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Rendimentos familiares e desigualdades na Europa

A consideração para o cenário europeu dos rendimentos familiares para os últimos quinze
anos é um instrumento que permite comparações interessantes entre os países e, indicações
sobre o bem-estar da população, aqui representada por um estrato populacional específico e
representativo. Tomámos como amostra de agregado familiar um casal com dois filhos e
rendimentos líquidos anuais, resultantes de dois salários médios a nível nacional (fonte,
Eurostat).

Pretende-se,

 por um lado, avaliar a evolução dos rendimentos da população trabalhadora entre os


países europeus com integração mais longa ou mais recente, para três quinquénios –
2005/2010, 2010/2015 e, 2015/2020;

 e, por outro, aferir os níveis das desigualdades entre os rendimentos disponíveis nos
vários países, incluindo os resultantes do impacto da inflação.

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1 – Evolução dos rendimentos médios

A relação entre o rendimento afeto ao modelo familiar escolhido para os vários países,
mostra as diferenças entre o que cabe a uma família no país mais rico (Luxemburgo) e no
mais pobre (Letónia em 2004 e Bulgária nos momentos seguintes) - 10.5 vezes em 2005, 12.3
em 2010, 10.9 em 2015 e reduz-se claramente para 7.5 em 2020.

A evolução do rendimento familiar entre 2005 e 2020 mostra-se mais acentuada na Lituânia
(3.4 vezes em 2020 face a 2005), Letónia (3.3) e Estónia (2.7). Inversamente, essa evolução é
negativa no caso da Grécia (em 2020 o rendimento era 86% do observado em 2005)
mostrando-se também baixo em alguns países ricos como a Grã-Bretanha (1.1), a França, a
Irlanda e a Itália (1.2). Portugal apresenta um indicador baixo (1.4), num patamar onde se
inclui a maioria dos países ricos e, com valores claramente mais baixos do que os restantes
países da UE, excepto a Grécia. (ver gráfico abaixo)

Dito de outro modo, o referido rendimento médio em Portugal mantém-se muito afastado
do vigente nos países ricos e é objeto de uma aproximação proveniente dos países mais
pobres da UE.

Relação do rendimento em 2020 face a 2005

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Como é evidente, esta evolução não nada tem de lisonjeiro para o povo português. Revela a
sua tradicional apatia ou conformismo perante as dificuldades, neste momento, bem
presente na atitude pachorrenta perante as medidas pouco consistentes do governo face ao
covid. Mostra ainda a inutilidade e a ausência de efetiva representatividade dos 230 ungidos
que protagonizam a verbosa rotina do circo parlamentar e que ainda contempla, vastas
coortes de assessores e adjuntos. Evidencia a ausência de qualquer canal de influência do
povo sobre a classe política, entrincheirada no seu púlpito, como fornecedora de informação
e deformação a uma imprensa falida e ávida das vacuidades provenientes do poder para
fornecer circo à rua e sobreviver. É infantil e quase inútil esperar a melhoria das condições de
vida, da repartição de rendimentos, sem instrumentos próprios de decisão sobre a vida da
coletividade; e, no âmbito do capitalismo, do funcionamento rotineiro dos mercados
eleitorais. Costumamos referir esta situação nas marcas históricas deixadas, em Portugal, por
duzentos anos de castração pela Inquisição, cinquenta de fascismo e quase outros tantos no
seio do atual regime pos-fascista.

O quadro que se segue evidencia as variações de rendimento para cada um dos três
quinquénios – 2005/2010, 2010/2015 e, 2015/2020.

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Evidencia-se claramente o choque das integrações mais recentes na UE, com elevados
aumentos de rendimento, a partir de patamares muito baixos.

Em 2005/10 os acréscimos mais relevantes observam-se na Letónia, na Rep. Checa e na


Estónia; e, sublinha-se a perda de rendimento para o agregado familiar selecionado no caso
do Reino Unido. Note-se que este período é o mais favorável entre todos os três
quinquénios; a crise financeira apresentou a sua principal onda no período seguinte.

No período 2010/15 mostraram-se, de modo mais agudo, os efeitos da crise financeira, das
suas sequelas nas contas públicas, como no nível de vida das pessoas comuns; daí que as
variações nos rendimentos se mostrem, na generalidade, inferiores às do período
precedente. Poucos países apresentam melhorias nos rendimentos face a 2005/10; são os
casos da Alemanha, da Suécia e do Reino Unido o qual, como se evidenciou, teve quebras no
quinquénio anterior.

Sublinha-se a grande quebra dos rendimentos do grupo social utilizado neste estudo para a
Grécia (-4.6%). Nos casos de mais baixos aumentos de rendimento, Portugal colocou-se em
primeiro lugar (0.5%), pouco abaixo da Irlanda, outra vítima de burlas financeiras com 0.6%,
tal como a Rep. Checa. Neste período, os portugueses, fustigados pelas exigências da troika,
arcaram com a benevolência dos sindicatos e dos partidos ditos de esquerda que
evidenciaram algum folclore para a fotografia de uma contestação que pretendiam fosse
efetivamente controlada para se manter num plano baixo… até à extinção; uma situação que
acompanhámos1. A nível institucional, o PS arredado do poder, aceitou um governo
PSD/CDS colocando como líder do partido uma figura de transição (A. J. Seguro) até que
surgisse uma maioria eleitoral liderada por António Costa, com o apoio da “esquerda”
parlamentar.

Quanto ao sucedido no período mais recente (2015/20) – e apesar de o quinquénio anterior


não ter sido uma maravilha, abundam os casos de mais modestos aumentos de rendimento,
comparativamente a 2010/15. O contrário, com acréscimos percentuais de rendimentos mais
interessantes, colocam-se essencialmente os países situados a Leste, com entrada mais
recente na UE; no restante território o caso de aumento mais interessante, é o caso
português, com uns imensos 2.5%. As reduções de rendimentos, ainda que pouco
significativas, mostram-se em França e Itália e, com um volume mais acentuado, no Reino
Unido.

1
https://www.slideshare.net/durgarrai/os-desafios-actuais-e-as-insuficincias-esquerda
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/pensara-esquerda-sem-vacas-sagradas.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/amiseria-da-esquerda-que-anda-por-ai.html
http://www.slideshare.net/durgarrai/com-a-gerao-rasca
http://www.slideshare.net/durgarrai/sobre-a-ideia-enganadora-da-auditoria-dvida
http://www.slideshare.net/durgarrai/grcia-e-portugal-razes-para-os-gregos-terem-pouca-considerao-pela-reao-dos-
portugueses-ao-aperto-da-troika
http://www.slideshare.net/durgarrai/esta-esquerda-a-tranquilidade-da-direita
http://www.slideshare.net/durgarrai/para-um-novo-paradigma-poltico-a-re-criao-da-democracia
http://www.slideshare.net/durgarrai/sobre-a-democracia-a-democracia-e-a-sua-usurpao-1a-parte

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2 – O papel da inflação na redistribuição dos rendimentos

Procedemos em seguida a uma comparação entre a variação do rendimento líquido anual


para o agregado familiar escolhido e, a inflação registada. A pressão sobre salários,
rendimentos do trabalho, em regra, evidencia-se sob duas formas; uma, é a redução do
montante do salário líquido de impostos (por acréscimos da carga fiscal) e, outra,
corresponde à delapidação do rendimento através da inflação. Assim, há situações em que o
acréscimo de rendimento supera a perda inerente à inflação dos preços e, casos em que a
inflação supera e absorve os aumentos do rendimento obtido através do trabalho.

O gráfico acima apresenta as variações do rendimento anual; o quadro abaixo reproduz as


taxas médias de inflação para cada quinquénio.

Se a taxa de inflação se situa aquém do crescimento das remunerações dir-se-á que aumenta
o poder de compra dos trabalhadores… se a gula tributária dos governos não absorver essa
diferença. Inversamente, a taxa de inflação pode superar os aumentos nas remunerações
mesmo que estas não sofram aumentos na carga tributária, como contributo adicional para
uma redistribuição dos rendimentos em desfavor do trabalho.

No quadro que se segue ressaltam a vermelho os períodos em que a taxa de inflação foi
superior ao acréscimo de rendimento do grupo socio-económico que escolhemos. Assim, no
primeiro caso que surge no quadro (Alemanha) a taxa anual média de inflação em 2005/10
foi de 1.7% enquanto no mesmo período, os rendimentos do estrato social adoptado se
situaram em 1.3%, como média anual. No caso de Portugal, no quinquénio 2010/15, o
rendimento de uma família do estrato social considerado cresceu, anualmente uns 0.5%
enquanto a taxa de inflação média foi de 1.4 %; viveu-se, nesse período, um tempo em que a
troika (FMI/BCE/Comissão Europeia) manipulou o submisso governo (PSD/CDS) no sentido
da austeridade, da venda de bens públicos, como os indicadores enunciados evidenciam…;
em paralelo, os outros partidos esperavam a passagem do tempo para prosseguir a política
económica e social ditada pela troika ao governo anterior.

Note-se que a maioria dos casos em que a inflação se superiorizou à evolução dos
rendimentos foi constituída por países de maior pujança económica e financeira; os de
menor foram poucos; além de Portugal, como referido, essa situação observou-se na Grécia,
na Hungria e na República Checa. Por outro lado, países como a Bélgica, a Finlândia e a
França utilizaram a taxa de inflação como elemento de perda real de rendimentos durante
dez anos (2010/2020); o mesmo aconteceu com a Grécia e a Hungria, mais pobres do que os
citados mas, para 2005/2020; finalmente, no Reino Unido, a mesma política de combinação
de uma taxa de inflação superior à dos rendimentos do trabalho, foi aplicada em dois
períodos separados (2005/2010 e 2015/2020).

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Inflação anual média (%)
2005/10 2010/15 2015/20 2005/10 2010/15 2015/20
UE - 28 2,3 1,7 1,1 Italie 2,1 1,6 0,5
Allemagne 1,7 1,5 1,1 Lettonie 6,8 1,0 1,4
Autriche 1,9 2,1 1,5 Lituanie 4,8 1,5 1,6
Belgique 2,2 1,8 1,4 Luxembourg 2,7 2,0 1,0
Bulgarie 6,4 1,1 0,9 Malte 2,4 1,8 1,2
Chypre 2,3 1,3 -0,3 Pays-Bas 1,5 1,6 1,2
Croatie 3,0 1,5 0,5 Pologne 2,8 1,7 1,3
Danemark 2,0 1,4 0,5 Portugal 1,8 1,4 0,7
Espagne 2,6 1,4 0,6 Roumanie 6,7 3,3 1,7
Estonie 4,8 2,6 1,6 Royaum-Uni 2,6 2,5 1,5
Finlande 1,8 1,9 0,6 Slovaquie 2,4 1,6 1,3
France 1,7 1,3 0,9 Slovénie 2,9 1,4 0,7
Grèce 3,3 0,9 0,0 Suède 1,9 0,9 1,4
Hongrie 5,0 2,7 2,1 Tchéquie 2,5 1,5 1,9
Irlande 1,3 0,4 0,2

Este e outros documentos, aqui:

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http://www.slideshare.net/durgarrai/documents

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