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O FEMININO E O TRÁGICO : MARIA HOMEM – JULHO 2021

- Medo da prole: quanto podemos sofrer para perceber que podemos amar, arrepender e
temer os filhos

- O trágico opera no medo

- O filho pode me destruir, pode me matar, o filho é aquele que engole os pais = mito de
chronos, jupter

- Eros e Tânatos : criação e destruição, afetos fundamentais que vão fazer o impulso da ação

- Trilogia de Sófocles:

1) Édipo rei:

- Laio e Jocasta : percebem que os oráculos ( repetição) vão dizer “ vcs vao ter um filho
e este filho vai matar o pai”, Jocasta então tem um filho mas o coloca fora = operação
de recalque: o que foi colocado fora um dia retorna. Jocasta então fica viúva pois o
marido foi assassinado. O forasteiro salva a cidade, desposando a rainha - Quantas
vezes a gente entra no circuito da repetição, ou de tânatos, ou de chronos, e a gente
mata o antigo ou repete sem ter consciência = repetição ics

- Quem primeiro percebe tudo é a mulher (Jocasta) – ela vai rapidamente se dar conta
do drama da situação

- Edipo quando percebe começa a chamar os mensageiros e consultar oráculos, mas ao


mesmo tempo que ele quer saber, ele também não quer saber – quem é que não teme
diante do saber? Tem algo de profundo no feminino que talvez precise saber, precise ir
atrás, por ser seu corpo, seu filho, sua vida

- O feminino, o trágico e o saber: A tragédia sempre lida com o vir a saber algo,
descobrir algo. Para a mulher não foi dado o não saber, ela sabe que o filho é dela, na
barriga que cresce, no corpo que sangra, no peito que amamenta. A posição de
alienação e ignorância é muito mais masculino – o homem pode se despreender :
Ulisses pode ficar 10 anos na guerra de tróia e passar mais dez anos para voltar, ele
pode ficar longe do filho, porém Jocasta não pode não saber, ela vai se confrontar com
a realidade e perceber que era duplamente culpada, que havia casado com o filho e
tido com ele 4 filhos – neste momento ela pega um fio do vestido e se asfixia: ela tira a
vida por não poder tirar a consciência. Edipo por sua vez diz “ qd eu tinha olhos para
ver eu não vi” e quando ele vê a realidade, frente a morte de Jocasta, ele fura seus
próprios olhos e vaga pelo mundo cego.

2) Édipo em Colona:

- Édipo se exila duplamente, um lugar de alienação na pólis : exilado, refugiado – perde


o lugar político e social. Deixa de ser rei para tornar-se um andarilho, um mendigo
cego

- O trágico de feminino é colocado em Antígona : a filha de Édipo, que é quem o


conduz nesse exílio, é ela que vai ancorar e segurar

3) Antígona:
- Antígona: algo do feminino que sempre é referenciado a algum parentesco = cultura
patriarcal

- A vida é mais complexa do que a primeira versão que vc ouviu : como na clínica,
existem sempre muitas camadas

- Dois irmãos que estão brigando pelo poder na cidade e acabam por se matar e um
parece ser o traidor pois vai se aliar ao extrangeiro contra a própria cidade (Tebas), o
rei dirá que ele se uniu contra o inimigo da cidade então terá que ser morto e não
enterrado, merece padecer e apodrecer no alto da montanha, ter suas vísceras
devoradas pelas aves de rapina, enquanto o outro, que lutou por sua cidade, deve ser
enterrado com todas as honras = conflito entre Etéocles e Polinice : dois filhos de
Édipo, detentores do poder patriarcal que lutam entre si (as filhas são Ismênia e
Antígona)

- Ismênia é a que se recolhe, fica em cima do muro e não quer saber, insenta

- Antígona é a que diz que a lei não faz sentido, o irmão não deve deixar de ser
enterrado, não pode se deixar um corpo apodrecer, se contrapões à lei da pólis, e luta
por uma outra lei da cidade dizendo que foi o outro irmão que não quis fazer o rodízio
de poder

- Havia uma disputa onde um lado não foi honrado por não ter aceitado passar o poder

- Antígona também diz não ao governo, é heroína desde o século XIX e está na matriz
da desobediência civil, ou na afirmação da liberdade individual, ou na colocação em
cena de si mesmo como sujeito e que vai dizer “ este governo não é legítimo, então a
luta contra ele é legítima”

- Antígona é a afirmação radical do desejo puro, aquela que vai dizer “se eu não puder
fazer aquilo que eu eu acho certo, que eu acho bem, então eu prefiro a morte” – este é
o desejo puro, o desejo decidido : não vou recuar diante daquele que diz “eu não sei,
eu temo”

- O desejo é radical porque a vida fica menor que o desejo

- Antígona está na linhagem, na casa e quase no trágico, no fio trágico de sua própria
origem

- 3 grandes mulheres e 3 homens cegos :

- Jocasta tem a coragem de ver, de perseguir a verdade e chega na verdade


antes de Édipo

- Édipo se cega ao ver Jocasta morta

- Antígona é aquela que vê e carrega seu pai cego, aquela que vê e que
sustenta o seu desejo até o fim, e que não cede diante dele, mesmo que isso
custe a vida

- Rei Creonte cego pela Ramartia – vontade, ganância de poder, orgulho – tudo
ao seu redor foi sendo destruído, sobra ele vendo a devastação e sem ter
compreendido nada

- Quantas vezes será que somos Antígona?


- Electra:

- representante do feminino e da sua loucura.

- Young fala do complexo de Electra. Complexo de édipo é uma


estruturação mais que triangular, ela é quaternária, simbiose cortada
pelo terceiro. Falo enquanto significante que transita pela cadeia.

- era apaixonada pelo seu pai, um grande herói (Agamenon que está na
origem da guerra de Tróia)

- a mãe (Cliteminestra) assassina juntamente com seu amante, o pai e


Electra quer vingar a morte do pai, ela odeia a mãe

- Agamenon é aquele que sacrificou a sua filha Efigênia para os Deuses,


para que os ventos o fossem favoráveis para que as naus chegassem
até Tróia

- Cliteminestra matou aquele que matou sua filha – ela não havia um
pouco de razão?

- Toda filiação feminina carrega em si o trágico:

- Sec XIX: o peso do trágico era muito pouco transformável na tragédia grega = destino

- Sec XX e XXI: modernidade, rompimento com a lógica patriarcal = Julieta : quem


escolhe é o sujeito , eu escolho o que eu quero e não a sociedade

- Sistema patriarcal: a mulher é primeiro filha de, para depois se tornar mulher de, e
posteriormente mãe de . Ser objeto de. Estar atrelada ao outro masculino.

- Julieta :

- heroína feminina da tragédia moderna, Shakspeare, Verona, Capuleto

- Julieta é aquela que tem o desejo decidido, é também uma mulher desejante, ela
sabe, ela vai e ela convoca Romeu e o pede em casamento. Julieta é ativa

- Ofélia:

- Romantismo, natureza, floral, primavera, regeneração feminino como fertilidade, ao


mesmo tempo que Ofélia é aquela se mata, que se deixa abater

- Ofélia é a amada de Hamlet – herói trágico que é a hesitação (ser ou não ser, heis a
questão) – sujeito moderno é aquele que duvida, que questiona o sistema cartesiano

- Eu escrevo meu destino, eu invento a mim mesma : essa é a matriz liberal, liberdade
individual que é questionar ser ou não ser, não obedecer a tradição a família Capuleto
ser inimiga dos Montéquio, não precisar ser a mulher de Hamlet e segui-lo

- Logos x Pathos : razão x emoção

- Masculino: racional, inteligente, poder, espaço publico, dinheiro, voto, governo,


razão...
- Feminino, irracional, burro, emoção, doçura, afeto, maternidade, colo, cuidado,
submissão, desgoverno...

- Detalhe: deusa da razão era Athena, uma mulher

- Medéia:

- É apaixonada por Jasão e ele se apaixona por outra, por uma princesa bela e jovem e
Medéia fica enlouquecida e mata seus filhos para atingi-lo

- Medéia x Electra : conceito de instinto materno, o que nos choca em Medéia é o fato
de abrir mão dos filhos, o apaixonamento pelo homem pode cegar levar ao abrir mão
do laço materno: Medéia mata os filhos, Electra mata a mãe.

- Medéia : continuação da problemática entre o materno e a descendência.

- Conflito entre a mulher e o homem, a mulher e o parceiro, a mulher e os filhos e a


mulher e o trabalho – essa triangulação nunca é óbvia.

- Autoestima, narcisismo partido e cindido

- Medéia é também o lugar de sedução, o páthos, o apaixonamento desvairado – ela


vai destruir tudo por não aguentar o ciúme

- O ciúme pode ser enlouquecedor

- Salomé: poder de sedução e destruição

- Píramo e Tisbe:

- roma, séc I – 2 jovens que são pegos na armadilha do equívoco : enquanto Tisbe, que
era caçadora vai beber água e perde seu lenço que acidentalmente se suja no sangue
da leoa, Píramo ao ver o lenço de Tisbe sujo de sangue deduz, é pego pelo equívoco –
o lugar do masculino talvez seja sempre o lugar do equívoco ( que é o que acontece
também com Romeu) e pensa que Tisbe morreu e então ele se mata e diante do corpo
de Píramo morto, Tisbe também se mata

- Discussão entre estabilidade e instabilidade : tudo é metamorfose e transformação,


como a gente se engana, como tudo é aparência

- Shakespeare: somos transformaçãos mas somos também escolha : 1595 – Romeu e


Julieta = possibilidade de livre arbítrio, principalmente o livre arbítrio da mulher

- Ofélia:

- Não sobrou um caminho para Ofélia

- Hamlet sem saber colocar seu lugar de homem, de sujeito, de filho que não sabe
vingar a morte do pai, de filho que se perde

- Ofélia: menos filha e mais mulher, mas um lugar porém de estreitamento que vai
tirar seus contornos, outra forma de ir rompendo os limites, e Ofélia o fez na dôr e no
sofrimento

- Uma mulher que muitas vezes é lida como ambiciosa, como manipuladora – ardilosa
diretriz da cena

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