Você está na página 1de 50

SENTENÇAS DE

SABEDORIA

Apresentação

Pediram-nos uma pequena introdução para este livrinho que


contém grandes tesouros de Sabedoria. Pareceu-nos mais justo
uma apreciação.

O autor fez um excelente trabalho, colocando à nossa disposição


importantes textos de mestres e santos da antigüidade cristã e de
autores cristãos posteriores. De modo especial, porém, nos
familiariza com as Sagradas Escrituras, fonte inesgotável de
energia, vitalidade e crescimento no amor de Deus, na fé, na
esperança, na paz e, importantíssimo, na compreensão,
compaixão e paciente doçura para com todos os nossos
companheiros e companheiras de peregrinação terrestre a
caminho da Casa do Pai comum.

Destacamos com satisfação os textos das cartas de Santo Antão,


que hão de interessar particularmente aos que, sempre mais
numerosos, fatigados da sociedade consumista em que nos
vemos envolvidos, geradora das mais terríveis e dolorosas
injustiças, misérias e violências, procuram na oração e no estudo
melhor conhecer e aprofundar nossas raízes cristãs para viver e

1
transmitir com mais autenticidade o ideal evangélico que o
Espírito mantém vivo em nosso coração.

Na terceira parte, em boa hora, o autor nos lembra como nossa


vida é enriquecida pelas virtudes teologais (virtus, em latim =
força) e nos informa como uma de suas obras, "A Educação
segundo a Filosofia Perene", contém um capítulo que se baseia
principalmente em Santo Tomás de Aquino e Hugo de São Vitor.
Ora, à primeira vista poderia isto não interessar ao leitor
contemporâneo, tentado a desconsiderar autores de outras
épocas. No entanto, sabemos que Jesus declarou:

"O homem sábio


tira do tesouro de seu coração
coisas novas e velhas".

E sabemos também como a Igreja, Mãe e Mestra, atenta aos


sinais dos tempos, procura, guiada pelo Espírito Santo, aplicar
aos problemas da vida moderna os princípios básicos e perenes.

Um dos problemas que afligem profundamente quem se esforça


por viver com seriedade o exigente desafio assumido nas
promessas do seu batismo é a educação que, como se sabe,
considerada tarefa prioritária, não é apenas informação, (o que já
seria muito!), mas uma educação que envolve o ser, a pessoa,
integralmente.

Neste precioso livro de sentenças, curtas e diversas, cheio de luz


e segura orientação, o leitor terá com alegria esclarecidas as
dúvidas e perplexidades freqüentemente encontradas em seu

2
caminho e verá aliviada a angústia que tantas vezes acompanha
o seu viver, angústia que, no dizer de Guimarães Rosa, nada mais
é senão a saudade do Paraíso que todo ser humano carrega no
coração.

A leitura e a meditação destes textos nos fará descobrir a


liberdade interior que o Cristo veio oferecer a todos os que
corajosamente obedecem à voz de sua consciência, voz de Deus,
obediência cujo fruto é aquela paz que supera todo entendimento
(São Paulo) e é recompensa, já aqui na Terra, da fé confiante no
amor de Deus e da firme esperança em suas promessas:

"Eu sou o Caminho,


a Verdade e a Vida.
Vinde a Mim!"

Nosso sincero agradecimento, pois, ao autor pelo serviço que nos


presta, pelo estímulo e conforto a nós transmitidos. Nosso desejo
e nossa oração: possam estas páginas, compiladas e ordenadas
com tanto amor, se transformarem em livro de bolso e livro de
cabeceira.

As monjas beneditinas
do Mosteiro da Virgem
Petrópolis,setembro de 1997
- Laus Deo et BVM -

3
Índice

SENTENÇAS DE SABEDORIA ........................................... 1

SENTENÇAS DIVERSAS ................................................. 5

SENTENÇAS DAS CARTAS DE SANTO ANTÃO ...... 14

SENTENÇAS SOBRE AS VIRTUDES TEOLOGAIS ... 27

4
SENTENÇAS DIVERSAS

Se tiverdes fé como um grão


de mostarda,
direis a este monte:
`Muda-te daqui para ali',
e ele se mudará,
e nada vos será impossível.
Mt. 17,20

5
1. Quem se aproxima das lições das Sagradas Escrituras com o
desejo de aprender, deve considerar primeiro qual é o assunto de
que tratam, pois assim poderá alcançar mais facilmente a verdade
e a profundidade de suas sentenças.

A matéria de todas as Sagradas Escrituras é a obra da restauração


humana.

2. O fim a que deve aspirar cada cristão é, segundo o permitirem


as próprias forças, observar exatamente a lei divina e os conselhos
evangélicos, cuidando, neste sentido, excluídos os casos de
extrema necessidade, em primeiro lugar de si próprios e em
seguida do próximo, naqueles ministérios de caridade que, de
acordo com os tempos e lugares, devem ser executados para
buscar a maior glória de Deus e o próprio adiantamento espiritual,
as quais duas coisas não devem afastar-se jamais da mente e do
coração de cada um.

3. O maior mandamento do Cristianismo é o da caridade para


com Deus:

"Amarás o Senhor teu Deus


com todo o teu coração,
com toda a tua alma,
com toda a tua mente,
e com todas as tuas forças".

4. A Escritura nos manifesta o quanto devemos amar o nosso bem


que é Deus. Não preceituou apenas que o amássemos, ou que

6
amássemos apenas a Deus, mas que o amássemos o quanto
pudéssemos.

A tua possibilidade será a tua medida; quanto mais o amares, mais


o terás.

5. O mandamento da caridade divina é a nova aliança que o


Senhor fêz, escrevendo sua lei em nossa mente e em nosso
coração e fazendo de nós templos do Espírito Santo.

Cada cristão o explicará aos seus filhos, meditará nele quando


sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao dormir e ao
levantar, o ligará como um sinal às suas mãos, estará e se moverá
entre seus olhos, e o escreverá no limiar e nas portas de sua casa.

6. Quem desejar cumprir verdadeiramente o mandamento da


caridade divina deve, primeiramente, renunciando a si próprio,
decidir-se a abandonar toda obra e ocupação que tenha caráter
pessoal e dedicar-se exclusivamente àquelas ocupações que
tenham razão de caridade.

7. A primeira e mais fundamental de todas as ocupações que têm


razão de caridade é a oração.

A oração é uma elevação da mente a Deus, para lhe pedir a fé e a


graça do Espírito Santo.

Por meio da fé aprendemos a desprezar as coisas visíveis


enquanto visíveis. Sem fé é impossível crescer no mandamento
do amor.

7
Antes de tudo o mais, deve-se orar incessantemente sem jamais
desanimar, e dar graças a Deus por tudo aquilo que em nossa vida
ocorreu e por tudo aquilo que há de ocorrer.

Quando alguém se entrega a Deus pela oração, Deus tem piedade


dele e lhe concede o Espírito de conversão.

8. Depois da oração, deve-se renunciar a todas as demais obras,


grandes e pequenas, que não tenham razão de caridade e, em todas
as demais obras além da oração, deve-se pedir a Deus para não as
fazer apenas por um amor virtual, mas também por um amor atual
a Deus, de tal modo que, fazendo-as, isto contribua para elevar a
memória até Deus, conforme diz o salmista: "Cantai ao Senhor
um cântico novo, louvai o seu nome entre danças".

9. Diz o Senhor:

"Deixemos os mortos sepultar os seus mortos".

É preciso, pois, que muito nos acautelemos da malícia e da


sutilidade de Satanás, que não quer que o homem eleve o seu
espírito e coração para o Senhor seu Deus. Ele nos espreita sem
cessar, e gostaria, sob as aparências de uma recompensa ou
vantagem, atrair para o seu lado o coração do homem e sufocar-
lhe na memória a palavra e os preceitos do Senhor, e obcecar-lhe
o coração por meio das solicitudes e cuidados mundanos e nele
habitar.

Na verdade, acontece que habitamos na própria morada do ladrão.

Nela estamos presos pelas cadeias da morte.


8
Importa, pois, se nós compreendemos a nossa morte espiritual,
que muito nos vigiemos a nós mesmos, a fim de não perdermos
ou desviarmos do Senhor a nossa mente e o nosso coração sob a
aparência de uma recompensa ou obra ou vantagem. Mas na santa
caridade que é Deus, que todos removam todos os obstáculos e
posterguem todos os cuidados para, com o melhor de suas forças,
servir, amar, adorar e honrar de coração reto e mente pura o
Senhor nosso Deus, pois é isso o que Ele deseja sem medida.

E que Deus abençoe a todos os que isto ensinarem, aprenderem,


guardarem, recordarem e praticarem.

10. A obra pela qual o homem pode agradar a Deus é a lei e a obra
da caridade.

Ela é a boa vontade, que perfeitissimamente agrada a Deus.

Cumpre-a aquele que incessantemente louva a Deus com


pensamentos puros, que produzem a memória de Deus e a
memória dos bens que Ele nos prometeu, e que em nós cumpriu
por obras, e de sua grandeza. Da memória destas coisas se origina
no homem aquele amor perpétuo que nos foi prescrito: "Amarás
o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e
com toda a tua força". Está também escrito: "Como a corça que
suspira pelas águas da torrente, assim minha alma suspira por vós,
ó Senhor".

Assim é necessário que cumpramos para com o Senhor esta obra


e esta lei, para que em nós se cumpra aquela sentença do
Apóstolo: "Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?

9
Certamente nem as tribulações, nem as tristezas, nem a fome, nem
a nudez, nem as angústias, nem a espada, nem o fogo".

11. Deve-se considerar que, se se age assim, todas as coisas


cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

12. Não se deve preocupar com a própria vida, nem pelo que
haverá para se comer, ou pelo que haverá para se beber, e nem
pelo corpo, pelo que haverá para se vestir. Deve-se preocupar, ao
contrário, em primeiro lugar, em buscar o Reino de Deus. Todas
as demais coisas serão acrescentadas, porque o trabalhador tem
direito ao seu sustento.

13. Se pudéssemos ver os fios sutis com que a providência urde a


tela de nossa vida, apoderar-se-iam de nós sentimentos de
gratidão e amor para com nosso bom pai celestial e, deixando nas
suas mãos todo o cuidado sobre o nosso futuro, contentar-nos-
íamos de ser a pequena lançadeira que doce e calmamente desliza
entre os fios da urdidura divina.

14. Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só, como
é; mas, se morrer, produz abundante fruto. (Jo. 12,24)

15. Pela glória de Deus, pela sua salvação, e pela dos próximos,
deve- se estar verdadeiramente dispostos a padecer muito, ser
burlado, desprezado e sofrer voluntariamente trabalhos e
tribulações.

16. Deve-se, finalmente, agir de tal maneira que a principal


ocupação seja sempre a oração; para que Deus habite
permanentemente em nós pela caridade, devemos também
10
construir em nós uma casa para a fé, para que se realizem as
palavras de São Paulo:

"Já que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto,


pensai nas coisas do alto, não vos interesseis pelas terrenas, já
que vós morrestes, e vossa vida está escondida com Cristo em
Deus";

e também as de Cristo:

"A tua fé te salvou". (Lc. 8,48.)

11
Notas

1. Hugo de São Vitor: De Sacramentis Fidei


Christianae, Prólogo; Migne PL 176,183.
2. S.Paulo da Cruz: Regra da Congregação dos
Clérigos Passionistas, C.1,2.
3. S.Marcos: Evangelho, C.12,28.
4. Hugo de São Vítor: De Sacramentis Fidei
Christianae, L.II P.XIII C.9; Migne PL 176, 535.
5. S.Marcos: Evangelho, C.12,28.
S.Paulo: Epístola aos Hebreus; C. 8,10.
Jeremias: C. 31,31-34.
S.Leão Magno: Sermo 21, C.3; Migne PL 54,192-3.
Deuteronômio: C. 6,4-9; C. 11,18-21.
6. S.Lucas: Evangelho, C. 14,25-35.
7. S.Afonso Ligório: O Grande meio da Oração, Intr..
S.João Damasceno: De Fide Orthodoxa, L. III, C. 24.
S.Marcos Diádoco: Capita Centum de Perfectione
Spirituali, C. 1; Migne, PG 65,1167.
S.Antão: Regulae sive Canones ad filios suos; Migne,
PG 40, 1065. Epistola I; Migne, PG 40, 981.
8. S.Inácio Loyola: Exercícios Espirituais.
S.Antão: Interrogationes Quaedam; Migne, PG 40,
1093-5.
Salmo 149.
9. S.Francisco de Assis: Regra não aprovada dos
Frades Menores, C. 22-23.
S.Antão: Epístola II; Migne, PG 40, 986-987.

12
10. S.Antão: Interrogationes Quaedam; Migne, PG 40,
1093-5.
11. S.Paulo: Epístola aos Romanos, C. 8.
S.Tomás de Aquino: Quaestiones Disputatae de
Veritate, Q.5 a.8.
12. S.Mateus: Evangelho, C. 6; C. 10.
13. Vida de S. Francisca Xavier Cabrini, por uma
Missionária do Sagrado Coração, C. 9.
14. S. João: Evangelho, C. 12,24.
15. S. Paulo da Cruz: Regra da Congregação dos
Clérigos Passionistas, C. 4,11.
16. S.João da Cruz: Subida do Monte Carmelo.
S.Paulo: Epístola aos Colossenses, C. 3,1-3.
S.Lucas: Evangelho, C. 8,48.

13
SENTENÇAS DAS CARTAS DE SANTO
ANTÃO

Se ouvirdes atentamente a minha voz


e guardardes a minha aliança,
sereis minha propriedade especial
entre todos os povos,
porque minha é a terra,
e vós constituireis para mim
um reino de sacerdotes
e uma nação santa.
Ex. 19,5-6.

Eis que celebrarei uma aliança:


diante de todo o povo farei maravilhas
que jamais foram operadas em terra alguma,
nem em nenhuma nação;
e todo o povo no meio do qual te encontras,
contemplará a glória do Senhor.

Guarda-te de fazer aliança alguma


com os habitantes da terra
para a qual te diriges,
a fim de que não constituam
um laço no meio de ti.

14
Pelo contrário,
derrubarás os seus altares,
despedaçarás as suas estátuas
e cortarás os seus bosques.
Não adorarás nenhum outro deus,
porque Zeloso é o nome do Senhor:
um Deus zeloso é Ele.

Cuida de não estabelecer aliança


com os habitantes do país,
porque se prostituem aos seus deuses
e lhes oferecem sacrifícios,
e te convidariam
e comerias de seus sacrifícios.
Ex. 34,10-16

Aproximai-vos de Cristo,
pedra viva,
eleita e estimada por Deus,
também vós,
como pedras vivas.

Vinde formar um templo espiritual


para um sacerdócio santo,
a fim de oferecer sacrifícios espirituais,
agradáveis a Deus por Jesus Cristo.

15
Sois uma estirpe eleita,
sacerdócio real, gente santa,
povo trazido à salvação,
para tornardes conhecidos os prodígios
dAquele que vos chamou
das trevas para a luz admirável.
1 Pe. 2, 4-5

O Senhor é digno de receber o louvor


e de abrir os selos do Livro,
porque foi imolado
e nos remiu para Deus
com o seu sangue,
e fêz de nós reis e sacerdotes
para o nosso Deus.

Àquele que nos amou,


que nos lavou dos nossos pecados
pelo seu sangue,
e que nos fêz ser reino e sacerdotes
de Deus seu Pai,
a Ele a glória e o império
pelos séculos dos séculos.

Amén.
Apoc. 5,1

16
1. Antes de tudo o mais, orai ininterruptamente sem jamais
desanimar, e dai graças a Deus diante de tudo o que vos acontecer.

2. Meus queridos filhos, por que vos nomear com vossos nomes
terrestres e efêmeros? Vós sois filhos de Israel por nascimento, e
é esta natureza espiritual que saúdo em vós.

3. Caríssimos, não descuidemos de nossa salvação. Sabei que se


alguém se entrega a Deus de todo o coração, Deus tem piedade
dele e lhe concede o Espírito de conversão.

4. Sabemos que desde as origens do mundo, os que encontraram


na Lei da Aliança o caminho do seu Criador foram acompanhados
por sua bondade, sua graça e seu Espírito. Mas os homens,
incapazes de exercerem sua inteligência segundo o estado da
criação original, inteiramente privados de razão, sujeitaram-se à
criatura em vez de servir ao Criador.

5. Mas nossa natureza permanecia imortal.

6. O Criador de todas as coisas, em seu infatigável amor, desejava


visitar- nos em nossas enfermidades e em nossa dissipação.
Então, por nos amar tanto, Ele humilhou-se e revestindo a
imagem de servo, fêz-se obediente até à morte. Nossas
iniqüidades foram as suas humilhações e suas chagas, nossa cura.
Ele nos reuniu de todos os lugares, ressuscitando nossas almas,
perdoando nossos pecados, ensinando-nos que somos membros
uns dos outros.

7. Eu vos suplico, irmãos, penetrai-vos bem da maravilhosa


economia da salvação.
17
8. Todo ser dotado de inteligência espiritual, aquele para quem
veio o Senhor, deve tomar consciência de sua própria natureza,
isto é, deve conhecer-se a si mesmo.

9. Aquele que houver negligenciado seu progresso espiritual e não


houver consagrado todas as suas forças a essa obra deve saber
com certeza que a vinda do Senhor será para ele o dia de sua
condenação.

10. Suplico-vos, irmãos muito amados, não negligencieis a obra


de vossa salvação. Está próximo o tempo em que aparecerão à luz
do dia as obras de cada um.

11. Seja-vos dado tomar bem consciência da graça que Ele vos
deu. Não é a primeira vez que Deus visita as suas criaturas. Ele as
conduz desde as origens do mundo e, de geração em geração,
mantém cada uma desperta pelos acontecimentos de sua graça.
Não negligenciemos, pois, chamar a Deus dia e noite. Fazei
violência à ternura de Deus. Do céu Ele vos enviará Aquele cujo
ensinamento vos permitirá conhecer o que é bom para vós.

12. Filhos, é na morte que habitamos. Nossa morada é a cela de


um prisioneiro. As cadeias da morte nos prendem.

13. Não concedais sono a vossos olhos, nem deixeis que vossas
pálpebras dormitem.

14. Oferecei-vos a Deus como vítimas muito puras, e fixai-o com


o olhar, pois ninguém, como diz o Apóstolo, se não for puro, pode
contemplar a Deus.

18
15. Filhos, é certo que nossa enfermidade e nossa humilhação são
dor para os santos e causa das lágrimas e gemidos que oferecem
por nós diante do Criador do Universo.

16. Deus ama para sempre suas criaturas que, imortais por
essência, não desaparecem com o corpo. Ele viu a natureza
espiritual precipitar-se no abismo e aí encontrar a morte perfeita
e total. Em sua bondade, Deus visitou sua criatura por meio de
Moisés. Esse Moisés quiz curar essa profunda ferida e levar-nos
à comunhão original, porém não conseguiu e partiu. Depois dele
vieram os profetas, puseram-se a construir sobre os fundamentos
deixados por Moisés, mas, sem chegar a curar a chaga profunda
da família humana, reconheceram sua incapacidade. Uma súplica
foi então elevada à bondade do Pai em relação a seu Filho Único,
pois nenhuma criatura seria capaz de curar a profunda ferida do
homem. Ele tomou sobre si esta missão; nossas iniquidades
produziram suas humilhações; suas chagas, nossa cura. Ele nos
reuniu de um extremo a outro do universo, ressuscitou nosso
espírito da terra e nos ensinou que somos membros uns dos
outros.

17. Tomai cuidado, filhos, que não se realize para nós a palavra
de Paulo: que tenhamos "apenas a aparência exterior da obra de
Deus renegando o seu poder".

18. Que corram lágrimas diante de Deus e que todos digam: "Que
retribuirei ao Senhor pelo bem que Ele me fęz?".

19. Compreendei bem o que vos digo e declaro: Se cada um de


vós não chega a odiar o que é da ordem dos bens terrestres e a
isso não renunciar de todo coração, assim como a todas as
19
atividades que daí dependem, se não chega a elevar as mãos e o
coração ao Céu para o Pai de todos nós, não é para si a salvação.
Mas se fazeis o que acabo de dizer, Deus vos enviará um fogo
invisível, que consumirá vossas impurezas e devolverá vosso
espírito à sua pureza original. O Espírito Santo habitará em vós,
Jesus permanecerá junto de nós e poderemos adorar a Deus como
é devido.

20. Enquanto quisermos viver em paz com as coisas do mundo,


seremos os inimigos de Deus, de seus anjos e santos.

21. Desde agora eu vos suplico, caríssimos, em nome de Nosso


Senhor Jesus Cristo, não descuideis de vossa salvação; que esta
vida tão curta não vos valha a desgraça para vossa vida eterna;
que o cuidado com um corpo perecível não oculte o Reino da luz
inefável.

22. Meu coração se espanta e minha alma se aterroriza, pois nós


mergulhamos no prazer como gente embriagada de vinho, porque
nos deixamos distrair por nossos desejos, deixamos reinar em nós
a vontade própria e recusamos elevar nossos olhos para o céu
buscando a glória celeste.

23. A todos os meus irmãos muito amados, a todos vós que vos
preparais para vos aproximardes do Senhor, saúdo nEle, irmãos
caríssimos, vossa natureza espiritual.

24. Como são grandes, meus filhos, essa felicidade que vos coube
e essa graça concedida a vossa geração. Por causa dAquele que
vos visitou, convém que não cedais à fadiga do combate até

20
aquela hora em que vos possais oferecer a Deus como vítimas de
uma grande pureza, pureza sem a qual não existe herança celeste.

25. É muito importante que vos interrogueis acerca da natureza


espiritual, na qual não há mais nem homem nem mulher, mas
somente uma essência imortal que tem um começo e jamais terá
fim. Será uma obrigação para vós conhecê-la, e como decaíu
totalmente a esse ponto de tamanha humilhação e imensa
confusão, num trânsito que não poupou a nenhum de vós. Sendo
imortal por essência, foi por causa dela que Deus, vendo-a
infeccionada por uma praga irremediável e que, além disso,
aumentava prodigiosamente, decidiu em sua clemência visitar
suas criaturas.

26. Eu desejaria, pois, que bem o soubésseis, meus queridos filhos


no Senhor, que por causa de nossa loucura, Ele tomou a libré da
loucura; por causa de nossa morte, Ele tomou e libré de um
mortal; e por nós sofreu tanto. Não concedais, pois, caríssimos no
Senhor, sono a vossos olhos, nem deixeis que vossas pálpebras
dormitem, mas suplicai e fazei violência à bondade de Deus para
que Ele venha em nosso socorro e possamos preparar-nos para
consolar Jesus por ocasião de sua vinda.

27. Quero que saibais, filhos, quanto sofro por vós quando vejo a
profunda decadência que a todos nós ameaça, e quando considero
essa solicitude dos santos por nós e as orações que eles fazem
continuamente subir, em nossa intenção, a Deus seu Criador.
Somos criaturas racionais e nos comportamos irracionalmente,
ignorando as múltiplas maquinações do diabo, que percebeu que
procuramos tomar consciência de nossa queda e procuramos o
meio de escapar às obras más de que ele é cúmplice.
21
28. Que Deus abra os olhos de vosso coração para que percebais
os múltiplos malefícios secretos, lançados todos os dias sobre nós
no decorrer do tempo. Faço votos que Deus vos dê um coração
clarividente e um espírito de discernimento a fim de vos
apresentardes a Ele como uma vítima pura e sem mancha.

29. Tomai este corpo de que estais revestidos, fazei dele um altar,
e sobre este altar colocai vossos pensamentos, e sob o olhar do
Senhor, abandonai todo mau desígnio, elevai as mãos de vosso
coração a Deus, (é o que faz o Espírito quando está operando), e
pedi-lhe que vos conceda este belo fogo invisível que sobre vós
descerá do Céu e consumirá o altar e suas oferendas.

30. Grande é a vossa felicidade por terdes tomado consciência de


vossa miséria e por terdes fortalecido em vós essa invisível
essência que não passa com o corpo.

31. Persuadí-vos bem que vosso ingresso e vosso progresso na


obra de Deus não são obra humana, mas intervenção do poder
divino que não cessa de vos assistir.

32. Empenhai-vos sempre em oferecer-vos a vós mesmos como


vítimas a Deus, e acolhei com fervor a força que vos ajuda para
tanto.

33. Se vos falo neste tom insistente é porque somos todas criaturas
de uma essência que teve um começo mas não terá fim. Aquele
que se conhece verdadeiramente não terá dúvida alguma sobre
sua essência imortal.

22
34. Guardai também isso bem presente ao espírito, meus queridos
filhos no Senhor, santos filhos de Israel por vosso nascimento.
Estai sempre prontos a vos aproximardes do Senhor como vítimas
puras, dessa pureza que ninguém pode herdar a não ser que a
pratique desde este mundo.

35. Sede, pois, vigilantes, caros filhos, não permitais que vossos
olhos durmam nem que vossas pálpebras dormitem, mas clamai
dia e noite a vosso Criador para que vossos pensamentos se
firmem no Cristo.

36. Na verdade, filhos, acontece que habitamos na própria morada


do ladrão e é pelas cadeias da morte que nela estamos presos. Este
estado de negligência, de queda, de exclusão da santidade faz não
só a nossa perda, mas também o sofrimento dos anjos e dos santos
de Cristo, pois nunca lhes demos ainda algum motivo de paz.

37. Que também se abram os ouvidos de vosso coração para que


tomeis consciência de vossa miséria. Que aquele que toma
consciência de sua vergonha logo se ponha a buscar a glória à
qual é chamado; que aquele que compreende a sua morte
espiritual bem depressa reencontre o gosto da vida eterna.

38. Foi em conseqüência de nossos inúmeros pecados, de nossas


funestas revoltas, de nossas paixões sensuais que a Lei da
Promessa se atenuou e as faculdades de nossa alma se
enfraqueceram. Por causa da morte a que fomos precipitados,
tornou-se a nós impossível atender a nosso verdadeiro título de
glória: nossa natureza espiritual.

23
39. No Senhor eu vos suplico, caros filhos, deixai-vos penetrar
bem pelo que vos escrevo. Voltai vossa alma para vosso Criador.
Perguntai a vós mesmos o que seria possível retribuir ao Senhor
por todas estas graças. É tão grande a sua bondade que Ele quiz
que o próprio Sol se ponha a nosso serviço nesta habitação de
trevas, assim como a Lua e as estrelas, para sustentar fisicamente
um ser cuja fraqueza o condenaria a perecer. Não sofreram por
nós os patriarcas? Não nos dispensaram os sacerdotes os seus
ensinamentos? Não combatiam por nós os juízes e reis? Não
foram mortos por nós os profetas? Não sofreram os Apóstolos
perseguição por nós? E não morreu por todos nós o Filho bem
amado?

Agora é a nossa vez de nos dispormos a ir ao nosso Criador pelo


caminho da pureza.

40. Filhos caríssimos no Senhor, queirais permanecer prontos a


vos oferecerdes a vós mesmos como vítimas de toda pureza.

41. Nosso Criador, em sua bondade, quiz reconduzir-nos a nosso


estado original que jamais deveria ter desaparecido. Ele não se
poupou, mas visitou suas criaturas para salvá-las todas.

Nossas iniqüidades causaram sua humilhação, mas por suas


chagas fomos curados.

Se, pois, o homem dotado de razão quer preparar para si uma


absolvição por ocasião da vinda do Senhor, é preciso que ele se
examine e se interrogue sobre o que poderia retribuir a Deus por
todos os bens dEle recebidos.

24
42. Também eu, o mais miserável de todos, que estou escrevendo
esta carta, desperto de meu sono de morte, passei o mais luminoso
dos dias que me foram concedidos na terra a me perguntar, com
pranto e lágrimas, com que poderia retribuir ao Senhor por tudo
o que Ele me fêz.

43. Meus caríssimos no Senhor, a vós que sois co-herdeiros dos


santos, rogo que desperteis em vosso coração o temor de Deus.
Preparemo-nos, pois, santamente, e purifiquemos nosso espírito
para sermos puros a receber o batismo de Jesus e a nos
oferecermos como vítimas agradáveis a Deus. O Espírito
Consolador, recebido no Batismo, nos conduzirá a nosso estado
original.

44. Verdadeiramente nada nos faltou em tudo o que Ele


empreendeu por nossa miséria. Deu-nos anjos como servidores, a
seus profetas ordenou que nos instruíssem por seus oráculos, a
seus apóstolos prescreveu que nos evangelizassem. Mais ainda,
pediu a seu Filho único que tomasse, por nossa causa, a condição
de escravo.

45. O homem dotado de razão que se prepara para a libertação


que lhe trará a vinda de Jesus deve conhecer o que é segundo a
sua natureza espiritual. Deus não veio somente uma vez visitar
suas criaturas. Desde a origem, a Lei da Aliança encaminhou
muitos para o Criador e ensinou-lhes como adorar a Deus
convenientemente. Mas a extensão do mal, o peso do corpo, as
paixões perversas tornaram impotente a Lei da Aliança e
deficientes os sentidos interiores. Impossível recobrar o estado da
criação primeira. Por isso é que Deus, em sua bondade,
proporcionou-lhes aprender, pela Lei escrita, como adorar o Pai.
25
O Criador constatou que a chaga se envenenava e que era
necessário recorrer a um médico; Jesus, já criador dos homens,
vem ainda curá-los. Ele se entregou por todos nós; nossos pecados
causaram a sua humilhação; suas chagas, nossa cura.

Peço-vos, caros amigos no Senhor, considerai este escrito como


um mandamento do Senhor. Compete-nos agora trabalharmos em
nossa libertação, graças à sua vinda; compreendei bem o que sois,
para vos dispordes a vos oferecerdes como vítimas agradáveis a
Deus. Preparai- vos, porque ainda temos intercessores para
suplicar a Deus que ponha em nosso coração aquele fogo na terra
espalhado por Jesus.

46. Caros irmãos, chamados a partilhar da herança dos santos,


agora estais próximos de todas as virtudes. Todas elas vos
pertencem se não vos embaraçais na vida carnal, mas permaneceis
transparentes diante de Deus. É a pessoas capazes de me
compreender que escrevo, a pessoas em condições de se
conhecerem a si mesmos. Quem se conhece, tem a obrigação de
adorar a Deus como convém.

47. Digo-vos, em verdade, caros filhos, que esta palavra de


salvação e de liberdade está longe de se ter esgotado. Entrar no
detalhe do assunto seria preparar um longo discurso, e está
escrito: "Dá um pouco ao sábio e ele se tornará ainda mais sábio".
Breves palavras bastam para nos consolar. Uma vez que o espírito
as apreendeu, não há necessidade das palavras freqüentemente
ambíguas de nossa boca.

S. Antão

26
SENTENÇAS SOBRE AS VIRTUDES
TEOLOGAIS

Aqueles que vivem pelo Espírito


fazem morrer as obras da carne.
(Ninguém que proceda diversamente)
terá herança no Reino
de Cristo e de Deus.
Mortificai, pois,
os vossos membros terrenos:
a fornicação, a impureza,
a lascívia, os desejos maus,
e a avareza, que é uma idolatria,
pelas quais coisas vem a ira de Deus
sobre os que não crêem.
Rom.8,13;Ef.5,5;
Col.3,5.

As obras da carne são manifestas.


São a fornicação, a impureza,
a luxúria, a idolatria,
os malefícios, as inimizades,
as contendas, as iras,
as rixas, as discórdias,
as seitas, as invejas,
os homicídios, a embriaguez,
as glutonerias, e outras semelhantes,
sobre as quais vos previno,
que os que as praticam
27
não possuirão o Reino de Deus.
Os que são de Cristo
crucificaram a própria carne
com os seus vícios
e as suas concupiscências.
Gal.5,19-21;5,24.

28
1. Pela fé se inicia em nós a vida eterna, pois a vida eterna nada
mais é do que conhecer a Deus. De fato, diz o Senhor no
Evangelho de S. João: "Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti,
único Deus verdadeiro".

Ora, este conhecimento de Deus se inicia em nós pela fé.

2. A fé enquanto conhecimento tem como objeto a Deus e as


coisas que se ordenam a Deus. As duas coisas em que
maximamente consiste a fé são o mistério de Deus e do Verbo
Encarnado. "Nisto consiste a vida eterna", diz Jesus, "que te
conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste,
Jesus Cristo"(Jo. 17,3).

3. As Sagradas Escrituras afirmam que a fé pode crescer e admitir


graus de grandeza.

4. Não conseguindo os Apóstolos curar um jovem lunático,


perguntaram ao Cristo porque não o haviam conseguido. Ouviram
a seguinte resposta: "Por causa de vossa pouca fé" (Mt. 17, 20).

5. Caminhando sobre as águas do mar ao encontro de Jesus, e


percebendo a força do vento, Pedro teve medo e começou a
afundar. Jesus o repreendeu: "Homem de pouca fé, por que
duvidaste?" (Mt. 14, 31).

6. Encontrando uma mulher cananéia que lhe suplicava a cura do


filho, Jesus lhe disse: "Ó mulher, é grande a tua fé" (Mt. 15, 28).

7. Os Apóstolos, percebendo quão pequena era a fé que os


animava, pediram ao Cristo: "Aumentai a nossa fé" (Lc. 17, 5).
29
8. Há duas coisas em que consiste a fé: “O conhecimento, e o
afeto, isto é, a constância e a firmeza no crer”. A fé de alguns é
grande pelo conhecimento, mas pequena pela constância e pela
firmeza; já a de outros é grande pela constância e firmeza, e
pequena pelo conhecimento. Outros, finalmente, há em que a fé é
grande ou pequena em ambas as coisas.

9. O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda. É, na


verdade, a menor de todas as sementes, mas, crescendo, é a maior
de todas as hortaliças, e faz-se árvore de modo que as aves do céu
vem pousar nos seus ramos. (Mt. 17, 32)

10. A constância e a firmeza na fé são mais louváveis do que a


quantidade de seu conhecimento, pois o Senhor o manifestou
claramente quando comparou a fé ao grão de mostarda, que, se
pela quantidade é pequeno, não o é, todavia, pelo fervor.

11. Em verdade eu vos digo, se alguém disser a este monte:

`Ergue-te e lança-te no mar',

e não hesitar no próprio coração, mas acreditar que aconteça o


que diz, isso lhe será feito.

Por isso eu vos digo, tudo o que pedirdes na oração, crede como
já alcançado, e vos será concedido (Mc. 11, 23-24).

12. A um centurião romano que veio pedir-lhe que curasse um de


seus servos, Jesus, vendo a sua fé, lhe respondeu:

`Em verdade vos digo


30
que não encontrei

ninguém em Israel

com tão grande fé.

Vai, faça-se

segundo a tua fé'.

E naquela mesma hora o servo ficou curado. (Mt. 8, 13)

13. Na maioria das vezes em que concedia um milagre, Jesus


também respondia ao que lho tinha pedido:

`Levanta-te e parte;

a tua fé te salvou';

Lc. 17,19

ou então:

`A tua fé te salvou;

vai em paz'.

Lc. 8, 48

14. Se tiverdes fé como um grão de mostarda, podereis dizer a


este monte:
31
`Muda-te daqui para ali',

e ele se mudará,

e nada vos será impossível.

Mt. 17,20

15. Aquele que crê em mim, diz Jesus, ainda que venha a morrer,
viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais.
(Jo. 11, 26)

16.

“O justo viverá da fé,

diz o Senhor,

mas,

se retroceder,

não será aceito à minha alma.”

Hb. 10, 37

17. Há um gênero de homens para os quais crer significa apenas


não contradizer a fé, aos quais denominamos fiéis mais pelo
costume da vida do que pela virtude de crer.

32
De fato, dedicados apenas às coisas que passam, nunca elevam a
mente ao pensamento das coisas futuras; embora recebam os
sacramentos da fé cristã juntamente com os demais fiéis, não
atentam para o que significa ser cristão ou que esperança há na
expectativa dos bens futuros. Estes, embora sejam ditos fiéis pelo
nome, de fato e em verdade estão longe da fé.

A fé consiste em uma santa dedicação que, partindo de verdades


que lhe são oferecidas, com o auxílio da graça do Espírito Santo,
inclina decididamente a mente às coisas invisíveis futuras.

18.

Já que ressuscitastes com Cristo,

procurai as coisas do alto,

pensai nas coisas do alto,

não vos interesseis pelas terrenas,

já que vós morrestes,

e vossa vida está escondida

com Cristo em Deus.

Col. 3, 1-3

19. A fé é argumento das coisas que não se vêem (Hb. 11,1).


Embora em nós o homem exterior vá caminhando para a sua
33
ruína, o homem interior se renova de dia a dia; não olhamos para
as coisas que se vêem, mas para as que não se vêem (II Cor. 4,
16- 18).

20. A fé não é apenas das coisas que não se vêem, mas, mais
ainda, a fé ensina a desprezar as coisas que se vêem. Pois as coisas
que se vêem são aquelas que podem cair sob o domínio da
imaginação, e a fé, ao contrário, obriga a inteligência a elevar-se
à pureza da abstração das coisas maximamente inteligíveis.

21. “O meu justo vive da fé”. Esta sentença é ao mesmo tempo


apostólica e profética. O Apóstolo diz o que o profeta prediz, pois
o justo vive da fé; e se assim é, ou melhor, porque assim é,
devemos nos elevar com freqüência aos mistérios de nossa fé.

22. Sem a fé é impossível agradar a Deus. Pois onde não há fé,


não pode haver esperança. Onde não há esperança, não pode
haver caridade. Pela fé somos promovidos à esperança, e pela
esperança progredimos à caridade. Qual seja, porém, o fruto da
caridade, pode-se ouvi-lo da própria boca da verdade:

`Se alguém me ama,

será amado pelo meu Pai,

e eu o amarei,

e me manifestarei a ele'.

Jo. 14,21

34
Quão aplicados, pois, não nos convém ser à fé, da qual procede o
fundamento de todo o bem e através da qual se alcança o
firmamento?

23. Se somos filhos de Sião, levantemos aquela sublime escada


da contemplação, tomemos asas como de águia pelas quais nos
possamos destacar das coisas terrenas e nos levantar às coisas
celestes. Pensemos nas coisas do alto, não nas coisas da terra,
onde Cristo está sentado à direita de Deus; para isto de fato Cristo
nos enviou o seu Espírito, para que conduzisse o nosso espírito de
tal modo que para onde o Cristo ascendeu com o corpo,
ascendamos nós pela mente.

24. A fé causa a pureza do coração porque as coisas que estão na


inteligência são princípios das coisas que estão no afeto, na
medida em que o bem do intelecto move o afeto. De onde que a
purificação do coração é, diz São Pedro, um efeito da fé:

"Deus não fêz distinção alguma

entre judeus e gregos",

"pois purificou os corações de todos

pela fé".

At. 15,9

25. Para alcançar o conhecimento da fé, não basta apenas que a


vontade mova a inteligência; é necessário também o instinto
interior de Deus que convida. Nas coisas da fé, o conselho do
35
homem, sem o auxílio divino, é enfermo e ineficiente. É
necessário, portanto, levantar-se à oração, e pedir o seu auxílio,
sem o qual nenhum bem pode ser alcançado. Isto é, é necessário
pedir a sua graça, a qual, para que tivesses chegado até aqui para
pedi-la, era ela que já te iluminava, e daqui para a frente será quem
haverá de dirigir os teus passos para o caminho da paz, e de cuja
única boa vontade depende que sejas conduzido ao efeito da boa
obra. Não serás obrigado por ela, serás ajudado. Se apenas tu
operares, nada realizarás; se apenas Deus operar, nada merecerás.
Aquele que corre por esta via, busca a vida.

26. Está escrito:

“Se vós, sendo maus,

sabeis dar coisas boas

aos vossos filhos,

quanto mais o vosso Pai

que está nos céus

dará o Espírito Santo

aos que lhO pedirem?”

Portanto, o Pai celeste dará o Espírito Santo aos filhos que lhO
pedirem. Os que são filhos, não pedem outra coisa; os que pedem
outras coisas são servos mercenários, não filhos. Os que pedem
prata, os que pedem ouro, os que pedem coisas que passam, os
36
que não pedem o que é eterno, pedem o ministério da servidão,
não o espírito da liberdade.

O que for pedido, isto será dado; se pedes o corporal, não


receberás mais do que o que pedes. Se pedes o espiritual, o que
pedes será concedido e o que não pedes será acrescentado; será
dado o espiritual, será acrescentado o corporal.

“Buscai em primeiro lugar

o Reino de Deus,

e tudo o resto

vos será acrescentado.”

Deve-se, portanto, orar ao Pai, e ao Pai, que está nos céus, pedir
os dons celestes, não os da terra; não a substância corporal, mas a
graça espiritual.

27. Uma coisa é a firme certeza de que existe um ser inteligente e


imaterial que é a causa de todas as coisas; outra coisa muito
diferente é crer que somos amados pela causa primeira como seus
filhos, que quando oramos a causa primeira nos ouve como um
pai, e que ela nos espera após o termino desta vida como a um
ente querido para nos fazer felizes por toda a eternidade.

28. Que é o ser humano diante da imensidão do Universo? É


menos do que um grão de poeira.

37
E o que é o Universo diante da perfeição da causa primeira?
Menos ainda do que o homem diante do Universo.

Certamente a causa primeira sustenta todas as coisas no ser e sabe


que existem as coisas de que ela é causa; mas daí para a afirmação
de que quando oramos a causa primeira nos ouve como um pai
vai uma diferença descomunal.

29. Que dizer da afirmação segundo a qual Jesus Cristo era a


causa primeira, crucificada por ordem de Pôncio Pilatos?

Ou daquela segundo a qual na causa primeira, perfeitamente una,


subsistem desde toda a eternidade três pessoas que compartilham
uma só divindade, que se conhecem e se amam com uma
felicidade que supera o alcance de qualquer entendimento?

Que esta causa primeira nos ama a ponto de se ter deixado


crucificar pelos homens e que esteja nos esperando após o término
desta vida para nos fazer felizes comunicando-nos a sua própria
felicidade, aquela que há nela mesma em virtude da trindade de
suas pessoas, é algo que está além dos sonhos mais
extraordinários que o homem possa conceber.

Não há vontade humana capaz de, sozinha, sem o auxílio da graça


do Espírito Santo, fazer a inteligência assentir a afirmações desta
natureza com a firmeza e a constância que as Sagradas Escrituras
atribuem à fé.

30. Segundo o crescimento da fé encontramos três gêneros de


pessoas que crêem.

38
Há alguns fiéis que elegeram crer apenas pela piedade, os quais
todavia não compreendem se se deve crer ou não pela razão;
nestes, apenas a piedade faz a eleição.

Há outros que aprovam pela razão o que crêem pela fé; nestes a
razão acrescenta a sua aprovação.

Outros, finalmente, pela pureza do coração e da consciência já


começam a saborear interiormente aquilo que crêem pela fé;
nestes a pureza da inteligência apreende a certeza.

31. A Sagrada Escritura afirma que a fé opera pela caridade (Gal.


5,6); a fé, sem a obra da caridade, é morta (Tg. 2,17). A fé vive
pela caridade e, através dela, torna-se realidade perfeita. Não há
mais de uma fé, uma morta e outra viva. Não são duas, mas a
mesma fé aumentada, pelo que diz o Evangelho de S. Lucas:
`Aumentai a nossa fé'. (Lc. 17,5)

32. A caridade é amor de amizade, amor ao qual Jesus se referia


quando disse:

“Não mais vos chamo de servos,

porque o servo não sabe

o que seu amo faz;

mas eu vos chamo de amigos,

porque tudo o que ouvi do Pai

39
eu vos dei a conhecer.”

Jo. 15,15

33. A amizade requer por natureza uma mútua benevolência,


porque o amigo é, para o amigo, outro amigo; requer, ademais,
que esta mútua benevolência se fundamente sobre alguma
comunicação.

A caridade é amor de amizade fundamentado sobre a


comunicação entre Deus e o homem na medida em que Deus quer
nos comunicar a sua própria felicidade.

34. O amor de caridade não é apenas aquele pelo qual o homem


cumpre o mandamento de amar a Deus com todo o seu coração,
com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com todas
as suas forças, mas também aquele amor que pressupõe o amor
pelo qual o homem é amado primeiro por Deus:

“Nisto consiste a caridade:

não fomos nós que amamos a Deus,

mas Ele que nos amou primeiro'’.

I Jo. 4,10

35. Aquele que ama a Deus tem em si próprio a maior prova de


ser amado por Deus, porque ninguém pode amar a Deus se Deus
não o amar primeiro, pois o próprio amor pelo qual nós amamos
a Deus é causado em nós pelo amor com que Deus nos ama.
40
36. A contemplação se inicia quando a uma fé firme, constante e
pura se acrescenta uma caridade intensa.

37. O encontro entre a fé e a caridade se torna estável e duradouro


pela virtude da esperança, conforme o dito de S. Bento:

`Apodera-se deles o desejo

de caminhar para a vida eterna;

por isso lançam-se como que de assalto

ao caminho estreito do qual

diz o Senhor que conduz à vida'.

38. A esperança reside na vontade, mas tem suas raízes mais


profundas na memória, conforme diz S. Antão ao afirmar que dos
pensamentos puros da fé se produz a memória de Deus e dos bens
que Ele nos prometeu, e da memória destas coisas se origina
aquele amor perpétuo que nos é prescrito no maior de todos os
mandamentos.

Diz também S. Boaventura que é necessário amar a Deus não


apenas com todo o nosso coração e com toda a nossa alma, mas
também com todo o nosso entendimento, isto é, "com toda a
memória, sem esquecimento".

39. A esperança é pressuposto do pleno caráter sobrenatural da fé


e da caridade, pois, conforme diz a Sagrada Escritura:

41
`A fé é a substância das

coisas que se esperam';

e também, quanto à caridade:

`Não vos chamo mais de servos,

porque o servo não sabe

o que o seu amo faz,

mas eu vos chamo de amigos,

porque tudo o que ouvi do Pai

eu vos dei a conhecer'.

40. A contemplação se inicia quando, após uma vida de virtude e


de oração, reflexão e estudo, é possível viver da fé. A esta fé deve-
se acrescentar e unir a caridade, pois sem a fé a caridade não pode
crescer. Á medida em que a caridade cresce no solo da fé, ela
passa gradualmente a se tornar condutora da fé a que está unida e
a introduzí-la num modo superior de vivência.

41. Toda contemplação espiritual é precedida, como por


condutores, pela fé, pela esperança e pela caridade, mas
principalmente pela caridade. De fato, a fé e a esperança nos
ensinam a desprezar as coisas que se vêem. A caridade, com elas,
une a alma às virtudes divinas, investigando por um certo sentido
da mente as coisas que não podem ser vistas.
42
42. Dizem-me que estudais os profetas; mas eu vos pergunto,
julgais compreender realmente o que ledes? Em caso afirmativo,
decerto não ignorais que quem desejar alcançar o Cristo será
melhor sucedido seguindo os seus passos do que lendo a seu
respeito. Se tomásseis uma resolução definitiva, compreenderíeis
o que está escrito:

`Os olhos não viram,

ó Deus,

além de Ti,

que coisas preparastes

para os que Te amam'.

Se provásseis ao menos uma vez o belo trigo com que o Senhor


inundou Jerusalém, com que satisfação abandonaríeis então aos
judeus amadores da escrita estas migalhas duras com que eles se
contentam! Prouvera a Deus que fôsseis meu condiscípulo na
escola do amor divino em que Jesus é o mestre! Com que agrado
partilharia convosco o pão celestial que, ainda quente, fumegante
e tenro do forno, Cristo oferece freqüentemente aos seus pobres!

43. Dizem as Escrituras que o caminho do justo é como a luz da


aurora, que vai clareando até o pleno dia (Pr. 4,18). Assim
também, seguindo um curso comparável à luz da aurora, para o
justo que persevera no seu caminho chega o momento em que a
caridade começa a operar nele de um modo mais manifestamente
excelente e intenso do que este supunha ser possível.
43
44. Vim espalhar um fogo sobre a terra, e que mais desejo eu
senão que se acenda? Quem crer em mim, disse Jesus, de seu seio
correrão rios de água viva. Dizia isto Jesus do Espírito Santo que
haveriam de receber os que nele cressem. (Lc. 12, 49; Jo. 7, 7.)

45. Uma é a caridade natural da alma, outra aquela que pelo


Espírito Santo lhe é infundida.

Aquela que está em nós, quando queremos, se move com


moderação pelo afeto de nossa vontade; por esta razão não é
difícil para os espíritos malignos, a não ser que nos defendamos
com fortaleza, que nos seduzam para os seus propósitos.

A divina, porém, incendeia de tal forma a alma à caridade divina,


que vence e une entre si, por uma infinita simplicidade e
sinceridade de afeto, todas as partes e as faculdades da alma na
bondade do desejo celeste. A alma se torna uma fonte profunda
de caridade e de alegria, como que grávida da graça celeste e da
virtude do Espírito Santo.

46. O Evangelho consiste, de um modo especial, na graça do


Espírito Santo, pois cada coisa parece ser aquilo que nela há de
principal.

Aquilo, porém, que é principalíssimo na Lei do Novo Testamento,


e no qual consiste toda a sua virtude, é a graça do Espírito Santo,
que nos é dada pela fé em Cristo.

Portanto, a Nova Lei é principalmente a própria graça do Espirito


Santo, que é dada por Cristo aos fiéis.

44
47. Segundo o modo comum de entender dos homens, sabedoria
é o mais elevado conhecimento possível. Assim também entre os
dons do Espírito Santo enumera-se o dom de sabedoria, por meio
do qual o Espírito Santo nos move ao mais elevado conhecimento
possível ao homem e à mais elevada forma de vida contemplativa
que o homem pode alcançar.

48. A causa próxima da contemplação produzida pelo dom de


sabedoria é o modo supereminente de vivência da caridade
produzido em nós pela graça do Espírito Santo que Jesus
prometeu aos que seguissem os seus preceitos.

49.

`Bem aventurados os pacíficos', diz Jesus, `porque serão


chamados filhos de Deus'.

São filhos de Deus todos aqueles que são movidos pelo Espírito
de Deus (Rom. 8,14).

São filhos de Deus todos aqueles que receberam o Espírito Santo,


e serão chamados filhos de Deus aqueles que receberam tanta
plenitude do Espírito Santo que esta condição se manifesta com
tal evidência diante dos homens que eles próprios passam a
chamá-los de filhos de Deus. Trata-se daquela vivência
supereminente da caridade movida pelo Espírito Santo que
introduz os homens naquela forma superior de contemplação
associada ao dom de sabedoria pela qual se lhes manifesta a
verdade e se tornam livres.

45
50. Aqueles que recebem o dom de sabedoria mediante o Espírito
Santo são de modo próprio ditos filhos de Deus, na medida em
que participam da semelhança do Filho de Deus unigênito e
natural, os quais Deus na sua preciência os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho (Rom. 8, 29), o qual é a
sabedoria gerada.

51. Esta sabedoria de que tratamos não é o próprio Deus. É uma


sabedoria de homem, a qual, todavia, é segundo Deus, e é o seu
verdadeiro e principal culto. Se a mente do homem se torna capaz
de cultuar a Deus por seu intermédio, o homem se torna sábio,
não pela própria luz de Deus, mas por uma participação daquela
que é a maior de todas as luzes.

52. O dom de sabedoria produz uma contemplação deiforme, e de


certo modo explícita, dos artigos que a fé contém de certo modo
envolvidas sob um modo humano.

53. A sabedoria que é dom do Espírito Santo possui sua causa na


caridade, embora sua essência esteja no intelecto. Deus nunca dá
esta sabedoria sem amor, pois é o próprio amor que a infunde,
conforme o mostra Jeremias, onde diz:

`Enviou fogo aos meus ossos

e ensinou-me'.

Lam. 1,13

54. O dom de sabedoria possui uma eminência de conhecimento


por uma certa união às coisas divinas, às quais não nos unimos a
46
não ser pelo amor, de tal modo que aquele que adere a Deus se
torna um só espírito com Ele, conforme diz o Apóstolo na
primeira epístola aos coríntios. E por isso o dom de sabedoria
pressupõe o amor como princípio, de tal modo que reside no
afeto, embora quanto ao conhecimento esteja no intelecto.

55. `Se permanecerdes nas minhas palavras', diz Jesus, `sereis


verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade, e a
verdade vos tornará livres' (Jo. 8,31). `Para isto é que eu nasci',
diz Jesus, `e para isto é que vim ao mundo: para dar testemunho
da verdade' (Jo. 18,37). Foi por isto que Jesus veio ao mundo: a
quantos o receberam, `deu- lhes o poder de se tornarem filhos de
Deus, aos que crêem no seu nome, e que não pelo sangue, nem
pela vontade humana, mas de Deus nasceram' (Jo. 1,12).

47
Notas

1. S. Tomás de Aquino: Comentário ao Símbolo dos


Apóstolos.
2. S. Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
Hugo de S. Vitor: Summa Sententiarum.
Evangelho segundo João.
3. Catecismo Romano.
4. Evangelho segundo Mateus.
5. Evangelho segundo Mateus.
6. Evangelho segundo Mateus.
7. Evangelho segundo Lucas.
8. Hugo de S. Vitor: De Sacramentis Fidei Christianae.
9. Evangelho segundo Mateus.
10. Hugo de S. Vitor: De Sacramentis Fidei Christianae.
11. Evangelho segundo Marcos.
12. Evangelho segundo Mateus.
13. Evangelho segundo Lucas.
14. Evangelho segundo Mateus.
15. Evangelho segundo João.
16. Epístola aos Hebreus.
17. Hugo de S. Vitor: De Sacramentis Fidei Christianae;
Idem: De fructibus carnis et spiritus.
18. Epístola aos Colossenses.

48
19. Epístola aos Hebreus.
Segunda Epístola aos Coríntios.
20. .........................
21. Ricardo de S. Vitor: De Trinitate.
22. Ricardo de S. Vitor: De Trinitate.
23. Ricardo de S. Vitor: De Trinitate.
24. S.Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
Atos dos Apóstolos.
25. S.Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
Hugo de S. Vitor: Didascalicon.
26. Hugo de S. Vitor: De Quinque Septenariis.
27. .........................
28. .........................
29. .........................
30. Hugo de S. Vitor: De Sacramentis Fidei Christianae.
31. Epístola aos Gálatas.
Epístola de Tiago.
S. Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
Hugo de S. Vitor: Summa Sententiarum.
32. S.Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
33. S.Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
34. .........................
35. S.Tomás de Aquino: texto de localização não
identificada.
36. .........................
49
37. .........................
38. .........................
39. .........................
40. .........................
41. S.Diádoco de Fócia: Capítulos sobre a Perfeição.
42. S.Bernardo: Carta a Henrique Murdach.
43. .........................
44. Evangelho segundo Lucas.
Evangelho segundo João.
45. S.Diádoco de Fócia: Capítulos sobre a Perfeição.
46. S.Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
47. .........................
48. .........................
49. S.Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
50. .........................
51. Pedro Lombardo: Terceiro Livro das Sentenças.
52. S.Tomás de Aquino: Comentário ao Terceiro Livro
das Sentenças.
53. S. Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
S.João da Cruz: Noite Escura da Alma.
54. S.Tomás de Aquino: Summa Theologiae.
55. Evangelho segundo João.

50

Você também pode gostar