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Apresentação da unidade 3 -

Cotidiano escolar, gestão, escola


e comunidade
Luciane Teixeira da Silva

Olá, caro estudante!

Nesta unidade, compreenderemos melhor sobre o cotidiano escolar, a gestão da escola e a comunidade. Este
tripé tem como objetivo refletir sobre os limites e as possibilidades das políticas educacionais vigentes. Diante
do atual contexto de desvalorização e precarização da educação, compreenderemos os impactos das políticas
educacionais no cotidiano escolar e na identidade dos atores escolares. Vamos entender e discutir sobre o
cotidiano escolar, identificando como a legislação educacional ajuda a resolver os problemas enfrentados pela
escola. Além disso, conheceremos os limites e, principalmente, as possibilidades da instituição escolar, da
educação e de seus profissionais.

Ao longo desta unidade também compreenderemos as principais políticas públicas educacionais em vigência que
orientam os princípios e as práticas educativas. Vamos nos aprofundar sobre a gestão democrática e
participativa, bem como identificá-la enquanto uma ferramenta importante para a promoção da educação de
qualidade, considerando, ainda, a importância da comunidade e da família como elementos preciosos no
processo.

Por fim, esta unidade irá nos ajudar na identificação de problemas encontrados no dia a dia das escolas e nas
formulações de suas soluções. A escola é o espaço de trabalho primordial do pedagogo, por isso, é importante
compreender o seu funcionamento e ter capacidade de atuar sobre ele.

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Avanços tecnológicos do ser
humano moderno
Luciane Teixeira da Silva

Introdução
Caro estudante, nesta unidade, veremos um panorama sobre os impactos e as perspectivas da Terceira
Revolução Tecnológica, fazendo uma retrospectiva pela primeira e pela segunda Revolução Industrial.
Abordaremos sobre o papel da escola frente a uma sociedade altamente informatizada. Além disso,
destacaremos como o ensino foi sendo afetado pelas novas tecnologias e como é possível trabalhar uma
educação de qualidade diante deste cenário. Acompanhe!

Revoluções tecnológicas e novas exigências ao


ser humano moderno
Desde as últimas décadas do século XX, o mundo vive aquilo que denominamos como “terceira Revolução
Industrial” ou “terceira Revolução Tecnológica”. Trata-se de um processo complexo e integrado de caráter
internacional que diz respeito às mudanças nas formas de se produzir os bens e serviços necessários para a
existência humana. Este processo é decorrente do avanço de diferentes disciplinas científicas, que têm impacto
para toda a sociedade, inclusive no que tange as formas de ensinar e aprender (ANTÓNIO, 2010).

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Figura 1 - O mundo em conexão
Fonte: CarpathianPrince, Shutterstock, 2018.

A primeira Revolução Tecnológica ocorreu no século XVIII, caracterizada pelo incremento das máquinas a vapor
e seu uso na produção têxtil e nos meios de transporte de massa, como trens e navios. Essa nova tecnologia
acelerou os processos produtivos e comprimiu a ideia anterior de tempo e espaço, integrando econômica e
culturalmente países e regiões que, antes, tinham pouquíssimas possibilidades de comunicação (ANTÓNIO,
2010).

Esse processo promoveu alterações profundas e irreversíveis sobre o mercado de bens e produtos, o quadro de
profissões, as formas de viver, o tempo livre, também requerendo alterações nas formas de organização do
ensino, sendo determinante para a constituição dos sistemas nacionais de educação (ANTÓNIO, 2010). Nesse
contexto, muitas escolas politécnicas começaram a surgir, principalmente na França e na Inglaterra, por conta da
expansão das fábricas. Assim, houve a necessidade de que a educação estivesse voltada para a formação de
técnicos e trabalhadores para o mercado (ANTÓNIO, 2010).

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EXEMPLO
Um exemplo, no contexto tecnológico, é o papel diferenciado dos sistemas educacionais com
relação à qualificação profissional e às diferentes formas de organização do ensino.
Atualmente, há maior flexibilidade na oferta de cursos educacionais. Temos, por exemplo, as
disciplinas à distância ou semipresenciais, em que o aluno pode acompanhar o conteúdo on-
line por plataformas educacionais. Essa flexibilização é necessária tendo em vista que muitas
pessoas precisam se qualificar, mas possuem pouco tempo, pois já estão trabalhando.

A segunda Revolução Tecnológica, por sua vez, ocorrida no século XIV, é identificada com o advento da energia
elétrica na produção de bens e serviços, que promoveu nova aceleração dos processos produtivos e maior
compressão da ideia de tempo e espaço. Neste contexto, há o desenvolvimento das indústrias de base, como as
químicas, as petrolíferas e as de aço (ANTÓNIO, 2010).

O movimento estava acompanhado da racionalização científica da produção e da vida, o que repercutiu


profundamente no social. As expectativas sobre o perfil do Homem moderno foram alteradas, exigindo novas
adaptações dos sistemas de ensino, visando à formação desse novo sujeito (ANTÓNIO, 2010).

Em tempos de Guerra Fria, desenvolveram-se duas correntes pedagógicas principais: uma de origem liberal e
pragmática, que buscava adaptar os homens à nova realidade; e outra de orientação socialista, que defendia a
subordinação da formação aos interesses humanistas. No Brasil, algumas tendências pedagógicas surgiram
decorrentes dessas duas correntes pedagógicas: as liberais, como escolanovistas e tecnicistas; e as críticas, como
as pedagogias libertadora, libertária e histórico-crítica (MANACORDA, 2006).

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Figura 2 - Informações em alta velocidade
Fonte: Stuart Miles, Shutterstock, 2018.

A terceira Revolução Tecnológica, que se iniciou no século XX, é caracterizada, principalmente, pelo incremento
da microeletrônica na produção e na vida social e pelo desenvolvimento de novas fontes de energia e de
matérias-primas, com potencial de uso ilimitado pelas indústrias de bens e serviços. A terceira Revolução
Tecnológica se concretiza na renovação física e organizacional da produção, evidenciando uma transição entre a
passagem da sociedade industrializada para a sociedade informatizada, que se espelha na experiência produtiva
japonesa.

Essas fases são chamadas de revoluções porque modificaram radicalmente os processos de produção e
existência da humanidade, impactando todas as esferas da vida social, como na economia, na cultura, na filosofia
e, em particular, na educação, que passou a receber demandas diferentes das que antes recebia (ANTÓNIO,
2010).

Historicamente, a escola sempre precisou acompanhar e dar respostas para as novas demandas da sociedade,
por isso, atualmente, o modelo escolar é resultado da globalização e do desenvolvimento das tecnologias
(ANTÓNIO, 2010).

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FIQUE ATENTO
As novas formas de produção da existência humana são inevitáveis, constituindo um novo
modelo de competição internacional, baseado na incorporação e na difusão das novas
tecnologias.

As inovações tecnológicas modificaram as relações de trabalho. Podemos destacar como exemplo a redução do
número de trabalhadores por unidade de produção, a contenção de abertura de novos postos de trabalho e a
possibilidade do trabalho fora da empresa, principalmente para o pessoal mais qualificado. O mercado de
trabalho passou a exigir trabalhadores mais flexíveis, resultando na redução, na divisão e na fragmentação do
trabalho (ANTÓNIO, 2010).

Assim, a flexibilização com base na automação e na microeletrônica exige um novo perfil de qualificação da força
de trabalho, como a posse de escolaridade básica, a capacidade de adaptação à permanente introdução de novas
tecnologias e a compreensão global sobre um conjunto de tarefas e funções conexas. Tudo isto demanda a
capacidade de abstração, seleção, trato e interpretação de informações.

O papel da escola diante das transformações


No contexto tecnológico, os sistemas educacionais passam a exercer um papel diferenciado, pois, com a
modernização tecnológica, começou-se a ser exigida maior qualificação dos trabalhadores. Entretanto, não se
pode considerar que a escola seja responsável pela modernização dos sistemas produtivos, mas, sim, ao
contrário: as escolas precisam de investimentos capazes de deixá-las em condições de promover uma educação
geral, única, integrada, flexível e crítica (ANTÓNIO, 2010).

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Figura 3 - As transformações do mundo conectado
Fonte: Nopporn, Shutterstock, 2018.

A terceira Revolução Industrial impôs alterações na função e nas formas de organização dos sistemas escolares.
Deste modo, emerge a chamada Pedagogia das Competências, que procura redefinir a função da escola como a
responsável pelo desenvolvimento das competências humanas. Assim, as competências assumem a centralidade
na organização escolar e nas formações dos trabalhadores. Nesta perspectiva, o importante é formar pessoas que
saibam resolver problemas, não que dominem conhecimentos.

FIQUE ATENTO
As relações tecnológicas modificaram o modo de funcionamento de vários setores da
sociedade, não sendo restritas à educação. Estas mudanças são as novas formas de relação, na
qual a escola precisa se adaptar.

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A Pedagogia das Competências sofreu algumas críticas, pois promove capacidades voláteis, com tempo de
validade, deixando os indivíduos sem o domínio de saberes de base, ficando, assim, à mercê de permanente
atualização (FERRETTI et al., 2002).

Figura 4 - Educação conectada


Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.

Outro ponto importante é que não cabe apenas à escola preparar pessoas funcionais, que se adequem às
empresas produtoras de bens e serviços. O papel da escola é formar pessoas capazes de produzir, viver em
sociedade, pensar e decidir, autonomamente, sobre os rumos de sua vida e de sua comunidade.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Globalização e espaço geográfico,
do autor Estáquio de Sene. Editora Contexto. Ano: 2012. Disponível em: <https://bv4.
digitalpages.com.br/?term=Globaliza%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520e%2520espa%
25C3%25A7o%2520geogr%25C3%25A1fico&searchpage=1&filtro=todos&from=busca#
/edicao/3441>.

As revoluções tecnológicas ocorridas são globais, configurando um processo de integração econômica, cultural,
política e social entre diversos países, iniciado na década de 1980, marcando o final do século XX. Este fenômeno
redimensionou não apenas as relações internacionais, mas trouxe importantes transformações nas políticas
internas das nações, principalmente nas menos desenvolvidas, impactando a educação (ANTÓNIO, 2010).

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Fechamento
Neste tema, identificamos algumas transformações provocadas pelas revoluções tecnológicas e pela
globalização, verificando os seus impactos e quais as perspectivas para a área da educação. Além disso,
abordamos sobre as três fases da Revolução Tecnológica e como a instituição escolar foi e vem sendo afetada por
essas transformações. Por fim, ampliamos nosso conhecimento sobre papel da escola diante desse cenário.

Referências
ANTÓNIO, T. Educação, globalização e neoliberalismo: os novos modos de regulação transnacional das políticas
de educação. Revista Lusófona de Educação, Lisboa, n. 16, p. 155-156, 2010. Disponível em: <http://www.
scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-72502010000200013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 23
/11/18.

FERRETTI, C. J. et al. Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis: Vozes,
2002.

MANACORDA, M. A. História da educação: da Antiguidade aos nossos dias. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

SENE, E. Globalização e espaço geográfico. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2012. Disponível em: <https://bv4.
digitalpages.com.br/?term=Globaliza%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520e%2520espa%25C3%25A7o%
2520geogr%25C3%25A1fico&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=5&section=0#/edicao/3441>.
Acesso em: 17/01/2019.

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Tecnologia na escola
Luciane Teixeira da Silva

Introdução
Caro estudante, neste tópico, conheceremos e avaliaremos os impactos da Revolução Tecnológica na escola,
verificando as consequências da globalização e do neoliberalismo neste espaço. Estudaremos sobre as
Tecnologias da Informação e Comunicação, compreendendo como elas têm provocado uma mudança na
educação e na reorganização das práticas escolares, desde a estrutura até o papel do professor. Além disso,
abordaremos os avanços do neoliberalismo e suas consequências nocivas e positivas. Acompanhe!

Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)


e a escola
A palavra “tecnologia”, geralmente, está relacionada aos instrumentos modernos, como computadores e
aparelhos eletrônicos, no entanto, a definição de tecnologia envolve conhecimento técnico e científico. A
aplicação destes se transforma em práticas ou ferramentas. Por isso, o papel pode ser considerado uma
tecnologia, assim como a escrita, tendo em vista que representam a aplicação de um conhecimento e sua
transformação.

Na história, o surgimento da escrita foi revolucionário para a humanidade, pois, a partir dela, começaram os
registos dos fatos, criando uma nova capacidade humana, que gerou novos instrumentos. Portanto, quando
falamos em tecnologia, estamos nos referindo a um conjunto de conhecimentos, instrumentos, técnicas e
métodos, resultantes de saberes científicos ou práticos, aplicados em situações de trabalho ou não, com a
finalidade de facilitar as tarefas humanas.

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Figura 1 - O uso de TIC na educação
Fonte: Sergey Nivens, Shutterstock, 2018.

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) podem ser identificadas como soluções desenvolvidas pela
sociedade, para melhorar os processos de comunicação humana. Estas tecnologias, normalmente, referem-se a
um conjunto de recursos tecnológicos integrados entre si, que proporcionam, por meio das funções de hardware,
software e telecomunicações, a automação e a comunicação dos processos de negócios, da pesquisa científica e
do ensino-aprendizagem (LÉVY, 1999).

São exemplos de TIC os computadores pessoais, os smartphones, os diversos suportes para guardar e portar
dados — como CDs, DVDs, discos rígidos ou HDs, cartões de memória, pendrives e zipdrives —, a Internet, o e-
mail, os websites e as homepages, que ganham centralidade na vida contemporânea.

Práticas tecnológicas no contexto escolar


Com a globalização, os meios de comunicação trouxeram grandes mudanças aos processos educacionais e às
competências exigidas pelo mercado de trabalho. A Internet promoveu novas linguagens, habilidades e formas
de compreender as coisas, gerando interações intencionais e relações simultâneas.

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Figura 2 - Comunicação e as tecnologias
Fonte: Peshkova, Shutterstock, 2018.

As novas tecnologias precisam ser usadas com o intuito de que os alunos interajam e construam novos saberes,
mas nem sempre isto acontece. Muitas vezes, as práticas mais conservadoras de educação são as que vigoram. O
professor tenta, ainda, transmitir a mensagem de modo não interativo com os interlocutores. Para que a
aquisição e a construção de conhecimentos ocorram, é imprescindível a interação, ou seja, não basta, apenas, que
o emissor transmita a mensagem e o receptor escute.

As novas mídias permitem que o aluno adquira conhecimento, internalize a informação e a transforme em uma
significação efetiva. Assim, ele constrói novos significados, produzindo, também, conhecimentos. Deste modo, a
eficiência dos processos de comunicação e de acesso às informações depende, primeiramente, do acesso às
novas tecnologias. Neste contexto, as TIC são cada vez mais importantes para a realização de tarefas simples ou
complexas.

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FIQUE ATENTO
As novas Tecnologias da Informação e Comunicação são ferramentas que trazem muitas
possibilidades e desafios, por isso, é necessário saber como trabalhar com elas em sala de aula.

Nesse cenário, o que se coloca como problema social é a chamada exclusão digital. A exclusão digital é uma
realidade perceptível no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011),
65% dos brasileiros com mais de 10 anos de idade não acessam a Internet. Os motivos são a falta de
conhecimento de como manusear os aparatos tecnológicos e o difícil acesso aos computadores.

O uso de novas tecnologias na educação implica “[...] no rompimento de padrões de organização e de


funcionamento da vida social, bem como dos modelos de representação dessa realidade” (PRETTO, 2006, p. 7).
Para isso, é necessário um redimensionamento dos currículos escolares, que precisa funcionar um hipertexto,
capaz de promover a integração entre a razão, a emoção e a produção coletiva de conhecimentos. Isso precisa
ocorrer por meio de ações interativas entre sujeitos escolares, ou seja, alunos, professores e a comunidade
(PRETTO, 2006).

EXEMPLO
Atualmente, um exemplo de mudança provocada pela inserção das Tecnologias da Informação
e Comunicação na educação é o professor que, em seu trabalho em sala de aula, utiliza as TIC
para aproximar os alunos do conhecimento, de que forma que agregue um saber, não só de
forma utilitarista.

O uso das TIC deve ser intensificado nas práticas docentes, em especial no que diz respeito ao desenvolvimento
da educação à distância, como no caso do Ensino Superior. Conforme Pretto (2006, p. 10) nos explica, o uso de
tecnologias “[...] pode contribuir para a criação de uma massa crítica de alunos e professores que possam atuar
de forma plena no mundo contemporâneo, construindo-o de forma coletiva e com intensa participação de todos”.

No contexto das novas tecnologias, o papel ativo do professor nos processos de ensino-aprendizagem é
fundamental. Por isso, é necessário investir na formação dos professores no que diz respeito ao uso dos recursos
tecnológicos.

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FIQUE ATENTO
O simples acesso às tecnologias não garante o uso adequado dos equipamentos. É preciso levar
em consideração a formação do professor que irá ministrar as aulas, de modo que ele tenha
conhecimento para utilizar essas novas tecnologias.

O grande desafio em utilizar as TIC, no contexto escolar, não está apenas na falta de estrutura ou na
disponibilidade de recursos tecnológicos. A formação de professores é um ponto importante no processo. O
educador precisa saber como incorporar tais ferramentas na sala de aula. Além disso, se ele não estiver
preparado frente às inovações, de nada adianta a escola ter espaço e equipamentos.

Neoliberalismo e avanços tecnológicos


Em se tratando das tecnologias aplicadas à educação, o que temos visto é que há políticas públicas estabelecidas,
contudo, elas não têm sido suficientes para garantir o uso amplo e adequado no campo educacional. Isso ocorre
devido ao neoliberalismo, que defende a ideia de que a felicidade comum depende da livre busca de cada
indivíduo pela própria felicidade (LÉVY, 1999).

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Figura 3 - Gestão dos interesses internacionais
Fonte: OneO2, Shutterstock, 2018.

A perspectiva neoliberal tem origem em uma das correntes do neoliberalismo, que retoma os princípios do
liberalismo clássico e conservador, nascido como ideologia do capitalismo europeu a partir do século XVII. Essa
vertente ideológica prioriza a ideia de Estado mínimo e a ampliação da liberdade econômica com a regulação da
economia pelo próprio mercado. Esse movimento trouxe novas exigências e demandas para a educação,
retomando as ideias do liberalismo, evidenciando um discurso de que a escola pública fracassou em função da
incapacidade administrativa e financeira do Estado (LIBÂNEO, 2005).

O liberalismo, portanto, implica na defesa radical do indivíduo e parte da ideia de que, em vez da planificação
estatal, as sociedades complexas modernas não teriam como ser previamente planejadas.

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SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Tecnologias na educação:
conceitos e práticas, dos autores Luana Priscila Wunsch e Alvaro Martins Fernandes Junior.
Editora InterSaberes. Ano: 2018. Disponível em: <https://bv4.digitalpages.com.br/?
term=Tecnologias%2520na%2520educa%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520conceitos%
2520e%2520pr%25C3%
25A1ticas&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=5&section=0#/edicao/158947>.

A estruturação de políticas públicas educacionais, a partir dos ideais neoliberais, é um movimento globalizado.
Os protagonistas desta bandeira são o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco), o Fundo Monetário Internacional, entre outros.

É importante destacar o papel dos organismos internacionais ou multilaterais e seus impactos na educação, pois
eles se articulam em torno de uma política globalizada para a educação. Esses órgãos fazem ações coordenadas
com o intuito de homogeneizar o processo educativo, que ocorre por meio da redefinição das funções escolares,
da proposição da reorganização dos sistemas de ensino e do estabelecimento de metas a serem alcançadas por
diversos países do mundo.

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Figura 4 - Nova organização da educação
Fonte: Szasz-Fabian Jozsef, Shutterstock, 2018.

No modelo neoliberal, com o advento da globalização e da revolução tecnológica, as relações entre o capital, o
trabalho e a educação são modificadas de forma significativa. Isto introduz um novo modelo de relação entre o
capital e o trabalho. Segundo Libâneo (2005, p. 40), a escola deve oferecer uma “[...] formação cultural e
científica, que possibilite o contato dos alunos com a cultura, aquela cultura provida pela ciência, pela técnica,
pela linguagem, pela estética, pela ética”.

Esses pontos visam desenvolver habilidades cognitivas e sociais necessárias à adaptação do novo paradigma
produtivo, assim como formar o consumidor para o mercado competitivo.

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Fechamento
Neste tópico, discutimos a revolução tecnológica, as TIC e a ideologia neoliberal. Compreendemos como este
tripé impacta a educação e altera organização do trabalho pedagógico. Além disso, vimos como é importante o
domínio das novas tecnologias por parte dos educadores, pois influencia, diretamente, na sala de aula. Também
entendemos que não é possível frear a globalização ou o avanço do capitalismo, mas é viável lidar com estes
problemas, identificando os pontos negativos e positivos, principalmente no que se refere ao avanço tecnológico
no âmbito educacional.

Referências
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Características da população e dos domicílios: resultados
do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.

LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática 5. ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2005.

PRETTO, N. de L. Políticas públicas educacionais no mundo contemporâneo. Liinc em Revista, v. 02, 2006.
Disponível em: <http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3097>. Acesso em 23/11/2018.

WUNSCH, L. P.; FERNANDES JUNIOR, A. M. Tecnologias na educação: conceitos e práticas. Curitiba:


InterSaberes, 2018. (Série Tecnologias Educacionais). Disponível em: <https://bv4.digitalpages.com.br/?
term=Tecnologias%2520na%2520educa%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520conceitos%2520e%2520pr%
25C3%25A1ticas&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=5&section=0#/edicao/158947>. Acesso em:
17/01/2019.

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Desafios e diretrizes da
educação
Luciane Teixeira da Silva

Introdução
Caro estudante, nesta unidade, abordaremos a função social da escola, entendendo como este processo não é
estático e está em constante sintonia com os fenômenos da sociedade. Estudaremos os desafios contemporâneos
da escola, destacando os limites e, principalmente, as possibilidades. Também entenderemos como os avanços
tecnológicos abrem uma nova perspectiva para o ensino. Acompanhe!

A escola diante dos desafios contemporâneos


Na contemporaneidade, para estudarmos sobre a função social da escola, é preciso entender como a educação
brasileira está organizada e quais funções são estabelecidas pela legislação educacional vigente.

Desde os anos de 1990, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
regulamentada pela Lei n. 9394/96, a educação brasileira está organizada em dois níveis: Educação Básica e
Educação Superior. A Educação Básica é composta das seguintes etapas: Educação Infantil, Ensino Fundamental
e Ensino Médio, em suas diversas modalidades, como Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Educação
Profissional. Já a Educação Superior está organizada no ensino de Graduação e Pós-Graduação.

O artigo 205 da Constituição Federal estabelece a educação como um direito, indicando algumas funções da
escola e da educação:

A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece, em seu artigo 1, que “[...] a educação
abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais” (BRASIL, 1996).

Além disso, de acordo com o artigo 2, temos que:

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A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Sobre os
Princípios e Fins da Educação Nacional, “Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana” tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho. (BRASIL, 1996, grifo da autora).

Tanto para a Constituição Federal quanto para a LDB a escola deve estar vinculada ao mundo do trabalho e à
prática social, ou seja, é necessário preparar o aluno para o exercício da cidadania e para o trabalho (LIPPE,
2015).

O mundo do trabalho não se reduz apenas ao emprego, sendo que diz respeito às forças produtivas. Logo, a
escola não pode ter uma prática distanciada dessa realidade. Neste sentido, o ambiente escolar precisa preparar
os alunos para uma vida em sociedade, transformando-os em sujeitos produtivos e cidadãos consciente de suas
funções, seus direitos e seus deveres (LIPPE, 2015).

Figura 1 - Função do professor: ensinar


Fonte: Shutterstock, 2018.

A escola é o elemento central para a constituição da sociedade. Assim, todo ser humano que vive nesse contexto
está vinculado a certas práticas sociais, que podem ser culturais, religiosas ou familiares.

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EXEMPLO
Uma educação voltada para o futuro é um exemplo de prática educativa, no qual o papel
desempenhado pela escola e pelos seus agentes é praticado para despertar nos estudantes
uma capacidade de pensar sobre as suas perspectivas futuras e sobre os problemas atuais. Isto
é, uma forma de vincular o papel da escola, ensinar e transmitir conhecimentos, com a
realidade dos alunos e com seus planos futuros.

Por isso, a legislação no contexto escolar é como um projeto, pois os direitos e deveres da escola são
estabelecidos em lei e devem ser cumpridos para que os resultados sejam colhidos no futuro. Por isso, a escola,
enquanto prática social, deve se voltar para a formação do sujeito, contemplando o desenvolvimento do seu
potencial, como dirigente em suas decisões pessoais e de sua participação como sujeito na sociedade (SAVIANNI,
2008).

O papel da escola em meio aos avanços


tecnológicos
As intensas transformações, provocadas pela globalização e pelo avanço das tecnologias, fazem com que o papel
da escola seja repensado. A escola, enquanto instituição, está presente em nossa sociedade desde o berço da
civilização ocidental moderna, datada na Grécia, século V a.C., por isso, é tão presente e tradicional em nossas
vidas (MANACORDA, 2006).

A palavra “educação” tem um sentido amplo, podendo se referir às maneiras e aos modos de comportamento,
como pessoa bem-educada ou mal-educada; ao tratamento dispensado às pessoas, como os cumprimentos e as
formas de tratamento; a forma que nos referimos a nossa bagagem cultural; ou, ainda, à forma como um governo
cuida do povo, com os investimentos realizados pelos órgãos responsáveis pela educação de um país.

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Figura 2 - Alunos e professores precisam estar envolvidos
Fonte: Shutterstock, 2018.

A educação está presente em diversos lugares, como na família, na igreja ou nos grupos de amigos. Nestes
espaços, há muitos valores e conhecimentos em circulação, no entanto, a palavra “educação”, genuinamente, está
relacionada a um espaço particular, que é a escola. Ainda que o aprendizado seja possível em outros lugares, a
escola é o lugar legitimado para a função (BRANDÃO, 1981).

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre a função da escola no mundo contemporâneo, leia o livro A educação
pode mudar a sociedade, do autor Michael W. Apple. Editora Vozes. Ano: 2017. Disponível em:
<https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=578947>.

A história da educação brasileira revela que, quando o acesso à educação era para poucos, possuía mais
qualidade. No momento em que houve a ampliação do número de escolas e matriculas, o nível do ensino sofreu
uma queda (BITTAR, 2012). O motivo desta queda ocorreu devido à educação brasileira nunca ser pensada como

um projeto duradouro, ou seja, as propostas educacionais buscam soluções à curto prazo e não revelam em seu

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um projeto duradouro, ou seja, as propostas educacionais buscam soluções à curto prazo e não revelam em seu
interior uma conexão com projetos futuros. Um exemplo é o problema do analfabetismo, que vem sendo
discutido desde 1930, mas que até hoje não foi resolvido, tendo em vista que há 11,5 milhões de analfabetos no
Brasil (BITTAR, 2012).

Figura 3 - O papel do professor


Fonte: Michaeljung, Shutterstock, 2018.

A escola tem papel de destaque na sociedade, pois é o órgão capaz de fazer as pessoas desenvolverem um
espírito crítico e reflexivo perante às inúmeras informações recebidas ao longo da vida. Assim, a função social da
escola consiste em orientar e provocar a organização racional das informações recebidas, muitas vezes, de forma
fragmentada, favorecendo o pensamento crítico. É por meio dela que a desigualdade social, tão marcante na
sociedade brasileira, pode ser diminuída.

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FIQUE ATENTO
A função da escola é promover o conhecimento e a compreensão de mundo, por isso, o espaço
escolar é um lugar privilegiado para a aquisição de saberes.

Segundo Saviani (2008), a escola apenas reproduz o status quo que o autor classifica como: pedagogias crítico
reprodutivistas. Este termo se refere àquelas pedagogias que reconhecem que a desigualdade social existe e que
enxergam os problemas sociais, mas que, em suas ações, não se preocupam em mudar essa condição. Por isso, a
nomenclatura “crítico e reprodutivista”, pois compreendem os problemas, mas não realizam mudanças
efetivamente. De acordo com Saviani (2008), as pedagogias crítico produtivistas são classificadas em:

• teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica;


• teoria da escola enquanto Aparelho ideológico de Estado (AIE);
• teoria da escola dualista.

A teoria do sistema enquanto violência simbólica foi elaborada por Pierre Bourdieu (1930-2002), sociólogo
francês que, ao analisar o sistema de escola secundário na França, percebeu como o sistema vigente produz uma
violência simbólica quando não proporciona opções escolares aos alunos pobres do país (SAVIANNI, 2008).

A teoria do Aparelho Ideológico do Estado (AIE), por sua vez, foi desenvolvida pelo filósofo francês Louis
Althusser (1918-1990). Nesta teoria, a escola é vista como um aparelho que reproduz todas as desigualdades e
os problemas da sociedade, perpetuando tais condições (SAVIANNI, 2008).

Por fim, a teoria dualista defende que os sistemas escolares são organizados de forma dual: uma via para a
formação de líderes, dirigentes provenientes das classes abastadas da sociedade; e outra para os dirigidos, os
mais pobres (SAVIANNI, 2008).

-6-
Figura 4 - Os alunos são aliados da escola
Fonte: Shutterstock, 2018.

Essas teorias organizadas por Savianni (2008) nos ajudam a compreender como a função social da escola é
compreendida em vários contextos. Isto evidencia que a escola, por vezes, reproduz o status vigente da
sociedade, ou seja, o status quo.

FIQUE ATENTO
As teorias propostas por Savianni (2018) nos auxiliam a compreender e aprofundar o
conhecimento sobre a função social da escola. Se temos uma sociedade desigual e excludente, a
escola, enquanto espaço social, deve procurar reproduzir ou superar essa condição.

A instituição escolar é um espaço de possibilidades de mudanças sociais, não um espaço redentor de todos os
problemas ou reprodutor das desigualdades. Nesta perspectiva, a função da escola se torna limitadora. É preciso
reconhecer os desafios e superá-los.

-7-
Fechamento
Nesta unidade, estudamos sobre a função social da escola e o seu papel diante dos avanços tecnológicos.
Compreendemos como essa função é aperfeiçoada devido à complexidade das sociedades modernas. O avanço
tecnológico é uma das características mais marcantes da atualidade, por isso, aprender a trabalhar com ele e
refletir sobre o seu impacto na educação é fundamental para o desempenho dos profissionais da área.

Referências
APPLE, M. W. A educação pode mudar a sociedade. Petrópolis: Editora Vozes, 2017. Disponível em: <
https://bv4.digitalpages.com.br/?term=A%2520educa%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520pode%
2520mudar%2520a%2520sociedade&searchpage=1&filtro=todos&from=busca#/edicao/epub/160267>.
Acesso em: 17/01/2019.

BITTAR, M. História da Educação no Brasil: a escola pública no processo de democratização da sociedade. Acta
Scientiarum, Education Maringá, v. 34, n. 2, p. 157-168, jul./dez. 2012.

BRANDÃO, C. O que é educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

LIPPE, E. M. O. (Org.). Estrutura e funcionamento do ensino fundamental e médio. São Paulo: Pearson, 2015.

MANACORDA, M. A. História da educação: da Antiguidade aos nossos dias. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2008.

-8-
Projeto Político-Pedagógico e a
função social da escola
Luciane Teixeira da Silva

Introdução
Caro estudante, nesta unidade, vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre a função social da escola,
identificando alguns elementos e ferramentas existentes no cotidiano escolar. Estudaremos o Projeto Político-
Pedagógico (PPP), enfatizando a relação entre teoria e prática. Compreenderemos as funções e estruturas do
PPP, ressaltando o papel dos atores envolvidos. Por fim, discutiremos sobre a relação contemporânea entre
escola, sociedade e família. Acompanhe!

Projeto Político-Pedagógico e atores


responsáveis pela garantia da educação de
qualidade
Uma das melhores formas para alcançar um ensino de qualidade nas escolas é mediante a construção e
implementação do Projeto Político-Pedagógico (PPP). Este documento favorece o cumprimento da função social
da escola, pois um PPP autônomo e democrático, construído coletivamente, reflete a identidade de cada
instituição escolar.

A natureza desse projeto é transformadora no processo de elaboração e, depois, de implantação. Vejamos este
ciclo na figura a seguir.

-1-
Figura 1 - Produção de um projeto da escola
Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em PIMENTA, 1992.

O Projeto Político-Pedagógico coloca a organização da escola em movimento e conecta com a realidade de cada
instituição em particular. Este é um processo contínuo, pois os projetos pedagógicos não são engessados, ou seja,
estão em constante mudança. Por isso, é preciso estar atento a todos os processos transitórios, tendo em vista
que ocorrem de forma imediata ou no cotidiano. Desta forma, é essencial o papel do gestor escolar para exercer a
função.

FIQUE ATENTO
O Projeto Político-Pedagógico é um documento de identidade da escola. Nele estão contidas as
informações que irão diferenciar uma escola da outra. O projeto é constituído de pessoas e
precisa estar sempre em movimento, não significando que a identidade mudará, mas que ela
permanecerá em sintonia com os acontecimentos ao seu redor.

A escola socializa os conhecimentos historicamente construídos e sua função é fazer com que o saber seja
criticamente apropriado pelos alunos, aliando o saber científico ao conhecimento prévio de cada sujeito.

O imaginário da escola pública, muitas vezes, está voltado à ideia de que a educação das crianças pertencentes às

-2-
O imaginário da escola pública, muitas vezes, está voltado à ideia de que a educação das crianças pertencentes às
camadas populares cumpre apenas o papel de reprodutora das relações sociais, além de apoiar a manutenção do
status quo. Entretanto, a escola é justamente o lugar para que a realidade do sujeito possa ser transformada, por
isso, abre espaços para uma desconstrução do modelo social vigente.

Atualmente, há um entendimento generalizado que concebe a escola como um espaço redentor de todos os
problemas sociais. Esta é uma visão limitada e romântica que prega que o professor e a escola podem salvar um
país. É uma ideia que precisa ser superada, pois limita uma compreensão real da situação.

Nesse contexto, é preciso levar em consideração a escola enquanto parte integrante de uma sociedade que
possui múltiplas determinações: históricas, sociais, econômicas e internacionais, das quais ela ou seus sujeitos
têm controle.

Figura 2 - Escola: espaço de coletividade


Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.

A escola tem um papel decisivo enquanto elemento constitutivo de uma construção social. Assim, a consciência
sobre os limites e as potencialidades da escola é um passo importante para os educadores, pois permite uma
compreensão ampliada da sua função no momento atual.

Para Gentilli (1996), os novos desafios são colocados à escola frente ao contexto do neoliberalismo. Sendo assim,

[...] a educação escolar deve garantir as funções de classificação e hierarquização dos postulantes aos
futuros empregos (ou aos empregos do futuro). Para os neoliberais, nisso reside a ‘função social da

escola’. Semelhante ‘desafio’ só pode ter êxito num mercado educacional que seja, ele próprio, uma

-3-
escola’. Semelhante ‘desafio’ só pode ter êxito num mercado educacional que seja, ele próprio, uma
instância de seleção meritocracia, em suma, um espaço altamente competitivo. (GENTILLI, 1996, p.
114).

No cenário neoliberal, a função da escola é reduzida a uma prática de reprodução e manutenção do status quo.
Os professores e os alunos precisam se adequar às normas pré-estabelecidas pelo sistema dominante, por isso, a
escola está inserida no espaço de disputa, entre uma educação de qualidade e uma exigência econômica. Assim, o
trabalho da escola não é solucionar todos os problemas sociais, mas ser um agente transformador da realidade
(GENTILLI, 1996).

Nesse sentido, é importante que os professores, gestores e profissionais da educação estejam cientes do contexto
contemporâneo no qual a escola está inserida. Mais do que isso, é fundamental que os profissionais da educação
estejam preparados para superar essa condição e auxiliar o processo como profissionais qualificados.

O professor e a função da escola


A função social da escola é com a formação do cidadão, fortalecendo os valores de solidariedade, compromisso
com a transformação da sociedade. O professor e os profissionais da educação assumem sua responsabilidade no
cumprimento da função social da escola.

Figura 3 - Ensino com qualidade


Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.

Quando o professor assume a tarefa de ensinar, assume, também, a tarefa de refletir sobre a realidade presente

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Quando o professor assume a tarefa de ensinar, assume, também, a tarefa de refletir sobre a realidade presente
na sala de aula (GENTILLI, 1996).

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro O valor do professor, do autor
Gabriel Perissé. Editora Autêntica. Ano: 2011. Disponível em: <https://
biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=570769>.

O grande desafio do professor é estar em constante processo de discussão e reelaboração de suas ações,
buscando as transformações necessárias, adequando o currículo a partir do contexto social e histórico que a
escola está inserida. Por isso, o professor é um dos principais responsáveis pelo sucesso do ensino de qualidade.
Ele é o intermediador entre os objetivos propostos e os alunos.

Relação contemporânea entre escola, sociedade


e família
A escola que trabalha com uma perspectiva democrática cumpre seu papel social, pois constrói coletivamente a
tomada de decisões com relação as normas e os processos pedagógicos. Além disso, oferece condições para que
opiniões e culturas diferentes sejam contempladas. Assim, uma gestão democrática e participativa é tão
importante para o cumprimento da função social da escola.

-5-
Figura 4 - Escola: conhecimento e acolhida
Fonte: r Kzenon, Shutterstock, 2018.

A participação e a construção de uma educação que esteja alinha com a realidade não é apenas resultado de leis
ou currículos. É fruto do compromisso com um projeto de sociedade e educação que considera o preparo dos
cidadãos para a vida. Por isso, o engajamento da comunidade escolar e da sociedade como um todo são muito
importantes para o alcance de uma educação de qualidade.

EXEMPLO
Um exemplo de práticas participativas e democráticas nas escolas são os conselhos escolares.
Antigamente, nas reuniões de pais e professores, os pais ouviam muito e pouco falavam. No
conselho escolar, pais, professores e alunos são convidados a participarem de forma mais ativa
e efetiva na tomada de decisões importantes para a escola, proporcionando um engajamento
para a resolução dos problemas escolares.

A escola não é um lugar apenas para se ensinar conteúdo; é, também, um espaço destinado para pensar as
dimensões pessoais, sociais e culturais do sujeito, por isso, gera transformação social e individual. Neste
panorama, a relação entre a escola e a família precisa ser discutida e ampliada.

-6-
FIQUE ATENTO
A relação efetiva entre a família e a escola é fundamental para que os objetivos educacionais
sejam atingidos, propiciando ao aluno qualidade na educação. É necessário, portanto, que a
escola, a sociedade e a família estejam unidas em prol do bem comum.

Para cumprir o seu papel social, a escola precisa trabalhar próximo à família, com o intuito de melhorar a
qualidade educacional. Isto não significa que a escola terá que corresponder às expectativas das famílias ou dos
alunos, mas, sim, que o reconhecimento das duas instituições precisa caminhar e trabalhar juntas em prol da
educação.

Fechamento
Neste tópico, destacamos algumas funções dos agentes que desempenham papéis estratégicos no cotidiano
escolar, como professores, pais e alunos. Além disso, vimos sobre o Projeto Político-Pedagógico, desde da teoria
até os desdobramentos na prática. Por fim, discutimos a função da escola enquanto agente transformador da
realidade social.

Referências
GENTILLI, P. A. A. Neoliberalismo e educação: manual do usuário. In: SILVA, T. T. da; GENTILLI, P. A. A. (Org.).
Escola S. A.: quem ganha e quem perda no mercado educacional do neoliberalismo. Brasília: CNTE
(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), 1996.

PIMENTA, S. G. A construção do Projeto Político-Pedagógico na Escola de 1º grau. In: Série Ideias, n.8. São
Paulo: FDE/Governo do Estado de São Paulo, 1992.

PERISSÉ, G. O valor do professor. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. Disponível em: <https://bv4.digitalpages.
com.br/?term=O%2520valor%2520do%2520professor%
2C&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=1&section=0#/edicao/36641>. Acesso em: 17/01/2019.

-7-
Gestão democrática e
participativa na escola
Luciane Teixeira da Silva

Introdução
Caro estudante, nesta unidade, estudaremos sobre a gestão participativa e o espaço escolar. Discutiremos sobre
os aspectos teóricos e práticos da gestão democrática e participativa, ou seja, conheceremos seus elementos,
suas teorias, além de compreenderemos como são desenvolvidas no cotidiano da escola. Trataremos sobre a
legislação educacional, observando o papel do gestor no momento de colocá-las em prática para a efetivação de
uma gestão eficiente e de qualidade. Acompanhe!

Gestão democrática e participativa


“Gestão democrática”, “gestão compartilhada” e “gestão participativa” são termos que não se restringem ao
campo educacional, mas foi nele que ganharam ressonância para a realização de um projeto de educação de
qualidade.

A gestão democrática é considerada participativa, pois é uma forma de gerir uma instituição escolar de maneira
que possibilite a participação e a transparência nas decisões da escola. Antigamente, a gestão escolar era
chamada de “direção” ou “diretoria”, pois ficava restrita à figura do Diretor. Por isso, não é uma mera mudança
de nomenclatura, mas, sim, de comportamento. Assim, a gestão democrática pressupõe uma modificação de
postura no trabalho educativo (GADOTTI; ROMÂO, 2003).

-1-
Figura 1 - Gestão e tomada de decisão
Fonte: JohnKwan, Shutterstock, 2018.

Na gestão democrática, a participação na tomada de decisões sobre a instituição educativa não fica restrita aos
diretores ou secretários. As escolhas são expandidas aos vários profissionais da educação que trabalham na
escola, como gestores, professores, alunos, funcionários administrativos e demais colaboradores. Além disso,
cabe à comunidade participar dos debates, como pais de alunos, associações de moradores, organizações
governamentais e não governamentais.

FIQUE ATENTO
A Constituição Federal de 1988 indica que a gestão democrática é um dos pilares que devem
compor o ensino público no Brasil.

A Constituição Federal de 1988, no inciso VI do artigo 206, indica a gestão democrática do ensino público como
um dos princípios básicos que devem nortear o ensino. A inserção deste princípio na Constituição revela um
pouco do momento histórico em que vivíamos na época (BRASIL, 1988).

-2-
Legislação educacional e as práticas de
efetivação
O princípio da gestão democrática é um dos importantes instrumentos da democracia direta e da participação do
cidadão na vida política. A partir da Constituição, o princípio passou a ser reconhecido e aplicado nas demais
legislações educacionais do Brasil, como é o caso da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n.
9394/96. Ela está encarregada de estabelecer alguns princípios para a gestão democrática dos sistemas de
ensino e da escola:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na
educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I –
participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II –
participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL,
1996).

O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei n.13.005/2014, incorpora o princípio e reascende o interesse pelo
debate, em que nele estão previstas metas e estratégias específicas para a gestão democrática. O plano
estabelece que os Estados, o Distrito Federal e os municípios aprovem leis próprias para organizar a gestão
democrática em seus respectivos sistemas. O PNE tem vigência de 10 anos, sendo um documento estratégico
para a educação nacional.

Da teoria à prática
A gestão democrática e participativa é uma ferramenta para a promoção de uma educação de qualidade,
buscando instalar novas estratégicas para a realização do trabalho pedagógico, envolvendo os atores da escola e
da comunidade escolar. Mas como efetivar essa gestão na prática do cotidiano escolar?

Primeiramente, é necessário entender como a gestão democrática funciona, quais são seus instrumentos e suas
estratégias e como superar velhos hábitos que impedem uma participação efetiva no espaço escolar.

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Figura 2 - Gestão da escola
Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.

A gestão que deseja ser participativa e democrática precisa ter como base uma “[...] dinâmica que favoreça os
processos coletivos e participativos de decisão. Nesse sentido, a participação pode ser implementada e se
realizar de diferentes maneiras, em níveis distintos e em dinâmicas próprias do cotidiano escolar” (DOURADO,
2001, p. 65).

A participação e o engajamento na gestão da escola são práticas que precisam ser estimuladas nas pessoas,
considerando as dinâmicas próprias de cada espaço escolar. Este princípio reconhece a importância da
democracia, além de pensar como ela deve ser praticada dentro e fora da escola (DOURADO, 2001).

FIQUE ATENTO
Para a implantação da gestão democrática é necessário que seja desenvolvida uma postura
efetivamente democrática. Para isso, é preciso que toda a comunidade escolar esteja envolvida,
como gestores, professores, alunos, pais, associações locais etc.

A escola, por sua vez, enquanto extensão da sociedade, precisa mostrar os caminhos para se trabalhar com

-4-
A escola, por sua vez, enquanto extensão da sociedade, precisa mostrar os caminhos para se trabalhar com
pensamentos diferentes e a organização de seus objetivos e prioridades imediatas, ou seja, realizar um exercício
democrático na escola, e não apenas ensinar o que é democracia (PARO, 2003).

A realização desse trabalho é complexa, pois os problemas e desafios são permanentes. Além disso, na escola há
o envolvimento de muitas pessoas, sendo que cada uma delas possui expectativas e vivências distintas em
relação à educação. Por isso, pensar na gestão democrática, no contexto escolar, é uma ação que demanda
diálogo, engajamento e responsabilidade.

Figura 3 - Troca de conhecimentos


Fonte: Goodluz, Shutterstock, 2018.

De acordo com Paro (1996), há elementos que dificultam a democracia no interior da escola, o próprio modelo
social, que tem em sua tradição uma organização autoritária, é um deles. Por isso,

[...] sem a transformação na prática das pessoas não há sociedade que se transforma de maneira
consciente e duradoura. É aí, na prática escolar cotidiana, que precisam ser enfrentados os
determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto manifestação, num espaço restrito, dos
determinantes estruturais mais amplos da sociedade. (PARO, 1996, p. 9).

A escola é um espaço de manifestação e participação democrática, portanto, é necessário mudar a cultura. Assim,
se as pessoas não estão acostumadas a participarem das decisões, é preciso mostrar que, no espaço escolar, a voz
delas também conta (PARO, 1996).

-5-
EXEMPLO
Um exemplo de participação superficial ou desconexa das atividades escolares é quando as
famílias participam de um evento na escola, mas não participam da sua construção. Assim, não
conhecem o propósito da ação ou sua razão pedagógica.

Outro importante ponto que deve ser considerado na realização da gestão democrática e participativa é o
conhecimento aprofundado sobre a realidade escolar, o que envolve seus problemas e projetos futuros. Para
isso, é necessário engajar a comunidade em objetivos comuns, transformando a escola em um lugar melhor. Esse
estudo sobre a realidade escolar evita a chamada “participação despolitizada ou ocasional”, que é quando não há
real envolvimento dos sujeitos na construção de um projeto e no alcance de metas (PARO, 1996).

Figura 4 - Gestão compartilhada é gestão otimizada


Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.

Ainda hoje muitas pessoas que trabalham nas escolas encaram a gestão participativa como um encargo, e não
como uma possibilidade de promover a participação de todos. As reuniões, a construção coletiva dos projetos e
os debates, muitas vezes, são considerados empecilhos ou perda de tempo (PARO, 1996). Este tipo de

pensamento não ajuda no trabalho desenvolvido nas escolas e nos sistemas de ensino, pois é uma postura

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pensamento não ajuda no trabalho desenvolvido nas escolas e nos sistemas de ensino, pois é uma postura
antiquada de profissionais que não sabem ou não querem reconhecer a participação coletiva como estratégia
para a promoção de uma educação de qualidade.

Nesse cenário, a atuação do gestor, seja na figura do diretor, seja na figura da equipe de gestão, torna-se muito
importante, tendo em vista que é ele o responsável por visualizar esses problemas e agir sobre eles. A formação
de um gestor permite conhecer os instrumentos e as estratégias para a efetivação de uma gestão de qualidade.
A gestão de uma organização precisa ser coerente e fiel à sua missão, sua razão de ser e sua intenção
permanente. Por isso, para uma gestão participativa e democrática na escola, alguns elementos são essenciais,
como a construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico, os conselhos escolares, a participação da comunidade
e, principalmente, a atuação do gestor.

A efetivação de uma gestão participativa e democrática, que coloque em prática os princípios estabelecidos pela
Constituição e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, é desafiadora, mas, para realizá-la, é preciso
práticas cotidianas, como o diálogo e o acolhimento. A gestão participativa é um processo que precisa ser
construído todos os dias.

Fechamento
Neste tópico, aprendemos sobre o cotidiano escolar, verificando que a gestão é uma tarefa fundamental para o
desenvolvimento da escola e para a efetivação dos seus projetos. Além disso, vimos que a identificação e a
superação de problemas são elementos-chaves para se alcançar a educação de qualidade. Aprendemos, ainda,
sobre o importante papel do gestor na promoção de uma gestão eficiente e democrática. Por fim, abordamos a
importância do envolvimento engajado da comunidade escolar para a melhoria do ensino.

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Senado. 1998.

______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário da
União. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 17
/01/2019.

______. Ministério da Educação. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares: conselhos
escolares: uma estratégia de gestão democrática da educação pública/ elaboração Genuíno Bordignon. Brasília:
MEC, SEB, 2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad5.pdf>. Acesso
em: 17/01/2019.

DOURADO, L. F. A escolha de dirigentes escolares: políticas e gestão da educação no Brasil. In: FERREIRA, N. C.
(Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2001.

GADOTTI, M.; ROMÂO, J. E. Autonomia da escola? Princípios e propostas. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática 5. ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2005.

PARO, V. H. Eleição de diretores: a escola pública experimenta a democracia. Campinas: Papirus, 2003.

______. Gestão escolar, democracia e qualidade de ensino. São Paulo: Ática, 2007. Disponível em: <https://bv4.
digitalpages.com.br/?term=Gest%25C3%25A3o%2520escolar%2C%2520democracia%2520e%
2520qualidade%2520de%2520ensino&searchpage=1&filtro=todos&from=busca#/edicao/2102>. Acesso em: 17
/01/2019.
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Projeto Político-Pedagógico e
agentes da gestão participativa
Luciane Teixeira da Silva

Introdução
Caro estudante, nesta unidade, vamos estudar sobre a efetivação da gestão participativa, destacando suas
principais ferramentas. Ao logo deste tópico, será possível verificar os agentes envolvidos no processo da gestão
e as funções que eles desempenham. Além disso, aprenderemos um pouco mais sobre o Projeto Político-
Pedagógico (PPP), sobre o conselho escolar e ainda discutiremos como deve ser o perfil de um gestor líder.
Acompanhe!

O papel do gestor para a efetivação de uma


gestão participativa
A participação dos sujeitos na gestão democrática depende de condições concretas. A legislação educacional tem
como princípio a gestão democrática e participativa para a organização do ensino. Por isso é um instrumento tão
importante, pois viabiliza a participação e o controle social enquanto instrumento legal. Entretanto, para que a
legislação educacional se efetive de fato, é necessário criar condições de participação. Assim, o papel do gestor é
fundamental (GADOTTI; ROMÂO, 2003).

No cotidiano escolar, é preciso abrir canais de diálogo para a implantação de um modelo de gestão democrática,
em que os sujeitos saibam que serão ouvidos e que sua participação não será apenas figurativa (GADOTTI;
ROMÂO, 2003).

-1-
Figura 1 - Liderança na gestão escolar
Fonte: Shutterstock, 2018.

A gestão participativa não é sinônimo de secundarizarão do papel do gestor na escola, uma vez que continua
cabendo a ele coordenar essas ações. Dirigir e coordenar significa assumir responsabilidades e fazer a escola
funcionar mediante do trabalho coletivo. A criação de condições para a efetivação de práticas democráticas na
escola passa pelo trabalho do gestor (GADOTTI; ROMÂO, 2003).

EXEMPLO
Um exemplo de uma prática de gestão democrática eficiente é quando a gestão está baseada no
respeito mútuo entre os membros da escola e da comunidade. Por isso, é importante
proporcionar reuniões em que ambos os lados falem e sejam ouvidos, as chamadas
assembleias. São mais eficientes que as reuniões e, se bem organizadas, proporcionam ampla
participação.

-2-
A gestão participativa é a principal ferramenta que auxilia o gestor, por isso, cabe a ele coordenar as ações da
gestão, promover o engajamento, cobrar quando necessário e reconhecer quando for preciso. Ao desempenhar
um papel estratégico, o gestor atesta o valor de sua função para a promoção de uma educação de qualidade e
para a ampla participação no espaço escolar.

Outros agentes que participam da gestão


democrática
Ainda que o gestor tenha papel de destaque na gestão democrática, ele não trabalha sozinho. Assim, a
comunidade escolar também cumpre uma função importante na gestão participativa. A pluralidade nas decisões
escolares ocorre por meio de instrumentos e estratégias que efetivam uma gestão coletiva. Por isso, a
participação de outros agentes é fundamental nesse processo democrático.

O Conselho Escolar é um desses órgãos, que, por meio da criação do conselho da própria escola, promove a
participação dos pais, dos alunos e da comunidade em geral. Sobre a constituição e as funções do conselho
escolar, podemos dizer que

[...] o conselho escolar se relaciona com os princípios da igualdade, da liberdade e do pluralismo


devido à sua composição por diferentes segmentos da comunidade escolar em regime de paridade,
assegurando o direito de manifestação de diversos pontos de vistas e de diferentes opiniões (PARO,
1996, p. 32).

Esse órgão funciona quando há decisões que precisam ser tomadas. Assim, o conselho escolar é consultado. O
conselho é uma ação coletiva e participativa, que tem como principal função ouvir as pessoas da comunidade
escolar. Além disso, é um exercício ético de transparência, tendo em vista que cuida das questões financeiras da
escola (PARO, 1996).

-3-
Figura 2 - O diálogo como ferramenta
Fonte: Fizkes, Shutterstock, 2018.

A gestão democrática deve despertar os cidadãos para a participação, consciente sobre seus direitos e deveres
básicos. De acordo com Lima e Shimamoto (2009, p. 5), a participação efetiva da comunidade na gestão escolar

[...] pode ser um dos fatores a contribuir com a transformação tanto da sociedade quanto do sistema
de ensino, elevando a sua qualidade, garantindo o acesso e a permanência da criança na escola,
auxiliando na efetivação de lutas que visem a democratização política e social do país.

Outro elemento que auxilia na promoção da gestão democrática é a eleição para o diretor da escola e da
coordenação pedagógica, ainda que não seja obrigatória na forma da lei (PARO, 1996). Atualmente, a eleição
para o cargo não ocorre nas escolas em todos os estados e municípios brasileiros. O Estado de São Paulo é um
exemplo, pois o provimento para o cargo de Diretor é feito por meio de concurso público, o que não significa que
a gestão é autoritária ou antidemocrática.

A votação direta para gestor é uma prática positiva, pois a comunidade, ao ser consultada sobre quem ocupará o
cargo, pode discutir sobre os melhores projetos para a escola e qual perfil de gestão é compatível.

Observe a seguir o organograma sobre as diversas formas de provimento para o cargo de dirigente escolar.

-4-
Figura 3 - Elementos e ferramentas de uma gestão democrática
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em BRASIL, 2004.

A direção e a coordenação são tarefas que se referem à gestão, por isso, quem ocupa o cargo de coordenar a
gestão escolar necessita ter autoridade para dirigir ações e delegar responsabilidades, como acompanhar o
processo pedagógico e tomar decisões. Além disso, é preciso encontrar medidas adequadas para determinadas
situações, de modo solucionar as questões adversas (LIBÂNEO, 2005).

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo XX do livro Liderança em
gestão escolar, da autora Heloisa Luck. Editora Vozes. Ano: 2014. Disponível em: <https://
biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=578674>.

A gestão se refere a todas as atividades de coordenação e acompanhamento das pessoas e tarefas. Isto envolve o
cumprimento das atribuições de cada membro da equipe, o trabalho realizado de forma coletiva, a manutenção
do clima de trabalho e a avaliação do desempenho. Na figura a seguir podemos observar as características
necessárias para um gestor.

-5-
Figura 4 - Características do perfil gestor
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em LUCK, 1998.

Enquanto líder, o gestor deve ser atuante e imparcial, buscando sempre colaboradores para a resolução de
problemas e situações adversas. O mais difícil é conseguir que todos se envolvam nas ações da escola.
Entretanto, para que haja uma educação de qualidade é preciso adesão da comunidade escolar ao projeto
pedagógico. É este documento que cria a identidade escolar e legitima os princípios, a missão e os objetivos da
escola. O grande desafio não é escrevê-lo, mas, sim, colocá-lo em prática.

O PPP apresenta o currículo escolar, o planejamento, os projetos desenvolvidos, a estrutura física da escola, as
pessoas que trabalham na instituição, a avaliação, o currículo, a formação continuada para educadores, a
administração dos recursos e a sua transparência. Além disso, contém os registros sobre a situação da escola até
as mudanças que aconteceram desde a sua fundação, registrando as pessoas envolvidas ao longo do processo e
mostrando a evolução da escola.

FIQUE ATENTO
A gestão democrática é um processo que precisa ser implementado de forma democrática, por
isso é tão importante a presença de todos os envolvidos na comunidade escolar. Ainda que a
figura do gestor tenha destaque, a participação dos outros agentes que compõe a pluralidade
de decisões é fundamental.

A gestão participativa não é um momento, mas, sim, um processo que está sempre em construção. Este modelo
de gestão auxilia a instituição escolar a estar em sintonia com as necessidades do mundo moderno, colocando a
escola como um organismo vivo e ativo na sociedade. Neste sentido, o papel de um gestor moderno e ativo é ser

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de gestão auxilia a instituição escolar a estar em sintonia com as necessidades do mundo moderno, colocando a
escola como um organismo vivo e ativo na sociedade. Neste sentido, o papel de um gestor moderno e ativo é ser
líder, mobilizador e orientador das pessoas.

O gestor, ao delegar funções e acompanhar os resultados, juntamente com todos que se inserem naquele
contexto, executa um projeto escolar democrático.

FIQUE ATENTO
O gestor precisa se articular com a comunidade escolar para que haja um olhar plural para a
escola. Isto é essencial para a construção de um ensino de qualidade.

Quando o espaço escolar se coloca como um local democrático, a escola, os alunos, as famílias e a educação terão
ganhos significativos. Dessa forma, todos os elementos, as estratégicas e as ferramentas apontados servem de
base para uma atuação eficiente e eficaz dos profissionais da educação no espaço escolar.

Fechamento
Neste tópico aprendemos sobre os mecanismos legais, sua importância e o fato de que eles não são suficientes
para a implementação de uma política pública. O princípio da gestão democrática, mesmo que esteja presente na
lei, precisa ser colocado em prática pelos agentes reais do cotidiano escolar. Por isso, o engajamento de todos os
sujeitos é importante, como a família, os alunos, os professores e o gestor. Além disso, vimos que o gestor escolar
precisa ter um conhecimento profundo da realidade institucional, cabendo a ele promover a participação e
liderar as decisões.

Referências
GADOTTI, M.; ROMÂO, J. E. Autonomia da escola? Princípios e propostas. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática 5. ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2005.

LIMA, A. B.; SHIMAMOTO, S. V. M. Gestão escolar democrática: novas linguagens, novas políticas?. ANAIS,
ANPAE, 2009.

LUCK, H. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.

______. Liderança em gestão escolar. Rio de Janeiro: Vozes, 2014. (Série Cadernos de Gestão). Disponível em: <
https://bv4.digitalpages.com.br/?term=Lideran%25C3%25A7a%2520em%2520Gest%25C3%25A3o%
2520Escolar&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=1&section=0#/edicao/114666>. Acesso em: 17
/01/2019.

PARO, V. H. Eleição de Diretores de escolas públicas: avanços e limites da prática. Revista Brasileira de Estudos

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PARO, V. H. Eleição de Diretores de escolas públicas: avanços e limites da prática. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, Brasília, v. 77, n. 186, p. 376-395, mai./ago. 1996.

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