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18. RESISTÊNCIAS E RESISTORES

18.1. INTRODUÇÃO

Resistor é o componente eletrônico mais simples, mais comum e mais barato de


um circuito; sua função principal é produzir uma queda de tensão, de V volts, igual o
produto do seu valor resistivo pela corrente que o atravessa. Nos resistores puros, a
tensão e a corrente alternada estão em fase, isto é, as formas de onda da tensão e corrente
não sofrem deslocamentos relativos no eixo dos tempos. A característica resistiva pura de
um resistor não armazena energia mas apenas a dissipa sob forma de calor. A potência
entregue e consumida por uma resistência sob a forma de calor denimina-se real ou ativa.

18.2. SÍMBOLO CIRCUITAL

O símbolo circuital de um resistor e as polaridades criadas por uma corrente


convencional I em um circuito resistivo são mostrados na Fig. 18.1.

Fig. 18.1 - (a) Símbolo do resistor - (b) diferença de potencial em circuito resistivo

18.3. VALOR ÔHMICO E TOLERÂNCIA

Valor ôhmico do resistor é o valor resistivo desse componente medido em


unidades do Sistema Internacional, o ohm. Um ohm é a resistência de um resistor que,
submetido à diferença de potencial de 1 volt, conduz acorrente de um ampère.
Unidades múltiplas mais ususais são o megaohm M = 106 ohms, o quiloohm
K = 103 ohms, o miliohm m = 10-3 ohms, e o microohm  = 10-6 ohms.
O valor ôhmico de uma resistência é normalmente especificado junto com a
precisão ou limite do erro no valor nominal de fabricação do componente. São produzidas
normalmente resistores com as tolerâncias de 20%, 10%, 5%, 2%, 1% e,
especialmente, com tolerâncias inferiores a 1%. A seguir estão relacionados as principais
tolerâncias em função do uso:
 Uso geral: tolerâncias de 5% ou maior.
 Semiprecisão: tolerância entre 1% e 5%.
 Precisão: tolerância entre 0,5% e 1%.
 Ultraprecisão: tolerância menor que 0,5%.
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Os resistores são produzidos comercialmente em valores padronizados e dentro de


normas estipuladas internacionalmente. Alguns padrões são:

 ASA (American Standard Associotion).


 RETMA.
 EIA.
 MIL.
 IEC.

Segundo a tolerância adotada, são fabricados nos valores que estão na tabela 18.1
e em seus mútiplos decimais que obedecem, com aproximação, a uma progressão
geométrica.

Tabela 18.1 - Valores comerciais de resistência, padrão EIA/MIL/IEC

Obs.: Os ressitores com tolerância inferior a 1% são produzidos especialmente para
atender circuitos com alta precisão, como, por exemplo, os de equipamentos especiais de
medição, computadores, etc.

O valor e a tolerância do resistor são indicados no corpo do resistor, através de


código de cores, ou diretamente impressos com três dígitos significativos seguidos de
uma letra para indicar um multiplicador: R = ohms, K = milhares de ohms e M =
megaohms.

Código de cores: As cores são apresentadas em faixas pintadas no corpo do resistor a


partir de uma extremidade, com a seguinte equivalência:
3

0 - preto
1 - marrom
2 - vermelho
3 - laranja
4 - amarelo
5 - verde
6 - azul
7 - violeta
8 - cinza
9 - branco

A Fig. 18.2 mostra um resistor e a codificação do valor em cores.

Fig. 18.2 - Resistor e a sua codificação em cores

A primeira faixa corresponde ao algarismo de maior ordem no valor ôhmico. A


segunda indica o segundo algarismo; a terceira, o número de zeros e a quarta, a tolerância
do resistor.
Quando a tolerância é 1% vem normalmente impressa. Outras tolerância são:
 Prata = 10%
 Ouro = 5%
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18.4. DISSIPAÇÃO

No resistor desenvolve-se a energia Joule RI2t em forma de calor e que deve ser
dissipada através de sua estrutura. O fabricante fornece a potência de dissipação máxima
permissível do resistor produzido, baseado no processo de fabricação, cuidados
realizados e material empregado no isolamento e no núcleo.
A corrente máxima permitida em um resistor, especificado para P watts, é dada
por

P
I [18.1]
R

Nos resistores construídos com fios resistivos, a dissspação dependerá de vários


fatores como, por exemplo, volume do resistor, suporte utilizado, revestimento utilizado,
espaçamento de espiras, diâmetro e natureza do fio, etc.
Nos resistores construídos à base de grafite ou carbono, a dissipação dependerá do
isolamento utilizado, do material suporte, se bom ou mal condutor de calor, e da área da
superfície do carbono. Normalmente, o tamanho dos resistores cresce com o valor da
dissipação máxima permitida.
São produzidos comercialmente nas especificações de: 1/20, 1/10, 1/8, 1/4, 1/2, 1,
2, 3, 5, 10, 15, 20, 25 e 50 watts.
Para maiores dissipações são utilizados resistores especiais ou líquidos
refrigerantes, que aceleram a retirada a retirada do calor. Normalmente, a especificação
da dissipação é tomada a 70ºC e, consequentemente, grandes variações de temperatura no
ambiente modificam aquele valor. Nos projetos, deve-se dimensionar a dissipação dos
resistores em, no mínimo, o dobro da potência realmente dissipada, e com isso estarão
asseguradas uma maior estabilidade e durabilidade do componente. Em alguns casos,
torna-se necessária a utilização de dissipadores térmicos sobre os resistores com a
finalidade de acelerar a transferência do calor.
A Fig. 18.3 mostra uma comparação, em tamanho real, entre os limites de
dissipação de potência nos resistores de camada.

Fig. 18.3 - Comparação de tamanho e potência entre alguns resistores


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Sendo Pd max a potência máxima permitida sobre determinado resistor, tem-se que
a região hachurada na Fig. 18.4-a será a zona de utilização normal deste resistor. A
potência num resistor é calculada como

P  V. I [18.2]

Em tempos curtos, ou pequenas exposições, o resistor suporta picos de energia


bem superiores ao seu valor Pd max especificado. Essa característica é plotada na curva E =
Pt da Fig. 18.4-b.

Fig. 18.4 - (a) Curva da potência máxima num resistor - (b) Curva da potência em
função do tempo

18.5. TENSÃO MÁXIMA DE TRABALHO

São produzidos resistores para diferentes tensões máximas de trabalho, tais como
250 V, 450 V, 750 V, 1000 V ou mais, dependendo das características dos isolamentos
utilizados. Normalmente, sua rigidez dielétrica é proporcional à dissipação.

18.6. FABRICAÇÃO DO RESISTOR

Um corpo cilíndrico de baixa constante dielétrica, cujas extremidades são


solidamente ligadas aos terminais metálicos, recebe a cobertura resistiva que determinará
o valor do resistor. As extremidades da camada resistiva são metabolizadas quimicamente
para a realização da solda de alto ponto de fusão (300ºC) com os terminais do resistor.
A utilização dos ferros de soldar comuns na montagem dos circuitos (ponto de fusão
máxima de 187 ºC) não provocará qualquer abalo na ligação “camada resistiva-terminal”.
A figura 18.5 mostra, em corte, o corpo de um resistor.

Fig. 18.5 - Corte axial em um resistor de camada


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Normalmente os resistores são construídas pelas tecnologias seguintes:

Variação da densidade do composto de carbono ou grafite (resistor de composição):


O grafite tem sua densidade variada pela utilização de seu pó misturado a elementos
neutros. A mistura é depositada em suporte do tipo cerâmico. Utiliza-se como material
resistivo o pó de grafite ou carbono e como elemento de enchimento o talco, a argila,
areia ou resina acrílica. O acabamento ou revestimento de proteção do resistor é
produzido em várias camadas de esmalte, resina ou verniz. São resistores baratos,
comuns e de pequenas dimensões; são produzidas com valores da ordem de alguns ohms
e megaohms e obtidos com o mesmo tamanho de fôrma;são fabricadas com potência de
dissipação até 3 W, aproximadamente, com faixa de operação de 25 a 70ºC. São algo
ruidosos (tensão de ruído), e sua estabilidade térmica (/ºC) é inferior à produzida com
película de carbono.

Deposição de película de carbono (resistor de estrato de carbono): Uma camada de


carbono cristalino e puro, e de espessura controlada, é depositada sobre um bastão
cerâmico; para os resistores mais elevados, o valor é ajustado pela abertura de um sulco
esperilado sobre sua superfície. Seu acabamento é em material epóxi. São resistores mais
precisos e menos ruidosos que os de composição, com uma estabilidade no circuito
bastante grande; são obtidos em dissipações superiores aos de composição. Nos resistores
mais elevados, o sulco espiralado desenvolve um caráter indutivo, que, no entanto, pode
ser minimizado pelo fabricante. Contudo, neste caso, é interessante limitar seu uso acima
dos 10 Mhz ou verificar especificações fornecidas pelo fabricante. Apresenta um
coeficiente de temperatura  negativo e baixo (0,05% por ºC). O efeito pelicular é
despresível. São fabricadas em tolerância até 1% e em valores tão elevados quanto 100
M.

Deposição de película de óxido metálico: É obtido pela deposição a vácuo em suporte


cerâmico de uma fina camada (filme) de óxido metálico com revestimento de epóxi. O
seu valor e a precisão são determinados pela espessura e torneamento em espiral da
camada de óxido. Resistores de camada de óxido metálico são fabricados com precisão
de até 1% e em valores superiores e megaohms. A faixa de utilização normal é até 70ºC,
podendo-se ultrapassá-la com o uso de dissipadores. São bastante precisos e estáveis,
substituindo os de composição e deposição de carbono com vantagens. São obtidos, com
dimensõespeguenas, em todos os valores de ohms, sendo possível fabricá-los em
dissipações até 7 W ou mesmo 12 W, se moldados em encapsulamento de alumínio para
uso sobre chassis. São pouco indutivos e permitem uma maior temperatura máxima de
trabalho. Têm coeficiente de temperatura positivo (0,03% por ºC) e efeito pelicular
desprezível.

Deposição de película metálica (resistores metalizados): São obtidos pela deposição


em um núcleo isolante de um filme de liga metálica com excelentes propriedades
elétricas. Os resistores metalizados são altamente estáveis, precisos, de baixo ruído e alta
dissipação térmica. Em circuitos de alta confiabilidade substituem com vantagens os
resistores de carbono.
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Utilização de fio ou fita resistiva: São resistores fabricados com fio ou fita, metálicos ou
não. Para obtenção de resistores que resistem a altas disspações é necessária a utilização
de fios condutores de mais alta resistividade e baixo coeficiente . É confeccionado
enrolando-se o fio sobre o bastão de fibra de vidro, óxido de berilo ou fôrma cerâmica e
utilizado como isolante de acabamento o cimento, a baquelite, o silicone ou esmalte
vitrificado. São produzidos em dissipações que podem atingir de 1 até 1000 W;
apresentam geometrias que crescem com o valor ôhmico e com a dissipação permitida.
Pela facilidade da estrutura, consegue-se obter resistores variáveis precisos através da
utilização de um cursor (terceiro terminal), que rastreia o enrolamento de fio (reostatos e
potenciômetros de fio). Os resistores de fio normais só são utilizados em baixa frequência
devido ao grande efeito indutivo que se observa. Em resistores especiais conseguem-se
tipos não-indutivos e com precisão de até 0,002%, isto é, ultraprecisos e ultra-estáveis.
Obs.: O ruído de um resistor de carbono é a tensão de ruído térmico gerada na sua
estrutura atômica com a passagem da corrente. A potência de ruído gerada é proporcional
ao produto 4KTf, onde K é a constante de Boltzman em J/ºC, T a temperatura em graus
Kelvin e f a faixa de frequência de excitação em Hz.
A Fig. 18.6 Mostra alguns aspectos de resistores.

Fig. 18.6 - Aspectos de resistores - (a) película de carvão - (b) metalizado - (c) fio
embutido em dissipador de calor

18.7. TIPOS DE RESISTORES

Alguns tipos de resistores estão relacionados a seguir:

Resistor fixo: É o resistor com dois terminais, de valor ôhmico fixo, especificado
genericamente da seguinte forma: resistor de composição 120 , 1W,  10%, 250V.
Resistor ajustável: Possui três terminais, sendo o central (cursor) móvel, permitindo seu
ajuste através de fixação do referido cursor por parafuso ou dispositivo semelhante. A
Fig. 18.7 mostra alguns exemplos.

Fig. 18.7 - Resistores variáveis e ajustáveis


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Resistor variável: Resistor de três terminais, onde o cursor móvel (terminal central) pode
ser deslocado continuamente por ação sobre um eixo. É o resistor potenciométrico ou
potenciômetro, onde se dispõe de um eixo de controle do valor resistivo. Como exemplo
cita-se potenciômetros de carbono, de fio e reostatos de fio ou fita.
São construídos potenciômetros de película de carbono ou de fio. Os
potenciômetros de fio para altas dissipações recebem um isolamento térmico compatível
e são conhecidos como de potência ou reostatos.
Atualmente existem diversos tipos, formatos e tamanhos para os potenciômetros,
dependendo das características do circuito em que será aplicado, dissipação máxima
permissível, etc.
Os resistores variáveis podem ser lineares ou logarítmicos, isto é, a variação de R
poderá ser linear ou não com o movimento do cursor. A Fig. 18.8 a seguir mostra alguns
potenciômetros e reostatos.

Fig. 18.8 - Potenciômetros e reostatos

Resistores especiais: Alguns resistores especiais estão relacionados a seguir:


 Alta tensão, 1 a 15 kV (óxido metálico)
 Alta frequência e potência de operação (resistores metalizados)
 Até um milhão de M (película especial, filmes finos)
 Fracionários e para shunt de medidores.

Utilização de resistores variáveis e reostatos: Algumas utilizações estão relacionadas a


seguir:
 Circuitos divisores de tensão;
 Circuitos limitadores de corrente;
 Atenuadores resistivos;
 Carga resistiva em amplificadores de sinal;
 Acopladores resistivos;
 Carga em circuitos de aquecimento;
 Circuitos de polarização resistivos.
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18.8. CARACTERÍSTICAS DIVERSAS

O valor final dos resistores é determinado pelos fabricantes através de um teste de


aplicação da lei de Ohm. Normalmente os valores baixos são medidos com 1,5 V. A ação
do coeficiente de temperatura do material resistivo faz com que haja uma ligeira alteração
da resistência com a tensão aplicada, que não ultrapassa os 3%.
A fabricação do resistor nos leva a obter reatâncias associadas à sua estrutura que
podem ser minimizadas de acordo com a finalidade de sua aplicação. Os resistores de fio
são muito indutivos e, portanto, não devem ser utilizados em circuitos de alta frrequência.
Os resistores de carvão ou grafite podem ser construídos com cuidados especiais que os
tornam pouco indutivos.
Os resistores de carvão apresentam um certo nível de ruído térmico em sua
estrutura que aumenta nas resistências de maior valor ôhmico. Desta forma, em estágios
iniciais dos amplificadores ou circuitos de alta sensibilidade ou alto ganho, devem ser
escolhidas resistências com fator de ruído baixo.
Os resistores são fabricados dentro de rígidos padrões mecânicos para uma ótima
confiabilidade. Desta forma sua construção deve atender aos seguintes requisitos:
 Resistência à solicitação axial pelos terminais (tração);
 Resistência à torção;
 Resistência à umidade e salinidade ambiental;
 Resistência ao choque térmico;
 Resistência ao choque de corrente (transientes);
 O controle da qualidade do produto final é realizado sobre uma amostragem retirada
do lote de resistores fabricados, seguindo as normas brasileiras de controle de
qualidade.
Enrolamentos especiais de resistências de fios são usados para redução das
componentes parasitas indutivas e capacitivas no resistor. Alguns tipos estão relacionados
a seguir:
Enrolamento em sentidos contrários: Enrola-se sobre um bastão isolante (mica,
cerâmica, etc), o fio resistivo esmaltado em sentidos contrários, conforme Fig. 18.9-a.

Enrolamento em oito: Em um suporte isolante, como mostrado abaixo, faz-se o


enrolamento na forma de um oito, conforme Fig. 18.9-b.

Enrolamento bifilar: Neste de enrolamento, dobra-se o comprimento total do fio e


enrola-se o conjunto dobrado sobre o suporte isolante.

Enrolamento em hélice: O fio resistivo tem o formato espirado, conforme Fig. 18.9-c.

Fig. 18.9 - Fio resistivo enrolado em (a) sentido contrário - (b) na forma de um oito -
(c) em hélice
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QUESTÕES

1. Quais as principais características de um resistor?

2. Quais as unidades múltiplas mais utilizadas para as resistências?

3. Quais as tolerâncias dos resistores e como se relacionam com o uso?

4. Como são lidos os valores dos resistores? Cite o código de cores.

5. Quais os valores de potência de dissipação dos resistores?

6. Como é a característica Potência versus Tempo numa resistência?

7. Como são construídos os resistores?

8. Quais os tipos de resistores?

9. Quais os requisitos que a construção dos resistores deve atender?

10. Quais os tipos de enrolamentos especiais de resistores de fios usados para redução das
componentes parasitas indutivas e capacitivas no resistor?

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