - Planta, Planta de localização do atual Largo Condessa do Juncal, na


Planta de Guimarães, 1569 85
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 43 - Planta, Planta da área ocupada atualmente pelo Largo Condessa do


Juncal, 1569 85
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 44 - Fotografias, Igreja de S. Paio, 1915 87


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fot
oteca&imageName=GPP171a.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Património&fieldID=ID&fields
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Fig. 45 - Fotografia, Igreja de S. Paio vista lateral, 1915 87


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
imageName=GPP172a.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Património&fieldID=ID&fieldsToShow=ima
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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 46 - Fotografia, demolição da Igreja de S. Paio, 1915 88


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
imageName=GPP174.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Património&fieldID=ID&fieldsToShow=imag
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Fig. 47 - Fotografia, Albergue da Senhora do Serviço, anterior a 1912 89


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 48 - Fotografia, Fotografia do Recolhimento do Anjo, 1908 91


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
imageName=GPP175a.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Património&fieldID=ID&fieldsToShow=ima
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Fig. 49 - Fotografia, Asilo dos Inválidos, 1920-1930 94


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://reimaginar.webprodz.com/imagem/pt-rmgmr-cfm-273/

Fig. 50 - Fotografia, Casa dos Amarais em recuperação para conclusão da “Casa


do Juncal”, 2013 95
Feita no dia: 13.02.2013
Fonte: Autor

Fig. 51 - Fotografia, antiga Hospedaria de Trás de S. Paio, 96


Adquirido no dia: 31.10.2014
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-3JiygkPIaIA/TiVtnXWKCMI/AAAAAAAABsM/pckLc-
GHUYc/s1600/SPaio1915.jpg

Fig. 52 - Fotografia, Fotografia da antiga hospedaria reabilitada para habitação,


2013 96
Feita no dia: 13.02.2013
Fonte: Autor

20
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 53 - Fotografia, Casa no limite Poente do Largo, 1952 97


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&
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Fig. 54 - Fotografia, Casa no limite poente do Largo, 1984 97


Digitalizado no dia: 05.03.2014
Fonte: Património Cultural da Humanidade, Vol. II

Fig. 55 - Planta, Planta de localização do atual Toural na planta de Guimarães,


1569 99
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 56 - Planta, Planta da área ocupada atualmente pelo Toural, 1569 99


Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.h
tml

Fig. 57 - Ilustração, ilustração de Alexandre Reis para as Danças de S. Nicolau de


2011 100
Consultado no dia: 02.11.2014
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-e5FyGEyeQpM/TudthInI3WI/AAAAAAAAB-
A/cfGCvkgek48/s1600/toural_sec_XVII_blog.jpg

Fig. 58 - Fotografia, Igreja de S. Pedro, segunda metade do séc. XX 101


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_q2niY7e9F2A/RwfUvUJAtFI/AAAAAAAAACM/Z-Jetd4kyH4/s1600-
h/Fototeca0020.jpg

Fig. 59 - Fotografia, Toural, 1865 102


Consultado no dia: 02.11.2014
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-1pdiYv9oc2s/TuOu3ZMzQJI/AAAAAAAAB8Y/3-
EXOnqGf98/s1600/ChafarizToural01.jpg

21
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 60 - Fotografia, Toural, 1888 103


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&i
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Fig. 61 - Planta, pormenor de planta do projeto de reparação e melhoramento dos


passeios do (Toural), 1912 104
Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte: http://www.amap.com.pt/page/211

Fig. 62 - Fotografia, Toural, 1932 104


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&i
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Fig. 63 - Fotografia, Toural, meados do séc. XX 105


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&i
mageName=Fototeca0079.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Património&fieldID=ID&fieldsToShow=i
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Fig. 64 - Fotografia, Praça do Toural, reestruturação para a Capital Europeia da


Cultura, 2012 106
Consultado no dia: 06.11.2014
Fonte: http://mdc.arq.br/2013/02/13/extramuros-de-guimaraes/f05-guimaraes-toural-rita-burmester/

Fig. 65 - Planta, Planta de localização da atual Alameda de S. Dâmaso na Planta


de Guimarães, 1569 107
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.ht
ml

22
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 66 - Planta, Planta da área ocupada atualmente pela Alameda de S. Dâmaso,


1569 107
Desenho do autor sobre fonte consultada no dia: 15.10.2014
Fonte:http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart1133141/cart1133141_2.ht
ml

Fig. 67 - Fotografia, Igreja de S. Sebastião, segunda metade do séc. XIX 108


Consultado no dia: 03.11.2014
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-IO0IG5B5ObQ/UXcD-
G3HCtI/AAAAAAAADNI/jAycNNEw9BE/s1600/ChafarizToural.jpg

Fig. 68 - Fotografia, Octogono e praça D. Afonso Henriques, 1910 110


Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&i
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Fig. 69 - Planta, Pormenor do Projeto de reparação e melhoramento do Largo D.


Afonso Henriques, 1911 111
Consultado no dia: 02.10.2014
Fonte: http://www.amap.com.pt/page/211

Fig. 70 - Fotografia, Praça de D. Afonso Henriques, 1910 111


Consultado no dia: 02.11.2014
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-
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Fig. 71 - Fotografia, Teatro D. Afonso Henriques, 1911 112


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte:http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&i
mageName=GPP065a.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Património&fieldID=ID&fieldsToShow=imag
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Fig. 72 – Fotografia aérea, Alameda de S. Dâmaso, 2011 112


Consultado no dia: 30.10.2014
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=482877

23
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 73 - Fotografia aérea, Alameda e Largo Condessa do Juncal 113


Adquirido no dia: 28.10.2014
Fonte: http://www.cm-guimaraes.pt/frontoffice/pages/100?news_id=1728

Fig. 74 - Fotografia, Casa da Rua Nova, 2014 116


Feita no dia: 22.08.2014
Fonte: Autor

Fig. 75 - Planta, Planta de praças projetadas pelo GTL, 1988 117


Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 76 – Fotografia, Largo Cónego Maria Gomes 118


Adquirido no dia: 28.10.2014
Fonte:http://topguimaraes.com/pt/atraccoes-historicas-de-guimaraes/item/85-convento-de-santa-
clara.html

Fig. 77 - Planta, Planta de intervenção no Largo Cónego Maria


Gomes, 1985/1987 119
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 78 - Fotografia, Praça de S. Tiago antes da intervenção


pelo G.T.L., 1981 121
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 79 - Fotografias, Praça de S. Tiago durante a intervenção pelo


G.T.L., 1981 121
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 80 - Fotografia, Praça de S. Tiago após intervenção pelo G.T.L. 1983 121
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

24
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 81 - Planta, Planta de intervenção na Praça de S. Tiago, 1985/1987 122


Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 82 - Fotografia, Largo João Franco, autor, 2014 123


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 83 - Planta de intervenção no Largo João Franco pelo G.T.L., 1983 124
Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 84 - Planta, Planta de intervenção no Largo João Franco, 1995 125


Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 85 - Planta de intervenção no Largo Condessa do Juncal pelo G.T.L. 126


Adquirido no dia: 04.02.2014
Fonte: Cedido pela Câmara Municipal de Guimarães

Fig. 86 - Fotografia aérea de Guimarães, 2006 127


Consultado no dia: 31.10.2014
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=482877

Fig. 87 - Maqueta virtual da intervenção urbana da Capital Europeia da Cultura


2012 129
Consultado no dia: 21.10.2014
Fonte: http://forumdacasa.com/discussion/18553/guimaraes-2012-capital-europeia-da-cultura/

Fig. 88 - Fotografia aérea do Centro Histórico, Toural e Alameda


de S. Dâmaso 129
Consultado no dia: 28.10.2014
Fonte: http://www.cm-guimaraes.pt/frontoffice/pages/100?news_id=1728

Fig. 89 - Fotografia, Casas Pombalinas, autor, 2014 131


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

25
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 90 - Fotografia, Casa Neoclássica, autor, 2014 132


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 91 - Esquiços, Esquiços da Casa da Muralha, 1991 134


Adquirido no dia: 11.03.2014
Fonte: Revista “Obra d´oiro”

Fig. 92 – Fotografia, Interior da Casa da Muralha, 2002 134


Adquirido no dia: 08.05.2014
Fonte: Guimarães Património cultural da Humanidade Vol. I

Fig. 93 - Fotografia, Casa da Muralha, autor, 2014 134


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 94 - Fotografia, Casa do séc. XX, autor, 2014 135


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 95 - Fotografia, Casas medievais, autor, 2014 136


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 96 - Fotografia, Casas alçado Nascente, autor, 2014 137


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 97 - Fotografia, Casas alçado Nascente, autor, 2014 138


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 98 - Fotografia, Casas alçado Nascente, autor, 2014 139


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

26
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 99 - Fotografia, Casa do Juncal, autor, 2014 140


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 100 - Fotografia, Casas do Alçado Norte, autor, 2014 141


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 101 - Fotografia, Habitação do Alçado Norte, autor, 2014 142


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 102 - Fotografia, Academia Valentim Moreira de Sá, autor, 2014 142
Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 103 - Fotografia, Edifícios do Alçado Poente, autor, 2014 143


Feita no dia: 29.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 104 - Planta, Planta atual do Largo Condessa do Juncal, 2014 147
Feita no dia: 15.10.2014
Fonte: Autor

Fig. 105 - Planta, Planta da proposta de intervenção para o Largo Condessa do


Juncal, 2014 148
Feita no dia: 15.10.2014
Fonte: Autor

27
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

ÍNDICE DE ABREVIATURAS

ASMV – Administração Seiscentista do Município Vimaranense

EV - Ephemérides Vimaranenses (Livro manuscrito)

GTL – Gabinete Técnico Local

VOC - Vereações e Outras da Câmara (Livro manuscrito)

29
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

AGRADECIMENTOS

Aos meus Pais, Irmã, Padrinhos e Avó, agradeço pelo apoio incondicional,
pela compreensão e infinita paciência que tiveram ao longo deste trabalho, para
eles a minha profunda gratidão.

À Universidade Lusíada de Famalicão pelo contributo, profissionalismo


exemplar e estimulante do corpo docente na minha formação profissional.

À Professora Doutora Teresa de Jesus da Costa Pinto, minha orientadora


de dissertação, registo aqui um agradecimento muito especial, por me ter
incentivado na realização deste trabalho e acima de tudo pelas sugestões e
conselhos que sempre e muito amavelmente me prestou.

Aos Profissionais e amigos que trabalham na Câmara Municipal de


Guimarães pelos documentos facultados, disponibilidade e amabilidade, Arquiteta
Marta Mota Prego, Geografa Raquel Pinheiro, Técnico Jaime Freitas e pelas
entrevistas ao Arquiteto Miguel Frazão e Arquiteto Filipe Vilas Boas.

À equipa da Sociedade Martins Sarmento pelo seu brilhante


profissionalismo e prestabilidade.

Aos técnicos da Biblioteca Municipal Raul Brandão, pelo profissionalismo,


carinho e disponibilidade, em especial à Sra. Maria da Luz Lopes Costa.

Ao Museu Alberto Sampaio, em especial à Doutora Maria José Meireles


pelas conversas da história Vimaranense e conselhos bibliográficos.

Aos profissionais, Engenheiro Carlos Martins e ao Arquiteto António


Gradim pela disponibilidade e entrevistas.

Aos meus Amigos, pelo apoio, Alexandre Reis, Alice Cachada, Ana Valério,
Ana Simões, Catarina Martins, Cátia Gonçalves, Dalila Monteiro, Daniela
Cardoso, Eduardo Ferreira, Marisa Magalhães, Patrícia Barbosa, Paula Soares,
Sara Monteiro, e ao Hugo Rocha Fernandes pelo apoio e amabilidade que se
tornaram essenciais para a conclusão deste trabalho.

31
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Introdução

Esta tese explora uma síntese histórica da evolução urbana do Centro


Histórico da cidade de Guimarães. Abordamos no capítulo I a evolução histórica e
urbana desde o primeiro povoamento urbano até final do séc. XX no considerado
Centro Histórico. No segundo capítulo desenvolvemos a evolução das praças
intramuros nomeadamente a Praça da Senhora da Oliveira, o Largo Cónego José
Maria Gomes, a Praça de S. Tiago, o Largo João Franco e o Largo Condessa do
Juncal, e as praças extramuros, a Praça do Toural e a Alameda de S. Dâmaso.
No terceiro capítulo analisamos a evolução das metodologias de reabilitação
introduzidas pelo Gabinete Técnico Local - G.T.L. importantes para a classificação
de Guimarães como Património Mundial da Humanidade através das obras de
reabilitação do Centro Histórico de Guimarães. Neste contexto, com o título de
Património Cultural da Humanidade, em 2001, e recentemente como Capital
Europeia da Cultura em 2012, os eventos e o turismo cresceram
exponencialmente e com isto o interesse pelo património também.

O contexto destas intervenções e requalificações urbanas no espaço


público tornou-se um tema que naturalmente se enraizou na minha perspetiva
como aluno de arquitetura constituindo a minha motivação para o presente
trabalho. O Largo Condessa do Juncal, um largo situado no contexto medieval de
Guimarães, acabou por despertar o meu interesse pela inquietude que provoca, a
sensação de insegurança, de espaço fechado não é muito comum nesta cidade, a
humidade, o frio e a pouca luz, conferem-lhe uma ambiência pouco convidativa ao
desfrute do espaço. Por estas razões e em contraste com as outras praças,
nasceu a necessidade de compreender o que potencia esta imagem da praça,
logo a escolha para caso de estudo. É no final do terceiro capítulo que analisamos
esta praça, realizamos o levantamento da praça e edifícios no sentido de
questionar os problemas e os pontos solucionados neste espaço urbano.

33
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

CAPITULO I

GUIMARÃES, UMA CIDADE MEDIEVAL

Fig.1 - Fotografia, Porta do Castelo de Guimarães, 2014


Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

1 – A CIDADE DE GUIMARÃES

1.1 - Evolução urbana da cidade de Guimarães

1.1.1 - Sedimentação urbana no território Vimaranense entre 950 e 1279

O início da sedimentação urbana em Guimarães, dá-se entre 950 e 959


num contexto de presença de famílias condais portucalenses na Villa de
Vimaranes. A Condessa Mumadona Dias, viúva de Hermenegildo também
conhecido por Mendo Gonçalves era proprietaria de uma quinta no centro deste
território e foi ela que decidiu construir um Mosteiro.

O Mosteiro terá sido construído no local onde atualmente se encontram a


igreja de Nossa Senhora da Oliveira, o Museu Alberto Sampaio entre outros
prédios adjacentes. Nesse período, devido ao perigo das invasões Normandas,
que aconteciam na Europa, a Condessa mandou também construir um Castelo a
Norte, num ponto alto e rochoso, para defesa do burgo medieval.

A rua que liga estes dois importantes e cruciais equipamentos para o


desenvolvimento da vila é a Rua de Santa Maria, nome que ainda hoje se
mantém e foi de grande importância ao longo de toda a história na evolução da
cidade de Guimarães.

O Mosteiro foi transformado em colegiada no séc. XII, ganhando prestígio e


importância. Sem dúvida foi um potenciador da fixação populacional para o
território, incrementando a área designada como Vila Baixa.

Com o tempo, a Vila Baixa tornou-se um centro económico, cívico e


religioso.

O castelo viria a ser destacado como núcleo fortificado, designando a “Vila


Alta” e o Mosteiro e o burgo envolvente no vale, a “Vila baixa”, como se pode
confirmar na figura 2. Mais tarde, viriam a denominar-se a Vila do Castelo e a Vila
de Santa Maria da Oliveira.

36
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 2 - Planta, Planta de Guimarães (950 - 1279)

37
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

1.1.2 – Consolidação e expansão urbana entre 1279 e 1498

No séc. XIII, os dois aglomerados intramuros fundiram-se num só. Nesta


fase, o território Vimaranense apresenta-se como um núcleo fortificado pela
muralha que se desenvolve sobre o eixo Norte/Sul e começava no Castelo, na
Vila Alta e envolvia a vila baixa voltando à Vila Alta pelo lado oposto encerrando-
se no Castelo.

Praticamente já consolidado e capacitado de variados ofícios, o novo


aglomerado estimulou a expansão do tecido urbano. As feiras e os mercados
aconteciam no “Campo da Feira”, as indústrias de curtumes, instalavam-se aos
poucos na direção do Rio de Couros e com o crescimento destas atividades foram
sendo criadas ruas e vielas, bem como habitações nas imediações.

Na primeira metade do séc. XV as construções foram-se expandindo para


fora das muralhas e com este movimento a construção de novos equipamentos
religiosos, como o Convento de S. Domingos, na atual Rua D. João I, a sudoeste
do território, e o Convento de S. Francisco a Sudeste da atual Alameda de S.
Dâmaso como se vê na figura 3.

As funções da Vila Alta eram mais ligadas ao castelo, de carater mais


defensivo e militar e na Vila Baixa desenvolvia-se o Centro Administrativo, que
podemos confirmar pelo conjunto constituído por quarteirões e algumas áreas
vazias, onde provavelmente seriam as praças da época e se realizariam as feiras,
os pontos de encontro e demais manifestações sociais.

Podemos verificar também, em análise da figura 3, que a Vila Baixa é a


área em que encontramos mais portas da cidade, o Postigo de Nossa Senhora da
Guia (1), a Porta da Torre Velha (2), a Porta Nova de S. Paio (3), a Porta de S.
Domingos (4), a Porta de Santa Luzia (5), e na Vila Alta apenas duas, a Porta da
Garrida (6) e a Porta de Santa Barbara (7).

38
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

4 1

3
2

O Localização do Convento de S. Domingos


O Localização do Convento de S. Francisco

Fig. 3 - Planta, Planta de Guimarães, (1279 - 1498)

39
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

1.1.3 - Criação de equipamentos e novas áreas de fixação entre 1498 e 1750

O desenvolvimento urbano entre 1498 e 1750, representa um avanço


considerável na estruturação da malha urbana.

Os quarteirões e as ruas cresceram e percebe-se a unificação e


consolidação do espaço intramuralhas, mas também uma extensão da cidade
para Sul fora de muralhas. É um período caraterístico pela fundação da maior
parte dos conventos e igrejas, bem como a construção do edifício Alfandega (A)
que foi edificada adossada à muralha e à Torre da Porta Nova representados a
castanho na figura 4.

A construção nas áreas próximas dos equipamentos referidos


anteriormente, foi sendo incrementada com a edificação de casas nobres, que por
sua vez deram origem a novas ruas, praças e vielas e que foram funcionando
como guias construtivas dos quarteirões dentro e fora das muralhas.

A definição de ruas e praças que se estenderam para fora do núcleo


central, foram essenciais no desenvolvimento da área urbana da cidade. Já fora
da fortificação, podemos verificar uma escala de quarteirões e espaço urbano
maior, e mais desafogado.

Na figura 4, está representado dentro de um círculo vermelho o Convento


de Santo António dos Capuchos1 e apesar de ainda estar representada, parte do
pano desta, foi utilizado como pedra de construção do convento de Santo António
dos Capuchos, por autorização régia de 1664, no início da sua construção.

1
Edifício a Norte na figura 4, o Convento de Santo António dos Capuchos foi construído no séc.
XVII e adquirido em 1842 pela Santa Casa da Misericórdia onde construiu o seu hospital e onde
funciona hoje em dia a Igreja, instituição museológica, Lar e Serviços médicos.

40
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Alfandega
O Convento de Santo António dos Capuchos

Fig. 4- Planta, Planta de Guimarães, (1498 - 1750)

41
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

1.1.4 - Crescimento urbano fora de muralhas e a sua demolição entre 1750 e


1863

A tendência de crescimento foi sempre nos sentidos a Sul e Poente, por ter
melhores condições de assentamento para novas construções, a proximidade
com o rio permitia o escoamento das águas poluídas e terrenos de inclinação
moderada para uma melhor implantação dos edifícios, conferiram à área
características e a localização ideal para a implementação das indústrias, que na
sua maioria eram de curtumes.

No entanto, o desenvolvimento urbano desacelerou entre os séculos XVIII


e XX. Não se verificam grandes alterações, quer no traçado urbano quer na
mancha edificada.

Com o decorrer do tempo, a muralha que havia sido feita por motivos de
defesa militar, perdeu a sua qualidade de estrutura defensiva e devido a este
facto, foram tomadas medidas para derruba-la sucessivamente com o intuito de
libertar o núcleo urbano.

Como se pode verificar na figura 5, os panos de muralha que sofreram


primeiramente com esta medida foram a Sul do território, ao longo do perímetro
que compreendia a extensão muralhada entre o Postigo de Nossa Senhora da
Guia (1) e a Porta de Santa Luzia (2). A outra extensão demolida representada a
Norte perto do Castelo, teve como ímpeto a construção do Convento de Santo
António dos Capuchos e que exemplifica o destino que muitas vezes foi dado à
pedra da muralha para novas edificações.

Em muitos casos de demolições parciais, a estrutura era muitas vezes


usada como parede integrante das edificações ou como paredes de suporte,
acabando por absorver a muralha nas próprias construções.

42
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 5 - Planta, Planta de Guimarães, (1750 - 1863)

43
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

1.1.5 – Expansão e planeamento urbano entre 1863 e 1924

Com o desenvolvimento industrial, o núcleo central aumentou


maioritariamente a Sul, mas também a Poente.

Podemos verificar na figura 6 que duas grandes vias rodoviárias


foram abertas a Sul, hoje em dia conhecidas como Avenida D. Afonso
Henriques (AH) que fazia a ligação do centro urbano à central
ferroviária (CF), e a Avenida D. João IV (J IV), que partia deste ponto
até ao Campo da Feira.

A muralha perde expressão e ficam apenas três partes desta, a primeira a


Norte, como extensão do Castelo (1), a segunda a Nascente, na atual Avenida
Alberto Sampaio (2), que ainda existem na atualidade. A terceira parte situava-se
a Poente, como parte integrante dos edifícios construídos no exterior desta, ou
adossados à Muralha (3), como se vê na figura 6.

Observa-se nesta fase um núcleo central consolidado com as praças


intramuros, Largo Cónego Maria Gomes, Praça de S. Tiago, Praça de N. Sra. Da
Oliveira, Largo João Franco e Largo Condessa do Juncal com a sua expressão
atual e as praças extra-muros Toural e Alameda de S. Dâmaso, tratadas,
apresentando espaços amplos de jardim.

Alguns edifícios foram demolidos, como foi o caso do edifício da Alfândega


adossado à muralha e à Torre da Porta Nova.

Entre 1923 e 1925 foi projetado pelo Capitão Luís de Pina um Plano de
Alargamento, com o objetivo de orientar o crescimento da cidade de Norte para
Sul, apoiando-se num traçado radio-concêntrico, a partir da Praça da Mumadona,
como se pode ver na figura 6, o desenho das vias representadas a tracejado.
Estas vias projetadas, vieram a potencializar o desenvolvimento da cidade com a
sua efetiva construção ao longo dos anos. Neste período ainda não se
encontravam construídos edifícios significativos na área.

44
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

J IV
AH

CF
Fig. 6 - Planta, Planta de Guimarães, (1863 - 1924)

45
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

1.1.6 - Crescimento e execução de planos de urbanização entre 1924 e 1974

Em finais da década de setenta, o território intra-muros de Guimarães


estava já coberta (administrativamente) por áreas de proteção a Monumentos
Nacionais. Nessa altura, entre 1979 e 1980, nasceu a associação para defesa do
património da cidade, designada “A Muralha”, sendo concretizada a sua escritura
pública em 1981. Esta associação visava estabelecer normas provisórias, com o
objetivo de controlar o processo de urbanização que se expandia no concelho. De
certa forma, veio antecipar o posterior aparecimento do Plano Diretor Municipal
incluindo já um plano de pormenor que terá sido fundamental para o Plano Geral
de Urbanização da cidade.

A partir da segunda década do séc. XX, novos planos e novas


urbanizações ocorreram. Parte sobrante da muralha a Poente foi absorvida por
um plano de urbanização que contemplou a construção de moradias unifamiliares
e que, para o efeito, as construções anteriormente adossadas à muralha foram
demolidas.

Outra zona de expansão foi a Norte do território, onde se desenvolveram


áreas de edifícios habitacionais unifamiliares e multifamiliares.

As praças fora do antigo limite de muralha, foram redesenhadas e


ganharam novas configurações. A Alameda de S. Dâmaso foi ampliada, para
Nascente e com isto, vários edifícios foram demolidos, como quarteirões de
habitações e o Teatro D. Afonso Henriques que ficava já no topo desta extensão,
outros edifícios foram transladados, como por exemplo a Igreja de S. Dâmaso e a
“Casa Medieval”.

O espaço entre o Toural e a Alameda ganhou um jardim e as vias de


trânsito ficaram definidas. A Norte, na figura 7, verifica-se também o
desaparecimento de toda a rua e casas que estavam implantadas ao longo da
muralha restante entre o Paço dos Duques de Bragança e o Castelo, que foram
demolidas dando lugar a jardins que compuseram a área destes edifícios agora
protegidos pelos Monumentos Nacionais.

46
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Alameda de S. Dâmaso

Fig. 7 - Planta, Planta de Guimarães, (1926 - 1974)

47
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

1.1.7 - Requalificação do centro Histórico entre 1981 e 1997

Em 1981, a Câmara Municipal de Guimarães criou um Gabinete Municipal


do Centro Histórico que veio dar origem ao GTL (Gabinete técnico Local),
designação adotada apenas em 1985, e dirigido pela Arquiteta Alexandra Gesta
com a assessoria do Arquiteto Fernando Távora.

Entre 1983-1984, iniciou-se uma política de protocolo com o IPPC, que


pretendia uma avaliação de todos os critérios, para financiar as intervenções. A
partir daqui, o Arquiteto Fernando Távora e a futura equipa do GTL, começaram a
desenvolver projetos de revitalização urbana, como por exemplo o restauro da
Casa da Rua Nova e o projeto da praça do município.

A intervenção centrava-se nas áreas que incluíam os antigos tecidos


históricos, intra-muros e demais crescimentos da revolução industrial e tecidos
adjacentes dos anos trinta e quarenta do século XX. Este programa abrangia a
requalificação de equipamentos sociais, habitações privadas, mas principalmente
dos espaços de praça. As praças intervencionadas neste período foram o Largo
Cónego Maria Gomes, a Praça de S. Tiago, o Largo João Franco e o Largo
Condessa do Juncal, que sofreram uma reestruturação no sentido de
contextualizar e criar um fio condutor no contexto do núcleo histórico.

Com a conclusão do projeto da praça de S. Tiago em 1989, termina a


assessoria do Arquiteto Fernando Távora com o GTL, que passou a desempenhar
o papel de projetista responsável na intervenção do Largo João Franco e da
Praça Condessa do Juncal.

Símbolos representativos de antigos edifícios de relevo histórico, e o


desenho das portas da cidade ficaram esculpidos num desenho urbano de
pavimento, perpetuando as suas localizações originais, bem como a sua história.

48
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

CAPITULO II

AS PRAÇAS DE GUIMARÃES

Fig. 8 – Fotografia aérea, Centro Histórico da Cidade de Guimarães


Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2 – As Praças Medievais de Guimarães

2.1 – Análise das praças medievais tendo como ponto de partida a


planta de Guimarães de 1569

A planta de Guimarães de meados do séc. XVI, datada do respetivo


inventário de 1569, é a planta da vila mais antiga de que se tem conhecimento. As
condições em que foi produzida são desconhecidas, mas sabe-se que pertenceu
à Biblioteca do Escritor e Bibliógrafo do século XVII, Diogo Barbosa Machado.

Em 1770, da sua notável biblioteca, fez doação dos seus livros e


manuscritos ao rei D. José I. Na sequência da partida da família real para o Brasil,
60.000 volumes da Biblioteca Régia foram parar à Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro, onde se encontram até hoje.

Esta foi a planta que serviu de base para à análise dos espaços públicos,
praças, e alguns edifícios de referência que lhes foram dando caracter
arquitetónico, desenho e contexto ao longo dos tempos. Sabe-se, no entanto, que
no período de formalização urbana até à sua consolidação, não eram tidas em
conta, linhas de orientação, regras de ocupação do território, resultando um
conjunto que se foi fixando arbitrariamente dando uma configuração próxima da
que conhecemos hoje em dia2. As ruas variavam as dimensões e entrecruzavam-
se na medida das necessidades do território e crescimento urbano, caraterizando
esta malha. Neste território, poucas eram as construções com qualidade
arquitetónica, havendo na sua maioria edifícios humildes, carateristicamente de
três pisos, sendo o térreo de teto baixo, em terra batida ou lajeado e os pisos
superiores construídos em tabique, com ressaltos salientes3.

2
“A projecção das obras públicas era descuidada e arbitrária, irregular e desarmoniosa, e os
edifícios erguiam-se à vontade do freguês, sem atender ao prospecto geral, desfigurando a
unidade e corcovando ruas e vielas, que seguiam depois alombadas, sem passeios e sem
sarjetas, edifícios desalinhados, que prejudicavam o ornamento da vila e não atendiam à decência
e comodidade dos seus habitantes.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 21-22)
3
“Afora meia dúzia de edifícios armoriados e afidalgados, de três ou quatro conventos de
majestoso aspecto, com suas cercas e couvais, a casaria vulgar, quer a que embarrava com as
altas muralhas, quer a que ladeava as cangostas, tinha o piso térreo ou lajeado e sobrados de teto
baixo.

51
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Para este estudo a análise será feita de Norte para Sul, seguindo pela
ordem: Largo Cónego Maria Gomes; Praça de S. Tiago; Praça da Sra. da Oliveira;
Largo João Franco; Largo Condessa do Juncal; Praça do Toural e por último, a
Alameda de São Dâmaso.

Fig. 9 - Planta, planta urbana de Guimarães, 1569.

As portas de entrada tinham postigo, e os primeiros e segundos andares eram na sua maioria de
tabique, com ressaltos de alguns palmos. Os beirais eram muito salientes e forrados.” (BRAGA,
1992, ASMV, p. 22)

52
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2 - Evolução urbana e morfológica das praças do centro histórico medieval


de Guimarães

2.2.1 - Praças, Largos Intramuros


2.2.1.1 - Largo Cónego José Maria Gomes

b
a

Fig. 10 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 11 - Planta, Planta do Largo Cónego Maria
Largo Cónego Maria Gomes na planta de Gomes, 1569
Guimarães, 1569

O atual Largo Cónego José Maria Gomes, conhecido antigamente por


Terreiro das Claras, resultou da implantação recuada do Convento de Santa Clara
relativamente ao alinhamento da Rua de Santa Maria. O convento começou a ser
edificado em 1548, tendo sido inaugurado em 1562. A sua estrutura térrea é
representada na planta de 1569, como se pode constatar na figura11.

Esta zona era muito concorrida, quer por ser uma zona arejada, quer por ser
habitada por abades e famílias abastadas4.

O largo sofreu algumas reformas ao longo do tempo. Em 1856, contou com


a construção de canalização municipal na Rua de Santa Maria 5 no limite Poente

4
“Na rua de Santa Maria, os cónegos, os abades, e por aí acima, rua da Infesta, Sabugal, nessa
corda até ao Castelo, os mais abastados e os pobres, porque era o ponto mais desafogado da vila
e o mais concorrido, por via da mancha dos conventos de frades e freiras, que desandavam para o
exterior o pão e o caldo da caridade a todos os pedintes, e as claristas os mimos, os doces e as
palavras de conceito apaixonado e brejeiro, coadas pelo crivo da roda aos admiradores e
lamechas, que iam ali como que elas encapavam a mais variada doçura e colavam os maçapais
de amêndoa trilhada.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 27)

53
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

do largo. Um pouco mais tarde, em 1862, ficou decidido o desaterro deste para
regularizar seu o piso6. A 1 de Julho do ano seguinte a obra ainda estava por
concluir, uma vez que foi tomada a decisão de não levantar o cruzeiro para a
conclusão da intervenção7.

Neste local também funcionou a partir de 1817, a feira de madeiras, tendo


um intervalo entre 1823, data da mudança da mesma para o terreiro da
Misericórdia8, até 1877, quando se deliberou o retorno da venda de madeiras para
o terreiro das Claras9.

Em 1834, com a extinção das ordens religiosas, em Portugal, os conventos


masculinos foram de imediato encerrados e os femininos seriam fechados assim
que falecesse a última freira.

Em 1869, a Câmara pediu o Convento de Santa Clara para se instalar nele,


e em contrapartida cedia o Convento de S. Domingos para o funcionamento do
Hospital Militar10. Na esperança de uma resposta positiva, passados dois anos,
em Novembro de 1871, um novo pedido é feito mas desta vez com o fim de
instalar neste edifício a Casa da Administração, a Fazenda, a Conservatória e o

5
“1856 – XI – 18 – arrematação do cano mestre da rua de St.ª Maria. 125” (FARIA, 1933, VOC II,
p. 459v)
6
“ -1862 – XII – 17 – arrematado desaterro do terreiro de St.ª Clara – 216 –“ (FARIA, 1933, VOC
II, p. 460v)
7
“1863 – VII – 1 – resolvido não levantar mais o cruzeiro do terreiro de St.ª Clara, que se apeará
p.ª regularização do largo. -52vº-” (FARIA, 1933, VOC II, p. 461)
8
“( 8 Março) 1817 A Camara, tendo em vista“(…) que os vendedores de madeira sejam mudados
para o terreiro de Santa Clara” cuja determinação seria notificada aos referidos interessados para
assim a executarem, sob pena de condemnação de seis mil reis pagos da cadeia.” (FARIA, 1933,
EV I, p. 247v)
“1823 – XI – 15 – Mandou-se voltar do terreiro de St.ª Clara para o da Misericórdia a feira da
madeira, por ter cessado o motivo da mudança que era existir aqui o corpo da guarda do
regimento 15, e que a feira fosse feita junto á cadeia para dar lugar a mais que ali se faz. – 140- ”
(FARIA, 1933, VOC II, p. 438v)
9
“(1877) -30-V- Delib. Que desde 8 de Junho a vendagem de madeira seja no terreiro de St.ª
Clara, e as tendas e outros objectos que se vendiam no Toural se faça no Campo da Misericordia.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 151v)
10
“(4 Outubro) 1869 A Camara representa a el-rei, pedindo-lhe o convento de St.ª Clara, e,
obtendo-o, cede o de S. Domingos para hospital militar.” (FARIA, 1933, EV IV. p. 13v)

54
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Tribunal Judicial, sugerindo, a transferência das pensionistas e duas Freiras que


lá habitavam para o Convento das Dominicanas ou para outro distrito11.

Fig. 12 - Fotografia, Convento de Santa Clara, início do séc. XX.

A situação das Repartições Públicas continuou precária e um novo pedido


foi feito, tendo em atenção o preço da respetiva avaliação em 1874 12. Mais dois
pedidos foram feitos pela câmara, um em 1879, e outro em Agosto de 1887, para
que o edifício fosse concedido após o falecimento das duas Freiras que nele
habitam13.

11
“1871 – XI – 22 Delib. Representar a pedir o convento de St.ª Clara p.ª nelle installar as
repartições publicas; porque tendo, em cumprimento das leis, dar casa a Administração, Fazenda,
Conservatoria e Tribunal judicial; aquellas 3 estão n´uma acanhada e alugada, e este está no
extinto convento de S. Domingos o qual está em estado de ruina, pelo que o Juiz de Direito pede
lhe deem outro edifício, mas como n´esta cidade não há edifícios particulares em condições de
servir para o tribunal: lembra que o convento de St.ª Clara onde vivem algumas pensionistas e
duas freiras professas bastante idosas; pede a V. Mg. de que transfira as duas freiras para o
convento das Dominicanas d´esta cidade ou para qualquer outro do districto e lhe ceda o dito
convento de St.ª Clara e n´elle poderá a Camara instalar todas as ditas repartições.” (FARIA,
1933, VOC II, p. 149)
12
“(1874) 10–IX– Delib. Representar ao Governo para que seja concedido a esta camara, pelo
preço da respectiva avaliação, o Convento de St.ª Clara, para n´elle ser estabelecido o tribunal
judicial e outras repartições publicas.” (FARIA, 1933, VOC II, p. 150v)
13
“(5 Março) 1879 A Camara delibera representar ás camaras legislativas pedindo seja concedido
ao município o edifício do convento e cerca de St.ª Clara depois do fallecimento das duas

55
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Em Setembro de 1891 faleceu a ultima Freira14 e em Agosto de 1893 o


edifício foi entregue à Colegiada para instalar nele o Seminário de Nossa Senhora
da Oliveira.

O Largo mudou de nome e passou a denominar-se Largo do Seminário-


Liceu15. Em Agosto do mesmo ano arrancaram as obras para o novo seminário16.

Com a tomada de posse do Convento em 1911 pela Câmara, o antigo


Convento de Santa Clara passou a ser ocupado pelo Liceu Martins Sarmento e
Internato Municipal17 para estudantes menores, como se pode verificar na
inscrição da figura 13.

religiosas do mesmo, ainda existentes, afim de ali serem estabelecidas diversas repartições
publicas.” (FARIA, 1933, EV I, p. 240v)

“(9 de Agosto de 1887) – Senhor – Dir. a Camara municipal de Guimarães, que n´esta cidade
existem dois dos extinctos conventos, 1 de St.ª Clara, outro de St. ª Rosa de Lima, ou Dominicas.
(…) Vem por isso a Supplicante pedir para que o Governo de V. Mag. De conceda á Camara de
Guimarães, propondo-se lei, se assim for necessário, os edifícios, capellas e cercas respectivas,
para as diversas repartições publicas a cargo deste municipio e transferindo-se a posse á Camara
somente quando falecerem as ultimas freiras.(…) Guimarães 9 de Agosto de 1887.” (FARIA, 1933,
VOC II, p. 246)
14
“(8 Setembro) 1891 Pelas10 horas da noite, falleceu no mosteiro de St.ª Clara a madre “Antonia
(Viegas”) Amalia Assumpção, vigaria in capite e ultima religiosa professora d´este convento,
ficando extincto o mesmo cenóbio, como já estavam todos os de Guimarães.(…)” (FARIA, 1933,
EV III. p. 238v)
15
“(19 Agosto) 1893 Decreto concedendo provisoriamente á Collegiada o edifício do extincto
convento de St.ª Clara e suas dependências para n´elle se estabelecer exclusivamente o
seminário de Nossa Senhora da Oliveira, podendo para isso fazerem-se as obras necessárias,
devendo serem pagas pela importância em deposito dos rendimentos accumulados que eram
privativos do D. Prior; o qual foi publicado a 24 d´este no n.º 18 do Diario do Governo.” (FARIA,
1933, EV III. p. 162)
16
“(30 Agosto) 1893 Principiaram as obras no convento de St.ª Clara de adopção para o
seminário, apesar da repartição da Fazenda Nacional ainda não ter dado posse d´elle convento ao
R. mo Cabido, a quem fôra concedido. – Vide 16 de Agosto de 1902-” (FARIA, 1933, EV III. p.
192v)
17
“(24 Agosto) 1911 O Governo concedeu o extincto convento de St.ª Clara para installação do
Internato Municipal.” (FARIA, 1933, EV III. p. 199)

“(25 Agosto) 1911 Decreto cedendo á Camara “a parte do antigo convento de St.ª Clara” de
Guimarães, “onde estava installado um seminário, a fim de n´elle estabelecer um internato para
estudantes menores. 2.º - Esta cedência é feita a titulo provisório, até que definitivamente se dê,
áquelle edifício, algumas das applicações designadas em qualquer dos 4 numeros do art.º 104 do
decreto” de 20 de Abril ultimo. Está assignado por Antonio José d´Almeida e Affonso Costa. ”
(FARIA, 1933, EV III. p. 176v)

56
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 13 - Postal, Convento de Santa Clara a funcionar como Liceu, início do séc. XX

Em 1918, o Largo voltou a mudar de nome, ano em que adotou o nome de


Largo Dr. João de Meira e, seis anos mais tarde, por decisão da Câmara, passou
a denominar-se Largo Cónego José Maria Gomes18.

Em 1943 foi inaugurado o ginásio na igreja de Santa Clara e a partir de


1968 os serviços da Câmara Municipal passaram a partilhar o Convento com o
Liceu.

Em finais de 1974, depois da saída do liceu, todo o edificado passou a ser


utilizado pelos Serviços da Câmara Municipal, situação que se mantém até aos
dias de hoje.

18
“(11 Janeiro) 1924 Foi deliberado que o terreiro de St.ª Clara se denomine Largo do Cónego
José Maria Gomes” (FARIA, 1933, EV I, p. 36v)

57
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 14 - Fotografia, torre sineira da Igreja do Convento de Santa Clara, 1911

Fig. 15 - Planta, planta de recuperação pela equipa dos Monumentos Nacionais, meados do séc. XX

Em meados do séc. XX o Largo Cónego José Maria Gomes foi reabilitado


pela equipa dos Monumentos Nacionais. Neste projeto foi definida uma área de
praça de forma trapezoidal com piso calcetado, ponteado por árvores em todo o
seu perímetro e no centro foi colocado um cruzeiro, figura 16. À sua volta foi
construída uma via automóvel que a contornava definindo os limites deste Largo
com as ruas: a norte Rua Nuno Álvares, a poente pela rua de Santa Maria, a sul

58
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

por frentes habitacionais e respetivos acessos e a nascente pela Câmara


Municipal. As suas cotas foram alinhadas pelas das entradas dos edifícios, da
Câmara Municipal descendo até às cotas de acesso ao edificado envolvente,
demonstrando um empenamento do terreno até à cota mais baixa situada no
extremo sul com a Rua de Santa Maria.

Casa dos Carneiro

Fig. 16 - Fotografia, Largo do Município e Casa dos Carneiro, meados do séc. XX

A Casa dos Carneiros que se vê identificada na figura 16, era uma das
casas que fazia parte da Rua de Santa Maria, um edifício construído no séc. XIX,
e que pertencia à família Semães. Este edifício é constituído por um piso térreo,
onde se desenvolveriam as “lojas” da construção e mais dois pisos e sótão, onde
se desenvolveria a habitação e respetivos cómodos. Mais tarde o edifício foi
adquirido pela família Carneiro, que acabou por batiza-la com o nome de Casa
dos Carneiros. Em 1992 o edifício foi inaugurado como Biblioteca de Municipal de
Guimarães, que funciona na mesma atividade até aos dias de hoje19.

19
“(…) a “Casa dos Carneiro”, um edifício do séc. XIX, propriedade da família vimaranense
SEMÃES, vindo posteriormente a pertencer à família CARNEIRO, situada em pleno centro
histórico, em frente ao edifício da Câmara Municipal de Guimarães. A 7 de março de 1992, é
inaugurada a Biblioteca Municipal Raul Brandão. O seu patrono foi um grande escritor e
dramaturgo que viveu de 1886 a 1901 em Guimarães.”, 2014

59
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2.1.2 Praça de S. Tiago

D3

D2

b PC
C
D1

P .
..
..
c
d
Fig. 17- Planta, Planta de localização da atual Fig. 18 - Planta, planta de pormenor da Praça de S.
Praça de S. Tiago na Planta de Guimarães, 1569 Tiago, 1569

A Praça de S. Tiago localiza-se no desenvolvimento da contígua praça da


Oliveira e é delimitada por quarteirões. Tem como pontos de acesso a Rua de
Santa Maria (a) a Norte, a praça da N. Sr.ª da Oliveira a nascente (PC) e a Sul, as
ruas: Rua dos Fornos (b) e Rua escura (d) que hoje em dia é a Rua João Lopes
de Faria (b-d) e a Rua Dr. António Mota Prego (c), antiga Rua do Espirito Santo20.

Analisando as figuras 17 e 18, parte da planta de 1569, pode-se constatar


que a praça do peixe ou de S. Thiago (P) ocupava uma área substancialmente
menor do que aquela que atualmente é ocupada pela Praça de S. Tiago.
Na sua maior parte era ocupada por aglomerados de edifícios, com várias
habitações e pequenos comércios ((D1), (D2) e (D3)) e a Capela de S. Thiago (C)

20
“Desta Praça do Peixe sahem três ruas, a primeira a rua dos Fornos, porque nella os haviam
algum dia públicos, dos quaes não só se aproveitavam os padeiros, mas toda a gente da villa,
para a parte d´entre norte, e nascente se encontra esta rua dos Fornos com a rua do Gado, e esta
com a do Paço, e sendo todas místicas se vão encontrar com a rua da Infesta no districto da villa
Araduca, fazendo sahida pela porta da Garrida, hoje de Santo Antonio, por ter sua imagem, e
defronte o seu mosteiro. A segunda rua que sahe da Praça do Peixe é a do Espirito Santo, que
antigamente foi da Judiaria, aonde esteve Queto, e fazendo sua guarida para poente, para no
terreiro da Misericórdia. A terceira rua que sahe da Praça do Peixe, é a rua Escura, por ler
serventia para o sul, e ali divide a rua dos Mercadores da Sapateira.” (AZEVEDO, 2000, p. 313)

61
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

todos atualmente demolidos. Esta capela foi uma construção erigida no séc. XVII,
no lugar original de um templo pagão dedicado à deusa Ceres21.
A capela de S. Thiago (C), assim como um conjunto de edifícios (D1) adossados
a esta, fechavam o espaço da praça do Peixe (P) a nascente. A Norte e a poente
existe uma mancha edificada que se mantem até aos dias de hoje e a Sul era
marcada por uma alpendrada ao comprimento da fachada. Era conhecida como a
Praça do Peixe, pois era aqui que os peixeiros exerciam o seu ofício, como outros
ofícios alimentares tais como o fabrico22 e venda de pão e vinho23.

Nos inícios do séc. XVII finalizaram a construção dos Paços do Concelho


Vimaranense (PC) que permitia a circulação entre as duas praças ao nível do piso
térreo. Após a sua conclusão, impunha-se a regularização da praça de S. Tiago
que agora recebia quem vinha da Praça da Senhora da Oliveira (Praça Maior).
Em 1852, a Câmara compra umas casas para aumentar a Casa dos
expostos24 e, em 1872, a Praça ganha um novo serviço, o Banco de Guimarães
que se instala e começa aqui a funcionar no início de 187325.

Com vista nos melhoramentos da Praça de S. Tiago, a Capela de S.


Thiago teve a deliberação para ser expropriada pelo Vice-presidente, em 188226.

21
“Na Praça de S. Tiago, cuja capela, que foi demolida em 1887, sbstituira a primitiva que estava
em ruína em 1600(…).” (OLIVEIRA, 1985, p. 21)

“(…)está situada a igreja de S. Thiago, que foi antigamente templo de Ceres, no qual o sagrado
apostolo derrubando os ídolos, colocou a imagem de Nossa Senhora, cuja imagem depois foi
trasladada para o mosteiro de Muma Dona, que hoje é a real Collegiada da Oliveira.” (AZEVEDO,
2000, p. 312)
22
“E para quem deles se quisesse utilizar em comunidade, havia os fornos públicos, nas ruas de
S. Tiago, Judiaria, Gatos, Eirado, Guardal, Tulha e Fornos.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 21)
23
“(…) é esta Praça muito habitada de gente, especialmente peixeiros, que ali de tempos antigos
manejam seu trafego. É cercada de casas ministeriães de pão, e vinho, sendo principal entre
estas lojas a que antigamente foi casa de contos, e hoje serve de castigo de malfeitores.”
(AZEVEDO, 2000, p. 313)
24
“(21 Julho) 1852 A Camara comprou por 180$000 reis umas casas da praça de S. Thiago a
Manuel José Pinto para augmentar a casa dos expostos.” (FARIA, 1933, EV III, p. 61)
25
“(2 Abril) 1872 Instalação do Banco de Guimarães, na casa n.º 29 da praça de S. Thiago,
principiando a funcionar em 1 de Fevereiro de 1873.” (FARIA, 1933, EV II, p. 4v)
26
“(1882) -4-1- Por proposta do Vice-presidente, foi deliberado expropriar a capella de S. Thiago.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 154A)

62
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Já em 1884, a Praça era descrita no jornal “Comércio de Guimarães” como


pobre e pouco salubre27. Em 1885, a câmara resolve mandar expropriar a Capela
com o fim de concluir os melhoramentos da Praça28.

Fig. 19 - Desenho, Capela de S. Tiago por Carlos Van Zeller, 1835

Em Julho do mesmo ano, o Padre Abílio Passos, escreve no Jornal


“Comércio de Guimarães” estar contra a demolição da Capela e a favor de
melhoramentos na Praça que se apresentava em muito mau estado de
conservação e pouca higiene29.

27
“Daqueles casebres imundos emanam partículas deletérias que comprometem a saúde pública“
(O Comércio de Guimarães de 16 de Outubro de 1884).
28
“(10 Junho) 1885 A Camara resolve mandar proceder á expropriação da capella de S. Thiago, a
fim de serem concluídos os melhoramentos no solo da praça assim denominada.” (FARIA, 1933,
EV II, p. 252v)
29
“(…) proceder a melhoramentos no largo de S. Tiago, porque nisso havia reconhecida vantagem
mais crescida ainda da boa higiene, pois todos conhecemos as más condições do local e suas
pertenças bem como vemos as ruínas, que ameaçam algumas das construções da travessa do
mesmo nome, que são acanhadas e velhas, desmanteladas e sujas”. (Comércio de Guimarães, 6
de Julho de 1885)

63
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Em Abril de 1886, a Câmara requer a secularização da Capela, e a


imediata expropriação legal logo que chegasse a planta30. Após aproximadamente
um mês, é legalmente exequível a sua demolição31, quer fosse posta em prática
pelo presidente, quer por alguém a seu mando32. A Capela de S. Thiago teve o
seu fim, em Janeiro de 1887, quando começa a perder as suas paredes33.

Em Dezembro de 1902, começou a ser instalada a casa da esquadra no


antigo edifício dos Paços do Concelho Vimaranense, bem como a nomeação de
um corpo de polícia civil provisório34.

Os projetos de melhoramento continuaram ao longo do século XX. Em


Setembro de 1905 a Câmara aprova um projeto de ampliação da Praça de S.
Tiago, quando se expropriaram três prédios, devido à falta de salubridade e
condições de habitabilidade, da viela por eles faceada a nascente e sentido norte
da praça35.

30
“(1886) -12-IV- Requerer a secularização da capella de S. Thiago e promover o processo judicial
da sua expropriação logo que chegar a planta” (FARIA, 1933, VOC II. p. 161)
31
“(6 Maio) 1886 Carta de lei auctorisando a camara municipal a demolir a capella de S. Thiago,
desta cidade.” (FARIA, 1933, EV II, p.120)
32
“(1886) -2-VI- Resolv. Que visto ter sido enviada á Camara a planta da capella situada na praça
de S. Thiago d´esta cidade, se proceda á expropriação judicial da mesma capella, conforme o
decreto de 6-V ultimo, ficando auctorisado o Presidente, ou quem suas veses fizer, a promover e
fazer promover em juízo todos os termos do respectivo processo.” (FARIA, 1933, VOC II. p. 161)

“(1886) Resolv. Que seja posta em praça a obra da demolição da capella de S. Thiago da praça
do mesmo nome. (…)”(FARIA, 1933, VOC II. p. 161)
33
“(21 Janeiro) 1887 – 6ª feira – Por ordem da Camara principia a demolição da capella de S.
Thiago, sita no largo do mesmo nome, antiga Praça do Peixe, e depois Praça de S. Thiago.”
(FARIA, 1933, EV I, p.65v)
34
“(15 Dezembro) 1902 – 2.ª feira- Começaram os trabalhos de installação da casa da esquadra,
no edifício da administração do concelho, casa das Lamellas, e nomeação provisória do pessoal
do corpo de policia civil.” (FARIA, 1933, EV IV, p. 257)
35
“(1905) -6-IX- Em sessão foram approvados os projectos e orçamentos seguintes: (…)
Alargamento e aformoseamento da praça de S. Thiago 17:620$000 reis.(…) – Reparação,
melhoramento e afromoseamento do largo de D. Affonso Henriques 2:300$000reis. – Construção
d´uma rua entre os campos de S. Francisco e da Feira 18:500$000 reis. (…) Foram approvadas
superiormente no fim de Setembro, ou antes de 5 de Outubro de 1904.” (FARIA, 1933, VOC II. p.
163)

64
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig.20 - Fotografia, Praça de S. Tiago, 1938

Por motivos de higienização, já na república propôs-se arrasar parte das


edificações da Praça de S. Tiago (D1, D2 e D3) e das ruas adjacentes.
O projeto de reparação, melhoramento e alargamento da praça de S. Tiago
foi assinado pelo engenheiro António Martins Ferreira e visava a demolição de
todos os edifícios que hoje caracterizam a praça, dando lugar a um espaço
tendencialmente quadrangular, como se pode ver na figura 5, permitindo deste
modo a instalação de um novo edifício para a Câmara Municipal de Guimarães.

Fig. 21 - Planta, Projeto de alargamento da Praça de S. Tiago, 1916

Posteriormente foi posto a concurso o edifício da Câmara. O projeto


“Ourique”, do arquiteto Marques da Silva, foi o vencedor do concurso (figura 22).

65
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Por falta de meios financeiros para o arranjo urbanístico, este projeto passou para
a área hoje ocupada pelo Tribunal de Guimarães, na Praça da Mumadona, que
teve iniciada a sua construção mas, não foi concretizada.

Fig. 22 - Alçado, alçado do projeto Ourique do Arquiteto Marques da Silva, 1923

Em Maio de 1963, a Câmara Municipal decidiu transladar, com a máxima


autenticidade, um edifício conhecido por “Casa Medieval” (M) para a Praça de S.
Tiago, com o propósito de entregar o edifício à Junta de Turismo local. Este foi
removido da Alameda e reconstruído no topo do bloco de casas que perfazem a
fachada nascente da praça e do lado oposto ao edifício dos antigos Paços do
Concelho, tendo sido a sua inauguração no dia 31 de Maio de 1968. Esta Casa 36

36
“(…) é exemplar único e pouco vulgar, puramente seiscentista. Tem o rés-do-chão de pedra,
avultando logo como que uma meia laranja de gomos de pedra, elegante saliência que suporta o
primeiro andar, também de pedra, rematando com o enxerto do segundo andar, liso e de tabique.”
(Revista de Guimarães n.º 69, 1958, p. 170)

66
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

acabou por não ser reconstruída exatamente como era, e foi-lhe modificado a
fachada agora voltada a norte, onde lhe acrescentaram uma varanda e duas
janelas que, originalmente estava encostada a outro edifício e tinha essa parede
cega (lado esquerdo da figura 23 e 24).

Fig. 23 - Fotografia, fachada nascente da praça de S. Tiago, entre 1921 e 1942

“Casa medieval”

Fig. 24 - Fotografia, Casa medieval, 1970

67
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2.1.3 Praça de Nossa Senhora da Oliveira

.
. ..
PC .
..
.
..
.
..
.
. PS
. . .. a
..
.. O
. .. ..
. .
. ..
b.
.
.
.
..
Fig. 25 - Planta, Planta de localização da atual
.
Fig. 26 - Planta, Praça da Nossa Senhora da
Praça da Nossa Senhora da Oliveira, na Planta de Oliveira, 1569
Guimarães, 1569

A Praça de Nossa Senhora da Oliveira, localiza-se no tecido Medieval de


Guimarães e fazia a ligação entre os dois principais eixos de circulação interna da
cidade muralhada. O principal eixo denominado Rua de Santa Maria (fig. 2, letra
c) fazia a ligação entre o Castelo e a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e a
Rua Rainha D. Maria II, como segundo eixo estrutural (Fig. 2, letra b) do núcleo
urbano estabelecia a ligação entre a Praça da Nossa Senhora da Oliveira e a
Porta da vila, principal acesso da antiga estrada de ligação entre a cidade do
Porto e a vila de Guimarães. Por esta via circulavam mercadores, peregrinos e
funcionários régios. É delimitada pelas frentes de quarteirões que conformam um
espaço de tendência retangular e é definida por uma superfície de nível em que o
volume da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira avança sobre o espaço
público definindo a frente nascente da praça (Fig. 25 e 26).

Conforme se verifica na planta da figura 26, o atual espaço da Praça Nossa


Senhora da Oliveira aparece designada como “A Praça”, o que poderá facilmente
remeter para a condição de Praça Central de Guimarães ou Praça Maior, uma vez
que é a partir deste núcleo urbano primitivo que a cidade se estrutura e se
expande.

69
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 27 - Fotografia, Frente nascente da Praça de Nossa Senhora da Oliveira, primeira década do séc.
XX.

Nota-se também a presença de alpendres assinalados pelo ponteado pelas


frentes do norte, poente e do sul37, o que conferiria uma presença forte na
configuração da praça. Atualmente, só os alpendres na frente sul, à direita na
figura 27, resistiram à evolução no tempo, embora tenha também desaparecido o
seu prolongamento para a medieval Rua dos mercadores, atual Rua da Rainha, e
na direção da Senhora da Guia38. Posteriormente à data desta planta terão sido
construídos o alpendre da atual Pousada da Oliveira, como mostra a figura 28 à
esquerda39.

37
“Quanto ao Largo da Oliveira estava assinalada a alpendrada do lado poente e sul que, nesta
direcção, se prolongava até à Viela do Esterpão, assim como o Padrão e a oliveira, (…).
(OLIVEIRA, 1985, p. 22)
38
“(14 Fevereiro) 1900 A Camara municipal approvou, para submetter á approvação superior, os
projectos e orçamentos para as obras e melhoramentos seguintes: (…); corte da alpendrada do
largo da Sr.ª da Oliveira á Sr.ª da Guia 2:600$000 de reis;(…)” (FARIA, 1933, EV I, p. 160)
39
“A praça do Padrão da Victoria em que está plantada a oliveira, é toda ladrilhada de pedra: e por
ser o sitio em que se fundou o novo Burgo, como dissemos, lhe chamaram Praça Maior, que com
igual grandeza fazem magestosa a povoação: é esta praça vistosa pela assistência do padrão da
Senhora, e agradável pelo sussuro das tres bicas de agoa que correm no seu tanque: pela nobre
torre dos sinos da igreja Collegiada, e pela occurrencia de gente que a ella vem. É fechado pelo
nascente pela igreja Collegiada, e dali a ponente pelas casas de seus vizinhos, todas com

70
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 28 - Fotografia, Rua de Santa Maria, início do séc. XX

Um elemento que também chama a atenção, é a estrutura situada no lado


a norte da praça e se presume ter sido a representação do pelourinho de
Guimarães. Por falta de documentação, fica apenas a suposição de um dia ter
havido lá um pelourinho ou a intenção de coloca-lo ali, uma vez que há apenas
referência de estar situado para os lados de S. Francisco40.

alpenderadas sobre columnas de pedra. De poente a norte se adorna com a casa da camara, e
audiências que estando sobre arcos de pedra dão passagem para que desta praça possam passar
á outra do peixe(…)”- (AZEVEDO, 2000, p. 311-312)
40
“Do pelourinho de Guimarães nada fica para a Idade Média. Não existia na Praça, a julgar pelo
mais cerrado silêncio de milhares de diplomas compulsados. As notícias posteriores – séculos
XVII – dão conta da sua existência, para os lados de S. Francisco”. (FERREIRA, 1997, p. 325)

71
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Um outro elemento que falta na praça hoje em dia é o tanque-chafariz que


assegurava o abastecimento público de água a Guimarães. Era composto por três
bicas e, sensivelmente, da mesma largura da torre da Colegiada da Oliveira, à
qual se encostava. No meio existia uma reentrância semicircular, que permitia o
acesso à bica do meio. Mais tarde, a reentrância deixou de existir, dando lugar a
um único murete. Os elementos que se destacam são as pedras de armas, o
brasão de Guimarães, com uma imagem em bronze da Senhora da Oliveira, e
ainda o brasão real41. Após a introdução do sistema de abastecimento público em
Guimarães, no dia 20 de Agosto de 1904, o tanque-chafariz foi desmantelado42.
Deste, restam apenas as pedras de armas que o ornamentavam e que hoje
pertencem ao Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento.

Fig. 29 - Fotografia, Tanque da Oliveira, 1845

A Igreja da Senhora da Oliveira sofreu acrescentos e alterações ao longo


dos tempos. Em 1830 começou o seu restauro que retirou todos os adornos,
deixando a igreja com a sua estrutura original43. Em 1832, as obras ficaram

41
“O tanque encostado à torre da igreja e construído no século XV foi demolido em 1904 e
entregues à Sociedade Martins Sarmento as pedras de armas que o ladeavam e se guardam no
Museu daquela Sociedade.” (OLIVEIRA, 1985, p. 22)
42
“(20 Agosto) 1904 Foi demolido o tanque da praça de N. Sr.ª da Oliveira, que estava encostado
á torre.” (FARIA, 1933, EV III, p. 164v)
43
“1830 Principia a desastrosa restauração na igreja Collegiada. PS. – No caderno das contas da
despesa da mesma, principiou a 9 de Junho” (FARIA, 1933, EV2, p. 262v)

72
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

suspensas devido à guerra civil44, tendo sido retomadas em 183445, apenas


durante um ano e com mais uma paragem de dois. Só foram novamente
retomadas em 183746. Em 1840, é que se iniciaram as obras no Coro na Capela-
mor uma vez que estavam quase concluídas as da igreja47. Após estas
intervenções, e algumas décadas depois, a Igreja da Nossa Senhora da Oliveira,
foi considerada Monumento Nacional, juntamente com outras obras, já em 191048.
O seu interior fora reconhecido e as obras recomeçaram no claustro a 192649.

O Padrão do Salado, ou da Senhora da Vitória, marco comemorativo do


mesmo nome em que participou, aparece também já na planta de 1569. Tudo
indica que em 1342, o negociante Pero Esteves mandou colocar na praça uma
cruz trazida da Normandia, tendo sido implantada ao lado da oliveira. À partida
será a do Padrão de Nossa Senhora da Vitória, que lá se encontra ainda hoje a
par de uma abóbada de pedra50 apoiada em quatro arcos em ogiva e colunas
lavradas ao gosto românico. Sobre os arcos ficam os alçados triangulares.

44
“(12 Julho) 1832 Suspendem-se as obras da reforma da igreja Collegiada, por causa do estado
critico em que se achava a terra. – P.S. (e os fundos da fabrica foram para D. Miguel).” (FARIA,
1933, EV III, p. 33v)
45
“1834 Reabrem as obras da reforma da igreja da colegiada as quaes tinham (principiado em 14
de Junho de 1830) parado em 12 de Julho de 1832 quando o sr. D. Pedro entrou no Porto com a
sua divisão. Agora continuaram em virtude d´um subsidio que para tal fim offerecêra, três mil
cruzados, o tesoureiro – mor Thomé Luiz Felgueiras, em rasão da Fabrica estar exhaurida de
dinheiros porque os que possuía foram por ordem do Sr. D. Miguel para a thesouraria do seu
exercito.” (FARIA, 1933, EV I, p. 168v)
46
“1837 Tornaram a continuar as obras da collegiada, que estavam paradas á perto de 2 annos
por haverem sido suspendidas por ordem do Governador Civil de Braga. (…)“ (FARIA, 1933, EV1,
p. 156v)
47
“1840 Principiou o Cabido a fazer o côro na capella-mor, por estar já quasi concluída a obra da
igreja. PS. Foi uma desastrada restauração em toda a igreja, a qual ficou parecendo mais sala de
visitas que casa da Oração e habitação de Deus.” (FARIA, 1933, EV1, p. 238)
48
“1910 Decreto, d´esta data e publicado no Diario do Governo de 23 d´este mez, designando os
immoveis que devem ser considerados monumentos nacionaes, e, entre elles os seguintes: (…)
Igrejas: Igreja de S. Miguel do Castello – Igreja de N. Sr.ª da Oliveira. – Igreja de S. Domingos
(Claustro). – Igreja de S. Martinho de Candoso. (…)”(FARIA, 1933, EV2, p. 267v)
49
“(15 Agosto) 1926 Andavam obras no Claustro que foi de N. Sr.ª da Oliveira.” (FARIA, 1933, EV
III. p. 150)
50
“(30 Dezembro) 1880 A real associação architectos civis e archeologos portuguezes, em
assemblea geral considera o Padrão de N. Sr.ª da Victoria monumento histórico de 2.ª classe.”
(FARIA, 1933, EV IV. p.292v)

73
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 30 - Fotografia, Padrão da Senhora da Vitória, 1913

Nesta área houve também algumas alterações, nomeadamente a


eliminação do gradeamento que fechava o Padrão da Senhora da Vitória e
circundava o adro principal da colegiada no ano de 191351.

Como se pode ver na figura 30, entre o Padrão e a Oliveira nos edifícios do
lado poente da Praça, as alpendradas, ainda existiam, e criavam corredores
cobertos ao nível do piso térreo que eram normalmente usados para pequenas
vendas, normalmente dos habitantes locais e garantia abrigo em dias de
intempérie. Em 1874 deram a primeira permissão para fechar a alpendrada52,
acabando, esta fachada alpendrada, por ser toda fechada e criados passeios

51
“(19 Setembro) 1913 Foram retiradas as grades de ferro que circundavam o adro principal e o
padrão da igreja Collegiada.” (FARIA, 1933, EV III, p. 273)
52
“(1874) -11-XI- concedeu a licença pedida por Anna Carolina da Silva para tapar o alpendre
(lado poente) da praça de N. Sr.ª da Oliveira em frente á sua casa.” (FARIA, 1933, VOC II. p.
150v)

74
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

encostados às casas no mesmo ano53. Em 1900 a Câmara autoriza a demolição


das alpendradas entre a Praça de Nossa Senhora da Oliveira e a Senhora da
Guia54. De referir também, de pelo menos 1858, (data da fotografia), é o piso da
praça que depois de terreiro, foi calcetado, exceto as áreas correspondentes ao
adro da Igreja, do Padrão e lateral do tanque-chafariz que estavam revestidas
com blocos de granito serrado, uniformizado, e venciam a cota da antiga Rua dos
Mercadores (a sul da praça) com três degraus. Estes mais tarde, foram retirados,
dando lugar a um piso calcetado, vencendo a cota gradualmente.

Fig. 31 - Fotografia, Padrão da Senhora da Vitória, meados do séc. XX

Um dos edifícios mais marcantes da Praça da Oliveira é o antigo Paços do


Concelho Vimaranense. Trata-se de um edifício do final do séc. XVII, Manuelino,
situado a norte na praça e tem como principais características ser fechado apenas

53
“(Sem mez nem dia) 1874 Concertou-se a rua Nova do Muro, fizeram-se passeios e calcetou-se.
Taparam-se os alpendres das casas do lado poente da praça Maior ou de N. Sr.ª da Oliveira.(…)”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 322)
54
“1900 - A Camara municipal approvou, para submeter á aprovação superior, os projetos e
orçamentos para obras e melhoramentos seguintes: canalização e abastecimento das águas da
cidade, 35:000$000 de reis; corte e alinhamento da rua da Rainha, d´esta cidade 6:000$000 de
reis; corte da alpendrada do largo da Sr.ª da Oliveira à Sr.ª da Guia 2:6000$000 de reis(…)”
(FARIA, 1933, EV I, p. 160v)

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

no piso 1, deixando o piso térreo livre para atravessamento público para a Praça
de S. Tiago. O edifício é sustentado por arcos ogivais, com contrafortes, (à direita
na Fig.32), e o exterior é rebocado. As cinco janelas voltadas para a Praça da
Nossa Senhora da Oliveira são decoradas com frontões triangulares e em cima
destas estão dois escudos reais e três esferas armilares que na gravura
aparecem alternados55. Sobre a platibanda, existiam um sino municipal e um
relógio de sol e, em 1876, foi deliberado ser a figura representante de Guimarães,
que ornamentava a alfândega, os substituísse56. Num restauro realizado na
segunda metade do séc. XIX, a esfera da segunda janela e o escudo da terceira
trocaram de posições.

Fig. 32 - Gravura, Paços do Concelho, séc. XVIII

O sino e o relógio de sol foram removidos e deram lugar à estátua do


Guimarães, em Junho de 1877. Atualmente, ali funciona o Turismo do Norte. A
sua fachada apresenta-se sem reboco deixando a pedra à vista. Os Paços do

55
“As casas da camara, e das audiências estão misticas, e ambas fazem frente para a Praça
Maior, com uma galaria de janellas com grades de ferro de encosto pintadas, e douradas, são
ambas coroadas de ameias, e no alto de suas paredes tem o escudo das armas de Portugal(…).”
(AZEVEDO, 2000, p. 312)
56
“(1876) -15-V- Delib. Que a figura representante de Guimarães se colloque no edifício dos
Paços do Concelho. e que em 31-V se arremate a madeira, telha e columnas da Alfandega.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 151)

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Concelho Vimaranense, deixou de funcionar neste local e ocupa agora o antigo


Convento de Santa Clara com a designação de Câmara Municipal de Guimarães.

Fig. 33 - Fotografia, Paços do Concelho, 1890

Ainda hoje a oliveira que aparece na planta de 1569 é um dos marcos


principais da praça que acabou por lhe dar o nome. Em 1871, a oliveira que
existia em frente ao padrão foi expropriada57 e, em 1875, a Câmara levou a hasta
pública o que restava da árvore bem como a grade que a rodeava. O polígono em
que se encontrava acabou por ser desfeito e no dia 23 de Dezembro do mesmo
ano o tronco foi transplantado para um circuito de pedra no meio do tanque da
Praça da Oliveira58, tendo sido substituída em 188159. Em 1882, a Câmara
mandou tirar o muro que protegia a oliveira60.

57
“(13 Novembro) 1871 Portaria do governo, que denega á Camara d´esta cidade a expropriação
da Oliveira que existia defronte do Padrão, no Largo ou praça de Nossa Senhora da Oliveira.”
(FARIA, 1933, EV IV. p.143v)
58
“(2 Dezembro) 1875 A Camara faz arrematar em hasta publica o tronco da oliveira e a grade
que a circuitava, existente em frente á Collegiada, que tinha expropriado ao Cabido.” (FARIA,
1933, EV IV. p. 229v)

“(5 Dezembro) 1875 Foi arrancado o tronco que restava da oliveira, que o José Martins comprou
por 1$400 reis p.ª collocar em outro sitio, e acabado de desfazer o polygno. – Vid. A 10 d´este-”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 235)

“(23 Dezembro) 1875 É transplantada d´entro d´um circuito de pedra, no meio do tanque da praça
de Nossa Senhora da Oliveira, a oliveira que estava n´um plintho actogno no centro do mesmo

77
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 34 - Fotografia, Oliveira, 1858

Desde esta data passou mais de um século sem a árvore, quando em


1985, com o processo de reabilitação do Centro Histórico, a praça recupera o seu
ícone.

largo em frente ao Padrão, a qual tinha sido ultimamente arrematada em hasta publica nos paços
do concelho, disendo-se que a iniciativa de tal transplantação (estupidez, collocar uma oliveira
n´um tanque d´água) e despesas da mesma eram á custa da bolça do presidente da camara.”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 278)
59
“(16 Fvereiro) 1881 Plantou-se outra oliveira no pequeno circuito que há pouco tempo tinha a
camara mandado fazer no meio do tanque que estava encostado á torre de N. Sr.ª da Oliveira; por
ter secado o tronco da antiga oliveira.” (FARIA, 1933, EV I, p. 165v)
60
“(15 Novembro) 1882 A Camara resolve mandar tirar de dentro do tanque da praça de N. Sr.ª da
Oliveira o pequeno muro que servia de resguardo á oliveira ali posta poucos annos antes, a qual
havia seccado, e mais que ali posesse seccariam.” (FARIA, 1933, EV IV. p. 159v)

78
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2.1.4 Largo João Franco

d
c

D2

D1

IM
CM
b

Fig. 35 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 36 - Planta, Planta da área ocupada
Largo João Franco na Planta de Guimarães, 1569 atualmente pelo Largo João Franco, 1569

Na planta de Guimarães de 1569, como se pode observar nas figuras 35 e


36, não se encontra o atual Largo João Franco. Este nasceu de sucessivas
demolições de um miolo constituído por casas e quintais (D1 e D2), que começou
a ser aberto nos finais do séc. XVI61. Dos limites do atual Largo fazem parte o que
outrora foram as ruas: da Sapateira a sul, das Flores a poente e do Espirito Santo
a Norte62.

Em Guimarães existiram duas confrarias, uma funcionava na Igreja da


colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e a outra na paróquia de S. Paio. Com a
necessidade de criar um espaço para a construção de uma nova igreja, hospital e
Casa da Misericórdia houve a necessidade de adquirir terrenos. Estrategicamente
a escolha recaiu na antiga Rua da Sapateira que começava na porta da Vila e

61
“Nesta rua Sapateira se formou um terreiro chamado da Misericordia, feito das casas, e quintaes
que os moradores deram de esmola, e outras que comprou esta irmandade, para que sua igreja e
hospital manifestem melhor sua grandeza.” (AZEVEDO, 2000, p. 314.)
62
Neste terreiro da Misericordia está para a parte do norte a cadêa da correição, e junto della
desmboca a rua do Espirito Santo, e delle sahe entre norte, e poente a rua de Val de Donas, que
sahe pelo lugar de Nossa Senhora da Graça, ou Santa Luzia, e tem para a parte de nascente um
rocio a que chamam do Mestre Escola, todo povoado de casas, e comunica com a rua dos
Fornos.” (AZEVEDO, 2000, p. 314).

79
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

desembocava na Rua dos mercadores alcançando a Praça Maior, atual Praça da


Oliveira, onde se ergue a igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira.
A concretização deste novo projeto dependeu da compra de várias casas, quintais
e doações que perfizeram a área total para a sua realização. A 2 de Abril de 1588
foi assinado um alvará régio que autorizava a Misericórdia a expropriar os lotes
que eram necessários à concretização da obra. O seu início deu-se a 2 de Abril
do ano de 158863. A Igreja e a Casa da Misericórdia foram inauguradas em 1606,
o que permitiu à irmandade sair do claustro da Colegiada para este novo edifício
onde passaram a cumprir as funções religiosas, de caridade social e hospital de
Guimarães (figura 37).

Fig. 37 - Fotografia, Santa casa da Misericórdia, início do séc. XX

Consequentemente, os irmãos da Confraria resolveram fazer um Terreiro


em frente aos novos equipamentos construídos. Para o efeito foram adquiridas
propriedades através de expropriações, compras e doações que permitiram a
área necessária à concretização do projeto.

63
“(2 Abril) 1588 Alvará regio concedendo á Misericordia poder expropriar os prédios precisos
para fazer a sua casa e igreja na rua da Sapateira. Foi passado em Lisboa.” (FARIA, 1933, EV II,
p. 6)

80
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Este Terreiro foi aberto desde a fachada principal do novo complexo da


Misericórdia até um outro edifício emblemático no extremo oposto, a Casa da
Torre, (figura 38).

Fig. 38 - Fotografia, Casa da Torre, meados do séc. XX

Esta nova área, de configuração tendencialmente retangular e de nível,


veio criar uma nova centralidade e desafogo na intrincada malha medieval.
Nasceu seguindo a influência renascentista que, caracterizava o espaço segundo
os cânones urbanos da sua contemporaneidade. Rapidamente se tornou no novo
polo de fixação da elite Vimaranense64 que começou a construir aí as suas
habitações. Salientam-se os casos da Casa dos Coutos, do séc. XVIII, figura 39 a
nascente, e o caso da Casa da Torre, figura 38, no topo norte, construída no séc.
XVI.
A Casa da Torre é um palácio que teve várias funções, nos primeiros
séculos foi habitação permanente de nobres, até que em meados do séc. XIX,
passou a servir como quartel ao batalhão que costumava fazer as suas paragens
em Guimarães. Com o tempo e a mudança de funções, o edifício foi sofrendo

64
“No terreiro da Misericórdia viviam os nobres, os fidalgos.” (BRAGA, 1992, ASMV, p. 27)

81
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

alterações na sua morfologia original. Hoje em dia funciona como unidade


hoteleira no piso térreo e primeiro andar.
As restantes construções que compõem o Largo, não apresentam as mesmas
dimensões, mas caracterizam-se pela riqueza dos materiais e cuidados
arquitetónicos65.

Fig. 39 - Fotografia, Terreiro da Misericórdia, início do séc. XX

Em 1818, a Câmara mandou fazer um tanque neste largo para servir a


população local66. Em 1823 voltou para o Largo da Misericórdia a feira de

65
“É o terreiro cercado todo de casas, e as que o formam da parte de nascente lhe chamam rua
do Ferreiro: da parte do sul é fechada pela igreja da santa irmandade, casa de despacho, e
hospital, e da parte do poente é fechado com casas da rua das flores, e pela parte do norte pelas
nobres casas que levantou o doutor Garcia de Carvalho moço fidalgo, e chanceler mór do reino,
casamenteiro, e testamenteiro d´el rei D. João 3.º, a quem o dito senhor deu a madeira de Ebano
com que são forradas.” (AZEVEDO, 2000, p. 314.)
66
“(18 Julho) 1818 A Camara determinou mandar construir o tanque no terreiro de N. Sr.ª da
Misericordia, visto a utilidade que resulta ao bem comum d´esta villa, que há annos se tem
requerido a este Senado pela Nobresa d´ella.” (FARIA, 1933, EV III, p. 51v)

“1818 – VII – 18 – Resolveu-se a construção do tanque no terreiro da Misericordia. 23vº.-” (FARIA,


1933, VOC II, p. 435)

82
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

madeiras67 e em 1830 ficou acordado que esta só ocuparia a zona entre o tanque
e a cadeia que funcionava nesta altura na Casa da Torre68.
Em Abril de 1862, foi acordado pela Camara a construção de obras de desaterro,
rebaixamento e nivelamento do Terreiro da Misericórdia69. Este foi arborizado,
sendo pontuado por árvores nos limites a nascente e poente.
A partir do início do séc. XX a praça sofreu significativas alterações: o piso foi
calcetado e criado o desenho estrutural do terreiro, que se desenvolve em linhas
de pedra em ziguezague, criando losangos entre a Casa da Misericórdia e a Casa
da Torre, e os passeios foram guarnecidos em granito.
Em 1910, a comissão Municipal deliberou que este Largo passasse a chamar-se
de Franco Castelo Branco70 e passadas quase duas décadas, em 1927, foram
construídos três estruturas ajardinadas no seu eixo central, figura 40.

Fig. 40 - Fotografia, Largo João Franco, 1988

67
“1823 – XI – 15 – Mandou-se voltar do terreiro de St.ª Clara para o da Misericórdia a feira da
madeira, por ter cessado o motivo da mudança que era existir aqui o corpo da guarda do
regimento 15, e que a feira fosse feita junto á cadeia para dar lugar a mais que ali se faz. – 140- ”
(FARIA, 1933, VOC II, p. 438v)
68
“(1830) -20-III- Acordaram q. a vendagem dos carros de madeira q. para isso vem a esta villa,
seja no terreiro da Misericordia, da direcção do tanque p.ª a cadeia, e não do lado d´aquella
direcção p.ª a igreja da Misericordia, por ser o lugar em as tendeiras vendem.” (FARIA, 1933, VOC
I. p. 232)
69
“1862 – IV – 9 – Foram arrematados pela Camara: - o desaterro, rebaixe e nivelamento da
terreiro da Misericórdia;” (FARIA, 1933, VOC II, p. 146)
70
“(2 Novembro) 1910 A commissão Municipal deliberou passassem a denominar-se: o Largo de
Franco Castello Branco, Campo da Misericordia; (…).” (FARIA, 1933, EV III. p. 117v)

83
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Em 1932-34 foi implantado no centro do Largo, um monumento em


homenagem a João Franco, concebido pelo Arquiteto Marques da Silva, e um
busto, pelo Escultor Teixeira Lopes71, figura 41.

Fig. 41 - Fotografia, Monumento a João Franco, meados do séc. XX

71
“(26 Maio) 1934 – Sabbado – Chegou o busto do conselheiro João Franco” (FARIA, 1933, EV II,
p. 180)

(…) com busto de Teixeira Lopes, e no monumento a João Franco em Guimarães (1932-34), com
busto, também, do mesmo escultor (num jogo de ressaltos, vindos das Artes Decorativas e da
simbólica miniaturizada do castelo e suas torres). (CARDOSO, 1997, p.421)

84
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2.1.5- Largo Condessa do Juncal

h
c
R
d 2
I
e f
A
a
b

Fig. 42 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 43 - Planta, Planta da área ocupada
Largo Condessa do Juncal, na Planta de atualmente pelo Largo Condessa do Juncal, 1569
Guimarães, 1569

O atual Largo localiza-se no tecido Medieval de Guimarães e também


resulta da demolição de vários edifícios no seu miolo. Foi batizado como Largo
Condessa do Juncal, por decreto de 17 de Abril de 1890, em homenagem a
Amélia Augusta Ferreira do Amaral, uma benfeitora e benemérita da Santa Casa
da Misericórdia, casada com Carlos Pinto Vieira da Mota, que ostentou o título de
Condessa do Juncal após a sua instituição pelo Rei D. Carlos I.

Esta área esteve sempre ligada à muralha pelo seu limite a Sul e tinha
duas Portas da vila que serviam para a entrada e saída da cidade, (Fig. 43): porta
1, a Porta Nova, ou postigo de S. Paio e a porta 2, a Porta da Torre Velha.

No séc. XVI, o Largo teria uma configuração medieval atravessada por


ruas, vielas, pequenos largos e aglomerados de construções públicas, religiosas e
civis e ainda privadas habitacional e comercial.

Analisando a figura 43 e começando pela Porta Nova (1) encontrava-se o


Largo de S. Paio (a). Neste Largo, do lado esquerdo, nasce a Rua da Arrochela

85
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

que ainda hoje existe e faz a ligação com a antiga Rua da Sapateira 72. Esta seria
uma zona de Habitação, e funcionaria como adro da Igreja de S. Paio (I), que era
orientada no sentido da Porta Nova (1). Contornando a Igreja pela esquerda
encontrava-se o início da Viela de Atraz - S. Paio, uma pequena via que
desembocava no Largo do Anjo (d) onde funcionava o centro social da área. O
cariz dos edifícios envolventes era a Igreja de S. Paio (I), o Albergue da Sr.ª do
Serviço (A) e o Recolhimento do Anjo (R). No Largo do Anjo confluíam todas as
ruas e vielas circundantes. Partindo deste largo para Sul existia o Largo dos
açougues (b), de onde nascia a Rua dos açougues (f), paralela aos edifícios
encostados à muralha, e terminava na Porta da Torre Velha (2). A meio deste
percurso havia a viela do anjo (e), que separava o Albergue (A) do Recolhimento
(R) e que nos levaria de novo ao Largo do Anjo (d). No sentido a Norte, existia a
antiga Rua da Tulha (g) que ia ter à Rua dos Mercadores que, por sua vez, fazia
ligação com a Praça da Senhora da Oliveira. Na Rua de Alcobaça ia ter à Porta
da Torre Velha, ou ao início da Rua Nova do Muro, que à semelhança da Rua dos
Açougues, era paralela à muralha e aos edifícios encostados a esta73.

Toda esta área, conhecida como Sam Paio, fazia parte do 6º bairro, dos 8
em que dividiram o território Vimaranense nos inícios do século XIX. Deste faziam
parte: a Rua Nova, Rua dos Açougues, S. Paio, Tulha, Alcobaça, Rua dos
Mercadores, Rua Donães, Eirado, Rua Sapateira, Rua Escura, Praça da Oliveira
e Rua do Postigo74.

72
“Para entre norte e poente sahe deste terreiro de Sam Payo a rua da Arrochella, que recebeu o
nome de Nicoláo de Arrochella, Francez que nella viveu, e desemboca no terreiro da Misericórdia,
e da rua Sapateira.” (AZEVEDO, 2000, p.315)
73
“Há de muros a dentro desta villa outro terreiro a que chamam de Sam Payo, aonde está a
igreja parrochial deste santo, é bem povoado de casas (…)” (AZEVEDO, 2000a, p. 315)

“A zona de S. Paio, onde existia a igreja paroquial, que foi demolida em 1914, era constituída pelo
Postigo de S. Paio que ligava o Toural ao Largo de S. Paio e onde também se iniciava a Rua dos
Açougues e o Largo do Anjo, ambos a sul da igreja, ficando-lhe a norte o corredor da Misericórdia
e a viela de Traz de S. Paio. Entre o Largo do Anjo e a Rua dos Açougues ficava a Viela do Anjo e
entre a Rua dos Açougues e a da Tulha ficava a Rua de Alcobaça que terminava nas escadinhas
da «Fonte dos Passarinhos».” (OLIVEIRA, 1986, p. 21)
74
“A 4-4-1807; como a 21-3-1807.- “attendendo a varias desordens q. continuam. te se estão
observando se determinou se dividisse a villa em bairros e cada um tivesse um juiz p.ª este com
os seus homens rondassem nos referidos bairros a saber: (…) 6º bairro – rua Nova, Açougues, S.
Paio, Tulha, Alcobassa, rua dos Mercadores, rua Donães, Eirado, rua Sapateira, rua Escura, praça

86
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Como se pode ver na planta da figura 43, há três edifícios com mancha
amarela. Estas construções remontam ao século XIII e foram demolidas no séc.
XX, com o alvor da primeira República.

A Igreja de S. Paio (I) já datava de 1216, como sendo uma igreja Paroquial na
época.75

Fig. 44 - Fotografia, Igreja S. Paio, 1915 Fig. 45 – Fotografia, Igreja S. Paio vista lateral, 1915

O edifício sofreu várias alterações e reconstruções ao longo dos tempos e


em 1703, contou com a construção de uma capela-mor. Em 1789, foi feito o
aumento do corpo da igreja e a sua construção terminou em 1796. A igreja
manteve-se sem intervenções, ficando com o “estilo moderno que se vê hoje”,
como relata o Padre Ferreira Caldas na sua contemporaneidade76. Em 1912,

da Oliveira e rua do Postigo, juiz nomeado Franc.º Joaq. Asinheiro, sapateiro da rua Nova (…)”
(FARIA, 1933, VOC1, p.369v)
75
“Debalde revolvi os arquivos da confraria e irmandade erectas nesta paroquial igreja, com o alvo
de encontrar o ano da sua fundação primitiva. É todavia certo – a não ser mais notável a sua
antiguidade – que ela já existia como igreja paroquial, apresentada pelos D. Priores de Guimarães
no ano de 1216.” (CALDAS, 1996, p. 324)
76
- “Acanhada e humilde na sua origem, tendo contudo já em 1600 quatro altares no corpo da
igreja, passou por várias reformas e acréscimos, sendo levantada a capela-mor em 1703. Mas
como ainda nesta obra não fosse ela dotada de capacidade bastante para o movimento da
freguesia, determinou a confraria do SS. Sacramento, em 1789, dar-lhe mais largo espaço, e à
igreja mais altura e mais agradável aspecto: e principiando-se desde logo as obras, continuaram
com algumas interrupções, até 1796 em que se concluíra a restauração, no estilo moderno, em
que hoje se vê.” (CALDAS, 1996a, p. 324)

87
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

começou a demolição da Igreja de S. Paio pela capela –mor77. Em Maio de 1913,


a Câmara Municipal de Guimarães solicitou ao Governo a demolição da Igreja de
S. Paio78 e quase um ano depois, em Março de 1914, foi oficializada a sua venda
à mesma79. A paróquia foi mudada para a Igreja de S. Domingos80 que
possibilitou a sua demolição. A igreja foi perdendo as suas paredes até 1915,
como mostra a figura 46 já no fim da demolição.

Fig.46 - Fotografia, demolição da Igreja de S. Paio, 1915

77
“1912 Principia, pela capella-mor, a demolição da igreja de S. Payo (outra victima da republica,
e neste dia anniversário da gloriosa lei de separação da igreja do estado).” (FARIA, 1933a, EV1. p.
55)
78
“(…) no ano de 1913. Foi nesse ano que em sessão da Câmara de 21 de Maio foi resolvido
representar ao Ministro da Justiça pedindo a demolição da igreja paroquial de S. Paio e que a
sede da freguesia passasse a ser instalada na igreja de S. Domingos, como veio a acontecer.”
(OLIVEIRA, 1986a, p. 22)
79
“1914 Decreto concedendo à camara de Guimarães o edifício da igreja parochial de S. Payo de
Guimarães.” (FARIA, 1933b, EV1. p. 194)

“Anexo 1 - “Venda efetuada pelo Governo Português à Câmara Municipal de Guimarães do


edifício da Igreja Paroquial da freguesia de São Paio, a fim de ser demolida para ampliação do
largo.” (Cota: AMAP-M-1745-f.7v-10)
80
“1914 Às 6 horas da manhã, depois de finda a Missa das Almas, foi o E.mo Sacramento da
Igreja de S. Payo, (que ia demolir-se) conduzido para a igreja de S. Domingos, acompanhado de
muito povo, e ali ficou instalada a parochia de S. Payo.” (FARIA, 1933c, EV2. p. 41)

88
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

A ligar as duas confrarias da vila, a da Misericórdia e a de S. Paio, existia


uma passagem que possibilitava o acesso entre estas e respetivos Largos. A
entrada situa-se por trás da igreja da Misericórdia, ao lado da parede voltada a
poente e ainda hoje é colmatada com portas para regular o seu atravessamento81.

Um outro edifício que fazia parte deste miolo era o Albergue da Senhora do
Serviço que funcionou como hospital do concelho no início do séc. XIII 82. Era
descrito pelo padre Caldas com sendo uma casa térrea, com quintal murado e
uma capela83.

Fig. 47 - Fotografia, Albergue da Senhora do Serviço, anterior a 1912

81
“No dito terreiro de Sam Payo para norte corre a rua Traz Sam Payo, e de Traz Misericordia por
parar nas suas paredes, as quaes lhe dão sahida para o seu terreiro por um passadiço debaixo de
suas casas, o qual tem portas que se fecham de noite.” (AZEVEDO, 2000b, p. 315)
82
“(…) a Nobreza e o povo, mandaram chamar à câmara o guardião frei Miguel, e aí lhe fizeram
doação dum hospital, por outro nome Albergaria, no qual se recolhiam as pobres que passavam
de caminho, e por ser administrado pelo govêrno da vila se chamava o hospital do concelho. (…)
Foi feita a doação pelo juiz Mem Martins, e por todo o concelho a 23 de Novembro, ano de Cristo
de 1271, estando também presentes o alcaide-mor Pero Rodrigues, Fernão Gonçalves Cadilho, e
muitos homens bons, como então se chamavam os honrados.” (ALMEIDA, 1921, p.310)
83
“É uma casa térrea com limitada horta, sita no largo de S. Paio. Tinha noutro tempo adjunta uma
capela, que lhe deu o título, da qual nem vestígios restam.” (CALDAS, 1996b, p. 398)

89
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Em 1865, a pedido dos vizinhos, a Câmara cedeu terreno para edificação de um


novo edifício para o Albergue da Senhora do Serviço 84. Passadas poucas
décadas, em 1908, uma parte desse albergue desmoronou85 e, em Dezembro de
1910, o engenheiro municipal Inácio Menezes participou à Câmara que o muro do
quintal ameaçava ruina86.

A ruina do albergue estava eminente e, em 1911, depois de alojarem as suas


habitantes no Convento das Dominicanas, por ordem da Câmara, começaram as
obras para a sua demolição87. Foi então que, em 1912, terminaram a destruição
do edifício88.

Em 1290, o Albergue da Senhora do Serviço já não reunia as condições


necessárias à época. Com a necessidade de ampliação, foi construído um novo
edifício, o Recolhimento do Anjo, figura 48, tendo sido lançada a primeira pedra
no ano de 129089. Como segundo convento Franciscano, este passou a ser o
hospital do concelho90, dotado de capela e fábrica de hóstias91. Com o passar do

84
“1865 – 10 – IV Camara cedeu terreno perto da igreja de St.ª Margarida P.ª edificação do
albergue de S. Payo, que os visinhos pertendem mudar. – 97 vº-” (FARIA, 1933d, VOC1. p. 462)
85
“1908 Desmoronou-se parte do albergue de N. Srª do Serviço, administrado pela Coraria, no
largo do Anjo.” (FARIA, 1933e, EV2. p. 236)
86
“A 6 de Dezembro de 1910 o engenheiro municipal Inácio Teixeira de Menezes, comunicava à
Câmara que “tanto o edifício do extinto Recolhimento do Anjo como o muro do quintal do Albergue
para pobres velhas situados na Rua dos Açougues e no Largo do Anjo, ameaçam ruína em grande
parte das suas paredes voltadas para aquela rua e para o largo dos Açougues, sendo um perigo
eminente para quem ali habita e para quem passa pela dita rua e largo”.” (ALMEIDA, 1921a, p.
305)
87
“1911 - 3.ª feira – Principiou demolir-se, por ordem da camara, o antigo albergue de N. Sr.ª do
Serviço, que era administrado pela communidade da curaria, tendo já à tempos mudado as
albergadas, mulheres pobres e velhas, para o extincto convento de S.ta Rosa de Lima,
“dominicanas”.” (FARIA, 1933f, EV3. p. 272v)
88
“1912 Quinta feira – Neste dia e no seguinte ficou quasi de todo demolido o albergue de N. Srª.
do Serviço, no terreiro das Beatas do Anjo, lateral à igreja de S. Payo; era administrado pela
communidade da Curaria e n´elle residiam 8 mulheres pobres e idosas.” (FARIA, 1933g, EV2. p.
132)
89
“(…) lançou a primeira pedra o Arcebispo de Braga D. Frei Telo, Religioso desta Ordem, com
muita solenidade no ano do Senhor de 1290 e deu muita parte do dinheiro que gastou na obra(…)”
(ALMEIDA, 1921b, p. 311. Cit. Por GONZAGA, p. 273)
90
“É opinião comum entre nós, que o actual recolhimento do anjo, sito no largo de S. Paio, fôra o
antigo hospital chamado do concelho, onde os frades franciscanos vieram de Vila Verde –
arrabaldes de Guimarães – instalar o seu segundo convento.” (CALDAS, 1996c, p. 355)
91
“(…)as pobres recolhidas do Anjo, que fabricavam hóstias(…)” (ALMEIDA, 1921c, p. 304)

90
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

tempo foi sofrendo várias alterações, como é o caso da capela que é inaugurada
no novo espaço, em 174892.

A área por ele ocupada tinha como limites a Viela do Anjo (e), Rua dos Açougues
(f), Rua de Alcobaça (g-h) e Rua da Tulha (g), como se pode ver na figura 43.

Fig. 48 - Fotografia, Fotografia do Recolhimento do Anjo, 1908

Na figura 48, vê-se do lado direito algumas habitações contiguas ao Albergue da


Senhora do Serviço, onde antigamente existia o quintal que lhe pertencia e, em
frente, a fachada voltada a poente do Recolhimento do Anjo. Na figura 48 pode-se
ainda confirmar no chão a sombra da Igreja de S. Paio, que na altura estava de
pé e fazia costas ao Recolhimento.
Pode-se ver também o cruzeiro que veio do Largo de S. Paio, em 1864, para o
Largo do Anjo, encostado ao Recolhimento do Anjo onde esteve até aos anos
1910-191193.

92
“Passou este recolhimento por várias reformas na sua fábrica; sendo mudada a capela para o
lugar, que hoje ocupa, e benzida em 1748.” (CALDAS, 1996d, p. 356)

91
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Em meados de 1910, o Recolhimento estava já em muito mau estado de


conservação. A Câmara Municipal de Guimarães, mediante avaliação, solicitou ao
governo a necessidade de uma rápida demolição do edifício do Recolhimento do
Anjo94. O Governo, a 23 de março de 1911, autorizou a Câmara Municipal de
Guimarães a demolir o edifício do Recolhimento do Anjo95. A demolição da
Capela do Recolhimento do Anjo começou em 191196.

Algumas das habitações que faziam parte do quarteirão do Recolhimento do Anjo


e que lhe eram contíguas, também foram demolidas por expropriação para o
plano de higienização da República97.

Outros edifícios, também antigos e com história, persistem na área que estamos a
analisar, como é o caso do asilo dos inválidos. Este edifício nasce devido à
necessidade de expansão da Santa casa da Misericórdia que, nos inícios do séc.
XIX, pela proximidade à instituição, se instala o Asilo dos Inválidos por trás da

93
“1864 Na 1ª dezena d´este mez: estando 1 gradeiro em cima de uma escada para guiar o
guindamento d´uma grade e vidraça que alguns devotos queriam mandar collocar no cruzeiro
pertencente ao recolhimento do Anjo e que estava no largo do Anjo, cahiu, ficando em estado
perigoso, de que lhe resultou a morte. Guindavam uma grade de 3 arrobas por umas cordas,
lançadas nos braços da pequena cruz, apenas segura por 1 pequeno espigão de ferro, à qual não
podendo com o peso, nem sustentando a força empregada para guindar a grade, desabou e
trouxe consigo o homem que estava na escada. A cruz e grade não cahiram longe de 8 crianças
que demoravam ali perto. – NE. a cruz com a imagem do crucificado foi substituída por uma nova,
mas de differente pedra e desenho, sendo então o cruzeiro apeado e collocado encostado ao
recolhimento, onde esteve à extinção e demolição do mesmo, em fins de 1910, sendo então
arrematado pelo dr. Luiz Cardoso, filho, que o mandou colocar na sua quinta de Margaride onde
ora está.” (FARIA, 1933h, EV1. p. 319v)

“1911 – 6ª feira – Foi apeado o cruzeiro do recolhimento do Anjo. O Pedestal só o foi na terça feira
19 d´este mez. – Está ora collocado na quinta de Margaride.” (FARIA, 1933i, EV4. p. 257)
94
Anexo 2 - “Excerto da ata da sessão extraordinária da Câmara Municipal de Guimarães. (AMAP-
M-1877-f.119v). (1910-11-11) A Câmara Municipal de Guimarães solicita ao Governo o edifício do
Recolhimento do Anjo, a fim de se promover à sua rápida demolição.”
95
Anexo 3 - “Diário do Governo n.º 67 (1911-03-23) 1251. Decreto a autorizar a Câmara Municipal
de Guimarães a proceder à demolição do edifício do antigo Recolhimento do Anjo”
96
“1911 Principiou a demolição interior da capella do recolhimento do Anjo (victima da republica)
e terminou no dia 22 de manhã, e conforme alagavam iam levando os objectos para o convento
das Capuchas. Dia da gloriosa lei de separação da igreja do estado.” (FARIA, 1933j, EV2. p. 55)
97
“Expropriação do terreno das casas pertencentes a Domingos José de Sousa e mulher, Ana
Sousa, Francisco Ferreira d’Andrade e mulher, Maria das Dores Figueiredo, para a obra de
aformoseamento do antigo Largo de São Paio.”
(Cota: AMAP-M-1744-f.38v-41v)

92
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Igreja da Misericórdia, num edifício que faz vizinhança também com a Igreja de S.
Paio em 180898.

Em 1843, a instituição recebe umas casas por doação de José Joaquim da Silva e
sua mulher, tendo sido levantado o edifício em 184499. Mais tarde, entre 1857-
1859, adquire uma casa e quintal que pertencia a Gonçalo Lopes Moreira, no
Largo de S. Paio, por decreto de expropriação por utilidade pública para dar maior
capacidade ao asilo, garantindo o espaço necessário à sua lotação e bom
funcionamento100, com capacidade para acolher aproximadamente vinte e seis
inválidos de ambos os sexos101, figura 49.

Atualmente este edifício ainda existe, foi sendo reparado e adaptado até a
função que desempenha hoje em dia como “Academia de Música Valentim
Moreira de Sá”.

98
“1808 Abertura, ou instalação, do asylo de Invalidos, no largo de S. Payo, administrado pela
Misericórdia.” (FARIA, 1933k, EV1, p. 3)
99
“Posto que a benemérita corporação da Santa Casa da Misericórdia logo desde a sua fundação
socorresse entrevados pobres nos seus domicílios só mais tarde possuiu um edifício, onde os
recolhesse convenientemente.

Tal edifício foi levantado em 1844, no largo de S. Paio, numas casas doadas para tal fim, no 1º de
julho de 1843, pelo piedoso cidadão José Joaquim da Silva e sua mulher. É administradora deste
pio estabelecimento a mesa desta corporação, que possui para a sustentação dos Inválidos um
fundo de 27:302$735 reis.” (CALDAS, 1996e, p. 394)
100
“1857 é julgada por sentença a expropriação de uma casa e quintal, sitos no largo de S. Payo,
pertencente a Gonçalo Lopes Moreira, para dar maior capacidade ao asylo dos Invalidos
administrado pela Misericórdia.” (FARIA, 1933l, EV1. p. 283)

“1857 Decreto, expedido pelo ministério das obras Publicas, mandando que por utilidade publica
se proceda à expropriação d´uma casa e quintal, no largo de S. Payo, pertencente a Gonçalo
Lopes Moreira, passando à Misericórdia para dar maior capacidade ao hospital dos Entrevados –
Vide 12 de Janeiro de 1859.” (FARIA, 1933m, EV1. p. 43)
101
“Recebe vinte e seis inválidos de ambos os sexos, aos quais dá casa e mesa, vestido e 20 reis
diários a cada um, com o que anualmente dispende, termo médio, 999$428 reis.

Neste asilo distribui-se na noite de Natal uma ceia a 24 pobres, convidados pela mesa.” (CALDAS,
1996f, p. 394)

93
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 49 - Fotografia, Asilo dos Inválidos, 1920-1930

Um outro edifício é a Casa dos Amarais, é uma casa Nobre e foi construída nos
finais do séc. XVIII, inícios do séc. XIX. É uma construção que se desenvolve
essencialmente em dois pisos, um térreo onde funcionariam as divisões dos
serviçais e no primeiro piso o andar Nobre.

Como se pode ver na figura 50, é dotada de três pares de portas no piso térreo,
tendo sido uma alterada para janela, posteriormente à construção, e três pares de
janelões com varandim no andar Nobre, o que lhe confere alguma horizontalidade

94
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

e simetria fortalecida pela decoração do portal e pedra de armas no centro da


composição102.

Fig. 50 - Fotografia, Casa dos Amarais em recuperação para conclusão da “Casa do Juncal”, 2013

No Largo do Anjo não passavam só os fiéis e devotos frequentadores da Igreja de


S. Paio ou os doentes que vinham ser tratados no Albergue da Senhora do
Serviço ou no Recolhimento do Anjo, pernoitavam também na hospedaria, no
atual edifício do limite a Norte do Largo.

102
“A casa dos Amarais, no extremo da rua Dr. Avelino Germano, que abre para o Largo
Condessa do Juncal é, provavelmente, dos fins do século XVIII, inícios do XIX. Com um piso
térreo e andar nobre, apresenta ainda decoração de permanência setecentista no portal, e uma
certa horizontalidade criada pelo correr de janelas de sacada agrupadas no registo superior, mas a
forte marcação barroca de um eixo central tende a diluir-se, para isso contribuindo a inexistência
de um vão central nobilitado pela pedra de armas. Esta foi colocada junto à cornija, sobre um
intervalo entre o par central de janelas.” (MATOSO, 2002, p. 332)

95
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Situava-se na Viela Atraz – S. Paio, atrás da Igreja de S. Paio, como se pode ver
na figura 51 pela inscrição publicitária. Hoje em dia, depois de restaurada e
reabilitada é usada para habitação, figura 52.

Fig. 51 - Fotografia, antiga Hospedaria de Trás de S. Paio,

Fig. 52 - Fotografia, Fotografia da antiga hospedaria reabilitada para habitação, 2013

96
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

O edifício que ocupa o atual limite poente do Largo Condessa do Juncal


também escapou à demolição, figura 53 e 54. Trata-se de um conjunto de
apartamentos que, por analogia à sua configuração, parece uma casa de ressalto,
portanto anterior ao séc. XVII. Até aos dias de hoje foi sofrendo alterações, quer a
nível da fachada pré-existente, quer na sua ampliação em altura e regularização
dos pisos. Possivelmente, mas sem confirmação documental, torna-se um edifício
onde é provável ter funcionado a casa dos Açougues Municipais, ou ter sido sua
vizinha, uma vez que se encontra na antiga Rua dos Açougues e as
características construtivas apontam para a mesma data em que por ali foi
instalado o Açougue do Município103.

Fig. 53 - Fotografia, Casa no limite Poente do Fig. 54 - Fotografia, Casa no limite poente do
Largo, 1952 Largo, 1984

Outras atividades comerciais foram exploradas neste largo, como por


exemplo a feira do leite instituída em 1927104.
O espaço da praça resultou das demolições anteriormente descritas como
consequência dos programas de higienização da república e a praça aparece
como um espaço amplo, onde os edifícios se destacam.

103
“(1) Açougue, primitivamente, era a praça, onde em lojas ou barracas se vendiam a carne, o
peixe e mais géneros. Séculos passados, aos açougues foi dada a sua função própria de
serventia. Em Guimarães, aí por 1612, a casa dos açougues públicos ficava perto dos Paços do
Concelho. Depois passou para a Rua dos Açougues, que mais tarde tomou o nome de Rua do
Anjo.” (BRAGA, 1853, p. 63)

“1877 A Camara deliberou mandar concertar os telhados da casa dos açougues e demolir a
alpendrada de fora.” (FARIA, 1933n, EV3. p. 50v)

104
“1927 Foi mudada a feira do leite, para o largo Condessa do Juncal.” (FARIA, 1933o, EV4. p.
159)

97
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2.2 – Praças, Largos Extramuros

2.2.2.1 Praça do Toural

2
.
..
. ..
..
.. C
a
.. .
. ..
.. .
..
.. 1
.

Ch

Fig. 55 - Planta, Planta de localização do atual Fig. 56 - Planta, Planta da área ocupada
Toural na planta de Guimarães, 1569 atualmente pelo Toural, 1569

A atual praça do Toural resultou do processo de ocupação urbano que,


desde o seu início, foi planeado como terreiro onde se davam acontecimentos
sociais, como feiras e festas religiosas.

Na planta do séc. XVI, como se pode ver na figura 56, os limites a Norte e
a Poente eram delimitados por uma espécie de passeio coberto pelos alpendres
dos edifícios. Já o limite a Nascente contava com a muralha, do miolo da vila
intramuralhas, e as entradas a Norte pela Torre de S. Domingos, a Porta da Vila e
a Nascente com a entrada da Porta Nova que dava acesso a S. Paio. No séc.
XVII, teria uma imagem próxima da ilustração da figura 3.

Num primeiro plano, o chafariz quinhentista (Ch) que na última intervenção voltou
ao seu lugar original e o Cruzeiro do Fiado (C) no seu extremo oposto, a Norte,
sendo fechada a poente com casas alpendradas e a nascente pela muralha105.

105
“Toda esta Praça do Toural é fechada de norte e nascente com o muro da vila. De nascente ao
vendaval é aberta e comunica com o terreiro de S. Sebastião. Do vendaval é fechada com casas;

99
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Na segunda metade do século XVIII, os alpendres deixaram de se usar, e


os donos das casas do Toural, por pedido concedido, foram-se apossando do
terreno em frente e ampliavam as habitações criando novas fachadas.

Fig. 57 - Ilustração, ilustração de Alexandre Reis para as Danças de S. Nicolau de 2011

Situada a meio do limite poente, a Irmandade de S. Pedro tinha a sua


capela em madeira e, em 1782, consegue a autorização para a ampliar e a
transformar numa igreja106. Em 1880 os responsáveis da Irmandade reuniram-se
para avaliação de riscos do projeto e garantirem a aprovação da construção pela
associação de arquitetos de Lisboa107. As demolições de casas que estavam em
frente ao corpo da igreja começaram em Abril de 1881108 e, em Julho desse
mesmo ano, foi a vez da demolição da torre de madeira para se construir a

e do vendaval a poente é fechada com casas de alpendrada sobre colunas de pedra, e da mesma
maneira do poente a norte.” (AZEVEDO, 2000, cap. 89, p. 21)
106
“(18 Março) 1782 Provisão regia concedendo á irmandade de S. Pedro, que já tinha a sua
capella no Toural, onde funcionava, a qual era sem regularidade nem architetura, por modo de
barraca de madeira entre casas suas, tendo apenas 20 palmos de largura e 80 de comprimento,
para que podesse ampliar e fazer a sua igreja, redusindo-a a melhor e mais decente forma no
terreno da mesma irmandade.” (FARIA, 1933, EV I, p. 279)
107
“(4 Novembro) 1880 Reuniu-se na sacristia de S. Pedro a junta magna d´esta irmandade para a
approvação do risco para ás mesmas obras, logo que o risco seja aprovado pela associação dos
architectos de Lisboa.” (FARIA, 1933, EV IV, p. 125)
108
“(4 Abril) 1881 Principiou-se a demolir as casas da irmandade de S. Pedro, que estavam em
frente ao corpo da igreja, para as obras da conclusão (frente toda) da mesma basilica. – Vide 4-
VII-1881-” (FARIA, 1933, EV II, p. 12v)

100
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

fachada do edifício que, em Agosto de 1882, já contava com os 3 arcos de


entrada concluídos109.

Fig. 58 - Fotografia, Igreja de S. Pedro, segunda metade do séc. XX

Com o tempo a muralha foi perdendo a sua função defensiva e


consequentemente foi destruída e a sua pedra foi reutilizada para construção no
terreno por ela ocupada. Isto foi acontecendo pontualmente um pouco por toda a
sua extensão, tal como é exemplo a Rua de St.º António110, e mais tarde no
Toural por ordem da Rainha sob orientação de uma fachada pombalina.
No início do século XIX, o Toural continuava a ser um terreiro aberto, sem árvores
e contava já com a fachada pombalina construída à medida do derrube da
muralha, o chafariz continuava no seu lugar original e a Igreja de S. Sebastião ao
fundo, figura 59, que acabou por ser demolida no final do mesmo século.
109
“(4 Julho) 1881 Principiou a demolir-se a torre de madeira da basilica de S. Pedro, para se
construir de pedra a frente do edifício. Principiadas as obras de pedreiro, fecharam-se os 3 arcos
de entrada a 29 de Agosto de 1882.” (FARIA, 1933, EV III, p. 12)
110
“(1 Março) 1805 Provisão concedendo a Manuel da Costa edificar na muralha da rua de St.º
António casas novas e aformosear as outras que ali tem.” (FARIA, 1933, EV I, p. 229)

101
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 59 - Fotografia, Toural, 1865

As alterações quer a nível das fachadas quer no seu terreiro, como é o


caso de plantação de árvores de recreio em 1859111 modificaram a apresentação
do Toural. Mais tarde, em 1869, foi alvo de um incêndio que destruiu todo o lado
Norte à exceção da última casa a Poente desse alinhamento112 que foi condutora
na proposta de urbanização113. Em 1873, o chafariz que ali havia sido levantado
em 1585 foi removido do Toural114, acabando por ser colocado no Largo do
Carmo em Setembro de 1890115.

111
“Em 1859 – foram plantadas arvores de recreio no Toural, S. Franc.º e ponte do Campo da
Feira – 43 -” (FARIA, 1933, VOC II, p. 458v)
112
“(4 Junho) – 6ª f.ª – Coração de Jesus – Pavoroso incendio, pelas 2 horas da madrugada, que
reduziu a cinzas todas as casas do lado norte do Toural, excepto a da esquina poente por ser
construção moderna e de pedra,(…), por causa de uma explosão de pólvora, gaz, etc., do
armazém de molhados, materiais inflamáveis e refinação d´assucar pertencente ao negociante
João de Sousa Aguiar, onde pegara o incendio.” (FARIA, 1933, EV II, p. 233)
113
“- 16-VI-1869. O Vice presidente Dr. Avelino da Silva Guimarães, disse: Propondo que se tracte
de expropriar uma parte do terreno das ultimas casas incendiadas na praça do Toural, de modo
que a linha da frente fique em recta direcção á casa da esquina da rua da Porta da Villa. Sendo
aprovada esta minha proposta, deveria submetter-se á approvação do conselho de districto com
toda a brevidade.(…)” (FARIA, 1933, VOC II, p. 242v)
114
“(3 Junho) 1873 É demolido por deliberação da Camara o famoso chafariz do Toural, de
construção elegante, levantado em 1585 ou expensas da irmandade de N. Senhora do Rosario.”
(FARIA, 1933, EV II, p. 228v)
115
“(17 Setembro) 1890 É arrematada por 530$000 reis a obra de collocação do chafariz do Toural
no largo do Carmo.” (FARIA, 1933, EV III, p. 268v)

102
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Este terreiro continuou com melhorias e, em 1874, foram deitadas abaixo


as árvores de recreio que haviam sido lá plantadas116, com vista nos planos de
melhoramentos determinados pela Câmara que acabou por contrair um
empréstimo para a conclusão das obras da cidade no qual estava incluído as do
Toural117. Esta obra foi desenhada por Marques Loureiro em 1877 118. Em Março
de 1880 já se concluíam as obras do coreto 119, inaugurado a 7 do mesmo mês
com a banda “União Vimaranense”120.

Fig. 60 - Fotografia, Toural, 1888

116
“(Sem mez nem dia) 1874 (…) e deitaram abaixo as arvores do Toural para fazer o jardim”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 322)
117
“(31 Dezembro) 1874 A Camara municipal delibera contrahir um emprestimo de 10:000$000
reis, ao juro de 6 por cento para a continuação e conclusão dos melhoramentos do campo do
Toural (…).” (FARIA, 1933, EV IV, p. 295v)
118
“(1877) O risco do Toural, foi feito por Marques Loureiro, do Porto” (FARIA, 1933, VOC II. p.
151v)
119
“(1 Março) 1880 Principiou-se a montar no jardim do Toural toda a parte metálica do coreto
para a musica. Foi fundida no Porto, fabricado Bolhão, por 500$000 reis. Inaugurado no dia 7, vide
dia 7; Pintado no mez de Maio. Na 1.ª semana do mez de Maio collocou-se ali o marco fontenário
de mármore branco. ” (FARIA, 1933, EV I, p. 228v)
120
“(7 Março) 1880 É inaugurado no jardim do Toural o pavilhão acústico, tocando n´elle a banda
“União Vimaranense”. Desde as 6 horas da tarde ás 10 e meia da noite. Desde este dia ficou a
cascata prompta e a deitar agua. Foi grande a concorrência de expectadores.” (FARIA, EV I, p
247v)

103
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Depois da implantação da República, e com as novas ideologias, em 1911,


retiraram o gradeamento do jardim121 e em 1912, concretizou-se o projeto de
reparação e melhoramentos nos passeios da Praça D. Afonso Henriques,
(Toural), assinado pelo Engenheiro Ignácio Teixeira de Menezes, figura 61.

Fig. 61 - Planta, pormenor de planta do projeto de reparação e melhoramento dos passeios do


(Toural), 1912

122
Em 1928 começaram novas obras de pavimento e ruas . A estátua de D.
Afonso Henriques passou a ocupar o centro da praça, como se vê na figura 62.

Fig. 62 – Fotografia, Toural, 1932

121
“(4 Julho) 1911 Principia a tirar-se as grades de ferro que vedavam o jardim do Toural.” (FARIA,
1933, EV III, p. 12)
122
“(23 Janeiro) 1928 Principiou a fazer-se de mosaico o pavimento, ruas, do jardim do Toural”
(FARIA, 1933, EV I, p.69)

104
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Em 1940, a estátua de D. Afonso Henriques acabou por ser deslocada para


a entrada dos jardins do Castelo, tendo sido o seu lugar preenchido com uma
fonte monumento, comemorativa da cidade de Guimarães, em 1953.

Fig. 63 - Fotografia, Toural, meados do séc. XX

Até 2011, a Praça do Toural, manteve o aspeto que se vê na figura 63, ano
que antecede a intervenção feita na Capital Europeia da Cultura de 2012. Nesta
ultima intervenção, removem a escultura da Maria da Fonte, levantam todo o piso
de calçada Portuguesa, bem como os jardins e árvores de porte médio para dar
lugar a um outro tipo de intervenção.

Foi criado um plano que acompanha a empena do terreno, também em


calçada Portuguesa e colocado na zona mais baixa um aglomerado de árvores de
várias espécies.

O antigo Chafariz quinhentista, foi novamente colocado no lugar de origem


sendo colmatado na sua periferia por um banco corrido de granito idêntico ao
chafariz.

105
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

No extremo da praça a Nascente foi criado e colocado um gradeamento em


ferro que contrabalança os pesos visuais da praça e feito num desenho que se
aproxima dos varandins típicos da cidade de Guimarães.

O eixo assimétrico que se estabelece entre este gradeamento e o chafariz,


vem transformar a praça anteriormente com uma geometria clássica num espaço
aberto entre fachadas que permitiram os acontecimentos culturais realizados em
2012 no âmbito da Capital Europeia da Cultura.

Ao percorrer o espaço do Toural entende-se uma geometria do pavimento


assimetria mas numa perspetiva superior foi conferido um desenho que
representa parte de um setor da cidade.

Fig. 64. Fotografia, Praça do Toural, reestruturação para a Capital Europeia da Cultura, 2012

106
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

2.2.2.2 Alameda de São Dâmaso

ISD
2 e
d

a ISS

Fig. 65 - Planta, Planta de localização da atual Fig. 66 - Planta, Planta da área ocupada
Alameda de S. Dâmaso na Planta de Guimarães, atualmente pela Alameda de S. Dâmaso, 1569
1569

A atual Alameda de São Dâmaso situa-se na área envolvente a Sul das


muralhas medievais, entre o Postigo de S. Paio (1) e a torre do Campo da Feira
(3) e também resulta da demolição de edifícios. Ao longo dos tempos teria sido
uma área com caraterísticas de terreiro, dando continuidade à Praça do Toural
pelo seu extremo a Nascente.
Por análise da planta de 1569, pode-se constatar que nesta área existiam duas
igrejas, uma em primeiro plano de quem parte do Toural perto da antiga
alfândega, a Igreja de S. Sebastião (ISS) que já existia em 1569, como se vê na
figura 66 no canto inferior esquerdo, e a outra, mais ou menos a meio desta
extensão que se está a analisar, a Igreja de S. Dâmaso (ISD).

A Igreja de São Sebastião foi perdendo a sua importância ao longo do


tempo e com ela, partes da sua estrutura. Em 1860 perdeu 1 metro em linha reta
do seu adro123. Em 1864 acordaram demoli-la124.

123
“(1860) -26-V- Arrematou-se o recuar 1 metro em linha recta do adro da igreja de S. Sebastião,
pelo lado sul.” (FARIA, 1933, VOC II. p. 145)
124
“1864 – I – 23 – resolvido demolir a igreja de S. Sebastião. – 120-” (FARIA, 1933, VOC II, p.
461v)

107
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 67 - Fotografia, Igreja de S. Sebastião, segunda metade do séc. XIX

Passados 28 anos, em 1892, deliberaram retirar o Passo que estava


encostado á parede voltada a norte para junto da Igreja de S. Dâmaso 125 e de
seguida, no mesmo ano, a destruição do seu adro e gradeamento126.

Em Julho de 1892, em sessão da Câmara, juntamente com a junta de


paróquia, ficou decidida a sua demolição127 e em Agosto começaram as obras de
terraplanagem e extração de pedra do antigo largo de S. Sebastião para o projeto
de aformoseamento da praça de D. Afonso Henriques128. A expropriação e

125
“(1892) -5-X- Deliberaram que o Passo que estava encostado á parede, lado norte, da igreja de
S. Sebastião, seja collocado junto á torre da igreja de S. Damazo.” (FARIA, 1933, VOC II. p.
156Av)
126
“(1 Novembro) 1892 Começou a ser alagado o adro da igreja de S. Sebastião; no dia 7 foi
tirada a grade (portas) lado norte, e no dia 24 as portas também de grades de ferro, lado poente.”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 116v)
127
“(8 Julho) 1892 Em sessão de Camara; com assistencia da respectiva junta de parochia, foi
decidido a demolição da igreja de S. Sebastião, dando a camara além da parte do convento das
Dominicas combinada 1:250$000 reis.” (FARIA, 1933, EV III. p. 21v)
128
“(3 Agosto) 1896 Principiaram as obras de terraplanagem e extracção de pedra do antigo largo
de S. Sebastião, para aformoseamento da praça de D. Affonso Henriques.” (FARIA, 1933, EV III.
p. 114v)

108
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

demolição da Igreja acabou por se concluir em Novembro de 1896 129, ficando a


área terraplanada para a continuação da intervenção no largo.

Um outro equipamento desta área é a Alfandega (Alf.), situada no limite


norte do largo, encostada à muralha, junto ao postigo de S. Paio, que por perda
de funções, em 1874, deliberaram pedir a sua expropriação e edifícios contíguos,
por utilidade pública130.

Para que pudessem dar continuidade às obras, foi contraído um


empréstimo em Julho de 1875, para as obras do Toural, conforme anteriormente
referido no ponto anterior, sendo também o mesmo para expropriar e demolir a
alpendrada da alfândega, edifícios do lado sul deste campo para o seu
alinhamento e abertura de uma nova rua entre o Largo do Anjo e o terreiro de S.
Francisco.131

Aproximadamente dois anos depois, ficou deliberado que a figura


representante de Guimarães fosse mudada para o edifício dos Paços do
Concelho, onde se encontra hoje, e as madeiras, telhas e colunas fossem
retiradas132, pondo um fim à alfândega.

Mais tarde, em Janeiro de 1880, cortaram alguns carvalhos antigos deixando


apenas um no lado norte da Igreja de S. Francisco no largo chamado dos
carvalhos.

129
“(26 Novembro) 1896 -5.ª feira- Conclue-se a expropriação ou demolição da igreja e adro de S.
Sebastião, ficando n´este dia terraplanado o local e prompto a receber qualquer aformoseamento.”
(FARIA, 1933, EV IV. p. 188)
130
“(1874) -3-XI- Delib. Pedir o decretamento, por utilidade publica, de expropriação da Alfandega
do peixe e dos prédios contíguos.” (FARIA, 1933, VOC II. p. 150v)
131
“(31 Dezembro) 1874 A Camara municipal delibera contrahir um empréstimo de 10:000$000
reis, ao juro de 6 por cento para (…); corte, expropriação e demolição da alpendrada da alfandega
do peixe, e dos prédios necessários para o alinhamento das casas do lado sul do mesmo campo
com a fachada do lado nascente do terreiro de S. Francisco e á abertura d´uma nova rua entre o
largo do Anjo e o dito terreiro de S. Francisco; e as sobras que podessem haver de taes obras,
para applicar em qualquer outra obra. Foi auctorisado pelo conselho de districto em 5 de Fevereiro
de 1875 e em 25 de Julho de 1875 foi assignado contracto com o Banco de Guimarães que se
obrigou a fazer o mesmo empréstimo.” (FARIA, 1933, EV IV. P. 295v)
132
“(1876) -15-V- Delib. Que a figura representante de Guimarães se colloque no edifício dos
Paços do Concelho. e que em 31-V se arremate a madeira, telha e columnas da Alfandega.”
(FARIA, 1933, VOC II. p. 151)

109
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Em 1910, esta área teria o aspeto que se vê na figura 68, com o octógono,
conforme se vê em primeiro plano na imagem. O largo funcionaria como rotunda.
Ao fundo do lado direito, a Igreja de São Francisco já existia em 1569 e ainda hoje
pode ser visitada após várias intervenções. Do lado esquerdo, ao fundo, vê-se
ainda a torre sineira da Igreja de S. Dâmaso e uma massa de habitações por trás
da escultura de D. Afonso Henriques situada ao centro da Praça do mesmo nome.

Fig. 68 - Fotografia, Octogono e praça D. Afonso Henriques, 1910

Passado aproximadamente um ano, em 1911, esta praça perde para o


Toural a escultura e passa a chamar-se passeio da independência. Com os
princípios de higienização urbana, nasce um projeto de reparação e
melhoramento que vieram reestruturar e fundir estas duas áreas numa só, para
criar o passeio ajardinado, como se vê no projeto na figura 69. O projeto incluiu o
coreto que estava na Praça do Toural que foi transladado para o centro desta
composição, colocado no limite mais a sul deixando um átrio ovalizado que o
englobava, e onde se encontra até aos dias de hoje. O objetivo era chegar ao
Campo da Feira. Aos poucos, várias habitações foram demolidas, a “Casa
Medieval” que foi transladada para a Praça de S. Tiago saiu daqui nesta época
acabando por ser poupada. A Igreja de São Dâmaso também foi retirada da
Alameda ocupando o topo Norte do Campo da Batalha de S. Mamede.

110
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 69 - Planta, Pormenor do Projeto de reparação e melhoramento do Largo D. Afonso Henriques,


1911

Um outro elemento que sofreu alteração foram as escadinhas que fazem a


ligação entre este passeio e o Largo Condessa do Juncal, figura 70. Antes da
última intervenção, as escadinhas saíam do alinhamento da fachada num patamar
de descanso e alcançavam a cota do passeio através de dois lanços de escadas
feitos um para cada lado. Após a intervenção foram reformuladas e recuaram
para o alinhamento da fachada, com desenho reto e ladeadas com passeio a uma
cota próxima do Largo Condessa do Juncal, que permitia a contemplação do
passeio ajardinado que aqui nasceu.

Fig. 70 - Fotografia, Praça de D. Afonso Henriques, 1910

111
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

No final desta orientação de ocupação, seguindo para Norte, existiu um


teatro (T) que tinha sido inaugurado em 1858 e teria sido palco de variadíssimos
acontecimentos sociais. Devido ao estado de decadência em que se encontrava
acabou por ser demolido133, na sequência da extensão da Alameda de S. Dâmaso
até ao Campo da Feira134, ficando como se vê na figura 72.

Fig. 71 - Fotografia, Teatro D. Afonso Henriques, 1911

Fig. 72 – Fotografia aérea, Alameda de S. Dâmaso, 2011

133
“(6 Maio) 1933 Decreto auctorisando a Camara Municipal de Guimarães a expropriar o Theatro
de D. Affonso Henriques, afim de ser prolongada a rua de S. Damazo até ao Largo da Republica
do Brasil.” (FARIA, 1933, EV II, p. 122v).
134
“1891 - X - 19 – Approvação do projecto e orçamento de uma rua do Toural ao Campo da
Feira” (FARIA, 1933, VOC II, p. 156A).

112
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

CAPITULO III

ULTIMAS INTERVENÇÕES NO ESPAÇO PÚBLICO

Fig. 73 - Fotografia aérea, Alameda e Largo Condessa do Juncal


Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3 – Ultimas intervenções no espaço Público

3.1 – Criação do Gabinete Técnico Local

A área que outrora fora delimitada pela muralha medieval, em finais da


década de 70, encontrava-se já administrativamente protegida pelos Monumentos
Nacionais e até 1983 o licenciamento dos projetos era feito por um arquiteto
nomeado “consultor de estética”. Entretanto, em 1979, o Arquiteto Fernando
Távora, já tinha previsto o fundamental Plano Geral de Urbanização da Cidade.
Entre 1979 e 1981, criaram uma associação designada “A Muralha”, que visava a
defesa do património. Em 1982 o Arquiteto Fernando Távora assumiu a
Presidência da Direção desta associação. Em paralelo no tempo, em 1981, foi
criado também um Gabinete Municipal do Centro histórico onde, por convite, o
Arquiteto Fernando Távora assume-se como assessor e a Arquiteta Alexandra
Gesta fora destacada para a direção.
Nesta época, as áreas de intervenção, para além das áreas intra-muros,
cobriam também zonas do período da revolução industrial e alguns tecidos
envolventes dos anos 30-40.
Os trabalhos começaram e iniciaram o restauro da Casa da Rua Nova,
figura 74, e o início do projeto da Praça do Município, atual Largo Cónego Maria
Gomes.
A equipa, como primeira regra para licenciamentos, criaram soluções com
os autores dos projetos e com os proprietários, recusando o “fachadismo” e dando
prioridade ao restauro.
Entre 1983-1984, iniciaram um protocolo com o IPPC (Instituto Português
do Património Cultural), facilitando na apreciação dos processos, na orquestração
de políticas, na aferição dos critérios, e na coerência na gestão patrimonial.
Nesta sequência, no início de 1985, nasceu o Gabinete Técnico Local
(GTL). A DGOT obrigou à redução da área de atuação do G.T.L. para 1/3 e a
CMG propôs como alternativa um faseamento tripartido, que foi aprovado.
Iniciaram cursos de formação em construção tradicional, criando assim
uma equipa municipal de operários sob direto controlo em obra do G.T.L.
A lógica de atuação nos edifícios era essencialmente de restauro, evitando a
renovação excessiva e a repercussão nas rendas, fazendo o uso controlado dos
poucos recursos financeiros, reabilitando lote a lote.

115
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Com o apoio financeiro do estado terminado em 1986, a DGOT passou a


financiar 25% dos custos.
Terminada a assessoria de Fernando Távora ao GTL passou a colaborar
como projetista responsável nos espaços urbanos, como é o caso da renovação
do Largo João Franco e o Largo Condessa do Juncal, obras concluídas
em1994/95.

Fig. 74 – Fotografia, Casa da Rua Nova, 2014

116
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.2 - Intervenção realizadas pelo Gabinete Técnico Local nas Praças


Intramuros

As intervenções realizadas pelo G.T.L. assessoradas pelo arquiteto


Fernando Távora, Praça do Município, Praça de S. Tiago, Largo de João Franco e
Largo Condessa do Juncal, apresentam alguma unidade de conjunto, que lhes é
conferida pelo uso do granito, pedra local, nas variadas estereotomias,
regularização dos passeios, normalizando e geometrizando os espaços de praça
e o desenho dos pisos que se aproxima da escala do edificado e dá
proporcionalidade e orientação aos espaços de praça.

Fig. 75 - Planta, Planta de praças projetadas pelo GTL, 1988

117
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.2.1 - Largo Cónego Maria Gomes

O Largo Cónego Maria Gomes, apresenta-se como uma praça de nível,


que prolonga no chão as linhas estruturais do antigo edifício do Convento de
Santa Clara e confere-lhe alguma simetria a partir do eixo central que parte da
Porta principal e mais adornada do edifício. A norte, foi mantida e recuperada a de
via de trânsito automóvel, que existia, e foi desenhada uma de guia de
estacionamento. Entre a praça e o passeio foi criada uma área ajardinada
pontuada de árvores que acabam por limitar o campo visual, restringindo-o aos
limites da fachada nobre do edifício da atual Câmara Municipal de Guimarães e
dos edifícios a Poente, também caraterizados pelo mesmo peso volumétrico. Do
lado oposto, a Sul, também foi criada uma área ajardinada, à semelhança da
anterior mas, devido à via de acesso aos edifícios ao longo desta, teve de ficar
disposta obliquamente relativamente à fachada do antigo Convento. Ao longo do
eixo central que nasce perpendicular à porta principal do antigo Convento e de
onde parte o desenho do piso, foi desenhada a malha com linhas perpendiculares
com espaçamento inferior dado nas anteriores criando a ilusão ótica de
profundidade. Por fim foi colocado ao centro um chafariz baixo permitindo a
apreciação quase total da fachada pelo observador quando faz a entrada pelo
lanço de escadas que vence a cota de desnível entre a Rua de Santa Maria, a
Poente, e o Largo Cónego Maria Gomes, figura 76.

IFig. 76 – Fotografia, Largo Cónego Maria Gomes

118
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 77 - Planta, Planta de intervenção no Largo Cónego Maria Gomes, 1985/1987

119
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.2.2 - Praça de S. Tiago

A Praça de S. Tiago, apresenta uma inclinação acentuada e, a sua


configuração é tendencialmente triangular onde a fachada orientada a Sul é
recortada em forma de “S”. A fachada a Nascente é caraterizada pela ausência de
edifícios que foram demolidos e deixam à vista a fachada da antiga rua que lhes
era paralela. A fachada voltada a Norte, é caraterizada de edifícios de dimensão
maior relativamente às restantes construções e o antigo edifício dos Paços do
Concelho, como elemento de exceção, permite a ligação física e visual pelo piso
térreo, entre a Praça da Nossa Senhora da Oliveira e a Praça de S. Tiago.

Na pré-existência o piso era revestido com calçada de granito e passeios


pontualmente estreitos. Na intervenção realizada pelo Gabinete Técnico Local, foi
criado um passeio ao longo de toda a fachada voltada a Sul de seguida uma guia
de estacionamento e uma via de trânsito automóvel paralela e contígua.

A Nascente, foi construído um passeio que começa no piso vazado do


antigo Edifício dos Paços do Conselho e termina aproximadamente onde
terminariam as casas que existiram naquele sítio que, de alguma forma perpetua
a área por elas outrora ocupada e transformada em estacionamento, figura 80 e
foi colmatada com uma árvore que compõe o fim desta extensão.

Encostado à fachada orientada a Norte, foi criado também um passeio que


acompanha o desnível do terreno e culmina num pequeno prolongamento do piso,
formando uma superfície que fecha a praça e onde construíram um chafariz e
plantaram duas árvores que compõem o espaço vazio.

No Piso, foi desenhada a área que teria sido ocupada pela capela de S.
Tiago, e entre este eixo e a malha existente na Praça vizinha, foi criada uma
malha que prolonga a o desenho da Praça de Nossa Senhora da Oliveira e se
desmaterializa quando chega perto da via automóvel. Esta área é separada
fisicamente por uma sucessão de pilares de pedra ligados por correntes
condicionando o espaço ao uso pedestre. No pavimento também foi esculpida a
frase “A VOS HOMINES QUI VENISTES POPULARE IN VIMARANES ET AD
ILLOS QUI IBI HABITARE VOLUERINT” (A vós homens que viestes povoar
Guimarães e àqueles que aqui queiram habitar).

120
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 78 – Fotografia, Praça de S. Tiago antes da intervenção pelo G.T.L., 1981

Fig. 79 – Fotografias, Praça de S. Tiago durante a intervenção pelo G.T.L., 1981

Fig. 80 – Fotografia, Praça de S. Tiago após intervenção pelo G.T.L. 1983

121
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 81 - Planta, Planta de intervenção na Praça de S. Tiago, 1985/1987

122
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.2.3 - Largo João Franco

O Largo João Franco, é uma praça de tendência retangular e de nível. Os


seus limites são dotados de passeios de granito serrado que se desenvolve em
toda a sua periferia e é dotada de estacionamento em espinha nos limites a
nascente e a Poente. Todo o seu desenho desenvolve-se segundo um eixo
central entre o edifício da Misericórdia e a Casa da Torre. No centro da
composição, existe uma área protegida por pilares de secção quadrada e
correntes, sendo pontuada nos limites por chafarizes, condicionando os
automóveis ao estacionamento e à circulação continua sem a possibilidade de
paragem.

O piso da praça é desenhado com um lajeado cruzado, formando


quadrados e retângulos que são preenchidos por paralelo disposto segundo a
orientação do desenho de cada área. Na zona do Serralho foi colocado o
monumento dedicado a João Franco que existia já na pré-existência, e à sua volta
foram plantadas árvores que lhe criam um cenário de fundo. Entre a fachada a
Sul e a fachada a Poente a diferença de cota é vencida por degraus que se vão
fundindo com o passeio de granito que faz o acesso ao Toural pela Porta da Vila.

Fig. 82 – Fotografia, Largo João Franco, 2014

123
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 83 – Planta de intervenção no Largo João Franco pelo G.T.L., 1983

124
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.2.4 - Largo Condessa do Juncal


O Largo Condessa do Juncal é uma praça de nível, o seu desenho
aproxima-se do trapézio e ao contrário das outras praças, esta é fechada por uma
barreira vegetal que encerra o espaço de praça e é reforçado verticalmente com
árvores de grande porte. Todos os limites da área que começa na Porta Nova de
S. Paio até ao início da Rua Nova, ou Egas Moniz, foram tratados à semelhança
das outras praças. Os passeios construídos redesenharam e regularizaram o
espaço, criando o apoio às construções dos seus limites. O eixo central da antiga
Rua de Alcobaça, foi preservado e as guias de estacionamento desenhadas ao
longo do lado esquerdo do sentido de trânsito. Nas entradas para a praça foram
desenhadas no pavimento as portas da Vila, fazendo perpetuar as suas
localizações originais. O Arquiteto Fernando Távora, desenha também uma cruz
na estrutura redonda que serve de rotunda para fazer entrada no hotel do Toural,
na perspetiva de sinalizar a Igreja de S. Paio que ali existiu e foi demolida.
Redesenhou o piso da praça pré-existente, recolocou o monumento ao Gravador
Molarinho sobre o eixo central da praça e no extremo oposto criou um quiosque.

O espaço de forma triangular restante foi transformado em estacionamento.

Fig. 84 - Planta, Planta de intervenção no Largo João Franco, 1995

125
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 85 - Planta de intervenção no Largo Condessa do Juncal pelo G.T.L.

126
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.3 - Guimarães elevado a Património Mundial da Humanidade

Em 2001 o Centro Histórico de Guimarães foi declarado pela UNESCO


Património da Humanidade. A classificação teve como consideração a ligação de
Guimarães à fundação da nacionalidade portuguesa, esta, consequente da
conquista da independência de Portugal pelo Conde Afonso Henriques no ano de
1139. Teve também como ponto considerado o desenvolvimento da língua
Portuguesa, assim como as características técnicas construtivas, a taipa de
rodízio antes do séc. XVI e a taipa de fasquio desenvolvida a partir do séc. XIX
entre outras técnicas de construção que se observam nas construções do seu
centro histórico. Esta classificação teve também em conta o trabalho executado
no sentido da preservação do património arquitetónico.
Esta consciência patrimonial vimaranense, remete-nos para o final do séc. XIX
quando Martins Sarmento dirigia as obras de recuperação da Igreja de S. Miguel
do Castelo e viria a ser de reconhecimento Nacional. Em meados do séc. XX as
praças Largo Cónego José Maria Gomes e a Praça de Nossa Senhora da Oliveira
foram reabilitadas pela equipa dos Monumentos Nacionais. Mais tarde, com a
criação do G.T.L. e sob a direção de Fernando Távora, a revitalização, e politicas
de restauro e das técnicas construtivas já referidas assim como a nova
construção com intenção de preservar e valorizar o antigo, veio garantir unidade
ao Centro histórico evitando a desertificação. Estas intervenções, potenciaram
uma maior frequência dos Vimaranenses ao Centro Histórico com um crescimento
da atividade turística.

Fig. 86 - Fotografia aérea de Guimarães, 2006

127
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.4 - Intervenção urbana no contexto da Capital Europeia da Cultura 2012

Por convite da Câmara Municipal de Guimarães, o projeto extramuros que


compreende em si a Rua de Santo António, a Praça do Toural, a Alameda de São
Dâmaso e o Convento de S. Francisco, originou a criação de um Centro de
Estudos na Escola de Arquitetura da Universidade do Minho. Esta equipa esteve
em atividade desde 2009 até 2012, data em que se fizeram as intervenções nos
locais, contou com elementos internos da instituição mas também com externos à
Universidade do Minho

As áreas de intervenção, constituem uma sequência de espaços contíguos


à antiga localização da muralha medieval, que a contornam a partir de sudeste do
centro histórico, na antiga rotunda do Campo da feira, até ao final da Rua de
Santo António que termina na rotunda dos Correios. O projeto teve em atenção
alguns pontos principais, como a mobilidade rodoviária, restringindo-a à area
necessária e a qualificação do transporte público, conseguindo desta forma o bom
funcionamento dos ultimos e o ganho de 40% de área que fazia parte de vias
automovel convertendo-a em espaços de uso pedonal. Como elemento unificador
e sinalizador da antiga muralha, foi usado granito da região num passeio que
acompanha todo o limite construido na margem a norte da intervenção.

A Alameda foi tratada como um bosque, houve uma forte plantação de


árvores de porte médio e grande, garantindo a salubridade e bom uso dos peões
através de um percurso construido com um material poroso no piso. Foi tratada
ao nivel do desenho como uma extensão que topograficamente não tivesse sido
alterado, revelando a sensação de espaço natural. As árvores foram plantadas
em caldeiras e as antigas protegidas por um recortado no pavimento que engloba
o mobiliário pre-existente que foi restaurado e reutilizado. O Terreiro de S.
Francisco, ganhou uma área lateral, tratada com granito da região, tendo como
elemento mobiliario um banco corrido, em mármore ao longo de quase todo o
comprimento do edificio do convento. Foi também colocado o cruzeiro da ordem
na direção do adro da Igreja.

O Toural, foi projetado de forma a valorizar as fachadas, potenciando ao


máximo o espaço pedonal, foi-lhe restituido o chafariz quinhentista ao local de
origem e a execussão de um banco envolvente que entretanto havia

128
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

desaparecido, foi incluido no projeto um extenso varandim de ferro fundido,


dourado, compensando a tensão do chafariz e pequeno grupo de árvores a
poente. O piso foi trabalhado em quartzo e basalto pré-existentes e representa a
planta de um sector da cidade, que só é percetivel em pontos altos. A Rua de
Santo António continuou o passeio em granito pelo limite que faria parte da antiga
muralha e a via automóvel redimensionada.

Fig. 87 – Maqueta virtual da intervenção urbana da Capital Europeia da Cultura 2012

Fig. 88 – Fotografia aérea do Centro Histórico, Toural e Alameda de S. Dâmaso

129
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.5 - Caso de estudo - O Largo Condessa do Juncal

Apesar do Largo Condessa do Juncal ter sofrido uma intervenção pelo


GTL, nos anos 90 orientado pelo Arquiteto Fernando Távora, não teve o mesmo
impacto de revitalização urbana como as restantes praças.

Esta praça, não sofreu uma revitalização urbana ao nível das outras. Um
dos motivos pode ter sido a localização marginal do contexto dos percursos mais
importantes do Centro Histórico. Apesar da Porta Nova de S. Paio ter sido ao
longo da história uma porta importante de acesso ao centro, apresenta-se na
atualidade como um percurso secundário. Os outros acessos à praça são mais
caraterizados pela competência de saída e menos de entrada, desta forma, o
interesse dos usuários do Centro Histórico ao Largo Condessa do Juncal fica
secundarizado.

A intervenção feita nesta praça foi mais simples, apenas regularizou os


limites desta área pública com recurso ao desenho de passeios em granito
serrado, material e estereotomia utilizada nas outras praças, conseguindo como
resultado a regularização da via de trânsito que orienta o desenho das áreas
pedonais e áreas de estacionamento.

Relativamente à área de praça pouco foi modificado, o piso foi


redesenhado, que em vez de losangos passou a contar com um desenho próximo
da imagem criada por uma gota quando cai na água e faz o eco do seu
movimento até aos limites sólidos que neste caso são os canteiros corridos de
buxo que encerram a área verticalmente, sendo reforçados por plátanos de
grande porte que criam um teto na praça e vai até às fachadas mais próximas.

A área que sobra entre a intervenção ao nível dos passeios criados nos
limites da área tratada e a praça pré-existente é uma zona de geometria triangular
que foi arranjada na tentativa de potenciar estacionamento. Na tentativa de balizar
a área útil para arrumar os carros, foi desenhado em dois dos ângulos deste
estacionamento, uns triângulos em pedra de igual estereotomia dos passeios.

Por último foi criado um quiosque num extremo do eixo central da praça e
recolocado o Monumento dedicado ao Gravador Molarinho no outro extremo.

130
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.5.1 - Análise do edificado envolvente do Largo Condessa do Juncal

O Largo Condessa do Juncal é caraterizado pelo ecletismo arquitetónico


relativamente ao cunho artístico temporal mas, e também por alguns edifícios sem
interesse arquitetónico, diferentes estados de conservação e ainda por um vazio
urbano.

As construções apresentam em quase todos os casos o uso de funções


mistas, sendo normalmente alternadas entre, habitação, comercio e serviços.

Ao analisar o Alçado Sul, pode-se verificar a mistura de estilos, épocas


construtivas e estados de conservação diferenciados. Temos por exemplo, e
começando a análise da direita para a esquerda, encontramos uma sucessão de
edifícios pombalinos em banda que revelam vários estados de conservação mas
com uma leitura arquitetónica cuidada, de desenho regular e construídos em
alvenaria de pedra sendo finalmente acabados em reboco criando o contraste
típico desta época construtiva com as pedras que estruturam as janelas e portas.

Fig. 89 – Fotografia, Casas Pombalinas, autor, 2014

131
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Um outro edifício de destaque nesta sequência de análise é um edifício do


séc. XX com influência neoclássica.

É caraterizado pelo cuidado do desenho arquitetónico e decorativo, faz uso


de um eixo central a partir do qual parte toda a composição desenhada em
simetria. Desenvolve-se em cinco andares que podem ser visualizados pela parte
da Alameda de S. Dâmaso e em quatro que estão voltados para o Largo que
estamos a analisar, sob a orientação cardial a Norte. O último piso é recuado e
constituído por um varandim decorado e pontuado por vazos talhados em granito
conferindo-lhe verticalidade, monumentalidade e até algum dramatismo.

Como se pode ver na figura 90, apesar do sol nunca iluminar diretamente
este lado do edifício, as árvores não só tapam a sua fachada como a ensombram,
mantendo sempre níveis de humidade insalubres e temperatura baixa. É um
edifício onde funciona atualmente um restaurante, e faz a sua entrada pelo lado
da Alameda, deixando o acesso pela fachada principal do edifício apenas para
quem a conhece.

Fig. 90 - Fotografia, Casa Neoclássica, autor, 2014

132
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Segue-se um edifício de exceção no contexto do Centro Histórico Medieval.


Trata-se de uma reconstrução realizada nos anos 80 (1985 - 1988), caraterizada
por duas pré-existências em muito mau estado de conservação, quase em ruina,
que acabaram por ser compradas por um comerciante local que encomendou o
projeto de arquitetura ao Arquiteto António Gradim.

O projeto englobou dois lotes voltados para o largo que estamos a analisar
e um terceiro voltado para a Alameda de S. Dâmaso, que vieram a ser unificados
pela transversalidade do projeto entre o largo e a Alameda.

O Arquiteto, autor do projeto, António Gradim, em concordância


estabelecida com o Arquiteto Fernando Távora que acompanhava já as obras do
Centro Histórico de Guimarães, propôs e executou uma obra surpreendente quer
pelo contexto em que está inserida, quer pela descoberta arqueológica da
muralha no interior do lote e o tratamento quase museológico adotado na obra.

A intervenção foi condicionada por um orçamento muito baixo135, e quando


a muralha foi encontrada nos levantamentos iniciais, foi posta a descoberto e
restaurada, tornando-se o elemento central da composição espacial. As escadas
desenvolvem-se do lado do Largo, antes das muralhas e os escritórios
desenvolvem-se depois desta, voltados para a Alameda.

A fachada original voltada a Sul foi preservada e a fachada voltada a Norte,


para o Largo Condessa do Juncal, pelo contrário, exibe uma linguagem
contemporânea à sua época, tendo como ponto de partida as linhas das pré-
existências, uma construção popular tradicional provavelmente do séc. XVII mas,
depuradas. No primeiro e segundo andar foi usada a técnica de alvenaria e o
desenho de janelas quadrangulares nos pisos superiores. O envidraçado vertical
no lado esquerdo contorna o pano de parede, terminando no último piso e permite
visualizar a muralha pelo exterior. Deste conjunto resulta uma composição
assimétrica sendo um dos poucos alçados do desenho moderno existentes no
centro histórico de Guimarães.

135
“Nesta construção devo ter usado os materiais mais baratos em toda a minha vida, o
orçamento era miserável.”, (Gradim, 2014, Anexo II)

133
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Hoje em dia funcionam alguns escritórios no edifício do lado esquerdo e um


café bar no edifício do lado direito e acaba por não tirar muito partido da
esplanada que funciona depois da sebe e arvores, dentro da praça.

Fig. 91 –Esquiços, Esquiços da Casa da Muralha, Fig. 92 - Fotografia, Interior da Casa da Muralha,
1991 2002

Fig. 93 – Fotografia, Casa da Muralha, 2014

134
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

O edifício contiguo à Casa da Muralha, é uma construção de meados do


século XX, dotada de quatro andares voltados para o Largo Condessa do Juncal.
O edifício apresenta simetria, constituído por cinco aberturas por piso, composto
por portas e janelões com cantarias de pedra de granito e o revestimento é feito
com meio azulejo facetado, monocromático, de tonalidade torrado característico
no Norte do País no séc. XX. O último piso, é recuado e é revestido por xisto
sobreposto e a estrutura das janelas em vez da cantaria de granito é feita de
madeira com acabamento pintado. Como se vê na figura 94, a fachada é quase
toda tapada pelas árvores da praça ao nível dos pisos superiores e o acesso a
pessoas de mobilidade reduzida fica condicionado ao lado direito, devido às
escadas que dão acesso ao passeio que continua para o lado esquerdo. A
ocupação de funções neste edifício é essencialmente de comercio e serviços136.

Fig. 94 - Fotografia, Casa do séc. XX, 2014

136
“(…) funcionou uma associação ligada à empresa ALFA, um café…Por cima funcionavam
gabinetes de advocacia, e também o atelier de pintura naïf do Caçoila, de onde tenho a imagem
de quando era miúdo ir pra lá vê-lo a pintar.”, (,Martins, 2014, Anexo I)

135
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

De seguida, e continuando a análise ao edificado para o lado esquerdo,


depois de subirmos os degraus que dão continuidade ao passeio, deparamo-nos
com uma sucessão de cinco edifícios, com entrada a uma cota superior à praça e
com características construtivas semelhantes às técnicas utilizadas na época
medieval. Pode-se depreender que são construções dessa época pelo uso de
granito pouco cuidado ao nível do piso térreo e o uso das técnicas de taipa de
rodízio e taipa de fasquio nos pisos superiores. Nas duas primeiras podemos
verificar a existência de duas varandas feitas em madeira e de desenho medieval,
e as casas seguintes apenas com janelas em madeira pintada.

São edifícios utilizados para habitação mas, também funcionam uma loja e
um cabeleireiro ao nível do piso térreo. A relação destes edifícios com a praça fica
condicionado pelo acesso pedonal que é feito por uma rampa que nasce perto da
Porta da Torre Velha e termina numas escadas depois da última porta deste
corrente de construção medieval.

Fig. 95 – Fotografia, Casas medievais, autor, 2014

136
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

O alçado Nascente da praça apresenta na sua maioria edifícios pobres ao


nível do desenho arquitetónico, alguns com estados de conservação deficitários,
um deles sendo mesmo uma ruina que constitui um vazio urbano.

Na figura 96 podemos constatar que o primeiro edifício, partindo do lado


direito para o lado esquerdo tem qualidade nos materiais, no desenho e estado de
conservação, ao nível do piso térreo funciona uma loja de vinhos e nos pisos
superiores desenvolve-se habitação.

Os três edifícios seguintes, à esquerda, apresentam características


construtivas descontextualizadas do centro histórico, como por exemplo no uso de
persianas de plástico, azulejos sem qualidade, alumínios ao nível das caixilharias,
mau desenho de pormenores de cantaria e o seu estado de conservação é médio.

Relativamente à exposição de luz solar, devido ao afastamento das árvores


e à sua orientação, estas construções recebem a iluminação natural suficiente.

Fig. 96 - Fotografia, Casas alçado Nascente, autor, 2014

137
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Os três edifícios que se seguem apresentam regularidade ao nível de


desenho das fachadas, ao nível da cota e desenho das cornijas que conferem
continuidade e unidade entre si.

No primeiro edifício funciona a sede de um partido politico, o seu nível de


conservação é bom e ao nível da cobertura existe uma janela em mansarda que
faz a iluminação do sótão. O segundo lote, apresenta ainda a fachada voltada
para o largo mas, é um vazio urbano, com uma segunda frente voltada para o
largo no lado oposto e encontra-se em ruina já há muitos anos. No terceiro
edifício funciona uma sapataria ao nível do piso térreo, e habitação nos pisos
superiores que se desenvolvem em três níveis, sendo que o ultimo é recuado e
com terraço.

O edifício à esquerda na figura 97 tem tratamento arquitetónico ao nível do


Rés-do-chão onde funciona um café e os pisos superiores são utilizados para
habitação e apresentam más características de conservação bem como de
características arquitetónicas.

Fig. 97 – Fotografia, Casas alçado Nascente, 2014

138
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Esta fachada termina com dois edifícios que se desenvolvem entre o Largo
Condessa do Juncal e a Rua que dá acesso à Praça de Nossa Senhora da
Oliveira.

O primeiro, de cor creme, à direita na figura 98, apresenta bom estado de


conservação, algum cuidado ao nível da reabilitação nas caixilharias das portas e
janelas e grades das varandas, bem como do remate vertical do edifício, que
procuram ir ao encontro do desenho e materiais, utilizado nas construções do seu
contexto urbano.

Na última construção deste alçado, existe um edifício que faz gaveto, de


arquitetura cuidada, desenvolve-se em quatro níveis e o último é recuado com
varanda gradeada em ferro. Nas frentes foram usadas cantarias de granito, as
portas e janelas são de madeira pintada e as paredes revestidas com azulejo,
com alguma qualidade. No piso ao nível térreo funciona uma loja de sapatos, que
está aberta há décadas e nos níveis que se desenvolvem nos pisos superiores
funciona habitação.

Fig. 98 – Fotografia, Casas alçado Nascente, autor, 2014

139
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

O alçado a Norte é caraterizado por uma sucessão de edifícios recentemente


restaurados e com qualidade arquitetónica e construtiva. A Casa dos Amarais, é
uma casa Nobre e foi construída nos finais do séc. XVIII, inícios do séc. XIX. É
uma construção que se desenvolve essencialmente em dois pisos, um térreo
onde funcionariam as divisões dos serviçais e no primeiro piso o andar Nobre.

Como se pode ver na figura 99, é dotada de quatro pares de portas no piso
térreo, tendo sido uma alterada para janela, posteriormente à construção, e três
pares de janelões com varandim no andar Nobre, o que lhe confere alguma
horizontalidade e simetria fortalecida pela decoração do portal e pedra de armas
no centro da composição. Hoje em dia funciona como turismo de habitação, numa
reabilitação que terminou recentemente. É um edifico que conta com seis suites,
uma sala de refeições e um jardim que se desenvolve para as traseiras.

Fig. 99 – Fotografia, Casa do Juncal, autor, 2014

140
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

No seguimento deste alçado do Largo Condessa do Juncal e do edifício


anteriormente analisado, desenvolvem-se três edifícios com qualidade construtiva
e valor arquitetónico. O primeiro edifício é do séc. XX e está dividido em duas
frações. Na primeira funciona uma livraria documental histórica e na segunda, nos
restantes andares, uma habitação. O segundo edifício é também do séc. XX e foi
recentemente restaurado. Ao nível térreo existe uma área comercial e nos três
pisos superiores desenvolve-se habitação.

Fig. 100 – Fotografia, Casas do Alçado Norte, autor, 2014

O terceiro edifício carateriza-se por se desenvolver em dois níveis, tem um


desenho cuidado e os materiais usados vão ao encontro do contexto. Este
edifício, já funcionou como hospedaria no início do séc. XX mas, hoje em dia
funciona como habitação depois de um restauro total também realizado pelo
Arquiteto Filipe Vilas Boas137.

137
“Há outras intervenções, mesmo aqui ao lado (antiga hospedaria de Sampayo), que também fui
eu que fiz, de um senhor de idade que quis voltar para o centro histórico, para a casa onde
nasceu, recuperando as memórias, mas dando um toque mais contemporâneo…” (Vilas Boas,
2014, Anexo IV)

141
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 101 – Fotografia, Habitação do Alçado Norte, autor, 2014

Entre os alçados a Norte e a Poente do Largo Condessa do Juncal, existe um


edifício com características arquitetónicas do século XIX, onde já funcionou o
Asilo dos Inválidos da Santa Casa da Misericórdia, que já descrevemos no ponto
2.2.1.5, e que hoje em dia é utilizado pela Academia de Música Valentim Moreira
de Sá. Desenvolve-se em dois níveis, com uma linguagem arquitetónica simples e
simétrica. O seu estado de conservação é médio mas, o uso dos materiais
respeita a envolvência.

Fig. 102 – Fotografia, Academia Valentim Moreira de Sá, autor, 2014

142
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

O edifício que ocupa o atual limite poente do Largo Condessa do Juncal


trata-se de um conjunto de apartamentos que, por analogia à sua configuração,
parece uma casa de ressalto, portanto anterior ao séc. XVII.

Até aos dias de hoje foi sofrendo alterações, quer a nível da fachada pré-
existente, quer na sua ampliação em altura e regularização dos pisos. É um
edifício maioritariamente usado por comércio e serviços mas, também tem
habitação.

O seu estado de conservação é médio e o desenho do edifício é bastante


recortado, denota-se a intensão de regularizar alinhamentos mas, o resultado é
uma série apartamentos com diferentes interpretações, resultando uma só massa
construída descontinua.

Como se pode ver na figura 103, este edifício que é orientado a Nascente,
é praticamente tapado pelas árvores do Largo e ensombrado durante
praticamente o dia todo.

Fig. 103 - Fotografia, Edifícios do Alçado Poente, 2014

143
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.5.2 - Análise do Largo Condessa do juncal

A primeira grande diferença deste Largo para os outros, é a existência de


uma área central fechada, que não se verifica nas outras e fica desagregada da
envolvente. Um dos motivos que promove esta situação é a via automóvel que
circunsfere esta praça e lhe confere a propriedade de rotunda, quando na
verdade, hoje em dia, existe apenas um ponto de entrada e outro de saída, não
justificando o seu desenho.

Quanto ao material usado na praça, a calçada portuguesa, com o uso de


quartzo e basalto, são materiais que não foram usados em mais nenhum ponto da
área intramuralhas, o que lhe confere descontinuidade no contexto.

Outro elemento diferenciador das outras praças são as sebes que


encerram o espaço de estar e contemplação conferindo mais um ponto de
antítese relativamente à atitude tomada nas outras praças, que estão projetadas
para serem atravessadas livremente.

As árvores, são outro pormenor de exceção, nas praças em que houve


arborização, acabaram por ser retiradas, sendo adotada uma plantação
estratégica e com manutenção regular e controlada favorecendo tanto o
funcionamento, como a visualização da composição geral dos alçados por quem
usufrui do espaço, como pela parte de dentro dos edifícios para a praça. Nesta,
verificam-se árvores de dimensões desproporcionais ao espaço, tanto para dentro
da praça, como na proximidade com os edifícios que fecha o espaço no seu
imediato até aos últimos andares. Não se assumem nem como vegetação de
crescimento espontâneo nem de cariz de bosque que se verifica na última
intervenção feita na Capital Europeia da Cultura na Alameda de São Dâmaso e
Toural.

Um outro elemento singular desta área é o estacionamento de forma


triangular que existe no limite a Nascente, que pelo seu desenho e dimensões
técnicas, denotam inconformidade com as necessidades funcionais. É uma área,
que acabou por ser balizada apenas para garantir o seu uso correto como
estacionamento e envolvida por via automóvel, a fim possibilitar a entrada no
espaço.

144
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

3.6 - Proposta de intervenção

Esta proposta de intervenção para o Largo Condessa do Juncal tem como


principio a tentativa de resolução dos pontos frágeis que se verificaram na análise
ao desenho e funcionamento do mesmo na atualidade.

Os pontos que consideramos frágeis neste largo passam, pelo desenho da


praça que está a funcionar como uma rotunda permitindo que os automóveis a
contornem, quando na área só há uma entrada e uma saída. O estacionamento
automóvel a nascente, que é triangular e não proporciona um uso correto nem
funcional, mais ainda pelas medidas que estão a ser tomadas pela Câmara para
condicionar a entrada dos automóveis no centro histórico138, levou-nos a propor
uma via automóvel que tenha entrada pela Porta Nova da Vila, mantendo o
desenho, dimensão e expressão e fazendo a saída para a Rua Egas Moniz.

Outro elemento que consideramos um ponto negativo são as árvores que


pontuam o limite da praça que atingiram dimensões descontroladas139 em que as
copas se estendem quase até às fachadas dos edifícios e ao centro da praça,
escurecendo e bloqueando o campo de visão a partir de todos os pisos dos
edifícios e da praça para estes e criando um teto vegetal que quase tapa toda a
praça. Deste modo propomos a preservação da sucessão de cinco árvores no
limite Norte, permitindo o ensombramento onde o sol incide mais e o abate das
restantes, que impedem a leitura das fachadas a Nascente, Sul e Poente e a sua
salubridade.

A sebe que contorna quase todo o perímetro da praça, também contribui


para o bloqueio visual e físico entre as áreas, condicionando a fluidez de
atravessamento e dinamismo, que contemporaneamente garante o uso das
praças. O Quiosque da praça é uma estrutura que se encontra a Poente, está em
mau estado de conservação e como a sua utilização se tornou obsoleta, na
intervenção que propomos não o incluímos.

138
“(…) Agora por exemplo, estamos a fazer um concurso para pôr uns mecos daqueles de descer
e subir, comandados aqui pela portaria da câmara. Finalmente vamos conseguir fazer isso e
portanto condicionar de certa forma, porque ainda não está condicionado. Não queremos acabar
com o trânsito por completo, mas condiciona-lo.”, (Frazão, 2014, Anexo III)
139
“(…) Elas têm raízes muito profundas, tinham uma poda muito mal feita durante muitos anos.”,
(Frazão, 2014, Anexo III)

145
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

No extremo oposto da praça existe um monumento com qualidade artística,


que faz homenagem ao Gravador molarinho. Era um homem notável de
Guimarães, e por estes motivos está incluído na proposta para a praça, numa
extensão de passeio, coroando o encontro de vários percursos. Uma árvore,
magnólia, espécie usada no início da Rua da Arrochela, perto da Porta Nova de
S. Paio, foi colocada por trás do monumento criando deste modo, uma espécie de
cenário que o envolve.

Foi também definida uma barra de um centímetro de ferro que


acompanharia o passeio a Sul e a Poente, como forma de perpetuar o desenho
da pré-existência desenhada por Fernando Távora. Propomos continuar o passeio
até ao limite criado por um eixo que vai limite do edifício a Poente até ao edifício a
Nascente, aumentando a área pedonal, criando espaço e acessibilidade para
estender os negócios de hotelaria que aí funcionam com serviço de esplanada.

Foi também criada uma malha, que tem como princípio de desenho regular
o espaço e partiu de dois eixos. Um dos eixos nasce pela perpendicularidade no
centro do edifício a Poente e o outro é o que define o limite do passeio que
descrevemos anteriormente. Os seus prolongamentos definiram um ponto no seu
encontro e a partir deste foram desenhadas as linhas longitudinais. As linhas
transversais partem do centro e desenvolvem-se em linhas paralelas. Esta malha
termina nos passeios e desmaterializa-se no limite da via automóvel onde foi
desenhada uma sucessão de pilares de pedra ligados por correntes e que
condicionam os automóveis à via mas, permitem ser tiradas e deixar o acesso
livre para cargas e descargas se assim for necessário.

Deste modo a praça ganha área pedonal, uma iluminação mais apropriada
ao espaço, as fachadas com expressão e visibilidade, assim como a possibilidade
de criar atividades, como por exemplo do cine-clube que acaba por acumular
utilizações na Praça da Senhora da Oliveira.

Os materiais usados, são os mesmos que os aplicados na Praça de S. Tiago,


fazendo a ligação visual e conferindo continuidade nas praças do Centro
Histórico.

146
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 104 – Planta, Planta atual do Largo Condessa do Juncal, 2014

147
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Fig. 105 – Planta, Planta da proposta de intervenção para o Largo Condessa do Juncal, 2014

148
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Conclusão

Na análise efetuada às praças do centro histórico Guimarães, pode-se concluir


que são áreas que nascem de duas formas; planeadas de raiz, em contextos
religiosos, como a Praça da Sra. da Oliveira e o Largo Cónego Maria Gomes, e de
áreas expropriadas com o fim de dar notoriedade a edifícios, como é o caso do
Largo João Franco ou por motivos de higienização pública, como foram os casos
da Praça de S. Tiago e do Largo Condessa do Juncal.

No caso específico do Largo condessa do Juncal, as expropriações e demolições


ao longo do tempo, resultaram na descaraterização, social e ideológica a que
estavam vinculadas ao longo dos séculos. No presente, pode-se constatar
algumas diferenças no tratamento urbano deste Largo em relação aos outros que
sofreram intervenção e que têm um fio condutor de projeto associado, que lhes
confere unidade.

Esta tese pretendeu complementar e valorizar as intervenções de reabilitação no


Centro Histórico de Guimarães, argumentando os valores da história na
construção dos espaços públicos mas, assumindo que é necessária uma
atualização no tempo conferindo-lhes qualidades que respondam às
necessidades da atualidade.

O trabalho do arquiteto na valorização de todo o património arquitetónico e urbano


é importante para a continuidade do interesse nas cidades consolidadas para que
haja sempre uma adaptação ao contemporâneo.

Entre conservar e manter sem alterar ou reestruturar e alterar o património, o


importante é reutilizar os edifícios e o espaço publico ser um espaço agregador,
convidativo ao investimento, quer para habitação, comércio ou serviços,
potenciando espaços urbanos continuamente vivenciados com qualidade e
adaptados às necessidades da contemporaneidade.

Com a proposta de intervenção apresentada no terceiro Capitulo, pretendemos


que o espaço do Largo Condessa do Juncal seja um espaço público de
permanência, que os edifícios ganhem interesse comercial, cultural ou mesmo
habitacional em consonância com o que se passa com as restantes praças.

149
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

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157
Anexos
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Anexo I

Entrevista com o Engenheiro Carlos Martins:

(Largo Condessa do Juncal)

André - Pode contar-nos um bocadinho da sua história neste Largo?

Eng. Martins - Sim, quando vim de Angola, em 61/62, vim morar para a casa do
meu avô e aqui em frente existia uma sapataria, o Manel Joaquim. Neste pequeno
largo jogávamos futebol, num lado púnhamos duas pedras e do outro as casas
funcionavam como os limites da baliza.

(Primeira casa Pombalina à direita do alçado Sul do largo, (Casa de Manuel


Caetano Martins), primeiro vereador da primeira república, “Martins Chapeleiro”,
avô do entrevistado.)

Eng. Martins - Aqui são as traseiras da casa do Martins chapeleiro, a camisaria


Martins. Este edifício aqui ao lado também era do meu avô. Era composto por três
ou quatro T2.

André - Isto são as traseiras da torre da alfândega?

Eng. Martins - Não, aqui ainda tem vestígios de muralha, como vê estão ali os
merlões.

O miolo da torre da alfândega é o edifício do milenário.

André - Como era o piso desta área?

Eng. Martins - Em calçada portuguesa, aqui ao lado da sapataria, havia uma


taberna, pertencente à família Gualter, de um antigo jogador do Vitória nos anos
60. Esta taberna fazia o atravessamento para o Largo do Anjo.

André - A casa que pertenceu ao seu avô, excedeu o limite da fachada


pombalina, porquê?

161
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Eng. Martins - Isso não posso explicar porquê… Risos… A muralha atravessava
isto tudo, e hoje em dia deve conseguir encontrar pedaços de muralha no meio
dos edifícios, julgo eu. Na Rua Nova ainda deve encontrar muitos pedaços de
muralha. Entre a Rua Nova e a Alameda, nessa área de casas, aí no meio, deve
encontrar muralha.

André - Neste Largo que estabelecimentos públicos/comerciais funcionavam?

(Primeiro edifício Pombalino a partir do Vira-bar à direita)

Eng. Martins - Naquele edifício, ao lado do Vira-bar, nos anos 40/50, funcionou
uma leitaria.

André - Deste edifício onde funciona o Vira-bar, que informação me pode dar do
passado?

Eng. Martins - Eu sempre conheci este edifício a funcionar como restaurante.

André - Nos edifícios do largo há algum que tenha tido participação no seu
projeto?

Eng. Martins - O único em que participei é este ( casa da Muralha), pois fiz parte
do projeto de engenharia, toda a engenharia desde estrutura, saneamento e
águas. Este edifício começou a ser projetado entre 84 e 86, os edifícios foram
comprados pelo Sr. Garcia, mais conhecido por Cigano. Depois entrou em contato
com o arquiteto Gradim para lhe fazer o projeto. Nessa altura, 84/86, havia muito
poucos arquitetos, contavam-se pelos dedos…

O projeto passou por algumas fases, primeiro a descoberta da muralha, depois o


reformular do projeto… O edifício voltado para a Alameda, antiga Casa do Abreu
dos Linhos, foi todo demolido, mantendo apenas a fachada.

Os edifícios voltados para o Largo, também foram demolidos, sendo que o do


lado direito, este com quatro janelas, tentou manter o desenho da pré-existência,
e o da esquerda uma arquitetura mais contemporânea.

O projeto foi realizado a meias com o arquiteto Gradim e o falecido arquiteto


Fernando Távora. A obra esteve parada durante um ano, precisamente por causa

162
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

do desenho desta fachada, até que entrassem os dois em acordo. Eu considero


esta parte (esquerda), contemporânea e esta (direita) com referências medievais.

O programa do projeto de raiz foi sempre otimizar o espaço para escritórios, de


maneira que da muralha para Sul foram desenvolvidos os pisos para esse efeito.
Da muralha para Norte, voltado para o largo, desenvolvem-se os acessos através
da escada em betão.

A descoberta da muralha fez com que o edifício se desenvolvesse de uma forma


subserviente à mesma. No edifício da direita tinha também como programa inicial,
projetar um café/restaurante.

(Primeiro piso do atual café muralha)

Como vê, estamos a pisar a barbacã da muralha, e foi em homenagem a esta


descoberta que o restaurante/bar que aqui existiu, assumiu o nome de Barbacã.

Daqui para cima desenvolve-se uma chaminé, que teria sido feita pelos últimos
donos do edifício, portanto uma pré-existência. Como vê ainda ali estão os
merlões.

André - A construção destes edifícios foi feita com métodos tradicionais, taipa de
rodizio ou fasquio, ou contemporâneos?

Eng. Martins - Não, o edifício todo é feito com técnicas contemporâneas, betão
armado, lajes aligeiradas, pilares e vigas. O revestimento das escadas é feito com
pedra local.

Nesta altura ainda não havia as regras sujeitas ao património.

Esta área envidraçada, permite a quem sobe e desce manter a relação com o
largo. O atravessamento entre os edifícios é feito em ferro, pensou-se em fazer
em vidro mas na altura essa tecnologia não estava tão avançada.

André - Estas aberturas na muralha para atravessamento já existiam?

Eng. Martins - Sim, faz tudo parte da pré-existência, a muralha foi só


praticamente limpa, e depois temos a claraboia que ilumina os acessos aos pisos
e escritórios.

163
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

André - Pelo que se consegue ver não tem nenhum elemento estrutural
encostado à muralha. Como foi resolvida a estrutura?

Eng. Martins - A estrutura foi resolvida em consolas, para evitar a proximidade


com a muralha, isso seria uma agressão!

André - O piso térreo voltado para a Alameda tinha como projeto inicial um
estabelecimento comercial?

Eng. Martins - Sim.

André - O que pode contar acerca desta casa (casa contigua à Casa da Muralha,
à esquerda)?

Eng. Martins - Ali funcionou uma associação ligada à empresa ALFA, um


café…Por cima funcionavam gabinetes de advocacia, e também o atelier de
pintura naïf do Caçoila, de onde tenho a imagem de quando era miúdo ir pra lá
vê-lo a pintar.

André - Recorda-se de algum edifício que tenha sido demolido no espaço onde
existe agora este estacionamento?

Eng. Martins - Recordo sim, foi demolido nos anos 60, tenho uma imagem muito
vaga desse edifício. Eram vários edifícios que albergavam muitas famílias. Era um
edifício muito velho, com patologias de degradação bastante avançada.

André - No alçado a Nascente, de que alterações se lembra?

Eng. Martins - Lembro-me daquele edifício que foi reabilitado em 96/97 pelo
partido comunista, já dentro dos moldes do património.

André - Deste edifício que só mantem a fachada, tem alguma memória?

Eng. Martins - Sim, por acaso estive envolvido na demolição deste edifício. Foi
quando eu trabalhava na CARI construtora, em 84/85, o edifício estava bastante
degradado, quando nos contrataram para a sua demolição.

André - Aqui no Largo, em termos de vias e vegetação houve alterações?

Eng. Martins - Do que me lembro foi tudo alterado!

164
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

André - Neste Largo o piso já era em calçada portuguesa?

Eng. Martins - Sim, com alguns buracos, mas era… Segundo consta existia aqui
uma Igreja, penso eu de S. Paio. Ali existia uma passagem subterrânea que dava
acesso ao largo João Franco. Esta porta está muito perto do altar da Igreja da
Misericórdia. Este acesso na altura era feito numa cota mais baixa, percorrendo o
túnel desembocávamos num largo que pertence à misericórdia e continuando
saíamos no largo do lado de lá (Largo João Franco).

André - Quem atravessava este largo na altura, que noção tinha do mesmo?

Eng. Martins - Aqui era a feira do Leite, todos os dias entre as 7:00h e as 9:00h
da manhã, as pessoas iam com um vasilhame comprar o leite às mulheres que lá
estavam com os seus cântaros de alumínio.

André - Considera que naquele tempo quem atravessava o largo, lhe reconhecia
um carater residencial de bairro, ou urbano e de centro?

Eng. Martins - Era mais urbano, era centro…

André - Em relação às outras praças, qual era a importância desta?

Eng. Martins - Sinceramente, só hoje em dia se dá valor às praças, antigamente


eram autênticos desertos.

(Antigo Largo do Anjo)

André - E deste pequeno largo, de que se recorda?

Eng. Martins - Este largo não era nada assim, ali existiria a Igreja de S. Paio e o
que seria o seu adro, lembro-me de ser em calçada. Foi na implantação da
República, em que fizeram alguns disparates, que a Igreja foi demolida…

Acho que é tudo o que posso dizer do Largo Condessa do Juncal…

André - Muito obrigado pela entrevista Engenheiro Martins

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Anexo II

Entrevista com o Arquiteto António Gradim:

(Gabinete de arquitetura do arquiteto António Gradim)

André - Na análise prévia, que condições e especificidades apresentavam os


edifícios pré-existentes?

Arq. Gradim – Portanto, nos anos 50 o Sr. Abreu, comprou os dois lotes que
vieram a ser a casa dos linhos e o lote voltado para o Largo condessa do juncal, e
pretendia na altura construir habitações que acabaram por não ser concretizadas
e em vez disso os pisos foram transformados em escritórios e armazéns deste
negócio. Ainda assim, na obra, os lotes foram ligados possibilitando o
atravessamento entre eles e os vários pisos.

Nos lotes voltados a norte, para o Largo Condessa do Juncal, existiam dois lotes,
um quase em ruina, que quase não foi preciso mexer e na outra, no piso térreo
funcionariam cavalariças, isto pelas argolas que encontramos, que serviam para
prender os animais, e mais dois pisos com duas janelas cada um. As casas
estavam em muito más condições e havia vestígios de muita modéstia. As suas
fachadas eram idênticas e muito singelas, apenas com quatro janelinhas que
acabaram por ser reinterpretadas na fachada à direita.

Na casa do lado direito existia já uma pequena cozinha com uma fabulosa
chaminé, que com certeza foi feita na primeira construção e que acabou por ser
mantida nesta intervenção. Possivelmente existiria ali ao lado uma zona de
refeições e no restante espaço alcovas em que dormiriam…

André - Como entendeu a muralha na pré-existência para a sua proposta?

Arq. Gradim – Por norma, nesta zona a muralha tinha uma espessura e uma
altura de aproximadamente 3 metros, dimensões que eram comummente
aproveitadas para fazer escadas confortáveis, vencendo a diferença das cotas

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

entre o espaço intramuros e extramuros, acabando por ser demolida e


aproveitada a pedra para a construção dos edifícios.

Por um acaso da sorte a muralha neste lote ficou mais ou menos intacta. Na
minha pesquisa particular soube que não está completa, e que em toda a
extensão daquele lote baixinho (ultimas três casas à esquerda do alçado sul do
largo) está em adarve, vai até às escadinhas, que era um postigo, ainda a
mantêm.

A reconstrução da muralha, passou pela sua limpeza e pela colocação nos


lugares originais dos merlões, que foram encontrados encostados dois a dois nos
extremos de cada lado da muralha a fazer parte da construção de uma parede
divisória.

A memória ficava lá dentro com um enorme sacrifício da área útil do lote. Tive
então uma zanga muito séria com o cliente, porque se observarmos, isto é muito
espaço, e ele queria rentabilizar ao máximo a área.

André - O Arquiteto Fernando Távora estava envolvido neste projeto?

Arq. Gradim – Não, com o Arq. Fernando Távora tive a sorte de ser seu aluno
durante dois anos. O arquiteto F. T. era, na altura, assessor do G.T.L. que à
época se chamava gabinete do centro histórico, que se sediava na rua nova;
tínhamos uma relação pessoal, de amizade (frequentava muitas vezes a sua
casa) e discutíamos muitos assuntos de arquitetura.

André - Qual a opinião de F.T. sobre a obra?

Arq. Gradim – O arquiteto F. T. enquanto assessor fazia o acompanhamento de


projetos de exceção. E tivemos uma conversa acerca deste projeto porque não
estávamos de acordo. A grande discordância era, que eu entendia que o projeto
devia unificar a fachada e já agora, como sugestão: fazer dos dois lados o
arranque das cornijas contiguas e unificar esta fachada, ainda que elas não
estejam exatamente à mesma altura. O arquiteto Fernando Távora achava que a
pré-existência do lado direito devia ser mantida e restaurada.

Eu queria interpretar o edifício, e o Távora queria interpretar o sítio, o edifício,


queria interpretar tudo… E eu escolhi mais o edifício. Nem eu, nem ele,

168
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

estávamos em conformidade de que ali devia haver um remate de continuidade


que ficasse bem…

Então vamos arranjar aqui um compromisso, e arranjamos uma solução eclética


que é claramente um compromisso em relação à pré-existência e compromisso
em relação à interpretação do sítio.

André - Pode explicar o projeto? Qual foi o programa encomendado?

Arq. Gradim – O Sr. Garcia, tinha a ambição de comprar toda a extensão da


Alameda, desde as escadinhas até ao Toural. Para ele fiz três projetos, este, um
no primeiro edifício de quem vem do Toural, a antiga Casa do Martins Chapeleiro
onde projetei um duplex, um piso de escritórios e outro de comércio… Na Casa
dos Linhos ele queria uma loja no piso térreo voltado para a Alameda, nos pisos
superiores escritórios e no outro lote um pequeno restaurante que hoje não existe
mas abriu como Barbacã.

André - Em que medida o orçamento para a obra, a condicionou?

Arq. Gradim – Nesta construção devo ter usado os materiais mais baratos em
toda a minha vida, o orçamento era miserável.

Isto até deu origem a discussões, o construtor pensou que tinha dado um
orçamento correto e no final só deu para as escadas…

Pra ter uma noção, aquele corrimão foi feito num senhor serralheiro que me fez à
mão, e até eu ajudei, a fazer as curvas entortando o ferro em troncos de árvores,
até chegar a uns moldes que eu fiz à escala real e lhos entreguei.

André – Como chegou às soluções a nível dos alçados voltados a Norte, a


dualidade existente entre o novo e a interpretação do medieval?

Arq. Gradim – Esta fachada resultou de várias negociações: as pré-existências,


que eram casas arquitetonicamente muito pobres, o seu estado era de
degradação, o aparecimento da muralha no interior do lote, o programa pedido
pelo cliente e o consenso entre a minha proposta e as intenções do F. T. Portanto
a minha intenção era aceitar esta inevitabilidade que este lote propunha, ainda
por cima, este lote já tinha sido descaraterizado para mostrar o que era, e era de

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

muito fraca qualidade, pouquíssimo interessante. Tinha mais quatro janelas deste
lado (lado esquerdo da fachada), e este desenho que estava aqui, estava aqui
também (as fachadas pré-existentes eram idênticas nos dois lotes), mesmo após
a pequena intervenção nos anos 50, existia um pilote que dividia as casas na
fachada, que continuou associado em correspondência à divisão dos lotes no
interior.

A minha intenção foi sempre ligar os dois lotes, e eu tinha um projeto que os
ligava e fazia a fachada um pouco divergente desta, mas que unificava as duas
cornijas e dava uma solução urbanamente mais confortável, porque era mais
estável. Depois, para o lado direito estavam alinhados sucessivamente a
continuidade dos edifícios.

André - E quanto aos materiais e técnicas utilizadas na reabilitação que


contrariam as orientações do GTL. Qual o pensamento do arquiteto Fernando
Távora sob estes aspetos?

Arq. Gradim – Na altura não havia nenhum regulamento consagrado escrito e o


que havia era uma gestão, havia umas regras que estavam na mão de quem
geria, fazia a gestão, neste caso também assessorada pelo Távora. Todos os
projetos eram mais ou menos negociados… Pouca gente construía no centro
histórico. O senhor Garcia era dos poucos, estávamos no início...

A cidade não é um fórum de um tribunal, em que tudo é tratado da mesma forma.


O plano é ótimo pra ser uma gramática de orientação, é um testemunho, são
linhas de orientação, que passa de pessoa pra pessoa…

Nunca se chegou a fazer um plano do centro histórico, foi-se fazendo… A passo e


passo, e por isso teve sucesso, se houvesse um plano as coisas tinham-se
complicado…

Quando as regras começaram a apertar, os elementos de autoridade, as coisas


começaram-se a complicar mesmo para quem os tem na mão, que tem que os
cumprir! Porque não são negociadas… estão de mãos atadas… Legislação a
mais, também se torna complicado, deixa de se poder negociar.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Portanto, nessa altura não haviam e portanto as coisas eram mesmo


negociadas…

Portanto a posição do Arquiteto F.T. foi pacífica no uso do betão…

André – Portanto, a posição do Arquiteto Fernando Távora quanto ao uso


daqueles materiais foi pacifica?

Arq. Gradim – Sim, em questão de materiais foi pacifico... numa outra obra ali na
praça fiz uma escada em caracol devido à falta de espaço, uns 20 metros
quadrados e só aí levantei duas paredes de betão que acabam por fazer de
suporte e corta fogo da obra, o resto foi tudo restaurado. Aqui na Casa da
Muralha, como havia possibilidade, condições fiz as escadas em betão. São
opções que têm que se fazer mediante aquilo que se encontra. Neste caso era
possível, foi útil e económico, e dava jeito porque esta casa só tinha um cómodo,
só tinha uma divisão por piso. Não era preciso fazer paredes novas, portanto a
escada foi de exceção. Aqui tinham algumas paredes divisórias em taipa
(restaurante), em tabique…

Eu tinha que desenhar aquela peça (escadas) da forma mais leve possível… A
opção era betão e obviamente concordou…

André - O eixo central das escadas não é vertical, porque motivo?

Arq. Gradim – As escadas aparecem como um elemento de interesse da obra,


pois quando aparece a muralha, e o significado que ela tem, foi preciso resolver
um problema que é a presença desta. Como a área que existia para fazer os
acessos aos pisos era grande, a escada pôde nascer perto da muralha e
desenvolver-se, afastando-se gradualmente como que num movimento resultante
de todo aquele peso gravítico.

A sua construção foi extremamente complexa, os apoios foram sendo feitos na


parede estrutural do edifício, e qualquer pequeno erro na sua conceção resultaria
numa catástrofe, fui eu que a implantei em obra com ajuda de equipamentos de
topografia…

171
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Quando alcançados a altura dos pisos superiores, reforça-se a comunicação com


a praça através daquele janelão, que quase restitui a verdadeira relação que deve
ter a muralha com o exterior.

O protagonista daquele edifício é a muralha, é imperativo, não se pode ignorar…

André - Os corredores de acesso aos escritórios são curvos, porquê?

Arq. Gradim – Pelo motivo da gravidade da muralha que encurva tudo pelo seu
peso, como um meteorito… A muralha fica muito mais livre… Também tem um
desenho muito mais interessante… Este encurvamento tem que ver com a lógica
de peso.

Depois tinha a claraboia que iluminava a muralha numa entrada zenital fazendo a
perder todo aquele peso…

André - Qual a atitude do arquiteto Gradim perante o espaço público da praça na


atualidade e os seus edifícios? Quais as potencialidades da praça, qual a
estratégia de projeto a usar?

Arq. Gradim – Esta é uma das praças que o Távora desenhou aqui em
Guimarães, e a que gosto menos. O Távora tem sempre medo a arriscar,
preferindo respeitar o que lá está. Então pôs lá um quiosque, tratou os pisos …
Se fosse um arquiteto jovem, com menos maturidade trataria com certeza de
outra forma. O arquiteto Távora foi sempre muito maduro, mesmo novo era
maduro como arquiteto. Portanto tinha essa capacidade inesgotável de abdicar,
limitar o desenho.

A praça é tristíssima, ecoa, fez pequenos arranjos, não fez praticamente mais
nada… O que se aplica a esta, aplica-se à João Franco.

Por exemplo na Praça de S. Tiago, e esta ainda mais antiga que todas do séc.
XVIII que é um desenho muito mais visível, dinâmico e ele fez uma atitude
absolutamente humilde, pavimentou-a, regulou um canal de trânsito e desenhou o
piso de uma capela, que não se sabe se estava lá, mas que serviu para desenhar
o pavimento, não fez mais nada... Os mecos não resolvem nada, não é
agradável… A regra de toda a arquitetura dele é a tradição.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Esta praça é um bocado complicada, a acessão que eu faço dela é que é uma
praça que se passa “à lharga”, é uma praça que não se atravessa, as praças são
pra ser atravessadas, devem ser livres. E esta não é bem uma praça é um rossio,
e isto acontece pela proximidade de um outro rossio que é aqui o toural. Aqui
funcionavam as feiras do leite e do pão, não é muito comum, normalmente
funcionavam fora de muralhas… O que acontecia no Toural… Devido às
demolições, também ficou com uma configuração estranha…

O espaço urbano não faz parte do meu percurso, não é da minha formação…

É terrível mexer num espaço público… A sensação que tenho desta praça, é que
ela sobra… Não faz parte do contexto Oliveira, João Franco e S. Tiago… é uma
praça de moradores, famílias… Esta praça é sombria, a questão das árvores…
Por outro lado, é positivo, a meu ver, não recria o contexto de vivência de fim-de-
semana das outras… Isto é um momento de silêncio…

André - Muito obrigado pela entrevista Arquiteto Gradim.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Anexo III

Entrevista ao Sr. Arquiteto Miguel Frazão:

(Câmara Municipal – Divisão DSUA)

André- O Arquiteto Miguel Frazão esteve envolvido no processo de revitalização


do centro histórico de Guimarães?

Arq. Miguel Frazão- Sim desde a primeira hora, eu aliás vim para Guimarães por
causa do centro histórico, se não fosse o centro histórico eu não estava aqui! Não
tenho família cá, por isso vim diretamente porque o meu pai era muito amigo do
Távora desde a infância. Trabalharam juntos, o meu pai era engenheiro e já o
meu avô era amigo do pai do Távora. Portanto era uma relação familiar e para
além do mais, não só familiar, mas havia uma admiração profissional já antiga;
portanto quando soube que ele vinha para cá fazer o plano geral de urbanização,
e como eu também o conhecia muito bem e desde a infância a Diretora do Museu
Alberto Sampaio… Foi através destes dois, dessas duas personagens que eu vim
para cá, vinha passar umas semanas, ou uns meses a tratar de coisas
engraçadas e afinal fiquei e estou cá à 35 anos, portanto o centro histórico é que
me fez vir para cá!

André- Qual a função que desempenhava na altura?

Arq. Miguel Frazão- Era como arquiteto.

André- O que nos pode dizer sobre os últimos arranjos da Praça de Nossa
Senhora da Oliveira?

Arq. Miguel Frazão- Esta praça… Os últimos arranjos como? A praça é a única
que não é do Távora, é um arranjo já feito pelos Monumentos Nacionais, anos 50,
60, mas que fora por acaso fonte de inspiração para o próprio Távora. Porque ele
pega no desenho da Praça da Oliveira e estendeu-o para a Praça de S. Tiago.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Embora, depois, enfim, como a Praça de S. Tiago não tem aquela regularidade,
da Praça da Oliveira, que era a Praça Maior de Guimarães. Ele depois diluiu o
desenho, pronto, aquelas coisas que ele explicava muito bem. Ele teve ideias
para cada uma das praças, mas é a Praça, digamos, que se vai seguir, é o
modelo da Praça da Oliveira e da Rua de Santa Maria. A Rua de Santa Maria
também é arranjada pelos Monumentos Nacionais e serviu por exemplo para a
gente definir que as nossas ruas aqui do centro, também teriam todas passeio,
nem que fossem de 20 cm porque a Rua de Santa Maria assim era e nos pareceu
até numa discussão com o próprio Távora, que esses passeios, mesmo que
fossem um pouco estreitos para andarem duas pessoas, mas davam para se
defenderem dos carros, quando lá passavam. Por outro lado dão estabilidade aos
próprios edifícios, portanto cria-lhes uma espécie de base, e portanto resolvemos
que os passeios se manteriam.

André- Houve alguma intervenção do G.T.L. na Praça da Oliveira?

Arq. Miguel Frazão- Houve, a própria oliveira, é uma ideia do próprio Távora
também, como símbolo de Guimarães e da própria Praça, de repor uma Oliveira
no sítio onde ela existiu, desde o séc. XIV e foi cortada no séc. XIX.

Por acaso aquela piana que lá está, foi desenhada por ele, mas depois fui eu que
acrescentei a base, porque nós trabalhamos… Realmente houve um período em
que ele vinha uma vez por semana. Mas vinha com alguma regularidade. Os
desenhos dele, tirando as praças, a partir daqui da Câmara, tudo o resto era feito
aqui com discussões connosco ou nós íamos lá. Também ia lá quase uma vez por
semana, ía ao Porto ao atelier. Na rua onde foi o gabinete de urbanismo da
camara.

André- Então foi responsável pela base da?…

Arq. Miguel Frazão- É engraçado, porque quando ele trouxe… Quando ele fez o
desenho daquele polígono… Eu disse-lhe: “- Mas isto não resolve a pendente da
praça!”, porque ela parece que não tem, mas tem uma pendente… E se lhe
dessemos uma base … Tinha-mos que a desenhar com o lápis na mão, como se
fazia antes, não era com computador, era com lápis na mão… Pronto, fiz a base.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Ele achou muito bem e ficou com a base. Mas isso são pormenores… Que
realmente as coisas eram feitas em verdadeira equipa.

André- O Largo Cónego Maria Gomes foi a primeira das quatro praças que sofreu
intervenção pelo G.T.L., o que nos pode dizer quanto à pré-existência?

Arq. Miguel Frazão- Esta foi acompanhada por mim, fiz o acompanhamento todo.

André- Houve intervenção dos Monumentos Nacionais?

Arq. Miguel Frazão- Não, não… O que havia era um lajeado, este lajeado aqui
em frente da Câmara já existia. Mas foi feito provavelmente com
acompanhamento dos Monumentos Nacionais, mas ainda “no tempo da outra
Senhora”, com outro presidente da Câmara, por volta dos anos 70... Portanto isso
já existia, o resto era uma praça em saibro, onde os carros estacionavam, era um
parque de estacionamento, tinha um cruzeiro no meio, que era um cruzeiro dos
escuteiros, que está agora na parte nova da cidade, pronto, não tinha aquele
nivelamento que faz parte agora do projeto.

André- Nesta intervenção, qual foi a intensão ou pormenores que ressaltam?

Arq. Miguel Frazão- O Távora teve uma ideia que eu acho que foi brilhante, e
pronto, daí a importância do acompanhamento que ele teve neste processo. Era
uma pessoa que sabia, que tinha experiencia neste tipo de coisas… Nós eramos
todos muito verdes, uma matéria que aliás na maior parte do país não havia
claramente experiencias destas…Ele era genial nestas coisas, teve a ideia de
fazer para cada praça, ainda com um desenho contemporâneo muito ao jeito ou à
maneira de, como se dizia antes, do estilo de cada praça, dos edifícios de cada
praça, na altura em que cada praça tinha sido feita. Portanto esta praça aqui, por
exemplo da Câmara, é uma praça muito simétrica, vai buscar a fachada principal
do edifício daqui, portanto o Convento de Santa Clara, hoje Câmara Municipal e
faz o eixo principal que vai da porta principal da Câmara até à porta principal do
que é hoje a Biblioteca, que era a Casa dos Carneiros, e depois a partir daí faz
um desenho de geometria que não é exatamente simétrico, mas a fachada
também não é. Portanto, com um desenho um bocado barroco, digamos assim,
com um eixo principal mais contemporâneo ao mesmo tempo. Depois aquelas
bolas à maneira do séc. XVIII, não é?... Com um certo peso, portanto é todo um

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

desenho que é todo muito relacionado com o espaço que existia e com os
edifícios que estão à volta.

Fez isso para todas as praças, acabando na Praça de Condessa do Juncal, que é
a mais recente, aquela praça que em parte é séc. XIX, e outra parte já do séc. XX.
E portanto vamos buscar esse tipo de imagem.

André - E quanto às últimas intervenções realizadas pelo G.T.L. que opções


foram tomadas (e na C.E.C.)?

Arq. Miguel Frazão- Posso! Também é projeto meu, mas posso, com parcimónia
porque é projeto meu... Mas a ideia foi fazer exatamente… Eu sou um discípulo
do meu mestre, que é o Távora… E portanto o que eu fui fazer, foi pegar no
desenho que ele tinha e mimeticamente prolonga-lo, embora com outra cadencia,
porque o espaço é diferente também, mas foi prolonga-lo e portanto tornar a fazer
um desenho muito calmo, que parece que existia já de origem de quando se fez o
principal.

Portanto tem aquele lajeado que foi prolongado e fez-se aquela quadrícula que
existia já aqui em frente da Câmara que tem que ver com a própria esquadria do
edifício… As colunas do edifício da Câmara são repetidas depois em baixo no
pavimento. Portanto eu fui buscar esse desenho também, tem aquelas três
árvores que são… Cujos canteiros são, digamos que a projeção das três janelas
da antiga Igreja. E depois fui buscar uma fonte que eu sabia que estava a
apodrecer numa antiga quinta, que a Câmara tinha comprado, e a fonte estava lá
a degradar-se e eu lembrei-me dela e coloquei-a ali como remate. Não tem mais
que isto, é uma coisa muito simples.

André- Quanto à intervenção feita pela equipa do G.T.L. na Praça de S. Tiago o


que nos pode dizer sobre as pré-existências, as opções de desenho, os materiais
usados? Esta malha teve alguma inspiração nos tanques dos curtumes?

Arq. Miguel Frazão- Essa já não foi acompanhada por mim, entretanto passei
algum tempo… Saltei do centro histórico para o trânsito, porque chegaram à
conclusão que sem resolver o trânsito, não se resolvia o centro histórico. E foi
criada uma equipa, foi contratada uma equipa, de especialistas comandados por
um sueco, porque não havia especialistas Portugueses da área na altura e

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

fizemos o primeiro plano geral de trânsito do país na altura, que ainda funciona e
que ainda mais ou menos nos vai orientando. Portanto tem 30 anos ou coisa que
o valha, e ainda está válido. Portanto já não fui eu que acompanhei a obra.

A praça vai buscar o desenho da praça da Oliveira, porque como há aquela


transparência através do edifício da Câmara… E depois dilui-se, porque a
fachada (fachada voltada para o antigo edifício da Câmara) também é ela própria
irregular, aquela fachada em S, que é espetacular… Esse desenho no chão dilui-
se de propósito e acaba por fazer aquela rua também em serpentina, e depois
tem a determinada altura, um lajeado que representa e que corresponde
exatamente à antiga planta da igreja de S. Tiago que lá existiu.

A Praça de S. Tiago é uma praça criada no tempo do Conde D. Henrique que


oferece aos Francos que vieram com ele, para fazerem a Capela de S. Tiago, que
era o Patrono dos Francos.

A Praça teve variadíssimas formas, mais quarteirão menos quarteirão, tudo aquilo
mudou, mas enfim, com ele acaba por ser uma praça muito bonita e tem essa
marcação da Igreja como símbolo... Este tipo de símbolo para marcar as coisas…
E fez isso mesmo!

À praça falta a estátua do Conde D. Henrique, portanto o Távora previa pôr no


eixo exatamente da passagem da Casa da Câmara da Oliveira para a Praça de S.
Tiago e no eixo dessa Capela. Portanto no cruzamento desses dois eixos teria a
estátua.

No lajeado do chão está marcado em latim uma frase que diz: “A vós homens que
vieste povoar Guimarães e àqueles que aqui quiserem viver” que é a primeira
frase do foral do Conde D. Henrique aos Vimaranenses, está lá marcado em
Latim. Por acaso tem alguns erros, em vez de V´s tem X´s, mas tirando isso…

André- Acha que esta malha criada teve alguma inspiração nos tanques dos
curtumes?

Não! Quer dizer… Eu não sei… Da parte dos Monumentos Nacionais… Mas não
estou a ver... Os curtumes não eram considerados sequer. A Maria João
Vasconcelos é que os salva e os chama à importância para eles e aliás convence

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

a Câmara a comprar uma das fábricas. Antes disso… Muito pelo contrário, era
uma parte da cidade muito degradada, que cheirava mal… Alguém se inspirou
nalgum desenho que já estaria na Oliveira… Há essa coincidência. Eu acho que é
uma coincidência.

André- O Largo João Franco e o Largo Condessa do Juncal foram


intervencionados mais tarde, as condições de financiamento eram as mesmas?

Arq. Miguel Frazão- O financiamento foi sempre com fundos Europeus, portanto
eram mais ou menos os mesmos, a feitura delas (praças) é que não foi a mesma,
essas praças já foram feitas no gabinete do Távora, a diferença é que, enquanto a
da Câmara foi feita toda aqui, toda pormenorizada por nós, e tudo o mais, o
Távora vinha cá uma vez por semana e via o que a gente tinha feito, não é!?... E
depois deixava os trabalhos, os deveres, para a gente fazer para a próxima
sessão.

André- Na intervenção feita no Largo João Franco e no Serralho foram usados os


mesmos materiais e técnicas (calçada à Portuguesa, Granito serrado), sendo o
elemento diferenciador o desenho do piso. Quais foram as intenções desta
intervenção?

Arq. Miguel Frazão- O Távora dava também à riqueza das combinações… Que o
granito… Da pedra, no nosso caso o que o granito permite. E portanto na praça
da Misericórdia, eu acho que foi onde ele mais gozou com esse aspeto. Que era
realmente muito importante, pois quando ele trazia cá arquitetos Espanhóis e de
outros países, muitos deles viam o pavimento e não as casas, uma coisa
engraçada, que é por puro defeito profissional, porque realmente há esta riqueza
que não há nos outros centros históricos. No João Franco usa muitas
combinações deste tipo de pedra. O desenho geral, digamos assim, tem como
base, o urbanismo Italiano do Renascimento, porque aquilo é uma praça nascida
no Renascimento. Com a obra da Misericórdia, que se deitou abaixo uma série de
casas. Ela tem aquele lajeado cruzado, aquelas linhas cruzadas, que é de um
antigo desenho que a praça teve e que existe em fotografias e postais. Portanto
foi buscar inspiração a isso para fazer esse desenho de inspiração da
Renascença, que é quando ele nasce.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

André- A última intervenção feita neste enquadramento foi o Largo Condessa do


Juncal. Relativamente a esta praça o que nos pode dizer?

Arq. Miguel Frazão- Esta é a última das praças que é criada dentro do centro
histórico, este trapézio é criado no séc. XIX, com inspiração no quarteirão do séc.
XIX. Este bocado (estacionamento), por exemplo já é do séc. XX mesmo, anos
50, 60, aquilo vai abaixo e havia aqui uma rua que era a rua de Alcobaça que
desapareceu, mas que o Távora deixou ficar aquele alinhamento central, aquela
espinha dorsal que as ruas em Guimarães quase todas têm.

O desenho da praça é claramente um desenho do séc. XIX, ele já existia… Este


desenho era mais ou menos assim… Passou a estátua do Gravador Molarinho
deste lado para aquele e fez o desenho no chão, claramente dos finais do séc.
XIX. Portanto contemplando a praça com pedra branca e preta que no nosso
caso, e ele também fazia muita questão, de realçar isso, era feito com quartzo e
não com calcário, porque o calcário não existe cá para o norte. Como havia até aí
tempos de utilização desse quartzo em vez do calcário, usou aqui na praça os
mesmos materiais que se usava por aqui.

Essencialmente é isto, depois ele fez este quiosque para fazer o contraponto com
a escultura. O Quiosque era para dar apoio, como está a ter de um destes cafés,
com um apoio um bocadinho mal feito, mas isso já é um problema que nos
escapa a todos. E depois a praça tem enfim, uns acrescentos colaterais que são
também provenientes e resultado também de outras demolições, nomeadamente
da Igreja de S. Paio. Era uma freguesia… Ainda é freguesia de S. Paio, era a
Igreja da freguesia… Há fotografias dela ainda… porque ela foi destruída no fim
do séc. XIX, princípios do séc. XX. E faz esta marcação em cruz aqui para
demarcar o sítio em que a Igreja estava.

É talvez a praça mais irregular que nós temos, porque é resultado de várias
demolições e ao longo de quase 100 anos, portanto tem, este irregular, mais
irregular que as outras.

André- Nesta área onde foi feita a ultima demolição, foi crido um estacionamento
em forma triangular. O que nos pode dizer deste elemento?

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Arq. Miguel Frazão- A questão do estacionamento é uma questão mal resolvida


durante estes projetos, foi de fácil resolução.

Por exemplo aqui, mais fácil é a de S. Tiago porque houve alguma restrição ao
trânsito que era a mais complicado de todas. E destas primeiras praças tirou-se o
trânsito e o estacionamento completamente. Por exemplo no Largo João Franco
já não foi, porque entretanto as pessoas criaram esta polémica de que nós
estávamos a tirar o trânsito todo e estacionamento cá de dentro, e o comércio
tradicional ia morrer. É o costume, se se vai contra, cria-se uma grande polémica
e portanto estas duas últimas praças… Só foi um bocado o desenho, que provoca
esta ambiguidade de tirar trânsito e pôr… Ficar com algum estacionamento, mas
não todos… Por exemplo tiravam este estacionamento aqui (miolo do Largo João
Franco), tinha estacionamento aqui no meio, mas teve-se que criar algum
estacionamento aqui à volta. Esta praça (Largo João Franco) foi claramente
prejudicada pelo estacionamento, deixou de ter a leitura que teria por causa do
estacionamento… Este é um processo muito lento, faz parte da nossa estratégia
fazer isto tudo muito devagar. Agora por exemplo, estamos a fazer um concurso
para pôr uns mecos daqueles de descer e subir, comandados aqui pela portaria
da câmara. Finalmente vamos conseguir fazer isso e portanto condicionar de
certa forma, porque ainda não está condicionado. Não queremos acabar com o
trânsito por completo, mas condiciona-lo.

André- Portanto, esta zona de praça não sofreu uma intervenção muito grande.
Um dos motivos poderá ter sido as árvores?

Arq. Miguel Frazão- Também, por respeito às árvores, aos plátanos que já cá
estavam e porque elas também ajudavam a definir um espaço de estar e de lazer
que o Távora reforça pondo aquele buxo à volta. Há trânsito, mas pelo menos
aquele bocado é mais sossegado, é para as pessoas estarem, numa tentativa de
tornar aquele espaço, num espaço de estar e de lazer.

André- Se houvesse uma intervenção neste espaço, o que sugeria?

Arq. Miguel Frazão- É muito complicado…

Essas coisas só desenhando, não é… Eu por exemplo, quando fiz esta parte do
Carmo, foi uma ampliação, porque entregaram-me o projeto e disseram: “Tu és o

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

único capaz de continuar o trabalho do Távora.” A gente fica logo,


assustadíssimo… Não quero fazer asneiras e toda a gente a ver… Fiz um
pouco… O que é que ele (Fernando Távora) faria?... Um bocado de intervenção
da minha lavra, mas um pouco ao jeito do que já estava para trás.

Mas não é nada fácil, porque estas praças são tortíssimas… Não têm lógica
nenhuma… Quando o próprio Távora, e eu por arrasto, todo o nosso desenho tem
que ter lógica, tem que ter uma razão de ser… Portanto nestes casos, é muito
complicado, de repente não sei o que fazia com esse triângulo…

Às tantas fazia uma parte de lajeado como aqui em frente à academia.

André- O que faria em relação às árvores? Mantinha-as ou não? Porquê?

Arq. Miguel Frazão- Sim mantinha, é muito séc. XIX, também não é? É uma
coisa que caracteriza a praça, que a distingue das outras, portanto,
provavelmente, é o que vamos fazendo, substituindo.

Elas têm raízes muito profundas, tinham uma poda muito mal feita durante muitos
anos.

Falta aqui um elemento que é um candeeiro que o Távora queria pôr no centro.
Queria pontuar isto com um candeeiro alto.

Há também aqui um edifício, a Casa da Muralha, que dizem que foi feita porque o
Gradim era marido da Alexandra e meu amigo, mas não é verdade! Aquilo era
uma casa de muito má qualidade! E como tal, foi permitida a intervenção, que foi
ganha por ele!... Houve ali realmente uma exceção assumida! No centro histórico
cada caso é um caso, mas sem dúvida que no centro histórico há regras para
cumprir e são para cumprir, e são para cumprir!

Há uma série de casas em que começaram a modificar e foi exatamente por isso
que começamos a criar regras.

André - Muito obrigado pela entrevista Arquiteto Miguel Frazão.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Anexo IV

Entrevista com o Sr. Arq. Filipe Vilas Boas

(Largo Condessa do Juncal – Casa do Juncal)

André- Sendo a Casa dos Amarais uma casa de finais do séc. XVIII, princípios do
séc. XIX, quais as condições e especificidades encontradas no edifício pré-
existente?

Arq. Filipe Vilas Boas- Este edifício estava… Como todos os edifícios que foram,
abandonados, no princípio do séc. XX, as famílias saíram daqui e foram para a
parte nova da cidade. De uma maneira geral os edifícios ficaram repartidos,
ficaram aqui, normalmente, os empregados, alguns familiares mais velhos…
Essas casas tradicionalmente ficam mais divididas, adaptam as casas, dividem-
nas… Aliás ainda podemos ver hoje, por exemplo, o barbeiro está a ocupar uma
parte (R/c, lado direito da porta principal), esta senhora aqui da perfumaria, outra
(R/c, lado direito da porta principal).

Os proprietários desta casa… Já lhes pertence à mais que uma geração… E a


proprietária então, decidiu intervir na parte que digamos que possuía. A obra
estava muito abandonada… E depois como todas estas obras aqui do centro
histórico têm muita história, não é!... Por isso o edifício que vemos hoje como um
todo, quando uma pessoa começa com cuidado a ver as coisas, percebe que ele
próprio já é a junção de mais que um edifício. Que já tinha outro edifício mais
antigo, ou seja as coisas vão-se misturando e no fim parece um edifício só mas
não é. Inclusivamente nós descobrimos no interior uma torre medieval, muito
bonita, com um aparelho de granito próprio daquela época e tem inclusivamente
uma janela gótica, muito bonita, que está tapada porque entretanto construíram
um prédio ao lado.

Este edifício, vê-se que é um edifício que tem muita história, e por isso a
intervenção neste edifício… Em todos os edifícios deve-se ter muito cuidado, não
é!?... Mas neste edifício em especial teve muito em consideração a pré-existência.

185
Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

Tanto que, o que se pode ver são pequenas obras de adaptação àquilo que era o
edifício na sua integridade, ou seja a escada não foi mexida, estas relações de
entrada com o logradouro foram mantidas, por isso é sempre importante nos
edifícios manter aquilo que é a sua orgânica própria que é para não deixarem de
ser querentes.

Por exemplo, eu sou coautor do edifício da extensão do tribunal da relação e só a


titulo de exemplo, o programa do tribunal da relação foi feito em Lisboa, pelo
Ministério da Justiça, e então eles distribuíram o programa no edifico num estudo
prévio de uma forma, como que alguém pega num pavilhão e diz assim: ali são os
escritórios, ali as casas de banho, aqui são os gabinetes… Ou seja aquilo
obrigava a cumprir a tipologia que eles queriam implantar, obrigava a partir o
edifício todo… Eu já nessa altura consegui pegar na leitura, e é isso que eu acho
que se deve fazer nestes edifícios, é pegar na leitura do programa e tentar
encaixa-lo no programa do edifício. Se nós hoje formos ao tribunal da relação,
que é onde se pode ver esses casos, esse caso mais em concreto, nós por
exemplo podemos ver que a sala do presidente… depois há uma Hierarquia, em
tudo há uma hierarquia. Neste caso (Casa do Juncal) o que haverá é a hierarquia
dos quartos da frente, dos quartos de trás… Os quartos maiores, os mais
pequenos…

Mas no Tribunal por exemplo havia a hierarquia do gabinete do presidente do


Tribunal da Relação, o Vice-presidente e os outros juízes conselheiros do tribunal,
mas também há o presidente do Ministério Público, não é?... Então como é que
nós fizemos isso, a sala de visitas ficou para o presidente do Tribunal da Relação,
mantivemos a sala de visitas adaptada a ele, mas depois era preciso uma…
enfim, os outros… os quartos que eram dos empregados e tal, ficaram para os
outros juízes conselheiros, são quartos todos iguais, foi só pintar… Por exemplo,
eles precisavam de uma sala para reunirem os juízes, fizemos na sala de jantar,
que era uma sala de jantar enorme e eles precisavam dessa sala para dar, por
exemplo, para terem a sala das sessões, ou dos julgamentos, não é!?... Então
nós tínhamos, exatamente ao lado da sala de jantar, a casa tinha a sala das
festas, então essas portas comunicam diretamente com aquilo e então aí fizemos
um mobiliário que é aquela teia dos juízes, e a bancada… Ao fim ao cabo na sala
das festas… Eu digo isto assim desta forma, porque é muito interessante, a

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

cozinha passou a ser a cafetaria, de ponto de encontro… Ou seja, nós


conseguimos com esta hierarquia que já existia na casa, funcionalmente como
uma casa de habitação, transforma-la para hierarquia de um Tribunal da Relação.

Portanto, ou seja, nós devemos respeitar ao máximo a tipologia original, sendo


que obviamente tem que se fazer alguns acertos, e foi isso que foi feito aqui no
edifício.

André- Na questão do programa, o que foi encomendado, e em que é que isso se


repercutiu?

Arq. Filipe Vilas Boas- Entre a encomenda e o resultado final há um abismo!


Inicialmente havia a ideia da proprietária recuperar o prédio, e não sabia bem
porquê… Havia ali um impulso emocional, por um lado por a casa ter sido de
familiares, por outro lado porque gostava de móveis antigos que aqui estavam,
por outro lado queria deixar de dar aulas, queria mudar de vida… Queria também
fazer qualquer coisa à semelhança do que tem sido feito no centro histórico…
recuperar os edifícios. E por isso a primeira parte do projeto foi avançar para a
recuperação mais ou menos num programa não muito definido… Por isso à
medida que fomos conhecendo melhor o edifício e fomos vendo o valor do
investimento que previa fazer devido ao mau estado, a algumas coisas que não
davam para recuperar, começamos a ver por um lado as dificuldades relativas ao
investimento, ou seja, o investimento era maior que aquilo que se pensava fazer,
e por outro lado a oportunidade. Ou seja começou-se a ver que o edifício tinha
alguns aspetos importantes e singulares e também a localização que lhe davam a
oportunidade de ser um espaço de alojamento, que podia constituir uma
viabilidade económica para o investimento que ia ser feito. E por isso, por essa
via, isto é um processo que demorou mais ou menos dois anos e meio, por isso
ao fim do primeiro ano o que nós estávamos a fazer era uma alteração ao projeto
inicial para um projeto que tinha a ver com o alojamento local com alguma
qualidade e enquadrado em programas de apoio no turismo para este tipo de
projetos. E por isso houve uma mudança de programa que depois à medida que a
obra ia ficando bem, ia puxando mais investimento, porque também se justificava.
E daí que depois na parte final de decoração a proprietária, também com base
nos apoios que teve, e nas possibilidades que tinha, conseguiu terminar o

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

processo em beleza, ou seja com um jardim bonito, com mobiliário bom, com uma
boa decoração, com charme e isso foi tudo importante! Nem sempre se consegue
isso!...

André- Houve alterações formais na estrutura encontrada?

Arq. Filipe Vilas Boas- O processo começou pelo seu exterior, o edifício estava
bastante mal e a primeira intervenção feita foi a nível da cobertura, no telhado e
das fachadas… Até porque ganhamos o tempo nessa ação interior, que foi mais
pensada, mais refletida, que é importante, foi amadurecendo… é importante que
os projetos demorem algum tempo, as obras… Já que os projetos se fazem tão
rápido que não deviam, ao menos demora-se muito tempo é na obra. E assim
compensa-se não é?... O tempo que não se perde no projeto, perde-se depois na
obra. A estrutura foi andando e aqui foi criado o nosso abrigo para as reuniões,
que era dentro da obra…

Eu sou muito defensor de recuperar tudo, tudo o que é possível recuperar, as


estruturas, que normalmente são boas, a própria telha normalmente é
recuperável, porque a telha usada aqui no centro histórico é a telha de canudo, e
é uma coisa muito engraçada, que é: se nós tivermos uma telha dessas 50 anos,
vamos pensar nas duas, a capa e o canal, são exatamente iguais, mas se ao fim
de 50 anos lhe invertermos o papel, as duas estão novas. Poupa-se algum
dinheiro, que estas telhas são caras, e quando não chegam para tudo, ou se
consegue de outra obra que um empreiteiro aqui ou acolá tem ou então opta-se,
por exemplo se for num telhado, este é de duas águas, mas se for num de quatro
águas, pelo menos duas águas conseguem-se fazer com as telhas antigas e com
as telhas novas fazem as outras duas águas, que normalmente não estão na
mesma perspetiva do observador e por isso não chateia muito… Por isso a
estrutura houve obviamente, ao nível dos pavimentos e tetos, aí houve mais
alterações e houve reforços. Antigamente não usavam o ferro nestas construções,
hoje do ponto de vista técnico, é aconselhável usar o ferro numa solução mista
com a madeira, não só ferro, mas ferro com madeira, pela razão que o ferro
permite que as estruturas recuperem a flecha. Ao nível da cobertura há uma
estabilidade, porque ninguém anda em cima da cobertura, normalmente não é
preciso usar esse tipo de estruturas.

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

André- Nos duplexes voltados para a praça o teto foi removido ou nesse espaço
o pé direito era aberto até ao telhado?

Arq. Filipe Vilas Boas- Havia parte de sótão já nesses tetos, havia ali um sótão.
Se nós imaginarmos um corte, nós temos um quarto com um pé direito muito alto
e que vamos perceber isso... As janelas dos quartos são muito altas, e por isso
vê-se que o teto seria por ali, mas depois mais recuado eles faziam antigamente
um recorte, que depois podia ser disfarçado num teto em gamela. Disfarçar uma
parte do sótão que estava escondido. Nós o que fizemos, ao fim ao cabo, foi
eliminar essa parede que existe que separa esse sótão da parte baixa,
transformando aquilo num espaço único.

André- Nesta intervenção o que foi introduzido de novo?

Arq. Filipe Vilas Boas- Ou seja, como é que se justifica que seja preciso um
arquiteto para uma intervenção destas…

Às vezes o papel de um arquiteto numa obra, não é necessariamente introduzir


algo de novo, é não deixar que se introduza nada de novo! Que é exatamente o
contrário. Porque o introduzir algo de novo é aquilo que qualquer pessoa quer...
Qualquer pessoa quer deixar a sua presença na obra. Quando existe uma coisa
que nós pretendemos que ela seja… Tenha valor por si só, o arquiteto tem é que
ser aqui o máximo de neutral, não é um neutral distraído, é um neutral atento, não
é um neutral por desconhecimento de causa, é por conhecimento de causa: -
Não! Vamos manter isto porque assim é que está bem! Assim é que deve ser
feito! É perceber todas as tecnologias, perceber da estrutura da obra, perceber os
efeitos térmicos que a manutenção de estruturas permitem ter estes edifícios…
Isto é a mesma coisa que uma velhinha ir a um médico de cirurgia plástica e o
médico pode aconselhar um creme e tirar aquela coisinha ali, mas não a esticar
toda, senão ela deixa de ser uma velhinha e passa a ser uma coisa que ninguém
sabe o que é…Ao fim ao cabo é um bocado isso… Ele deixa a marca dele, como
cirurgião plástico, mas a própria pessoa, o objeto neste caso, fazendo a
comparação aqui com a arquitetura passa a ser uma coisa esquisita…

O que nós queremos quando entramos aqui, é pensar… Não digo para o
arquiteto, para aquela crítica de arquitetura, estou-me pouco ralando, para a

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

questão mais pedagógica da arquitetura eu importo-me, e gosto de falar! Mas o


que importa aqui neste trabalho, neste tipo de trabalho, é quem vem aqui achar
que isto sempre foi, notar que houve aqui e acolá… Que houve uma ampliação
nova, que podemos ver aqui este caixote novo que foi feito todo em madeira e
pintado com uma resina de cor, isso é tudo uma construção em madeira, uma
coisa muito simples. É importante notar subtilmente que o responsável da obra
sabe para além daquilo que foi feito, porque o que foi feito não pretende chamar a
atenção.

André- O que nos pode dizer sobre o desenho de exceção das escadas
existentes nos quartos voltados para a praça?

Arq. Filipe Vilas Boas- As escadas são uma solução, que não é nada original,
aliás é muito difícil arranjar soluções de originalidade, o importante é usar
soluções ajustadas. Quando a gente utiliza uma solução que já foi utilizada numa
situação que se adequa, ela por si só… A originalidade está aí! É ter sido bem
feito! Aqui a questão era falta de espaço, e se repararmos elas estão mesmo ali,
quanto maior fossem mais teríamos que recuar o mezanino, por isso menos
espaço teríamos em cima. A ideia, fui buscar a umas escadas que estão na torre
de menagem do castelo de Guimarães que dá acesso à cobertura.

André- De que forma este equipamento pode vir a potenciar uma nova estratégia
de ocupação dos edifícios deste Largo?

Arq. Filipe Vilas Boas- O arquiteto Távora defendia a intervenção de reabilitação


no centro histórico… primeiro recuperar o espaço público, dando o primeiro
passo, e assim potenciar a recuperação privada. E realmente quando nós damos
o exemplo, as coisas vem atrás… Portanto a camara arranjou isto, e dá algum
apoio, então vamos lá arranjar isto!… Realmente aqui, coube ao município dar a
mão, e na verdade é a sua obrigação, de dar o exemplo… Esta intervenção é
resultado do trabalho que foi feito na praça, porque a praça não tem só este
edifício já recuperado, tem uma série deles…

Há um edifício muito interessante, embora numa conjuntura e num contexto


diferente, que é um edifício do arquiteto Gradim, que é aquele que tem a muralha
à vista, que é uma intervenção muito interessante para a época. O arquiteto está

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

muito preocupado em explorar a questão quase arqueológica e histórica do sítio e


depois tenta chamar à atenção disso com uma fachada muito modernista, muito
ali dos anos 80, uma coisa um bocado, que agora já não se usa, não é!?... É um
ato… Quase um grito, não é!?...

Há outras intervenções, mesmo aqui ao lado (antiga hospedaria de Sampayo),


que também fui eu que fiz, de um senhor de idade que quis voltar para o centro
histórico, para a casa onde nasceu, recuperando as memórias, mas dando um
toque mais contemporâneo…

Por isso a praça tem uma série de intervenções… Não serão muitas de facto!...
Mas, que lhe dão algum carater singular…

Este alojamento vem trazer de novo, não só à praça, mas à cidade em geral. Aqui
ao centro histórico… Porque nós assistimos, a operações de alojamento local
normalmente associadas a darem uma pintura, por uns colchões e tentar ganhar
dinheiro com isto… Enquanto a casa aguentar e não tremer, ou seja, o
investimento é inferior… Aquilo que eu ponho, é inferior aquilo que eu espero
tirar… Mas isso é um pensamento muito português, não é!?... Põe sempre menos
que aquilo que quer tirar… Aqui a atitude é diferente, eu pus mais do que se
calhar eu vou tirar no início… Ou seja, e quando eu ponho mais, eu estou a por
mais, é para a qualidade geral. Ou seja, este exemplo sendo bom vai fazer com
que outras pessoas venham a Guimarães, nem que fiquem noutro sitio, mas,
quando puder fico aqui… Ou seja nesse sentido, como atitude eu acho que isto é
singular, eu ponho mais do que aquilo que quero tirar…

André- O que acha da última intervenção no Largo Condessa do Juncal? Intervir


ou não intervir?

Arq. Filipe Vilas Boas- Eu é que acompanhei esta obra para o Távora, em
Guimarães… E por acaso tem piada porque… O Távora é um arquiteto excelente!
Se nós repararmos nesta praça, há uma coisa que tem piada, que é, nós dizemos
assim… Foi o que ele me disse a mim, porque eu uma vez chamei-o cá para uma
reunião, porque era preciso resolver uma séria de coisas que não estão nesta
planta. Há aqui uma série de coisas, que se a gente andar na rua, não estão
resolvidas… E eu chamei-o cá em particular, e disse-lhe: “há aqui uns edifícios

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

que estão numa cota mais alta”, e ele disse-me assim: “O pá, isto, isto foi o burro
do Italiano que eu tenho lá que pensava que isto era tudo plano… ”, e eu disse: “-
Pois, eu tentei interpretar isto, o melhor possível, não sei se aqui, como isto era
tudo com tracinhos, se os tracinhos eram as próprias escadas, e por isso estava
direito… Tinha as escadas e depois o granito, está tudo bem no desenho!… Eu
tentei chama-lo à razão como quem diz: não é isso que está no desenho, mas até
podia ser, não é!?... Ele disse: “- Não! Foi o burro do Italiano que pensava que isto
era tudo plano!...” E realmente, isto não é tudo plano, há uma série de situações
que depois não resultou lá muito bem…

André- O que nos pode dizer, sobre esta orgânica de entrada na praça e a
possibilidade de voltarem para trás? E a questão do estacionamento triangular?
No fundo, toda a geometrização do miolo…

Arq. Filipe Vilas Boas- Esta praça, é uma praça que não existe, isto é um
quarteirão, que era construído no centro da cidade… Temos que imaginar um
centro histórico, altamente povoado, não há muito espaço para praças… Havia se
calhar a praça da Oliveira, seria a única… Na cabeça do Távora está uma zona
construída ao centro, outra zona construída aqui (estacionamento triangular),
havia aqui umas casas e há aqui uma coisa que ele não perdoa, que é de marcar
sempre a Igreja. Havia aqui um cemitério (antiga hospedaria de Sampayo), por
isso havia aqui quase uma microcidade, não é!?... E por isso o Távora dá enfase
a isso tudo, ele não perdoa a marcação das entradas, com o seu significado!
Depois ele faz um acerto de pormenor aqui à escultura Gravador Molarinho,
tentou-a centrar neste eixo (eixo entre o quiosque e localização atual da
escultura), não sei… Este eixo onde tudo acontece… Não sei exatamente o que
ele quis…

Ele deixou ficar esta guia, que era a guia da Rua de Alcobaça…

Este desenho… É assim, o Távora… É um bocado… Eu gostava muito do


Távora, é uma pessoa, pronto, que percebe muito disto, nasceu… É uma
pessoa… Não se deve dizer isto… É importante a vivência das pessoas… Vou
dizer desta maneira. E ele tinha uma vivência muito rica com a história, ele próprio
é história. E por isso ele sabe ler estas coisas… Ele sabe ler os jardins, sabe ler
as casas, as janelas as portadas, as camas, sabe ler isso tudo!... E como ele

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Largo Condessa do Juncal - Um caso de estudo no Centro Histórico Guimarães

sabia ler, sabe ler bem a cidade e sabe dar a necessária importância a cada
detalhe. Isso eu aprendi com ele, eu fiz depois a Rua Nova e fiz também esta
(transversal à Rua Nova). E aprendi isto com ele, dar detalhe a pequenas coisas!
Para o bruto… Ao bruto não lhe interessa… Nunca repara em nada, nem numa
parede em frente… Para a pessoa que aprecia, aprecia o detalhe, não aprecia
uma coisa muito, não é!?...

Esta praça tem que ser vista no detalhe e não no aspeto geral. É nos pequenos
pormenores, na questão do ponto onde ele marcou a zona do altar ou da Igreja,
ele depois é capaz de alterar alguns dados e deixar aqui alguns alinhamentos que
se calhar não serão bem assim… Este desenho (cruzamento de passadeiras
entre a Academia de musica e a praça), que quase… Que parece uma daquelas
fontes, parece quase uma fonte, a configuração negativa, que é muito importante,
ou seja, ver a configuração negativa da praça, não vermos só isto, mas vermos o
que sobra do próprio desenho.

E por isso eu acho que devemos ver os lotes, a forma como é desenhado o
lajeado e depois como é contrariado neste sítio (traseiras do Café Milenário). A
marcação de uma antiga rua por trás das muralhas, aqui tem aquelas escadinhas
(acesso às traseiras do Café Milenário), ele sabia que aqui havia a rua e dá-lhe o
pormenor neste lajeado.

Apesar de ter tido alguém a quem deitar as culpas que era o Italiano, que se
calhar não existia… Mas é tudo muito bem pensado… Não devemos olhar muito
ao longe, devemos olhar mais ao perto.

André - Muito obrigado pela entrevista Arquiteto Vilas Boas.

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