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Profª Marcileine Di Paula Baptiste

MATERIAL COMPLEMENTAR II:


Definindo arma de fogo, acessório, munição, calibre, uso
permitido, uso restrito, etc
O Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003) precisa ser
complementado por alguns decretos.

O Estatuto do Desarmamento  é uma norma penal em branco


heterogênea (em sentido estrito), isto é, precisa ser complementada
por lei de diferente ó rgã o do que a criou. É o que chamamos de leis
cegas (almas errantes a procura de um corpo) ou normas
incompletas. Na leitura das regras, nã o sabemos o que é uma arma de
fogo, o que é uso permitido, o que é uso restrito ou até o que é um
calibre, uma muniçã o ou um acessó rio, razã o pela qual precisamos
alicerçar nosso estudo ao Decreto 3.665/2000, ao
Decreto 5.123/2004 e ao Decreto 9.493/2018, que tratam da
fiscalizaçã o de produtos controlados, dentre outros, e definem
diversos conceitos referentes a armas de fogo.
No presente artigo, iremos tratar, com relativa profundidade, vá rios
conceitos trazidos nas leis supracitadas, que sã o necessá rios à
compreensã o dos crimes do Estatuto do Desarmamento .
I) O que é arma de fogo?

Embora possa parecer enfadonha a definiçã o de uma arma de fogo,


esta é fundamental para que entendamos do que trata, tecnicamente,
o Estatuto do Desarmamento. É imperioso, inclusive para sustentaçã o
de teses defensivas para crimes desta lei, que tenhamos noçã o do que
é uma arma de fogo e o que a diferencia de uma arma de fogo obsoleta
ou de uma arma branca, que sã o conceitos também trazidos pelo
Decreto 3.665/2000. Além disso, é flagrante nossa carência em
entender os tipos e características desses objetos, razã o pela qual o
texto também introduzirá tal nomenclatura.
Pelo conceito mais geral possível, o decreto mencionado tenciona.

Art. 3º.
XIII - arma de fogo: arma que arremessa projéteis empregando a força
expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente
confinado em uma câmara que, normalmente, está solidária a um cano
que tem a função de propiciar continuidade à combustão do propelente,
além de direção e estabilidade ao projétil;

Por outro lado, este decreto também distingue uma arma de fogo de
uma arma de fogo obsoleta, que, nas palavras do pró prio Art. 3º, XXI,
"presta-se mais a ser considerada relíquia ou a constituir peça de
coleçã o", ou seja, se distancia do objetivo da arma, trazido no inciso IX
do mesmo Art. 3º, que é "causar dano, permanente ou nã o, a seres
vivos e coisas" e assume um cará ter meramente demonstrativo. Além
 do avocado, a arma de fogo obsoleta se diferencia da arma de fogo
pois "nã o se presta mais ao uso normal, devido a sua muniçã o e
elementos de muniçã o nã o serem mais fabricados, ou por ser ela
pró pria de fabricaçã o muito antiga ou de modelo muito antigo e fora
de uso", nos termos no mesmo inciso XXI do Art. 3º do
Decreto 3.665/2000.
O conceito de arma branca, por outro lado, está associado a "artefato
cortante ou perfurante, normalmente constituído por peça em lâ mina
ou oblonga", conforme o inciso XI do Art. 3º, entã o nã o depende da
força expansiva de um gá s para lançamento de projétil por meio de
um cano. Sã o facilmente reconhecidas como facas, ou espadas.

Por fim, é necessá rio destacar que a arma de pressã o nã o se confunde


com a arma de fogo, conforme definiçã o do Decreto 9.493/2018:
Arma de pressão: arma cujo princípio de funcionamento é o emprego
de gases comprimidos para impulsão de projétil, os quais podem estar
previamente armazenados em uma câmara ou ser produzidos por ação
de um mecanismo, tal como um êmbolo solidário a uma mola.
Geralmente identificá veis pelo cano laranja na ponta, essas armas nã o
representam a mesma periculosidade de uma arma de fogo (talvez
por isso nã o tenham sido ainda proibidas pelo legislador) e seus
projéteis sã o impulsionados por outros meios que nã o os mesmos de
uma arma de fogo, como uma mola ou gases comprimidos. Quando se
fala de airsoft, paintball, "nerfs", dentre outros, está se falando de
armas de pressã o, que pouco se relacionam com arma de fogo,
embora a apresentaçã o estética de algumas, tal como o manuseio,
sejam semelhantes a de uma arma real.

I.A) Armas de fogo de alma lisa e armas de fogo de alma raiada


Outra informaçã o que será ú til à ú ltima aná lise do artigo, referente ao
uso permitido ou restrito, diz respeito ao raiamento da arma de fogo.
A foto do agente James Bond, vista de dentro de um cano de uma
arma, em um primeiro momento pode até parecer meio clichê para o
assunto, mas apresenta uma informaçã o muito importante para
diferenciar os tipos de canos de uma arma de fogo.

Antigamente, as armas tinham cano liso (é o que se chama de alma


lisa), ou seja, nã o tinham "sulcos helicoidais", que sã o essas fissuras
que parecem, em termos mais leigos, marcas de parafuso, as quais
servem para fazer o projétil girar ao sair do cano, dando maior
alcance e precisã o.

Pela definiçã o do Decreto 9.493/2018, Anexo II:


Arma de fogo de alma lisa: é aquela isenta de raiamentos, com
superfície absolutamente polida, como, por exemplo, nas espingardas.
As armas de alma lisa têm um sistema redutor, acoplado ao extremo do
cano, que tem como finalidade controlar a dispersão dos bagos de
chumbo.
Arma de fogo de alma raiada: quando o interior do cano tem sulcos
helicoidais dispostos no eixo longitudinal, destinados a forçar o projétil
a um movimento de rotação.

A "alma raiada", vem do processo de raiamento, que se perfaz da


introduçã o de raias na parte interna do cano. Por surpresa, o
Decreto 3.665/2000 define o que sã o raias:
Art. 3º.
LXXI - raias: sulcos feitos na parte interna (alma) dos canos ou tubos
das armas de fogo, geralmente de forma helicoidal, que têm a
finalidade de propiciar o movimento de rotação dos projéteis, ou
granadas, que lhes garante estabilidade na trajetória;

As armas com cano de alma lisa hoje nã o necessariamente caíram em


completo desuso, embora em muito casos tenham sido ultrapassadas
pela necessidade das modernas guerras. As espingadas (famosas pelo
espalhamento do tiro), ainda utilizam cano liso, acompanhado de um
estrangulador na sua ponta, para diminuir a dispersã o exagerada das
balas.

I.B) Armas automáticas, semi-automáticas e de repetição


Acima observamos um soldado americano atirando com uma arma
automá tica, denominada M249, que, por sua natureza,
automaticamente dispara vá rios projéteis quando o agente segura o
gatilho. As semi-automá ticas, de forma diversa, dependem que, a cada
tiro, o atirador puxe o gatilho uma vez. Por fim, as armas de repetiçã o,
que antigamente eram as portá teis mais comuns, dependem da
operaçã o de um mecanismo, além do gatilho, para dar o tiro
subsequente, consoante a conceituaçã o do Decreto 3.665/2000.

Art. 3º 
X - arma automática: arma em que o carregamento, o disparo e todas
as operações de funcionamento ocorrem continuamente enquanto o
gatilho estiver sendo acionado (é aquela que dá rajadas);
XVI - arma de repetição: arma em que o atirador, após a realização de
cada disparo, decorrente da sua ação sobre o gatilho, necessita
empregar sua força física sobre um componente do mecanismo desta
para concretizar as operações prévias e necessárias ao disparo
seguinte, tornando-a pronta para realizá-lo;
XXIII - arma semi-automática: arma que realiza, automaticamente,
todas as operações de funcionamento com exceção do disparo, o qual,
para ocorrer, requer, a cada disparo, um novo acionamento do gatilho;
I.C) Tipos de arma de fogo. No caso, nã o serã o abordados todos os
tipos de arma de fogo, mas aqueles constantes nas leis em estudo, que
podem ser guiados pela imagem abaixo. Pugna-se para que o leitor
nã o se atenha à especificidade das armas, mas aos seus aspectos
gerais. O guia abaixo, neste momento do texto, é bem mais ilustrativo
do que técnico, apenas para que o leitor leigo no assunto consiga
entender as diferenciaçõ es.

Na ordem da imagem, de cima para baixo, para que fique o mais


didá tico possível:

a) Um fuzil (primeira arma da foto) é uma "arma de fogo portá til, de


cano longo e cuja alma do cano é raiada" (Art. 3º, LII, do
Decreto 3665/2003), e, no caso, a arma também é uma metralhadora,
que é uma "arma de fogo portá til, que realiza tiro automá tico"
(Art. 3º, LXI, do Decreto 3665/2003);
b) Uma espingarga (segunda arma da foto) é uma "arma de fogo
portá til, de cano longo com alma lisa, isto é, nã o-raiada", mas pode ter
o cano cortado também (Art. 3º, XLIX, do Decreto 3665/2003);
c) Uma carabina (representada pela terceira arma da foto) é uma
"arma de fogo portá til semelhante a um fuzil, de dimensõ es reduzidas,
de cano longo - embora relativamente menor que o do fuzil - com
alma raiada" (Art. 3º, XXXVII, do Decreto 3665/2003) ou,
dependendo, pode ser um mosquetã o, que é um "fuzil pequeno, de
emprego militar, maior que uma carabina, de repetiçã o por açã o de
ferrolho montado no mecanismo da culatra, acionado pelo atirador
por meio da sua alavanca de manejo" (Art. 3º, LXIII, do
Decreto 3665/2003). Para quem gosta de filmes, basta se lembrar das
clá ssicas M1 Garand, da Segunda Guerra Mundial;
d) Um revó lver (baixo-esquerda) é uma "arma de fogo de porte, de
repetiçã o, dotada de um cilindro girató rio posicionado atrá s do cano,
que serve de carregador, o qual contém perfuraçõ es paralelas e
equidistantes do seu eixo e que recebem a muniçã o, servindo de
câ mara" (Art. 3º, LXXIV, do Decreto 3665/2003);
e) Uma pistola (baixo-direita) é uma "arma de fogo de porte,
geralmente semi-automá tica, cuja ú nica câ mara faz parte do corpo do
cano e cujo carregador, quando em posiçã o fixa, manté m os cartuchos
em fila e os apresenta sequencialmente para o carregamento inicial e
apó s cada disparo; há pistolas de repetiçã o que nã o dispõ em de
carregador e cujo carregamento é feito manualmente, tiro a tiro, pelo
atirador" , podendo também ser uma pistola-metralhadora (que é um
pouco diferente da imagem acima), que é "metralhadora de mã o, de
dimensõ es reduzidas, que pode ser utilizada com apenas uma das
mã os, tal como uma pistola" (Art. 3º, LXVII e LXVIII, do
Decreto 3665/2003);
Por fim, nã o com intuito de levar o assunto à exaustã o, pois isso
também nã o seria possível, cabe a diferenciaçã o de uma arma portá til
e uma arma nã o-portá til. Das armas trazidas acima, todas sã o
portá teis, já na imagem abaixo vemos uma arma nã o-portá til e
também classificada como arma pesada, que é "uma arma empregada
em operaçõ es militares em proveito da açã o de um grupo de homens,
devido ao seu poderoso efeito destrutivo sobre o alvo e geralmente ao
uso de poderosos meios de lançamento ou de cargas de projeçã o"
(Art. 3º, XIX, do Decreto 3665/2003), mas cuidado: nem toda arma
nã o-portá til se encaixa no conceito de arma pesada.
Art. 3º.
XX - arma não-portátil: arma que, devido às suas dimensões ou ao seu
peso, não pode ser transportada por um único homem;
XXII - arma portátil: arma cujo peso e cujas dimensões permitem que
seja transportada por um único homem, mas não conduzida em um
coldre, exigindo, em situações normais, ambas as mãos para a
realização eficiente do disparo;

II) O que é munição?

Muniçã o, ou ammunition (em inglês), é, ao contrá rio do que se pode


imaginar, mais que somente o projétil da arma de fogo. O projétil é
somente a parte que é arremessada no tiro, enquanto a muniçã o
abarca o cartucho inteiro, que inclui o projétil, o estojo (que é a
cá psula que envolve tudo), o propelente (que é a fonte de energia
química capaz de impulsionar o projétil para frente, com velocidade)
e a espoleta (que é um recipiente que contém a mistura detonante e
uma bigorna). Talvez fique mais claro pela imagem acima.
A definiçã o legal de muniçã o encontra-se no Art. 3º, LXIV, do
Decreto 3.665/2000.
Art. 3º.
LXIV - munição: artefato completo, pronto para carregamento e
disparo de uma arma, cujo efeito desejado pode ser: destruição,
iluminação ou ocultamento do alvo; efeito moral sobre pessoal;
exercício; manejo; outros efeitos especiais;

Como se pode observar, o dispositivo faz questã o de indicar que trata-


se do artefato completo, nã o somente do projétil, bem como que a
finalidade da muniçã o pode ser diversa. Existe muniçã o incendiá ria
(como podemos ver na imagem abaixo), só de barulho, de sal,
explosiva, dentre outras, portanto a teleologia da palavra nã o é
critério para sua definiçã o, já que nem sempre um projétil irá se
prestar a pre

III) O que é um calibre?


     
O Calibre de uma muniçã o é a medida do seu diâ metro, o que
corresponde também ao diâ metro interno do cano da arma.
Normalmente ele é medido em milímetros, mas pode ser em
polegadas ou até em centímetros. As espingardas, de maneira diversa,
tem seu calibre associado à massa, por isso calibre 12, para
espingardas, tem maior diâ metro que o calibre .22, de um revó lver.

Interessante lembrar que o calibre de uma arma pode indicar seu


poder de fogo, mas essas medidas nã o sã o necessariamente
proporcionais. Um revó lver calibre .22 e uma carabina que possui o
mesmo calibre, embora tenham o canos com o mesmo diâ metro, têm
uma diferença significativa em termos de velocidade, por exemplo, o
que aumenta sua expectativa de dano. 

A seguir, a definiçã o legal para calibre, contida no


Decreto 3.665/2000.
Art. 3º.
XXXV - calibre: medida do diâmetro interno do cano de uma arma,
medido entre os fundos do raiamento; medida do diâmetro externo de
um projétil sem cinta; dimensão usada para definir ou caracterizar um
tipo de munição ou de arma;

IV) O que é um acessório de arma de fogo?


Infelizmente, o Decreto 3.665/2000, que está em vigor hoje, nã o
esclarece o que é um acessó rio de arma de fogo, mas esclarece o que é
um acessó rio e o que é um acessó rio de arma, resta a dú vida se
podemos aplicar o conceito mais amplo a uma situaçã o mais
específica, muitas vezes para prejudicar o réu  (fica a dica). Como o
objeto do presente artigo nã o é a sustentaçã o de teses defensivas, mas
a simples colocaçã o dos conceitos apreendidos do estudo do
Decreto 3.665/2000, do Decreto 5.123/2004, do Decreto 9.493/2018
e do Estatuto do Desarmamento , passa-se à buscar do que trata a
expressã o "acessó rio", contida em vá rias partes da Lei 10.826/2003,
como nos Arts. 12, 14, 16 e seguintes.
Sendo assim, pelo Art. 3º, I e II, do Decreto 3.665/2000, considera-se
acessó rio, de modo geral, o "engenho primá rio ou secundá rio que
suplementa um artigo principal para possibilitar ou melhorar o seu
emprego". Já o acessó rio de arma é aquele "artefato que, acoplado a
uma arma, possibilita a melhoria do desempenho do atirador, a
modificaçã o de um efeito secundá rio do tiro ou a modificaçã o do
aspecto visual da arma".
Saindo o Decreto 3.665/2000, pode-se utilizar o glossá rio do recente
Decreto 9.493/2018, mas que dispõ e, em seu Anexo II, um rol de
conceitos no qual o acessó rio de arma de fogo é definido como
"artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do
desempenho do atirador, a modificaçã o de um efeito secundá rio do
tiro ou a modificaçã o do aspecto visual da arma". Depreende-se que o
texto trazido é idêntico à ampla definiçã o de "acessó rio de arma",
contida na lei mais antiga.
V) Uso permitido, uso proibido e uso restrito


Assim como as definiçõ es de arma de fogo, muniçõ es ou calibre, o
conceito de uso restrito e uso permitido nã o sofreu grandes
alteraçõ es no andar das leis. Em que pese nã o haver mudança nas
concepçõ es, os delimitadores fá ticos para essas se alteram muito, a
todo tempo, por isso, nesta publicaçã o, se procurará trazer o mais
recente possível.

Conforme o Decreto 3.665/2000, o uso permitido, proibido e restrito


se definem como:
Art. 3º.
LXXIX - uso permitido: a designação "de uso permitido" é dada aos
produtos controlados pelo Exército, cuja utilização é permitida a
pessoas físicas em geral, bem como a pessoas jurídicas, de acordo com a
legislação normativa do Exército;
LXXX - uso proibido: a antiga designação "de uso proibido" é dada aos
produtos controlados pelo Exército designados como "de uso restrito";
LXXXI - uso restrito: a designação "de uso restrito" é dada aos produtos
controlados pelo Exército que só podem ser utilizados pelas Forças
Armadas ou, autorizadas pelo Exército, algumas Instituições de
Segurança, pessoas jurídicas habilitadas e pessoas físicas habilitadas;

Também com força no Decreto 5.123/2004, que surgiu entre o mais


antigo e o mais recente:
Art. 10. Arma de fogo de uso permitido é aquela cuja utilização é
autorizada a pessoas físicas, bem como a pessoas jurídicas, de acordo
com as normas do Comando do Exército e nas condições previstas
na  Lei no  10.826, de 2003.
Art.  11. Arma de fogo de uso restrito é aquela de uso exclusivo das
Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas
físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando
do Exército, de acordo com legislação específica.

De pronto se observa que o termo "uso proibido" é ultrapassado, hoje


se adotando a nomenclatura "uso restrito", tanto é que a lei nova
sequer menciona essa modalidade em seu glossá rio.

No Decreto 9.493/2018, se fala muito em PCE, que é o Produto


Controlado pelo Comando do Exército, que se subdivide, conforme o
Anexo II da lei, em:
PCE de uso permitido: é o produto controlado cujo acesso e utilização
podem ser autorizados para as pessoas em geral, na forma estabelecida
pelo Comando do Exército.
PCE de uso restrito:  é o produto controlado que devido as suas
particularidades técnicas e/ou táticas deve ter seu acesso e utilização
restringidos na forma estabelecida pelo Comando do Exército.

Esclarecidas as diferenças, é necessá rio entender o que é, de fato,


permitido e o que nã o é, ainda que, em qualquer caso, o produto será
controlado pelo Comando do Exército.
Em um primeiro momento, depreende-se que a delimitaçã o nã o
especifica quais armas sã o de uso permitido, sendo esse critério feito
por exclusã o. Com teor crítico, cumpre ressaltar que a lei mais
recente, inexplicavelmente, faz diferenciaçã o de uso proibido e
restrito, incluindo armas de fogo, ainda que seja dito pela mais antigo
que essa diferença, a rigor, nã o existe. Assim sendo, abaixo está o
mais recente critério para classificaçã o de "Produto Controlado pelo
Comando do Exército" de uso restrito e proibido, em negrito os
critérios atinentes a armas, acessórios e munição, que sã o objetos
do nosso estudo.
Art. 16. Os PCE são classificados, quanto ao grau de restrição, da
seguinte forma:
I - de  uso proibido;
II - de  uso restrito; ou
III - de  uso permitido.
§ 1º São considerados produtos de  uso proibido:
I - os produtos químicos listados na Convenção Internacional sobre a
Proibição do Desenvolvimento, Produção, Estocagem e Uso de Armas
Químicas e sobre a Destruição das Armas Químicas Existentes no
Mundo, promulgada pelo Decreto nº  2.977, de 1º de março de 1999, e
na legislação correlata, quando utilizados para fins de
desenvolvimento, de produção, estocagem e uso em armas químicas;
II - as réplicas e os simulacros de armas de fogo que possam ser
confundidos com armas de fogo, na forma estabelecida na  Lei
nº  10.826, de 22 de dezembro de 2003, e que não sejam classificados
como armas de pressão; e
III - as  armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos
inofensivos.
§ 2º São considerados produtos de  uso restrito:
I - as  armas de fogo:
a) de  dotação das Forças Armadas de emprego finalístico, exceto
aquelas de alma lisa de porte ou portáteis;
b)  que não sejam iguais ou similares ao material bélico usado
pelas Forças Armadas e que possuam características particulares
direcionadas ao emprego militar ou policial;
c)  de alma raiada que, com a utilização de munição comum,
atinjam, na saída do cano, energia cinética superior  a:
1.  mil líbras-pé ou mil trezentos e cinquenta e cinco joules para
armas portáteis; ou
2.  trezentas líbras-pé ou quatrocentos e sete joules para armas de
porte;
d) que sejam  dos seguintes calibres:
1. .357 Magnum;
2. .40 Smith e Wesson;
3. .44 Magnum;
4. .45 Automatic Colt Pistol;
5. .243 Winchester;
6. .270 Winchester;
7. 7 mm Mauser;
8. .375 Winchester;
9. .30-06 e .30 Carbine (7,62 mm x 33 mm);
10. 5,7 mm x 28 mm e 7,62 mm x 39 mm;
11. 9 mm x 19 mm (9 mm Luger, Parabellum ou OTAN);
12. .308 Winchester (7,62 mm x 51 mm ou OTAN);
13 .223 Remington (5,56 mm x 45 mm ou OTAN); e
14. .50 BMG (12,7 mm x 99 mm ou OTAN);
e)  que têm funcionamento automático, de qualquer calibre; ou
f)  obuseiros, canhões e morteiros;
II - os  lançadores de rojões, foguetes, mísseis e bombas de
qualquer natureza;
III - os  acessórios de arma de fogo que tenham por objetivo:
a)  dificultar a localização da arma, como silenciadores de tiro,
quebra-chamas e outros;
b)  amortecer o estampido ou a chama do tiro; ou
c)  modificar as condições de emprego, tais como bocais lança-
granadas, conversores de arma de porte em arma portátil e
outros;
IV -  as munições:
a)  que sejam dos seguintes calibres:
1. 9 mm x 19 mm (9 mm Luger, Parabellum ou OTAN);
2. .308 Winchester (7,62 mm x 51 mm ou OTAN);
3. .223 Remington (5,56 mm x 45 mm ou OTAN);
4. .50 BMG (12,7 mm x 99 mm ou OTAN);
5. .357 Magnum;
6. .40 Smith & Wesson;
7. .44 Magnum;
8. .45 Automatic Colt Pistol;
9. .243 Winchester;
10. .270 Winchester;
11. 7 mm Mauser;
12. .375 Winchester;
13. .30-06 e .30 Carbine;
14. 7,62x39mm; e
15. 5,7 mm x 28 mm;
b) para  arma de alma raiada que, depois de disparadas, atinjam,
na saída do cano, energia cinética superior a:
1.  mil líbras-pé ou mil trezentos e cinquenta e cinco joules para
armas portáteis; ou
2.  trezentas líbras-pé ou quatrocentos e sete joules para armas de
porte;
c)  que sejam traçantes, perfurantes, incendiárias, fumígenas ou
de uso especial;
d) que  sejam granadas de obuseiro, canhão, morteiro, mão ou
bocal; ou
e) que  sejam rojões, foguetes, mísseis e bombas de qualquer
natureza;
V - os explosivos, os iniciadores e os acessórios;
VI - os veículos blindados de emprego militar ou policial e de transporte
de valores;
VII - as proteções balísticas e os veículos automotores blindados,
conforme estabelecido em norma editada pelo Comando do Exército;
VIII - os agentes lacrimogêneos e os seus  dispositivos de lançamento;
IX - os produtos menos-letais;
X - os fogos de artifício de uso profissional, conforme estabelecido em
norma editada pelo Comando do Exército;
XI - os equipamentos de visão noturna que apresentem particularidades
técnicas e táticas direcionadas ao emprego militar ou policial;
XII - os PCE que apresentem particularidades técnicas ou táticas
direcionadas exclusivamente ao emprego militar ou policial; e
XIII - os redutores de calibre de armas de fogo de emprego finalístico
militar ou policial.
§ 3º Os  PCE não relacionados nos § 1º e § 2º são considerados
produtos de uso permitido.

Como já foi dito, a lista acima ainda nã o está em vigor, razã o pela qual,
por enquanto, aplicamos a que está elencada abaixo (do
Decreto 3.665/2000), també m com as partes mais importantes à
publicaçã o em negrito:
Art. 15. As  armas, munições, acessórios  e equipamentos são
classificados, quanto ao uso, em:
I - de  uso restrito; e
II - de  uso permitido.
Art. 16. São de  uso restrito:
I -  armas, munições, acessórios e equipamentos iguais ou que
possuam alguma característica no que diz respeito aos empregos
tático, estratégico e técnico do material bélico usado pelas Forças
Armadas nacionais;
II -  armas, munições, acessórios  e equipamentos  que, não sendo
iguais ou similares ao material bélico usado pelas Forças
Armadas nacionais, possuam características que só as tornem
aptas para emprego militar ou policial;
III -  armas de fogo curtas, cuja munição comum tenha, na saída do
cano, energia superior a (trezentas líbras-pé ou quatrocentos e
sete Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .357
Magnum, 9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .
45 Colt e .45 Auto;
IV -  armas de fogo longas raiadas, cuja munição comum tenha, na
saída do cano, energia superior a mil líbras-pé ou mil trezentos e
cinqüenta e cinco Joules e suas munições, como por exemplo, .22-
250, .223 Remington, .243 Winchester, .270 Winchester, 7
Mauser, .30-06, .308 Winchester, 7,62 x 39, .357 Magnum, .375
Winchester e .44 Magnum;
V -  armas de fogo automáticas de qualquer calibre;
VI -  armas de fogo de alma lisa de calibre doze ou maior com
comprimento de cano menor que vinte e quatro polegadas ou
seiscentos e dez milímetros;
VII -  armas de fogo de alma lisa de calibre superior ao doze e suas
munições;
VIII -  armas de pressão por ação de gás comprimido ou por ação
de mola, com calibre superior a seis milímetros, que disparem
projéteis de qualquer natureza;
IX -  armas de fogo dissimuladas, conceituadas como tais os
dispositivos com aparência de objetos inofensivos, mas que
escondem uma arma, tais como bengalas-pistola, canetas-
revólver e semelhantes;
X - arma a ar comprimido, simulacro do Fz 7,62mm, M964, FAL;
XI - armas e dispositivos que lancem agentes de guerra química ou gás
agressivo e suas munições;
XII -  dispositivos que constituam acessórios de armas e que
tenham por objetivo dificultar a localização da arma, como os
silenciadores de tiro, os quebra-chamas e outros, que servem para
amortecer o estampido ou a chama do tiro e também os que
modificam as condições de emprego, tais como os bocais lança-
granadas e outros;
XIII -  munições ou dispositivos com efeitos pirotécnicos, ou
dispositivos similares capazes de provocar incêndios ou explosões;
XIV -  munições com projéteis que contenham elementos químicos
agressivos, cujos efeitos sobre a pessoa atingida sejam de
aumentar consideravelmente os danos, tais como projéteis
explosivos ou venenosos;
XV – espadas e espadins utilizados pelas Forças Armadas e Forças
Auxiliares;
XVI -  equipamentos para visão noturna, tais como óculos,
periscópios, lunetas, etc;
XVII -  dispositivos ópticos de pontaria com aumento igual ou
maior que seis vezes ou diâmetro da objetiva igual ou maior que
trinta e seis milímetros;
XVIII -  dispositivos de pontaria que empregam luz ou outro meio
de marcar o alvo;
XIX - blindagens balísticas para munições de uso restrito;
XX - equipamentos de proteção balística contra armas de fogo portáteis
de uso restrito, tais como coletes, escudos, capacetes, etc; e
XXI - veículos blindados de emprego civil ou militar.
Art. 17. São de  uso permitido:
I -  armas de fogo curtas, de repetição ou semi-automáticas, cuja
munição comum tenha, na saída do cano, energia de até trezentas
líbras-pé ou quatrocentos e sete Joules e suas munições, como por
exemplo, os calibres .22 LR, .25 Auto, .32 Auto, .32 S&W, .38 SPL e .
380 Auto;
II -  armas de fogo longas raiadas, de repetição ou semi-
automáticas, cuja munição comum tenha, na saída do cano,
energia de até mil líbras-pé ou mil trezentos e cinqüenta e cinco
Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .22 LR, .32-
20, .38-40 e .44-40;
III -  armas de fogo de alma lisa, de repetição ou semi-automáticas,
calibre doze ou inferior, com comprimento de cano igual ou maior
do que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milímetros; as
de menor calibre, com qualquer comprimento de cano, e suas
munições de uso permitido;
IV - armas de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola,
com calibre igual ou inferior a seis milímetros e suas munições de uso
permitido;
V -  armas que tenham por finalidade dar partida em competições
desportivas, que utilizem cartuchos contendo exclusivamente
pólvora;
VI - armas para uso industrial ou que utilizem projéteis anestésicos
para uso veterinário;
VII - dispositivos óticos de pontaria com aumento menor que seis vezes
e diâmetro da objetiva menor que trinta e seis milímetros;
VIII -  cartuchos vazios, semi-carregados ou carregados a chumbo
granulado, conhecidos como "cartuchos de caça", destinados a
armas de fogo de alma lisa de calibre permitido;
IX - blindagens balísticas para munições de uso permitido;
X - equipamentos de proteção balística contra armas de fogo de porte
de uso permitido, tais como coletes, escudos, capacetes, etc; e
XI - veículo de passeio blindado.

Observa-se que essa ú ltima norma trazida, embora mais antiga, trata
com regularidade a terminologia "uso restrito" e "uso permitido", nã o
gerindo grandes confusõ es acerca das denominaçõ es, com a inclusã o
do "uso proibido". Analisa-se também que, em momento algum ambas
as leis definiram o que é um "equipamento", tornando lacunar essa
acepçã o, já que acessó rio é algo tratado de forma distinta.

Colocadas as listas e expostos os conceitos em momento anterior, é


possível ter uma noçã o do que trata o Estatuto do Desarmamento .
Espero ter contribuído à comunidade.

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