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O EXÉRCITO
DOS FANTASMAS
Autor
CLARK DARLTON
Tradução
RICHARD PAUL NETO
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
Rhodan parte para o abismo, à procura de informações
sobre os pos-bis e os laurins... Mas defronta-se com um perigo
ainda mais terrível!
A Teodorico atravessou um dos braços da espiral da Via Láctea, passou pelo grupo
estelar M-13 e correu velozmente em direção aos limites da Galáxia. Ainda não
desenvolvia a velocidade máxima, mas apesar disso Jefe Claudrin fazia a nave voltar a
intervalos regulares ao espaço normal, a fim de evitar uma solicitação excessiva do
material.
Quando se encontrava apenas a alguns anos-luz de Árcon, Rhodan estabeleceu
contato de hiper-rádio com Atlan. O imperador confirmou a utilização do maior
contingente de naves que a Via Láctea jamais havia visto. Em formação, as unidades
ficaram estacionadas na beira do grande abismo que separa as galáxias. Estavam prontas
para receber o inimigo, pouco importando quem fosse ele.
Rhodan agradeceu por Atlan lhe ter desejado boa sorte e garantiu que na Terra
estava sendo feito o possível para desvendar o segredo dos dois canhões de raios
conversores tirados dos pos-bis. Quando se encontrassem de posse dessa arma, que era a
mais terrível de todas, os dois impérios — o arcônida e o solar — seriam tão fortes que
qualquer ataque contra os mesmos equivaleria ao suicídio. Rhodan ainda confirmou que
já fora iniciada a produção em série dos óculos antiflex, que dentro em breve poderiam
ser fornecidos a Árcon em grandes quantidades.
Depois disso a Teodorico voltou a acelerar e não demorou a abandonar a Via
Láctea. Lá fora, bem ao longe, nas profundezas do abismo, havia um pontinho minúsculo,
que só perdia sua natureza abstrata nos dados e indicações armazenados nos cérebros
positrônicos. Era um pontinho que vagava lentamente, e na verdade era um planeta.
Pretendiam chegar a esse pontinho, sãos e salvos.
A grande aventura teve início.
A Teodorico acelerou até atingir a velocidade máxima, mas só permanecia em vôo
linear durante meia hora de cada vez. Depois disso retornava ao espaço normal, onde se
deslocava à velocidade da luz. Nas telas da popa, a Via Láctea começou, visivelmente a
encolher. Os dados relativos à velocidade e à distância percorrida eram calculados por
aparelhos automáticos que os armazenavam, mas a simples idéia desses dados daria lugar
a reflexões fantásticas.
Além de outros cientistas, o Dr. Bernd Keller e o robólogo Moders estavam
reunidos na sala dos oficiais. Haviam dormido um pouco e tomado um lanche. Agora
estavam participando da conversa. A maior parte dos presentes nunca havia participado
de um vôo pelo abismo.
— Quer dizer que o senhor também é de opinião que a missão é bastante arriscada,
major? — perguntou um dos físicos mais jovens, dirigindo-se ao Major Slide Narco,
engenheiro-chefe da Teodorico. — O senhor deve saber, pois este não é seu primeiro vôo
fora da Via Láctea.
O pequeno homem nascido em Marte fez um gesto vago.
— Qualquer viagem espacial envolve riscos, mesmo que só se estenda por alguns
anos-luz. É bem verdade que, à medida que aumenta a distância, maiores serão os riscos.
Mas desta vez teremos de percorrer mais de meio milhão de anos-luz, se quisermos
chegar ao destino e regressar à Via Láctea. Será um recorde.
— Qual é nossa velocidade, major? — perguntou Van Moders.
— Isso é um dado relativo, doutor — respondeu Narco com um sorriso. — O senhor
já teve ter notado que só permanecemos meia hora de cada vez na zona de libração.
Dentro da Via Láctea voamos, por uma questão de segurança, a um milhão de vezes a
velocidade da luz, o que significa que praticamente percorremos dois anos-luz por
minuto. Não será difícil calcular que, neste vôo, essa velocidade não é suficiente.
Incluídas as pausas, levaríamos semanas para chegar ao destino. Por isso desenvolvemos
dez milhões de vezes a velocidade da luz.
Van Moders fez mentalmente alguns cálculos.
— Neste caso levamos três segundos para percorrer um ano-luz. É uma loucura! Se
a Teodorico agüentasse prosseguir ininterruptamente nessa velocidade, não
demoraríamos a chegar à nebulosa de Andrômeda.
Narco deu uma risada.
— Seria conveniente conferir seus cálculos, caro colega. A distância da nebulosa de
Andrômeda é de um milhão e quinhentos mil anos-luz. À velocidade de um ano-luz a
cada três segundos, isso corresponderia a quatro milhões e quinhentos mil segundos, isto
é, aproximadamente setenta e quatro mil minutos ou cinqüenta e um dias. E isso mesmo
se voássemos ininterruptamente a essa velocidade. Incluídas as pausas, a viagem
demoraria mais de cem dias.
Van Moders fitou Narco com uma expressão tensa.
— Não venha me dizer que desenvolvemos uma velocidade superior a dez milhões
de vezes a da luz.
— Teoricamente percorremos, nos trinta minutos durante os quais a nave
desenvolve a velocidade máxima, aproximadamente três mil anos-luz. Isso significa que
a velocidade é cinqüenta milhões de vezes superior à da luz. As pausas são mais
prolongadas que os períodos de vôo a velocidade superior à da luz. Suponhamos que
completamos dez períodos de vôo por dia. Isso corresponderia a trinta mil anos-luz por
dia.
— Quer dizer que levaremos onze dias para chegar ao destino! — exclamou Van
Moders, profundamente impressionado. — E, quando chegarmos lá, só teremos
percorrido a quinta parte da distância que nos separa da nebulosa.
— Conclui-se que deve ser possível alcançar Andrômeda, ao menos teoricamente —
observou Bernd Keller, em tom apressado. — Se usássemos o método descrito pelo
senhor, levaríamos dois meses.
— Teoricamente seria assim — disse o Major Narco. — Infelizmente não conhece-
nos a magnitude da solicitação a que fica exposto o material. Fatalmente surgirão
manifestações de fadiga do mesmo, que são imprevisíveis. Apesar disso — levantou a
voz, fazendo com que os outros aguçassem o ouvido — um dia arriscaremos.
Por alguns instantes, o silêncio reinou na sala dos oficiais. Finalmente Narco
levantou-se.
— Tenho alguma coisa a fazer na cúpula de observação. Se alguém estiver
interessado em apreciar a vista, poderá ir comigo. Dentro de alguns minutos a nave irá
deslocar-se à velocidade da luz.
Keller e Van Moders acompanharam o major, pois não queriam perder os
acontecimentos. Alguns dos cientistas também foram com eles.
A cúpula era uma saliência de paredes transparentes, aplicada no envoltório esférico
da Teodorico. Permitia ampla visão lateral.
Tinha-se a impressão de flutuar livremente no espaço.
Do lado de fora havia uma estranha luz crepuscular. No setor espacial que ficava no
sentido do deslocamento da nave, o caráter crepuscular da luz não era tão pronunciado,
motivo por que a visão era desimpedida. Via-se uma aparição luminosa alongada, que
brilhava numa forte luminosidade branca. Era a nebulosa de Andrômeda. Perto dela
dançavam minúsculos pontos luminosos, que na verdade ficavam a milhões ou bilhões de
anos-luz. Eram galáxias distantes. O círculo de visibilidade não era muito grande; parecia
abranger apenas alguns metros.
— É claro que, quando nos encontramos no semi-espaço, a visão é bastante limitada
— explicou Narco. — Mas sempre se vê o ponto de destino. E, como por coincidência
Bárcon fica exatamente na direção de Andrômeda, sempre vemos a nebulosa.
— Ainda bem — disse alguém, em tom de alívio. — Os antigos hipersaltos devem
ter sido uma coisa horrível.
— O sistema de propulsão linear tem suas vantagens — confessou Narco
prontamente.
De repente disse apressadamente e em tom exaltado:
— Vejam! Lá na frente, no sentido do deslocamento da nave. Estamos voltando ao
espaço normal. É a pausa.
O círculo de visibilidade aumentou rapidamente, inclusive na região da popa. A
faixa da Via Láctea cresceu, até que toda a Galáxia aparecesse no campo de visão. Enchia
a maior parte do céu, na região que ficava para trás. No abismo propriamente dito, a
nebulosa de Andrômeda continuou a ser o único objeto de maiores dimensões, pois as
outras galáxias, ainda mais distantes, continuavam a ser simples pontos luminosos.
— Não se vê muito mais que antes — disse Van Moders, em tom de decepção. — O
nome abismo é bem adequado.
— Realmente é um abismo sem fundo — confirmou Narco, tranqüilo. — Sua
profundidade é praticamente indeterminável, pois Andrômeda não passa de uma ilha
relativamente insignificante, tal qual nossa Via Láctea, embora seu diâmetro chegue a
setenta mil anos-luz.
— É inconcebível, verdadeiramente inconcebível! — exclamou alguém.
— Quando tivermos deixado para trás mais dois períodos de vôo, poderemos ver
nossa Galáxia de uma só vez — prometeu Narco, que fora encarregado por Rhodan de
fornecer todas as explicações aos novatos e tranqüilizá-los se a visão inconcebível fosse
demais para eles. — Ela encolherá cada vez mais.
— Que sensação estranha! — exclamou Keller.
Por alguns segundos fitou o terrível nada e prosseguiu em voz mais baixa:
— Apesar de tudo, é uma coisa formidável. Este vazio absoluto, esta grandeza, este
Universo... Mas, o mais formidável é que o homem tenha conseguido libertar-se dos
grilhões que o prendiam à Terra.
Imóveis, aqueles homens contemplaram a eternidade.
***
Rhodan despertou, lavou o rosto e dirigiu-se apressadamente à sala de comando,
onde o imediato da nave, Coronel Reg Thomas, estava transferindo o comando a Jefe
Claudrin, que também descansara algumas horas.
— Os controles de máquinas acabam de ser completados, sir. Não se notaram
manifestações de fadiga dos materiais, nem danos de qualquer espécie. Até aqui o vôo
correu segundo os planos.
— Obrigado, Thomas. Vá dormir. Bem que o senhor merece um descanso. Se
precisar do senhor, mandarei chamá-lo.
Reg Thomas, um homem louro com uma cicatriz profunda do lado esquerdo da face,
fez continência e retirou-se. Rhodan fez referências elogiosas a seu respeito.
— É um oficial muito competente, Claudrin. Pode-se confiar nele.
— Sem dúvida, sir — confirmou o comodoro e enfiou seu corpo gigantesco na
poltrona feita especialmente para ele.
Claudrin era um ser adaptado ao ambiente, e seu mundo natal tinha mais que o
dobro da gravitação da Terra. Depois de breve pausa, continuou:
— Não posso imaginar que possa haver um imediato melhor que ele — controlou os
dados registrados pelos instrumentos. — Bem, já percorremos um trecho apreciável. É de
admirar que ainda não nos tenhamos encontrado com nenhum pos-bi.
— O senhor está subestimando o vazio do espaço, comodoro. Só mesmo por um
estranho acaso poderíamos encontrar-nos com uma nave fragmentária — fitou os
instrumentos. — Qual é a velocidade?
— Nos períodos que já passaram desenvolvemos velocidade equivalente a cinqüenta
milhões de vezes a da luz. Se fizermos pausas regulares, poderemos chegar a oitenta
milhões.
— Vamos ficar nos cinqüenta milhões; é quanto basta.
— O acréscimo de risco seria insignificante.
— De qualquer maneira, o risco já é suficiente, não acha? Afinal, estamos operando
na terra nova, nome que se pode dar ao abismo — sorriu. — Além disso já sabemos que
este abismo não é tão vazio como nossos cientistas acreditavam. Bem, por enquanto não
nos encontramos com ninguém.
Claudrin olhou em torno para encontrar um pedaço de maneira no qual pudesse
bater para espantar o azar, mas tudo era feito de metal ou plástico. Resignado, usou a
própria cabeça para dar vazão ao seu instinto primitivo.
— Não espalhe isso por aí! — advertiu em tom sério. — O que não aconteceu ainda
pode acontecer.
Rhodan deu uma risada.
— É o senhor que está espalhando, comodoro — disse. Olhou para as numerosas
telas e controles. O oficial navegador afastou os mapas, nos quais fizera certos registros,
e levantou a cabeça. Havia uma expressão de perplexidade em seu rosto. Rhodan
percebeu.
— O que houve, tenente? Parece que está preocupado.
— O Coronel Thomas pediu-me que registrasse no mapa tudo que observasse. Não
pude realizar pessoalmente qualquer tipo de observação ótica, mas os instrumentos
fizeram-no por mim, sir. Nas últimas horas passamos por vários corpos escuros. Thomas
acredita tratar-se de planetas dos pos-bis, que estes furtaram da Via Láctea. Todos esses
corpos afastam-se da Galáxia a velocidade reduzida, em direção a Andrômeda.
Rhodan acenou com a cabeça.
— Era o que esperávamos, tenente. Não há motivo para ficar nervoso. Em sua
maioria, estes planetas não têm vida. E não se revestem de nenhum interesse para nós.
O tenente franziu a testa.
— Não é só isso, sir. Os medidores de energia constataram a existência de campos
de força muito potentes, cujas dimensões atingem muitos anos-luz. Estão funcionando.
Giram em torno de núcleos desconhecidos e por certo exercem certa influência sobre a
rota de nossa nave.
— Também esperávamos isto, tenente — respondeu Rhodan, sem que sua voz
tivesse a menor tonalidade irônica. — Como sabe, depois de cada período de vôo
verificamos a rota da Teodorico e, se for o caso, fazemos a correção da mesma. Por isso
os campos de força também não assumem interesse para nós. Em outra oportunidade nos
ocuparemos com eles.
Depois de uma ligeira pausa perguntou:
— Observou mais alguma coisa, tenente?
— Não, sir.
Rhodan ficou satisfeito. Até então não houvera nenhum incidente, e o vôo correra
segundo se esperara. Se os propulsores agüentassem não poderia acontecer muita coisa. E
quanto a Bárcon... bem, depois se veria.
De repente Rhodan teve a impressão de que ouvia novamente a gargalhada
homérica com a qual o Imortal o presenteara quando lhe desejara boa viagem. Houvera
um pouco de malícia nessa gargalhada; até parecia que o Imortal não acreditara que
Rhodan jamais chegasse ao destino.
— Tolice! — disse Rhodan em voz alta e logo se defrontou com o olhar espantado
de Jefe Claudrin.
Perry, porém, ficou um tanto embaraçado e acrescentou a título de explicação:
— Acabo de pensar numa coisa. Não ligue, Claudrin. Acho que já está na hora de
apagarmos certas lembranças. Devemos confiar em nós mesmos e na boa Teodorico.
— É o que estou fazendo, sir — respondeu Claudrin, em tom convicto.
Dali a duas horas voltaram a penetrar no campo de absorção e no semi-espaço, onde
percorreriam, em trinta minutos, mais de três mil anos-luz. Rhodan dera ordem para que
os períodos de descanso fossem reduzidos, porque não queria perder muito tempo.
***
As horas enfileiraram-se, formando dias, e os dias formaram uma semana.
Até então não houvera necessidade de trocar uma única peça. As máquinas estavam
agüentando surpreendentemente bem. Rhodan mandou que durante dois períodos de vôo
a nave desenvolvesse oitenta milhões de vezes a velocidade da luz, e, durante um minuto,
cem milhões de vezes. Era o máximo absoluto de que a nave era capaz, se bem que sob o
ponto de vista teórico houvesse possibilidade de voar ainda mais rapidamente.
Dali a três dias aproximavam-se da posição indicada pelo Imortal. Em algum lugar,
à sua frente, o planeta solitário Bárcon percorria sua órbita em meio à escuridão eterna.
Em seu interior viviam os barcônidas, que aguardavam o momento do regresso à Via
Láctea. Quanto tempo ainda teriam de esperar, mesmo que seu planeta desenvolvesse um
terço da velocidade da luz? Haveria alguma raça que pudesse existir por tanto tempo?
Rhodan não esperava nenhuma surpresa. Se Bárcon estivesse em perigo, o Imortal o
teria informado. Provavelmente até o teria levado pessoalmente ao planeta. O Imortal,
tinha uma simpatia inexplicável pelos barcônidas. Protegia-os e velava por eles.
“É estranho”, pensou Rhodan e admirou-se de que não tivesse tido a idéia antes. “É
estranho que desta vez Aquilo tenha demonstrado tão pouco interesse em facilitar meu
encontro com Bárcon...”
De outro lado, isso constituía uma prova de que por lá tudo estava em ordem. Os
laurins nem pensariam em voltar a atacar Bárcon.
Teve-se a cautela de colocar em estado de prontidão os mutantes que se
encontravam a bordo, mas isso representava um ato de rotina. Além disso Rhodan
mandou guarnecer os canhões. Mais um período de vôo, e Bárcon apareceria nos
aparelhos de rastreamento.
A pausa foi passando lentamente. A Teodorico atravessava o espaço à velocidade da
luz. Mais uma vez alguns cientistas e vários oficiais estavam reunidos na cúpula de
observação.
Nos últimos onze dias, o quadro se modificara bastante.
A Via Láctea transformara-se numa gigantesca lentilha, cujo diâmetro atingia pelo
menos quinze graus. Emitia uma luminosidade branca, na qual já não se distinguiam as
diversas estrelas. O centro lembrava uma porção de aço liquefeito, de tão densamente que
pareciam comprimir-se as estrelas.
Na direção oposta, Andrômeda crescera. Ocupava quase dois graus, tendo o dobro
do tamanho da Lua terrana e quase a mesma luminosidade. Os outros pontinhos
luminosos que completavam o quadro eram galáxias independentes. Talvez fossem
maiores que a Via Láctea, mas ficavam a uma distância infinita. Sua luz já estivera a
caminho quando em nosso planeta os primeiros seres aquáticos procuraram pôr o pé em
terra firme!...
Rhodan, ao imaginar como seriam as coisas naquele tempo, assustou-se. A
concepção geral, segundo a qual o Universo se expandia, ainda era aceita, já que ninguém
conseguira provar o contrário. Nos limites do Universo devia haver galáxias que se
afastavam do centro hipotético à velocidade da luz, motivo por que permaneceriam
invisíveis ao olho humano para todo o sempre.
Rhodan lembrou-se das informações que lhe haviam sido fornecidas por Ellert. O
“teletemporário” que, atirado para o infinito em direção ao passado, acompanhara o
início da formação do Universo. Sua experiência provava que os cientistas não estavam
enganados. O Universo realmente se dilatava. Mas, para imaginar a situação existente há
um ou dois bilhões de anos, não haveria outra alternativa senão acompanhar a evolução
em sentido inverso. Devia-se imaginar um universo em contração... uma contração que
durava dois bilhões de anos. Desta forma se chegaria forçosamente à situação existente
naquele tempo.
“Naquela época”, concluiu mentalmente Rhodan, “a nebulosa de Andrômeda não
ficava tão longe de nossa galáxia como hoje. A distância entre as duas galáxias era bem
menor. Mas qual seria a distância?”
Rhodan não deu atenção às observações cochichadas pelos cientistas, que
conversavam em tom abafado. Viu diante dos olhos de sua mente uma série infinita de
números e dados.
A velocidade radial das estrelas e galáxias! Quanto maior é a distância que separa
determinada estrela da Terra, mais rapidamente ela se afasta da mesma. Quanto mais
longe fica uma galáxia da outra, mais vertiginosa se torna sua fuga para o infinito. Havia
uma relação de proporcionalidade. O grupo de Hidra, que ficava a mais de dois bilhões e
meio de anos-luz da Via Láctea, dela se afastava à velocidade de sessenta mil
quilômetros por segundo. Dessa forma a nebulosa de Andrômeda, que distava apenas um
milhão e meio de anos-luz da Terra, não percorreria mais de quarenta quilômetros por
segundo, o que sempre representava cento e vinte e seis milhões de quilômetros por ano.
Ou um ano-luz em setenta e cinco anos. A cada século que passava a nebulosa de
Andrômeda afastava-se mais de um ano-luz.
Rhodan não se deteve nesta consideração. Começou a fazer cálculos regressivos.
Há setenta e cinco milhões de anos Andrômeda distava apenas quinhentos mil anos-
luz da Via Láctea.
Há exatamente cem milhões de anos o abismo que separa as duas galáxias media
apenas duzentos e cinqüenta mil anos-luz.
A velocidade radial não se mantinha constante. Era perfeitamente possível que a de
Andrômeda tivesse crescido no curso do tempo. De qualquer maneira, era de se supor que
há um bilhão de anos a nebulosa vizinha encontrava-se muito próxima à Via Láctea.
Então o abismo só media uns poucos milhares de anos-luz, talvez menos.
Rhodan teve uma idéia fantástica, mas não se atreveu a levá-la às últimas
conseqüências. Se tivesse vivido há um bilhão de anos e dispusesse dos recursos técnicos
da atualidade, o propulsor linear lhe teria permitido chegar a Andrômeda em menos de
uma hora!
Os acônidas dispunham de uma tecnologia que lhes permitia criar uma espécie de
campo temporal, por meio do qual se podia reconstituir o passado.
Se o sistema de propulsão linear fosse combinado com o campo temporal dos
acônidas...
Um zumbido arrancou Rhodan dos seus devaneios. Era a sala de comando!
Respondeu ao chamado. Os cientistas interromperam a discussão.
— Rhodan.
— Aqui fala o comodoro, sir. Dentro de cinco minutos daremos início ao último
período de vôo, que nos fará transpor a distância de três mil anos-luz. Pelos nossos
cálculos o destino que nos foi indicado deve ficar lá.
Bem, não havia nada de extraordinário nisso. Mesmo naquele tempo ainda era
bastante difícil localizar um planeta a uma distância de trinta mil anos-luz.
— Está bem, Claudrin. Irei à sala de comando. Coloque todos os tripulantes em
estado de prontidão.
Rhodan interrompeu a ligação. Os cientistas e oficiais de folga, que se encontravam
na sala de observação, fitaram-no com uma expressão de expectativa.
— Daqui a meia hora saberemos mais coisas — disse Rhodan, e retirou-se.
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