Você está na página 1de 4

01/02/2020 Orientações para se confessar direito

HOMILIA DOMINICAL

Infelizmente, devido a uma má formação religiosa, quando não à


falta dela, é fenômeno frequente o das “confissões inválidas”. Por
isso, com que atitude interior devemos nos acercar do tribunal da
Penitência? E, diante do sacerdote, qual o modo correto de acusar
os próprios pecados? É essa catequese básica que Padre Paulo
Ricardo procura oferecer nesta meditação, mostrando como
devemos nos confessar a fim de voltarmos para casa justificados, a
exemplo do publicano do Evangelho.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas


(Lc 18, 9-14)

Naquele tempo, Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua
própria justiça e desprezavam os outros: “Dois homens subiram ao Templo para
rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos.

O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou
como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de
impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’.

O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os


olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que
sou pecador!’

Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva
será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

https://padrepauloricardo.org/episodios/orientacoes-para-se-confessar-direito 1/4
01/02/2020 Orientações para se confessar direito

Meditação. — 1. Um fariseu e um publicano vão ao Templo para falar com Deus. O primeiro
revela-se uma figura altiva e cheia de si, que prefere não pedir perdão pelos seus pecados,
porque “confia na sua própria justiça”. O fariseu agradece ao Senhor por não ser como os
outros homens, que são ladrões. Já o publicano, tendo ciência de suas faltas, não se atreve a
levantar os olhos para o Céu e, com um gesto de humildade, bate no peito, dizendo: “Meu
Deus, tende piedade de mim que sou pecador”.

Jesus conta essa parábola para nos ensinar qual deve ser a verdadeira atitude de quem
deseja receber o perdão dos pecados. A contraposição entre a arrogância do fariseu e a
humildade do publicano mostra como precisamos recuperar uma noção há muito esquecida
sobre o que é uma boa e frutuosa Confissão. Olhando para seu interior, o publicano
identificou sua miséria e foi capaz de se apresentar sem máscara diante de Deus. E, desse
modo, ele pôde ouvir do Senhor aquelas mesmas palavras que um dia nós mesmos
desejamos ouvir: “Meu amigo, os teus pecados te são perdoados” (Lc 5, 20). No fim das
contas, ele saiu justificado, mas o outro não.

A primeira atitude de quem deseja ser justificado por Deus é, pois, acreditar na Revelação
divina. Se Deus, que não se engana nem pode enganar, revelou que determinada ação
constitui um pecado grave, nós devemos simplesmente aceitar e reconhecer a autoridade
do Senhor, ainda que não percebamos a gravidade dessa ação. Os pecados graves são
graves, em primeiro lugar, porque Deus assim revelou, e não porque eu os sinto como tais.
Trata-se, portanto, de fazer um ato de fé na Palavra de Deus.

Isso precisa estar bem para nós, sobretudo nos dias de hoje, em que se costuma considerar a
ofensa a Deus uma trivialidade.

Nesse caso, o ato de fé é ainda mais necessário, uma vez que os sentimentos da pessoa
estão desordenados, e, por isso, ela já não consegue perceber a própria malícia. Ela não
sente que é pecado. É preciso, então, recorrer a um bom e minucioso exame de consciência,
que leve em consideração toda a Revelação divina acerca das Bem-aventuranças e dos Dez
Mandamentos. Porque ninguém precisa sentir, de imediato, que uma coisa é má, mas basta
receber a notícia intelectual da Palavra de Deus, que adverte contra as obras da carne. Como
explica o padre Royo Marín, a contrição é "uma dor espiritual, da vontade, que não é
necessário que redunde na sensibilidade” (Teología moral para seglares, p. 315). Sendo
assim, a pessoa pode encaminhar-se para a confissão com um verdadeiro arrependimento e
propósito de emenda.

2. Esse arrependimento é, como já dissemos, um ato da vontade, pelo qual a pessoa detesta
os seus pecados, ainda que se sinta inclinada a eles. Como na oração do ato de contrição, a
alma deve dizer a Deus: “Eu me arrependo de todo o coração de Vos ter ofendido porque sois
bom e sumamente digno de ser amado. Com isso, eu perdi o Céu e mereci o Inferno...”.
Notemos, portanto, que essa detestação dos pecados não consiste necessariamente num
sentimento, pelo qual a pessoa chora as próprias faltas. Embora isso seja bom e agradável
aos olhos de Deus, a pessoa pode detestar os próprios pecados simplesmente manifestando
a intenção certa de nunca mais voltar a cometê-los; sem dúvida, “supõe a abominação e o

https://padrepauloricardo.org/episodios/orientacoes-para-se-confessar-direito 2/4
01/02/2020 Orientações para se confessar direito

ódio pelo pecado cometido, ou seja, uma verdadeira retratação da má vontade que se teve ao
cometê-lo” (Teología moral para seglares, p. 315). Esse é o núcleo básico do arrependimento.

Com o tempo, podemos progredir espiritualmente e, assim, sentiremos também vergonha e


comoção pelas nossas faltas. Mas, de início, o que basta é a detestação das faltas e, por
conseguinte, a intenção firme e reta de abandonar todos os pecados mortais de uma vez e
para sempre. Em outras palavras, precisamos manifestar o propósito de nunca mais pecar.
Se não houver esse propósito, e a pessoa quiser manter um dos pecados mortais, ainda que
seja algo já de sua rotina como o sexo com a namorada, por exemplo, a confissão não será
válida, mesmo que um padre desavisado absolva essa alma. Esse propósito deve ser tão
claro como a tradicional oração do ato de contrição, pela qual o penitente diz ao sacerdote:
“Prometo, com a ajuda da Vossa graça, nunca mais pecar”.

Em alguns lugares, costuma-se modificar o ato de contrição, introduzindo o verbo “esforçar-


me” no lugar da promessa de “nunca mais pecar”, supondo, nesse sentido, que a pessoa
provavelmente terá outra queda. “Prometo esforçar-me para ser bom”, rezam. Mas isso é tão
absurdo quanto seria um esposo que, depois de trair a sua esposa, dissesse a ela: “Prometo
esforçar-me para nunca mais trair você”. Ou um filho que, depois de espancar a própria a
mãe, lhe prometesse o esforço de não bater nela outra vez. Ora, a confissão não pode se
basear em hipóteses e conjecturas, mas num ato concreto e resoluto da vontade. E é
justamente porque não fazem esse ato, e ficam imaginando a presumível queda, que certas
almas não conseguem progredir espiritualmente, ou seja, elas fazem propósitos laxos.

3. Na Confissão, devemos pedir a Deus também a graça de um propósito cada vez mais
firme, pois o sacramento da Penitência depende disso para ser válido. Se não houver
propósito de emenda, não há absolvição. Para conseguir esse propósito, então, os santos
recomendam fazer a Confissão como se fosse a última de nossas vidas. No leito de morte, e
ciente de que deve morrer em algumas horas, qualquer um diria corajosamente: “Prometo
nunca mais pecar”. E, de fato, damos um passo rumo à morte todos os dias, porque não
sabemos nem o seu dia nem a sua hora. Daí que Nosso Senhor diga estas palavras duras no
Evangelho: “Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12, 20).

Com efeito, o penitente deve necessariamente confessar ao sacerdote todos os pecados


mortais, apresentando os seus agravantes e o número de vezes que os cometeu, conforme o
decreto do Concílio de Trento. Se a pessoa cometeu um pecado contra a castidade, então, ela
precisa explicar se foi um adultério, se foi com uma pessoa também casada ou não, se essa
pessoa era menor de idade e quantas vezes eles se envolveram um com o outro. Se se tratou
apenas de fornicação, deve dizer se foi com uma mulher ou um homem e assim por diante.
E, no caso de a pessoa não souber quantificar as vezes em que caiu, deve ao menos indicar o
período da vida que costumava ter tais práticas: “De tal a tal idade, eu cometi o pecado da
masturbação...”, por exemplo.

Eis aí os passos necessários para uma boa e frutuosa confissão. Em suma, deve-se crer no
que Deus nos revelou; aplicar-se a um sincero e diligente exame de consciência; confessar
todas as faltas graves, com os seus agravantes e os seus números; e, finalmente, ter o firme

https://padrepauloricardo.org/episodios/orientacoes-para-se-confessar-direito 3/4
01/02/2020 Orientações para se confessar direito

propósito, com a graça de Deus, de nunca mais voltar a cometê-los. Feito desse modo, o
sacramento da Penitência nos valerá a mesma justificação que o publicano da parábola
recebeu de Nosso Senhor.

Oração. — Divino Espírito Santo, nosso defensor e santificador, iluminai nossas


consciências, a fim de que, com a luz da fé, sejamos capazes de reconhecer nossas faltas,
desde mais graves às mais leves, e confessá-las integralmente, com arrependimento e firme
propósito de nunca mais voltar a cometê-las. Assim seja!

Referências

Pe. Antonio Royo Marín, Teología moral para seglares. Madri: BAC, 1994, vol. 2, pp.
314s.

https://padrepauloricardo.org/episodios/orientacoes-para-se-confessar-direito 4/4

Você também pode gostar