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Contributos para a Identificagao e Caracterizacao da Paisagem em Portugal Continental Coleccaéo Estudos 10 Contributos para a Identificacao e Caracterizacgéo da Paisagem em Portugal Continental Volume Ill Grupos de Unidades de Paisagem F (eeira aitay a J (Pinhal do centro) & ngorpd EQUIPA TECNICA Elaboracdo Universidade de Evora, Departamento do Panssmenta Biico © Fosagica, 2002. Coordenagio ‘Alecandte Cancla Abreu, Teresa Pato Cone ¢ Rosia Olt, Equipa Inds Mage, Concigao Free, Nuno Lea, Ful Cunha (Fotograi), Nuno Neves (CoodenacBo SG), ghia Henriques e Antonio Marts Lteloga egsarerolog, ‘aria Wanuel Gow (Canoga mori, Peco Ars, Nuno Granhase Pata Fanco(Catagai~ SIG], Huge Santas Povoamentoeexporates apie) Colaboradores aula Simbes © ana Forsca, Estudos de caso Nuno Lecoq (Casto Verde Mirilal: Patrica Franco e Alerance Cancela ‘Abe (Bera) Lisa Roque Tra Fria Tanmentana Hugo Santos (ava: Edun Mateus (ldo Cero) Is Mero [2 Lsboa ~ Nor Consultores: ‘Aurora Caragicha (rotesea da Unvesidede de vere), Goncle Rito Tells (Profesor jbl de Univeral de Evora} Ja Fro Profesor da Universidade {de Usb, nstiuze de lence Soi), Josie Fats de Brit Profesr oo ISCTE, Crear da Nuseu Nacional de Eto, Nun Menda roesor ds Univers ‘dade de Eur), lem Vor Professor da Universi de Wagecinge) Fotografia Todas as imagens tm divs reservados RC por © RCL. Ru Cunha; NL— per Ne Lecog RO por Rovio Oliveira IM ~ porns Magra EM ~ por Eduardo Mateus; ACA~ por Aetande Cancala c'Abreu; TPC - por Teresa Pinto Cowes Cartografia, Produzla com baseno VMAP 1 PORTUGAL (nsituto Geogrco do Exc, 199) ena mai do Mapa das Estrada do Automevel Gb do Portugal 92 eo, ‘eidamente autre, Tab utizado no estudo o Mosca LANDSAT de Portugal (crizaco em 1987 ple Centre Naal de infamacan Geogatia,cedenca autozada pele Eucrane)e Ortofotomapas com inagens de 1985, cade pelo Cerro Nacional de ntrmacao Geogr FICHA TECNICA Titulo ‘Contributos para a ldentificacao e Caracterzarzo da Palsagem em Portugal Continental Colegio Esuos 10 Esta pbleacSo ten por base o stud orginal, conclida em Deseo de 2002 Edigio ‘rscio-Geral do Ondonaento do Teritio # Deservelimanto Urbana, sno 2008 Cameo Grane, 80, 1749-014 ISRO Homepage: ww dgotu pt femal: dgotdusccrdupt Design abo Machado Producto toe Machado Dei, Ls Tiragem Volume 1 100 exemplars; volumes iia, 1 000 exemlees Impressao Europes, tres eDisrbutdores de Pubes, Lda ‘SBN 972-8860.28 Depésito Lega Ea oro cosaunoAno Pte coMeAceetROR i738 bce fingotuceu e oir Hagin rogers nag Slee ropes ‘cored do etc que dev oigema ea publ ¢ do exis response dos seus ue io @ permits a epeucao ttl ou paral desta publ Sem a atria pebis de DGOTOU. Contributos para a Identificacao e Caracterizagéo da Paisagem em Portugal Continental AVI CoO CE eee iy lg (Beira Alta) a J Ces] De eee at rd COU eer Sot n keri e ss ‘Grupos de Unidades de Paisagem oo 12128 Unidades de Patsagem INDICE votume it F (Beira alta) a J (Pinhal do Centro) F~ Beira Alta ? H - Beira Litoral 36 - Baixo Paiva 3 56 ~ Ria de Aveiro e Baixo Vouga 37 — Serra de Montemuro 19 57 ~ Pinhal Litoral Aveiro ~ Nazaré 38 — Pomares de Lamego e Moimenta da Beira 25 58 — Bairrada +39 ~ Planalto de Penedono 29 59 — Coimbra e Baixo Mondego 40 ~Serra da Arada 35 {60 ~ Beira Litoral: Leiria - Ourém - Soure 41 —Montes Ocidentais da Beira Alta a 42 ~ Alto Paiva e Vouge 47 43 — Serras de Leomi @ Lapa 53 I~ Macigo Central 44 —Serra do Caramulo 59 61 ~ Serras da Lousd e Acor 145 ~ Dao e Medio Mondego 6 62 - Serra da Estrela ‘46 ~ Cova de Celorico n J~ Pinhal do Centro G - Belra Interlor a 63 — Pinhal Interior 47 ~Planallo de Beira Trensmontana a 64 Vale do Zezere 48 — Vale do Coe a9 65 ~ Serras da Gardunha, de AWveolos 49 —Cova da Beira 95 edo Moradal 50 ~ Penha Garcia e Serra da Makata 101 66 - Masaico Agroflorestal ~ Castelo Branco 51 Castelo Branco = Penamacor = Idanha 107 52—Campina de Idanha 113 53 — Beira Baixa ~ Teo Internacional 17 54 ~ Tejo Superiore Internacional 123 55 — Tetras de Nisa 129 VOLUME | Resumo / Summary Introdugao 1 2. Unidades de Paisagem 3. Estudos de Caso 4, Conclusdo ‘Anexo ~ Estuda de Caso do Concelho de Evora Exemplo de Fichas de Unidades de Paisagem Bibliografia VOLUME II ‘Grupos de Unidades de Paisagem A-E (Entre Douro e Minho a Douro) VOLUME IV Grupos de Unidades de Paisagem K-Q (Macicos Calcarios da Estremadura a Terras do Sado) VOLUME V Grupos de Unidades de Paisagem R-V (Alentejo Central ao Algarve) 133, 139 147 153 159 167 173 173 135, 193 197 205 a 219 SVAN BAN BEIRA ALTA Coe Serra de Montemuro Pomares de Lamego e Moimenta da Beira Cee sea) Pty Prete ery Cee Pee cna ey Peery one) Cova de Celorico A Paisagem Morfologicamente este grupo de unidades de paisagem constitui “um vasta plano inclinado drenado quase todo pelo sistema do Mondego” (Ribeiro, 1993), mas também pela Vouga e Douro, onde se incluem varias, serras (Montemuro, Freita e Arada, Caramulo, Bussaco, Leonil e Lapa), zonas mais ou menos onduladas ¢ vales bem expressivas (Paiva, Vauga, Dao e Mondego). As onze unidades de paisagem que foram individua- lizadas neste grupo traduzem bem a presenca desses contrastes morfolgicos a que corresponde uma huma- nizagao bem distinta “E acidentado o solo, sucedendo-se as pequenas ondulacdes do terreno as colinas, oS cerros € os montes, sseparados uns dos outros, por quebradas e valeiros, onde sussuram as 4guas, caidas das alturas. As cumeadas ou sao revestidas de urzes e de asperos tojas, ou sao toucadas com a rama verdenegra dos pinheiros, Mas tao rica de seiva é toda a terra, que nos lugares em que o machado desbastou o pinhal, vedes logo aparecer a loira verdejante, que iré escorregando pela encosta, até se caser com a farta cultura dos vales. Aos soutos de cas- tanheiros de carcomido tronco, e aos pinhais e carvalhedos, seque-se, aqui, 0 rico plaino animado pelo ribeiro @ pelo moinho ruidoso; al, a vinha a esprequicar-se na encosta; mais acima, e longe, e perto, a oliveira, S40 tristes as aldeias, porque o granito beirdo, mal desbastado enegrecido, Ihes dé a cor do luto” (Silva Gaio, citado por Santa-Ritta, 1982), ‘Apesar das especificidades traduzidas por cada uma das unidades de paisagem integradas neste orupo, hd uma identidade comum associada a Beira Alta: a presenca constante dos povoamentos fiorestais; a prevaléncia das cores verdes durante todo © ano; as manchas agricolas constituidas por mosaico de pequeras parcelas, onde se cult a vinha, 0 mitho, 0s cereais de sequeiro, a batata, as arvores de fruto ou onde se instalam os pastos vicosos; ‘os muros de pedra, as oliveras efou 0s cordées de vinha a compartimentar os campos; os espigueiros; as linhas de agua acompanhadas por galerias de arvores frondosas. No essencial, sao estes usos, juntamente com os numerosos valores do patriménio arquitectonico e com a profusdo de novas edificacoes dispersas (2s “casas dos erigrantes”)} que definem o cardcter da Beira Alta Apesar destes tracos comuns, no deixa de ser uma paisagem de contrastes, entre os elevados e sélidos blocos rochosos a que correspondem as serranias, com cures mais dridos e despovoados que acentuam as feicbes do sofrimento de quem vive mais isolado, e as zonas mais baixas, encostas e vales agricolas onde a clima é mais ameno e a terra fértil e humida. Entre estes extremos, os espacos de transicdo - as colinas e encostas mais ou ‘menos pronunciadas- repletas de pinheiros e eucaliptos, em manchas continuas e homogéneas, no raras vezes cakinadas por incéndios dificimente controlaveis. Suporte Biofisico Este grupo de unidades caracteriza-se por apresentar uma relatva diferenciacao climatica, resultado da situacéo eoarafica em que se encontra, entre a faixa ltoral e a zona mais interior do territorio nacional, conjunto, por sua \vez, delimitado por montanhas. No geral, domina aqui um tipo climatico de transicao, correspondent a sua maior penetracdo para o interior do terrt6rio nacional, em que “(... as dias ou periodos francamente atlanticos alter- nam segundo um ritmo bastante caprichoso com os de matiz continental. As terras baxas séo frequentemente jnvadidas por nevooiro persistente. O ar carregado de humiddade que, vindo de oeste durante o aia, ultrapassou 15 primeiros obstéculos do relevo, arrefece durante as noites limpidas; se a temperatura do ponto de orvalho é atingida, uma pelicula de nevoeio enche as largas depressbes abertas a montante das colinas(..) Até & bacia de Celorico,o clima continua bastante hdmido e com contrastes térmicos ndo muito acentuadas, mesmo nas depres- -88e5 topogréficas, gracas aos vérios corredores que interrompem os macicos montanhasos ocidentais.” (Ribeiro, Lautensach e Daveau, 1988). De forma mais circunscrita encontram-se outros tipos climaticos, nomeadamente em Grande parte da unidade “Montes Ocidentais da Beira Alta", em que o clima é maritima da fachada atlantica, ‘aracterizando-se por ja apresentar “(../alguns dias de forte calor ou de frio sensivel, que desaparecern em breve, pela penetracio da brisa do mar no Verdo cu pela chegada de uma massa de ar oceénico. A diferenciacéo tér- ‘mica local & acentuade; as baixas mais abrigadas dos ventos atlnticos apresentam jé um toque climatico cont- ‘rental (..). Este tioo climatico é relativamente chuvoso e caracterizado por forte e persistente nebulosidade.” (idem). Nas serras de Montemuro, Arada, Leomil, Lapa e do Caramulo, 0 cima apresenta caractersticas franca- mente diferentes das regides onde se inscrevem, sendo tais serras marcadas por “(..) forte dissimetria climatica AAs partes mais elevadas apresentam ritmos climSticos afins dos registados nos diversos sopés, com cambiante em gral mais attantica, enquanto os vales mais profundos e abrigados podem exacerbar as aspectos continental, prdprios da regiao onde se situa a serra” (ier), Os valores das médias anus de temperatura e de precipitacéo ilustram, no essancial, as principais diferencas climéticas, ‘A temperatura é superior ao longo dos vales (especialmente Mondego e Do, bem como no Vouga para jusante de Silvares), onde se atingem valores compreendidos entre os 12,5 e 16°; 0s valores mais baixos das temperatures médias idrias encontramse naturalmente nas areas mais altas, de serras e planaltos, com valores entre 7,5 e 12,5°. lnversa- ‘mente, a precipitacdo & maxima nas zonas altas, com valores entre 1400 e um pouco superiores a 2000 mm (estes vvalores mais elevados ocorrem nas setras do Caramulo, da Freita 2 Arada, de Montemuro), @ minima ao longo dos principais vales e na zona do planalto, com valores compreendidos entre 0s 800 e 1400 men ‘As variacdes altimeétricas s8o significativas, resultado da presenca das serras id referidas, com altitudes compreen- didas entre 05 600 e un pouco mais que 1000 m (com excepcéo da serra do Bucaco que 6 atinge cerca de 550 m, eda serra de Montemuro que quase chega aos 1400 m). No sopé dos “Montes ocidentais",jé na transicao para 2 Beira Litoral e 20 longo dos principasvales, as altitudes baixam para poente até cerca dos 100 m, enquanto {que no restante terrtério daminam as compreendidas entre 200 e 600 m. Este grupo de unidades inclui-se no Macigo Antigo, dominando os granitos calco aalinos, com excepéo de situa ‘Sbes mais circunscritas: junta ao limite norte do conjunto, grenitos alcalins; a sul, rochas sedimentares xisto-grau- Waquicas bem como pequenas inirusées de rochas predominantemente detriticas; na extremidade ocidental, rochas sedimentares xisto-grauvaquicas com granitos alcalinos. Dominam neste grupo de unidades de paisagem os solos litdicos, sendo possivel separar entre: ~ Zonas mais acidentadas (incluindo as serras) a poente (xistos) e norte (granitos), em que esto fortemente repre- sentados 0s solos litélices hdmicas, em parte fase delgada, sendo ainda muita significativos os afloramentos rochasos ou as litossalos, ~ Zonas de granitos, relativamente menos acidentadas, em que dominam os solos litélicos himicos e nao humi- ‘cos; mesmo aqui, $40 frequentes as fases delgadas daqueles solos, assim como os afloramentos rochosos. ‘Aceste conjunto corresponde a zona de predominancia natural do Quercus robur (carvalho roble) e do Quercus pyrenaica (carvalho negral Humanizacao © uso solo dominante corresponde & presenca dos sistemas florestais, actualmente dominados por povoamentos de eucalipto, depois de sucessivas incéndias teem destruldo grande parte dos pinhais que foram senda semeados & plantados de forma sistematica a partir dos anos quarenta e cinquenta do século XX. Esta enorme e relativamente recente expansio das areas florestadas implicou, primeiro, a reducao das superficies de pastagens (principalmente baldios) e, num segundo tempo, a ocupacao de areas agricolas que perderam interesse devido a0 somatétio de um Conjunto de circunsténcias ~ a destruicao do sistema agro-pastoril tradicional por efeitos da campanhas de florestacao, " 12 conduzidas pelos servigos do Estado, @ reduzida dimensio das parcelas ¢ a falta de condicées de vida condigna nas pequenas povoacées isoladas em zonas de dificil acessblidade, Nas zonas baixas e mais humidas, continua a prati- carse uma policultura de regadio em parcelas de reduzida dimensdo; estas contactam com a base das encostas envolventes, onde s6 a vinha e alguns antigos socalcos ainda regados disputam espaco ocuoado pelas matas. © povoamento & dominantemente aglomerado, observando-se alguma dstincao na parte sul do canjunto, designa- damente na unidade Dao e Médio Mondego e parte sul da unidade Montes Ocidentais da Beira, onde surge um. ovoamento aglomerado com disperséo intercalar ou mesmo uma disperséo ordenada Quanto & esirutura das exploragdes agricolas, esta apresenta-se no grupo de unidades de paisagem bastante tniforme, dominanda claramente as exploracdes com dimensao compreendida entre 1 e 4 hectares, tendo ainda alguma expressao as que envolvem superfcies entre 4 10 hectares. Na zona mais a nascente, jé na transiqSo para a Beira Transmontana, esto itidamente mais bem representadas as exploracdes com dreas entre 0s 4 e 0s 20 hectares. Relativamente as estruturese infraestrutures que se encontram presentes neste grupo de unidades de paisagem € 85 quais se associam impactes negativos signifcativos, ha que destacar a rede viria principal (P3, IPS, IC5 e IC12), grande parte delas em construcao ou remodelacéo, Este grupo de unidades ndo inclui actualmente nenhuma érea protegida, apesar de conter valores naturais signi- ficativos, 0 que justificou a inclusdo na Lista Nacional de um conjunto de Sitios da Rede Natura 2000 que, total u parcialmente, abrangem superficies do que se convencionou designar por Beira Alta (Sitios de Monteruro, Ria Paiva, Serra da Freita e Arada, Rio Vouga e Carregal do Sal). Quanto ao patriménio ediicado presente, salienta-se: = 0 caso impar da cidade de Viseu; =O grande niimero de conjuntos urbanos, com caractersticas muito diversas mas todos com um claro interesse patrimonial - Albergaria-a-Velha, Aguiar da Beira, Av6, Castro Daire, Celorico da Beira, Coja, Fornas de Algo- Gres, Trancoso, Lamego, Miranda do Con, Moimenta da Beira, Oliveira do Hospital, Penacova, Penalva do Cas telo, Penedono, Santar, Sernacelhe, S. Pedro do Sul, Tancoso e Tarouca, entre outros; ~0s numerosos valores singulares disseminados por todo 0 grupo de unidades, de que se podem referir como exemplificativos 05 mosteitos do Lorvao, de S. J0B0 de Tarouca e de Saizedas; 0 santuario de N° Sr* da Lapa; a mata do Bussaco; 2 casa da Insua (Penalva do Castelo) a pontectorre da Ucanha, bem como de muitos outros elementos mais ou menos isoladas como € o caso de pelourinhos, capelas eigrejas, torres e castelos, casas solarengas, estruturas arqueolégicas, etc. =A ocorréncia de um numero imenso de construcdes vernaculares, de que se destacam as pontes, poldrase acudes os lagares e mainhos de ague, os espigueiros, 0s muros e fontanarios BAIXO PAIVA 8 es a cs fa Cy 8 Localizagéo Geografica Unidade(s) Administrativa(s) Principais Centros Urbanos ‘Area aproximada Baixo Paiva Beira Alta ‘Arouca 400 Kr Caracter da Paisagem “As estradas parecem caminhos de quinta, de 130 estreitas e maneirinhas. Para um lado e para o outro, extensas matas de corte, quase sempre eucaliptos, a que feliz- mente a chuva e a humidade geral da atmosfera apagaram a lvidez mortuéria que 2 rvore castuma ter em tema seco” (Saramago, 1981). Esta unidade de paisagem inclui 0 traco final do vale do. Paiva, sobressaindo um relevo vigoroso, extensas encostas muito declivasas, vales fundos e estreltos (Foto 1), sendo constante a abundancia de agua. Aqui 2 floresta de producao é claramente dominante, enquanto as reas agricolas, em socalcos ou nos vales mais abertos, se reduzem a pequenas manchas pouco significativas. As encostas encontram-se cobertas por extersas matas de eucalipto, intercaladas pontualmente por algunas manchas de pinheira bravo. Os eucaliptos cobrem irequentemente as encostas desde a cumeada até quase & linha de Agua, conferindo a paisagem uma enorme monotonia, apesar da imponéncia do relevo e da vastidao de horizontes que se dominam 2 partir de pontos elevadios (Foto 3). A presenca de outras espécies arbo- reas como os carvalhos ¢ insignificante. Quando 0 observador se encontra mais préximo do vale, a paisagem é fechada e quase opressora na sua monotonia, 16 Pontos e linhas panoramicas Outras Particularidades ‘Aqui e além surge pequenos povoados, localizados junto aos vales, em especial quando estes s30 um pouco mais largos. Estes povoados séo humiides e um pouco desorganizados, com edkfiios tradcionais e outros mais recentes, na sua maior parte construidos nas ltimas décadas por emigrantes. Os povoados mais importantes encontram-se na confluéncia de estradas e, comparativamente com 05 mais isolados, apresentart-se com sinais de alguma actividad econémica ao nivel do comércio e ser- \icos (presenca de cafés, de um ou outro restaurante, oficinas, pequeno comércio, etc) Em volta dos povoacos dispense areas agricolas de dimensbes variadas, conforrne as condigbes morfoldgicas ea dimensao da propria aglomeracdo. Estas manchas agrico- las desenvolver-se frequentemente em socalcos, também com dimensoes e formes variadas (Fotos 2 e 4). S6 nestas envolventes das adelas se verificam usos mais diversi- ficados, constituindo mosaicos com uma grande riqueza de cor, texturas e formas. Esta unidade de paisagem corresponde a uma baixa densidade populacional ja antiga; 0 inctemento da florestacdo nas éltimas décadas é, em simultneo, @ con- sequércia e a razao pare ta desertificacéo humana, Pelas pequenas estrads inuosas podem percorrerse hoje muitos quilimetros sem que se avstem pessoas, construcdes, 6u sinais de actividade humana em curso ~ embora as plantacdes de eucaliptos Ae constituam, sem divide, o sinal de uma forte intervencéo. Caracterizacao Particular = Senhora da Md, alto do Regoufe, — Planalto da Freita em Arouca. ~ Senhora da M6, proximo de Arouce. Apasar da dominante homogeneidade de usos florestais, existem valores naturais ‘que justificaram a incluséo de uma parte desta unidade de paisagem em dois Sitios dda Rede Natura 2000 (ICN, 1996): Incidéncia de figuras de ordena- mento do territério e/ou conser- vacao da natureza Diagnéstico e orientacoes para a gestao ~ Sitio “Rio Paiva”, com seis habitats naturais, em que se destacam os carvalhis ortugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica e as florestas aluviais de ‘Alnus glutinasa Fraxinus excelsior, asim como a presenca de espécies interes santes da fauna (lontra, toupeira-de-dgua, lagarto-de-agua, ete.) Sitio "Serras da Freita e Arada”, com 11 habitats naturals, tendo especial signi- ficado na franja que se scbrepée com esta unidade de paisagem, os habitats acima referidos para o Sitio “Rio Paiva" Produtos classificados como de qualidade pelo Ministério da Agricultura: Carne Arouquesa, Vitela de Lafoes, Cabrito da Gralheira. Vinhos com Denominacao de Origem Controlada dos Vinhos Verdes e cam Indicacao de Proveniéncia Regula- mentada de Lafoes. Ordenamento, diagnéstico e gestao da Paisagem = PDM dos concelhos de Arouca, Feira, Gondomar, Castelo de Paiva, Cinfées, Cas- tro Daire e Sao Pedro do Sul ~ Sitio Natura 2000 do Rio Paiva ~ Sitio Natura 2000 das Serras da Freita e Arada. — Plano Regional de Ordenamento do Territério da Zona Envolvente do Douro. Esta é uma unidade de paisagem com reduzida identidade devido a simplificacao @ perda de diversidade correspondente a florestacéo sisterntica e uniforme, 0 usos florestais dominantes (eucaliptais) s80 em grande parte demasiado homo- ‘géneos, nao exprimindo a variedade de situacoes biofisicas presentes e empobre- endo 0 padrao basico da paisagem, 0 que levanta problemas de sustentabilidade e de estabilidade, AA referida simplificagao conduz também a um empobrecimento em termos de bio- diversidade, apesar de se verificar, principalmente ao longo do vale do Paiva, a ocorréncia de habitats naturais com elevado interesse para a conservacao. 18 Nao se trata aqui de paisagens raras, existindo nas grandes manchas florestais do centro do Pais algumas paisagens com caracteristicas semelhantes, embora com tum relevo menos pronunciado. ‘A morfologia do terreno impressiona pela sua imponéncia mas, por outro lado, a ‘monotonia do coberto florestal faz com que prevaleca a sensacao de falta de inte- resse devido a repeticdo constante do mesmo padrao em espacos infindaveis, ‘A gestio desta unidade de paisagem deveria ser orientada no sentido de conservar e valorizar a vegetacao tibeirinha, de promover um reordenamento fiorestal, de incentivar os sistemas agro-pastoris tradicionais (com as necessarias adaptacoes as necessidades e exigéncias das sociedades actuais), de manter as estruturas tradicio- nais de suporte das margens de ribeiros e lameiros (muros de pedra solta) (CN, 1996). Este tipo de actuacdes exigira, em simulténeo, medidas mais complexas que ‘apoiem a manutenc3o da populacao activa SERRA DE MONTEMURO LOU oC ants Localizacao Geogréfica Unidade(s) Administrativa(s) Principais Centros Urbanos Area aproximada Serra de Montemuro Beira Alte 350 Km Caracter da Paisagem “0 relevo favorece o estabelecimento humano até grande altitude. A serra é grax nitica e ingreme por todos os lados, cortada pelos afluentes do Douro que a enta- ham com vigorasa eroséo, penetrando um deles, 0 Bestanca, por um belo vale de fracture, direto e fundo como uma cutilada, até ao amago da area alta: acima de Imil metros, porem, desenvolve-se um conjunto de formas doces, restos de uma superficie Soerguida por onde os ribeiros correm, a0 165 do solo, em vales argos, de maturidade perfeita, antes de se precipitarem nos flancos abruptos, a caminho dos vales recentes do sistema do Douro. O terreno ¢ assim liso ou frouxamente condulado €, apesar de grandes surgéncias de granito, a alteracSo penetrou fundo « originou um solo espesso, solto fiesco, que se presta bem as culturas de mon tana, Toda a serra fica abaixo do limite superior da agricuttura regular e 0 ponto ‘culminante, 0 Talegre (1382 m, esté rodeado de campos ou restolhos de centeio, (.) Grandes aldeias compactas, com seus ambitos de campos € pastos, sobem até 1100 m de altitude. As casas so bern acabadas, de pedra aparethads, com dispo- sitivas para proteger a cobertura de colmo” (Ribeiro, 1993). 2 2 ‘A serra cortesponde a um dspero e frio macico granitico, onde ¢ facil sentir-se o ‘tempo recuar e onde tudo perece estar envolvido num imenso mistéro, ‘Apesar de pouco povoada, uma grande parte da serra indicia formas claras de hhumanizacao, em que a ciiagao de gado bovino tem um forte papel, tanto na eco- rnomia como na cultura local, de que s80 exemplo as animadas feiras de gado ainda frequentes. A agricultura, por sua vez, assume formas bastante elaboradas, tanto pela sua necesséria adaptacao os invernos rigorasos, como ao relevo; surgem extensas encastas moldadas em socalcos, de onde ressalta um verde vicoso que deixa adivinhar 0s elevados valores de precipitacdo. Mesmo quando néo existem socalcos, 0 sistema de compartimentac3o dos campos ¢ frequente e constituido por muros e sebes arbdreas (Foto 3 e 4), As areas de matas e matos no sdo muito signficativas, resumindo-se as encostas mais ingremes, rochosas e longe dos povoados, contrastando bastante com as reas abertas, tanto pela textura, mais densa, como pela cor, mais escura, que imprimem & paisagem. ‘A ctiagao de gado, tanto gravido como mitido, justifica a presenca de sistemas pastors que s20 indissociaveis do cardcter das paisagens de Montemuro (Foto 1) 05 lameiros, as pastagens de altitude, as canadas (“caminhos murados entre campos de cultura © que serpenteavam serra acima, ligando 0s povoadas 20 *monte”..)" ~ Abreu e Fernandes, 94), Também a transumancia constitui uma tradicao antige, em que os gados vinham dos planaltos de Nelas, Mangualde € Oliveira do Hospital; actualmente estas movimentacdes de gado jd ndo tem expresso, o que se repercute na perda de uma parte da identidade da serra de Montemuro. Contudo, 8 passagem das mulheres de “cepucha” e dos homens com velhos cha- ppéus de abas, embrenhados pelo nevoeio, ¢ possvel imaginar outros tempos em que as acessiblidades seriam ainda significativamente mais dificeis e os agrestes invernos mais desconfortéveis, o que justificou, pelo menos em parte, que a serra de Montemuro conservasse certos costumes comunitarios Pontos e linhas panoramicas Outras Particularidades Incidencia de figuras de ordena- mento do territorio e/ou conser- vacgo da natureza Caracterizacao Particular = Senhora da M6, alto do Regoufe ~ Planalto da Freita em Arouca. As especficidades destas palsagens incluer tanto elementos naturals como culturais de grande interesse, o que justiica a incluso desta Serra na Lista Nacional de Sitios (Rede Natura 2000), quase coincidente com a drea desta unidade. A justif- ‘agio para esta inclusao tem a ver com a presenca de: Dezassels habitats naturais, com destaque para 4 prioritrios ~ “Chamecas huimidas atianticas meridionais de Erica ciliaris ¢ Erica tetraix; Subestepes de graminias © anuais (Thero-Brachypadietea): Formacdes herbaceas de Naros com riqueza de especies, em substractos sifciosos das zonas montanhasas’ Turfeias altas activas” (ICN, 1996), Sete espécies de fauna constantes na Directiva "Habitats", sendo de realar a lontra, © lobo, a salamandra-lusiténica e o lagarto-de-Agua (idem). Os produtos classificadios como de qualidade pelo Ministerio da Agricultura que mais se relacionam com a paisagem so: Carne Arouquesa, Cabrito da Gralheira, Maca da Beira Alta, Maca Bravo de Esmolfe, Castanha dos Soutos da Lapa. Vinho com Denominacéo de Origem Controlada dos Vinhos Verdes. Ordenamento, diagnéstico e gestao da Paisagem PDM dos concelhos de Cinfaes, Resende, Lamego, Castro Daire e Arouca ~ Sitio Natura 2000 da Serra de Montemuro ~ Plano Regional de Ordenamento do Territério da Zona Envolvente do Douro. 24 Diagnéstico @ orientagdes para a gestio Unidade de paisagemn com dara identidade, expressa através de um carécter forte, rude e agreste que condicionou as formas de vida e manteve até aos nossos dias cos- ‘umes € tracig6es pouro frequents noutros locas do pais. Trata-se de paisagens gouco vulgares, assemelhando-se apenas a algunas das serranias mais isoladas do noroeste (Serra da Peneda ou Serra do Barroso) ‘A “riqueze biolégica” pode considerar-se média a alta: “Sitio de boa qualidade em relacio aos Habitats Naturas(..). Serta com éreas bem conservadas, que mantém uma grande biodiversicade, (ICN, 1986). Esta é uma unidade de paisagem que provoca sensacdes fortes mas, consoante a sen- sibilidade de quem dela usufrui, pode ser apredadi pela sua beleza e "pureza”, ou tornar-se desconfortavel por ser solitaria, agreste © remote, Em termos de orientacbes para a gestao desta unidad, so de considerar as medidas previstas para o Sitio Natura 2000 "Serra de Montemuro”, desigradamente: ‘Conservar as manchas florestais naturais, nomeadamente as que constituem importantes locais de abrigo da fauna; = Implementar um sistema de prevencio, vigilancia e combate de incéndios Horestais: (..) ~ Proteger as linhas de dgua (..) através da interdicéo do corte da vegetacao ribeirinna; (..) —Manter e incentivar as actividades agro pastoris tradicionais; ~Manter a diversidade paisagistica, nomeadamente através da manutencao do ‘mosaico de uso tradicional da regio; = Manter as estruturas tracicionais de suporte das margens de ribelros e lameios (muros de pedra sotta);(.)" (ICN, 1986). POMARES DE LAMEGO E MOIMENTA DA BEIRA AOS Sob 000 osz = b oooosrsaev 95 sve sepevsp.003 we6esteg ap sopepiun ‘BE woSested 9p epepiun Pre eter) Ceci ey Mull LSel Pomares de Lamego e Moimenta da Beira LocalizagSo Geogrstica Beira Ata Unidade(s) Administrativa(s) Parte dos conclhos do Lamego,Troucs, Ammar, Moimenta da Bir Principais Centros Urbanos Trouca © tamego Area aproximada 200 kn? == Caracter da Paisagem Esta unidade de paisagem apresenta-se rodeada por relevos mais altos a oeste (serra de Montemuro), a sul (serra de Leomil) ea leste (planalto de Penedono), dife- renciando-se deles também devido 20 dominio de encostas mais suaves, A parte inferior destas encostas e 0s vales mais ou menos largos esto ocupados por um mosaico agricola diversificado onde predominam as fruteiras (Foto 1) Trata-se de uma paisagem com grande riqueza cromatica e textural, que exprime fertilidade, abundancia de gua, um uso intensivo e cuidadoso (Foto 2). O verde dominante sofre inimeras mutacées ao longo do ano, associadas sobretudo acs Ciclos vegetativos das varias espécies de drvores. € muito marcado o contraste des- tas paisagens, suaves e fortemente humanizadas, com as paisagens mais agrestes das serras envolventes. Em relacao 20 vale do Douro, a norte, esta unidade distin- ue-se pelo relevo mais suave e pela domingncia dara dos pomares de fruto, enguanto naquele troco do Douro predornina a vinha, “0 sitio @ duma beleza suavissima, sucedem-se as cortinas de érvores, por toda a parte se esgueiram estreitos camintios, & como se @ paisagem fosse feita de suces- sivas transparéncias, mutévels 4 medida que o viajante se desloca. E assim serd em todo este percurso de pé-coxinho que o levaré a Ucanha, a Salzedas, a Tarouca @ a S.Jo80 de Tarouca, sem alivida alguma uma das belas regiGes que 0 viajante tem encontrado, por todo um equilibrio raro, de espaco e cultivo, de habitagso de homens # morada natural” (Saramago 1981). ‘As parcelas agricolas de dimensdes variadas, alternam com areas florestais foto 3), tanto manchas monoespecificas de pinheiros ou eucaliptes, como matas mais diversificadas, onde é frequente 0 castanheiro. O uso agricola sobe ao longo das encostas quando nestas se mantém o declive suave. No caso em que as encostas se encontram a maiores altitudes ou so mais declivosas, a sua parte superior fencontra-se maioritariamente ocupada por matas e matos, Nas baixas, as parcelas dde pomar (macieras, pereras, pessequeiros, cerejeiras, entre outras) alternarn com horticolas, algumas pastagens ou cereais, tendo o conjunto um aspecto cuidado e de correcto aproveitamento dos recursos existentes. As arvores ao longo dos lii- tes das parcelas so frequentes, tal coma ao longo das estradas e caminhos. O sabugueiro surge frequentemente nesta situacéo. Esta rede de vegetacao arborea 6 ainda completada por alqumas galerias ripicolas, de dimensdo e composi¢ao vari- adas, a0 longo das linhas de agua. © povoamento ¢ aqui elativamente denso e, em simultaneo, disperso, sendo os aglo- Be merados pouco contidos. As habitacoes, armazéns, pequenas oficnas e indistrias, 27 28 Outras Particularidades S20 frequentes ao longo das vas de comunicacdo. As habitacbes pontuem o espago aaricole, 0 que confere a paisagem, de certa forma, um aspecto desordenado. Caracterizacao Particular ‘Ainda que se verifique uma generalizada e forte humanizacao nesta unidade de paisagem, a poente, em altitudes superioras a 800 m, abrange uma parte do Sitio Natura 2000 “Serra de Montemuro” (veja-se unidade 37). 05 produtos classficados como de qualidade pelo Ministério da Agricultura que mais se identificam com a paisagem so: Care Arouquesa, Maca da Beira Alta Maca Bravo de Esmolfe, Castanha dos Soutos da Lapa. Vinhos com Denominac&o ce Origem Controlada dos Vinhos Verdes e com Indicacao de Proveniéncia Regu- lamentade de Varosa. Ordenamento, diagnéstico e gestao da Paisagem Incidéncia de figuras de ordena- — PDM dos concelhos de Lamego, Tarouca, Armamar, Moimenta da Beira mento do territerio e/ou conser- — Sitio Natura 2000 da Serra de Montemuro. vagéo da natureza = Plano Regional de Ordenamento do Terrtério da Zona Envolvente do Douro. Diagnéstico e orientagdes para Esta é uma unidade com identidade mécia a elevada, estreitamente associada a0 a gestao caracter que a diferencia das unidades de paisagem envolventes, 05 usos predominanternente agricolas, baseados em culturas permanentes, corres- pondem no geral a um cortecto aproveitamento dos recursos natura. A dspersdo mais recente da construcao tem impactes negativos, também em termos do adensamento da rede de caminhos e outras infra-estruturas. A “riqueza biolégica” seré aqui média, devido a diversidade do mosaico agricola, & sua alternancia com manchas florestais € & ocupaco da parte superior das encos- {as por matas e matos. Esta é uma unidade de paisagem relativamente rara pela concentragio de diversos tipos de pomares. A sensacéo predominante serd de riqueza e diversidade, o que conferird 3 estas paisagens interesse e atreccfo. ‘A diversidace do mosaico agricola, induindo a abundancia e variedade de pomares, ter condigdes socio-econémicas para se manter. Por outro lado, a dispersdo de cconstrucées no espaco rural terd tendéncia para ir aumentando, o que tem um impacte negativo no equillbrio e funcionalidade desta paisagem. Sera por isso ecessario um controlo mais cuidado desta expansao Gas construcoes e respec- Be tivos acessos. PLANALTO DE PENEDONO 000 osz : L CTT Ce ots) Beers Localizacao Geografica Unidade(s) Administrativa(s) Principais Centros Urbanos Area aproximada Planalto de Penedono Parte dos concelhos de Armamar,Tabuaco, S50 Joo da Pesqueia, Penedono, Meda, Trancoso, Aguiar da Beira, Sernancelhe Penedono, Meda e Sernancelhe 630 km? Caracter da Paisagem “Deslumbramento seria a palavre, se ndo fosse téo pouca. afinal todas as seriam para dizer destes montes ¢ socacos 0 inexprimivel, da suavidadle e da transparéncia do ar e, depois de Paco, quando a estrada comeca a aoroximar- se do fio Tavora, 0 que Se vai vendo das abruptas encostas cobertas de mato, onde irrompem espigdes rochosos, ¢ na Granjinha fica 0 viajante desnarteado, porque 0 nome Séo Pedro das Aquias estava-lhe sugerindo alturas onde équias vivern, e afinal eis uma descida que parece nao ter fim, fundo, cada vez mais fundo, atravessando pequenos povoados, vai o viajante aturdido com tanta beleza, e quando enfim para ouve no grande siléncio o rumor das éguas invisi- veis correndo sobre as pedras, e aliadiante est, enfim, a Capela de Séo Pedro.” (aramago 1981), A paisager nesta unidade € sobretudo marcada pelas grandes extensdes de um ondulado geralmente suave, @ ume altitude relativamente elevade (superior a 600 ou mesmo a 800 metros), originando vistas largas e abertas, donde se alcangam sucessivas linhas no horizonte, Estas caracteristicas morfologicas de planalto e de grande abertura de vistas, associadas a um povoamento relativa- mente esparso, déo origem a uma paisagem desabrigada, exposta, por vezes uase inéspita Os usos alternam entre pastagens ¢ alguns campos semeados, eventualmente com forragens, nas areas mais baixas e aplanadas, e um mosaico de matas @ atos nas encostas mais declivosas e nas zonas mais altas. Este padréo de uso ‘tem 0 efeito de realcar 0 ondulado do relevo. Algumas manchas de mato sur- gem também em anteriores parcelas agricolas, actualmente abandonadas. Os solos s40 relativamente pobres, pouco espessos, ocorrendo com frequéncia _tloramentos rachosos, sobretudo associados as encostas e reas mais elevadas. Os campos agricolas s0 abertos, sem compartimentacdo por sebes ou muros, © que reforca a sensacéo de abertura da paisagem. O povoamento é concen- trado em algumas aldeias e pequenos centros, de forma contida, localizados maioritariamente em pontos altos que dominam o planalto. A volta destes aglo- merados surge um mosaico policultural, contrastante com 0 uso mais homogéneo @ extensivo do resto da unidade, Nao se pode dizer que se trate aqui de um s6 planalto, mas antes de uma sucesso de zanas altas, nalguns casos relativamente planas, noutros mais onduladas, dando a0 conjunto uma leitura de planalto, Estas formas relativamente suaves so inter- rompidas por vales, alguns com um encaixe muito bem marcado (Foto 1). E 0 caso do vale do rio Tavore, muito encaixado, entre vertentes escarpadas e afloramentos 31 32 rochosos de grandes dimens6es ou, ainda que menos expressivo, o vale da ribeira de Teja. Para além dos afloramentos rachosos, as vertentes destes e doutias vales de menor importancia, encontram-se sobretudo cobertas por matos densos e di- versificados. Em algumas partes do vale encontram-se sacalcos, mas muitos deles estéo hoje abendonades. Domina uma baiva densidade populacional. Para além dos aglomerados evxistentes, 2 populacao distribui-se no espaco rural de forma muito dispersa e pouco visivel, fo que confere um caracter despovoado & paisagem. Elementos singulares Pontos e linhas panormicas utras Particularidades Incidéncia de figuras de ordena- ‘mento do territorio e/ou const vagao da natureza Diagnéstico e orientacées para a gestao Caracterizacao Particular Albufeira de Vilar (rio Tévara) ~ Sao Dorningos da Queimads. — Alto da Senhora da Graca. ~ Cascata da Misarela Alto do Monte Bom (sobre 0 Douro), ern Armamar. ~ Estrada de Cavdes em Tabuaco. = Castelo de Penedono, = Miradouro de N° Sr? de Tabuaco (Junto a Tabuaco). Produtos lassificados como de qualidade pelo Ministéio da Aaricuitura: Azeite da Beira ‘Ata, Cabrito da Beir, Borrego Terrincho, Borrego da Beira, Maca da Beira Alta, MacS Bravo de Esmolfe, Castanha dos Soutos da Lapa, Améndoa Douro, Mel da Terra Quente € Queijo Terrincho. Vinhos com DenominacSo de Origem Controlada do Porto © Douro © com indicacéo de Proveniéncia Regulamentada de Encostas da Nave e de Pinel Ordenamento, diagnéstico e gestéo da Paisagem =PDM des concelhos de Armamar, Tabuaco, Sé0 Jodo da Pesqueira, Penedono, Meda, Trancoso, Aguiar da Beira, Seinancelhe. Plano Regional de Ordenamento do Territorio da Zona Envolvente do Douro. sta unidade de paisagem apresenta-se com uma identidade baixa a média, em parte como resultado da baixa densidade populacional deste conjunto planaitico e inexisténcia de elementos que transmitam informaggo sobre a histéria dos seus sos, sobre as actividades e comunidades humanas que foram moldendo estas pa sagens ao longo do temoo. ( usos actuals parecem ser adequados aos recursos presentes, nao se detectando sinais de desequilibrio funcional ou ecolégico. Verifica-se, como em muitas outras Unidades de paisagem, uma clara tendéncia para uma maior extensificacdo dos sos agricolas e florestais e mesmo para um crescente abandono dos campos, 0 {ue poderd vir a originar paisagens com maior fragilidade e com reducao da sua actual capacidade multituncional © padrao relativamente simples e homogéneo da paisagem nas reas plansticas 1n80 indica condicBes para uma elevada “riqueza biolbgica™, embora o contraste com as condic6es especials dos vales encaixados possa ter algum papel positive nesse sentido. Nao se encontram referéncias a valores naturais com particular in- teresse em termos de consenvacéo. ‘As sensagbes dominantes nesta unidade de paisagem serao certamente de des- compressao, de grande profundidade com horizontes baixos e ondulados, de tran- quilidade e grandeza, mas também, de certa agressividade e descontorto. © progressive abandono do uso agricola no planalto pode levar a uma excessiva simplificacao da paisagem, que tendera a tornar-se prooressivamente mais fechada devido ao avanco das matas, Deveria também encarar-se a introducao de uma rede de compartimentacdo nas areas mais abertas, de forma a ameniza-las em termos climaticos e valorizar a biodiversidade presente 3 34 De forma a manter a diversidade e a necesséria presenca humana, sera importante contrariar aquele abandono através de medidas que permitam criar melhores condicoes de vida. A presenca de urn notével patriménio construido, disseminado tum pouco por toda a unidade de paisagem (nomeadamente em Penedono, Serna- celhe, Moimenta da Beira e suas envolventes), poderd viebilizer actividades ainda pouco exploradas, SERRA DA ARADA M8 60 £0.08 Localizacao Geogratfica Unidade(s) Administrativa(s) Principais Centros Urbanos Area aproximada Serra da Arada Beira Alta vy Parte des concethos de Vale de Cambra, Arouca, $80 Pedro do Sul 260 Km Caracter da Paisagem “(J paisagem tao diferente, rida, outra vez barrocos, 0 mato bravio, 0 asso cin- zento da montanha posto @ vista, Em meia dizia de quildmetros ficou mudada face do mundo’. (Saramago, 1981) fsta unidade de paisagem inclu a Serre da Arada e a Serra da Freite, destacando- -se neste conjunto a forma imponente do seu relevo, tanto pela altitude como ppelo abrupto das encostas que rapidamente se elevam até acima dos 1000 m (1053 m e 1071 mj (Foto 3). O substracto, ora granttico ora xistoso, surge fre- quentemente & superficie, em imponentes blocos rochosos ou escarpas abruptas. Mantém-se aqui a abundancia de agua que caracteriza a Beira Alta, sendo fre- uertes nestas serras 0s ros eribelos que, por vezes, d2o origem a impressionantes quedas de gua. “Da porcio peniplanéitica central saem ramifcecées que v8o perdendo attitude, separadas pelo complicado recorte @ entalhe de numerosas ribeias de dlsposiclo centrifuga em relacdo a0 nticleo centr, apresentando plainos em sucessivos cdegraus ou lombas que se vo esbatendo para menores altitudes. Estes plainas tém 7 38 as co nome de rechas. Algumas so aproveitadas para a agricultura; outras, mais ele- vedas, 380 usadas pare pastagens e lameiras, ou esto simplesmente cobertas de ‘maio com incipiente cobertura arbustva, ou em vias de florestemento. (.) Mas as encostas da Serra da Freita nem sempre apresentam 0 perfil adocado. Nao raro, converter-se localmente em sibitos e profundos despenhadetros de que a Miza- rela ou Mijarela 6 o mais conhecido; através dele as Aguas do rio Caima jorram pela “frecha" numa queda fie de quase 100 m. Ainda sobranceiros a este rio da encosta meridionel salientam-se os casarios da Franqueira e Castanbeira e as suas leiras adjacenies, suspensos a mais de 100 ou 150 m. Caso semelhante acontece nna encosta norte, junto da Malhada, Detrelo da Malhada, Radar © Senhora da Lage." (Moura, 2001) A partir dos vales e até a0s 600 ~ 800 m, as encostas encontram-se cobertas por atas, frequentemente eucaliptos; na parte superior das encostas e cabecos, 0 que domina sao 0s afloramentos rochasos e um manto vegetal continuo domi- nado por espécies arbustivas e herbaceas rasteiras, com uma composicao florstica muito diversificada (Fotos 2 e 5). ‘As paisagens desta unidade sao impressionantes: vistas do exterior, as serras apre- sentam se “(..) com um porte compacto e altaneiro que a distancia esbate em ‘magnificos tons arraxeados." (Moura, 2001); do seu interior, a partir dos pontos mais altos, dominam-se horizontes vastissimos, ern todas as direccGes, para além das extens6es abruptas e descarnadas da prépria serra (Foto 4). A apreciacao des- tas paisagens é favorecida por uma rede bastante densa de caminhos, que apesar do vigor do relevo, se estende mesmo até as cumeadas. Quando se descem as encastas parece que se mergulha em vales profundissimos, fechados onde, na maior parte dos casos domina a floresta, ‘A envolvente das serras é, evidentemente, caracterizada por uma maior suavidade e, também, por um uso agricola nos socalcos ou nas areas mais planas e fundo dos Vales (Foto'1). Al surge 0 mosaico agricola caracterstico da Beira Alta, com diver- sidade de culturas (vinhas, olivais e pomares), apoiado na abundancia de agua e fem muito esforgo humano. Ambas as serra apresentam um povoamento diferenciado: = na sua base, junto dos vales dos principais rivets, povoamento “f..) essenciak _mente disperso, com grande abundancia de lugares, casais ou simples casas, dis- seminados entre campos de cultura bem delimitados (. ~ 8 medida que se vEo remontando os vales(.. 0 caracteristco povoamento als- perso vai perdendo a sua intensidade para, pouco a pouca, cede lugar 8 ten- dencia agrupada, com lugares povoados cada vez mais dstintos (..) subindo polos vales, especialmente os mais abrigads, chegando a atingir a cota dos 800 metros (..)"(Moure, 2001). ‘Acestas aldeias @ maior altitude esta associada uma actividade pastoril, beseada ras pastagens naturals das encostas nao florestadas, ou na sua parte superior, conde domina 0 mato. A tendéncia geral é, no entanto, no sentido de uma perda continua de populacao, 0 que se compreende bem pelo isolamento a que esto suieitas, ainda hoje, estas aldeias. Ao longo des dltimas décedas alguns pequenos agiomerados tm vindo a ser totalmente abandonados, enquanto que noutros, a cotas mals baixas, se tem vindo a aplicar poupancas de emigrantes em novas construcoes. Elementos singulares Pontos e linhas panoramicas COutras Particularidades Incidéncia de figuras de ordena- mento do territério e/ou conser- vagao da natureza Diagnéstico e orientacbes para a ‘gestao Caracterizacao Particular Aldeia de Pena, cortespondendo a um pequeno aglomerado de casas de pedra e com telhados de lousa, actualmente so com 3 habitantes, no fundo de um vale, ‘A.sua envolvente mantém 0 tradicional aproveitamento agricola e, no seu conjunto, parece constituir uma peca de museu nesta paisagem um pouco insélita, A grande maioria das estradas ou caminhos florestais que se desenvolvem ao longo das linhas de maior altitude constituem boas oportunidades para desfrutar de grandes panoramicas. Tem-se vindo 2 assist “(..) 8 destruicao brutal do coberto vegetal da Serra (da Fetal, ano pds ano, efectuada por sucessivas fogos (..) no So na Mata Nacional, como em dreas pertencentes a particulares.” (Moura, 2001). Quase toda a unidade de paisagem é abrangida pelo Sitio Natura 2000 das Serres, da Freita e Arada, com grande diversidade de habitats naturais, de que se desta- cam as turfeiras altas actvas, as florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus cexcalsior, 05 carvalhais galsico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaice, florestas de Castanea sativa, etc. Este Sitio “Faz parte de um conjunto de serras {que consttui actualmente a érea mais importante para a conservacao da popula- «20 (sclada) de lobo a sul do rio Douro”, ocorrendo al também outras espécies endémicas e/ou ameacadas como 2 salamandra-lusitanica e o lagarto-de-agua (ICN, 1996). 0s produtos classificados como de qualidade pelo Miristério da Agricultura que mais se relacionam com a paisagem sio: Carne Arouquesa, Vitela de Lafées, Cabrito da Gralheira, Maca da Beira Alta, Maca Bravo de Esmotfe. Vinhos com Denominacao de Origem Controlada dos Vinhos Verdes e com Indicacao de Prove- rigncia Reguiamentada de Lafoes, Ordenamento, diagnéstico e gestao da Paisagem — PDM dos concelhos de Vale de Cambra, Arouca, Sao Pedro do Sul = Sitio Natura 2000 das Serras da Freita e Arada. sta é uma unidade de paisager com identidade mécia a elevada, devido a sua morfologia que se destace de toda a envolvente, a uma humanizacao interessante, tembora em processo de degradacéo (florestagao seguida de grandes incéndios, desertificagao humana e abandono agricole). ‘As utilizacbes do solo so, no geral, adequadas aos recursos, apesar de, em termos silvopastoris, se verificar um deficiente ordenamento, de que resultam riscos e pro- bblemas graves, com realce para os incéndios. A reducéo da populacio residente e a sua distribuico muito desigual aumentam tais riscos e levam a um uso do terr- t6rio menos intenso e mais desequilibrado, quando comparado com 0 que era tra- dicional algumas décadas atras, 39 40 Pelo carécter extensivo da actividade e intervenco humana, estas serras tém con- digdes para apresentarem uma média a elevada “riqueza biologica”, o que é com- provado pelas caracteristicas que levaram a inscrevé-las na lista nacional de Sitios da Rede Natura 2000. A partir da realidade actual mas, também, tendo em atencSo as funcoes que estas zonas mais eltas desempenham relativamente &5 zonas baixas envolventes (equili- brio do ciclo hidrolégico, combate & eroséo do solo, aumento da biodiversidade, desenvolvimento de actividades econémicas complementares a uma agricultura mais imtensiva), sera aqui fundamental (veja-se ICN, 1996}: — Manter e valorizar as actividades agro-pastoris, muito provavelmente em moldes algo diferentes das tradicionais, uma vez que a isso conduz a reducéo da popu- lacdo residente, as tecnologias de producao e os mercados. A utilizacéo de cer- «25 (ixas e moves), de novas técnicas de instalacao / gestao de pastagens melho- radas e algum tipo de emparcelamento, poderdo viabilizr aquelas actividades e impedir que extensas superficies sejam fiorestadas de forma continua = Ordenar e gerir 0s espacos florestais, tendo em atencdo nao s6 a manutengéo de significativas "clareras” (isto €, das referidas areas agro-pastoris que impedem a excessiva continuidade dos povoamentos florestas, realcando 0 efeito de ora, reduzindo 0s riscos de propagac3o de incéndios e contribuindo para a perma riéncia de pessoas nestes espacos), como 0 conceito de plurifuncionalidade e sus- ‘entabilidade da floresta (que passaré pela manutencao de macigos de espécies autéctones, pela utilizacéo destas espécies em situacbes especialmente sensiveis € compartimentando povoamentas de pinheiro ou eucalipto, pela reducao de areas continuas destas titimas espécies, etc), Se exstem os conhecimentos cien- tificos e se dominam as técnicas que permitem conjugar de forma equilibrada as fungoes produtivas da floresta com outras utilidades para as comunidades hume- nas (proteccao do solo e da agua, da flora e da fauna, recreio), hé que encontrar ‘95 mecanismos adaptados & realidade local que permitam e incentive a sua concretizacéo. ‘A relativa proximidade relativamente & Area Metropolitana do Porto e a outras areas opulosas da Beira Litoral, tem “.) contribuido para trazer 8 Sera (da Freta ..e, sur poese, também & serra da Arada) verdadeiras avalanches humanas, em fins-ce-se- ‘mana e feriados estvais, que tudo pisotelam, sujam e destroem (..)" (Moura, 2001) Sera necessério avancar com estruturas e equipamentos que permitam reduzir os im- pactes paisagistics decorrentes desta aflu8ncia de visitantes e que, pelo contréri, pos- siolt trar 0 melhor partido dela, tanto para 0s residentes como para os forasteros. liografia Moura, A. Reis, 2001. Sera da Freta. Associacio de Delesa do Patriménio Arouquense e Universidade de Aver,

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