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Antropoceno, Parte 2/3, artigo de Roberto Naime

by Redação - 29/06/2016

[EcoDebate] O geólogo russo TER STEPANIAN (1970), num boletim do IAEG


(International Applied Engineering Geologists) em 1970, propôs que o período
geológico atual, denominado holocênico, fosse conhecido por Tecnógeno.
E o que significa tecnógeno? Uma fase da vida da humanidade sobre a Terra,
onde a ação humana (antropogênica ou de engenharia) é hegemônica sobre
as ações geológicas, químicas e biológicas.

O tecnógeno ou antropoceno é então uma ciência voltada para o futuro,


preocupada em acompanhar as mudanças ambientais e risco naturais devido
à lenta ação de fatores imperceptíveis, que são gerados pela atividade
tecnogênica do homem.

São necessários novos padrões, onde não necessariamente equações


lineares, oscilatórias ou equações muito simples podem servir de modelos para
sistemas governados pela entropia, onde os processos de fluxo de energia e
materiais são hegemônicos sobre as representações fenomenológicas.

O tecnógeno guarda implícito o conceito de que a resiliência dos meios naturais


foi ultrapassada. Ou traduzindo, que a capacidade de auto-recuperação dos
ecossistemas e dos sistemas em geral, não consegue mais agir para voltar ao
estado anterior a um impacto ambiental sozinha. Precisa da ajuda do próprio
homem que gerou o impacto ambiental.

Fazendo uma analogia com uma borrachinha de dinheiro usada pelos bancos,
podemos entender assim. A gente espicha a borrachinha e enquanto ela não
rebenta e volta ao normal quando a gente pára de espichar, a resiliência não
foi ultrapassada. Quando a borrachinha rebenta, quer dizer que a resiliência ou
capacidade de auto-regeneração do sistema foi ultrapassada.

Mais modernamente propõe-se, em data ainda controversa entre o início da


revolução industrial e o final do século XX como o início do Antropoceno, a era
de influência massiva da espécie humana, uma época de profundas mudanças
climáticas e de transformações expressivas no modo em que vivemos em
virtude das alterações no ambiente. Estamos tratando do caos da vida e
precisamos entender o que representa a chegada do Antropoceno.

A agenda 21 brasileira, bases para discussão, publicada pelo Ministério do Meio


Ambiente, discute desafios em vários setores relevantes da gestão de recursos
naturais do país e de sustentabilidade em setores fundamentais.

Portanto a aceitação cada vez maior no meio acadêmico do conceito de


tecnógeno traz como consequência principal o consenso de que atualmente as
relações dos processos antropogênicos, ou seja gerados pelo homem (ou de
engenharia, neste sentido, como estradas, pontes, barragens, lavouras,
indústrias, esgotos e resíduos sólidos) naturais e induzidos são os processos
dominantes no tecnógeno (ou antropoceno, como queiram).

Estes processos ultrapassam a capacidade da natureza se recuperar sozinha,


impondo a necessidade da própria intervenção humana para auxiliar a
recuperação da natureza e a manutenção do equilíbrio que é fundamental para
a qualidade de vida do próprio homem na Terra.

As mudanças climáticas e a perda da biodiversidade já desencadearam um


processo de destruição de recursos naturais que ameaça as condições de vida
humana no planeta. Segundo Paul Crutzen, prêmio Nobel de Química 1995, já
entramos em uma nova era geológica, o Antropoceno, em que o homem
começa a destruir suas condições de existência no planeta.

Em 2002, o historiador John McNeill alertou em seu livro “Algo de Novo Sob o
Sol” que a humanidade vem se aproximando perigosamente das “fronteiras
planetárias”, ou seja, os limites físicos além dos quais pode haver colapso total
da capacidade de o planeta suportar as atividades humanas. (Something New
Under the Sun, McNeill, 2002).

Os eventos climáticos extremos não cessam de confirmar sua advertência,


secas, inundações, desertificação, falta d’água, temperaturas excessivas,
desastres naturais e refugiados ambientais.

Em setembro de 2009, um artigo da revista Nature (A safe operating space for


humanity, Rockström et alii, 2009) afirma que pode estar sob grave ameaça a
longa era de estabilidade, conhecida como Holoceno, em que a Terra foi
capaz de absorver, de maneira mais ou menos suave, perturbações internas e
externas.

Um novo período, o Antropoceno, vem emergindo desde a Revolução


Industrial e seu traço característico é a centralidade das ações humanas
sobre as mudanças ambientais globais.

O advento do Antropoceno traz consigo o fim da estabilidade geobiofísica do


planeta, quebrando a matriz de estabilidade e linearidade que é o pressuposto
para previsões do futuro com base em acontecimentos do passado.

A não linearidade é a nova realidade, porque é característica de sistemas


complexos tais como os sistemas geobiofísicos. Como as fronteiras planetárias
estão sendo ultrapassadas, a solução seria caminhar na direção de uma
governança global que ultrapassasse os atuais limites de soberania para um
sistema internacional baseado na pós-soberania.
No número de dezembro de 2007 da revista Ambio, Paul Crutzen detalha os
impactos que marcam a entrada no antropoceno.

Com Will Steffen, especialista em problemas ambientais da Universidade


Nacional de Canberra, Austrália, e John McNeill, professor de história na School
of Foreign Service em Washington, publica um artigo intitulado “O antropoceno:
os humanos estão prestes a fazer submergir as grandes forças da natureza?”.

Após ter modificado, nestes últimos cinqüenta anos, seu ambiente como nunca
o fizera antes, perturbando o sistema climático e deteriorando o equilíbrio da
biosfera, a espécie humana, transformada numa “força geofísica planetária”,
deve agora agir muito rapidamente para limitar os desgastes.

De acordo com ele, essa era se iniciou por volta de 1800, com a chegada da
sociedade industrial, caracterizada pela utilização maciça de hidrocarbonetos.

Desde então, não cessa de crescer a concentração de dióxido de carbono na


atmosfera, causada pela combustão desses produtos. A acumulação dos gases
do efeito-estufa contribui para o aquecimento global. A primeira fase do
Antropoceno vai de 1800 a 1945 ou 1950 e corresponde, portanto, à formação
da era industrial.

Referência:
http://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/antropoceno-as-ameacas-a-
humanidade/
** Artigo anterior desta série:

Antropoceno, Parte 1/3

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia


Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade
Ambiental da Universidade Feevale.

Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2016/06/29/antropoceno-parte-


23-artigo-de-roberto-naime/

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