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A primeira referência ao uso da fotografia num contexto de saúde mental data de 1856.
Naquela altura Hugh Diamond proferiu uma palestra perante a Royal Society de Inglaterra,
denominada “Sobre a Aplicação da Fotografia à Fisionomia e Fenómeno Mental da Loucura.”
Esta palestra vem referida num trabalho editado em 1976 por S. Gilman com o título de “O
Rosto da Loucura: Hugh W. Diamond e a Origem da Fotografia Psiquiátrica”.
O Dr. H. Diamond começou a tirar fotografias 3 meses depois de William Talbot ter
apresentado a sua invenção em 1839. Este psiquiatra veio a utilizar o seu hobby na sua
profissão, documentando as expressões faciais dos pacientes com perturbações mentais no
asilo de Surrey County. Ele utilizou as suas fotografias para fundamentar a sua teoria, de que o
diagnóstico dos pacientes se poderia deduzir a partir das suas expressões. Mais tarde, no seu
livro “Pequena História da Fotografia”, Walter Benjamin, relataria como os primeiros modelos
fotográficos diziam que o fenómeno da fotografia lhes parecia uma “grande e misteriosa
experiência”. O candidato a modelo fotográfico, nos primórdios da fotografia, era chamado de
“paciente”.
Uma fotografia é um pedaço do tempo que foi congelado para sempre, segundo Judy
Weiser.
Quando comparamos a fotografia com outros mediadores constatamos que a fotografia não é
um mediador intimidatório, é familiar, comum. Qualquer pessoa já tirou ou tira regularmente
fotografias e o seu acesso a elas é simples. Mostrar fotografias a terceiros e falar sobre elas é
uma atividade social praticada há muitos anos.
Desde a ida épica ao fotógrafo da cidade, passando pelos serões ou tardes de visionamento de
álbuns de fotografias, até ao presente, onde a publicação de fotografias em inúmeras redes
sociais assume contornos de rotina, a fotografia acompanha a nossa vida e a nossa vida revê-
se na fotografia. A construção interna que cada pessoa faz de si é o que emoldura a sua
realidade.
O que as pessoas acreditam que o mundo é, influenciará e filtrará tudo o que entra e sai da sua
mente. Assim, não utilizar o estudo das fotografias que os pacientes tiram, coleccionam,
consideram significativas ou produzem através de estímulos inconscientes, é deixar de lado
uma quantidade enorme de informação valiosa para o tratamento de cada um. Assim, quando
um terapeuta quer trabalhar a auto-estima ou a forma como o seu paciente se apresenta aos
outros, encontrará nos auto-retratos e nas fotografias tiradas por outros, instrumentos
bastante úteis. Paralelamente, terapeutas que trabalhem as histórias/narrativas de vida (que
são utilizadas para a construção da respetiva identidade) também beneficiarão da análise das
fotografias de família. Por outro lado, terapeutas que queiram ajudar os seus pacientes a
conhecer melhor o que é que os diferencia dos restantes membros da sua família, da sua
cultura, ou dos vários estereótipos sociais, também poderão socorrer-se das fotografias
pessoais do paciente.
A fotografia, tal como a criação artística produzida pelo paciente, insere-se na relação
triangular como mediador entre o mundo interno e externo do paciente bem como entre
paciente e terapeuta. Portanto, enquadra-se num campo intersubjectivo vasto e complexo.
Neste espaço poder-se-á afirmar que a fotografia auxilia o terapeuta no desempenho da sua
função transcendente (simbólica) i.e. conforme Jung definiu como sendo o resultado da
interacção entre conteúdos conscientes e inconscientes, permitindo transições suaves entre
eles.
A perspectiva é partir de fora para dentro enquanto que outros mediadores assumem a
perspectiva de dentro para fora. Cada mediador possui as suas particularidades, e, portanto,
são essas as características diferenciadoras que permitirão ao arte-terapeuta enriquecer o seu
trabalho potenciando reparação, mudança e transformação interior.
Referências Bibliográficas
- Barthes, Roland “A Câmara Clara”, ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1984
- Fryrear, J.L., & Corbit, I.E.). “Photo art therapy: A Jungian perspective”. Springfield, IL: Charles
C. Thomas, 1992.
- Weiser, J. “PhotoTherapy Techniques in Counseling and Therapy: Using ordinary snapshots
and photo-interactions to help clients heal their lives”. The Canadian Art Therapy Association
Journal, 2004
- Weiser, J. PhotoTherapy Techniques: Exploring the Secrets of Personal Snapshots and Family
Albums), Vancouver: PhotoTherapy Centre Press [ISBN: 0-9685619-0-X], 1999
- Weiser, J. Using PhotoTherapy to help: A study of Debbie. "Montage": Kodak's Educator's
Newsletter, 1983
- Weiser, J. PhotoTherapy: “Photography as a verb”. The B.C. Photographer, 1975