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LUlZ GUIMARÃES

O GUIA DO LAR
INSTRUÇÕES E CONSELHOS PARA SE
CONSEGUIR O REINADO DE CRISTO
E A SUA PAZ ENTRE AS FAMILIAS

BELO HORIZONTE
JANEIRO DE 19.il
Nihil obstat
B. Horizonte, 31-7-40

a) Pe. Affonao Maria Wenger S. V. D.

lmprimatur
B. Horizonte, 8-8-940

f "4, Arahlepiacopua
Antoni Bailo Ha•l•contlnu•

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Uma carta valioea e anlmadara

lJislinto Amigo Luiz Guimaráe«.

Saudações.

Li atentamente as setenta e sete folhas do valioso livro "0 GUIA

DO LAR", que vai confiar aos edilous.

Elaborado com com pet ên c ia e labor, aqui está rico repositório

de dou t rin ário s conselhos necessá1·ios ti forma çcío, pusen1ação e san­

lificaçtfo da familia, célula maler da sociedade cristã.

E' o que fez a Igreja Católica em lodos os tempos, é o de que,

na part� cillica, cuida presentemente o Estado Novo Brasileiro.

Cumpre ao distinto amigo,. católico integral que é, submeter "ln

totum" "O GUIA DO LAR" it Exma. Autoridade Eclesiástica para o

devido exame e legal aprovaçiio.

Pelas ilispiraç ões que Deus lhe concedeu para o alto deslgnio da

obra e porque me distingniu para a leitura dos originais, é que, re­

conhecido, o abraço com toda venel'açüo.

Servo e amigo

a) Mo11s. Vicente Soares.

Pilu.1111ul, 2G-III-940.

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AOS MEUS QUERIDOS FILHOS

SAUDOSAS LEMBRANÇAS E

MUITAS BENÇÃOS DO

AUTOR,

AO ESTIMADO E PRIMEIRO AMIGO D, CIRILO DE PAULA FREITAS,

TODO O CARINHO E GRATIDÃO DO

AUTOR

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AOS LEITORES

Nada tenho que possa <l:ar brilho e realce a ês­


te livrinho, a não ser o desejo de colaborar, embora
modestamente, para a formação de lares católicos
que são a sementeira dos verdadeiros servos de
Deus.
Membro efetivo da Ação Católica, e portanto,
humilde operário na construção dêste monumental
edificio que é uon dos palácios de Cristo Rei, e onde
tudo se procura fazer para o seu glorioso reinado,
que recompensa não será a minha, e que alegria, se
êste mintúsculo trabalho, de algum modo, concorre1·
para a realização da obra dos abnegados lutadores
pela santa causa do Senhor.
E não é êste o supremo ideal dos bravos e pie­
dosos componente.� dessa. filha querida de Pio XI, e
de todos as fieis de boa vontade?
Apresentando-vos esta si"mples oblata. sem a
menor sombra de vaidade, nutro a doce esperança
de tira.ràes dela algum proveito. Entrego-a às vos­
sas mãos na certeza de benévola acolhida e persua­
dido do carinhoso agasalho que haveis de dar-lhe .
Ei-la, pois, à espera de vossa complacência, p'ro­
curando transmitir a seus leitores tudo o que con­
segui entesou,rar, pedindo-vos levar em conta tão
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somente a boa vontade do autor, desculpando o que
de falho encontra.rdes.
Folheto simples, sem retórica e sem eloquência,
mas, contendo instruções verdadeiraunente evangé­
licas, conselhos aproveVtáveis e narrações de fatos
exemplaríssimos e edificantes, tudo organizado cui­
dridosarnente, com o. intenção de ser útil a todos os
lares, bvm como aos candidafJos a constitui-los.
E assim, os maridos que pretendam a verdadei­
ra felecidade em seus lares; as espôsas e mães que
aspirarem uma vida realmente cristã, sincera dedi­
cação de seus· nw11-idos e a glor'.ia de ter filhos que
as honrem e que saibam fazer jús às bençãos de
Deus e da Pátria; os filhos que quiserem ser d.ignos
e gozar de uni �ome querido na sociedade; os noi­
vos que se proponham a uma acertada aprendiza­
gem 'fJ(Lra futurôs espôsos e chefes de fanní!Mi,_ no go­
verno do lar; e finalniente, todos os que se interessar
rem por esta sagrada instituição, leiam êste livri­
nho, manuseem-no nas horas de lazer, meditem sobre
suas exortações.
E se desta leitura e dest'flc meditação colhe1·em
abundantes frutos na f 01'mação e santificação da
famfüa, base -da estabilidade da Pátria, estará rea­
lizada a minha missão e me sentirei generosamente
recompensado.
Assim De1u1 o permita, assim sejam por Deus
deferidos os votos sinceros que fat: o

AUTOR .

••

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Sagrado Coração de Jesús

PARA DIRIGIR MEU LAR,


PRECISO MUITO DE LUZ
SÓ ODEREI ENCONTRAR
NO CORAÇÃO DE JESÚS.

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Uma preliminar necessária sobre a vida de Jesus
e • finalidade do homem

Não temos neste mundo interêsse maior


que o da nossa salvação, e ninguém póde
salvar-se senão em Jesus Cristo: a fé em sua
palavra, a obediência a ser.r.s mandamentos, a
imitação de suas virtudes, eis a vida do ver­
dadeiro cristão: não há outra, tudo mais é
vaidade. Tenho z•isto, diz o sábio, que ao ho­
mem nada mais lhe fica de todos os trabalhos
com que se consome debaixo do sól.

(Eccl. 1, 13.)

Riquezas, prazeres, honras, que é tudo is­


to quando se lança o corpo na sepultura e a
alma vai para a sua eternidade? Pensa nisso
seriamente desde ,hoje, porque amanhã, tal­
vez �á seja tarde.
(lmit. de Cristo. Reflexõc·s do Cap. 1.0)
Quem me segue não anda em trevas. São
palavras de Cristo, com as quais nos admoesta.
que imitemos a sua vida e costumes, se que­
remos verdadeiramente ser alifiados e livres
de toda a cegueira do coração.

(Joann. VIII, 12.)


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12 LUIZ GUl1\IARÃES

Seja, pois, nosso p1'111cipal estudo, medi­


far na vida de Jesus Cristo. 1

(Ainda do Cap. 1.° da Imit. de Cristo.)

Propõem as seguintes linhas, expor franca e leal­


mente, alguns _rudimentares conhecimentos da fina­
lidade do homem e da vida de Jesus, conhecimentos
êstes, indispensáveis a quem desejar séguir o ver­
dade:ro caminho traçado pelo Divino Salvador .
Deus, ao criar o mundo, podia fazê-lo num mo­
mento, -com uma só palavra, tal o seu poder .
Entretanto, querendo dar-nos exemplo para to­
das as boas organizações, que só podem ser bem ins­
tituídas quando para isso há meditação e tempo su­
ficiente para cálculos e perfeita orientação na mar­
cha dos trabalhos, aprouve empregar o tempo de
urna. semana nesta maravilhosa construção, come­
çando pelas palavras "faça-se a luz", e imediata­
inente a luz se fez .
Deste modo, foi prosseguindo o Criador dia a
dia, até concluir o seu divino trabalho, destinando o
sexto dia para a criação do homem e o sétimo para
o descanso . "Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança", foram as suas palavras .
Quão grande é o amor de Deus para com os ho­
mens 1 .Ao criar todas as cousas, mandou apenas que
elas se fizessem ; mas, ao chegar a vez do homem,
tomou carinhosamente em suas próprias mãos um
pouco de barro, e dêste fez uma figura perfeita,
à sua semelhança, onde mais tarde viria encarnar-se.
Embora tudo, aquela figura não passava de um
boneco . As múltiplas peças daquele belíssimo e com­
plicado organismo estavam admiravelmente prepa-

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O GUIA DO LAR 13

radas, faltando, apenas, o motor para a sua movi­


mentação.
Soprou o Criador naquela figura inerte o seu
espírito puríssimo, que é a nossa alma, instan­
taneamente deu-lhe vida e todo o movimento.
Feito o homem com todas as suas faculdades,
quis o Divino Criador dar-lhe uma companheira,
instituindo a união do homem com a mulher, ou
sej a o santo matrimônio .
Extraiu uma das costelas de Adão enquanto ês­
te dormia, dela fez a primeira mulher, e assim es­
tabeleceu a base da procriação humana .
Que sublimidade, que pureza de espírito e quan­
to de candura e perfeição nestas duas primeiras
criaturas humanas que tomaram os nomes de Adão
e Eva !
E, irradiada destas mesmas virtudes, desta
mesma luz divina deveria ser toda a sua poste­
ridade .
Mas, àquela desobediência, àquela lamentável
falta dos nossos primeiros pais, que se chamou pe­
cado original, foi a causa da pena e maldição que
sobre êles cairam, ofuscando o brilho da luz diviua
que deveria iluminar todos os descendentes de Adão,
ao se apresentarem inocentes neste mar tempestuoso
da vida .
Pecado original ! Palavras terríveis que tanto
nos humilham ! Fraqueza daqueles infelizes, que, ten­
tados e seduzidos pelo rei das trevas ao aparecer-lhes
em forma de serpente, não souberam medir a pro­
fundeza do abismo em que iam precipitar-se !
Entretanto, é o mesmo bondoso Criador, o Deus
de infinita bondade, Aquele, cujo coração está sem-

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14 LUIZ GUIMARÃES

pre a transbordar de amor por seus filhos, ainda


os mais ingratos, proporcionando-lhes todos os meios
de salvação .
Formulou seus mandamentos em artigos confia­
dos a Moysés no Monte Sinai, esclareceu ao homem
os seus deveres na terra, apontando-'lhe o caminho a
seguir, com promessas de grandes recompensas pa­
ra aqueles que observassem e cumprissem a lei .
Para Adão e Eva, que conseguiram o perdão pela
penitência ("A niulher que m:e destes por com­
panheUJ-a deu.rme. do fruto e eu comi") para Abrão,
Izac, Jacob, José e tantos outros patriarcas e todos
os que guardaram fielmente o santo decálogo, antes
da vinda de Jesus, preparou o Criador um lugar es­
pecialíssimo a que deu o nome de "Limbo", onde
permaneceram aquelas almas santas numa verdadei­
ra mansão de paz, e livres de qualquer sofrimento,
à espera do Messias prometido .
Ali, esperaram calmamente a gloriosa Ressur­
reição do Mestre, o qual, através de um triunfo es­
plendoroso, as conduziu à presença de seu Eterno
Pai, onde ficaram gozando eternamente as delícias
do Paraiso . E qual a causa da privação de tan­
tos séculos aos nossos antepassados da antiga lei,
de comparecerem à presença de Deus ? - Un:camen­
te a ne,gra mancha indelével do primeiro pecado co­
metido na terra, penetrada nas alminhas inocentes
ao virem ao mundo, estorvando com uma opacidade
nublosa aquela luz diamantina, irradiada por Deus,
em nossos prim�iros pais, e que deveria resplande­
cer sempre em todos os seus descendentes.
E foi assim, que a reta j ustiça divina, segundo
os sábios desígnios de Deus, exerceu a plenitude de

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O GUIA DO LAR 15

sua integridad e imutável, para todos os séculos da


existência humana.
Mas, ao lado desta justiça inexorável, está a
bondade e a misericórdia infinita do nosso Pai Ce­
leste, mais uma vez comprovada pelos sublimes e
incomensuráveis m:stérios da Encarnação e Reden­
ção . E para a realização dêstes miraculosos desíg­
nios de Deus, desceu do céu à terra a segunda pes­
sôa da S . S. Trindade, o Filho, que é o mesmo Deus,
sem mácula, tomando o nome de Jesus Cristo .
Então, o Divino Criador passou ao seu unigê­
nito Filho, o báculo triunfal do poder de governar o
mundo, sendo por isso que o proclamiamos Cristo
Rei, imperador das criaturas, nos lares, na sociedade
e em todos os lugares. 1
Cristus vivit, Cristu.s regnat, Cristu.s imper(lt.

E daí, tudo que pretendemos d o Pai, só o conse­


gui remos pelos merecimentos do Filho, nosso in­
comparavel mediador .
Jesus homem, viveu entre nós durante 33 anos,
apresentando-nos o mais perfeito exemplo de vir­
tudes.
DE POBRESA: Desde a gruta de Belém e em
toda a sua vida na terra, pacientemente, praticou
esta virtude, manifestando o maior desprendimento
e abnegação, tendo para com os pobres um amor e
uma dedicação inexcedíveis.
DE HUMANIDADE: São inúmeras as suas
ações de humanidade, nos diz as Escrituras. Quan­
do curava os leprosos, quando dava fala aos mu­
dos, aud'.ção aos surdos, vista aos cégos, movimen­
to aos paralíticos, enfim, quando fazia aliviar o

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16 LUIZ GUIMARÃES

sofrimento humano, quanto de zêlo e complacência


não enchia seu coração .
DE HUMILDADE : A Família Sagrada de Naza­
reth foi o mais perfeito modêlo dos lares ; e aí, Jesus
tornou-se o mais resplandecente espelho dos filhos ;
obediente, dócil e carinhoso para com seus pais,
manso e humilde, submetia-se inteiramente ao go­
verno da casa, cheio de atenção para com os ensi­
namentos paternos .
DE CARIDADE : Em amor e caridade foi que
mais resplandeceu a sua bondade infinita concen­
trada no âmago do seu amorosíssimo coração . Nu­
ma vida purí1:1�ima de santidade, praticou entre os
homens os mais notáveis benefícios. Foi o tauma­
turgo assombroso das multidões que o acompanha­
vam, e tudo fazendo afim de conquistar o seu povo
para a fé.
E' d e notar-se que só quando atingiu à idade de
30 anos deu começo à sua obra de catequisaç�o muq­
dial, iniciando-a com a sua própria doutrina, numa
série ininterrupta de trabalhos, nos seus três últi­
mos anos de permanência no mundo .
Nêle permaneceu intacta aquela mesma divin­
dade celestial e com ela a ciência e o poder, de modo
� não lhe faltarem elementos para, com maestria
inegualavel organisar quaisquer emprêsas por mais
complexas e grandiosas que fossem . Entretanto,
quis ainda nos ensinar as condições indispensáveis,
exigidas por êsses empreendimentos que nas suas
diretrizes devem se achar homens já de certa ma­
dureza e circunspecção, de critério e energia eficien­
tes para tais. organizações.
Para transmitir seus ensinamentos, poderia

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O GUIA DO LAR 17

fazê-lo sem a4xiliares ou cooperadores, mas, quis


mostrar-nos um modêlo perfeito de cooperações, na­
queles que escolheu para o auxiliarem na fundação
da sua Igreja .
Para a instituição desta, que é uma verdadeira
corporação mística, que se assenta sôbre os princí­
pios imortais do cristianismo, fiel transmissôra das
divinas revelações, foi buscar humildes operários,
quasi todos analfabetos, pescadores, deixando de os
escolher entre nobres e potentados .
Aí, mais uma lição nos deu, que em regra ge­
ral, é nas classes humildes que se encontra a melhor
boa vontade e os melhores soldados para a boa pe­
leja .
Ensinados convenientemente, êsses humildes
companheiros tornam-se ótimos cooperadores, ao
passo que, com raras excessões, os de posição ele­
vada são frios e desinteressados pela santa causa
de Deus .
.Aqueles h omens humildes, escolhidos por Cris­
to para seus discípulos, cooperando ativamente na
construção dêste inabalável e invencível edifício,
contra o qual nem as porta.s do inferno podem pre­
valecer, tornaram-se cheios do Espírito Santo e ,
por isto, ilustres e piedosos varões, conhecedores d e
muitas línguas, consagrados e idôneos para o Minis­
tério divino e assim confirmados na fé pelas pala.­
vras do Mestre : " S icut misit me Pater et ego mitto
vos . . . E untes in rnundum, universum praedicate
evangelium omni creaturae" .
O ! Igreja Católica Apostólica Romana, excel­
sa obra das mãos do Salvador ! Tu és a primeira
construção do Filho de Deus aquí na terra, tu, o te-

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18 LUIZ GUI�IARÃES

souro de inesgotáveis graças para toda humanida­


de ! Bemdita sejas!
O Divino Mestre, através de uma vida constru­
tiva e trabalhosa que aquí teve nos seus três últimos
anos, procurou sempre aperfeiçoar a antiga lei, com
expressões claríssimas, facilitando a todos a com­
preensão do divino decálogo e os meios de se obser­
vá-la .
Que perfeitas e proveitosas fontes de salvação
organizou Jesus no curto período trienal de traba­
lho benéfico pa,ra os homens !
O santo· sacramento do batismo, cujas aguas
puríssimas foi tle o prime!ro a receber no leito do
Jordão, das mãos do Batista, seu digno e fiel pre­
cursor, nos lava a mancha do pecado e nos torna pu­
ros para a união com: Deus, enquanto conserva a al­
ma o br:Iho daquela luz até então interceptada . E '
o diploma sagrado que habiilta à dignidade de cris­
tãos e de filhos da Igreja.
O matrimônio, estabelecido por Deus no para!­
so terrestre, quando uniu e abençoou os nossos pri­
meiros pais, e elevado à dignidade de sacramento
quatro mil anos depois, por Jesus Cristo, nas bôdas
de Caná, é a legítima instituição da família e fun­
damento da sociedade .
E a Eucaristia ?
Nas vésperas de ·sua morte, naquela memorável
e última ceia, em companhia de seus discípulos, e
com êstes pondo-se de pé, o Divino Mestre tomou o
pão e _o cálice com vinho, benzeu-os, e com a mais
piedosa oblação apresentou-os ao Pai Celeste, para
quem levantou ternamente os olhos e elevou o seu
espírito, dizendo logo aos apóstolos: "Este é o meu

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o GUIA no LAR 19

corpo", (referindo-se ao pão) " e êste é o meu san­


gue", (apresentando-lhes o cálice) .
" Quem deles se alimentar terá a vida eterna. "
E ass;m se instituiu o sublime tesouro da E u­
caristia, embelezamento primoroso do Cristianismo.
No dia da sua glor:osa Ressurreição, no cená­
culo de Jerusalém, onde s e achavam em retiro e ora­
ções, fechados à chave, os apóstolos e a Virgem
Santíssima, ficaram todos surpreendidos, ao verem
Jesus apresentar-se pessoal.mente e logo dizendo­
lhes : " A paz esteja convosco". E d irigindo-se aos
apóstolos acrescentou : " Assim como o Pai me enviou,
eu também vos envio'', e assoprando sôbre êles, con­
tinuou : "Recebei o Espírito Santo. . . aqueles a
quem perdoardes na terra, serão perdoados no céu,
e aqueles a quem não perdoardes, não serão perdoa­
dos " .
Belíssima e incontestável instituição divina, o
tribunal da Penitência ! E' a fonte de misericórdia
e a taboa de salvação para os náufrago:; neste mar
impetuoso da vida ; é o maior dos benefícios conce­
didos por Deus ao pecador .
Finalmente, Jesus, j á em agonia mortal, do al­
to do Calvário, pregado cruelmente na cruz, foram
estas as suas palavras de vingança, ante os verdugos
que tanto o martirizavam : " Pai, perdoai-lhes, por­
que êles não sabem o que fazem" Oh ! que belíssimo
exemplo de amor e caridade cristãos ! Depois,
vendo São João, de pé, ao lado de sua Mãe
amargurada, disse a esta : " Mãe eis aí o teu
filho". E em seguida, ao discípulo amado :
"Filho, eis aí a tua Mãe " . Oh ! amor infini­
to ! Mesmo em seus últimos momentos, legou-nos
em testamento de sangue, lágrimas e dores, a m�ds

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20 LUIZ GUIMAHÃES

preciosa das j oias, nossa incomparável Mãe Maria


Santíssima . Lágrimas benditas de Maria, sangue
preciosissimo de Jesus, lavar as nódoas do pecado
em nossas almas ! Salvai-nos ! E foi nessa hora ex­
trema, que Jesus-Homem nos proporcionou os últi­
mos benefícios em sua vida mortal .
Terminando, creio ter deixado nestas linhas al­
guns rudimentares conhecimentos relati vos à fina­
lidade do homem e à vida de Jesus, tão desconheci­
do dos homens, os quais, privados desta :graça, não
podem amar a Deus como �le quer e manda, logo
no prime:ro artigo de sua santa lei .
Quem não conhece uma pessôa, não pode amá­
la com perfeição .
Procuremos, pois, a Jesus na Eucaristia, onde
�le se acha continuamente em corpo, alma e divin­
dade, tal como está no céu, e onde o podemos vê-lo
reconhecê-lo, amá-lo e adorá-lo.
E sendo Jesus o próprio Deus, se o vemos, se o
conhecemos, se o adoramos, é ao mesmo Deus que o
fazemos.
E só assim poderemos solucionar os problemas
encantadores da nossa fi nalidade e. melhor observar
a santa lei de Deus .

••

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Capitulo

CO M OS M A R IDOS

E' êste o capítulo inicial do meu livrinho, 'que se­


rá sempre um auxílio para as constituições de lares.
O lar é um viveiro de boas ou más consequên­
cias, uma árvore de bons ou máus frutos a serem
colhidos na sociedade ; ' é mais ainda: é a base fnnda­
mental da coletividade social .
Produz bons frutos, quando a sua formação é
or'.entada em princípios básicos de fé espiritual e
cívica. Pela fé espiritual, que é a verdadeira sínte­
se do cristianismo, a chama ardente que afervora o
coração do soldado de Cristo ; pela fé cívica, que é o
encorajamento impulsivo e resistente do soldado
da Pátria .
Assim, o lar é uma instituição mísfca, necessá­
ria e única para a composição da sociedade . E es­
ta misticidade sublime, indispensável à vida i nte­
rior, faz do homem um católico dic:plinado e ao mes­
mo tempo um ótimo cooperador com a vida nacional.
Mas, quando não são observados êsses princí-
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22 LUIZ GUillIAR rn�

pios, quando Cristo ali não réna, passa o lar a ser


então um enxame d e zangões que só poderá concor­
rer para desgôsto e confusão de seus co-habitantes,
e também da sociedade.
Comecemos então pelos maridos, principais pro­
tagonistas dêsse complicado cenár:o da vida humana.
De todas as cousas terrenas, negócios, proprieda­
de, honrarias sociais, etc . , nenhuma deve importar
tanto ao homem da família como a boa orientação
do seu lar.
Aí deve êle empregar todo o esfôrço e empenho
para qu e as flores dêsse ameno j ardim, cultivadas
pelos espôsos, jardineiros consagrados por bençãos
de Deus, medrem viçosamente nesse ambiente de
cristianização, impregnado de pura fragrância eu­
carística. Mas, infelizmente, (e· este é o maior dos
males sociais), a maioria dos chefes de família des­
cuida pusilanememente dessa nobilíssima missão de
tanta grandeza !
E muitos dêsses homens, que se tornam réus de
faltas graves que cometem, desviados do bom camI­
nho, muitas vezes chafurdados em antros de perdi­
ção, teem, no registro da sociedade, que infelizmente
pouco s e interessa pela vida privada de seus pares,
um. nome de destaque, e são bajulados com grandes
encômios, de uma vez que desempenhem deveres
exteriores.
Cuidam com perseverança de cousas sociais, ze­
lam pela conservação do nome que teem entre seus
pares, esforçando-se ao mesmo tempo, afim de con­
seguir simpatias e para isso delicados e atenciosos
se tornam, principalmente tratando-se de senhoras,
no que fazem muito bem .

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O GUIA DO LAR 23

Mas, quando chega a vez dos de casa, quando


tratam com a sua cara-metade que deveria ser o
seu encanto, o seu maior tesouro, amizade e con­
fôrto nas tribulações e futuro arr'.mo na velhice,
adeus bons modos, adeus delicadeza !
Ao transpôr o limiar da porta, lá f6ra fica toda
sua filantropia e amenidade, para transformar-se
em estúpido grosseirão, dirigindo-se aos seus em
gritaria estridulosa, qual o rugir aterrorizador de
wna fera encurralada, causando espanto a toda vi­
z.inhança ! Que contra senso, meus Deus !
Justamente naquele santuário de bênçãos onde
deveria sempre penetrar sequioso de tranquiladed,
de paz e de contentamento, deixando na rua o nervo­
sismo, o descontentamento e todas as preocupações
de contrariedades de que lhe sobrecarrega a su a
vida de lutas continuas, para aí passar algumas
horas felizes .
O lar, quando nele reina o Cristo, quando obser­
vados os seus ensinamentos, é para o chefe e todos
os seus componentes, uma verdadeira Jerusalém pa­
cífica e confortadora . E' um doce convívio de delí­
cias para todos, é o jardim familiar onde o homem
pode aspirar, prazeroso, o delicioso perfume de suas
estimadas.flores - a espôsa e os filhinhos .

Aí terá os momentos mais felizes da vida, ai


conseguirá tréguas calmosas para sua$ lutas.
Quão belas e sublimes as maravilhas de um lar
feliz! Quantas bênçãos e graças não chovem naque­
les que o constituem digno deste nome ! E para a de­
sejada consecução de tudo isso, é mistér que sejam
observadas e cumpridas as prescrições do Divino
Mestre, reveladas à sua Igreja e transmitidas por

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24 LUIZ GUilllAl\AE!\

seus M'nistros quando, pelo sacramento do matri­


mônio, procedem a união matrimonial . Para melhor
ilustrar as considerações que venho fazendo sôbre o
modo atencioso e delicado que os maridos devem
ter para com suas espôsas, passarei a narrar em se­
guida alguns fatos acontecidos e sentenças apropria­
das, de pensadores ilustres, através de desataviados
comentários do autor .
" Gladstone, um inimigo terrível em público, nun­
ca fez crítica em casa, é o que diz Carnegie, em seu
livro "Corno Fazer Amigos" . Quando descia para o
café matinal e via que o resto da família ainda es­
tava dormindo, tinha maneira gentil de mani­
festar sua desaprovação . Alteava a v6z e enchia a
casa com um canto misterioso que lembrava aos pa­
rentes que o homem mais ocupado da Inglaterra
estava sozinho no andar terreo, esperando pEllo
café . Diplomata, discreto, refreava as críticas do­
mésticas .
O mesmo fazia Catarina, a grande . Catarina
governou um dos maiores impérios que o mundo j á
conheceu. Sobre milhões d e súditos, ela despunha do
poder de vida e de morte . Politicamente, foi várias
vezes uma tirana cruel, levando a efeito guerras des­
necessárias e sentenciando muitos dos seus inimigos
a serem derrubados pelos pelotões de fuzilamento.
Entretanto, se a cozinheira queimasse a comi­
da, ela 'nada dizia . Sorria e comia com urna toleran­
cia que a média dos maridos devia imitar .
Oliver Wendel Holmes, o querido "Autocrata da
Mesa do Café Matinal " era tudo, menos um autocra­
ta em sua própria casa . De fato, êle 'levava sua
consideração a um extremo tal, que quando se sen-

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O GUIA DO LAR 25

tia melancólico e triste, procurava ocultar suas tris­


tezas do resto da família . Era bastante ru'.m para
si, o ter que padecê-las só, sem dividí-las com os ou­
tros, dizia sempre . E' o que fazia Holmes .
Certo industrial de nomeada, ocupadíssimo no
escritório de su a fábrica de tecidos, a dirigir inúme­
ras cousas, costumava telefonar duas vezes e mais
ao dia para sua espôsa .
Não que êle tivesse novas para lhe dar, mas
para mostrar à pessôa amada que êle estava pen­
sando nela, e que o seu bem estar e a sua felicidade
lhe eram mu ito caros, e que el� se achava muito per­
to do seu coração" .
Como sabiam êsses homens compenetrar-se dos
deveres de um espôso d elicado e carinhoso e como
se achavam persuadidos de que ,a grosseria é o cân­
cer que devora o amor !
Todos devem saber disto e no entanto é notório
que somos muito mais delicados com os estranhos do
que com os nossos parentes .
Na Rússia dos Czares, era costume entre a mais
alta sociedade, quando terminava um jantar de que
os convidados haviam gostado, insistirem para que
o·cozinheiró fôsse trazido à sala, afim de receber as
congratulaçõ_es dos presentes . Porque não ter a mes­
ma consideração com sua espôsa, dando-lhe sinal de
satisfação e deixando-a compreender que você apre­
ciou muito certos pratos, principalmente o daquele
frango assado que estava saboroso? Dê-lhe um aper­
to de mão . 'Enquanto estiver fazendo assim não te­
nha receio de deixá-la compreender quão importante
é ela para sua felicidade .

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26 Lt:IZ GUil\IARAES

A delicadeza é tão necessária para o casamento


C<'mo o lubrificante é para o motor .
Ouçamos o ,que disse Dorothy Dix, a primeira
autoridade da América nas causas de infelicidade
matrimonial .
Ela afirma que mais de 50 % do total de casa­
mentos redunda em fracasso e sabe que uma das ra­
zões porque tantos sonhos românticos s e desfazem
na Côrte de Reno é a crítica - a fútil e dolorosa
crítica .
E' uma cousa que fere profundamente as espô­
sas e que deve ser inteiramente abolida entre os
maridos.
�stes devem sempre procurar todos os meios
que possam torpá-los agradáveis às suas mulheres.
As flores, por exemplo, não custam muito caro,
especialmente na primavera, e muitas vezes se acham
expostas à venda em diversos pontos da cidade ; en­
tretanto, são raros os maridos que levam algumas,
por simples que sejam, afim de presentearem as suas
espôsas . E é tal o efeito produzido por esta peque­
na ação tão inocente, que aquelas singelas flores
podem ser comparadas às mais raras e de ll$is alto
preço que possam aparecer na floricultura . Então
não aguarde ocasião em que sua espôsa esteja num
hospital para lhe dar flores . Por que não levar-lhe
hoje mesmo à noite, alguns cravos ou rosas? Espe­
rimente e veja o que acontece .
As senhoras dão muita importância à data nata­
lícia e outros aniversários ; e o verdadeiro motivo
dessa tradicional preocupação que ninguém pode
explicar, permanecerá sempre oculto no cérebro fe­
minino .

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O GUIA DO LAR 27

Assim, o homem poderá esquecer-se das princi­


pais datas de comemoração nacional, mas a data d o
aniversário d a espôsa e d o dia d o seu casamento,
isso nunca ; seria uma falta irreparável .
A maioria dos homens não calcula o valor des­
sas pequeninas cousas e atenções de todos os dias
como colaboradoras importantes da vida do lar, e
por isso deixa_m em abandono esta necessária apli­
cação de delicadeza e çarinho . Finalmente encerra­
se êste capítulo com alguns conselhos do grande
teólogo M . Miguel Martins, extraidos do seu admi­
rável livro - o "Missionario Brasileiro", transcre­
vendo outros muitos do mesmo autor no final dos
demais capitulos, com a epigrafe :
"O MISSIONAR IO BRASILEIRO"
"O homem deve procurar seriamente cumprir
com todos os ci� veres próprios do seu estado . Entre
êstes está o do homem casado, de tratar a sua mu­
lher com muito amor e ternura, lembrando-se sem­
pre que a mulher não é uma escrava ; mas é a sua
consorte, companheira dos seus trabalhos, dos seus
desgostos, bem como das alegrias e contentamen­
tos . Não pode proibir a sua espôsa de cumprir com
os seus deveres religiosos ; ao contrário, deve unir­
se co, m ela no cumprimento dêstes deveres .
Se quiser 'ter uma mulher correta, piedosa e di­
gna do seu estado, facilite sempre os meios que de­
pendam de si para que ela seja uma católica legiti­
ma na prática da religião . "

••

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C apitulo li

CO M A S E S POS A S

Uma das maiores preocupações da mulher ca­


sada, é a de conseguir o amoi.- sincero e uma lealda­
de perfeita do seu marido, empregando para :sso tu­
do aquilo que o agrnde, que o satisfaça, respeitados
todavia, os sa .grados deveres para com Deus .
ótimos conselhos e proveitosas advertências são
dados e feitas neste sentido, pelo sacerdote, ao ce­
-
lebrar o santo sacramento do matrimônio .
Procurando aproveitar todas as ocasiões e opor­
tunidades para conquistar o seu espôso e dele con­
seguir uma simpatia permanente, uma confiança
inabalavel, deve esforçar-se em zêlo e carinho pa
ra que nunca lhe falte a arnisade de Deus . Para
isto conseguir estará sempre em votos à Providên­
cia divina, em busca de bênçãos e.graças para aque­
le a quem ela desej a fervorosamente êstes benefí­
cios . Deve viver sempre de acôrdo com o marido,
obedecendo-o em tudo, mouos em cousas que pos­
sam ofender a Deus, e, mesmo aí, deverá portar-se
com toda.ª prudência afim de evitar desordens no
lar .
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30 LUIZ GUIMAMES

Fugir a todo transe de discussões d ;scordes e


intermináveis, quasi sempre consequência de gran­
des desgostos e algumas vezes causa de rancorosa!'!
aversões .
tAo em vez disto, não perderá ocasião de mani­
festar a seu marido, uma dedicação cativante, um
carinho especial e uma certa doçura em suas pala­
vras, afim de atrair a simpatia do seu inseparavel
companheiro .
O j uiz Joseph Sabbath, de Chicago, que já re­
viu milhares e milhares de disputas matrimoniais,
diz : " Cousas triviais, são a causa, muitas vezes, das
infelicidades conj ugais. Uma cousa simples como
um " até logo" pronunciado de certo modo, de uma
espôsa ao marido, quando êle se vai para o traba­
lho, de manhã, poderia evitar grande numero de de­
sord�ns " .
A tolerância e a paciênci'a em sofrer as peque­
nas faltas e imperfeições, produzem um efeito incal­
culável para harmonizar a convivência entre os ca­
sados ; e as exigências, as queixas, irritam e esta­
belecem uma situação dolorosa . Nlada de suspeitas
infundadas, instigadoras do ciúme que é um dos
mais poderosos auxiliares do inimigo na luta pró
ruina dos casados.
Para mais substanciar as reflexões que venho
fazendo, vamos ouvir os seguintes fatos históricos :
" Setenta e cinco anos atrás, diz o historiador :
Napoleão III da França, sobrinho de Napoleão Bo­
naparte, enamorou-se de Marie Eugenie Jgnace Au­
gustini de Montijo, Condêssa de Teba, a mulher
mais bonita do mundo, e desposou-a . Seus conselhei­
ros fizeram-no ver que ela era filha de um insigni-

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O GUIA DO LAR 31

ficante Conde espanhol . Mas, Napoleão repli�ou :


" QUe tem isso ? A graça daquela jovem, a sua beleza,
seu encanto, sua mocidade, encheram-me de uma fe­
licidade divina . Preferi uma mulher que eu amo e
respeito." Com estas palavras, num discurso pro­
nunciado do trono, desafiou uma nação inteira, di­
zendo : "prefiro-a a uma mulher desconhecida para
mim . "
Napoleão e sua noiva tinham saude, riqueza,
poder, fama, beleza, amor, admiração - todos os re­
quisitos para um romance perfeito . Nunca o fogo
sagrado de um casamento ardeu com incandescên­
cia · mais brilhante. Mas, oh ! a · chama santa cedo
feneceu e a incandescência esfriou, tudo se reduzin­
do a cinzas ! Napoleão poude fazer de Eugenie uma
imperatriz, e nada mais, em toda la belle France:
nem o poder do seu amor, nem o poder do seu tro­
no puderam impedí-la de ser ranzinza . Louca pelo
�iúme, devorada pela suspeita, escarnecia de suas
-
ordens, negan dÓ-lhe mesmo uma demonstração de
intimidade.
Aparecia no seu gabinête inesperadamente,
quando êle estava tratando de negócios do Estado .
Interrompia suas mais importantes discussões.
Recusava deixá-lo só, sempre receiosa de que
êle pudesse estar com outra mulher . Muitas vezes
correu para junto da irmã, queixando-se do marido,
ameaçando . Forçando assim a s ua vida, causou-lhe
sempre transtornos e aborrecimentos .
Napoleão, dono de uma dúzia de suntuósos pa­
lácios, imperador da França, não pôde encontrar um
tesouro de sua propriedade onda descançasse a. alma.
E o que conseguiu Eugenie com tudo isso?

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32 LUIZ GUIMARÃES

Aqui vai a resposta, segundo R einardt : " Na­


poleão, com um chapéu mole, caido sôbre os olhos,
e acompanhado por um dos seus confidentes, esca­
pava durante a noite por uma portinhola lateral, pa­
ra realmente encontrar-se com alguma dama airosa
que já o esperava, ou então reviver um velho hábi­
to, passeando pela grandiosa cidade, a respirar uma
atmosfera dos " pudera ter sido'', através das ruas
que um imperador raramente vê, fora dos contos de
fadas . "
Eis o que as impertinências ensejaram a Eu­
genie !
E' verdade que ela se sentou no trono de Fran­
ça ; é verdade que foi a mulher mais bonita do mun­
do ; mas, nem a realeza nem a formusura, puderam
conseguir manter vivo o amor no meio das veneno­
sas fumaças da desconfiança . Eugenie podia ter le­
vantado a sua voz como o velho Job e se la stimado :
"A cousa de que eu mais temia caíu sobre mim"
E foi ela quem a fez cair sobre si . Pobre mulher,
que com seu ciúme, com sua impertinência, cavou
a própria ruina .
Entre os estratagemas infernais já inventados
por todos os demônios do inferno para destruir o
amor, a impertinência e a teima são os mais no­
táveis .
Vamos a um outro fato quasi de idênticas cir­
cunstâncias .
"A mulher do Conde Leão Tolstoi descobriu,
isto quando já era tarde demais, e assim, antes de
morrer confesso_u às filhas : " Fui a causa da morte
de seu pai ?" Suas fp has não lhe responderam .

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O GUIA DO LAR 33

Estavam chorando . Sabiam qu e sua mãe dizia


a. verdade.
Sabiam que ela o matara com suas queixas cons­
tantes, sua crítica de todo o dia e sua eterna imper­
tinência .
Entretanto, o Conde Tolstoi e sua espôsa, de­
viam, por todos os motivos, ter sido felizes . �le foi
um dos ma,is famosos novelistas de todos os tempos.
Duas das suas obras primas " Guerra e Paz" e "Ana
Karenine" brilharam sempre entre as glórias lite­
rárias da terra . Tolstoi era tão famoso que seus ad­
mira.dores o seguiam dia e noite e taquigrafavam
todas as palavras _que êle pronunciava ; mesmo que
dissesse meramente " penso que vou de'.tar-me'', pa­
lavras tão triviais, tudo era anotado ; e ha pouco, o
:governo russo estava imprimindo todas as senten­
ças que escreveu, e os seus escritos dariam uma cen­
tena de volumes. Além de fama, Tolstoi e sua es­
pôsa tinham riqueza, posição social e filhos . Ne­
nhum casamento já floresceu sob céu mais amigo .
No começo, sua felicidade pareceu perfeita demais,
intensa demais para durar .
Assim, ajoelhados juntos, rogavam a Deus To­
do-Poderoso para continuar a sua ventura.
Então, aconteceu urna cousa. surpreendente:
Tolstoi foi mudando pouco a pouco. Tornou-se uma
pessôa totalmente diferente . Tornou-se envergonha­
do dos grandes livros que escrevera e desta época
em diante dedicou sua vida a escrever panfletos pre­
gando a paz e1 a abolição da guerra e da pobreza .
�ste homem, que certa feita confesso u haver· cometi­
do na sua mocidade, todos os pecados imagináve'·s -
mesmo o asassínio, ,Procurou seguir depois, literal-

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34 LUIZ GUIMAIUES

mente, os ensinamentos de Jesus . Deu todas as suas


terras e passou por uma vida de pobreza . Trabalhou
nos campos rachando lenha e empilhando feno . Fa­
zia seus próprios sapatos, varria seu quarto, comia
num prato de madeira e procurava. amar seus ini­
migos .
A vida de Leão Tolstoi foi uma tragédia, e a
causa desta, foi o seu casamento.
Sua mulher amava a luxúria., o que êle despre­
sava ; ela ansiava pela fama e pelos aplausos da so­
ciedade, mas estas cousas frívolas nada significa­
vam para êle ; ela suspirava por dinheiro e riqueza
e êle acreditava que a riqueza e a propriedade pri­
vada eram um mal . Durante anos ela respirou, cen­
surou, gritou porque êle insi'stia em conceder o di­
reito de publicação de seus livros sem qualquer re­
tribuição financeira .
Ela queria o dinheiro que os livros produzissem.
Quando Tolstoi se opunha aos seus desej os, ela
era acometida de crise histérica, rolava no soalho
com um vidro de ópio nos lábios, j urando que ia ma­
tar-se e ameaçando atirar-se da janela .
Ha uma. passagem na sua vida que parece uma
das cenas mais particulares da história. Como já fi­
cou dito, êles eram gloriosamente felizes no começo
da vida matrimonial, mas quarenta e oito anos de­
pois, êle dificilmente conseguia atenção da parte dela.
Certa noite, esta velha e desventurada espôsa,
faminta por afeto, ajoelhou-se a seus pés e mendi­
g-ou-lhe para ler alto, as lindas páginas de amor que
a cincoenta anos atrás havia escrito a respeito de­
la no seu diário.
Enquanto êle leu sobre os belos e felizes dias

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O GUIA DO LAR 35

que se foram para sempre, ambos choravam. Quão


diferentes eram as realidades da vida dos român­
ticos sonhos que tinham sonhado havia tanto tempo!
Finalmente, quando tinha 82 anos de idade,
Tolstoi não pôde por mais tempo suportar a trági­
ca infelicidade do seu. lar e fugiu de casa, numa noi­
te de intensa neve, isto em outubro de 1910 . Fugiu
no frio e na escur :dão, não sabendo para onde ir.
Onze dias mais tarde, morria de pneumonia nu­
ma estação de estrada de ferro . E o seu desejo de
moribundo foi qu e sua mulher não tivesse permis­
são para ir à sua presença .
Tal foi o preço porque a Condessa de Tolstoi
pagou pela sua impertinência, queixas e histeria.
Só a loucura poderia j ustificar essa infeliz mulher,
e acredito que, de fato, ela sofresse perturbações
em suas faculdades mentais, segundo o que ela pró­
pria, tal vez em estado normal, confessou reconhe­
cendo, porém, já tarde demais .
São estas as penas, ainda. na terra, para as
desgraçadas mulheres que, esquecidas dos deveres
do seu estado, assim procedem para com seus ma­
ridos .
Mas, felizmente, muitas são ainda as que com­
preendem e seguem a rota que lhes é traçada na vi­
da cristã . E. assim, vamos ouvir o fato seguinte, on­
de se aprecia a verdadeira compreensão de um ca­
sal exemplaríssimo, de seus mútuos deveres de aten­
ção e delicadeza, o que é justamente um contraste
com os qu e acabamos de narrar.
" Disraeli contava já seus 35 anos, quaudo re­
solveu consorciar-se . E não se casou por amor . A
mulher que lhe excedia quinze anos em idade estava

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36 Ll.:IZ GUI!llAIUES

já de cabelos brancos . 'Não era bonita e nem brilhan­


te ; era rica . Sua conversação era cheia de erros his­
tóricos e literários e que muitas vezes provocavam
risos. No trajar, o seu gôsto era bizarro, e fantástico
na arrulnação da casa .
Mas ela e ra um gênio, um gênio positivo na
maís importante cousa do matrimônio - a arte de
tratar os homens .
Nunca intentou sobrepôr sua inteligência a do
marido .
Quando êst� chegava em casa, fatigado e exaus­
to, depois de urna tarde de torneio de galanteria com
engenhosas duquesas, o frívolo temperamento de
Mary Anne, (era êste \o seu nome), permitia que
êle descansasse.
O lar, para o seu sempre crescente prazer, era
o lugar onde p�dia tranquilamente entrar nas suas
divagações mentais e aquecer-se no calor do coração
da espôsa.
As horas que passava no lar com sua idosa Ma­
ry eram as mais felizes da sua vida . Mary era a sua
confidente, a sua conselheira .
Todas as noites êl e vinha apressado da Câma­
ra dos Comuns para casa afim de lhe contar as no­
vidades do dia . E o que é mais importante, em tudo
que êle estava interessado, Mary Anne simplesmente
não acreditava que pudesse haver fracasso .
Durante 30 anos ela viveu para Disraeli e para
êle somente . Quanto a sua riqueza, dela tomou co­
nhecimento apf:'.nas porque lhe tornou a vida. mais
fácil .
Em compensação ela era sua heroína.
Disraeli se tornou Conde depois da sua morte,

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O GUIA DO LAR 37

mas, ainda quando fazia parte da Câmara dos Co­


muns, persuadiu a Rainha Vitória a elevar Mary
Anne à dignidade nobiliárquica. E assim, em 1869,
ela foi Viscondessa Blaconfield. Não se importava
que ela, néscia como era, pudesse aparecer em pú­
blico; nunca criticava, nem pronunciava palavra que
pudesse ofendê-la, e se alguem ousava ridicularizá­
la, surgia em sua defeza com uma lealdade feroz.
Ela não era 'perfeita, entretanto, aurante sua vida
conjugal, nunca cansou de falar sôbre o marido, elo ­
giando-o, admirando-o.
Por sua vez, Disraeli nunca fez segrêdo de qu�
Marie Anne er� a cousa mais importante de sua vida.

Graças a essa bondade, Mary sempre dizia às


suas amigas: "Minha vida tem sido uma longa cena
de felicidades. Entre êles havia uma pequena pilhé­
ria. - "Você sabe, disse Disraeli, que eu me casei
com você, foi somente por causa do seu dinheiro?"
- "Sim, retrucava ela, mas se você tivesse de fazer
isto outra vez, casaria comigo por amor, não é?"
:ti:le confessava que sim
.

Mary Am;1e não era perfeita, mas, Disraeli foi


bastante sábio para deixar que ela perfeita se f i ­

zesse."
Qual foi a causa dessa feliz união por- tantos
anos? Os bons modos e a delicadeza de Disraeli, re­
tribuídos sempre por Mary Anne. "A mulher faz o
marido e o mB:rido faz a mulher," dlz o antigo bro­
cardo.

Por aqui pode-se calcular a. importância dêsses


sublimes atributos - a prudência e a delicadeza re­
cíproca para a felicidade do lar.

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38 LUIZ GUIMARÃES

"Do Missionário Brasileiro".


"A mulher deve amar sinceramente e com devo­
ção a seu marido. Deve fazer tudo quanto depende
de si para que êle seja bom e cumpra com os deveres
religiosos; e para conseguir êste fim tão santo, ro­
gar constantemente a Deus, pedindo ao marido que
procure viver na amizade e união com Cristo. Mas,
deve isto fazer com respeito, doçura, agrados, e nun­
ca com meios autoritários, repreensões, injúrias,
para não desagradá-lo e para que a sua tentativa não
produza efeito contrário.
Em tudo deve obedecer ao marido, menos em
cousas que possam ofender a Deus, e mesmo nesse
penoso caso, pr.ocederá com toda a prudência afim
de não perturbar a paz. Se não puder conseguir
com agrados, carinho, suplique-o com toda humil­
dade. Com o emprêgo da oração e todos êsses meios,
conseguirá a graça necessária para vencer, e agra­
dar a Deus sem romper a harmonia que deve reinar
entre os casados.
Deve ser tolerante e sofrer pacientemente as pe­
quenas faltas e imperfeições. As queixas, as exigên­
cias quasi sempre, e sobretudo neste sentido, irritam
e produzem efeito contrário. Não deve nutrir sus­
peitas infundadas, mas, pelo contrário, formar bom
conceito de seu marido. Nada de consentir que lhe
venham dizer mal dele, mesmo que tenha certeza de
ser verdadeira a acusação; e quando alguem tiver o
atrevimento de vir trazer-lhe novidades sôbre a sua
conduta, deve mostrar-lhe a porta da rua e nunca
mais consentir que entre em sua casa.
Deve auxiliar seu marido no trabalho, ser eco­
nômica para facilitar os meios de honesta subsistên­
cia para toda a familia . "

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Capitulo Ili

COM OS PAIS

Chegou a vez de se tratar da parte mais grave


e de principal _responsabilidade no tocante à organi­
sação e direção de um lar. E' justamente do que va.,.
mos tratar, falando especialmente aos pais e mães
de família, neste e no seguinte capítulo a percor­
rermos
O homem foi criado para exerecer aquí na ter­
ra todas as funções determinadas pelo alto desígnio
de Deus, tendo à sua disposição e para o seu gôzo
o conjunto de todas as cousas criadas; e para depois
desta vida fruir as recompensas divinas.
Entretanto, o inimigo, com a sua obra satâ­
nica, o pecado original, procurou estorvar essa de­
terminação divina, mas frustrado ficou o seu perver­
so plano, pela ação misericordiosa do Onipotente
que, conhecedor da p.ossa fragilidade, construiu-nos
as barcas salvadoras da Redenção, do sacramento
do batismo e do tribunal da penitência. Esta, é a
última, e pode dizer-:se, a única taboa de salvação,
porquanto é a puríssima fonte que nos lava e puri­
fica quando, após a santificação pelo batismo, o ini­
migo nos arrasta à lama pútrida do pecado.
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40 LUIZ GUIMARÃES

Para mais nos vivificar a fé, para mais nos for­


tificar na luta �ontra o inimigo, o Salvador, com o
coração a transbordar de amor para com seus filhos,
na véspera de sua morte tormentosa, instituiu o es­
t upendo mistério da Eucaristia . " Este é o meu cor­
po, este é o meu sangue ; quem deles comer e beber,
terá a vida eterna" . Confortadoras palavras !
Na Hóstia consagrada, isolada no sacrário, es­
tá Jesus, Deus e Homem, em corpo, alma e divinda­
de,· tão real como está no Céu.
Ai podemos conhecê-lo, amá-lo, adorá-lo, aco­
lhendo-o em no;;sos corações e assim cumprirmos o
primeiro rnanda,mento, porque se conhecermos, amar­
mos e adorarmos a Jesus na Eucaristia, é ao pró­
prio Deus que o fazemos.

Depende agora do homem de boa v ontade, e


com o livre .arbítrio de que se acha possuído, procu­
rar aproveitar e praticar todas essas obras de bene­
ficência, parn delas tirar o proveito desejado. E é
principalmente o homem que se eleva à suprema
dignidade de pai, que mais precisa conhecer Jesus, a
sua doutrina, toda a sua vida e praticar continua­
mente êsses santos exercícios, para assim, e só assim,
conseguir os necessários predicados para .a direção
do l lar. Ainda é êste mesmo homem que se deve
identificar com as instruções e ensinamentos da
santa Igreja de Deus, tão rica e pródiga em trans­
mitir-nos as santas revelações e sempre alerta para
assistir aos fieis que a procuram . Assim, tornar-se­
á apto e digno do nobilissimo apostolado de pai, e
conhecedor e real executor do seu programa .
Mas, infelizmente, a maioria dos pais não se
interessa por êstes conhecimentos . Quantos tenho

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O GUIA DO LAR 41

visto que dispõem de recursos e despendem avulta­


das quantias em certos livros, romances, obras fú­
teis e quasi sempre nocivas à moral, e recusam adqui­
rir um livrinho siquer que trate dêsses ensinos cris­
tianizadores de tamanha necessidade ao católico !
E quanto ao dever de propagar a imprensa ca­
tólica, fortaléZa inabalável contra as tempestuosas
ondas do protestantismo contra Deus e suas obras?
" Este j ornai não serve . . . nada tem para ler, " dizem
êles, " não me· interessa. " O jornal que me enche as
medidas é o A ou B, estes sim, podem-se ler. "
E assim vão-se tornando cada vez mais ignoran­
tes daquilo que mais precisam saber.
Quem não sabe não pode ensinar, são palavras
de Pio XI, de santa e saudosa m,emória, que tão
bem houve em propagar, impulsionar e oficializar a
Ação Católica, que tanto se esforça em cogitar de
torlo o necessário para o desempenho de uma vida
cristã.

Estudai e aprendei, ó pais de famílias, p.ara


assim poderdes ensinar a vossos filhos e deles con·
seguir "fieis soldados de Cristo e ao mesmo tempo,
abnegados filhos da pátria. Medí com toda atenção a
enorme profundeza da vossa reponsabilidade. Tor­
nai-vos habeis pilôtos no leme dêsse barco divino -
o vosso lar, - para assim poderdes favoravelmente
conduzí-lo até o porto seguro, através dêsse mar agi­
tadíssimo de fraquezas humanas, que são outras tan­
tas borrascas infernais.
Ensinai, ensinai muito pelos bons livros, en­
sinai pela palavra, o que aprenderdes de culto e
moral na sociedade, ensinai pelo catecismo que é o
ponto básico e essencial de partida na grande pere-

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42 LUIZ GUIMAIUES

grinação desta vida. Ensinai, finalmente, pelo bom


exemplo, certo de que, é êste o ensinamento que mais
grava no cérebro das crianças.
Q'uantos pais deixam ao abandono a direção
de seus lares, ou pior ainda, com o seu mau proceder,
com discórdias contínuas e com o seu máu exemplo,
os transformam em casas de desordem� onde não
reina Cristo e sim o rei das trevas co,m o seu estado
maior, flageladores da humanidade .
E .no entanto, metidos nesta confusão diabólica,
dando aos seus os exemplos mais condenáveis, nem
de leve consideram a enormidade dos crimes que pra­
ticam !
O modo de viver dos ,pais, é a bússola atraente
para o rumo que os filhos teem a tomar .
Para melhor comprovar esta asserção, vou con­
tar um fato verídico, que se deu, numa casa de fami­
lia cristã, em uma das cidades do interior de Minas.
Uma senhora distinta e ornada de muitas vir­
tudes, tinha o bom costume (o que todos devem ter),
de rezar o terço de N ossa Senhora todas as noites, o
que conservou desde o tempo de menina. Casando­
se ,não pôde conseguir que o marido a acompanhas­
se nêste piedo!lo exercício, por quanto, nessas horas,
estava êle sempre fora de casa.

Do casal vieram dois filhos que se tornaram o


encanto da família. A mP.nina já contava mais de
sete anos e o pequeno ainda não atingira os seis .
Numa noite em qu e a Senhora, a filha e os de­
mais fâmulos da casa iam rezar o · terço, a mãe, pela
primeira vez, chamou o filhinho para rezar também.
O menino entrou para a sala das rezas onde já

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O GUIA DO LAR 43

se achavam todos ajoelhados, e foi logo se deitando


e m um sofá. - Meu filho, ajoelha-te, disse-lhe a mãe.
E a criança desembaraçadamente respondeu : Ho­
mem reza é deitado, mamãe . - Quem te ensinou
isto? redarguiu a mãe . - Papai quando vem da rua
não é depois de deitado que êle faz o sinal daCruz ?
E' êste o conceito que j á se tinha formado no peque­
no cérebro dag.uela criança.

Cuidado, muito cuidado, pais e mães de fami­


lias, com o que praticardes à vista de vossos filhos;
procurai sempre apontar-lhes e encaminhá-los na ver­
dadeira via do Senhor .

Certa pessôa disse uma vez, que dominada pelo


fastio, passara seis dias e seis noites sem comer, e
que isto não foi dificil, pois, no fim do sexto dia
estava com menos fome do que quando lhe decorria
o segundo. Entretanto, quasi todos os chefes de fa­
mília suporiam um crime deixar os seus filhos sem
alimento, já não digo seis dias, mas um apenas.
E no entanto, deixam-nos por dias, mêses e até
anos, sem lhes proporcionar o alimento espiritual,
com a devida maestria e dedicação de educadores
cristãos, cousa que tanto precisam para o sustento
da alma, de quem mil vezes mais se deve cuidar .

Procuram sempre para seus filhos alguns bifes


com batatas e outros alimentos fortificantes na per­
suasão de que êles adquiram fôrça e energia na sua
constituição física, mas discuram de dar-lhes, com
palavras e exemplos, alimentos cristianizadores pa­
ra sua formação e fortificação espiritual, sendo que
esta é de muito mais importância que a primeira.
Os filhos não pertencem inteiramente aos pais,

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LUIZ GUIMARÃES

conforme muitos dêstes o supõem . Pertencem a


Deus, quepor intermédio deles dá-lhes a existência .
Os pais são legítimos procuradores de Deus, com
poderes especiais de zelar, educar, corrigir e fazer
tudo mais que possam, para o seu crescente desenvol­
vimento físico,_ moral e religioso, segundo a vontade
do divino outorgante .
Para a· boa compreensão dêstes santos deveres,
e um perfeito conhecimento da responsabilidade
tremenda perante Deus, pelos enormes danos que
vierem sôbre seus filhos, e até sôbre si próprios, pe­
lo descuido e dezidia no exercício dessa missão, é
indispensável uma profunda meditação dos pais sôbre
Of'I pontos aconselháveis de feliz orientação nessas
obrigações .
Quando Deus concede ao homem a grande e su­
blime honra de ser pai, confia-lhe um precioso te­
souro a guardar .

Assim, d�ve êste homem esforçar-se para que


seus filhos sejam fortes, robustos e acostumados ao
trabalho desde pequenos, evitando a ociosidade que
é a mãe de muitos vícios. E se assim deve proce­
der quanto a parte material, muito mais ainda deve
ser o zêlo a empregar pelo lado espiritual que é o
serviço de Deus :
E o maior êxito para tudo issto está na boa edu­
cação, iniciada cuidadosamente, logo que as crianças
comecem a ter. algum conhecimento das cousas .
Não basta que os estabelecimentos de ensino
estejam providos de ilustres e hábeis professores
para os cursos ·de instrução leiga, é preciso também
que entre êles h,aj� o temor de, Deus e que êste reine
em todo o instituto .

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O GUIA DO LAR 45

A frequência assídua à s aulas d e catecismo é


uma das cousas que muito deve interessar a todos os
pais e mães de família . E quantos moços são atual­
mente educados numa ignorância quasi completa d e
instruções religiosas ! Muito mais d a média dos pais
não cumprem o grande e substancial dever de comu­
nhão pascal, concorrendo com êste máu exemplo pa­
ra a vida irregular de seus filhos . Querem que êles
compreendam tudo que possa ser util à vida terrena,
deixando de lado as cousas e o ensino da religião .

E' da falta dêste ensinamento que vem o destemor


de Deus e daí as consequentes desordens e perturba­
ções na sociedade .

O cuidado . e zêlo para com os filhos nunca de­


vem f.altar principalmente até a sua completa for­
mação .

Desde pequenos devem ser sempre aconselhados


por seus pais a fugir das más companhias, de coló­
quios com meninos perdidos, vagabundos, que vivem
pelas ruas a praticar atos feios e rnáus ; a não fre­
quentar reuniões duvidosas e espetáculos de cenas
imorais ; a res:tJeitarem a todos, e de modo especial o s
mais velhos, os ministros de Deus e a todos o s atos
da Igrej a ; emfim, procurar incutir no tenro cérebro
d.as crianças durante o seu desenvolvimento físico,
tudo quando possa concorrer para que sejam elas
sempre boas, estimadas de Deus e da sociedade . E
quando chegarem à época da puberdade, procurar
com prudência � certo geito, dar-lhes alguns conhe­
cimentos de cousas naturais da época, antes que o
mundo lh'as ensine de modo inconveniente . E isto
para que os moços mais ou menos fiquem ao par do

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46 LUIZ GUIMAIUES

que devem fazer, principalmente no tocante à moral


e à saúde .
Muito depende destas instruções a conservação
da saúde dos moços que lhes proporcionará o requi­
sito mais necessário para a constituição de uma fa­
mília sadia e rqbusta .
Li numa revista publicada em Paris o lamenta­
vel fato que passo a expôr :
" Havia �li um casal que não tendo religião não
deu a seus f ilbos o necessário ensino religioso . Algu­
mas de suas filhas casaram-se, outras não . A mais
velha, que a-pesar-de seus ardentes desejos, não
tinha achado casamento, ficou com isso muito tem­
'
po contrariada . Um dia, tendo um pensamento si­
nistro, nele plenamente consentiu, e resolveu entre­
gar-se à vida pública . .Safa e foi alugar uma casa
nos subúrbios da cidade . Quando deram por sua
falta, os pais ficaram extremamente perturbados .

Mais tarde a moça chegou e foi imediatamente


ao seu quarto e começou a arranjar as roupas, calça­
dos, e todos os obj etos de seu uso particular em sua
mala .
Os pais apreensivos, nervosos, lhe perguntaram :
- Minha filha, parece que ides fazer uma mudança ?
Sim, respondeu ela : nasci e cresci nesta casa e
nunca, nem uma s6 vez, aqui me falaram de virtude,
de vicio, de alma, de Deus ; aqui só me falaram de
grandezas, de divertimentos, de prazeres . Como não
tenho mais esperança ele gozar aqui de prazeres, de
divertimentos, vou procurar os prazeres e os diver­
timentos no mundo . Os pais chorando, lhe per­
guntaram : - Onde, então, minha filha, vai morar ?
Ela respondeu : Meu pai, minh:;i mãe, vou, infeliz-

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O GUIA DO LAR 47

mente, morar onde moram essas desgraçadas .que,


como eu, não tivera,m pais para dar-lhes a devida
educação religiosa . Adeus, meu pai, adeus, minha
mãe . E lá se foi a moça para a prostituição !
Outro fato sensacional apresenta-nos M . Mai­
raan, lente da academia de ciencias em Paris, fato
acontecido na cidade de Bezier .
Havia ali um livre pensador que tinha dois fi­
lhos e uma filha . Êle chamava de prej uizos os en­
sinamentos divinos e zombava de tudo quanto diz
respeito á relig!ão .
Os três filhos perderam todo o respeito devido
aos pais e entregaram-se à libertinagem . Morrendo
de desgostos a mulher, os filhos exigiram de seu
pai toda a herança, e assim, reduziram êste pobre ve­
lho à mais compJeta miséria .
O filho mais velho cometeu um crime hediondo
e espirou no cadafalso . A moça, ficando sem recursos
devido aos seus desmandos, morreu num hospital d e
mendicidade, e o filho mais moço, abandonado por
uma espôsa infiel, entregou-s e à malandragem e a
bebedeira, miseravelmente morrendo pouco depois .

O velho, acabrunhado pelos desgostos profundos


que o assaltavam, e nloqueceu . E ntão, continuamente
bradava batendo com as mãos no rosto e no peito :
Onde estão minha mulher e meus filhos ? Oh ! estão
no abismo ! Infeliz que e� sou ! Tudo para mim, está
irremediavelmente perdido para sempre ! E nêste ex­
tremo desespêro ter;minou os seus dias num asilo de
alienados . "
• Como é lamentavel a falta de religião e do en­
sino religioso !

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48 LUIZ GlJIMAIUES

Do Missionário Brasileiro

"A ordem, o respeito, a disciplina e boa harmo­


nia, só se encontram onde existe o temor de Deus,
frutos produzidos da boa educação religiosa . São
incalculáveis os benefícios provindos dessa educação
e também os males decorrentes da sua falta . Si as­
sim é para esta vida de tão rápida existência, o que
não será para sê alcançar a vida eterna.?
A qualquer hora inesperada os pais que soube-
rem educar se!JS filhos na religião, teem de compa­
recer diante de Deus para serem j ulgados ; e aben­
çoados por Jesus pelo bem que aqui fizeram, rece­
berão as recompensas de suas virtudes e também
da� de seus filhos . Depois êsses 'bons filhos alí esta­
rão dizendo a Jesus : Nós vos agradecemos por tan­
tos favores, e depois de vós, agradecemos aos nossos
bons pais e com êles seremos felizes eternamente .
Não se dará assim com os máus que, no supremo
Tribunal divino serão julgados e condenados pelos
males que fizer�m ; e algum tempo depois virão por
seu turno os máus filhos para o mesmo j ulgamento ;
e, ouvindo a tremenda sentença contra êles proferi­
da, exclamarão : Senhor, �ois justo, merecemos a
vossa condenação, porque realmente somos culpados :
porém, ainda mais culpados que nós, são aqueles pais
deshumanos e crueis que não nos deram a educação
necessária afim de conhecermos os nossos deveres
para convosco . Iremos, separados de vós, ser eter­
namente infelizes ; mas, seremos companheiros da­
queles que, com o demônio, foram a causa de nossa
desgraça .
E assim, pais e filhos, amaldiçoados por Jesus,
o Deus de tanta bondade e rnisericordia, ficarão

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O GUIA DO LAR 49

eternamente entre os demônios e todos os condena­


dos, a sofrerem horríveis tormentos .
Quado, por desgraça sua, uma familia não é
religiosa, o pai não se impõe ao filho, o filho não
obedece o pai, os dois espôsos e os irmãos não se
amam mutuamente .
Muitas vezes é um membro d a mesma. familia
que em seu seio implanta a desordem e até a des­
honra .
Muito mais ainda do que a família, perdem o s
pais com a falta d e educação religiosa em seus filhos.
Quem não ama a Deus, a ninguem mais amará
com verdade, com pureza, com sinceridade
Os filhos sem religião não podem. ter verdadei­
ro a.mor a seus pais . J!:les teem dinheiro para tudo ;
para bebida, para j ogo, para diversões, mas não teem
vintem para dar a seus pais, muitas vezes velhos,
doentes, pobres .
Os pais passam pelo desgôsto e pela vergonha
de ver seus filhos desconsiderados, desacreditados,
repelidos pela melhor sociedade ; passam pelo des­
gosto e pela vergonha de ver um filho ser proces­
sado, condenado como ladrão ou assassino ; de ver
uma filha ou um filho atentar contra a própria exis­
tência, cometendo o horroroso delito do suicídio que
é a infâmia social . Quantos pais não pagam o seu
crime de não ter dado e ducação religiosa. a seus fi­
lhos, vendo algumas vezes uma filha entregue à pros­
tituição ou perecendo êle mesmo como vítima imola­
da pelo rancor e ferocidade dos seus próprios filhos.
Compenetrai deveras, 6 pais, perante Deus, com
relação ao exato e conveniente ensino a seus filhos !

••

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C a p i t ulo IV

CO M AS M Ã ES

Se aos pais impõe-se tão severamente o dever de


cuidar escrupulosamente da vida dos filhos, o
que diremos das mães que, embora o seu governo no
lar esteja em segundo plano, mas com atribuições
melindrosissimas, dependentes de zêlo e carinho
ainda mais acentuados em alguns pontos do que os
requeridos áqueles .

O Divino Criador autenticou na mulher quan­


do mãe, um perfeito anjo tutelar ao lado do filhinho
para, alerta como a lebre, vigilante e sagaz como o
felino, permanecer sempre a seu lado, afim de ve­
lar carinhosamente o cordeirinho querido e e m sua
defesa sacrificar até a própria vida .
Quanta alegria, quanto prazer sente, ao espe­
rar, ansiosa, Õ aparecimento do idealizado re­
b ento e depois o pronunciamento imperfeito daque­
las primeiras articulações a saírem dos lábios ino­
centes do pimpolho ?
Que inegualavel e profundo contentamento in
vade o coração daquela que lhe deu o ser e sabe ver­
dadeiramente ser mãe ! Só ela poderá, no recôndito
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52 LUIZ GUIMARÃES

do seu coração, no ardor de sua alma, gozar as do­


çuras dêste puro e santo amor .
E esta boa mãe, como todas devem ser, é que, in­
fatigável, acompanha sempre o filhinho, assis­
tindo-o piedosamente com os mais belos ensinamen­
tos cristãos, a par dos exemplos mais edificantes .
E não ficam aí os cuidadosos desvelos de uma boa
mãe .
Q'u ando a criança se vai desenvolvendo em co­
nhecimentos, mais a mamãezinha procura guiá-lo no
caminho certo .
E para isto é preciso procurar conhecer bem a
índole da criança, a sua constituição física, o seu
temperamento nervoso e a causa de qualquer irre­
gularidade nas funções de seus orgãos, chamando
em seu auxílio, quando preciso, a intervenção de al­
gum facultativo especialista .
Ninguem quer ser contrariado, é verdade ; os
meninos, especialmente os neuróticos, quando os seus
desej o3 não são satisfeitos, mesmo tratando-se de
cousas etravagantes e inconvientes ; e por isto as
mães e também os pais devem conhecer bem o gê­
nio, as condições físicas de seus filhos, para sãbia e
prudentemente poder conduzí-los, corrigindo-os
quando necessário .
Primeiramente devem ser as crianças exorta­
das com conselhos delicados e de branduras ; não
dando resultado, então mais força, mais energia nas
palavras, mas nunca com gritos e berros espalhafato­
sos, como muitos fazem ; êste sistema é contraprodu­
cente, visto o menino habituar-se com tais gritarias
e tornar-se também gritador e mais barulhento . Si
estas severidades no ralhar, no aconselhar, não pro-

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O GUIA DO LAR 53

duzirem ainda o êxito desejado, aí então, serão em­


pregados castigos morais, como prisão enquanto fe­
chado e outras contrariedades, mas sempre susten­
tando a nota até o tempo determinado, sem atender
choros e nem pedidos, para evitar desmoralização .
E finalmente, se nada disso fôr suficiente pa­
ra a correção do menino, então empregar-se-ão cas­
tigos físicos, mas com calma e prudência . Bastam
umas poucas varadinhas de marmelo pelas pernas
para que o menino sinta bem na hora, mas daí a pou­
co torne-se bom, alegre, dócil e obediente . Com os
elementos necessários de uma boa educação, devem
estar em primeiro lugar os rudimentos iniciais d a
doutrina d e Cristo, como sejam o sinal da Cruz, o
Padre Nosso, a Ave-Maria, o Credo, e daí por diante,
à proporção do desenvolvimento da criança . Não só
para êstes ensinamentos de catecismo, como para os
demais de carater cívico e doméstico, deve ser obser­
vado um horário cômodo para tudo isso previamente
organizado, porque sem ordem e disciplina nada se
pode consegui� .
Outra cousa que muito deve ser observada é o
procedimento mútuo do casal quando estiver corri­
gindo o� filhos ; um não deve intervir de modo algum
quando o outro estiver nestes exercícios . Embora na
persuasão de que o exemplador esteja errado e o
,menino tenha alguma atenuante, deverá ser aguarda­
da uma oportunidade, na ausência da criança, de mo­
do a chamar a atenção do companheiro ou compa­
nheira, para que haja mais cuidado e atenção ao
corrigír os filhos .
Pelo fato seguinte, pode-se avaliar o quanto a
educação infantil, fora dêstes princípios aqui acon-

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54 J,UIZ GUlllfAIUES

selhados, pode trazer consequências lamentáveis e


de grandes desgôstos .
Em uma cidade mineira, conheci certa familia
um tanto próspera, bem conceituada e sobretudo
religiosa . Aos filhos do casal que eram cinco, os pais
procuraram dar uma educação cristã, digna de sua
posição e nome sociais .
A dois quilômetros da casa, em urna aprazive_l
habitação campestre, residia a avó materna daque­
les meninos, aos quais dedicava muita estima e ca­
rinho, e sempre se opunha a qualquer contrarieda­
de que lhes causasse aborrecimento .
Entre êles, havia um garotinho apelidado por
" Nhonhôzinho", que costumava passar tempo­
radas, em casa da vovó, o que nem por isso
agradava aos pais, devido a adulação e momo
exagerados que ela fazia ao netinho . Um dia em
que a velha se achava em casa da filha, o que cos­
tumava fazer sempre, ao aproximar-se a hora do
lanche, chega da rua o dono da casa, justamente
quando Nhônhôzinho, todo bravo e birrento, grita­
va e chingava à sua mãe em represália a urna enér­
gica repreensão desta . O pai, chegando naque­
le momento, observou a insubordinação e grosseria
do filho, verificadas já pela terceira vez, apesar­
dos meios empregados para corrigí-los, pegou o pe­
queno pelo braço e com uma varinha de marmelo,
começou a passar-lh'a pelas pernas, e a proporção
que batia, chamava a atenção da criança pelo mal
que praticava .
A sogra, que se achava costurando num quar­
to contiguo, ouvindo o berreiro e os gritos do neto,
correu a toda brida ao econtro do genro e dele to-

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O GUIA DO LAR 55

mou a criança, proferindo impropérios de censura,


levou-a consigo nos braços até o quarto, e aí, insis­
tente nas reprovações ao procedimento do genro, ni­
nava o netinho ao colo, a quem procurava acalentar
com mimos e palavras carinhosas .
Resultado : �ste menino estimulado pelas pala­
vras de censura da avó contra seu pai, dêste tomou
antipatia, embirrando a acompanhá-la e com ela
morar, ficando sob o domínio e educação de tão le­
viana mulher, embora a oposição do genro .
Depois de moço, devido à má educação que rece­
bera da avó, tornou-se indígno da boa sociedade, in­
subordinado, e a praticar ações más, de modo que
veio a cometer um crime infame, tendo de prestar
contas com a j ustiça, causando inumeros desgôstos
a seus pais e também áquela qu e tão mal o educára .

Os outros irmãos, dois homens e duas mulheres,


que foram educados noutra e scóla, deram gôsto a seus
pais e tornaram-se queridos da sociedade, que neles
reconhecia bons católicos e por isso bons cidadãos .
:a:ste fato apresenta de um modo. claro e positivo
as consequências do amor mal entendido de tantos
pais e mães qu_e se regosij am com o fazer em tudo a
vontade aos filhos, tolerando e sujeitando-se a todas
as birras e exigências dos mesmos, sem procurar
contrariá-los nas ocasiões precisas e isto desde os
seus primeiros anos ; porque, a árvore torta só pode
ser endireitada em quanto nova, diz o adágio popu­
lar . E' um costume sedutor, mas enganoso êste, de
muitos pais quererem fazer sempre a vontade dos
filhos na persuassão de ser-lhes agradáveis e d e
fazer-lhes bem, quando, a o contrário, vão acumulan­
do males e desgôstos, para quando tiverem mais tar-

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50 LUIZ GUIMARÃES

de de contrariâ-los . A criança é como a cêra que,


em quanto aquecida pelo calor, cede facilmente a to­
das as remodalações que se lhe queiram dar, mas,
depois de endurecida nada mais se pode conseguir .
Vou encerrar êste capítulo com um paralelo
comparati V'O, repisando recomendações instrutivas
na educação da_ infância .
Na convicção de que qualquer frase, conto ou
ensinamento, por pouco que possa concorrer para o
desenvolvimento convincente de tão elevado certa­
me, é que me dispus a acrescentar aqui mais algu­
mas linhas a respeito .
Um lar de muitos filhos pode ser comparado
com êsses jardins onde se encontram plantinhas de
diversos tamanhos e condições . São o produto de se­
mentes plantadas pelos jardineiros incumbidos des­
ta missão . As sementes são hereditarias, produzi­
das de flores de outros jardins . As vezes não são
de primeira qualidade, mas, tal o cuidado e o capri­
cho no seu cultivo que o produto torna-se ótimo ofe­
recendo ao culti vador as mais lindas flores para ad­
miração de todos .
O mesmo se dá com árvores frutíferas e urba­
nísticas ; aquelas derivadas às vezes de sem.entes pu­
ras e colhidas com todo o cuidado de frutos saboro­
sos, quando não tratadas convenientemente, germi­
nam arvorezinhas raquíticas que só podem produ­
zir o qu e de todo não agrada . Da mesma maneira,
as árvores destinadas ao urbanismo exigem cuidado
·especial para o seu desenvolvimento, porque, depois
de crescidas não mais cedem a certas modificações
e nem obedecem a qualquer tentativa de melhoria na
sua estética . Estas árvores floríferas, frutíferas e

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O GUIA DO LAR 57

urbanísticas se não tiverem cuidadosamente um cer­


to tratamento, tornam-se imprestáveis para o fim a
que se destinam . E' o que se dá na sociedade .
Se os educadores, e de um modo especial, os pais
·
e as mães, não procurarem compreender e por ati­
vamente em execução estes meios aconselháveis na
educação de seus filhos, teremos de ver resumida ou
extinta a gloriosa classe de bons católicos que são
outros tantos servidores da pátria .
O valor e os predicados sociais não são qualida­
des inatas ; entretanto, certos dotes de nascença são
poderosos, mas, ninguém deve duvidar que a perso­
nalidade é suscetivel de cultura e passa por extraor­
dinárias mudanças, conforme o objetivo visado pe­
los educadores e o seu desempenho .
A comparação que ora faço é urna das que mais
se adaptam ao quadro de instruções a educadores e
especialmente àqueles que de Deus receberam a no­
bilíssima incumbência de dirigir lares .
O' pais e mães de familia que me ouvis ! Aten­
dei bem sobre a enorme responsabilidade que vos pe­
sa pela boa edu.cação de vossos filhos e não vos es­
queceis das grandes recompensas, da brilhante co­
rôa que vos cingirá a fronte no Céu, se cumprirdes
atenta e fielmente os vossos deveres ; mas, meditai
sempre nos sofrimentos terriveis que vos esperam
se assim não procederdes .

" Do Missionaria Brasileiro"


"A mulher da casa, depois de seu marido, é a
responsavel perante Deus pelo procedimento de todos
da família, senão se empenhar seriamente para que
todos sejam bons .

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58 LUIZ GUIMARA.ES

Deve fazer tudo que depender de si para que


na familia ninguem ofenda a Deus . Deve velar sem­
pre sobre todos os filhos e em particular pelas filhas,
especialmenté depois que elas chegam a certa idade .
Não lhes deve dar certa liberdade exagerada e muito
perigosa, a qual, às vezes, faz perder a honra e qua­
si sempre, ao menos sacrificar a boa reputação par­
ticular e pública de que toda donzela deve go'Zar .

Vigiá-las sempre para que elas portem-se com


todo recato nas reuniões profanas, e com todo res­
peito e reverência nas solenidades e atos religiosos.

Não devem consentir que elas usem vestidos


indecorosos que as tornem irrisórias, que ofendam o
seu pudor e causem desagrado a Deus . Deve, conjun­
tamente com seu marido tomar toda cautela para
que seus filhos e principalmente suas filhas não
sejam pervertidos por máus professores, máus livros
e máus jornais, divertimentos criminosos, e pelas
companhias perversas e escandalosas . Deve concor­
rer também para evitar casamentos desastrosos e
procurar os que mais convenham à conciência, e tam­
bem ao verdadeiro bem estar nesta vida . Fazer
sempre questãc:> do casamento religioso e jámais con­
sentir que seus filhos façam unicamente o contrato
civil, porque diversamente será comparticipante de
todos os crimes e escândalos produzidos por essa
união criminosa .

O preceito de amor aos filhos é imposto por


Deus e pela própria natureza . Os próprios animais
amam extremamente seus filhos e até por êles estão
prontos a sacrificar-se .

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O GUIA DO LAI\ 59

Deve zelar dos filhos relativamente a esta vida ;


mas, muito mais ainda relativamente à vida futura,
que é eterna . Muito cuidado com o corpo, mas, ainda
mais com alma que é imensamente mais nobre . Em­
preguem as mães toda a cautela para que o coração
de seus filhos não seja pervertido pelas máximas,
costl!.mes escandalosos do mundo . "

••

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C a pitul o V

COM O S F IL H O S

Os filhos quando ainda pequenos, j á devem ir


conhecendo o melhor modo de portar-se com os ·pais,
com as pessoas mais velhas, com os meninos de sua
iguala e com toda a sociedade com quem conviverem,
e também o modo de proceder em suas casas, nas
mesas de refeições, e nas casas alheias, quando em
oração, enfim, observarem a risca as instruções que
de seus pais receberem .
Assim vão crescendo, sempre bonzinhos, tratá­
veis e queridos de todos .
Obedientes e dóceis para com seus pais, evitem
degostá-los coni teimas, birras e artes e sempre bons
e alegres, devem acompanhá-los. à Igreja para cultos
religiosos; chêios de respeito, principalmente tratan­
do-se da Santa Missa .

Devem estar sempre prontos e contentes para


ir à escola e às aulas de catecismo, ou a qualquer
mandado dos pais, mas, nesta trajetória não se dis­
traiam com outros meninos e briquedos, afim de che­
gar logo ao destino.. e depois regressarem à casa sem
d emora .
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62 LUIZ GUIMARÃES

Mais crescidos então, procurem sempre conviver


com pessôas de bem e conhecer as regras e costu­
mes de civilidade socia1s . Quando moços, e que se fo­
rem inclinando ao casamento, devem cuidadosamen­
te tomar conhecimento das necessárias instruções a
noivos ,para assim tornarem-se aptos aos deveres de
espôsos e de pais, e conseguirem bom êxito em em­
prêsa tão sublime, mas de tanta responsabilidade .
O homem deve sempre se exercitar na arte da
polidez e até do galanteio para com as senhoras, pre­
parando-se dêste modo para o estado matrimonial
quando procurará ser agradavel e simpatizado por
sua espôsa .

A maioria dos pretendentes a casamento, quan­


do procuram espôsas, não está buscando administra­
doras em condições de boas donas de casa e exem­
·
plares mães de familia, e sim alguem com sedução
e boa vontad e para exaltar sua vaidade e saciar o
seu amor animal, fazendo sentir-se superior . E é
uma verdade . Se houvesse melhor critério e senso
espiritual e moral entre a maioria de candidatos
ao matrimônio para escolha de suas consortes, as
moças certamente p:cocederiam de outro modo, salvas
as excessões de algumas, que, felizmente, ainda sa­
bem dar valor às virtudes da candura e da pureza .
iA..gora. s6 cuidarei aqui de chamar a atenção dos
moços para um ponto, cujo assunto são os males fí­
sicos e contagiosos, tão nocivos à humanidade e que
deles os pretendentes a casamento, com muito mais
razão devem fugir e evitar .
Vejamos ao que li de um médico notável, que
escreve sôbre a sífilis e em seguida narra um la­
mentavel e doloroso fato de que foi testemunha .

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O GUIA DO LAR 63

Tudo isto deve muito interssar a todos os que


tiverem de constituir família para, assim avisados,
conservarem-se puros, ou purificarem-se antes d o
casamento, de modo a poderem unir-se à j ovens tam­
bém puras, para a formação de uma prole sadia e
..
feliz .
"A tuberculose, a morféa e mais algumas doen­
ças contagiosas são o espantalho da sociedade, pelo
muito sofrer que causam à humanidade, mas, a sí­
filis, consequência de uma infinidade de sofrimentos,
é a mais danosa de todas as doenças .
Os germes da sífilios, (diz o citado facultati­
vo ) , não infetam o homem que possue os tegumentos
intactos, mas, se na pele ou nas mucosas ha qualquer
ferida, ou arranhão, por ligeiro que seja, a fatal es­
piroqueta penetra e se insinúa entre os teci dos . Cres­
ce o germe e se multiplica apresentàndo aquela ma­
nifestação primária, chamada sifíloma inicial ; bo­
tãozinho insensível e duro que pode, muitas vezes,
passar despercebido .
Mas desde então, a espiroqueta espalha-se e in­
vade todo o organismo . Atinge-se o período secundá­
rio ; as manife_stações não são mais localisadas no
ponto de entrac;la da e spiroqueta, mas, difusas e prin­
cipalmente visíveis sobre a pele e as mucosas ; é en­
tão a roséola, são placas ou pústulas mucosas nos
lábios, na boca e de modo particular nos órgãos ge­
nitais . �ste segundo período prolonga-se por dois
ou três anos . E' o mais perigoso e também o mais
contagioso, porque as mani festações são superficiais.
E' nesta fase que a criança sifilítica infeta com os
lábios o seio da ama que a aleita e que a mulher
propaga a moléstia pelos beijos ou pelo contacto se-

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LUIZ GUil\IARÃES

xual . A sifílis, é por tal motivo, classificada entre


as doenças venéreas, quando no sentido absoluto da
palavra, delas não faz parte .
Depois d o período secundário as manifestações
superficiais desaparecem, para ceder lugar às le­
sões vicerais profundas . A espiroqueta invade então
os órgãos vitais ; o coração, os vasos, as glândulas
sexuais e os centros nervosos .
E' o período terciário que pode durar - por
falta de tratamento - toda a vida . A moléstia j á
não é tão contagio sa, mas bem mais perigosa para o
paciente, porquanto, as lesões cardíacas provocam a
morte repentina ; as dos vasos, fazem nascer as ar­
trites e as all:eurismas ; as das glândulas sexuais
transmitem a moléstia aos filhos, e as dos nervos
provocam a paralisia dorsal progressiva e a loucura .
Que grande flagelo para o pobre homem ! Mas,
não é possível combater esta praga ? Não há cura
para tal doença ? Sem d ú v i da, pode-se curá-la, e mes­
mo completa e radicalmente . Sim, lebremo-nos bem ;
a sífil i s pode ser curada corn o qualquer outra molés­
tia e isto é tão exato, que existem casos de reinfecção.
Para que a cura se produza, porém; é necessá­
rio um longo tratamento com paciência, constância
e perseverança . E' preciso mesmo dizer que os meios
para combater esta moléstia, são milagrosos e efica­
zes como os que são empregados contra a tuberculo­
se e bem superiores ao que conhecemos, contra os
tumores malignos, e , especialmente contra o câncer .
Com o uso de tais medicamentos, de fato admirá­
veis, ministrados contra a sífilis, pode-se conseguir
o desaparecimento rápido de todas as suas manifes­
tações, até as mais impressionantes . Assim volta o

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O GUIA DO LAR 65

doente - pelo menos em aparência - ao pleno gôzo


da saude e é tão sensivel o seu bem estar qu e se con­
sidera completamente curado .
Aí está o pe dgo : interrompe o tratamento . O
imprudente casa-se e gera filhos doentes . Alguns
anos mais tarde, quando menos se espera, aparecem
as manifestações tardias, cdnS'equência direta da
i nfecção que atinge os órgãos gastos e fatigados du­
rante a vida .
No homem intelectual, por exemplo, é o cérebro
·
que corre mais risco . Q'uantos eminentes literatos
e artistas morrem ainda moços, de paralisia ? Basta
citar o caso do pobre Donizetti, demente num hos­
pital de Bergamo, depois de haver encontrado e de­
liciado o mundo com sublimes melodias .
Para melhor demonstrar o horror da sífilis, a
sua ousadia e sutileza ao penetrar nos órgãos da
humanidade, citarei um triste fato, narrado por u m
outro médico e habilissimo operador obstetra, dos
mais admirados de sua época .
E' o doutor Simidt que assim dizia a certo cole­
ga, por ocasião de um congresso internacional de
cirurgia .

Os cirurgiões, diz êle, são os piores clientes :


tratam os outros, mas quando são êles os doentes,
causam piedade !
�ste ano, perdi o meu mais estimado assistente,
em consequêncfa de um acidente profissional .
O caso foi grave desde o início, mas, ninguém
me dissuadirá de que, se houvesse tratado do seu
mal com mais paciência, teria escapado de morte tão
cruel . Se em vez de ser médico, inteligente e culto,
fôsse leigo e ignorante, certamente ter-se-ia salvo .

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66 LUIZ GUIMAIUES

O bom D r . Braun era o preferido entre os


meus discípulos . Aind� estudante, apaixonara-se
pela cirurgia, e quis acompanhar-me nos hospitais,
mesmo depois de sua tese . Bastante ativo, incansá­
vel, estava sempre pronto para o trabalho . Entre
uma operação e outra, entre um e outro dia de ser­
viço, nas suas noites de folga, devorava os livros, os
j ornais e os tratados científicos . Sua cultura era
sólida e teria rapidamente alcançado uma posição
invejável . Depois de um ano, já era assistente efe­
tivo no hospital ; três anos após, era professor e, de­
pois de quatro anos, casava-se, sendo eu testemunha.
Uma linda menina veio alegrar a jovem famí­
lia, onde a felicidade parecia reinar . A guerra
mundial perturbou o idílio e assim o perdi de vista
durante muito tempo .
Estava êle trabalhando em diversos hospitais
cirúrgicos de reserva, e nas horas de liberdade, en­
tre os deveres militares, operava clientes particula­
res, pois que já havia sabido inspirar grande estima
e tivera a sorte de poder formar uma boa e sólida
clientela . Uma triste manhã, dirigia-me à sala de
curativos, quando o vi com a mão enfaixada .
- Que aconteceu, meu filho ? - Professor, de­
sejo ouví-lo . Vej a o index de minha mão esquerda .
Piquei-me durante uma operação . . . não me recor­
do exatamente quando . . . Deve ter sido no hospi­
tal militar . . . ou em algum cliente particular . . . não
sei . No momento não liguei importância, mas, apa­
receu depois uma pequena tumefação . Puz umas ca­
taplasmas, mostrei-o a um colega, que me disse haver
um pequeno panarício periunguial e rasgou . Mas.

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O GUIA. DO LAR

não sara, parece que não sarará mais e eu devo


trabalhar . . .
Retirei o penso e examinei . E ra com ef oito urna
pequena ferida granulosa - exquh1 lt1, nclmr.entadn .
Não supurava, nem mesmo era doloro11a . Hnvla tam­
bém gânglios na axila, igualmonto lndolorc111 .
Fiquei indeciso, receitei catapla11ma o rocomon­
dei-lhe que me procurasse al g un s d laa mah1 tuc111 .
Voltou, com efeito, mas, desta vez encontrou.
me em companhia de um colega s if il fgrafo Umn .

dúvida me atormentava e eu queria dividir a r11-


ponsabilidade com um colega . Queria, sobretuda, o
exame microscópico, oparaboloide . O p obre Dr ,
Braun olhou-me fixamente e leu nos meus olh os a
dúvida que eu t!nha . E aconteceu o que eu tem ia ,

O exame microscópico revelou a espiroqueta !lº A.ma­


go da ferida . Era a sífilis . '
Meu infeliz assistente atirou-se numa poltrona,
empalideceu, e prorrompeu em soluços desesperados ...
:6:le que tanto receara as infecções venéreas ;
que tivera uma j uventude pura e casta, entregue aos
estudos ; que impunemente levava ao casamento uma
bela e sã resistência, para ·dar sua saude como he­
rança -aos filhos, - era um sifilítico, um ssr infe­
tuoso ! - E por muito tempo ·não poderia beijar a
sua Mimina, a filhinha querida, a carne de sua car­
ne a menina de seus olhos .
_ Confortei o infeliz .e o acalmei como pude . De-
via tratar�se enérgica e pacientemente . Ficaria
curado , . . Da terrível desgraça profissional gu1&r..
- daria apenas a lembrança . Acompanhei até a sua ca­
sa o pobre Braun aniquilado . Por felicidade, sua
s{)nhora era uma moça verdadeiramente superior ;

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68 LUIZ GUIMARÃES

compreendeu a situação e a dominou . Tomou as


mais enérgicas providências e medidas de higiene,
separou os leitos, as roupas, os recipientes . Conso­
-
lou sobretudo o marido que estava completamente
abatido � desanimado . E tudo fez no mais absoluto
silêncio .
O tratamento indicado, prontamente iniciado,
foi de eficácia excepcional e surpreendete . ,Após as
primeiras injeções o mal desapareceu ; a ulceração
do dedo sarou corno por encanto, e cicatrizou em pou­
cos dias . As rnanifestações secundárias nem chega­
ram a aparecer . O caro Braum refazia-se física e
moralmente . Estava, porém, cansado de empregar
todas aquelas medidas restrtivas ; era-lhe impossi­
vel não poder aproximar-se de sua companheira . . .
-
Intolerável lhe era chegar a casa e não beijar a filha
querida, sua Mimina, que sofria com a idéia de que
seu pai estivesse zangado com ela .
Partiu, pois, voluntariamente de novo para a
guerra e eu o acompanhei à estação . Ao despedir­
me ainda lhe fiz enérgicas recomendações . Braum,
meu filho, continúa o tratamento . Não desesperes .
Lembra-te de que é preciso ser perseverante, pacien­
te, tenaz ! :6:le me prometeu e partiu .
Escreveu-me muitas cartas e cartões postais ;
descrevia-me sua vida nas linhas de frente, dava-me
informações minuciosas sobre sua imensa atividade
cirúrgica, j unto aos feridos de guerra . Não falava,
porém, de si p�óprio .
Parecia ter esquecido sua saude pelo bem dos
outros . E secretamente eu alimentava urna dúvida .
Tinha um triste pressentimento . Estaria êle se tra­
tando ?

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O GUIA DO LAR 69

E assim decorreram dois anos . Terminada a


guerra, afinal Braun voltou e retomou o serviço n o
hospita:l . E r a o mesmo Braum d e outrora e parecia
até rej uvenecido .
Reassumiu o trabalho e as pesquisas científicas
com um ardor verdadeiramente extraordinário . Op e­
rar em sua companhia era um prazer . Não havia
necessidade de lhe dizer uma palavra : adivinhava
meus desej os e os satisfazia com presteza, calma e
rapidez . Quando eu cortava os tecidos, não tinha
tempo de fazer a hemóstase . Num relance, apanha­
va todas as aberturas dos vasos . Quando eu tinha
dúvidas, pedia-lhe conselhos e sua opinião era sem­
pre comedida e prudente . Braun, devemos deixar
um dreno ? Braun, devemos fechar completamente ?
E que ótimo carater ! Sempre respeitoso, sempre
amável para com os doentes . Cansava-se porém, de­
mais, e por várias vezes lhe chamei a atenção . Seu
dia era inteiramente dedicado aos enfermos ; à noite,
fechava-se no consultório e escrevia sem cessar . Con­
seguia assim, melhorar sempre a sua posição . No
entanto, eu me preocupava com sua saude . Aquele
bom rapaz descurava-se quasi completamente . De­
d icava-se em ex;cesso aos estudos e aos doentes, e
muito pouco cuidava em si mesmo .
Um dia, atrevi-me a fazer-lhe umas perguntas
e recomendações : Braun, estás continuando o trata­
mento ? Êl e estremeceu, como uma pessoa apanhada
em flagrante :
- Tomei muitas injeções durante a guerra . De­
pois, continuei com o� exames de sangue : o de Was­
serman foi negativo . - Braun, meu filho, não te
fies no Wasserman ; não tem vàlor absoluto . Reco-

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70 I.UIZ GUThl.\RA.ES

meça o tratamento . Não me respondeu e pareceu


contrariado . '.I;'alvez minhas palavras lhe trouxes­
sem recordações terrivelmente dolorosas e insupor­
táveis . Era um livro fechado, não desejava reabrí-lo.
Os anos decorriam e já dez eram passados des­
de a longinqua infecção . O esforçado rapaz tornou­
se um homem de preparo notável, um cirurgião
emérito .
Um dia, porém, presenciei um ligeiro incidente
que me impressionou bastante . Estava êle a ajudar­
me enquanto eu operava um fibroma . Uma sutura
afrouxou, deixando j orrar sangue . A seção do vaso
estava diante dos nossos olhos e contudo êle não
conseguia ligá-la . Sacudia desordenadamente a pin­
ça hemostática, atrapalhando-se, sem conseguir pren­
der o que procurava . Olhei-o em pleno rosto ; êle
corou e ficou perturbado .
Alguns diaH mais tarde, tive uma surpresa mais do­
lorosa aindu . EHtava na j anela do pavilhão de cirur­
gia, quando v i chegar o Dr . Braun, agitado e deso­
rientado, geHt iculando e falando sozinho . Pouco de­
pois, ouvi um ruido desusado na sala de baixo . Des­
ci, e dllitingul nitidamente a vóz de Braun, mas, nma
vóz alteradn pola cólera . Repreendia com violência
uns doente1:1, dirigindo-lhes censuras e palavras in­
coerentes .
Precipitei-me, procurando acalmá-lo e levá-lo
até meu commltório . Braun, meu filho, disse-lhe eu,
tens necessidade de repouso . Olha, toma uns dias
de férias .
Virou-me as costas e saiu murmurando palavras
de desagrado e revolta . Não era mais o meu fiel as­
sistente, o discípulo respeitoso ·e dedicado ; não havia

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D GCIA DO LAR 71

duvida, eram os primeiros sintomas da paralisia


progressiva .
No dia seguinte, a senhora Braun, aterrorisada.
veio confessar-me que o marido a tratára brutal­
mente . . . e por pouco não batera também na meni­
na ! Levantara-se durante a noite, e percorrêra toda
a casa, gritando que queria afugentar os espíritos
malignos . . . E tais loucuras cometia que um vfa i­
nho caridoso chamou a polícia, conduzindo-o a u m
hospício . A pobre senhora pediu-me que empregasse
toda a minha influência para tirar o pobre coitado
daquele lugar .horrivel, transpondo-o para uma casa
de saude . Seu desejo foi satisfeito .
Na casa de saude, porém, a tragédia recomeçou.
Fez-se imediatamente o exame d e sangue e do li­
quor . Num e noutro, a reação de Wasserman foi po­
sitiva . Começou-se então, um tratamento antisifilí­
tico enérgico . . . Em vão . Era tarde demais .
Tentou-se a maJarioterapia, provocou acesso
de íebre, a pontõ de por em risco a vida do paciente.

Houve uma pequena melhora a princípio, mas,


seu estado não tardou a agravar-se . Estavamos de­
sesperados e sem ânimo . Eu ia vê-lo constantemen­
te, embora essa visita constituísse para mim um su­
plício, uma indizível tortura . Algumas vezes êle
nem siquer m e conhecia . Doutras, não obstante me
reconhecer, revelava lacunas de memória que m e
impressionavam . Tinha a mania d e perseguição ;
todos o haviam combatido durante sua carreira ; de­
pois, à força, o fecharam naquela prisão, onde o que­
riam matar, dizia êle . Seu quarto fôra invadido pe­
los espíritos, e para se defender, cobrira as paredes
com figuras religiosas, de uma puerilidade espanto-

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72 LUIZ GUI�L\IUES

sa . 11.:ste estado durou alguns meses e veio então a


loucura . E assistimos pouco a pouco ao declínio da­
quela inteligência magnifica, daquela maravilhosa
têmpera de homem ativo, que tanto bem fizera e que
tantos milagres ainda poderia realizar .
Por sorte, sobreveio uma doença intercorrente,
sob a forma de violenta pneumonia aguda, que se
apoderou facilmente daquele pobre organismo depau­
perado . Poucqs dias depois, morreu delirando .
Não chegou a conhecer a espôsa, nem mesmo a
sua Mimina, carne da sua carne, menina dos seus
olhos .
Mas, sempre até o fim erguia êle bem alto e agi­
tava desordenadamente, aquela mão esquerda, cuj o
index guardara ainda a cicatriz branca daquela fe­
rida ligeira, daquelà picada, pela qual, quando cum­
pria o seu dever de cirurgião, se infiltrára a atroz e
sutil infecção que destruira aquele espírito de escól .
Pobre Braun ! "

1l:st e caso lamentavel que ocasionou a ruina de


uma jovem e d istinta família, presta-se a prevenir à
mocidade para uma rigorosa precaução a ser toma­
da, especialment e quando tiver em vista o estado con­
j ugal . E' esta � razão porque em alguns países já
há lei que determina a apresentação de atestado
médico afirmando a boa sande de nubentes, o que
deveria ser dispensado s e todos compreendessem ês­
te "imperioso dever .
" Do Missionário Brasileiro"

" Os filhos não devem esquecer um só momento


que seus país, além de serem os legítimos represem�
tantes de Deus ,perante êles, são os seus mais sinceros

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O GUIA DO LAR 73

amigos e os seus mais generosos e dedicados prote­


tores . Devem, portanto, amá-los, respeitá-los, honrá­
los e obedecer-lhes sempre e em todas as circunstân­
cias, mesmo quando já estiverem sôbre si, porque
perante Deus, um pai nunca perde o direito que tem
sôbre seus filhos .
Que todos os filhos guardem na memória as
duas graves sentenças lavradas por Deus, com rela­
ção aos deveres dos filhos para com seus pais . E is
as palavras da Escritura Santa : " Amaldiçoado seja
aquele que não honrar seu pai e sua mãe . Honrai os
vossos pais e tereis uma longa vida " .
Os filhos devem honrar seus pais em todas as
ocasiões, em particular perante o público, mesmo que
êles sejam os mais humildes, os mais pobres, os mais
ignorantes, os mais viciosos de todos os homens ; pois,
sejam o que forem, nunca deixam de ser seus pais .
O filho que, por qualquer motivo, sej a êle o qual
fôr, se envergonhar de seus pais, além de excessiva­
mente criminoso, torna-se o mais indigno e vil abjeto
de todôs os seres humanos . Devem obedecer seus pais
em tudo, salvo quando estiverem errados e, abusan­
do do seu poder lhes ordenarem atos contrários à
iei de Deus, mas, neste mesmo caso devem proceder
com toda a p:r:_udência e com todo o respeito .
Quando os pais são pobres, e não podem, por
velhos ou por doentes trabalhar, os filhos devem mi­
n istrar-lhes os meios de subsistênci a . Devem fazer
tudo quanto depender de si para que seus pais vivam
na amizade de Deus ; pois se devem zelar do corpo,
muito mais da alma de seus pais .
O pedido de um filho para com seus pais, quan­
do feito com humildade, tem um valor extraordinário

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74 JXIZ GUHfAIUES

e Deus o abençôa, de modo a conseguir o que pede .


Lemos em um livro o seguinte fato : Um menino, na
véspera de faier a primeira comunhão, mostrou-se
triste a seu pai ; e êste perguntando-lhe o motivo de
-
sua tristeza, êle respondeu : Estou triste, por que os
outros meninos vão comungar conjuntamente com
seus pais, e eq_ serei o único que não posso ter êste
prazer . O pai, que havia muitos anos não comunga­
va, tocado pelos desejos do filho, preparou-se, e no
dia seguinte, com o menino, aproximou-se da sagra­
da mesa e recebeu Nosso Senhor .
Os moços devem sempre ter uma ocupação, por­
que o ocioso é sempre viciado . Devem ter carater,
dignidade, portando-se sempre com correção em to­
das as circunstâncias e reuniões . Todo respeito e
acatamento nos atos religiosos, porque os que desa­
catam as cerimônias do culto divino, além d e ser
considerados grosseiros e mal educados, serão cas­
tigados por Deus, mesmo nesta vida .
Respeito profundo às donzelas, mesmo as mais
humildes e pobres, porque todas são dignas de
respeito .
Zombar de uma senhora, seja ela quem for, é
indício de mau carater e de muita perversidade .
Nuca devem fazer agrados à urna moça, sem ser com
a intenção de casamento, salvo o caso de respeitosa
polidêz social . Os que mostram agrados de certa na­
tureza e que não tencionam casar, ou zombam dessa
moça, ou pretendem perdé-la . Em qualquer dessas
hipóteses, são torpemente criminosos e merecem ser
severamente castigados ; devem escolher para espôsa,
urna moça que saiba trabalhar e que não sej á des­
sas que só cuidam de enfeitar-se ; moça que tenha

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O GUIA DO LAR 75

compostura, recato, porqu e as indiscretas, levianas,


msmo que como espôsa saibam ser honestas, por
suas indiscreções e leviandades podem trazer pertur­
bações funestas na vida conj ugal . Muitos fatos, in­
felizmente, já teem demonstrado esta verdade .
Para serem bonê devem ser religiosos ; e para
serem bons religiosos devem evitar os máus compa­
nheiros e procurar os bons . Está escrito . " Com os
bons, sereis bons e com os perversos haveis de vos
perverter . "

••

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Capitu l o VI

COM AS F I L H AS

Cabe-me agora a vez de falar às jovens filhas .


Sendo elas o principal encanto da casa paterna, as
mais tenras e coloridas flores do jardim do lar' aro­
matizando deliciosamente êste ambiente de convi­
vio íntimo fanííliar, a elas, portanto, cabe o direito
de reclamar o maior zêlo e dedicação daqueles que as
dirigem e por elas são responsáveis .
Para as meninas, desde criancinhas, ficam esta­
belecidas e aconselhadas as mesmas regras d eter­
minadas aos filhos, no comêço do capítulo prece­
dente .
Desde pequenas já devem ir conhecendo o me­
lhor meio de se vestir, conservando sempre o neces­
sário e indispensável recato, ensinado por suas boas
mães e recomendado insistentemente pelo Santo Pa­
dre e todos os ministros da Igrej a .
E ' o que exige a honestidade e o santo pudor
das virgens .
Algumas mães, mesmo católicas e até pratican­
tes, hoj e, infelizmente, olvidadas do tremendo dever
de zelar pela pureza de suas filhas, ao contrário,
animam-nas com o intuito vaidoso de vê-las na moda,
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78 LUIZ GUIMARÃES

a fugirem da decência, sendo as primeiras a quere­


rem fazê-las apresentarem-se quasi nuas e apalhaça­
damente . Nada de exagêro nesta asserção .
Eu mesmo conheço tantas senhoras distintas e
católicas que, desde as primeiras vestes de suas fi­
lhas, vão fazendo logo umas sainhas, verdadeiras tan­
gas ou saiotes selvágens, e umas calcinhas de tiras
de pano que mal interceptam uma mínima parte
daqÚelas caminhas puras e j uvenis . E as pobresi­
nhas inocentes, vão crescendo sem a menor preocu­
pação com estas cousas que requerem tanta vigilân­
cia para o bem da honra e da moral .
Quantas vezes tenho observado grupos de me­
ninos de' ambos os sexos, de oito, dez e mais anos
de idade, onde se exibem em brinquedos estrava­
gantes, exercícios ginásticos, que levam as meninas
a se mostrarem quasi nuas, tendo apenas por proteção
aquelas miseraveis e minguadas calcinhas que pou­
co levam de aumento com o desenvolvimento da cri­
ança .
E quando tornam-se moças ? O' meus Deus, quanto
me pesa em dizer estas cousas ! Mas o dever me obri­
ga a chegar a estas tristes e lamentáveis considera­
ções !
A muitas delas, e acredito que sejam virgens,
entretanto, a falta de critério, recato e pondunor rei­
nante na sociedade vedam-lhes os olhos de tal for­
ma, que, atraídas pelas carnavalescas e sedutoras
aparências da moda, e na persuasão de se tornarem
cada vez mais chiques, descem ao cenário j actancioso
das toaletes grotescas, onde domina a nociva e alvi­
trante exportação parisiense até há pouco propaga­
da em nossos meios e aí se transformam alegre e

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o GUIA no I.AR 79

vaidosamente em verdad ei rnH nrtiHtUR de circo, ou


piores ainda .
tste modo de vestir ti\o con 1 rfLrlo àH recomen­
dações da moral, tira-lhcH compl c•tnm1•11 l11 11 l'HHíincia
da pureza e do recato .
Não basta que sejam, é prcci1:10 tmnh{•m 11un pn­
reçam castas, puras e honestas .
Moças há, e algumas até de maior ldndu, 1 1 1 1 1·n
não dizer tias, que, habituadas a êste pés1:1imo roH­
tume desde pequenas, êrro que, sucessivamente vem
de suas progenitoras, perdem completamente a pro­
ciosa virtude do pudor ou seja o caraterístico vexa­
me que as leva a zelar pela sua pureza .
A ponto de, mesmo quando em reuniões em sa­
las de visita e aí presentes pessôas de ambos os
sexos, costumam subir as roupas até acima dos joe­
lhos afim de seg_urar as meias ! Também algumas, fu­
gindo às regras de civilidade, levam uma perna por
cima da outra, dando franca amostra de sua estru­
tura, servindo-se 4e um famoso e apreciado "Jockey
Club", que o levam galantemente entre os dedos, a
expelirem gostÕsas fumaradas, nenhuma diferen­
ça fazendo dos b.ilontras e petMrw,itres vicfados
pelo fumo .
E os namoros ? Até aí intrometeu-se a evolução da
moda . São os namôros modernos, os "flirts" da mo­
da, como lhes tratam algumas pobres e tolerantes
mães que com esta falsa j ustificati va, não contra­
r iam a prática dêsses atos reprováveis e ainda os
apoiam, concorrendo para êles . tstes numôro:-1 ue
escuras e pelas esquinas, e até em lugares menos
frequentados, onde o escandaloso idílio une os namo­
rados frente a frente, pelo menos em palestras amo­
rosas ? Receber respeitosamente os noivos, ou mes-

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80 LUIZ GUIMARÃES

mo os namorados em casa e com êles, às claras e


decentemente, palestrarem em presença dos pais ou
de alguma pessôa da família, isto não . Não satis­
faz a grande parte do namoro moderno .
Infelizmente, a todas estas cousas tenho presen­
ciado e com grande desgôsto, e muitas outras em que
deixo de tocar . Tamb�m o assunto não é agradável,
e já me vou tornando prolixo .
Consola-nos, porém, o termos ainda na socieda­
de, muitas moças distintas que sabem prezar a sua
honra, o seu pudor . Vamos agora, carísimas jovens,
aos proveitosos conselhos do piedoso Missionario
M . Martins .
"Do Missionário Brasileiro"

"As moças devem pesar bem suas palavras, suas


expressões, seus gracêjos ; medir os seus olhares, os
seus gestos .
Devem ter muita cautela, quando em reuniões,
divertimentos, e muito principalmente em solenida­
des religiosas, pois destas depende haver ou não de­
sacato aos lugares santos por parte dos moços per­
versos e libertinos . Não devem aceitar certas mani­
festações de agrados, antes de saber se estas teem
por fim o casamento ; porque, infelizmente, há moços,
que se deleitam em zombar das moças . Quando, por
acaso, verifiquem êste abuso por parte de algum
moço, além de despresá-lo, devem procurar corrigir
êste perverso de modo conveniente .
Além de ter a _intenção de se casar, é preciso
que seja apto para isso . E' preciso haver mais ou
menos igualdade em côr e idade . As grandes desi­
gualdades trazem sempre muitos inconvenientes na

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O GUIA DO LAR 81

vida dos casados . Pequenas desigualdades por par­


te do homem, são toleráveis ; mas, por parte da mu­
lher, são nocivas .
Além de igualdade, é preciso que o moço tenha
amor ao trabalho, porque com boniteza e J?elintrice,
não se ganha o necessário para honesta subsistência.
Mesmo que o moço seja formado, ou seja rico,
ainda é necessário ter amor ao trabalho, porque a
ociosidade traz os vícios ; êstes tornam os formados
malandros, vagabundos, transformando os ricos em
pobres, infelizes, necessitados . Conhecemos uma mo­
ça, muito p endada e distinta que se casou com um
formado que possuia mais de 2.000 contos ; mas que.
por não gostar do trabalho entregou-se ao jogo e à
bebedeira e em menos de quatro anos consumiu to­
da a sua grande fortuna ; e desde então foi a mulher
que, pelo trabalho, tem tratado de si, dos filhos e
de seu próprio marido . Além de trabalhador é ne­
cessario que o moço tenha saude, porque o enfêrmo,
em vez de tratar de uma família, precisa ser trata­
do por alguem . De preferência a todos os outros re­
quisitos é indispensável que o moço seja religioso,
porque quem não tem religião não ama a Deus, e
quem não ama a Deus não pode seriamente amar
mais ninguem . Um homem sem religião é um extre­
mo ingrato que a ninguem poderá ter verdadeira
e sincera amisade . Moço herej e deve casar-se com
moça hereje, incrédulo com incrédula, ímpio com
ímpia ; e a moça católica só deve casar-se com moço
católico .
Uma moça ·j udiciosa e sinceramente católica,
nunca deverá casar-se com um moço indiferenv�.

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82 LUIZ GUIMARÃES

anti-católico, tenha êle muito embora, em supremo


gráu todos os ôütros predicados, porque as perturba­
ções e danos que provierem dêsse híbrido enlace, se­
rão certissimos e muito desastrados . Ou a mulher
católica h{1 ele viver em desavenças, em lutas com seu
marido por causa de religião, ou então para com êle
viver cm pui, há de necessariamente sacrificar os
seus devereH, u sua crença, os seus hábitos religiosos.
O dilema é formidável . Ou há de tornar-se ini­
miga de seu marido, ou do seu bom Deus .
As moças católicas nunca em caso algum, devem
aceitar pedido de casamento de quem se recusa fa­
zer, sej a qual for o motivo, o casamento religios':-.
que para o católico é o único meio de santificai· a
união do homem com a mulher ; e quando iludida de
fazer imediatamente o casamento religioso, depois
do contrato, não aceite por nada o noivo por marido,
antes clt� c u m prir o prometido e celebrar o religioso. "

••

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C a p i t u l o V i l

COM T O D OS

Chegamos finalmente ao último capítulo do nos­


so livrinho .
Vou iniciá-lo com um conto, cujo fato se deu
já há bem anos, numa cidade do interior de Minas,
quando por ali passou em viagem o autor destas li­
nhas, e que tudo ouviu de pessôas conceituadas do
lugar, poucos dias após os acontecimentos . E' uma
verdadeira tragi-comedia onde são apresentados pr0-
tagonistas e demais personagens que nela tomaram
parte, com nomes supostos, afim de evitar quaisquei.·
ressentimentos de quem quer que seja .
Ainda nos primeiros anos do presente século,
numa cidade mineira, residiam dois homens de des­
taque social, p_elas suas elevadas situações pecuniá­
rias ; ambos chefes de numerosas familias .
O cel . Felisberto Pachêco, fazendeiro, possui­
dor de muitas terras e de outras propriedades valo­
rizadas, e o Dr . Aquiles Soares, engenheiro, indus­
trial de grande movimentação no alto comércio ; as
suas grandes usinas funcionavam d iariamente, pro .
<luzindo lucros compensadores .
Ambos tinham filhos menores e até pequenos
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84 LUIZ GUIMAIUES

ainda . Suas espôsas eram distintas, católicas prati­


cantes e excelentes mães de família . O mais velho de
toda essa gente era o Cel . Felisberto que atingira
apenas a idade de quarenta anos .
Sorria-lhes a sorte e tudo corria a mil mara­
vilhas . :Êstes h,.omens eram vizinhos, muito amigos
e, fora das horas de trabalho, estavam quasi sempre
j untos .
Assíduos frequentadores
- de farras, casas de di­
versões de toda espécie, jogos, bebidas e mais cousas
prejudiciais, na verdadeira acepção da palavra, uns
pródigos farristas quasi todas as noites . Gastavam a
mãos-cheias .
Entretanto, com o correr do tempo, as suas ren­
das, a-pesar-de Iisongeiras, foram-se tornando in­
suficientes para ocorrer a gastos de tamanho vulto .
Dêste modo, viram-se mais tarde forçados a
lançar m2.o do_ grande crédito de que gozavam e co­
meçaram a sacar contra os Bancos, onde faziam sem­
pre mu ito movimento, principalmente Aquiles, o
grande industrial . Fugindo da maledicência popular,
não quizeram lançar mão do crédito que tinham
com particulares e nem se servirem dêstes para seus
avalistas nos bancos, e assim se utilisavam indivi­
dualmente um do outro .
Isto não poderia durar muito tempo ; e, de fato,
mais depressa do que se esperava, chegou o momen-
·

to fatal . A bomba estorou .


Chamados os credores, os desastrados homens
tiveram de entregar tudo o que possuiam, ficando
ainda um pouco alcançados . As suas virtuosas espô­
sas profundamente abaladas com aquela catástrofe
para elas inesperada, procuraram resignação e le:ni­
tivo na santa religião de Cristo, que sempre consola

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O GUIA DO LAR 85

e suavisa as máguas da vida, e assim se foram con­


formando com os desígnos de Deus .
Seus maridos, ao conlr{u·io, viciados naquela vi­
da de desmandos, o que HÓ com uma poderosa e vio­
lenta força de vontade 11oc11!riu HCr corregido, conti­
nuaram errantes e agoru cleHeHperados .
Tinham muitos amigos e admiradores, em quan­
to gastavam galhardamente naquel e meio indesejá­
vel, onde frequentavam assiduamente, mas, todos em
bóra de gravata e elegantemente vestidos, não pas­
savam de vagabundos, espertalhões, exploradores, e
verdadeiros vampiros sociais, que só se prestavam
para a desorientação e desgraça das infelizes viti­
mas sofredoras .
Mas, o Dr . Aquiles, moço delicado e muito esti­
mado na sociedade, e que teve bom principio de vida
cristã, ministrado por sua boa e piedosa mãe, já fa­
lecida, tratava sempre a sua espôsa com amor e deli­
cadeza, acompanhando-a algumas vezes na oração,
quando ia à missa, etc . , embóra com preocupações
de espírito devido ao seu modo de viver desregrado .
Assim, alguns dias depois recolheu-se à casa, aban­
donan<lo os máus amigos, envergonhado e arrepen­
dido do seu lamentável procedimento . Aí, no con­
vívio do lar, era consolado pela companheira, que
não cessava de implorar a Deus qualquer meio de
salvação . Eis quando surge um outro personagem
nesta trágica comédia de vida social, o Comendador
Lucas Damaceno, proprietario de grandes fazendas
e de muitos prédios na cidade, capitalista e milioná­
rio . Homem probo, religioso e de nobres sentimentos,
e que sabendo da situação em que se achava Aquiles,
de quem foi sempre amigo, mas amigos dêstes raris­
simos naquela época e muito mais raro ainda na

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86 LUIZ GUIMARÃES

atualidade . Veio ao encontro do seu amigo, com o


intuito caridoso de visitá-lo, reanimá-lo e de pôr à
sua disposição os seus préstimos e sua bôlsa .
Aquiles, comovido, ao querer beijar-lhe as mãos,
o seu bemfeitor o tomou nos braços e o apertou com
alegria . Todos os imóveis do engenheiro já estavam
em edital par.a o próximo leilão e por esta ocasião foi
o próprio ex-possuidor que os arrematou .
Alguns dias depois, aquelas máquinas que se
achavam paralisadas ante a desolação de tantos ope­
rários que nelas trabalhavam, puseram-se logo em
movimento com notável satisfação de todos . Aqui­
les corrigiu-se fugindo dos lugares perigosos que
frequentava, convivendo agora em outros meios
sociais .
Para seu lar, despontou um novo horizonte e
sob o reinado de Cristo, encheu-se de paz e alegria .
Já com o Cel . Felisberto Pacheco, que não teve
a mesma educação cristã, não se deu a mesma cou­
sa . Homem irascível, abrutalhado e sem o menor
sentimento religioso, tratava a sua mulher estupida­
mente, privando-à muitas vezes de cumprir deveres
cristãos e chegando até a faltar com o necessário em
casa, para despender largamente em atos indígnos
e reprová veis . Desesperado, continuou frequentan­
do áqueles lugares e os indesejáveis companheiros de
orgias, terminando, pouco tempo depois, em uma
forca, os semi desventurados dias .
A sua csµôsa, crente e piedosa, era amiga esti­
mada de Madame Lucas Damaceno ; foi por esta ca­
ridosamente socorrida indeterminadamente, podendo
assim dar uma boa educação a seus filhos e com êles
viver até o último de seus dias .
Com esta história, quís compôr também a se-

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O GUIA DO LAR 87

guinte ficção, com o fim de comparar as personágens


deste conto com algumas entidades divinas .
Comparemos Felisberto e Aquiles com os peca­
dores obstinados que deRpresam a Deus e a sua lei,
preferindo falsos amigos que os arrastam para o
abismo . Suas piedosas eRpôsaR, que tanto oravam
em pról de seus maridos, com a nossa Mãe, a Santa
Igrej a, que está sempre a interceder por nós e a
propprcionar-nos os melhores ensinamentos. Aqueles
maus companheiros e seus vícios inseparáveis, com
Satanaz e seus sequazes . O Comendador Lucas que
tão prontamente veio em auxílio do seu amigo, embo­
ra êste o tivesse abandonado há muito, é a figura
representativa do Divino Salvador, misericordioso
para com seus filhos, a-pesar-de d�prezado . E
Madame Damaceno, que tanto concorreu para estas
boas ações, intercedendo ao marido para praticâ­
las, sej a a efígie de Maria Santissima, que tanto
pede por nós a seu amantissimo Filho . PermiLa
Deus que a narração dêste conto e a ficção compara­
tiva que o compõe, sirv;a de exemplo e estímulo para
precauções a muitos que não compreendem ou não
querem compr�ender a vida cristã de chefe de fa­
mília .

O ab�dono às orações, principaliDl.ente de


manhã e à noite, a falta de frequência ao culto divino
e aos sacramentos da penitência e da eucaristia são
quasi sempre a causa destas irascibilidades e grosse­
i-ias recíprocas entre marido e mulher e das lamentá­
veis discórdias :nos lares . Que todos prefiram as dis­
posições para o bem, à cousas ilusórias e prejudiciais
para assim conseguirem a legítima felicidade .
Outro caso interessante para os meninos deso-

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88 LUIZ GUIMARÃES

bedientes, e pais que desconhecem a necessidade de


contrariá-los e corrigí-los nas suas más inclinações
desde os seus tenros anos, é o seguinte :
Um garota filho único, e que era o encanto e a
alegria de seus pais, desde pequetito, mostrou-se logo
birrento, teim·oso, fazendo livremente o que queria,
irascível para quem o contrariasse, mesmo que fos­
sem os seus próprios pais . E êstes, em vez de o cen­
surarem e o corrigir nos seus desatinos, achavam gra
ça em tudo, confiantes em que, com a idade maior
um pouco, o seu procedimento seria outro . São cou­
sas de menino, é o que diziam . Erradamente esta­
vam convencidos d e que, satisfazendo e tolerando
todas as exigências do filho, o beneficiavam como
deviam .
Aquela tenra arvorezinha, a quem, cheios de
satisfação e entusiasmo, dedicavam de corpo e alma,
toda atenção e carinho no seu cultivo esmerado, de­
senvolvia-se admiravelmente ; mas as sinuosidades
que já vinham sendo notadas no pequeno e mi­
moso tronco, nilo eram considerados como deviam
ser, pelos seus amanhadores . Se êstes, na ocasião
_oportuna, durante o crescimento desenvolvido da ar­
vorezinha, a tivessem chegado na linha e com as po­
dações necessâ.rias, seria ela mais tarde, um belo
exemplar para arborisações urbanistas .
Nada faltava para satisfazer aos caprichos do
menino, mas, quando atingiu à idade escolar, já os
pais se amarguravam, pela impossibilidade de con­
ter os desatinos da criança .
Insubordinado, travêsso, intrigante e já bem
crescido, andava sempre em questões e lutas corpo­
rais com outros meninos na rua, sendo repetidas as
queixas que faziam quasi diárias a seus pais .

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O GUIA DO LAR 89

Na escola foi um tormento para as profes50ras,


desrespeitando-as e procurando barulho entre os
colegas .
Em casa, remexia todo11 011 A'U&rdados, tirando
cousas até para vender . E nc11te de1envolvimento de
cousas m�, chegara a Idade de 18 anos, quando
seus pais reconheceram a má. educaçld que deram ao
filho, na ilusãq de o estarem benefialando . Tarde
de mais !
Resolveram então apertá-lo e dar-lhe um trata­
mento severo e rigor�o, com o que não concordou o
filho, deixando a casa paterna para uma vida livre
e desregrada . Era tido por todos como um estroina,
um perdulário . . . um indesejavel .
Sempre em más companhias; metido nos vícios do
jôgo, da ebriaguez e outros, tirado a valentão, e
por isso, em contínuos acertos de contas com a poli­
cia . Quasi nada lhe aproveitou o tempo em que es­
teve na escola, tornou-se ignorante em religião e ci­
vilidade e um tipo inútil e despresivel na sociedade,
ocasionando dores profundas aos corações de seus
pais . :f:stes, CJQe podiam ter dado .à sociedade um
bom elemento cívico com a apresentação do filho, não
o fizeram, e sempre clamavam dolorosamente : Fo­
mos nós -0s culpados !
�· êste o fim, quasi sempre, dos meninos birren­
tos, caprichosos, insubordinados, que não encontram
pais que lhea dêem uma conveniente educação, des­
de os seus primeiros anos .
Vamos finalizai· êste capítulo, o último do nosso
livrinho, com os costumados conselhos do '" Missio­
nário brasileiro" mas desta· vez, são para todos .

••

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''DO MISSIONARIO BRASILEIRO"

" Todos os homens foram criados, são conserva­


dos e favorecidos por Deus ; e portanto todos devem
honrá-lo, serví-lo, amá-lo . E' no exato cumprimen­
to dêstes deveres do homem para com Deu�. que con­
siste a religião : logo, todos os homens devem ser
religiosos . Deus, sendo infinitamente bom, j usto e
santo, a sua lei é necessáriamente boa, justa e san­
ta . A moral \cristã, diz De la Lucerne, é uma série de
leis santas, postas ao alcance do coração humano,
como guardas inflexíveis, que repelem até a idéia d o
pecado .
A religião, diz. Burke, é o fundamento da socie­
dade civil, e sem ela nada prospera entre os homens.
O respeito à religião é a melhor garantia da estabi­
lidade dos Estacjos e da segurança dos particulares .
Eis o que dizia Russeau sôbre a suma importância
da religião : "Eu não entendo que se possa ser vir­
tuoso sem a prática da religião . "
De modo que, os irreligiosos não são virtuosos,
e, na maioria dos casos, são apaixonados, capricho­
sos . D' Alembert, em seu escrito " Abuso da Crítica",
sustenta esta verdade : "Eu atribuo, diz êsse escritor,
a irreligião ao desej o de não impôr mais frêio às suas
paixões, e a vaidade de não pensar como a multidão,
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92 LUIZ GUilllAIUES

muito mais do que a ilusão dos sofismas . Tanto que,


quando as paixões e a vaidade calam-se, a fé revive­
se . Desde que amamos a Deus com sinceridade, de­
vemos, quanto depender de nós, chamar todos para
entrar em sua santa amizade . O zêlo pela santifica­
ção das almas, além de muito glorificar a Deus,
concorre poderosamente para a nossa própria santi­
ficação .
O apóstolo São Tiago diz : Aquele que fizer com
que um pecador se converta, o salvará e também
apagará uma multidão dos seus próprios pecados .
lVIas, para que o nosso zêlo pela salvação de nossos
irmãos seja proveitoso, deve ter a verdade por base,
a prudência por senhora e diretora . Desde que ama­
mos a Deus com sinceridade, devemos defender os
dogmas, os sacramentos, as cerimônias e as práticas
religiosas .
Os homens nobres e convictos não consentem
que as suas idéias, os seus princípios, sej am impune­
mente atacados ; porém os defendem com toda a
energia e veemência .
Sofrer com paciência as injúrias pessoais, diz
São João Crisóstomo, é louvável ; sofrer sem profe­
rir palavras e� protesto aos que atacam a Deus, �é
impiedade .
Devem todos os católicos amar e defender os
ministros da religião, e até a todos que são devota­
dos à ela, como são as pessôas piedosas . Os mem­
bros de uma família defendem-se mutuamente ; quan­
do um é insultado ou ofendido, todos os outros to­
mam corajosamente sua defesa . Como, pois, um ca­
tólico pod e consentir que um membro ou um repre­
sentante de sua religião seja em sua presença, zom­
bado, ludibriado por um gratutito e injusto adversá-

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O Gl'IA DO LAR 93

rio, e não tomar imediatamente, e com toda a e ner­


gia a sua defesa ? Não devem ter medo dos que in­
sultam os sacerdotes, porque todos êles são medrosos
e covardes . �stes não ousam insultar os médicos, os
advogados, porque temem levar bengaladas ; não in­
sultam os militares porque temem tomar prancha­
das . tles são valentes somente com os sacerdotes,
porque sabem que, por sua humildade e mansidão,
sofrem tudo pacientemente, sem opôr a mínima
i�eação . São tão vís como os que batem num aleijad0
de pés e mãos, porque teem certeza de que êle não
pode reagir .
Todos os seculares católicos devem considerar o
Papa, os Bispos e todos os Sacerdotes como verda­
deiros e legítimos representantes de Deus, e assim,
respeitosamente, prestarem-lhes suas homenagens de
submissão, veneração e acatamento .
Sirva-lhes de modêlo o procedimento de um ex­
celso soberano para com um sacerdote da antiga lei,
que era o.penas a figura da Santa lei evangélica .
Quando Alexandre, o Grande, ia, acompanhado
de um valente e numeroso exército entrar em Jeru­
salém, resolvido a passar todos os seus habitantes a
fio de espada, Jaddo, sumo sacerdote, revestid o de
seus majestosos ornamentos pontificais, saíu intré­
pido ao seu encontro para detê-lo, como de fato o de­
teve em sua marcha devastadora . Logo que o gran­
de conquistador avistou o Sumo Sacerdote ricamente
paramentado, foi soberanamente dominado por um
profundo �entimento de respeito ; e, desc-indo ime­
diatamente de seu cavalo, foi humilde e reverente
prestar-lhe suas homenagens de consideração, de
acatamento e veneração ; e ainda declarou que dar-

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94 LUIZ GU�.

lhe-ia todo o necessário para a majestade e brilhan­


tismo do templo .
Como, porém, Parmério, seu válido, muito es­
tranhasse êsse seu humilde procedimento, sendo um
homem que então dominava o mundo inteiro, Alexan­
dre lhe respondeu : Não reverenciei a um homem,
mas, a Deus, de quem êle é o legitimo representan­
te e ministro .
Todos devem concorrer para tudo quanto diz
respeito à majestade e à presença do culto divino ;
quem quer alcançar o fim, deve. empregar os meios .
também devem contribuir para a honesta subsistên­
cia do seu pároco, pagando-lhe, os que podem, os de­
vidos emolumentos .
Os que são realmente pobres teem direito a tu­
do gratis ; mas, os que teem recursos suficientes, dei­
xando de pagar o determinado pelo regulamento,
cometem uma inj ustiça e ficam obrigados à resti­
tuição. O Páro�o não tem outro recurso para sua sub­
sistência, porqu e é obrigado a consagrar-se exclusi­
vamente ao cumprimento de seus deveres paroquiais.
Êle só trabalha para o povo ; êste deve dar-lhe o ne­
cessário para sua condigna manutenção . São Pau­
lo diz que aquele que serve ao altar, do altar deve
viver . Felizmente, que a êste respeito são poucos
os ingratos desconhecidos ; na maioria, os católicos
são exatos no cumprimento dêsse sagrado dever .
Por ocasião da hedionda revolução francêsa, as pes­
sôas piedosas com os seus caridosos auxílios, susten­
taram os eclesiásticos perseguidos e encarcerados .
Em Versaille, uma moça pobre, cortou os cabe­
los longos e lindos que tinha e os vendeu só para
poder dar também a sua piedosa contribuição .
'!rudo quanto se dá para os verdadeiros p-0bres,

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O GUIA DO LAR 95

e também para o culto diV'ino, não empobrece a nin­


guem ; pelo contrário, de Deus receberá, mesmo nes­
te mundo, o aumento de cem por um . Todos devem
obedecer e respeitar as autoridades porque são re­
presentantes de Deus no governo da sociedade, na
manutenção da ordem, na defeza dos direitos e na
destribuição da justiça . Quando elas se exorbitam,
podemo-nos queixar aos seus superiores, mas, nunca
é lícito desacatá-las . Do mesmo modo devem -os pa­
roquianos proceder com as suas autoridades paro­
quiais . Tolerar BiS suas imperfeições, porque, além
de Deus, ninguem mais é perfeito . Mas, se o Páro­
co f;:i.lta com os seus deveres mais importantes, dei­
xando perecer as almas e principalmente se escan­
dalisa, não só podem, como devem, sem ódio e des­
peito, levar com toda exatidão e sinceridade, os fei­
tos criminosos ao conhecimento da autoridade com­
petente .
Nunca se deve defender um criminoso com sa­
crifício dos interêsses de uma população. iA êste res­
peito devem ser evitadas duas inj _µstiças que por
Deus serão rigorosamente castigadas : a primeira é
apresentar-se a favor de um padre reconhecidamen­
te criminoso, só porque êle, por cálculo, trata parti­
cularmente a todos com afago e carinho, sacrifi­
cando, às vezes, até os interêsses de Deus ; a segun­
da é apresentar acusação contra um sacerdote hones­
to, exato cumpridor de seus deveres, só porque, par­
ticularmente desagradou, ús vezes para manter os
seus direitos ou para ressalvar a sua dignidade . Os
que tão criminosamente assim procedem, leiam com
atenção esta sábia sentença do Padre Quadrupani :
" O homem honesto e probo não sabe louvar, nem

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96 l.UIZ GUIMARÃES

aprovar, mesmo o mais poderoso monarca o que é


digno de censura ; e todo aquele que sacrifica ao ví­
cio os direitos da verdade e da razão, não merece
mais o título de homem . E' permitido desejar a es­
tima dos nossos semelhantes, pois, o Espírito San­
to, no livro do Eclesiástico, nos aconselha a ter cui­
dado de nossa boa reputação e · procurar ter um bom
nome " .
Esta estima nos é necessária para sermos úteis
e proveitosos aos nossos irmãos, e para desempe­
nharmos as obrigações e deveres que a Divina Pro­
vidência nos impõe . Entretanto, não devemos nos
abater quando formos injuriados, caluniados e des­
prezados pela malícia dos homens ; mas contentar­
mo-nos com o testemunho da nossa conciência que
exprime o juizo formado por Deus a nosso respeito .
E' próprio de urna grande alma desprezar os des­
prezos e opôr a paciência aos ultrajes .
Quando fazem-me uma injúria, dizia Descartes,
procuro elevar a minha alma tão alto, de modo que
a ofensa não possa atingir-me . O imperador Teodó­
sio escreveu a Rufino, prefeito do Pretório, fazen­
do-lhe a seguinte recomendação : Si alguem falar de
nossa pessôa ou do nosso govêrno, não procuremos
puní-lo . Si falar por leviandade, devemos desprezá­
lo ; se por loucura, lamentá-lo e dele ter compaixão ;
se é uma inj ustiça, perdoá-la . Devemos sempre
perdoar as ofensas recebidas .
Comparamos a recomendação que a êste respei­
to nos faz Jesus, o Mestre da verdadeira Caridade :
Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o ; e se êle
arrepender-se, perdôa-lhe . Se êle contra ti pecar sete
vezes no dia, e sete vezes no dia voltar a ti dizendo :
estou arrependido, perdôa-lhe . Quer dizer que sem-

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O GUIA DO LAR 97

pre que o penitente se confessar arrependido, deve


ser por nós perdoado .
Devemos não só perdoar os nossos ofensores,
mas até mesmo amá-los, porque, como nós, são fi­
lhos de Deus . .Si porém, forem máus, com êles não
devemos ter convinvêcia, intimidade . Executemos o
que sôbre êste assunto nos recomenda o Apóstolo São
Paulo, em sua segunda epistola aos Tessalonicenses :
Irmãos, não vos canseis nunca de fazer o bem . Si
alguem não obedece ao que ordenamos pela nossa car­
ta, dele tomai nota e com êle não tenhais comunicação
a-fim-de que se envergonhe ; não o considereis, to­
davia, como um inimigo, mas, advirtí-o como irmão".
Aos máus, nós devemos procurar só para so­
corrê-los em suas precisões e para, por nossas adver­
. tências e conselhos, chamá-los a deixar a vida peca­
minosa, e entrar na amizade de Nosso Senhor . De­
vemos admoestá-los, mas, considerando-os corno nos­
sos irmãos, e tendo unicamente por fim procurar a
sua santificação . As nossas advertências devem ser­
lhes feitas de. perfeito aeôrdo com as condições do
verdadeiro zêlo, como acima notamos :

Embora, em regra, devamos ensinar com pala­


vras e exemplos a exata observância da lei de Deus
com toda a franqueza e altivez, algumas vezes e em
casos particulares, a prudência e a caridade mandam.­
nos calar e omitir aquilo que pode exasperar os peca­
dores ; porqµe a sua conversão torna-se mais diffcil
quando êles j ul_iarn-se humilhados e repelidos . Os
mâus todos, mesmo os nossos mais encarniçados ini­
migos, são digiios da nossa caridade, porque são nos­
sos irmãos ; mas, não são dignos da nossa amizade,
porque além de inimigos de Deus, podem nos perver-

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gs LUIZ GUIMARÃEs

ter pelos seus discursos, e principalmente pelos seus


escandalos . Nijs só devemos ter como amigos os que
nos podem edificar pelas suas virtudes .
A verJadeira amizade exige três condições in­
dispensaveis : costumes irrepreensíveis, intenções ho­
nestas e relações inteiramente circunspectas . Com
estas três condições a amizade pode ser virtuosa mes­
mo entre homem e mulher . Com intenções puras e
santas podemos desejar as riquezas, porque elas
podem ser muitQ proveitosas, desde que sejam j ustas
e honestas em sua-- procura, em sua posse e em sua
aplicação .
Elas são criminosas, reprováveis e danosas ;
quando são procuradas com sofreguidão, como se fos­
sem bens supremos, dos quais tudo está subordina­
do ; quando são sonegadas à caridade ; quando são
empregadas para - satisfazer a vaidade ou a sensua-
lidade .
E' unicamente dos infelizes que possuem fortu­
nas nestas criminosas condições, que Jesà.s disse : -
"Ai dos ricos I "

A um grande rko que lhe pedia um conselho


para se salvar, o Bemaventurado Pedro Lefévre re­
comendou que seriamente e todos os dias meditasse
sobre êstes três pontos : Jesus viveu na pobreza e
eu vivo na abundância ; êle sofreu fome e sêde e eu
me alimento de comidas saborosas e delicadas ; êle
levou urna vida de recolhimento e de sofrimentos e
eu levo uma vida de prazeres e de divertimentos .
Meditai, .meditai muitas vezes e mui sinceramente
estas breves palavras, lhe disse o Bemaventurado .
Devemos invejar as adversidades dos bons e lamen­
tar as prosperidades do maus ; pois estas, são pre-

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O GUIA DO LAR 99

núncios de tremendos castigos e aquelas, de plenas


recompensas na outra vida .
Deus sendo essensial e infinitamente justo, não
deixa nenhum crime sem castigo, nenhuma virtude
sem recompensa . O homem, por muito virtuoso que
seja, não deixa de ter suas faltas leves, algumas pe­
quenas imperfeições, que devem sofrer algum casti­
go. Deus os castiga aqui, por essas adversidades pas­
sageiras, para lá no céu plenámente recompensar as
virtudes . Por outro lado, o homem, por mais per­
verso que seja, não deixa de fazer algum bem, de
praticar algum ato proveitoso .
Porém, êsse homem, praticando êsse ato, sem
pureza de intenção e em estado de pecado grave, não
pode ter nenhuma recompensa no céu ; e então Deus
9 recompensa aqui por essas prosperidades passa­
geiras, para na outra vida, com rigor o castigar .
A história do máu rico e do pobre Lázaro que
era muito virtuoso, confirma evidentiemente esfoa
doutrina .

Lázaro, depois de ter pago aqui, pela pobreza e


pelas dores as suas imperfeições, foi, segundo afir­
ma Jesus, conduzido pelos anj os ao céu para rece­
ber as grandes . recompensas de suas virtudes .
Pelo contrário, o máu rico, que era vicioso, de­
pois de receber aqui essas prosperidades passageiras
como recompensas do bem que naturalmente fez, foi,
segundo afirma o mesmo Jesus, sepultado no inferno,
para sofrer os castigos que mereceram os seus cri­
mes . :m• absolutamente necesário que não nos esque­
çamos um só instante de que não basta deixar de fa­
zer o mal ; mas é necessário que façamos todo o bem
que estiver ao nosso alcance . A bondade dos que

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100 LUIZ GUIMARÃES

unicamente absteem-se de fazer o mal, é a bondade


da pedra que não se move ; é a bondade negativa,
criminosa . Jesus, em seu Evangelho, nos diz que o
servo que não consumiu o talento recebido, mas que
apenas o conservou improdutivo, foi pelo seu senhor
qualificado de máu, e ainda lançado nas trevas .
l!:: le ainda nos ensina que a figueira que foi
amaldiçoada e condenada a ser cortada e lançada
às chamas, não tinha produzido veneno nem espi­
nhos ; e o seu único crime foi não ter produzido ne­
nhum fruto e ter permanecido no estado de com­
pleta esterilidade . Somos obrigados, não só a não
fazer mal, mas ainda a fazer todo o bem que pu­
dermos ; não só a não violar, mas ainda a observar
e cumprir todos os preceitos divinos . Pela nossa
própria vontade somos cristãos, e cristão quer dizer
seguir a lei, a doutrina de Cristo . Sejamos conse­
quentes : ou observamos os preceitos de Jesus ou
deixemos de chamarmo-nos cristãos .
Aos soldados que tinham o nome de Alexandre
e que temiam entrar em luta, Alexandre fazia esta
solene intimação : ou mudai o vosso nome ou prati­
cai atos dignos de Alexandre . Assim tambem, ou
renunciamos ao santo nome de cristão, que quer
dizer discípulo de Cristo, seu filho e seu amigo, ou
então procuremos cumprir exatamente com os de­
veres cristãos, observando os preceitos que essa no­
bre profissão nos impõe e qu e tem por fim a nossa
santificação e a nossa eterna felicidade .

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CONCLU SÃO

Está terminada, Caro Leitor, a tarefa que me


propús de compor êste livrinho onde o meu maior
trabalho foi colecionar boas normas para a formação
de lares, proporcionando meios úteis e interessantes
para o desempenho de tão sublimes encargos deter­
minados pelo Divino Salvador .
Oxalá vos aproveite esta modesta obra e abun­
dantes sejam os seus frutos .
Nas páginas percorridas, encontrastes não lite­
ratura, mas fatos edificantes e proveitosos conse­
lhos, especialmente os daquela conceituada autori­
dade, o Revmo . Monsenhor Miguel Martins, de sau­
dosa memória .
A série de bons conselhos que ilustram as pági­
nas do " Guia do Lar", dão-lhe direito a mais um
título, como já me fizeram ver, o de - " Conselheiro
Social" Creio que mais urna exortação utilíssima
não irá fatigar-vos além do que já lêstes, e por isso,
ao encerrar estas linhas com as minhas cordiais des­
pedidas, o faço com chave de ouro, falando-vos da
grande eficácia e proveito da Oração, tão recomen­
dada por Jesus Cristo nos lares e aos fieis que lhe
quizerem dirigir as suas petições .
-
A oração, como sabeis, meu Leitor, é um meio
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1 02 LUIZ GUIMARÃES

pelo qual se conseguem as graças indispensáveis a


vida cristã, e, de um modo especial à das familias
nos lares . Orando sincera e piedosamente, é ao Pai
Celeste que oferecemos coração e alma, e pelos me­
recimentos de seu amado filho, conseguimos deferi­
mento aos nossos pedidos .
Ante o Tabernáculo, ou por ocasião de se rece­
ber Jesus Hóstia em nossas almas, podemos adorá­
lo e amá-lo na verdade . Aí, abrir-lhe-emos o cora­
ção, chorando e contando-lhe tudo, e logo o seu socor­
ro nos virá, trazendo-nos confortante consolação. Ani­
madoras são as palavras do próprio Jesus a seus
discípulos : " Orate et vigilate " ; orai e vigiai, para
não cairdes e,m tentação . Pedí, e dar-se-vos-á ; bus­
cai e achareis . "
Lembremo-nos das tantas vezes que Jesus, reco­
lhido e silencioso, orou por nós, a seu Divino Pai ;
daqueles quarenta dias e noites em que passou jeju­
ando e orando no Jardim das Oliveiras, e ainda
mais : compôs o Padre Nosso, a melhor das orações,
e o ensinou a seus discípulos, para que êstes no-lo
ensinassem também .
Rezai, e rezai muito, Caro Leitor, principalmen·­
te aqueles de vós, que por Deus estiverdes encarre­
gados da sublime e melindrosa tarefa de dirigir lares.
Oremos a Deus por Jesus, que é o nosso medianeiro
primário ; oremos aos Santos, nossos secundários
intercessores, e de um modo especial à Virgem San­
tissima, que é a Mãe de Deus e também nossa
Mãe . A primeira oração depois do Padre Nosso é a
Ave Maria, que nos faz lembrar o Mistério da In­
carnação pela saudação do anjo, o que muito alegra
a Santíssima Virgem . Há, como sabeis, Caro Leitor,
muitíssimas orações preciosas e sôbretudo indulgen-

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O GUIA DO LAR 103

ciadas pela Igrej a . S ão inúmeros os devocionários


que as trazem . Adquiri, se ainda não tendes, um
dêstes bons livrinhos . Munido destas três armas -
o Catecismo, o Livro d e Orações e o " Guia do Lar ",
entrareis na posse dos principais planos de defesa
contra o inimigo . D ifundi em vosso lar a leitura
dêstes livros e em união com a vossa família, não
percais ocasião, princip almente de manhã e a noite,
para orações coletivas, não se esquecendo da maravi­
lhosa devoção - o " Terço " de Nossa Senhora - to­
dos. os dias .
Assim procedendo, observadas as recomendações
do " Guia do Lar", esperai pelo resultado que será
consolador .
L . G.

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INDICE

Pg .
Aprovação
Conclusão . 101
Conselhos do "Missionário Brasileiro " . . . . 27
Conselho� do "Missionário Brasileiro " 38
Conselhos do " Missionário Brasileiro" 48
Conselhos do " Missionário Brasileiro" 57
Conselhos do "Missionário Brasileiro" 72
Conselhos do " Missionário Brasileiro" 80
Conselhos do "Missionário Brasileiro" 91
Coração de Jesus ( cromo) 1 0- 1 1
Dedicatórias . . . . . . . 7
Espôsas ( com estas) . , . . 30
Fé, Esperança e Caridade ( cromo) . . . 21
Filhos ( com êst es) ül
Fi l hns ( co111 cslus) . 77
Mães (com cs l 1 1 s ) . . 51
Maridos ( com ês l l's) . . 21
Pais ( com ês tes) . . . 39
Prólogo (aos leitores) . 9
Prelíminar necessária . 11
Recomendaçã-0 . . 5
Todos ( com êstes) . . . 83

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